quarta-feira, fevereiro 15, 2012

Gilberto@ - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/02/12



Deve ter sido por causa da “Veja”, que publicou a troca de e-mails entre Gilberto Carvalho e a lobista Christiane Araújo.
O ministro mudou de e-mail.


Luz
Vêm aí mudanças na diretoria da Light.

Dia D
Amanhã, Ricardo Teixeira deve deixar a CBF.

Bursite de Caetano
Por causa de uma bursite no ombro, Caetano Veloso vai desfilar sábado na paulistana Águia de Ouro, cujo enredo é a tropicália, e, depois, ficará no Rio, de molho, o resto do carnaval.

Fim do Mundo no Rio
Nada a ver com o calendário maia. Quem está no Rio é o economista americano Nouriel Roubini, 52 anos, que ganhou o apelido de Dr. Doom (Dr. Fim do Mundo), como o profeta da catástrofe econômica de 2008.

Pré-sal é Fogo
A nova diretoria da Petrobras é reduto de botafoguenses (Graça Foster, José Formigli, Jorge Zelada e José Eduardo Dutra):
— E o importante: nenhum flamenguista! — brinca Dutra.

Sagrado e profano
A Igreja e a folia estão de bem. O bloco Vai tomar no... Grajaú, cujo nome lembra... você sabe, parou de tocar ao passar, domingo, pela Igreja de N. S. do Perpétuo Socorro na hora da missa.
O puxador do samba ainda mandou “um abraço para o padre Jorge”. Não é fofo?

Dona Ivone Lara
Aos 90 anos, Dona Ivone Lara não para de receber homenagens. Dilma, na posse de Graça Foster na Petrobras, deixou seu lugar para abraçar a sambista.
Já a ministra Ana de Hollanda vai sábado à Sapucaí assistir ao Império, cujo enredo é Ivone.

Calma, gente
O Palácio do Planalto já detectou que parlamentares evangélicos têm espezinhado a nova ministra das Mulheres, Eleonora Menicucci.
Uns a chamam de “abortista” e outros até de “sodomista” (meu Deus) por suas posições.

O preferido de Dilma
O nome preferido de Dilma para o Ministério do Trabalho, da cota do PDT, é o do deputado Brizola Neto.
Mas, como sabe que o neto do velho Brizola é impopular na bancada, deve aceitar seu colega Vieira da Cunha.

Deixa a vida me levar
Vem aí um musical sobre... Zeca Pagodinho.
A Dannemann Produções, do Rio, foi autorizada este mês a captar pela Lei Rouanet R$ 3.726.400 para produzir “Zeca Pagodinho — Uma história de amor ao samba”.

SABRINA SATO, 31 anos, com a licença das queridas mulatas, é, digamos, a...“mestiça do Gois”. A formosa venceu muitos preconceitos para se tornar musa no samba carioca. É que, além de branca e paulista do interior (nasceu em Penápolis), Sabrina Sato Rahal é resultado da mistura das ascendências japonesa, libanesa e, acredite, até suíça. A rainha de bateria da Vila Isabel posa aqui para o fotógrafo e maquiador Fernando Torquatto com adereços de Angola, enredo de sua escola. O ensaio estará na edição desta semana da revista “Quem”. Sabrina, como disse Torquatto depois das fotos, “é a expressão do que é alegria”. Alegra eu 

Soltar a voz
A atriz Leandra Leal vai, veja só, cantar no Camarote da Brahma na Sapucaí.

Bibi na avenida
Bibi Ferreira, que completa 90 anos em maio, virá num calhambeque no desfile da São Clemente, cujo enredo é “Uma aventura musical na Sapucaí”.

Bellucci no Rio
O francês Vincent Cassel e a italiana Mônica Bellucci, o casal de atores, visitaram a Escola Britânica da Barra, no Rio.
Pretendem morar no Brasil por um tempo e já escolhem colégio para os filhos.

Ajuda de custo
A Rádio Corredor diz que Valeska Popozuda pagou R$ 30 mil para desfilar como destaque num carro do Salgueiro.

Viva Lan!
Lan, 87 anos, o grande cartunista das mulatas, será homenageado por Petrópolis no carnaval: 50 desenhos do mestre estarão espalhados pela cidade.

Isso é que é
Os convidados da Coca-Cola na Sapucaí vão ganhar bolsinhas do designer Gilson Martins feitas com sobras de sua confecção que iriam para o lixo.

Maquinista fofo
Um maquinista do metrô do Rio saudava assim, ontem de manhã, os passageiros:
— Bom dia, senhores passageiros! Que todos realizem seus sonhos e desejos mais sinceros nesta manhã que se inicia!
Amém.

Fé e ciência - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 15/02/12
SÃO PAULO - Como estou até agora respondendo a e-mails indignados por conta de minha coluna de domingo, em que procurei mostrar que a noção de alma encerra vários problemas, acho oportuno desfazer alguns equívocos mais comuns.

Ao contrário do que muitos leitores sugeriram, crer na ciência não é o mesmo que acreditar numa religião, e eu vou tentar mostrar por que.

Comecemos pelas semelhanças. A ciência busca seus fundamentos em meia dúzia de postulados que, a exemplo dos dogmas religiosos, são tomados como autoevidentes. Trata-se de princípios como o de identidade e o de não contradição. O primeiro afirma que, se A=A, então A=A, e o segundo reza que, se A=não B, na ocorrência de A não ocorre B. Não são ideias particularmente geniais.

As semelhanças acabam aí. Enquanto dogmas religiosos podem abarcar tudo, os da ciência ficam restritos ao campo da lógica. Até aqui, a vantagem é da religião. Ela já emite pareceres sobre o mundo, enquanto a ciência permanece presa a abstrações. Para permitir que ela fale sobre o universo, temos de autorizá-la a lidar com induções, ou seja, que, partindo de casos particulares, faça generalizações: o sol nasceu todos os dias até hoje, logo nascerá amanhã.

Ao aceitar esse tipo de raciocínio, conquistamos o direito de proferir juízos sobre a realidade física, mas sacrificamos o plano das certezas matemáticas. O fato de o sol ter nascido todos os dias no passado não encerra garantia lógica de que nascerá amanhã. Isso é, no máximo, muito provável, mas não necessário.
Paradoxalmente, esse rebaixamento do grau de certeza das ciências é uma boa notícia. Juízos científicos tornam-se verdades provisórias, que dependem ainda de um processo de verificação empírica propenso a erros.

A vantagem é que a ciência ganha algum poder de autocorreção: ao contrário das religiões, é improvável que ela se obstine por muito tempo em delírios e equívocos do passado.

Muito barulho a respeito da Grécia - MARTIN WOLF

VALOR ECONÔMICO - 15/02/12

Por que a Grécia - um país com pouco mais de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) da região do euro - causa tantas dores de cabeça? Diariamente, pessoas em lugares tão distantes como Pequim e Washington leem notícias sobre promessas não cumpridas e condições não honradas. Não seria melhor, devem se perguntar essas pessoas, deixar que a Grécia fique inadimplente e saia da região do euro, em vez de continuar dispensando tanta atenção às suas mazelas, em grande parte provocadas pela própria Grécia?

Que a Grécia possa, de fato, sair da região do euro, agora é algo que está longe de ser inimaginável. Em informe divulgado na semana passada com coautoria de Willem Buiter, o economista-chefe do Citigroup e ardoroso defensor do projeto do euro julga que a probabilidade de uma saída da Grécia nos próximos 18 meses é de até 50%. "Isso principalmente porque consideramos ter ocorrido uma queda considerável na disposição dos credores da região do euro de continuar fornecendo mais apoio à Grécia, apesar do país não ter cumprido o programa de condicionalidade." Os autores também acreditam que os custos para a região do euro com uma saída da Grécia são menores agora do que antes. A probabilidade de que se permita essa saída, sugerem, aumentou de forma correspondente.

Vamos levar em consideração as questões que qualquer pessoa sensata deveria se perguntar sobre as tensas negociações com a Grécia.

Um pequeno país, economicamente frágil e cronicamente mal administrado, causou tantas dificuldades. A Grécia é o sinal de alerta, o canário que foge ao sentir perigo na mina. O motivo para tantas dificuldades é que as falhas do país são extremas, mas não exclusivas.

Primeira, será que a Grécia pode chegar a um acordo com os credores sobre a reestruturação das dívidas ou o "envolvimento do setor privado"; a um acordo com a "troica" - a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Central Europeu (BCE) - sobre a participação deste último; e a um acordo com os credores governamentais e multilaterais sobre um segundo resgate financeiro? Será que tudo isso pode dar-se antes do próximo resgate de bônus, em 20 de março?

A probabilidade é de que sim. Caso positivo, uma inadimplência desordenada seria, no mínimo, adiada. É possível identificar três motivos para esse desfecho: apesar da ira popular, os políticos gregos concordam de forma esmagadora na vantagem de continuar dentro da região do euro; apesar da desconfiança, a esta altura, generalizada, os detentores do poder na região do euro temem um calote desordenado e o provável abandono da moeda pelo país; e, por fim, o FMI acredita que um programa baseado em reformas estruturais profundas - e não em mais retração fiscal maciça ou privatizações precipitadas - possa funcionar, pelo menos, na teoria.

Segunda pergunta, há probabilidade de que um programa assim funcione bem de alguma maneira? A resposta é "não", como destacou o informe do Citigroup. "Isso porque, primeiro, é muito improvável que qualquer reestruturação acertada leve a um endividamento geral do governo da Grécia de 120% do PIB - objetivo declarado do segundo pacote de resgate da Grécia - e, segundo, porque mesmo se por algum milagre, o governo da Grécia conseguisse endividamento geral de 120% do PIB até 2020, isso seria um [...] encargo pesado demais para a Grécia carregar." É quase certo, então, que seria necessária uma redução ainda maior do endividamento nos próximos anos, mesmo se tudo saísse perfeitamente bem. E não sairá.

A Grécia teve progressos desde o início da crise, embora em grande parte como resultado da austeridade. Seu déficit fiscal primário (sem contar pagamentos de juros) encolheu de 10,6% do PIB em 2009 para uma estimativa de apenas 2,4% em 2011. É um grande declínio, dada a escala da recessão. O governo grego agora está perto do ponto em que precisará captar empréstimos apenas para rolar e cobrir o serviço das dívidas, mas isso não é suficiente. A Grécia também ainda precisa de entradas substanciais de moedas, para cobrir seu déficit em conta corrente, mesmo se não levarmos em conta os juros externos sobre suas dívidas governamentais. Em 2011, por exemplo, o déficit em conta corrente, sem contar os juros sobre as dívidas do governo, ainda era de 4,6% do PIB, apesar da profunda retração.

Será que as reformas estruturais vislumbradas vão gerar uma economia suficientemente dinâmica e, acima de tudo, a melhora nas exportações líquidas necessária para financiar as importações necessárias em uma situação próxima ao emprego pleno? A resposta, apesar das melhoras na competitividade, é: não rapidamente, mesmo se isso puder ser feito de alguma forma.

Terceira, o programa é de interesse da Grécia? A elite política grega acredita que sim. A alternativa - um calote desordenado e a provável saída da região do euro - seria dar um passo rumo ao desconhecido. O país teria de adotar e, então, operar controles cambiais pelo menos temporários. Teria de lidar com uma enorme depreciação de um novo dracma e, então, uma disparada da inflação. Teria de renegociar sua posição dentro da União Europeia. E, por fim, sofreria grandes declínios no PIB e na renda real. Será que tudo isso seria melhor do que resistindo? Provavelmente não, mas como saber?

Quarta, será que o programa adicional grego seria de interesse do resto da região do euro e do mundo? A resposta é: provavelmente sim, mas não certamente. Os argumentos a favor são de que a inadimplência desordenada da Grécia, combinada ao abandono do euro, ainda poderia gerar pânico em outros países da região do euro e que os custos para se evitar isso, ajudando a Grécia, não são grandes, em comparação aos custos que seriam decorrentes de tal desordem. Os argumentos contra essa posição são de que a região do euro tem os meios para impedir a disseminação de pânico mesmo depois de um desmoronamento da Grécia, particularmente se o BCE e os governos estiverem dispostos a agir de forma decisiva em resposta a qualquer corrida aos bancos, ou governos, em outros países. Outro argumento contrário, que não deve ser muito negligenciado, é que seria melhor acabar com a pretensão de que os programas da Grécia funcionarão e, portanto, deixar claro que os fracassos têm consequências.

Por fim, o que o épico grego nos diz sobre a região do euro? A Grécia por si só, embora um importante agente perturbador, não pode ser decisiva para o futuro da área cambial. Porém, o fato de que um pequeno país economicamente frágil e cronicamente mal administrado possa ter causado tantas dificuldades também indica a debilidade de toda a estrutura. A Grécia é o sinal de alerta, o canário que foge ao sentir perigo na mina. O motivo para ter provocado tantas dificuldades é as falhas do país são extremas, mas não exclusivas. Seus transtornos mostram que a região do euro ainda busca uma mistura viável de flexibilidade, disciplina e solidariedade.

A região do euro é uma espécie de limbo: não tem uma integração tão profunda a ponto de uma separação ser inconcebível, nem tão superficial a ponto de uma separação ser tolerável. Na verdade, a garantia mais forte de sua sobrevivência é o custo que uma separação teria. Talvez isso prove ser suficiente. Se a região do euro, no entanto, quiser ser mais do que um casamento infeliz mantido pelos custos assustadores de separar ativos e passivos, precisa desenvolver algo muito mais positivo. Tendo em vista as divergências econômicas e fricções políticas reveladas de forma tão incisiva por esta crise, será que isso agora é possível? Essa é a pergunta mais difícil de todas. (Tradução de Sabino Ahumada)

Segundos serão os primeiros? - SONIA RACY

O Estado de S.Paulo - 15/02/12


Não é nada tranquila a percepção, no Planalto, em relação ao leilão de Viracopos e Brasília, caso os dois consórcios vencedores venham a ter algum problema no registro de suas propostas.

Prevê-se certa dificuldade em convencer os segundos colocados a assumir a tarefa.

Segundos 2
Por quê? Pelas regras do edital de concessão dos aeroportos está previsto que, na desistência do vencedor, o segundo lugar (substituto natural) teria de arcar com o mesmo valor da oferta vitoriosa.

Traduzindo: nos dois casos, os consórcios precisarão desembolsar ágios gigantes que, a princípio, não os remuneram – visto que seus lances foram muito menores.

Nos is
A Triunfo não está inadimplente com o governo do Estado. Esteve quando perdeu a concessão da Rodovia Ayrton Senna, em SP – por não ter conseguido entregar todas as garantias exigidas pelo edital.

A segunda colocada, Ecorodovias, a substituiu.

Aos 46 minutos 
Serra decidirá se é candidato à Prefeitura de São Paulo horas ou minutos antes da convenção tucana – marcada para o dia 3 de março.

Quem diz isso não entende de política mas sim de. Serra.

Pão nosso? 
Quem gosta do Le Pain Quotidien, em Paris, pode não ter de viajar para tão longe.

Alain Coumont está em São Paulo, estudando abrir cinco lojas no Brasil.

Quebra-cabeça
Depois de sair encantado de almoço com Val Marchiori, Edson Aran, da Playboy, está quebrando a cabeça: o que fazer para convencer a loira do Mulheres Ricas a posar nua?

Afinal, dinheiro não é o problema dela.

Tipo exportação
Martin Kessler, documentarista alemão, gravou seu terceiro filme sobre Belo Monte. Com direito a entrevistas de Maria Paula Fernandes e Sérgio Marone, do Movimento Gota D’Água.

Será exibido amanhã, em um cinema de Berlim.

Exportação 2
Irene Ravache vai a Moçambique para protagonizar o filme Yvone Kane.

No longa, da diretora portuguesa Margarida Cardoso, viverá Sara, médica e ex-revolucionária marginalizada ante o rumo que tomou o país.

Solita 
Sharon Stone desembarca sozinha para o Carnaval. A tiracolo, somente sua manager.

A estrela dá pinta, sábado, no camarote do Terra, em Salvador.

Gentileza 
Depois de pipocar na internet uma entrevista, de 2009, em que Kevin Costner afirma ter beijado Whitney Houston por “todos os americanos e por mim mesmo”, o ator, segundo a revista americana OK!, teria enviado flores à filha da cantora.

Ambos eternizaram o par romântico de O Guarda-Costas.

Harmonia
Simone Leitão, pianista que vive entre Miami e SP, será jurada de harmonia no carnaval carioca.

Em sua tese de doutorado, ela dedica capítulo inteiro ao tema.

O negócio do futuro - TASSO AZEVEDO

O GLOBO - 15/02/12


Em geral as pessoas me procuram em busca de um tapeceiro, para consertar o tecido do sofá ou uma cadeira. Mas não é esse meu negócio. Meu trabalho é dar vida longa aos móveis. Fazer remendo dá mais retorno, mas não faço. Cada peça que entra aqui eu trato como se fosse um paciente que gostaria que vivesse para sempre e trabalho para que aquela peça só volte para ser reparada pelos meus filhos ou netos.

Assim o "Seu" Paulo, um artesão que reforma móveis na Cardeal Arcoverde, tradicional rua do comércio de móveis usados em São Paulo, descreve o seu oficio, o seu negócio. Ele trabalha todos os dias para construir o mundo da forma como ele deseja vê-lo.

Este é o cerne da transformação que precisamos ver no mundo dos negócios se realmente pretendemos promover as mudanças profundas para construir um futuro de bem-estar e prosperidade dentro dos limites ecológicos do planeta.

As empresas precisam investir para viabilizar o cenário desejável em vez de apenas se adaptar ao cenário mais provável, aquele que está nos levando a superar os limites de resiliência do planeta.

Em geral processos de planejamento estratégico começam com o sonho do mundo que se deseja seguido pela formulação de cenários de como o mundo se desenvolverá associado a uma probabilidade de cada cenário se consolidar. O cenário mais provável é então tratado como foco das famigeradas análises SWAP que levantam as oportunidades e ameaças e os pontos fortes e fracos da empresa neste contexto. Daí para a frente segue-se no caminho de preparar a empresa para cumprir a "sua missão" neste cenário.

O problema é que em geral o futuro que precisamos, com radical transformação na forma como utilizamos os recursos naturais e como distribuímos os benefícios deste uso para toda população, é sistematicamente relegado ao cenário desejável, mas não provável, e portanto as empresas se preparam não para promover a transformações; acabam por cooperar para que o cenário mais provável se consolide.

Um bom exemplo é a indústria automobilística. A indústria, governo, ciência e sociedade civil reconhecem que a mobilidade urbana precisa ser resolvida pela via do transporte público, transporte não motorizado e a reorganização do espaço urbano com foco nas pessoas.

Contudo, com base no cenário de crescimento de renda, acesso a crédito, estabilidade econômica, estímulo à indústria automobilística e o desejo latente de posse de veículos particulares, a indústria automobilística investe bilhões de dólares no Brasil para colocar nas ruas 40 milhões de veículos nos próximos dez anos. Isso é claramente insustentável.

As empresas do setor - que têm sustentabilidade entre seus valores e visão - expressam seus compromissos em questões pontuais como eficiência de motores e uso de materiais recicláveis, o que nem de longe consegue lidar com uma fração do impacto da estratégia de crescimento da venda de veículos particulares.

O mais gritante é que uma vez feitos os investimentos as empresas operam sistematicamente para garantir a existência do mercado para acolher os veículos e com isso contribuem para nos distanciar do cenário desejável.

É tempo de reposicionar o papel das empresas no desenvolvimento sustentável. É preciso sair da postura defensiva que reage às ameaças e oportunidades e passar a planejar, agir influenciar ativamente a construção do cenário da sustentabilidade. Não se trata, por exemplo, de avaliar se haverá ou não a precificação de emissões de carbono e como se adaptar à sua ocorrência ou fazer lobby para evitar que ocorra. Trata-se, sim, de garantir que esta precificação exista porque é fundamental para sustentabilidade.

A Rio+20 é uma excelente oportunidade para um salto de qualidade no posicionamento do setor empresarial. É o momento de este setor participar fortemente do debate para cobrar, dar suporte e incentivar que as resoluções da conferência sejam as mais ambiciosas, estratégicas e operativas para mudar o curso atual da história e efetivar o desvio do caminho direto contra o muro dos limites do planeta para a rota da prosperidade e sustentabilidade.

GOSTOSA


O virtual herdeiro da China - HO PIN

O ESTADÃO - 15/02/12

Xi Jinping assumirá o comando em meio a uma crescente decepção com Hu, corrupção e uma economia com sinais de estagnação



The New York Times




Para um novo líder chinês, pisar no gramado da Casa Branca e apertar a mão do presidente americano é uma maneira de validar seu status de autêntico estadista e confirmar seu poder ascendente em seu país. A tradição continuou ontem, quando o vice-presidente Xi Jinping chegou a Washington. Xi assumirá o cargo de secretário-geral do Partido Comunista Chinês antes do fim do ano, e de presidente da China no início de 2013.

A população chinesa considera Xium homem do povo. Quando tinha 9 anos, seu pai, Xi Zhongxun, que havia combatido na Revolução Comunista, foi expurgado do partido por Mao Tsé-tung. O pai foi preso, ficou 16 anos num campo de trabalho, deixando a família na pobreza.

Durante a Revolução Cultural, Xi,então com 15 anos, foi exilado para uma aldeia miserável do norte do país onde trabalhou por sete anos com os camponeses. Seus sofrimentos provavelmente farão dele um defensor dos interesses das pessoas comuns.

Xi assumirá o comando em meio a uma decepção crescente com Hu, um tecnocrata cauteloso, sem talento nem vontade política para levar o país em uma nova direção. Apesar de a Chinater usado as reformas de mercado para se transformar numa potência econômica, o governo vive em constante temor de sublevações. A riqueza e as oportunidades foram abocanhadas por alguns indivíduos conectados politicamente. A corrupção não tem freios, e a distância entre ricos e pobres está aumentando.

O presidente Hu resistiu a empreender reformas. Preferiu reverter à política da era de Mao de criar empresas estatais gigantescas e alocar bilhões de dólares em um aparelho de segurança que rotineiramente reprime os dissidentes.

O crescimento econômico proporcionou uma moratória temporária a Hu; Xi não terá essa sorte. A economia dá sinais crescentes de estagnação e o sistema financeiro está sendo solapado por empréstimos descontrolados e corruptos. Protestos contra a corrupção e a injustiça social intensificam-se.

Xi terá de combater a corrupção, melhorar as proteções a camponeses e trabalhadores migrantes, e rejuvenescer a empresa privada. Considerando que seu pai foi um dia perseguido por defender um livro proibido, Xi deve conhecer a importância da liberdade de expressão e espera-se que trabalhe para recuperar a confiança dos intelectuais.

Mas sem eleições livres, uma imprensa livre e juízes independentes, o governo não pode cumprir suas promessas de combater a corrupção e construir uma sociedade limpa e justa. Xi enfrentará muitas limitações.

Apesar de vir a governar a nação mais populosa do mundo, ele não tem a legitimidade conferida a autoridades democraticamente eleitas. E não pode esperar um domínio da estrutura de poder da China como tiveram Mao e Deng Xiaoping.

TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA E CELSO PACIORNIK

Parece que foi ontem - JOSÉ MÁRCIO CAMARGO

O ESTADÃO - 15/02/12


Após forte crescimento em 2010, a produção industrial estagnou em 2011, e o nível de produção da indústria brasileira permanece abaixo do atingido em 2007. Com a estagnação da indústria, o PIB da economia do Brasil desacelerou, o que, combinado com o agravamento da crise da dívida europeia, levou o Banco Central (BC) a iniciar um processo de redução das taxas de juros e reversão das medidas de controle do crédito adotadas em 2010. Como o afrouxamento monetário e do crédito deverá reativar a demanda, espera-se que a indústria responda com a retomada do crescimento.

Essa expectativa se baseia no diagnóstico de que o problema do setor está na falta de demanda. Entretanto, existem fortes sintomas de que esse diagnóstico está errado e de que, ao adotar políticas monetária e de crédito mais frouxas, o resultado poderá ser mais negativo do que positivo para o setor industrial.

Primeiro, as taxas de desemprego estão em níveis recordes de baixa, próximas a 5% da força de trabalho e em queda. O crescimento do emprego está cada vez mais concentrado nos setores de serviços e comércio. Segundo, o crédito para as pessoas físicas e para as empresas está crescendo sistematicamente acima do crescimento do PIB, tendo a relação crédito/PIB passado de 26%, em 2002, para 49%, em 2011. Em 2011 as concessões de crédito subiram 19%. Finalmente, as taxas de crescimento das importações de bens industriais estão bastante altas. A participação das importações no total da oferta de produtos industriais no Brasil atingiu 21,5% no 3.º trimestre de 2011. Ou seja, a demanda por produtos industriais está crescendo a taxas até mesmo insustentáveis, se desconsiderarmos as importações.

A questão é que os preços desses bens no mercado internacional têm caído em termos absolutos, o que impossibilita às empresas brasileiras aumentarem seus preços unilateralmente e segura a inflação da indústria. Mas, como os serviços são não comerciáveis, os aumentos de demanda por serviços têm de ser atendidos por maior produção interna. Dada a baixa taxa de desemprego, o aumento da oferta de serviços não tem sido suficiente para acompanhar o da demanda, levando a taxa de inflação deste setor para a casa dos 9% ao ano, em 2011.

Com o aquecimento do mercado de trabalho, os salários nominais cresceram mais de 8% em 2011, o que é uma taxa muito superior ao crescimento dos preços industriais somados aos ganhos de produtividade (que, aliás, está estagnada desde 2007). Ou seja, o custo do trabalho para produzir uma unidade de produto industrial está subindo fortemente, devido à diferença entre as taxas de inflação do setor industrial e do setor de serviços e ao aquecimento do mercado de trabalho. Entre dezembro de 2008 e novembro de 2011, o custo unitário do trabalho em reais aumentou 15,7%, enquanto, em dólares, o aumento foi de 32,5%. É isso que está reduzindo a competitividade da indústria brasileira e gerando estagnação.

Com o aumento da demanda em razão do afrouxamento monetário e de crédito, as taxas de desemprego devem cair e a inflação de serviços deverá subir. Como as importações seguram os preços do setor industrial, a disparidade entre os reajustes de salários e os preços dos bens industriais vai aumentar, diminuindo a competitividade da indústria brasileira.

Para o setor industrial, seria melhor que o BC aproveitasse a tendência deflacionária externa para reduzir a meta para a inflação brasileira a níveis similares aos dos nossos parceiros comerciais, diminuindo, ao mesmo tempo, a disparidade entre a taxa de inflação do setor industrial e a do setor de serviços, ainda que com taxas de juros reais um pouco mais altas.

A solução estrutural para a diminuição da competitividade é uma completa reforma da legislação trabalhista, que é totalmente inadequada para uma economia aberta. Em lugar disso, o governo tem utilizado o aumento da proteção comercial para "defender" a indústria, o que diminui ainda mais a concorrência e, portanto, a competitividade do setor industrial no futuro.

Os remédios pagaram a lavadora - ELIO GASPARI


FOLHA DE SP - 15/02/12

Em um ano, 7,8 milhões de brasileiros hipertensos ou diabéticos medicaram-se, e todo mundo ganhou com isso



O programa federal de remédios gratuitos para hipertensos e diabéticos que a doutora Dilma botou na rua no ano passado beneficiou 7,8 milhões de pacientes de janeiro de 2011 a janeiro de 2012. É êxito para ninguém botar defeito. Êxito social e êxito administrativo.

Estima-se que no Brasil haja 30 milhões de hipertensos e 10 milhões de diabéticos. Boa parte deles padecem das duas condições e precisam tomar remédios todos os dias.

Tanto a hipertensão como a diabetes são doenças silenciosas. Quando o cidadão vai ao hospital, o estrago já está feito. Sem medicação, pode acontecer-lhe aquilo que sucedeu a d. Pedro 2º, que viveu num tempo em que ela não existia e foi-se embora aos 66 anos.

Desde 2006, o governo federal mantinha uma rede de farmácias, onde os pacientes retiravam medicamentos por 10% do preço. Foi uma das joias da coroa do governo, mas estava mais para turmalina que para esmeralda. Fazia a felicidade dos marqueteiros em ano eleitoral, mas embutia custos da infraestrutura de farmácias, transporte e pessoal.

Em 2011, mudou-se a gestão do programa. Em vez de a Viúva sustentar uma rede de farmácias, ela passou a credenciar as que estão estabelecidas no mercado. A rede expandiu-se, chegando a 781 municípios, com 20.300 estabelecimentos.

O negócio é bom para o freguês, porque agora ele não paga nada. É bom para a farmácia, porque o cliente acaba comprando mais alguma coisa. É bom para os laboratórios porque, vendendo grandes quantidades ao Ministério da Saúde, ganham com a expansão do mercado.

Em 2010, o programa beneficiou 2,8 milhões de pessoas e custou
R$ 203 milhões. Com o novo formato, em 2011 atendeu 7,8 milhões a um custo de R$ 579 milhões.
A iniciativa é economicamente eficiente, para usar uma expressão ao gosto de quem olha para o dinheiro gasto no andar de baixo preocupado com a relação custo/benefício. No ano passado, o SUS teve 11.000 internações a menos por conta de hipertensão de diabetes.

A nova classe C, também chamada de emergente, nada mais é do que a massa de trabalhadores que vivem com orçamento apertado.

Segundo números do Ministério da Saúde, com a gratuidade, o hipertenso que toma dois comprimidos de 50 mg de losartana potássica economizou cerca R$ 452 no ano, levando em conta que ele só pagava 10%. O diabético que não depende de insulina economizou pelo menos R$ 102, e aquele que precisa dela deixou de gastar entre R$ 407 e R$ 1.000.

Frequentemente, a rede de proteção social criada pelos governos é vista como assistencialismo. Um cidadão que trabalha em produção, comércio ou financiamento de mercadorias da linha branca pode ter dificuldade para valorizar o impacto social desses programas. Ele está feliz porque sua empresa vai bem. Ficaria mais satisfeito se relacionasse o seu bem-estar com o dos outros.

A firma vende mais eletrodomésticos porque há mais gente comprando-os e há mais gente comprando-os porque um trabalhador deixou de gastar R$ 452 com remédios e comprou uma máquina de lavar roupa semiautomática.

Num outro exemplo, fora da esfera federal, esse mesmo cidadão, que toma dois ônibus no Rio de Janeiro para ir trabalhar e outros dois para voltar à sua casa, economiza mensalmente a prestação do notebook do filho.

Sinuca de bico - ILIMAR FRANCO

COM FERNANDA KRAKOVICS



A decisão de José Serra de reavaliar uma candidatura à prefeitura de São Paulo embola o jogo. Um dirigente do PSD resume: “Vai ser um inferno”. Isso porque as conversas entre Gilberto Kassab e o PT estão avançadas em torno da candidatura de Fernando Haddad. O prefeito de São Paulo disse a pessoas próximas que, a essa altura do campeonato, se sentiria “desobrigado” de apoiar Serra, embora essa não seja uma decisão fácil. No cálculo de Kassab, também está o cenário nacional.

Mantega: risco calculado
O PT do Senado forçou uma barra e acabou convencendo o Planalto de que seria melhor o ministro Guido Mantega (Fazenda) ir espontaneamente à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). A estratégia reflete o perfil do novo líder do PT, senador Walter Pinheiro (BA), que sempre foi contra a blindagem de ministros. Com a desculpa do carnaval e da reunião do G-20, no México, dias 25 e 26, Mantega só irá à CAE no dia 13 de março. Até lá, o governo espera que as denúncias contra o ex-presidente da Casa da Moeda Luiz Felipe Denucci tenham esfriado. O temor do governo é que um desempenho ruim afete os mercados.

“O Brasil está na contramão. Enquanto a Europa enfrenta recessão e os EUA, baixa recuperação, o Brasil vai voltar a crescer” — Guido Mantega, ministro da Fazenda, na reunião do Conselho Político

ELE É O CARA. Depois de ouvirem a presidente Dilma garantir, na reunião do Conselho Político, isenção nas eleições municipais deste ano, líderes da base na Câmara queriam saber, em almoço na casa do líder do PMDB, Henrique Alves (RN), se o ex-presidente Lula dará tratamento igual a todos os aliados, ou se vai privilegiar os candidatos do PT. Mais do que Dilma, Lula será o grande cabo eleitoral das eleições.

Convênios
Os líderes da base pediram ao governo ontem, na reunião do Conselho Político, a aceleração das transferências de recursos para os municípios, já que, por causa das eleições, o prazo final é junho por exigência da legislação eleitoral.

Paciência
Como se não bastasse a irritação com o governo, os líderes do PR levaram ontem um chá de cadeira da ministra Ideli Salvatti. Quando ela ia conversar com eles, Dilma a chamou para receber o primeiro-ministro da Finlândia.

Gerentona
A presidente Dilma disse ontem aos líderes da base que a dicotomia entre técnico e político em seu governo é uma falsa questão. A presidente refutou a imagem de que que tem um perfil puramente técnico, afirmando que, no final, toda decisão é política. Ela disse ainda que sua prioridade é a eficiência da gestão, principalmente nas áreas de Saúde e Educação, e defendeu o desaparelhamento do Estado.

Batata assando
Questionado ontem pelos líderes da base se já havia acertado com o presidente da Câmara a sessão de discussão do Funpresp, o líder do governo, Cândido Vaccarezza , respondeu: “O problema do Marco Maia é o Palácio, não sou eu”.

Outro lado
O líder do governo, Cândido Vaccarezza (PT-SP), diz que é amigo do presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine. Vaccarezza e o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), afirmam ainda que a bancada petista está pacificada.

CONSTERNAÇÃO. Na reunião do Conselho Político, a presidente Dilma pediu um minuto de silêncio devido à morte de Marcelo, 13 anos, filho do presidente da Embratur, Flávio Dino.

VAREJO. Do líder do PTB, deputado Jovair Arantes (GO), sobre a presidência da Conab: “O PTB só tem dois cargos. Se quiserem pegar um, como fica?”.

A PRESIDENTE Dilma resolveu voltar para a base de Aratu, na Bahia, no carnaval, porque gostou da estrutura do local, apesar de ficar mais exposta do que no Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno, no Rio Grande do Norte, onde foi em 2011.
FERNANDA KRAKOVICS

GOSTOSA


Dilma, Wagner e Alckmin no mesmo barco, a lei - JOSÉ NÊUMANNE


O Estado de S.Paulo - 15/02/12


Em 1991, os policiais militares da Bahia entraram em greve, na gestão de Antônio Carlos Magalhães (ACM). Dez anos depois, houve nova greve sob o governo de um carlista, César Borges. Em ambos os casos, o então parlamentar petista Jaques Wagner se pronunciou publicamente a favor dos movimentos, seus líderes e participantes. Este ano, sob a liderança do mesmo Marco Prisco ao qual antes dera suporte, no governo do Estado para o qual foi eleito por obra e graça do fenômeno popular Lula da Silva, esse político recorreu às Forças Armadas e a soldados da Força Nacional para desocupar a Assembleia Legislativa baiana, invadida pelos grevistas. Como num jogo de xadrez, as peças mudam de cor e de casa, mas o jogo continua: Prisco, ex-aliado e atual desafeto de Sua Excelência, passou por PT, PSOL e PCdoB antes de encontrar refúgio no ninho tucano, onde se encontra. O PSDB, que denuncia a incoerência do petista, daria melhor contribuição à democracia se o desautorizasse e expulsasse do partido, deixando clara sua posição a favor não do governo Wagner, mas da ordem pública sob a proteção de Deus e da Constituição. No jogo sujo da política, contudo, princípios e valores têm sido substituídos por oportunismo e desfaçatez.

Em agosto último, o Senado anistiou policiais militares e bombeiros do Rio de Janeiro e, por extensão, todos os integrantes da categoria que fizeram greves desde 1997 em 12 Estados da Federação. Num bom exemplo de coerência e espírito público, o senador paulista Aloysio Nunes Ferreira, do mesmo PSDB de Prisco, foi um dos raros responsáveis que não avalizaram a lei demagógica, que enfraquece as defesas da democracia contra pleitos abusados de uma corporação fardada, armada e de posse de equipamentos públicos para chantagear a autoridade constituída. E a presidente Dilma Rousseff sancionou a lei.

Mas menos de meio ano depois ela recuou dessa decisão temerária e pôs os pingos nos is na questão delicada da estreita fronteira entre o direito que todo trabalhador tem de lutar por melhores salários e condições de vida e a obrigação que o policial militar ou bombeiro assume de garantir a ordem pública. "Se você anistiar, vira um país sem regras", sentenciou, de forma muito judiciosa, a presidente, sem deixar vácuo para dúvidas.

Em Parnamirim (PE), aonde foi na semana passada para inspecionar obras da Ferrovia Transnordestina, Sua Excelência foi além da afirmação ao traçar praticamente um roteiro de orientação para o assunto sob seu governo. "O Brasil tem hoje uma visão de garantia da lei e da ordem muito moderna. Nós não consideramos que seja correto instaurar o pânico, o medo, criar situações que não são aquelas compatíveis com a democracia. Numa democracia, sempre tem que se considerar legítimas as reivindicações. Mas há formas de reivindicar. E não considero que o aumento de homicídios nas ruas, a queima de ônibus, entrada em ônibus encapuzados seja uma forma correta de conduzir o movimento", disse ela. A declaração merecia uma placa, qual um gol inesquecível.

A presidente só precisa é aplicar esse pragmatismo responsável, que usou em defesa da intransigência (nem sempre sinônimo de competência) de seu correligionário Jaques Wagner, ao tratar de assuntos correlatos enfrentados por adversários políticos - como o tucano Geraldo Alckmin na reintegração de posse do terreno ocupado pela comunidade Pinheirinho, em São José dos Campos. É uma sandice exigir que o governador da Bahia trate os PMs e bombeiros grevistas sob suas ordens com condescendência por ter sido cúmplice deles no passado. Da mesma forma, não é sensato rejeitar a lucidez demonstrada pela chefe do governo federal no sertão de Pernambuco porque cinco meses antes, no Planalto Central do País, ela entrou na corrente dos senadores irresponsáveis que perdoaram amotinados que violaram a lei em nome de princípios socialmente justos e tidos como politicamente corretos. Não há mais lugar, no Brasil "moderno" exaltado pela mandatária máxima, para a mentalidade engajada que exige da autoridade vista grossa para quem viola a ordem jurídica vigente no Estado Democrático de Direito em nome do estado de necessidade. Servidores fardados e armados não podem invadir impunemente Assembleias, quartéis ou outros próprios públicos porque ganham mal. Pobres sem-teto não devem ser mantidos na posse de terrenos que não lhes pertencem por não terem casa. Agiram bem Wagner, Dilma e Alckmin ao usar o poder de coerção para expulsar grevistas e posseiros dos prédios e terrenos que ocuparam indevidamente.

O que Dilma disse em Parnamirim consola os aflitos, como este escriba, por ter ela defendido, no Fórum Social de Porto Alegre, a volta ao estado de barbárie ao chamar de "bárbara" a operação em que a PM paulista cumpriu ordem judicial expressa, a pretexto de comiseração em relação aos desvalidos da Terra. Pode ser aceitável a atitude de Jaques Wagner de se acumpliciar com grevistas que enfrentaram o carlismo, assim como discutível a responsabilidade do PSDB pela irresponsabilidade de seu militante Prisco no comando de um movimento que, como definiu Dilma, mais ataca do que preserva a democracia. Tudo isso faz parte da luta pelo poder, que nunca foi um ato devoto de carmelitas descalças.

Mas depois de Alckmin haver, corretamente, enfrentado a onda de engajados contra a ocupação do Pinheirinho; de Wagner, de forma acertada, ter negado anistia aos grevistas de seu Estado para tê-los de volta ao cumprimento do dever; e de Dilma, estabelecido o marco decisório de Parnamirim; os três perderam o direito à incoerência. Alckmin não podia deixar dúvidas sobre seu repúdio à estratégia de Prisco, Wagner perdeu a autoridade para apoiar movimentos similares ao que enfrentou e Dilma não deve empregar dois pesos e duas medidas neste assunto capital que é o império da lei no Estado Democrático de Direito.

O 'esquenta' venceu a greve - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 15/02/12
RIO DE JANEIRO - Na sexta, o Cordão da Bola Preta levou 100 mil pessoas à Cinelândia. No sábado, o Simpatia É Quase Amor também arrastou 100 mil em Ipanema; o Imaginou? Agora Amassa, 10 mil no Leblon; o Ansiedade, mais 10 mil em Laranjeiras. No domingo, o Suvaco do Cristo pôs 30 mil foliões no Jardim Botânico; o Bloco da Preta galvanizou 250 mil na avenida Rio Branco; e outros cem blocos, de vários tamanhos, foram às ruas, além dos milhares que compareceram à reinauguração do sambódromo.
Naquelas 72 horas, o Rio vivia uma greve de PMs, policiais civis, bombeiros e agentes penitenciários, muito mais visível nos jornais (inclusive o "New York Times") do que na cidade. Ou por baixa adesão dos grevistas, ou porque elementos de outras corporações cobriram os desfalques, as ruas pareciam até mais policiadas do que antes da greve. Em nenhum momento o carioca se sentiu desprotegido ou na iminência de confrontos.
O que seria um trunfo para os grevistas -paralisar a cidade no Carnaval, sabotar uma de suas fontes de renda e arruinar sua imagem no exterior- revelou-se um clássico da falta de senso de oportunidade. É ruim exigir entrega e mobilização do Rio no Carnaval -porque a cidade já está comprometida com coisa melhor. Os grevistas deviam ter esperado por Finados ou pela Semana da Pátria.
E olhe que cada saída de bloco no fim de semana era só aquecimento pré-carnavalesco. Os desfiles a valer três pontos vêm agora. Os 100 mil do 'esquenta' do Bola tornar-se-ão 2,5 milhões neste sábado; a Banda de Ipanema baterá seus próprios recordes; e não adiantará que o Céu na Terra, de Santa Teresa, guarde segredo sobre o local ou hora de sair, ou saia às 8h, para evitar aglomeração -os foliões irão descobrir e aglomerar-se do mesmo jeito.
O Carnaval, com suas leis imutáveis, derrotou o imprudente levante dos soldados e impôs a sua ordem.

Caindo do cavalo - ROBERTO DaMATTA


O Estado de S.Paulo - 15/02/12


O cavalo e suas associações simbólicas são - e o que não é? - bem maiores do que eu pensava. Não há como falar de cavalos sem esquecer alguma coisa. Paga-se um preço quando se fala da continuidade criada entre um cavaleiro e o seu cavalo. Há que se desfazê-la caindo do cavalo. No caso, a queda veio do meu esquecimento de algo lembrado por um leitor atento que, com isso, retoma o jogo crucial entre a memória explícita do escritor e a implícita do leitor - dando testemunho de uma memória interdependente ou "coletiva", que jamais deixa de lado lembrar o esquecido e esquecer o lembrado, nisso que constitui o que chamamos de falta, acusação, arrependimento e culpa. Esses pilares de nosso pequeno mundo aparentemente delineado por uma coisa denominada consciência individual.

Desta feita, o leitor um tanto indignado admoesta muito justamente o cronista. Como falar em "cavalo de santo" se - diz ele - ao comentar o musical do Tim Maia, eu não mencionava o nome do jovem e talentosíssimo ator Tiago Abravanel, que é justamente o "cavalo" de Tim Maia, e, assim, traz um morto ilustre à vida. Na mensagem, tomo consciência de ter citado por quatro vezes o autor do espetáculo, Nelsinho Motta, mas deixo de lado Tiago Abravanel, o personagem central do drama. O ator que, anulando seu corpo e sua alma, abre dentro de si o generoso espaço para a manifestação dos erros e das qualidades - enfim, daquilo que eventualmente fica de alguns de nós - do espírito de Tim Maia.

Ao receber a mensagem, caí do cavalo. E pensei: afinal, se há santo e cavalo, quem é o mais importante? Sem o cavalo, não há lembrança - esse apanágio do santo e do gênio. Mas sem a excepcionalidade do ator - do cavaleiro - não haveria cavalos. Algo ficou de fora como, aliás, acontece em tudo o que é humano. Claude Lévi-Strauss, para ficarmos com um dos craques das manobras dos símbolos e do inconsciente como poucos, distingue na sua vasta obra, quatro famílias de linguagens fundamentais: a da matemática, em que a mente fala consigo mesma sem constrangimentos; a das línguas naturais, em que som e sentido se autoconstrangem; a da música, que seria a do som sem sentido; e a dos mitos, feita - como ele gostava de surpreender - de muito significado, mas pouco som! Há sempre uma falta...

Ao focar o cavalo, não fiz como os astecas e esqueci o cavaleiro. A minha amnésia trouxe a lembrança de um leitor. Pergunto-me se isso não é, em miniatura, o drama da própria condição humana que, sendo incapaz de esgotar qualquer assunto, nos leva a essa busca deslumbrada e infinita dos outros e descobre a falha por meio dos que olham de outros ângulos. Afinal, não é isso que também define a alternativa, base da alteridade? Mas ao comentar o que falta (o que foi esquecido, mas é lembrado), faz-se a luz e o escritor, cercado pelas paliçadas de sua onipotência, verifica que através do leitor ele se abre à lembrança. E, quando a desvenda, atenta que caiu do cavalo.

Hoje, eu faço o reparo e cito com admiração e carinho o Tiago Abravanel como Tim Maia. Mas imagino imediatamente uma nova mensagem de um outro leitor, cobrando-me agora o nome do diretor do espetáculo; e de um outro, o nome dos coadjuvantes e dos músicos; e ainda de um outro - por que não? -, o nome de todos que estavam na plateia, já que todo ritual tem dois lados que se complementam. O do palco (ou altar), iluminado pelos sacerdotes atores, e o da obscura e relativamente inominada mas essencial plateia, à espera do milagre. Embora a luz só incida sobre um lado, ambos fabricam o espetáculo que, dependendo do seu gênero, faz o fosso aparecer e desaparecer na medida em que o rito se desenrola.

O ator precisa do público tanto quanto os deuses precisam dos seus devotos. Sem os sacrifícios, as esperanças, o sofrimento e a gratidão dos piedosos, os deuses seriam esquecidos. Por isso eles nos fazem sofrer. Sem o sofrimento não haveria súplicas nem relações. O laço é o arrimo do amor. Sabemos que precisamos dos deuses, mas - eis o que aprendi com Durkheim e seus alunos - eles também precisam de nós. Das nossas orações, louvores, sacrifícios e da nossa devoção e lealdade. Uma rosa não é uma rosa sem o olho que a vê.

Plantados na terra vemos mais as estrelas. Mas quem foi que disse que elas não olham para nós e nos veem como pequenos fogos, tanto mais insignificantes e comoventes quanto os seus descorados brilhos? O que seria da estrela-guia sem o pastor? Haveria o tal cavalo branco sem um São Jorge para montá-lo? Como reconheço, é preciso ver o cavalo, mas não esquecer o cavaleiro.

Ademais, ninguém fica montado todo o tempo, embora tenha gente planejando isso o tempo todo. A dimensão mais preciosa da igualdade é a descoberta de que o produto precisa do consumidor e o vencedor precisa do vencido para legitimá-lo. Do mesmo modo que o santo não existe sem o seu cavalo.

Os cavalos são meios e fins. Por isso, o cronista idoso e grato ao seu esquecimento que engendra leitores generosos, termina com uma quadra roubada de Câmara Cascudo:

"Fui moço, hoje sou velho,

Morro quando Deus quiser,

Duas coisas apreciei:

Cavalo bom e mulher".

A melhor chance contra o chavismo - EDITORIAL O GLOBO


O Globo - 15/02/12


Pela primeira vez a oposição a Hugo Chávez tem uma chance concreta de derrotá-lo nas urnas, em outubro, mas para isto é necessário que suas diversas correntes se mantenham unidas em torno do vencedor das primárias de domingo, o governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, de 39 anos. Esta, aliás, é a promessa dos principais líderes oposicionistas.
Manter a união é a única forma de a oposição chegar às eleições presidenciais com possibilidade de fazer frente a Chávez, campeão de audiência devido aos programas sociais financiados com recursos do petróleo, do qual a Venezuela é o oitavo maior produtor mundial. Ele ocupa o poder há 13 anos, período no qual trabalhou intensamente para aumentar seu controle político e reduzir o da oposição, ao mesmo tempo em que enfraquecia a democracia venezuelana ao transformar o Legislativo e o Judiciário em meros instrumentos do Executivo.
A oposição deu uma impressionante demonstração de força ao levar, no fim de semana, cerca de 3 milhões de venezuelanos às urnas nas primárias em que Capriles foi escolhido, com 62,2% dos votos.
Chávez enfrenta o desgaste de 13 anos no poder, prometendo o céu aos venezuelanos, mas quase sempre colhendo resultados abaixo do esperado. O país tem hoje problemas sérios de segurança — é o mais violento da América do Sul —, infraestrutura, desabastecimento, queda do poder aquisitivo, inflação oficial de 27,6% em 2011.
O que não se pode negar é que, com tudo isso, Chávez continua querido pelo povão e sua popularidade voltou a subir para 58% devido à comoção causada pelo câncer que o acometeu e ao longo tratamento em Cuba. A doença foi abordada sem transparência pelo governo venezuelano, e pouco se sabe sobre a gravidade do estado de saúde do caudilho bolivariano. O que é próprio de regimes baseados no personalismo, no autoritarismo e no populismo.
Capriles dá mostras de estar no caminho certo ao adotar a estratégia do cambio, pero no mucho: propor melhorias nos programas sociais, evitando bater de frente com Chávez, e prometer avançar na política econômica, de segurança e educacional. O candidato, muito jovem, não pode ser acusado de inexperiência, pois é considerado bemsucedido seu governo no estado de Miranda.
De alta classe média, Capriles procura não passar imagem elitista, que o transformaria em alvo fácil da artilharia de Chávez.
Ele não hesitaria em igualá-lo às velhas elites.
Capriles mostra perspicácia ao dizer que tem como inspiração o modelo econômico, os programas sociais e a democracia brasileira. Com isso, oferece ao eleitor uma alternativa concreta à panaceia chavista, acenando com um Estado promotor do desenvolvimento e com a devolução aos venezuelanos do direito à livre iniciativa e ao empreendedorismo.
O candidato do partido Primero Justicia é a melhor chance que a Venezuela tem de reverter o avanço do chavismo estatizante, ineficiente e destruidor das instituições democráticas.

Floresta diferente? - ANDRÉ MELONI NASSAR


O Estado de S.Paulo - 15/02/12


Em época de concessão da administração de aeroportos à iniciativa privada por um governo do PT, talvez se possa ter a esperança de que este governo aceite abrir algumas portas para formas mais modernas de gestão do patrimônio de biodiversidade existente no Brasil. A ideia que apresento aqui é a seguinte: as florestas existentes nas propriedades privadas não deveriam ser consideradas nas políticas brasileiras de conservação da biodiversidade? Por acaso essas florestas são deferentes em relação ao potencial de conservar flora e fauna, das que estão em unidades de conservação (UCs) e reservas indígenas - estas, sim, elegíveis para as metas?

Embora possa parecer, essa proposta não é mera provocação, tampouco tem a intenção de criticar o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (Snuc). No entanto, diante das mudanças que serão aprovadas nos sistemas de gestão das florestas em propriedades privadas, caso o Congresso Nacional aprove a reforma do Código Florestal, os mecanismos de mercado ganharão relevância ante os tradicionais sistemas de comando e controle, justificando, assim, essa proposta.

Um dos mais óbvios mecanismos de mercado são os pagamentos por serviços ambientais, sobretudo os associados à conservação da biodiversidade. Tornar as florestas em propriedades privadas elegíveis para as políticas de conservação da biodiversidade, dado um conjunto de condicionantes que explico a seguir, significa reconhecer que elas também poderão receber pagamentos por serviços ambientais quando estes se tornarem realidade no Brasil.

Contando União, Estados e municípios, o Brasil tem cerca de 110 milhões de hectares (ha) de reservas indígenas, 52 milhões de ha de UCs de proteção integral, 55,8 milhões de ha de UCs de uso sustentável e 43,5 milhões de ha de áreas de proteção ambiental (UCs de uso sustentável instituídas em áreas privadas). Por outro lado, entre reservas legais (RLs) e áreas de preservação permanente (APPs) conservadas - os dois instrumentos definidos pelo Código Florestal que impõem a conservação nas propriedades privadas -, tem-se ao redor de 250 milhões de ha. Ou seja, as áreas privadas, mesmo considerando o enorme contingente de propriedades que não está em conformidade com o código vigente, possuem um montante de florestas equivalente ao total de áreas protegidas pelas reservas indígenas e UCs instituídas pelo Snuc. Não há, portanto, como negar a grande importância das florestas existentes em propriedades privadas.

À luz das políticas brasileiras de conservação da biodiversidade, as florestas em RLs e APPs são ignoradas. Apesar de o Código Florestal prever que são áreas fundamentais para a conservação da biodiversidade, na prática elas são reconhecidas somente como uma obrigação imposta aos proprietários rurais. Com isso criamos, no Brasil, uma separação concreta entre florestas com as mesmas funções ambientais que, em razão do tipo de propriedade (pública ou privada), são tratadas diferentemente. Partindo do princípio de que o objetivo é conservar a biodiversidade, essa distinção não faz nenhum sentido.

Um exemplo que confirma essa tese são as metas da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), tratado internacional que busca garantir níveis mínimos de conservação da biodiversidade. Para a CDB, uma área protegida é geograficamente delimitada e regulamentada para conservar a biodiversidade. O mesmo conceito é adotado pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).

A CDB recomenda que as metas devem ser cumpridas por meio de sistemas em áreas protegidas, bem como via "outras medidas especiais de conservação, e integradas em paisagens terrestres e marinhas mais amplas". No entanto, a política brasileira reconhece como áreas protegidas elegíveis para cumprir as metas da CDB apenas as UCs e terras indígenas. Se as APPs e áreas de RL são protegidas pelo Código Florestal, como uma restrição à propriedade da terra que visa a conservar a biodiversidade, uma vez efetivamente preservadas, devem contar para as metas brasileiras de proteger ao menos 17% de cada bioma até 2020.

Não estou, evidentemente, defendendo a inclusão de todas as florestas em RLs e APPs. Aliás, se fosse assim, o Brasil já estaria cumprindo as metas da CDB em cada um dos biomas encontrados em nosso território. É preciso estabelecer critérios.

Considerando a relevância das APPs para a conservação da biodiversidade, proteção do solo e da água, entre outros serviços ambientais, essas áreas, desde que incluídas no Cadastro Ambiental Rural (CAR), deveriam contar para as metas brasileiras.

O segundo critério se aplicaria às RLs. Se UCs são elegíveis para as metas de conservação de biodiversidade, isso significa que maciços florestais são preferíveis a fragmentos. Isso me leva a propor que grandes áreas de RLs deveriam também ser elegíveis - o que estimularia os proprietários de terra a conservar extensões grandes ou, aprovado o novo Código Florestal, a compensar RLs em grandes maciços.

Um terceiro critério para dar elegibilidade às RLs seria o seguinte: florestas em RLs que adensam APPs e estabelecem corredores ecológicos dentro e entre as propriedades também ganhariam status diferenciado. Este critério e o anterior poderiam ser aplicados em conjunto.

Em minha opinião, está passando da hora de derrubarmos esse conceito de separar as florestas entre as que têm valor para a biodiversidade - e por isso são reconhecidas nas políticas de conservação - e as que não o têm, às quais sobra a proteção pela obrigação. Sendo as florestas em áreas privadas em nada diferentes em termos de conservação de fauna e flora das demais florestas, esse serviço ambiental não deveria ser ignorado, como sempre foi até hoje.

Passo consumado - DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 15/02/12

Espera-se para hoje a retomada da votação sobre a constitucionalidade da Lei da Ficha Limpa no Supremo Tribunal Federal. Se confirmado, já vem tarde esse julgamento. Se não, o STF continuará devendo uma resposta à sociedade.

Por todas as contas que são feitas, a parada estaria decidida em favor da lei. Note-se: o que está em exame não é a validade para a próxima eleição por questões de prazos como ocorreu em 2010, mas se é ou não constitucional.

Até agora dois ministros já votaram em sessão anterior, antes do pedido de vista feita pelo ministro José Antonio Dias Toffoli. Ambos, Luiz Fux e Joaquim Barbosa, disseram que a exigência de contas zeradas com a Justiça para quem alguém possa se candidatar está em acordo com a Constituição.

Outros três - Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Carlos Ayres Brito -, embora ainda não tenham votado, em outras ocasiões manifestaram-se do mesmo modo.

Gilmar Mendes, Toffoli, Celso de Mello e Cezar Peluso sinalizaram apreço à tese de que não há como barrar candidaturas de condenados em primeira instância por um colegiado sem ferir o princípio da presunção da inocência até o trânsito em julgado.

Marco Aurélio Mello era tido como integrante desse grupo, o que deixaria a votação teoricamente empatada em cinco votos a cinco, ficando a decisão para a ministra Rosa Weber, a mais nova integrante do tribunal e cuja posição não é conhecida.

Ocorre que recentemente Marco Aurélio deu declarações públicas insinuando apoio à constitucionalidade da Ficha Limpa e, reservadamente, detalhou a interlocutores suas razões.

Segundo ele, essa lei inscreve-se entre aquelas representativas de avanços culturais emblemáticos, como as da Responsabilidade Fiscal e o Código do Consumidor.

Ademais, argumenta, o princípio da culpabilidade aplica-se a processos criminais e não à vida pregressa de quem se pretende delegado de uma representação pública.

Seguindo essa linha de raciocínio, o ministro votará a favor da lei e, portanto, o placar antecipado seria de seis votos contra quatro. Independentemente da posição da ministra Rosa Weber, a fatura estaria liquidada.

Em tese. Pode ser maior ou pode haver mudanças de posição. Fato é, contudo, que o conceito da Lei da Ficha Limpa já foi incorporado pela sociedade e se o STF decidir contra estará produzindo um recuo que colocará o Congresso na obrigação de corrigir.

De duas, uma. Não há meio termo possível na interpretação da declaração do prefeito Gilberto Kassab de que "definição tardia é definição derrotada", referindo-se à possibilidade de o tucano José Serra vir a se candidatar à Prefeitura de São Paulo.

Ou tem certeza de que não há a menor hipótese ou trata-se de um aviso prévio de abandono do navio.

Como dantes. Quanto a notícias de que José Serra negocia com o governador Geraldo Alckmin condições para aceitar a candidatura, o fato é o seguinte: os dois não se falam há um mês, nem pessoalmente nem por intermédio de "mensageiros".

Por enquanto tudo continua como no quartel de Abrantes, não obstante o aumento "exponencial" das pressões. Se José Serra acabará cedendo a elas são outros quinhentos ainda não postos à mesa.

Day after. Compreende-se que o governador Jaques Wagner solicite a permanência da Força Nacional e do Exército em Salvador durante o carnaval como medida preventiva, devido à radicalização da greve recente.

Só não é aceitável que ele diga que está "tudo bem" na Bahia em matéria de segurança pública. A presença das tropas por si só configura uma anormalidade (no sentido de alteração da rotina) e sinaliza que o atrito entre governador e polícia no processo deixou sequelas cujos desdobramentos precisam ser administrados.

Oposição emparedada - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 15/02/12
BRASÍLIA - Se consolidada, a aliança entre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o PT na disputa pelo comando da capital paulista será mais um prego no caixão da agonizante oposição.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está aos poucos interditando todo o espectro político para quem não apoia o projeto do PT em nível nacional. Sem ter com quem se aliar, PSDB, DEM e PPS ficam cada vez mais sem perspectiva de poder e com um futuro desolador.
Há várias formas de fazer política. Montar coalizões é uma necessidade inescapável. Num país com 29 partidos, quem não se alia fica com chance reduzida de vitória em disputas locais ou nacionais.
Lula já desfrutava da mais ampla aliança partidária quando ocupou o Palácio do Planalto nos seus últimos anos de poder. Agora, a presidente Dilma Rousseff ampliou o escopo de influência do PT.
Na Câmara, há hoje 23 partidos representados. A rigor, só quatro são, de fato, oposição orgânica ao Planalto: PSDB, DEM, PPS e PSOL.
Egresso de siglas conservadoras e admirador do tucano José Serra, o prefeito de São Paulo seria o aliado natural do PSDB na eleição paulistana de outubro. Só que Kassab ficou emparedado pela incapacidade de seus parceiros mais óbvios se decidirem sobre qual rumo seguir.
Ainda falta muito tempo até a eleição, neste ano em 7 de outubro. Reviravoltas podem ocorrer. Mas, a ser mantida a tendência atual, com o PT conquistando a Prefeitura de São Paulo bancado por uma aliança de amplo espectro, a oposição enfrentará uma agudização de sua crise atual -por ser incapaz de sair do seu estado de catatonia.
As eleições municipais não determinarão o que acontecerá em 2014, nas escolhas de governadores e do presidente da República. Mas são um termômetro do que virá por aí. Sobretudo para a oposição, cada vez mais depauperada e sem norte.

GOSTOSA


Carnaval! Saiu o corno elétrico! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 15/02/12

São João fora de época na Grécia! A Grécia foi pedir ajuda a Zeus. E ele mandou pro raio que os parta

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Olha o e-mail que recebi de um amigo nordestino: "O Carnaval tá quase acabando e você não veio!". E olha o e-mail que recebi de um curitibano: "Zé Simão, venha! O Carnaval de Curitiba não cansa".
E aquele bloco de Belo Horizonte: Mamãe, Virei Bicha!. Aquele que espera o Carnaval pra contar. A mãe na varanda, e ele grita do meio da multidão: "Mamãe,virei bicha!". E a mãe: "Desde o carnaval passado!". Rarará.
E atenção! Direto do País da Piada Pronta: "Adriano treina bem e pode voltar no sábado de Carnaval". Sábado de Carnaval? Só se for voltar pra farra! Rarará!
O cara passa o ano inteiro na farra e quer voltar a jogar no sábado de Carnaval? Só se for de Rei Momo! Rarará! E essa outra: "Funcionária demitida por engordar 20 quilos pede indenização". E ela era o quê? Orientadora do Vigilantes do Peso! Rarará!
Ueba! O Carnaval tá chegando. E a Grécia queimando! Churrasco grego: "Em dia de revolta, Atenas tem 50 prédios queimados". Isso que é churrasco grego.
Eu acho que tá tendo São João fora de época na Grécia! E diz que a Grécia foi pedir ajuda a Zeus. E ele mandou pro raio que os parta.
E eu sei como resolver essa crise grega: todos os países pagam aquele monte de relíquias que eles roubaram -aquelas estátuas sem nariz e pingolim pequeno!
E a professora perguntou: "Onde fica a Grécia?". E o aluno: "Na Pindaíba". Rarará. Grécia, capital Pindaíba! E Atenas virou Apenas. E o euro é um erro. Ops, um EURRO!
E a clássica pergunta de todos anos: "Onde você vai passar o Carnaval?". E a clássica resposta: "Em Curitiba e com a namorada menstruada". E um outro disse que vai passar no retiro: retiro e ponho, retiro e ponho e retiro e ponho. Ou então num retiro espiritual: deixa o espírito num retiro e leva o corpo pro litoral.
E um outro disse que vai passar o Carnaval tipicamente paulista: no Guarujá com a patroa, a sogra e o papagaio vendo desfile pela televisão, e os filhos jogando bexiga cheia de água pela sacada do apartamento! Rarará!
E já saiu o corno elétrico: atrás da sua mulher só não vai quem já morreu! Essa é velha. É velha, mas é minha! Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
É mole? É mole, mas sobe!

Guizo no gato - MERVAL PEREIRA


O GLOBO - 15/02/12
Tudo se encaminha para uma decisão partidária, o que não tem sido muito comum no PSDB. Se, como indicam certos movimentos dos últimos 15 dias, for confirmada a decisão do ex-governador José Serra de disputar a eleição para prefeito de São Paulo, os tucanos estarão próximos de uma unidade que poderá facilitar o projeto nacional de voltar à Presidência da República.

Pelo menos terão as condições políticas de estabilidade para preparar campanha com mais chances de ganhar do que as três últimas, em que o partido sempre começou dividido e não conseguiu confirmar a hegemonia que tem em dois dos maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas.

Se Serra se convencer de que seu sonho de disputar pela terceira vez a Presidência da República não passa disso, e cair na realidade, ele terá uma disputa difícil, mas viável, para encerrar sua carreira como prefeito da maior cidade do país, administrando o terceiro maior orçamento.

Será naturalmente parte importante do cenário político nacional, em qualquer situação, seja o próximo presidente tucano ou petista. Caso fique de fora, tentando ainda impor seu nome a um partido que já se definiu pela busca de alternativa nova representada pelo senador mineiro Aécio Neves, correrá o risco de se frustrar ou de, se sair vencedor de uma disputa sangrenta, não ter mais uma vez o partido a seu lado, inviabilizando uma eventual vitória.

Serra, oficialmente, continua dizendo que não mudou seu ponto de vista e que as notícias que surgem sobre uma mudança de pensamento são pressões, inclusive do governador Geraldo Alckmin, para que realmente mude.

O PSDB disputou e perdeu as três últimas eleições para o PT, mas teve votação ascendente. A média de votos nacional do partido está em torno de 40%, com qualquer candidato, seja Serra ou Alckmin, o que é uma base respeitável.

O que é preciso fazer é armar a aliança mais ampla possível, e o perfil adequado para tal missão parece ser o de Aécio Neves, que vem se dedicando a fortalecer os laços que mantém com partidos e políticos hoje na base do governo mas que se incomodam com a subordinação ao PT.

O que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez ao dizer abertamente em entrevista à revista britânica "The Economist" que a candidatura óbvia era a de Aécio foi "colocar o guizo no gato".

A liderança de Fernando Henrique no PSDB não é como a de Lula no PT, é menos impositiva e surte efeito mais pela razão do que pela emoção. Lula no PT faz o que quer, como quando impôs a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência ou, agora, quando escolheu o ex-ministro Fernando Haddad para ser o candidato do partido à prefeitura paulistana.

Um "dedaço" de Lula surte efeito no partido e é uma vantagem político-eleitoral grande ter uma figura que se impõe tão claramente sem criar dissidências.

Como Lula é um político sensível, experiente e, sobretudo, pragmático, que prefere ganhar com um estranho a perder com um amigo, ele está sempre à frente dos demais "companheiros", que têm grupos e facções.

Lula é ele e seus interesses, e por isso é capaz de considerar válida uma aliança com o PSD de Kassab, apenas para prejudicar a unidade do PSDB, mas, acima de tudo, para poder usar a máquina da prefeitura em benefício de seu candidato, contra a máquina do governo do estado.

Já FH é líder mais cerebral, que indica os caminhos sem impô-los, mesmo porque a estrutura partidária tucana não é verticalizada. Todos os grandes nomes têm mais ou menos a mesma capacidade de influir nas decisões.

Foi assim que o governador Alckmin se impôs como candidato a presidente em 2006, usando a força de seu prestígio pessoal e do cargo que ocupava, embora Serra diga que não foi candidato então porque não quis.

E é assim que o próprio Serra vai alimentando a esperança de que pode vir a ser novamente candidato a presidente, usando o que resta de seu prestígio político para se manter na disputa, pelo menos teoricamente, embora esteja claro que o partido todo está inclinado a apoiar uma candidatura que dê ares renovados ao partido. Mesmo que essa "renovação" seja apenas aparente, pois não há maneira mais antiga de fazer política (e, ele acredita, mais eficiente) do que a feita por Aécio. Serra prefere bastidores e cochichos ao pé do ouvido na política, deixando os holofotes para sua vida pessoal, postura que terá de mudar para consolidar sua candidatura. O fato de estar sem cargo político, e sem expectativa de poder, tira também de Serra sua capacidade de influir no partido.

Mesmo dizendo que não se candidataria à prefeitura, Serra sempre deixou porta aberta justamente para alimentar essa expectativa de poder, mas dentro do partido hoje ela tem horizonte limitado: Prefeitura de São Paulo, e não a Presidência.

Reassumindo os contatos para uma futura candidatura, Serra volta a ser peão importante para a estratégia tucana em São Paulo e no país, e ganhará força para influir em uma campanha presidencial. FH, ao pôr "o guizo no gato", fez bem ao PSDB, e ao próprio Serra, obrigando-o a lidar melhor com a realidade que o cerca. Embora tenha ficado agastado, Serra deve ter passado a medir melhor suas reais possibilidades a partir daquela avaliação sincera e só aparentemente extemporânea.

Ele agora tem a chance de se reconciliar com o partido, alinhando-se em um projeto que não é apenas pessoal.

Serra diz abertamente que prefere o Executivo ao Legislativo. Se insistir em permanecer à espera de mudança do quadro político que o favoreça a longo prazo, pode ficar exposto a ter que terminar a vida pública como senador, na hipótese não tão certa assim de ser eleito em 2014. Entre as duas opções, a perspectiva de uma eleição para a prefeitura, mesmo difícil, é bem mais atraente para um tipo de político como Serra.

A maior dificuldade para essa decisão deve ser o perigo de não ter a confiança do eleitorado paulistano, ressabiado com o uso da prefeitura como trampolim político. Serra terá de convencer seu eleitorado de que sua opção pela prefeitura é definitiva, e nada melhor para isso do que, ao anunciar sua candidatura, anunciar também o apoio à de Aécio Neves à Presidência.

Pode ser que Serra faça a primeira parte. Mas a outra é mais difícil, quase impossível.

O que seu mestre mandar - ROSÂNGELA BITTAR


Valor Econômico - 15/02/12


O PT tem, hoje, uma só ideologia, uma só direção e uma só concepção política: é o que Lula mandar. O ex-presidente é o senhor do voto, da força de arrecadação, da linguagem e do discurso das campanhas e das vitórias. Portanto, ele manda e o PT obedece. Mesmo que às vezes um ou outra reajam a imposições que os prejudicam. Depois de um tempo, dedicado a convencê-lo do contrário, encaminham-se dóceis para a aceitação.

Retrato esse que, apesar da grande nitidez no momento, não impede que cabeças mais preparadas e dadas à formulação política, no PT, continuem raciocinando com autonomia. O que lhes permite ver risco no exagero e acreditar que se torna imprescindível uma reação mais efetiva por parte de políticos petistas que porventura contem com o respeito do ex-presidente. Esses amigos tentariam convencê-lo a não radicalizar tanto o pragmatismo que, na avaliação de Lula, foi o que passou a dar vitórias eleitorais sucessivas a ele e ao partido.

A política de alianças é o cerne dessa questão, nem está mais na berlinda, chegou ao PT para ficar e os demais partidos, inclusive adversários, que a praticavam antes de Lula, tentam retomar o modelo para reconquistar o horizonte da vitória.

Pragmatismo radical implica riscos

O que preocupa boa parte do PT, no momento, mesmo aprovando as alianças e precisando de Lula mais que tudo, é o óbvio: a formação de aliança com o PSD de Gilberto Kassab para melhorar as condições eleitorais do candidato Fernando Haddad em São Paulo.

Lula decidiu que o melhor para o PT seria embarcar em um amplo processo de renovação de imagem das candidaturas petistas, rifando os desgastados e jogando biografias zeradas à arena. Seu projeto-piloto foi, em gesto ousado que lhe é peculiar, a presidência da República, e deu certo, com Dilma Rousseff. Decidiu então promover nomes menos batidos em todo o Brasil, a começar por São Paulo, em um plano de tomar as rédeas da política estadual e municipal, há anos em mãos do PSDB. Mas o plano só funcionaria imobilizando adversários possíveis já no primeiro turno.

Ofereceu Haddad às eleições municipais e tem no forno o projeto estadual, com o prefeito Luiz Marinho. Aluizio Mercadante, natural candidato a comandar o governo paulista, não sofreu rasteira como a aplicada a Marta Suplicy, ainda, e foi engajado oficialmente no projeto de eleição do prefeito petista recebendo o instrumento fabuloso do Ministério da Educação, de onde saiu o candidato a prefeito e seu portfólio de campanha, que não pode ser conspurcado por um sucessor mais distraído.

Marta Suplicy esperneou contra a invenção de Lula, vende caro seu apoio ao candidato, e agora manifesta-se refratária às negociações entre o PT e o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, para a composição da chapa que disputará a prefeitura. Ou seja, não engoliu o projeto Lula em nenhum de seus aspectos, mas sabe que o partido precisa dele e se ainda não se rendeu integralmente é porque ainda tem tempo.

Não é só dela, ou de seu agora reduzido grupo, porém, que partem os alertas sobre o mal que o comportamento do ex-presidente pode fazer ao partido, a médio prazo. "Lula está abusando do seu prestígio. Metade do PT já acha que, em vez de solução, Lula está criando problemas desnecessários". É que o ex-presidente, autosuficiente, namora o risco.

Pelo menos três fatos consolidaram em Lula o sentimento da onipotência. Ter vencido a reeleição em plena crise do mensalão foi o primeiro deles; a vitória com Dilma, que nunca havia disputado uma eleição, foi outro feito que o maravilhou; e o terceiro foi ter saído do governo com cem porcento de aprovação popular. "Ele fala o que quer e o PT faz o que ele quer".

O exagero, ou transposição de uma linha imaginária de limite, teria sido, primeiro, a escolha de Haddad, que o PT não reconhece como sendo do ramo. Mas aceitou como havia acatado a decisão da escolha de Dilma. Agora, a corda da política de alianças esticou-se ao máximo com o convite à união com Gilberto Kassab.

O risco do método Lula, da ocasião, tem um nome, Afif Domingos. Para os protagonistas dessas reflexões no interior do PT, o partido está de dedos cruzados: "Deus queira que o candidato seja o Henrique Meirelles, porque o PT poderá ter um discurso. O Meirelles não é do PT mas trabalhou oito anos no governo Lula e foi muito bem. E se o PSD indicar o Afif? Vai ser uma tragédia".

Na hipótese de formalização dessa aliança o PSD indicaria o vice do PT, e o partido perderia todo o combativo discurso de campanha contra a administração da cidade, de que tanto Marta quanto Mercadante já usaram e abusaram em suas campanhas.

A tarefa principal do PT agora é direcionar as conversas, pressionar, levar o ex-presidente a abraçar a causa Meirelles. O PT não aceitará Afif ou qualquer outro nome identificado mais com o PSDB. Pelo menos até o momento em que Lula empurrar goela abaixo do partido aquilo que preferir. É ele quem segue mandando.

Não por acaso foi o político hoje mais próximo do ex-presidente, o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), que serviu de porta-voz autorizado de Lula na reunião de aniversário de 32 anos do PT, em Brasília. Marinho considerou "muito positiva" uma eventual composição PT-PSD na disputa pela sucessão municipal em São Paulo.

Ouvidos moucos à divergência, Marinho carimbou o projeto: "Creio que o prefeito Kassab pode colaborar muito para o resultado eleitoral". E sacou da justificativa para a aliança dos até ontem contrários com a cara de pau com que o partido abordou as suas privatizações: "A oposição feita pelo PT à gestão do prefeito paulistano Gilberto Kassab se deu enquanto ele mantinha ligações com o PSDB. Agora, o convencimento da militância sobre a necessidade dessa aproximação se dará por meio de "discussões" fortalecidas por um "alinhamento de propostas" para a cidade".

MARIA, MARIA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 15/02/12


Milton Nascimento e Maria Gadú trocam saudações durante gravação de nova campanha da Nextel, protagonizada pela cantora; o filme foi feito na antiga Estação Leopoldina, no Rio, no sábado passado

NOTA MUSICAL
O maestro João Carlos Martins se submeterá a uma cirurgia no cérebro em março. Será uma tentativa de reverter o problema que, paulatinamente, tira o movimento de suas mãos.

NOTA 2
Antes disso, Martins desfila pela escola de samba Grande Rio, na segunda-feira. Ele será homenageado por uma ala que vai falar de superação. Em vez de sair no carro alegórico, o maestro pediu para tocar prato no meio da bateria.

CHEQUE CAUÇÃO
A médica Oacy de Mello Allende Toledo, 63, conseguiu na Justiça liminar obrigando o hospital Albert Einstein, em SP, a lhe devolver um cheque caução no valor de R$ 25 mil por conta de uma internação de emergência, há 20 dias. Ela se trata de um câncer de mama e tem metástase óssea. "O hospital só liberou a entrada dela mediante o pagamento. Isso é ilegal de acordo com a Lei 14.471, de junho de 2011", diz o advogado Frederico Mello Allende, filho de Oacy.

CHEQUE CAUÇÃO 2
A lei, de autoria do deputado Fernando Capez (PSDB-SP), proíbe "a exigência de caução de qualquer natureza" para internação de emergência. E obriga os estabelecimentos a devolverem o valor, em dobro, ao consumidor. O Einstein diz que obedece à lei. "Em atendimentos particulares eletivos, como o da paciente Oacy Toledo, é requerido pagamento parcial antecipado."

QUESTÃO DE FÉ
O vereador Antonio Carlos Rodrigues, líder do PR paulistano, põe panos quentes na ameaça do senador Magno Malta (PR-ES), de seu partido, de mobilizar os evangélicos para derrotar Fernando Haddad em SP. A legenda negocia apoio ao pré-candidato do PT, criticado por Malta pelos kits anti-homofobia. "No PR, cada Estado tem uma diretriz, não fechamos de baixo para cima."

AVENIDA JOSÉ SERRA
Aflitos com a indecisão de José Serra de disputar ou não a prefeitura, tucanos enviaram mensagens para ele no Facebook. Numa delas, a produtora Lulu Librandi argumentou: se for bom prefeito, Serra pode ainda virar nome de avenida, como ocorreu com Faria Lima e Prestes Maia. "Para nossos netos e bisnetos curtirem", diz ela.

EM CASA
Flora Gil não fará seu tradicional almoço de sábado de Carnaval neste ano. Gilberto Gil passará o dia em SP, onde desfilará pela escola Águia de Ouro.

Ela organizará recepção só para a família em seu apartamento em Salvador.

NEGRA LOIRA
Emanoel Araujo está preparando uma exposição "com tudo que se tem direito" sobre Marilyn Monroe no Museu Afro Brasil. É que o curador notou, em viagem recente, que "até na África" as mulheres estão loiras. "A peruca tomou conta do mundo!" A mostra, que abre em junho, marca os 50 anos de morte da atriz.

COLÍRIO
O modelo americano Sean O'Pry, número um do ranking do site Models.com, estrela a nova campanha da marca brasileira Sergio K. As fotos foram clicadas no hotel Waldorf Astoria, em NY.

BARBÁRIE
De Delfim Netto para Alexandre Machado, em entrevista que vai ao ar hoje na Cultura FM: "Com a desmontagem do euro, você teria de volta, em 17 países [da Europa], o crescimento de um ódio entre eles. Porque todos creem que a Alemanha é que está produzindo isto. Vai acabar com as democracias. Em cada país vai aparecer um pequeno Napoleão dizendo: 'Deixa comigo que eu resolvo'. Você vai restabelecer a barbárie na Europa".

CAMINHO DAS ÍNDIAS
O cônsul-geral da Índia, G. V. Srinivas, e a mulher, Neelam, foram à abertura da exposição "Índia!", que tem curadoria de Pieter Tjabbes. Maria Lúcia Segall, do conselho deliberativo do Masp, e Yael Steiner, do Centro da Cultura Judaica, circularam pelo CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).

FESTA DA ÁGUA
O músico Wilson Simoninha comandou a banda do bloco Acadêmicos do Baixo Augusta, que desfilou debaixo de chuva, em São Paulo. A atriz Leandra Leal, o empresário e presidente do bloco, Alexandre Youssef, e a cantora Pitty participaram da folia.

CURTO-CIRCUITO

A estilista Paula Raia faz hoje pré-lançamento de sua coleção de inverno.

O promotor Francisco Cembranelli recebeu da Câmara Municipal o título de cidadão paulistano.

Luiz Kignel lança o livro "A Morte Tudo Resolve" no dia 20 de março, às 19h, na Livraria da Vila do shopping Higienópolis.

A DJ Cris Proença toca hoje na festa Lure You, no Josephine SP. 18 anos.

O Zimbo Trio se apresenta nos dias 25 e 26, com participação de Nailor Proveta, no Sesc Vila Mariana. Classificação: 12 anos.

O clube Glória promove amanhã a festa Black Tape. Classificação: 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY