terça-feira, janeiro 29, 2013

O monstro acordou - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 29/01


A imposição de censura à imprensa é um instrumento típico do arsenal de recursos usado por regimes de força — ou seja, ditaduras com variados graus de limitações à liberdade de pensamento e ação dos cidadãos.

Em todos os regimes democráticos de boa estrutura, há limites para a manifestação de opinião, visando a impedir e punir três tipos de abusos bem conhecidos: injúria, difamação e calúnia. Nada além disso, obviamente. Mas é realmente espantoso que num país como o nosso, com um regime democrático firmemente estabelecido, descubra-se que juízes, supostamente guardiães das liberdades vitais para o sistema político, recorram à censura dos meios de comunicação.

Devemos à Associação Nacional de Jornais a descoberta — um tanto tardia — que o velho monstro despertou entre nós. Um levantamento da ANJ revela que em 2008 foram seis casos; no ano seguinte, dez episódios; depois, respectivamente, 16, 14 e 11.

Um caso típico aconteceu em Vitória, no Espírito Santo: a juíza Ana Cláudia Soares determinou ao jornal eletrônico "Século Diário" que eliminasse editoriais e notícias sobre ações de um promotor de Justiça. Há registro de outros episódios recentes, em Macaé, no Estado do Rio, e no município gaúcho de Cachoeira do Sul. Ninguém prestou atenção porque foram decisões de efeito local. O Supremo Tribunal Federal criou, em novembro do ano passado, no Conselho Nacional de Justiça, por iniciativa do hoje aposentado ministro Carlos Ayres Britto, o Fórum Nacional do Poder Judiciário e Liberdade de Imprensa. Registre-se que ele foi apenas criado: ainda não funciona.

E esse organismo não terá poderes de impedir o gosto de juízes pela censura: vai apenas examinar casos e discutir o problema. O próprio Ayres Britto já disse que o fórum não castigará qualquer juiz: sua principal atividade será estimular a discussão do problema.

Um porta-voz da ANJ, que terá assento no fórum, disse esperar que os juízes de primeira instância entenderão o recado implícito na criação do órgão. Mas talvez seja excesso de otimismo: pode-se considerar provável que juízes que não levam em conta o direito universal à liberdade de expressão também ignorem opiniões que não estejam acompanhadas por alguma forma de punição.

Afinal de contas, quem se porta mal e não é castigado muito raramente muda de comportamento. Isso vale tanto para crianças como para adultos.

]A juíza Ana Cláudia Soares determinou ao jornal eletrônico 'Século Diário', de Vitória, que eliminasse editoriais e notícias sobre ações de um promotor de Justiça. Há outros episódios.

Mulherengo - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 29/01

O ex-deputado Genival Tourinho, 79 anos, conta em seu livro “Baioneta falada calada” que, certa vez, Jango, então ministro do Trabalho, recebeu, com discrição, três mulheres, ao mesmo tempo, em seu quarto no Hotel Debret, no Rio.
Danadinho.

Deputado Abreu
O ator José de Abreu, 66 anos, vai, finalmente, filiar-se ao PT. Deve ser candidato a deputado federal em 2014.

Quixote nas trevas
Dilma vai homenagear, amanhã, o embaixador Sousa Dantas (1876-1954) e a funcionária do Itamaraty Aracy Moebius Guimarães Rosa (1908-2011), que, na Segunda Guerra, salvaram a vida de muitos judeus na Europa. O evento conta com professores da USP. Mas se esqueceram de chamar o historiador carioca Fábio Koifman, autor de “Quixote nas trevas” (Record), que mostrou, pela primeira vez, os detalhes e a extensão do trabalho humanitário de Dantas.

Mensalão na ABI
Amanhã, Zé Dirceu vem ao Rio para um debate sobre o mensalão, na ABI.

Quase cinquentão
Romário comemora, hoje, 47 anos, com a família — a mãe, Lita, os cinco filhos, ex-mulheres e ex-sogras — e alguns amigos.
Que seja feliz!

No mais...
Por aqui, não raro, após uma comoção, surge uma autoridade prometendo “uma rigorosa investigação, doa a quem doer”, e, depois que o assunto sai dos jornais, conclui, melancolicamente, “que nada ficou provado”. Tomara que isso não ocorra com a tragédia da boate Kiss.

PERFEITO, PREFEITO DA LAPA
Perfeito Fortuna, 62 anos, embaixador cultural da Lapa, no Rio, vai desfilar, assim, de índio, no carnaval. Com isso, ele pretende chamar a atenção para os problemas do bairro boêmio. No sábado de carnaval, quando começa o Rio Marchinhas, Perfeito vai apresentar dez propostas para o lugar: “Tem que ter uma espécie de UPP na Lapa. Mas não é preciso mais policiais, precisamos de um plano de segurança que use a inteligência. A parte da Rua Joaquim Silva onde morreu o artista plástico Selarón está braba. Espero que as pessoas que apitam na Lapa escutem as ideias.”
Para ele, a Lapa está mudando: “Hoje, há um monte de gente enchendo a cara na rua, os ambulantes ficam cheios, mas as casas, vazias. Quem tem condição de consumir algo mais sofisticado não passa no meio dessa bagunça. Vai se divertir em outro lugar.” Perfeito, Perfeito 

Livro Futebol Clube
Ainda sobre a Copa do Mundo no Brasil, que tem despertado o interesse do mercado de livros. A editora da Universidade Federal Fluminense (UFF) está, desde o ano passado, com um edital aberto para a publicação de livros, em versões impressa e digital, sobre a Copa do Mundo. Mais informações pelo www.editora.uff.br.

El Tigre...
A LivrosdeFutebol.Com busca patrocínio para lançar, ainda este ano, quatro obras: a autobiografia de Arthur Friedenreich, o El Tigre (primeira grande estrela do nosso futebol), uma série de sete livros de crônicas de Mário Filho, um diário sobre a vida de Mané Garrincha em 1962 e o livro “Parada dura”, que fala da trinca de árbitros gays nos anos 1980 no Rio.

Mas...
Quando o futebol dava os primeiros passos no Brasil, os intelectuais viraram as costas. Graciliano Ramos chegou a dizer, em 1921, que o futebol não ia vingar por estas “paragens do cangaço”, por ter vindo do estrangeiro. Já Rui Barbosa chamou, em 1916, os jogadores da seleção brasileira que iam disputar um campeonato na Argentina de “corja de malandros e vagabundos”.

Zona Franca

Uma das principais agências de endomarketing do país, a Zelig Comunicação lança hoje sua fanpage com happy hour para clientes e amigos. 

O deputado Gabriel Chalita informa que não está comprando outro apartamento no Rio. O que ele tem na cidade foi comprado em 2006. 

Fernanda Gentil e Matheus Braga casaram-se, no fim de semana passado.

O médico Maurício Magalhães Costa lança, dia 8, pela editora Eska, em Paris, o Livro “Plus de 100 questions sur vor seins. Seinté e beauté”. 

Raphael Vogler, do Crystal Hair, assina a beleza da campanha da L’Oreal com Isabeli Fontana.

O Midrash, no Leblon, recebe, hoje, às 19h, cerimônia pelo 7º dia da morte de Leon Herzog.

De olho no táxi
A prefeitura do Rio publica, quinta, no DO, uma tabela de preços fixos para os taxistas usarem nas viagens que começarem na Sapucaí, durante os desfiles das escolas. Uma corrida até a Rua República do Peru, em Copacabana, por exemplo, vai custar R$ 31. Até a Av. Ayrton Senna, na Barra, R$ 69.

Meia-entrada é lei
A Companhia Caminho Aéreo Pão de Açúcar terá que conceder meia-entrada a estudantes e menores de 21 anos em seus bondinhos. A decisão é da 6ª Câmara Cível do Rio e confirma a sentença da primeira instância.

Grande Hotel
Lembra a antiga boate Zodíaco, na Praça do Ó, na Barra da Tijuca? Pois bem, o imóvel deve ser transformado num hotel de alto luxo, com cerca de 180 unidades, provavelmente administrado com a bandeira americana Trump, de Donald Trump.
À frente do projeto está a Polaris, do incorporador Paulo Figueiredo (neto do ex-presidente Figueiredo).

Morte digna
Sobre o protesto do advogado Gerardo Xavier Santiago, de que o Quinta D’Or entubou seu pai “contra a sua vontade expressa”, a equipe médica do hospital diz que, no momento da avaliação, “o paciente apresentava-se em insuficiência respiratória, sem condições de julgamento, não havendo consenso familiar ou documento oficial relacionado à vontade do mesmo nestas circunstâncias”. E conclui: “Por se tratar de urgência médica, optou-se pela vida.”

Fator Santa Maria
Só ontem o Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu 26 telefonemas sobre o perigo de incêndio em estabelecimentos comerciais no Rio.


Gestos & rotinas - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE - 29/01

O gesto da presidente Dilma Rousseff de se deslocar até Santa Maria (RS) e prestar solidariedade aos familiares das vítimas do incêndio da boate Kiss e acompanhar de perto as ações, comentado aqui ontem, dividiu opiniões, e não sem razão. Afinal, o país não está acostumado a ver seus governantes em cenários trágicos. Nessas situações, os frios marqueteiros, pagos para pensar em como colher louros políticos de tudo, sempre aconselham as autoridades a soltar uma nota oficial, mas não aparecer muito para que não tenha a imagem vinculada à tragédia.

A imagem de Dilma no hospital e no centro esportivo, onde pais e mães choravam a dor de perder seus filhos tão jovens, foi obra da própria presidente. Ali, os marqueteiros foram dispensados. Uma leitora gaúcha não acredita que seja uma mudança de atitude. Ela suspeita que Dilma tenha adotado a postura de cancelar tudo e ir direto a Santa Maria por conta de seus laços afetivos e políticos com o Rio Grande do Sul.

E pergunta: “Onde estava Dilma tantas outras vezes? Por que não recomendou ao ministro da Saúde que, em cooperação com o secretário de Saúde do DF, investigasse os casos recentes de abusos de médicos e as mortes, inclusive de um filho de funcionário público (na verdade, Marcelo, filho do presidente da Embratur, Flávio Dino)? Quando morreu um assessor, houve mobilização, mas o resto de nós fica à deriva. Onde estava Dilma quando ruíram os prédios na Cinelândia há um ano? Onde estava Dilma quando o Correio publicou há cerca de uma semana a série de artigos sobre as comunidades esquecidas e paupérrimas de Goiás? Não é seu plano acabar com a pobreza extrema? Por que não convocou seus ministros e mandou-os tomar providências, ajudando os secretários de Goiás e do DF e liberando recursos?”.

Obviamente, um presidente da República não pode estar em todos os lugares, tampouco ler tudo o que sai nos jornais. Mas a leitora tem razão no que diz respeito à necessidade de um governante antenado. Ela recorda que, no passado, com o Rio de Janeiro alagado, em 2010, o então presidente, Lula, manteve sua agenda sem se preocupar se as pessoas teriam condições de chegar ao trabalho. O governador do Rio, Sérgio Cabral, tampouco largou seus afazeres no ano-novo para acompanhar a tragédia em Angra dos Reis.

Agora, há uma expectativa — não só entre os petistas, mas entre os políticos de uma maneira geral — de que esse gesto de Dilma não tenha sido apenas por conta da ligação pessoal com o Rio Grande do Sul, mas uma atitude que se torne normal, seja quem for o presidente da República. Os governantes e, por tabela, seus partidos, têm que adotar uma postura de parceiros da população, atentos às dores e às necessidades do povo. Parece o óbvio, mas é preciso reforçar isso, até para que as posições dos líderes políticos não sejam meros projetos de poder, como se vê hoje, por exemplo, na disputa pela presidência da Câmara e do Senado.

Por falar em Congresso…

Muito tem se falado nos últimos dias sobre ética e sobre a candidatura de Renan Calheiros (PMDB-AL) à presidência do Senado. Vale perguntar por que nenhum dos peemedebistas indignados se apresenta para concorrer contra o senador alagoano. Afinal, se a indignação é tão grande, deveriam ser candidatos, nem que fosse para ter apenas o próprio voto, uma vez que cabe ao maior partido ter a presidência da Casa. Na Câmara, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) está em plena campanha contra Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e Osmar Terra (PMDB-RS) se lançou de corpo e alma na disputa pela liderança do partido, numa campanha hoje polarizada entre os deputados Eduardo Cunha, do Rio de Janeiro, e Sandro Mabel, de Goiás, ambos considerados polêmicos.

Tudo isso mostra que ali, no Congresso, também há aqueles que reclamam, mas não tomam atitudes. Sinal de que gestos e rotinas estão mesmo descompassados. Esperamos que os gestos de solidariedade e de se apresentar para disputas virem rotina. Afinal, se ninguém agir, nada vai mudar mesmo.

E os prefeitos, hein?

Os prefeitos petistas fizeram uma reunião ontem pela manhã antes do encontro global, com prefeitos dos mais variados partidos, no qual Dilma anunciou recursos para saneamento. Ali, os eleitos ou reeleitos pelo PT trataram da candidatura da presidente à reeleição como algo líquido e certo e lembraram que é preciso ficar atento ao PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mas essa é outra história.

A paixão acontece - FABRÍCIO CARPINEJAR

ZERO HORA - 29/01


Se você recusou sua rotina, deixou de fazer aquilo que mais gostava em nome de alguém, torrou seus bens, abandonou os amigos e os prazeres mais fundamentais, isso não é amor, é paixão.

A paixão é uma fatalidade, o amor é uma escolha.

A paixão é egoísta, o amor é generoso.

A paixão é renúncia, o amor é recomeço.

A paixão arrebenta, o amor adapta.

A paixão é confinamento, o amor é abrigo.

Não há paixão pequena, paixão simbólica, paixão discreta: é grandiosa no início e escandalosa no final.

Não recomendo, muito menos desaconselho: é experiência para os fortes.

Nada do que viveu antes terá sentido, nada do que possa viver depois terá sentido. Conjugará interminavelmente o presente do indicativo.

Atingirá um extremo emocional perigoso: você passa a ser do outro em tempo integral. Conhecerá sua pior crise de nervos, seu mais fundo estresse emocional, seu mais absurdo esgotamento da memória, sua mais humilhante falência financeira.

Uma vez apaixonado, você rejuvenesce 10 anos em 10 horas. Mas, uma vez desapaixonado, você envelhece 10 anos em 10 horas.

A paixão ou é imensa, ou não é. Ela não pede desculpa, não negocia: equivale a uma dependência química em seu estado mais selvagem.

É o equivalente ao sequestro de uma vida. A própria vida. Você é o sequestrador e o refém ao mesmo tempo.

Não há desconto, adiamentos, pechincha. A paixão exige pagamento à vista, execução sumária.

Nunca vi nenhum apaixonado transferir compromisso para o dia seguinte, ele somente antecipa.

Não é que a paixão seja rápida, é devastadora, não sobra coisa alguma para continuar.

O apaixonado não abre negócios, mas fecha portas. Não areja a cabeça, não tem grandes ideias, não combate preconceitos, emburrece progressivamente, a ponto de só ter um número para ligar e um lugar para ir.

Ele não tem sangue-frio, não raciocina, não elabora planos, não arruma álibis.

A paixão é um crime malfeito, facilmente descoberto.

Os envolvidos desprezam o mundo, não se importam se estão sendo vistos, se beijam em público, se são casados, noivos ou recém-viúvos, se serão criticados pelos vizinhos e familiares.

O apaixonado joga tudo para o alto e não fica para segurar nada.

Ele não tem discernimento, não lê jornal, perde sua capacidade de decidir sobre a trajetória. Apresenta a superstição de um velho, a intuição de uma criança.

É um idiota sábio. Idiota porque não se defende da tristeza, sábio porque não se protege da alegria.

Não existe mais bom e ruim, certo e errado, esquerda e direita. Não tem sentido julgar. Não tem como se orgulhar do que foi realizado, muito menos se arrepender.

Você muda de personalidade, larga trabalho, descuida da família para se dedicar inteiramente a não pensar e somente sentir.

Não podemos nem dizer se a paixão ajuda ou atrapalha, ela acontece.

É uma tragédia feliz, uma sorte azarada.

Cinema para adultos - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 29/01

Que dizer? Talvez o óbvio: nem Tarantino nem Bigelow são culpados dos crimes de que são acusados


Quentin Tarantino e Kathryn Bigelow são as polêmicas cinematográficas do momento. Tudo porque os dois assinaram filmes que não se ajustam à visão "liberal" (leia-se: politicamente correta) que reina nos Estados Unidos e nas cabeças ocas de Hollywood.

Comecemos por Tarantino:

"Django Livre" é, cinematograficamente falando, um dos seus melhores filmes.

Mas, na cabeça das patrulhas, a arte de Tarantino não deve ser consumida com critérios estéticos. Só com critérios éticos e historicamente estreitos: Tarantino desrespeitou o passado de sofrimento dos negros, acusou Spike Lee, antes mesmo de ter assistido ao filme.

E, depois de Spike Lee, vieram as brigadas dos direitos civis, que acusaram o diretor de fazer uma caricatura da escravidão.

Com Kathryn Bigelow, uma mulher que tem mais testosterona do que todos os machos liberais de Hollywood juntos, o problema foi outro: em "A Hora Mais Escura" (que estreia em 15 de fevereiro no Brasil), Bigelow faz uma apologia da tortura e das execuções extrajudiciais. No caso, a execução de

Osama Bin Laden.

Suspiros. Que dizer? Talvez o óbvio: nem Tarantino nem Bigelow são culpados dos crimes de que são acusados. E, para isso, é importante assistir aos filmes.

Em "Django Livre", Tarantino conta a história de um escravo que se transforma em anjo vingador no sul pré-revolucionário dos Estados Unidos. Django quer libertar a mulher, escrava como ele; mas quer também castigar violentamente os próprios escravocratas.

No fundo, Tarantino repete, em "Django Livre", o mesmo programa de "Bastardos Inglórios": o cinema como instrumento redentor da história, onde os carrascos são punidos pelas suas vítimas.

Em "Bastardos Inglórios", os carrascos eram os alemães em plena Segunda Guerra Mundial, rebentados às pauladas por um judeu com particular talento para esmagar crânios nazistas.

Em "Django", esse prazer infantil e extravagantemente visual pertence a um escravo. Onde está o crime?

O crime, é lógico, está no fato de Tarantino virar o jogo, concedendo às vítimas da história uma espécie de vingança póstuma e cinéfila. As patrulhas politicamente corretas perdoam tudo. Exceto que as suas vítimas de estimação tenham direito a usar paus, chicotes ou armas.

E se assim é no cinema, assim será na realidade: hoje, muitas das críticas à política de Israel são por simples compaixão frustrada. Como é possível que os judeus de ontem, dóceis como cordeirinhos, não estejam mais dispostos a marchar pacificamente para o gueto ou para o matadouro?

Finalmente, Kathryn Bigelow. No seu penúltimo filme, "Guerra ao Terror", Bigelow já tinha tocado em nervo sensível ao mostrar o gosto que existe nos homens pela adrenalina da destruição. Nada que Joseph de Maistre ou, posteriormente,

Sigmund Freud não tenham explicado por escrito.

Dessa vez, em "A Hora Mais Escura", Bigelow vai mais longe -e faz uma vênia a Nietzsche para mostrar a verdade mais trágica da nossa civilização: o fato de ela se sustentar no trabalho sujo de terceiros.

O liberal progressista gosta de acreditar que o mundo é um jardim infantil, onde os homens são naturalmente bons e tudo se resolve pelo "diálogo" e pelo "respeito".

Bigelow mostra o outro lado da fantasia. Mostra como as nossas vidas de conforto e segurança são muitas vezes garantidas por "sangue, suor e lágrimas". De aliados, sem dúvida. Mas, sobretudo, de "inimigos".

E uma sequência do filme ilustra o ponto de forma brutal: quando vemos Sua Santidade Barack Obama, em entrevista televisiva, garantindo que os Estados Unidos não torturam -e os torturadores assistem à entrevista, sem esboçar um sorriso, na pausa de uma das torturas. Desconfortável?

Sem dúvida. Mas quem quer verdades confortáveis pode sempre assistir a "Argo", filme dirigido por Ben Affleck que, suspeita minha, vai levar o Oscar de melhor filme neste ano.

Em "Argo", um operacional da CIA entra no Irã revolucionário de 1979 para resgatar o pessoal diplomático da embaixada dos Estados Unidos. Entra sem disparar uma bala, sai sem disparar uma bala.

Honestamente: haverá coisa mais bonitinha?

A bênção de Florisbela - JAIRO MARQUES

FOLHA DE SP - 29/01


Independentemente da fé do visitante, na hora de ele ir embora, a avó se levanta da poltrona e promove o ato


O povo lá de casa já está acostumado: é preciso reservar alguns minutinhos antes de ir embora de uma visita à casa da vó Florisbela para receber sua bênção.

De uns tempos para cá, porém, a reza tem ficado cada vez maior. Há quem diga que ela tem até inventado alguns santos.

Certa feita, escutei uma das primas, que de fato é prima de minha mulher, que por sua vez é também a "dona" da avó, falar assim: "Vai, vó, benze bem rapidinho, que estou atrasada".

E toca Florisbela, velozmente à sua maneira, elevar os pensamentos a "São Cosme e São Damião, São Miguel Arcanjo, São Jorge Guerreiro, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro..." para iluminar e proteger.

Independentemente da fé do visitante, na hora de ele ir embora, a avó se levanta da poltrona, meio cambaleante, agarra-se a uma bengala e promove o ato.

Quem se rebelaria diante de algo tão lisonjeiro vindo de uma velhinha tão formosa?

Penso que, no fundo, a bênção de Florisbela já é muito mais do que uma manifestação de crença. Ela alonga a reza para alongar também o tempo ao lado de quem vai a sua casa tomar um cafezinho.

Velhos, em geral, criam inteligentes maneiras para encompridar a prosa rala com aqueles filhos estrelas cadentes -que aparecem de vez em quando-, com os netos que não se desgrudam dos joguinhos eletrônicos, com as noras atarefadíssimas em acertar as unhas à francesinha.

Forma bem interessante de promover o "fica só mais um pouquinho" é quando se começa uma sessão de cantigas "daquele tempo". Mamãe usa sempre dessa artimanha entoando canções do "rei", de Cartola ou de Vinícius.

Como não ficar mais um pouquinho quando Lupicínio Rodrigues é chamado para cantar: "Felicidade foi-se embora e a saudade no meu peito ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora porque sei que a falsidade não vigora..."?

Ao telefone, também há sempre uma maneira de seguir na linha com os mais velhos que, no momento de desligar, lembram-se repentinamente de contar uma novidade que aconteceu no ano passado.

Em um mundo cada vez mais apressado, mesmo com tudo conectado, sobram menos horas para se dedicar ao passado.

O valor humano do ontem é, muitas vezes, subestimado.

No genial e comovente filme francês "Amour", de Michael Haneke, escancara-se de forma dramática, mas um tanto verdadeira, a exposição do octogenário casal protagonista à solidão.

Na trama, porém, não se revelam explicitamente tentativas dos idosos de clamar pela família, pelo contrário, parecem querer o isolamento a qualquer custo e a distância de sentimentos de piedade.

Decisões que parecem caber ao mundo moderno do "cada um por si", mas que maltratam a alma e o coração.

Para mim, certa está a delicada vó Florisbela que tenta, a sua maneira, chamar atenção para sua valiosa sabedoria e para um dos seus importantes papéis na família, no mundo: o de fazer os mais jovens zelarem com atenção do patrimônio vivo de sua geração.

Walmor Chagas - LUÍS AUGUSTO FISCHER

ZERO HORA - 29/01


Walmor Chagas é daqueles atores brasileiros que todo mundo viu atuar, em algum dos meios que frequentou, palco, tevê ou cinema. Tinha presença marcante, como os bons atores de todos os tempos: algo nele (olhar? sobrancelhas? cara grande? voz?) imantava a gente. Além disso, contava com minha simpatia por esse retiro em que viveu por, sei lá, mais de 20 anos, no meio do mato, ao mesmo tempo preservando sua imagem, já registrada na retina de todo mundo, e aliviando-se dessa coisa ostensiva que é a televisão de entretenimento no Brasil.

Aí o cara se mata, aos 82 anos. Estava com grandes limitações físicas, ao que se diz, logo ele, que foi galã e aparentemente um sujeito bem feliz com sua alma, seu corpo, sua trajetória.

Bem, fiquei com esse suicídio dentro de mim, sem doer exatamente, mas impondo uma pergunta: por quê? E outra: é justo? Com quem? E outras perguntas, de resposta menos imediata: nas mesmas condições, eu teria desejo de fazer o mesmo? Coragem de fazer o mesmo?

Um suicida que se imola aos 20 ou 30 anos em favor de uma causa coletiva comoverá por determinados motivos, de aparência nobre; um depressivo que abrevie sua existência bate de outro jeito em nós; alguém que morre no auge da vida por doença, como meu irmão Prego ou meus amigos Sérgio Jacaré Metz ou Jorge Pozzobon, todos ceifados na faixa dos 40, nos deixa para sempre perplexos, sem capacidade nem de formular uma boa pergunta; nem falemos de crianças que morrem, porque... nem falemos.

Mas um Walmor Chagas que se mata deliberadamente, aos 82, segundo dizem motivado pela vontade de não incomodar e, naturalmente, de não ser incomodado com a dependência que precisaria experimentar, todo o contrário de sua trajetória vivaz, isso é para nós, os que continuamos respirando aqui, uma notícia realmente estranha. Grandeza dele? Pequenez? Ou é o nosso tamanho que entra em causa?

Sei lá. Vindo de completar 55 anos, me imponho essas questões. Não sei concluir, mas tenho radical simpatia pela ideia de não encher o saco dos outros, caso perca capacidades imprescindíveis para a vida digna que tenho levado. Ei, Walmor, como é que é isso?

A psicologia da tragédia - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 29/01

SÃO PAULO - O roteiro é conhecido. Após uma tragédia como a de Santa Maria, a vontade de agir é irrefreável. Nas próximas semanas, Estados e municípios atualizarão suas normas de segurança anti-incêndio e apertarão a fiscalização sobre todo tipo de estabelecimento.

Trata-se, é claro, de um efeito transitório. Com o tempo, o ímpeto vigilante arrefece e as coisas voltam mais ou menos ao que eram antes. E não adianta muito maldizer a leniência das autoridades brasileiras. Ainda que em diferentes graus, o fenômeno é universal e tem origem nos mecanismos pelos quais percebemos o perigo. A pergunta é se devemos aceitar essa abordagem intuitiva ou se seria preferível buscar uma visão mais racional, recorrendo à análise de risco e a especialistas antes de agir.

Há aqui duas visões respeitáveis e difíceis de conciliar. Paul Slovic, talvez a maior autoridade do mundo em psicologia do risco, é um ferrenho defensor do senso comum. Diz que especialistas padecem dos mesmos vieses das pessoas comuns. Só são mais eficientes ao justificar suas preferências. A própria noção de risco objetivo é uma ficção. Devemos aproveitar casos de comoção motivados por incêndios, enchentes etc. para melhorar o marco regulatório. O progresso vem entre episódios de pânico.

Outra sumidade na área, Cass Sunstein, tem um projeto mais iluminista. Ele acha que especialistas têm algo a ensinar e que apenas reagir às notícias de jornal pode causar mais mal do que bem. Um exemplo: o medo insensato do terrorismo pode fazer com que muitos troquem o mais seguro transporte aéreo por longas e perigosas viagens de carro, gerando mortes desnecessárias.

Eu pendo mais para Sunstein. O problema, no fundo, é a arquitetura de nossos cérebros. Quando lidamos com riscos que não fazem parte de nosso dia a dia, ou agimos como se eles não existissem ou como se fossem uma sentença de morte. O mais realista meio-termo desaparece.

Amor e revolução - VLADIMIR SAFATLE

FOLHA DE SP - 29/01


Na semana passada, os egípcios tentaram comemorar os dois anos do início de sua revolução. Alguns poderiam dizer, no entanto, que não havia muito o que se comemorar.

O desejo de livrar-se dos dias mortos do passado parece soar hoje como uma promessa distante. Várias belas palavras foram ditas no calor do entusiasmo e muito pouco foi feito. Olha-se para trás com olhos decepcionados de quem, no final das contas, vê-se obrigado a dizer que, no fundo, nada aconteceu.

A princípio, melhor seria procurar outra coisa em outro lugar ou aceitar amargamente que quem sonhou com a reinvenção da democracia acorda hoje com a Irmandade Muçulmana. Mas há algo nos egípcios que impressiona e quebra tal leitura melancólica. Trata-se de sua incrível tenacidade.

Há dois anos, os egípcios mostram para nós o que significa não ceder em seu desejo. Tudo se passa como se eles estivessem preparados para as dificuldades e decididos a permanecer insistentemente nas ruas, a ocupar praças até que a vontade de uma vida reinventada seja enfim realizada.

Eles parecem fiéis a uma máxima fundamental dos povos que escrevem a história: "Real foi o momento em que sonhamos, as decepções que vieram depois são apenas ilusões que acabarão por se mostrar em sua inverdade". Pois o que teve a força de nos tirar do lugar é dotado de uma realidade que pode até enfraquecer, mas nunca desaparecer.

Marx, diante de mais uma revolução traída, não conteve sua ironia e disse: "Hegel escreveu em algum lugar que os grandes fatos são encenados duas vezes. Só que esqueceu de completar: a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa". Alguém deveria dizer a Marx: "Bem, Marx, nem sempre".

De fato, todo verdadeiro acontecimento, como é o caso de uma revolução ou um encontro, ocorre duas vezes. Nada de real existe sem repetir-se. Mas, em alguns momentos singulares, a primeira vez ocorre como tragédia e a segunda como (no fundo, esta é mesmo a melhor palavra) redenção. O que parecia completamente perdido demonstra que apenas procurava um melhor momento para fazer existir sua verdadeira força.

Por isso, povos fiéis a seu desejo nunca fracassam. Eles podem errar, como quem entra em uma errância e se perde, agindo às vezes de maneira irreconhecível. Como se não fossem mais capazes nem sequer de pronunciar corretamente o nome do que desejam. Mas tais situações de errância não são os capítulos finais.

Chega um momento em que os acontecimentos ocorrem uma segunda vez e as revoluções, por um caminho só compreensível ao final, enfim se completam.

Aécio Neves entra no páreo de 2014 - MURILLO DE ARAGÃO

BRASIL ECONÔMICO - 29/01


Apoiado pelo ex-presidente FHC, pelo ex-senador Tasso Jereissati (CE), pelo atual presidente nacional do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), e a maioria dos governadores, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) deve ser o escolhido para comandar seu partido em 2013, ampliando suas viagens pelo país e dando início à construção de sua candidatura ao Palácio do Planalto nas eleições de 2014.

Neste primeiro momento, a prioridade de Aécio é buscar consenso dentro do próprio partido.

Justamente por isso, tem procurado aproximação maior com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Maior colégio eleitoral do país, Aécio tem interesse no apoio de São Paulo para que o PSDB saia unido dos debates que definirão o candidato a presidente do partido e candidato a presidente da República, que só não será Aécio se ocorrer algum acidente de percurso.

Atingido esse objetivo - que não será fácil, pois nas últimas duas eleições presidenciais (2006 e 2010) Aécio Neves demonstrou pouca disposição de apoiar os candidatos paulistas do PSDB ao Planalto, respectivamente Geraldo Alckmin e José Serra, principalmente em seu estado, Minas Gerais -, o foco de Aécio será a construção de seu discurso.

Vale lembrar que em 2012, durante seu mandato como senador, Aécio levou para a agenda a discussão de temas importantes envolvendo mineração, setor elétrico e economia.

O que também se observa nas manifestações do senador é a defesa do governo FHC, esquecida pelo PSDB nos últimos dez anos, críticas ao governo Dilma Rousseff na área gerencial e a busca de uma bandeira alternativa para tentar viabilizá-lo eleitoralmente.

Após o consenso político interno e a construção do discurso, caberá a Aécio Neves o difícil desafio de buscar aliados que façam o PSDB romper o seu isolamento no tabuleiro eleitoral.

Nos últimos dez anos, PSDB e DEM, os dois principais partidos de oposição, encolheram eleitoralmente, o que significa perda de bases significativas no país.

Tanto o DEM quanto o PPS, naturais aliados do PSDB, agora relutam em embarcar em uma nova jornada com os tucanos.

Sem unidade interna, um discurso alternativo eficaz e uma política de alianças mais ampla, Aécio Neves terá dificuldades para fazer frente a um governo altamente popular e com muitos aliados.

Não bastassem todos esses desafios, Aécio terá mais um à frente do comando nacional do PSDB.

Trata-se do chamado mensalão mineiro ou mensalão tucano, que, caso seja julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 2013, imporá ao senador o desafio de responder aos ataques políticos que lideranças de seu partido sofrerão.

Uma boa notícia para Aécio é a provável criação do Partido da Solidariedade liderado por Paulinho da Força Sindical, uma das mais expressivas lideranças sindicais do país.

O movimento de Paulinho é apoiado por Aécio Neves. Com o enfraquecimento dos demais partidos de oposição, o tucano precisa buscar novas alianças.

Além de aproximar Aécio da classe trabalhadora, tradicional reduto do PT no qual o PSDB tem pouca penetração, o partido também pode fragilizar um pouco a base governista.

Ueba! Vou vomitar no paredão! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 29/01


Já tá chegando a hora de dar um tiro de calmante no Bial, aquele tiro que bota elefante pra dormir


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Predestinado do século: tem um chaveiro em Aracaju que se chama Hugo Chaves! Rarará!

E o chargista Fausto lançou campanha no Senado: "ReNÃO". Renão Calheiros!

E chegou meu IPTU. Impossível Pagar TUdo! E sabe qual o novo apelido do Cid Gomes? Cidiverte! Rarará! E o pensamento do dia: "Dinheiro não traz felicidade, mas acalma os nervos"!

Mas naquele "Mulheres Ricas" não traz felicidade nem acalma os nervos, causa demência! Rarará! Mulheres Ricas: dinheiro causa demência! Ricas, bizarras e chatérrimas! Sabe o que elas tem na cabeça? COCÔ Chanel!

Como diz um amigo meu: "Prefiro casar com mulher pobre. Rica só com 80 anos e com febre. E testamento com firma reconhecida". E aquela Val falou 18 "hellos", tomou 18 taças de champanhe e teve uma overdose de vida fútil!

Não adianta, verão é o verão dos realities. Quando escuto falar

em paredão, tenho vontade de vomitar! Vou vomitar no paredão! Vou chamar o Hugo. O Hugo Chávez! E ainda pichar em cima: "A gente somos inútil"!

Já tá chegando a hora de dar um tiro de calmante no Bial, aquele tiro que bota elefante pra dormir no NatGeo!

E um amigo acaba de chegar das férias em Ubatuba: "Não comi, mas também não dei. Empate fora de casa é vitória". E um outro chegou de Fortaleza e disse que teve uma vida sexual agitada: comeu quatro caranguejos!

E um outro estava numa pousada da África do Sul com esta placa: "Se quiser café na cama vá dormir na cozinha". Rarará! E um outro pegou tanta mulher feia na praia que foi apelidado de para-raios de baranga! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe! Ou como diz o outro: é mole, mas trisca pra ver o que acontece!

O Brasil é Lúdico! Placa na pia dum bar do Rio de Janeiro: "Atenção! Três coisas que devem ser manipuladas com carinho: 1) Estas torneiras. 2) Os peitos da Angelina Jolie. 3) A genitália do Brad Pitt. Grato. A Administração". Rarará!

E num self-service em Higienópolis: "beringela refolgada". Como disse o cliente: "Folgada a gente come em casa, mas refolgada eu não vou comer não". Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

COMIDA SALGADA - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 29/01

Os alimentos puxaram a alta do Índice de Preços no Varejo da Fecomercio de SP, que subiu 4,02% em 2012. A pesquisa, que será divulgada hoje, a pesquisa comparou 21 grupos de produtos. Só em quatro houve queda de preço. A ida ao mercado ficou em média 9,4% mais salgada no ano passado. O aumento em padarias foi de 13,7%.

PRATO DE AMANHÃ
Os maiores vilões de 2012 foram cereais (feijão, arroz e milho), cujos preços saltaram 35,6%, e tubérculos (batata, inhame), com aumento de 31,6%. O cenário não deve se repetir em 2013, prevê a Fecomercio SP, pois há "menor pressão no preço de commodities agrícolas" e não há previsão de fenômenos climáticos, como El Niño.

HORA DA XEPA
A alta também chegou à feira, cujos preços aumentaram 12,1% em 2012. Verduras encareceram 27,4% e aves, 21,3%. Roupas e calçados subiram 2,1%. Material de construção, móveis e decoração terminaram o ano 4% mais caros. Telefonia, por outro lado, assinalou queda de 12,2%.

LATA NOVA
A boa notícia vem ao volante: combustíveis tiveram queda de 2%, e o preço dos carros recuou 6%. Automóveis usados tiveram decréscimo de 7,4% e novos, de 6,1%. O recuo foi reflexo da isenção de IPI, diz a Fecomercio.

Ó NÓS AQUI
Chegar a 4.000 salas de cinema alternativas no país, como cineclubes, é meta da Secretaria do Audiovisual para 2013. Hoje, há cerca de 1.650, contra 2.515 salas comerciais. O secretário Leopoldo Nunes quer aprimorar a contagem de público fora do "circuitão".

"Um filme que teve cem bilhetes vendidos pode ter 4 milhões de espectadores no circuito não comercial", diz.

EU, ROBÔ
Um brasileiro presidirá pela primeira vez a IEEE, maior associação de engenheiros eletricistas e eletrônicos do mundo, cofundada por Thomas Edison em 1884. O professor José Roberto Boisson de Marca, da PUC-RJ, assume o mandato em 2014.

ISABELI FATAL
Isabeli Fontana, 29, posou em Florianópolis para a "VIP". "Gosto de inventar outros tipos de mulher. É como se estivesse atuando", diz à revista. Com 15 anos de carreira, a top deseja, agora, ter mais tempo para si e para os dois filhos. "Sou uma pessoa simples, mas vivo uma vida de luxo. Cada vez o que mais gosto é andar na praia e fazer coisas normais."

COISA DE GIBI
O espetáculo "Mônica Mundi" estreou no fim de semana no teatro Bradesco. A apresentadora Patricia Maldonado levou as filhas Maitê, 1, e Nina, 2, para ver o musical da Turma da Mônica. A designer Celi Rubin levou Nina, 4, e a relações-públicas Andrea Akierman foi com Anne, 7.

SP EM QUADRO
Luciana Mesquita foi à galeria Smith para a abertura da mostra "SP: Visões da Metrópole", em que artistas como Paulo von Poser homenageiam a cidade.

AO INFINITO E ALÉM
O astronauta Buzz Aldrin, 83, será homenageado hoje com coquetel oferecido pelo empresário Mario Garnero, seu amigo há alguns anos. O evento acontece na casa de Álvaro Garnero e Cristiana Arcangeli, no Jardim Europa. Aldrin, segundo homem a pisar na Lua, está em SP para participar da Campus Party.

JUÍZO
Agatha de Paula, 19, filha do secretário da Igualdade Racial de SP, Netinho, trocou o pagode pela Justiça -quer ser juíza. Ela largou a banda Os de Paula, em que se apresentava com os irmãos, para começar neste semestre a faculdade de direito (não sabe se na Faap ou na UFM).

O pai diz: "Ela falava que não tinha paciência para ficar abraçando todo mundo suado após o show". Agatha ri: "Não sou muito sociável".

TÊNIS DE PÉ
E São Paulo ganhou no fim de semana sua primeira quadra de padbol, no clube Ipê. A modalidade, disputada em duplas, mistura squash e futevôlei. Recém-criada, a Confederação Brasileira de Padbol quer difundir o jogo no país. Em SP, a ideia é popularizá-lo em escolas, parques e unidades do Sesc.

AO SOM DO VIOLINO
Radicado em São Paulo, o violoncelista grego Dimos Goudaroulis concebeu espetáculo em que interpreta seis suítes de Bach acompanhado de bailarinos, como Ana Botafogo, Luiz Arrieta e Ismael Ivo. Deborah Colker assina uma das coreografias. Dirigida por Sérgio Ignácio, a produção chegará ao palco ainda neste semestre.

CURTO-CIRCUITO
O restaurante Obá, nos Jardins, serve hoje cardápio do Festival de Iemanjá.

Kiko Zambianchi se apresenta hoje no bar Dezoito, no Itaim Bibi.

O CineMaterna, para mães com bebês de até 18 meses, exibe "De Pernas pro Ar 2", no UCI Santana.

O projeto "Cortinas Abertas", do Jardim Ipê, representará SP no prêmio Anu, da Cufa. Em fevereiro, no Theatro Municipal do Rio.

Combate ao crack ampliado - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 29/01

O governo decidiu abrir às grandes e às médias cidades a adesão ao programa de combate ao crack que garante dinheiro para o tratamento de dependentes. Hoje, os convênios são feitos com governos estaduais e prefeituras de capitais. Mas foi detectado que, com o início do programa, muitos viciados e traficantes deixaram os grandes centros em busca de esconderijo e de novos mercados.

Pressão total
Se o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) for escolhido líder de bancada na Câmara, interlocutores da presidente Dilma garantem que ela terá dificuldade em conviver com o PR na base aliada. O Planalto acha que Garotinho é foco de constantes conflitos e incontrolável. O ápice da desconfiança foi o episódio em que o deputado solicitou à Polícia Federal informações sobre a ex-chefe de gabinete da Presidência Rosemary Noronha, na esteira da Operação Porto Seguro. Para o Planalto, em vez de proteger e ajudar o governo numa situação de crise, Garotinho pode criar ainda mais problemas.

“Nenhum país se transformou em nação desenvolvida sem creche para as suas crianças e educação em tempo integral”
Dilma Rousseff
Presidente da República

E Lula virou... ministro
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou um apelido no Palácio do Planalto: é o mais novo ministro da Articulação Política, já que foi designado pela presidente Dilma para negociar as alianças com partidos para as eleições de 2014.

Última decisão
Para solucionar impasse entre PSD e PSDB, que querem a 1ª secretaria da Mesa, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), foto, e o candidato favorito, Henrique Alves (PMDB-RN), avaliam dar ao partido de Gilberto Kassab a 2ª vice-presidência, que é do PMDB. Mas PSD e PSDB não chegam a acordo porque o que está em jogo é: qual deles é maior.

Comercial estratégico
O governo está veiculando na CNN e na Bloomberg TV o comercial sobre a redução do preço da energia. Pesaram dois motivos: as duas estão entre as dez emissoras mais assistidas da TV a cabo e são vistas por investidores.

Senso de oportunidade
"Insatisfeito com seu partido? Quer sair dele sem perder o mandato?" Assim começa texto de folder distribuído aos milhares, ontem, no Encontro de Prefeitos, em Brasília. O material é de mais um partido que surge no país, o Pros (Partido Republicano da Ordem Social). O panfleto, que mostra um sujeito pulando de um prédio para outro, "garante a valorização de seus membros".

Gargalhada

Candidato a líder do PMDB na Câmara, Sandro Mabel (GO) reagiu com gargalhadas à insinuação de que teria apoio de José Dirceu: "É puro desespero. Querem impedir minha vitória usando a desconstrução. Não adianta, tenho 42 votos."

Relatório misterioso
O relatório do senador Ciro Nogueira (PP-PI) sobre a reforma administrativa, que deve ser votado na reunião da Mesa no dia 31, é desconhecido. Sequer foi publicado nos órgãos internos como ocorre com temas dessa natureza.

Na passarela. Organizadora do Encontro de Prefeitos, Ideli Salvatti (Relações Institucionais) desfilou modelito azul de manhã e nude à tarde.

Hora do varejo - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 29/01


Pressionada por Lula e aliados, Dilma Rousseff fará concessões em sua restrita agenda para o chamado "baixo clero" político, inaugurando novo ciclo do mandato. A presidente, que recebe prefeitos desde a semana passada no Planalto e já programou périplo pelo Nordeste, tratará de acolher também os pleitos do PT nos Estados decisivos para seu projeto de reeleição em 2014. Amanhã, recebe quatro petistas da Grande São Paulo, liderados por Luiz Marinho (São Bernardo).

Em todas Marinho, que esteve com Dilma há uma semana, levará a tiracolo os colegas Carlos Alberto Grana (Santo André), Donisete Braga (Mauá) e Carlinhos Almeida (São José dos Campos).

Vai ter bolo Além dos prefeitos, Dilma Rousseff marcou para hoje um jantar com Sérgio Cabral (PMDB), em Brasília. O governador do Rio fez 50 anos anteontem.

Ideia fixa Amanhã será a vez de a presidente receber, pela segunda vez desde dezembro, Franklin Martins. Dirigentes do PT dizem que o ex-ministro de Lula discutirá com Dilma um novo estudo sobre regulação da mídia, pauta antiga do partido.

Reduto Gleisi Hoffmann (Casa Civil) recebe hoje a associação de municípios da Região Metropolitana de Curitiba, entidade na qual levou a melhor em acirrada disputa com Beto Richa (PSDB). O petista Luizão Goulart (São José dos Pinhais) derrotou o candidato do governador.

Linha... Ao determinar que Alexandre Padilha (Saúde) ficasse em Santa Maria (RS) para acompanhar o rescaldo do incêndio que matou mais de 230 pessoas, Dilma encarregou o ministro do contato com hospitais públicos e privados para garantir a transferência de feridos.

...de frente Para integrantes do Planalto, esta é "grande crise'' da gestão do ministro, potencial candidato ao governo de São Paulo.

Viva-voz Em telefonema de despedida a Antonio Patriota (Relações Exteriores), Hillary Clinton elogiou a relação Brasil-EUA em sua gestão como secretária de Estado. A proximidade entre eles é bem vista pelo governo, devido à perspectiva de que a ex-primeira-dama dispute a sucessão de Barack Obama.

Biodiversidade Patriota crê que manterá bom diálogo também com John Kerry, sucessor de Hillary. O ministro, que conheceu o senador democrata em cúpulas internacionais de meio ambiente, projeta ação integrada na agenda da sustentabilidade.

É pra já Rondônia, Rio Grande do Norte e Bahia serão os primeiros diretórios estaduais do PSD a confirmar apoio à reeleição de Dilma Rousseff em 2014. A oficialização ocorrerá na primeira quinzena de fevereiro, período que coincide com o início da minirreforma ministerial.

Isca Para atrair filiados para a nova legenda, aliados de Marina Silva acenam com a sucessão nos Estados. Entre os que resistem a trocar de partido, mas sonham com candidatura majoritária, estão José Reguffe (PDT-DF) e Ricardo Trípoli (PSDB-SP).

Nem aí Será amanhã a reestreia de José Genoino como deputado federal. O ex-presidente do PT, condenado pelo Supremo Tribunal Federal no mensalão, participará de reunião da bancada, em Brasília.

Reta final A comissão de sindicância da Advocacia-Geral da União entregou ontem ao corregedor Ademar Veiga o relatório final da apuração sobre os citados na Operação Porto Seguro da Polícia Federal. Com as conclusões será aberto Processo Administrativo Disciplinar contra os acusados, entre eles José Weber Holanda.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
Invasores não mancharão minha reputação como construtor de moradias populares. Fiz 300 mil como prefeito e governador.
DO DEPUTADO PAULO MALUF (PP), sobre o Movimento dos Sem-Teto invadir áreas em protesto contra a política habitacional de seu partido em São Paulo.

contraponto


Como eu vi na TV


Filho caçula de Eduardo Campos, José, de 8 anos, faz sucesso nas rodas de conversas do pai com suas façanhas. Recentemente, tentando convencer o governador de Pernambuco a liberá-lo de um castigo para ir jogar futebol com os colegas da escola, o menino conseguiu uma promessa de que o assunto seria reavaliado.

-Se sua mãe concordar, eu deixo -, disse o pai.

-Vai ser um tipo de julgamento? -, perguntou José.

Cauteloso, o governador anuiu. O menino replicou:

-Então já sei! A mamãe vai ser o Lewandowski e o senhor o Joaquim Barbosa!


Crise e mudança de hábitos - JOSÉ PASTORE

O ESTADÃO - 29/01

Peço ao leitor a devida vênia para apresentar informações geradas não por pesquisas, como sempre faço, mas por relatos de pessoas atentas e que acompanham a evolução da crise nos países ricos. Há desdobramentos inusitados.

Os jornalistas Guilherme Serôdio e Marta Nogueira informam, por exemplo, que a crise pode reduzir o afluxo de estrangeiros para o próximo carnaval do Rio de Janeiro. A diminuição da presença de empresários europeus e americanos já fora percebida no carnaval de 2012 e deve se agravar em 2013 (Crise na Europa muda o perfil de turista no Rio, Valor, 17/1/2013).

Os dados que chegam da Europa mostram, de fato, que os europeus estão bem mais cautelosos no gastar. Para a maioria das famílias, a troca do carro vem sendo anualmente adiada. A indústria sente isso e seus lucros encolhem. No geral, o consumo de bens e serviços caiu 1% no ano passado e a confiança dos consumidores chegou ao seu nível mais baixo desde 2009. Estes passaram a se servir de lojas e marcas mais baratas em substituição às que sempre compraram (Sam Schechner, Consumidores europeus não querem saber de gastar, Wall Street Journal, 6/8/2012).

Relatos da imprensa europeia indicam que o lazer doméstico também foi afetado. As salas de cinema estão mais vazias, os restaurantes já não têm fila de espera e muitas famílias adiaram as férias - sine die. Em alguns países há registros de cortes de gastos até mesmo de telefone celular. Só em 2012, mais de 1 milhão de linhas foram abandonadas (Álvaro Fagundes, Com crise, europeu corta celular, cinema e academia, Folha, 12/8/2012).

A escalada do desemprego afeta não apenas os desempregados, mas também os que continuam trabalhando e temem ficar sem o emprego a qualquer momento. A própria capacidade de as pessoas socorrerem familiares em dificuldade está diminuindo. Até italianos estão sendo forçados a viver sem a "nonna", pois os idosos foram forçados a trabalhar fora de casa e não podem cuidar das crianças. Os que já trabalhavam tiveram de "convidar" filhos, genros e noras a saírem do abrigo familiar por causa da insolvência dos idosos (Nadia S. Cohen. Italianos aprendem a viver sem a nonna, Wall Street Journal, 22/6/2012).

Os mais velhos estão sendo forçados a trabalhar mais tempo também em razão das mudanças nas regras da aposentadoria. Muitos países já fixaram a idade mínima em 62 anos, outros já chegaram a 65 e um bom número chegará a 67 anos em pouco tempo. Na Dinamarca, a idade será de 69 anos em 2020.

Também nos Estados Unidos a crise levou as famílias a gastarem menos e poupar mais. O consumo sofreu uma redução porque, em menos de cinco anos, a taxa de poupança passou de zero para 5%. Vários hábitos gastadores vêm se modificando. Os shows da Broadway sofreram um baque em 2009-2011, tendo se recuperado parcialmente em 2012. As férias perdulárias foram cortadas na maioria das famílias. As que perderam suas casas eliminaram não só férias, como também a troca de carro, a renovação do guarda-roupa e a alimentação fora de casa. Nas grandes cidades, o café levado de casa substituiu o comprado nos bares (Marcos de Moura e Souza, Crise forçou uma ampla mudança comportamental, Valor, 3/10/2011).

Será que as mudanças vieram para ficar? Estaria aí o fim da vie en rose, da dolce vità, do nice way of life? As observações resenhadas indicam que, com o aprofundamento da crise, há o avanço das mudanças. Mas ninguém garante que os hábitos perdulários dos europeus e, principalmente, dos americanos foram apagados para sempre naquelas sociedades. No Brasil, tivemos uma mudança radical de comportamento dos consumidores no grande apagão de 2001. O povo entendeu que era preciso economizar energia. Ao que tudo indica, porém, a gastança voltou, a ponto de preocupar os responsáveis pelo abastecimento. E o barateamento das tarifas, vai ajudar ou dificultar o uso da sensatez?

A conquista de Timbuctu - GILLES LAPOUGE


O Estado de S.Paulo - 29/01


Em cinco colunas, na primeira página do jornal mais sério e de maior prestígio da França, Le Monde, lemos a manchete: "O Exército francês toma Timbuctu". Esfregamos os olhos. Verificamos a data, 28 de janeiro de 2013: não se trata do século 19, quando os soldados da França arrancavam pedaços de países, dos desertos e das florestas na Ásia e, principalmente, na África. É uma estranha impressão, uma espécie de "distração" da História.

Evidentemente, é uma ilusão. A França não está recomeçando as antigas invasões do império francês. Um império já foi suficiente! O socialista François Hollande disse corretamente, antes de se lançar à reconquista do Mali, que a "França-África", a campanha colonialista francesa no continente africano, acabou, irrevogavelmente.

Os paraquedistas franceses conquistaram Timbuctu com a finalidade exclusiva de ajudar o Mali a escorraçar os ferozes islamistas da Al-Qaeda do Magreb Islâmico (AQMI), do Ansar Dine e do Mujao, que se apoderaram da metade norte do imenso país, onde instituíram, particularmente em Timbuctu, a abominável justiça islâmica, a sharia.

Portanto, a França tomou Timbuctu. Em duas semanas, os soldados subiram cerca de 1.500 quilômetros rumo ao norte do Mali. E agora? Agora, mistério.

Até aqui, os integrantes da Al-Qaeda não ofereceram resistência. O que foi feito deles? Ninguém sabe. Eles abandonaram as cidades nas quais fizeram reinar sua fúnebre lei. Alguns morreram, mas a maioria desapareceu. Foram riscados. Apagados. Para onde foram? Sumiram no vazio, no silêncio, na ausência! E quem sabe foram fazer a guerra no vazio, no silêncio, na ausência! Portanto, não devemos acreditar que a tomada de Gao e de Timbuctu assinale a vitória e a paz. Lembremos que, no Iraque, as legiões de George W. Bush esmagaram as tropas de Saddam Hussein em poucas semanas. Mas, assim que Bush começou a se gabar, teve início uma nova guerra, mais selvagem, que enlouqueceu o poderoso Exército americano: atentados suicidas, emboscadas, etc.

Devemos temer que uma reviravolta do gênero possa ocorrer. A imensidão do norte do Mali permite que pequenos grupos desapareçam, como as miragens, e ataquem repentinamente. Há o medo de atentados suicidas. Evidentemente, existe uma diferença: no Iraque, o Exército americano era detestado pelos iraquianos. No Mali, ocorre o contrário: os malineses, aterrorizados pelos islamistas, acolheram os soldados franceses como salvadores.

Mas este não é o único desafio. No extremo norte do Mali, há montanhas recortadas, de picos íngremes. Somente as pessoas do lugar conseguem se orientar nelas. Provavelmente será ali que os jihadistas vão se esconder. Há alguns meses, ele vêm acumulando ali, no fundo de gargantas e de abismos impenetráveis, enormes quantidade de armamento trazido da Líbia. Estas montanhas poderão se tornar um "santuário" islâmico do qual partirão os comandos da morte.

Outro perigo é que o Mali é formado por duas populações. No sul, africanos sedentários. No norte, os tuaregues, que são berberes, e os árabes, de pele branca, nômades. Entre elas impera um ódio milenar. O temor é que, na caótica situação atual, os tuaregues e os árabes sejam perseguidos pelos africanos do sul, e sejam perpetradas antigas vinganças. Uma das tarefas dos soldados franceses consistirá em vigiar para que esta infâmia não ocorra. Um deputado do norte disse ontem: "Quando a morte se dá em nome da cor da pele, o melhor a fazer é partir!".

É melhor responder, presidente Dilma - LOURDES SOLA

O ESTADÃO - 29/01

Poucos tópicos em economia são mais suscetíveis de distorções e de autoengano do que a questão do crescimento. Só é superado pelo da inflação, como sabemos bem. Também é certo que poucos desafios econômicos têm tanta rentabilidade eleitoral quando enfrentados com competência. Para o analista político têm a virtude de escancarar a quintessência da economia política. Pois "o que faz da economia política economia política é a política", destaca Andrew Hurrell, um dos teóricos de relações internacionais de maior destaque. O problema torna-se grave em conjunturas nas quais as duas questões andam juntas, como neste início de 2013. Pode tomar contornos agudos quando a solução é postergada, pois a hora da verdade contém o risco de uma reversão abrupta das expectativas de bem-estar e mobilidade social ascendente das classes C e D, um dos ativos eleitorais do governo. Também porque aumentam o teor de desconfiança do setor privado em relação aos fundamentos da economia. Além de diminuir sua disposição para investir, ampliando a oferta e reduzindo as pressões inflacionárias, promove uma seleção negativa, em benefício daqueles cujo animal spirit desperta apenas quando protegidos pelo Estado dos ventos da competição.

O problema é que o "pibinho" e a taxa de mais de 6% de inflação são fatos e os fatos são subversivos. Obrigam a uma correção de rumos, não só em termos de agenda econômica, mas de discurso político, do governo e também de seus críticos. Pois é necessário iniciar dois movimentos: uma reflexão profunda sobre os limites do "modelo" de crescimento vigente até aqui e novos padrões de comunicação que tornem acessíveis à população os porquês de seu eventual esgotamento. Com isso estaremos em maior sintonia com os avanços observados no cenário internacional, no qual o tema dos limites estruturais do crescimento ganha força. É pelo debate desse tema que se estabelece a linha divisória entre conservadores e progressistas, entre pessimistas e otimistas quanto às tendências globais do capitalismo. A revista britânica The Economist de 12 a 18 de janeiro dá conta desses movimentos, de forma pluralista. Uma das lições que nos interessam é que os limites do crescimento econômico têm uma forte dimensão estrutural. Logo, é insuficiente circunscrever o debate aos erros e acertos da política econômica. Nesse registro, um outro recado, implícito: a austeridade fiscal e a disciplina monetária ajudam, mas não podem tanto diante de desajustes estruturais. No nosso caso, entre oferta (leia-se investimento, privado e público) e uma demanda superdimensionada. Impõe-se, portanto, uma revisão da agenda econômica, acompanhada por padrões de comunicação condizentes com a redistribuição de penalidades - e não só de privilégios - inerente a toda e qualquer mudança de rumos. Porque reformas necessariamente têm uma dimensão redistributiva.

O tom oficial é defensivo, embora pareça o contrário: "nada a explicar", mas "tudo a justificar". As últimas semanas ilustram bem o quanto essa polifonia é dissonante, beirando a cacofonia. Exemplo: "Meu querido, não respondo a essa pergunta" foi a resposta da presidente Dilma Rousseff à questão de um repórter sobre os preços das passagens de metrô e ônibus, referência à minimização das pressões inflacionárias via acordos com prefeitos e governadores para adiar os aumentos programados. E complementou: "Respondo, sim, a perguntas sobre a redução das tarifas de eletricidade". Esse tom de monólogo autocrático, similar ao adotado em cadeia nacional para justificar a opção do governo pelo controle artificial de preços e pelo uso intensivo das estatais sob sua tutela, dá o que pensar sobre o que há de velho e de novo na retórica e também na política oficial. Não era essa uma das maquiagens preferidas nos tempos da ditadura?

Outro exemplo: na semana em que o ministro Fernando Pimentel louvava nossos feitos no front da exportação em artigo na Folha de S.Paulo, as estatísticas oficiais revelavam o desempenho adverso da balança comercial - e expunham a olho nu a ausência de uma política comercial. A última ata do Banco Central, por sua vez, apresenta um diagnóstico bastante distinto da retórica da presidente e do ministro da Fazenda, como registra Celso Ming na edição do dia 27 deste jornal. A contabilidade criativa do Ministério da Fazenda também foi objeto de espinafração do ex-ministro Delfim Netto, o principal assessor econômico da presidente.

A questão é que essa retórica é irracional, por ociosa, mesmo levando em conta que está dominada por um cálculo político racional, de tipo eleitoral. Por quê? Porque ilustra bem os limites que a nossa democracia e a vigência de um espírito capitalista minimamente empreendedor impõem à sua eficácia. Um deles é a multiplicidade de instituições que produzem indicadores e prospecções com suficiente autonomia e competência técnica, divulgados por uma mídia razoavelmente competitiva. Há o Banco Central, o IBGE, as várias consultorias econômicas, as ONGs voltadas para o controle das atividades do governo e a literatura jornalística especializada. O segundo tipo de limite se situa na imbricação entre economia capitalista e política democrática. Em toda democracia há um hiato entre o acesso quase instantâneo da população aos indicadores relevantes e a capacidade de elaborá-la. Quando se trata de crescimento e de custo de vida, o hiato reduz-se: a população tem incentivos imediatos para buscar as razões dos indicadores adversos. Por isso a forma como esse hiato será preenchido, pelo discurso oficial e pelo das oposições, ganha relevância. Questão de demanda. Nessa área, a oferta de indicadores e de análises existe para todos os gostos. Por essas e outras, diferenças de perfil à parte, Dilma não pode ser Cristina.

A incerta Primavera Árabe - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 29/01

A operação militar da França no Mali contra os terroristas, alguns ligados à Al Qaeda, que dominavam parte do seu território chega a mais uma vitória com a retomada do controle da cidade histórica de Timbuktu, mas a ação de curto prazo não representa uma solução para aquele país do norte da África, cujo maior desafio é a superação de problemas econômicos crônicos. Uma situação que demanda ação humanitária urgente por parte da comunidade internacional. Se a França não tivesse intervindo, a situação teria chegado próximo a uma catástrofe.

Essa foi a opinião predominante num painel em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial. A situação de insegurança é a mesma no norte da África e em outras regiões do mundo árabe, onde exclusão política, pobreza, divisões sectárias e opressão às minorias provocaram a explosão de conflitos e revoltas populares como na Líbia, onde uma revolução popular levou à queda do ditador Muamar Kadafi.

Ao mesmo tempo, em Paris, reuniu-se a Academia da Latinidade, cujo secretário-geral é o brasileiro Candido Mendes, para mais um encontro de intelectuais, na maior parte de países de língua latina, com líderes e intelectuais do mundo oriental, especialmente dos países árabes. O professor belga Diederik Vandewalle, do Dartmounth College, fez uma análise sobre a chamada Primavera Árabe, fixando-se especialmente no caso da Líbia, pois tanto a crise dos terroristas no Mali quanto a dos reféns na Argélia têm ligações com os grupos terroristas que atuaram na guerra para derrubar Kadafi e se espalharam pela região fortemente armados.

Vandewalle, embora diga logo no início de seu texto que ainda é cedo para ter-se uma certeza sobre os resultados de tal movimento na Líbia, afirma que também não há evidência de que já está em andamento uma revolução que leve à democracia. Ele chama a atenção para o caráter impreciso da Primavera Árabe, afirmando que a queda do ditador na Líbia não encerra o sistema clientelista montado no país. A consolidação do novo regime dependerá da rapidez de criação de novos mecanismos de inclusão social, num país desprovido de uma consciência política coletiva.

Segundo Diederik Vandewalle, a resistência das antigas estruturas sociais na região continua sendo uma realidade com que os novos reformadores terão que lidar. Desde a eclosão dos movimentos de libertação dois anos atrás, diz Vandewalle, muito da velha ordem não foi ainda destruído, e muito do novo ainda é difuso e transitório.

Mas, apesar de haver tido as estruturas de suas instituições nacionais completamente destruídas pela ditadura de Kadafi, a Líbia não deve desistir de remontá-las, pois, segundo o professor Vandewalle, pode ser mais fácil partir da estaca zero do que tentar reorganizar as existentes, como na Tunísia e no Egito.

A ideia de que países como a Líbia ou outros do Oriente Médio e do Norte da África podem simplesmente mudar contratos sociais existentes em curto prazo subestima as complexidades desse processo, que varia de país para país, diz o professor belga. Os recentes acontecimentos expuseram a fragilidade dos governos na região da África Ocidental, um centro de contrabando de drogas para a Europa controlado por terroristas, que se financiam com o comércio ilegal.

No painel de Davos, foi lembrado que em poucas semanas a estação das chuvas começará, e, se os fazendeiros ficarem impedidos de plantar, estará abalada a capacidade do país de alimentar seu povo, tornando o desastre humanitário ainda maior. Sendo vitoriosa, como até agora, a intervenção francesa, será preciso encontrar uma solução política que leve o país à estabilidade.

Segundo o entendimento generalizado dos participantes do painel de Davos, está na hora de as lideranças africanas reconhecerem que o continente precisa de democracia e bons governantes, para melhorar a vida das populações majoritariamente marginalizadas.


FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 29/01


QUESTAO DE RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL
Entidades e empreendedores devem iniciar movimento para informar sobre segurança nas casas de entretenimento

Ainda perplexos como tamanho da tragédia na gaúcha Santa Maria, brasileiros de todos os cantos passaram a cobrar das autoridades providências contra o funcionamento irregular de casas de shows país afora. Governos têm, sim, o papel intransferível de fazer valer a lei e fiscalizar seu cumprimento. Mas manter estabelecimentos em linha com normas de segurança é também questão de responsabilidade empresarial, como o são o respeito ao meio ambiente e à legislação trabalhista. Seria admirável se entidades empresariais, sindicatos e donos de casas de shows, boates, quadras de samba, teatros dos mais de cinco mil municípios brasileiros iniciassem um movimento para explicitar, na entrada de cada espaço, informações sobre materiais usados nas instalações, validade dos equipamentos de incêndio, saídas de emergência, equipe qualificada. Cada empresário do mundo do entretenimento poderia ser pai, tio, irmão, avô de um dos jovens massacrados na madrugada de domingo, no Sul. Poderia igualmente ser sócio da Boate Kiss, e estar, agora, sentindo o gosto amargo da culpa pela tragédia que dizimou 231 jovens dos quais o Brasil não poderia abrir mão.

28,9% DE JOVENS ESTUDANTES
Na Pnad 2011, o IBGE estimou em 28,9% a proporção de brasileiros - de 18 a 24 anos que estudavam. A , tragédia de Santa Maria levou s duas centenas deles. Um pedaço do futuro do país foi junto.

INVERNO
Bárbara Di Creddo estrela a campanha de inverno que a Ateen. A top foi fotografada por Daniel Mattar. A ação estreia amanhã na internet; em março nas revistas de moda. A marca de moda feminina cresceu 30% em 2012, sem abrir novas lojas. Quer repetir o resultado este ano. A grife carioca tem
nove endereços em Rio, São Paulo, BH e Curitiba.

PAIMO POR BICICLETAS
O empresário Erik Barbosa, da Velorbis Arrow, posou para campanha de incentivo ao uso de bicicletas, que a Foxton lança hoje na web. Ele, o técnico Bernardinho e o humorista Helio de La Peña estão entre as personalidades que emprestarão bikes para a grife exibir nas vitrines.

O investimento total da marca deve chegar a R$ 2 milhões este ano.

Automação
A Edra Equipamentos fechou contrato de R$ 21 milhões com a Caixa. Vai fornecer, ao longo do ano, 200 caixas eletrônicos e 800 carenagens de salas de autoatendimento.

Derrotado
O STJ condenou o Santander em R$ 30 milhões, por fraude na carteira de ações da Telebrás de um cliente, durante a privatização, nos anos 90. ABN Amro e Real, hoje Santander Brasil, foram responsabilizados por falsas procurações e assinaturas que levaram à negociação dos ativos. Causa ganha pelo Basílio Advogados.

Saquarema
A Fabritex, indústria de tecidos gaúcha, terá fábrica em Saquarema (RJ). Começa a operar no 2º semestre.
O projeto deve consumir US$ 5 milhões em investimentos e gerar 300 empregos diretos. A Rosa, Naibert presta consultoria.

De saída
Renato Chaves, ex-Previ, vai deixar a diretoria da Telemar Participações, dona da Oi, em abril. Especialista em governança corporativa, vai se dedicar às atividades acadêmicas e de consultoria.

Capitalização
O setor de capitalização bateu R$15,9 bilhões em receitas até novembro de 2012. É alta de 17,6% sobre um ano antes. Devolveu R$ 9,7 bi de valores aplicados em títulos, alta de 16,9%.

Ano bom
O comércio carioca fechou 2012 com alta de 8,3% no faturamento sobre o ano anterior, informa o CDL-Rio. Foi melhor que os 7,8% de expansão de 2011 sobre 2010. No mês do Natal, as vendas subiram 10,6% um ano antes. No varejo de bens duráveis, caso dos eletrodomésticos, o aumento foi de 12,6% em 2012. Foi o dobro do ramo mole, de roupas e calçados.

É sonho
O brasileiro sonha com casa própria e carro novo, concluiu levantamento do Planejando Sonhos, site de organização de finanças pessoais.

A proporção de usuários que estão poupando para comprar imóvel chega a 31%. Outros 27% querem automóvel. Em seguida, estão viagens, com 12%; e investimentos, com 8%.

Profissional
Quase um terço (29%) dos 2.400 participantes de enquete da LeadPix dizem que cursos profissionalizantes são meio de desenvolvimento profissional. É a mesma proporção dos interessados em fazer faculdade. Wiliam Kerniski, sócio-diretor da agência, diz que o resultado reflete a exigência do mercado por capacitação.

Sem aviso
Um em cada três (31%) executivos no Brasil inicia projetos em nuvens sem informar à área de TI.O dado está em pesquisa que a Symantec lança hoje. O ato, segundo a empresa, gera gastos extras às companhias. Os custos com TI sobem 22%.

REDESENHO NO CENTRO
O Jockey Club Brasileiro enviou 20 cartas a empresas potencialmente interessadas no retrofit da sede do Centro do Rio. O projeto de R$100 milhões inclui os dois andares do topo (foto), exclusivos dos sócios. O investidor pode cobrar aluguel por 25 anos. A obra começa até junho.

Em dobro 1
A MDL Realty vai lançar cinco empreendimentos neste primeiro semestre, no Rio e em São Paulo. Somam 1.004 unidades e R$ 300 milhões em valor de vendas. É mais que o dobro dos R$ 122 milhões registrados um ano antes.

Em dobro 2
A SH, de construção civil, faturou R$ 18 milhões no Rio no ano passado, aumento de 94% sobre 2011. A empresa trabalha em grandes obras como Transcarioca e Arco Metropolitano. No Brasil, as receitas cresceram 27%, atingindo R$ 200 milhões.

Uma década
Foi de 82% a média de ocupação do Sheraton Barra em 2012. No, ano, faturou R$ 63 milhões. Em 2013, o hotel investirá R$ 4 milhões em mobiliário e infraestrutura. Amanhã, lança selo de dez anos.