quarta-feira, julho 11, 2012

Piquete contra a democracia - PAULO SILVA PINTO


CORREIO BRAZILIENSE - 11/07

Não foi fácil apear do poder os usurpadores que ali se instalaram durante o regime militar no Brasil. De acordo com as estatísticas oficiais, tombaram nesse caminho 457 pessoas. Elas são reconhecidas hoje como assassinadas ou desaparecidas. Outras, aproximadamente 120, foram vítimas de ações de militantes de esquerda. Alguns dos mortos eram agentes do Estado, mas nem todos ligados à repressão. Outros eram simplesmente pessoas que tiveram o azar de estar andando pelo lugar errado, na hora errada.

Os atos ilegítimos de uma parte da esquerda não maculam os esforços contra a repressão. Ao contrário. Ajudam a dar a dimensão do quanto foi difícil a empreitada dos que se empenharam a democratizar o Brasil, por meio de ações grandes ou pequenas. Além de atuar contra o autoritarismo, tiveram de lidar com as contradições da minoria que via nos fins justificava para quaisquer meios.

Não se pode dizer que a tarefa de transformar o Brasil em uma democracia já tenha se consolidado. Falta a muitos brasileiros acesso à saúde, à segurança, à educação e à informação. Como consequência, sobra corrupção. Não é possível se contentar com o que temos.

A tarefa de desmantelar o regime militar tampouco se completou. Ainda é necessário conhecer muitos dos fatos da época, um trabalho difícil tanto pelo tempo transcorrido quanto pelos obstáculos criados por pessoas que temem a verdade.

Só no fim do ano passado, 25 anos depois de o último presidente militar deixar o Planalto, foi aprovada a Lei de Acesso à Informação. E ainda demorou muito para que ela fosse colocada em prática: só no mês passado foi possível cobrar do Estado o acesso a documentos em sua posse.

Desde então, jornalistas do Correio e de outros órgãos de imprensa têm esquadrinhado tudo o que pode ser de interesse dos cidadãos sob o pó nas prateleiras. Grande parte das informações que ganham a luz do dia refere-se aos atos arbitrários cometidos durante o regime militar.

Eis que, depois de tanto esforço, surge um novo obstáculo. Servidores públicos em greve têm impedido sistematicamente o acesso ao Arquivo Nacional, no Setor de Indústria Gráfica, onde está um dos maiores mananciais de papéis das duas décadas do regime. Os piqueteiros cobram dos jornalistas que pressionem o governo para que tenham aumento de salário.

É uma imensa ironia. Graças ao esforço para democratizar o país, que resultou, entre outras conquistas, na garantia ao direito de greve, os servidores podem protestar para que suas reivindicações sejam atendidas. Mas ao fazer isso de forma irresponsável, estão minando o direito de outros brasileiros à informação.

O bloqueio atrapalha o processo de reconciliação do país com o passado. E não é o único obstáculo que cria à consolidação da democracia. Afinal, os documentos do Arquivo Nacional vão muito além da era autoritária. A Lei da Transparência é instrumento fundamental para identificar falcatruas de pessoas que ainda podem responder por seus atos.

Uma das críticas que se faz às greves é o fato de esconderem intenções políticas. Pois aqui, o que se vê é exatamente o contrário: a falta de compreensão das consequências políticas envolvida no bloqueio do acesso de jornalistas ao Arquivo Nacional. O conceito de alienação, explorado por muitos teóricos marxistas, ajuda a compreender tal equívoco.

A ideia de que jornalistas devem pressionar o governo para aumentar salários de servidores revela outra grande lacuna de conhecimento sobre a função institucional da imprensa. O que cabe a ela é mostrar os fatos que importam. Por exemplo, como se fez na edição de segunda do Correio, ao mostrar a disparidade de vencimento entre servidores públicos do Executivo federal. A reportagem pode ajudar a briga dos funcionários do Arquivo Nacional, ainda que não tenha esse propósito.

Há que se fazer um esforço, porém, para compreender a falta de comprensão dos piqueteiros. Afinal, a geração deles foi sacrificada pela má qualidade da educação. É um dos legados do regime militar.

Nova tentação nacionalista - EDITORIAL O ESTADÃO


O Estado de S.Paulo - 11/07


Se, efetivamente, estender para todo o setor de energia elétrica a política de conteúdo local em vigor para a indústria do petróleo - medida já em discussão no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) -, o governo premiará mais um segmento específico da indústria nacional, como tem feito com outras medidas de estímulo à atividade econômica. É muito pouco provável, contudo, que com essa medida beneficie o País. A possibilidade de se exigir dos fornecedores de equipamentos para as áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica um índice mínimo de componentes nacionais, repetindo o que já se faz no setor de petróleo, pode criar uma reserva de mercado para determinadas empresas instaladas no País, com todas as consequências negativas inevitáveis nesse tipo de prática.

O governo argumenta que a extensão para o setor elétrico da política de conteúdo local permitirá combater o aumento das importações, dotar a indústria nacional de maior competitividade e dar mais segurança e confiabilidade ao sistema - além de aumentar o emprego. São, basicamente, os mesmos argumentos de que lançou mão para justificar essa política para o setor de petróleo.

Segundo o governo, é cada vez maior a presença de fornecedores estrangeiros em obras de infraestrutura, em particular em projetos de exploração de recursos naturais. Primeiro vieram os europeus, depois os chineses. É crescente, segundo o Ministério de Minas e Energia, a participação de equipamentos importados e também da mão de obra estrangeira na execução e operação dos projetos nessa área. Como mostrou reportagem do Estado, o documento em estudo pelo CNPE lembra que problemas como esses no setor do petróleo foram enfrentados com a adoção da política de conteúdo local.

Ao estudar meios de ampliar essa política nacionalista, o governo Dilma dá continuidade a mais um dos muitos equívocos de seu antecessor. A contratação, no Brasil, de equipamentos para a indústria do petróleo foi uma importante bandeira eleitoral do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. Ela tinha o poder de encantar uma parte do empresariado, aquela que seria diretamente beneficiada pelo aumento das encomendas, outros que ganhariam com a dinamização da atividade em sua área e os trabalhadores, pois representaria mais empregos para eles.

A realidade, porém, tem sido muito diferente do cenário prometido pelo governo na defesa dessa política. A falta de capacidade de produção da indústria nacional para atender a encomendas de grande porte, como são comuns no setor de petróleo, vem retardando projetos da Petrobrás.

Mesmo que a indústria nacional esteja preparada para atender aos pedidos volumosos nas áreas de petróleo e de energia elétrica, há outros riscos decorrentes da exigência de conteúdo nacional. A existência de um mercado cativo para o produtor local desestimula a busca da eficiência e abre espaço para a prática de preços incompatíveis com o mercado internacional. O resultado pode ser produto de qualidade inferior ao de similares disponíveis no mercado externo, mais caros e entregues fora do prazo contratual.

Não se contesta a intenção do governo de estimular e incentivar a produção local. Trata-se de discutir os limites a incentivos desse tipo. Se exagerados ou muito seletivos - como são muitos dos concedidos pelo governo Dilma a pretexto de reduzir os impactos da crise mundial sobre a economia brasileira -, resultam em perdas para os demais setores e para os contribuintes e consumidores em geral, ao aumentar custos.

No exame dessa questão - que deve levar em conta a capacidade da indústria local e os compromissos assumidos pelo Brasil na OMC, entre outros fatores, como se anuncia que será feito -, o CNPE não pode deixar de observar os objetivos para os quais foi criado, como órgão de assessoramento do presidente da República. Entre eles está a proteção dos interesses do consumidor quanto a preço, qualidade e oferta dos produtos e a promoção da livre concorrência. A exigência de conteúdo nacional pode resultar no oposto desses objetivos.

A gostosa do câmera - ANTONIO PRATA

FOLHA DE SP - 11/07


Por alguns segundos, todos se esquecem do jogo, do time, e se concentram na brejeira musa dominical


DEMORA UNS 15, 20 minutos até ela aparecer. Esse é o tempo, imagino, gasto na minuciosa pesquisa: sempre que a bola sai pela lateral, que um jogador cava uma falta, enquanto o goleiro toma distância para bater o tiro de meta, ele vasculha a arquibancada, um olho no campo e outro no zoom, a procurá-la. Talvez fique em dúvida entre a loira de top na numerada, a morena de piercing junto ao alambrado, a ruiva girando o rabão de cavalo no tobogã. Lá pelo meio da primeira etapa, contudo, já chegou a um veredicto, e, quando o jogo é interrompido por alguma razão e o comentarista, num raro momento de iluminação, emudece, eis que surge, pinçada do meio da massa amorfa e catapultada para as televisões do Brasil: a gostosa do câmera.

Por alguns segundos, todos se esquecem do jogo, do time, da tabela e se concentram na brejeira musa dominical, que, ignorando 80 milhões de olhos, segue enrolando uma mexa de cabelo, cantando "Timão, ê, ô!", roendo a unha do dedinho. Em algum lar, uma mãe estará gritando: "É a Kelly! Nestor, é a Kelly!". Perto dali, talvez, um garoto endireite-se na cadeira de latão: "Aí, Rodriguêra, não é aquela tua prima gostosa?!", e Rodriguêra, surpreso, forçando a vista: "Cara, só é!". Aqui em casa, toda vez que a moça invade a TV, há também um movimento: "Aí está ela!", penso, e sorrio satisfeito.

Se digo "a moça" é porque, entra ano, sai ano, o biótipo da eleita não muda -e a constância de seus traços, ou, mais precisamente, de seus contornos, talvez seja a primeira razão da minha felicidade. Mudam os jogadores, os presidentes, a temperatura global, as alianças dos políticos e o sabor dos sorvetes, mas a gostosa do câmera continua igual: fornida, cabelos longos, unhas pintadas. Vá lá: vulgar, no sentido mais puro da palavra, o que pertence ao vulgo, ao povo, pois é isso que ela é, o paradigma da beleza nacional.

Se a primeira razão da minha alegria é a permanência dos contornos, a segunda é o contorno, em si; essa desbragada voluptuosidade. Pois mesmo com o poderoso lobby da anorexia e seu ossudo ideal de beleza, que bombardeia as meninas desde o berço, a libido brasileira ainda se move em direção à fartura. A natureza, que via nas curvas a reserva de alimento necessária para nutrir os descendentes em épocas de escassez, ainda vence o marketing, com suas mulheres desnatadas. O mundo caminha para uma triste assepsia, um raquitismo carnal e anímico, mas sangue corre nas veias daquela garota, há ali vida e vontade de potência.

Por último, mas não menos importante, me empolgo com a gostosa do câmera simplesmente porque ela é do câmera. Num espetáculo que movimenta milhões de reais, em que há gigantes da propaganda disputando cada segundo e cada centímetro do estádio, este soldado raso do exército televisivo, com um desejo na cabeça e uma câmera nas mãos, é quem elege a Miss Arquibancada, que, por três segundos, provocará milhões de brasileiros.

Ao ver aquela moça ali, saltitando, anacrônica e contente, semana após semana, acredito que nem tudo está dominado. "No pasarán!", penso, enquanto ela passa em minha TV -e me alegro pela existência do futebol e seus contornos.

Calendário da reeleição é março - ROSÂNGELA BITTAR

VALOR ECONÔMICO - 11/07


Diz-se logo, no governo, que não será uma reforma ministerial, tal o vazio conceitual da dita providência. Tão desmoralizada está que com ela ninguém quer se identificar. Mas vai haver mudança, sim, de condutores do governo Dilma, com a mesma filosofia de sempre: repor peças desgastadas pelo tempo, aquelas que chegaram com defeito de fabricação e nunca foram devolvidas, recuperar capacidade de iniciativa e recompor a aliança. Os fatos políticos mais próximos dessa mexida ocorrerão entre o resultado das eleições municipais, em outubro deste ano, e o resultado das eleições para presidente da Câmara e do Senado, em fevereiro do ano que vem. Depois disso, pensamentos e ações se voltarão para o projeto da reeleição da presidente Dilma Rousseff. É o calendário.
O PSD terá ministério, vai participar do governo Dilma depois das eleições municipais. Pode ser imediatamente após, pode ser em janeiro, quando Gilberto Kassab deixar o cargo de prefeito de São Paulo e passar a exercer a presidência do partido integralmente. A partir daí há uma sucessão de indefinições: o cargo pode ser para ele mesmo, ou pode ser para um outro nome do partido, por ele indicado, se até lá sobreviverem lideranças fortes aos métodos atordoantes do prefeito.
Em outra hipótese, a assunção do kassabismo ao governo Dilma pode também ficar para depois da eleição dos novos presidentes da Câmara e do Senado, próximo embate político após as municipais, no qual o partido de GK terá um peso extraordinário.

Dilma dará ministério a Kassab ou a quem ele indicar
O PSD, sob Kassab, está e ficará aliado a Dilma Rousseff, por isso fez o que ela determinou (por iniciativa própria ou movida pelo antecessor Lula, não importa) no caso em que promoveu o racha da aliança PT-PSB em Belo Horizonte, resultando em duas chapas de aliados nas eleições municipais da cidade e escanteando, a um só tempo, dois presidenciáveis candidatos a concorrer com o PT em 2014 e 2018. São eles Eduardo Campos (PSB), um aliado, e Aécio Neves (PSDB), um adversário.
Tudo feito passando por cima da palavra empenhada e assinatura do vice-presidente do partido, o mineiro de raiz Roberto Brant, numa interferência na política local que o próprio presidente do PSD impediu que ocorresse, de fora para dentro, no caso da sua cidade, São Paulo.
Ali, o partido, que já vinha se aproximando de Dilma, foi conduzido para a aliança com o candidato oposicionista José Serra (PSDB), apesar de muitos, agora atingidos no seu acerto regional, terem defendido o contrário e aceitado a cor local. O argumento que serviu a São Paulo foi anulado em Belo Horizonte, incoerência que não causa a Kassab, como se vê, a menor espécie.
Por sinal, já prevendo a heterodoxia de suas articulações, o próprio presidente do PSD avisara ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff que em São Paulo ficaria com o PSDB mas no resto do país, tudo bem, seria o que quisessem.
O PSD pode até estar de olho em Eduardo Campos, mas para 2018; pode até estar associado a José Serra, mas em 2012. A moeda de troca kassabista nas municipais é para aqui e agora. O prefeito paga a conta do reconhecimento, no TSE, do tempo de televisão e o direito do PSD ao fundo financeiro partidário. E enquanto quita seu débito de hoje, vai aumentando o cacife para o futuro.
Há outras alterações no horizonte. Há seis meses que Brasília está tomada pelas notícias, originadas em diferentes ambientes, de insatisfação da presidente Dilma com o desempenho do ministro Antonio Patriota, das Relações Exteriores. Bem difuso o seu dissabor, vez que a política externa, como qualquer outra, é de autoria da própria presidente. Faz-se o que ela manda. Contudo, circulam informações abertas, cifradas ou criptografadas, de que ela não gosta da falta de musculatura do ministro, do jeito tímido, do academicismo do chanceler. Dilma queria mais animação, mais visão política e um pouco de agressividade, alguém que pegue as ideias que lança, sobretudo nos fóruns internacionais, e as multiplique. O exemplo muito citado foi o do "tsunami monetário", que Dilma lançou no exterior, considerou a metáfora um achado e esperava que o chanceler o explorasse mundo afora.
Já houve fase de negativa peremptória da queda do ministro Patriota, outras semanas em que apenas a ausência de um substituto o mantinha no cargo. Dizia-se também que Dilma não desejava a volta do ex-chanceler Celso Amorim, à disposição no Ministério da Defesa, porque também não concordava com a espalhafatosa gestão. Ela ouvia Marco Aurélio Garcia. Agora, porém, liberou geral, ela tem conversado muito até com Amorim, como informou Raymundo Costa ontem, neste espaço.
O ministério da Cultura sofre do mesmíssimo mal, é muito falada a insatisfação com o desempenho da ministra Ana de Holanda. Nesse caso há um pouco mais de precisão: a avaliação é que a ministra não faz uma gestão à altura do Brasil, da cultura brasileira. Acredita-se, por exemplo, que um país com esta importância não pode ter sua uma política cultural se sobrassaindo pelo que faz em direitos autorais. Uma pobreza.
Ninguém disse à irmã de Chico Buarque, porém, o que se pretende dela nessa área. Mas já se disse que é ela quem deveria dizer à presidente o que fazer. Nesses setores que vão dando errado não se fala na Dilma controladora e forte, incisiva e determinante. Pode estar chegando ao fim o constrangimento em demiti-la, até porque o intenso lobby armado contra ela por seus antecessores recolheu-se diante do efeito contrário que vinha provocando.
São três casos singulares, por enquanto: pôr o PSD no governo, dar gás às políticas externa e de cultura. Entrando na segunda metade do seu governo, após as eleições das Mesas da Câmara e do Senado, a presidente vai se atirar ao projeto de reeleição, esperando que até lá tenha funcionando o braço firme e pulso forte que vem exibindo no trato à crise na economia e à lentidão na gestão das obras, dois calcanhares que precisam se transformar em bandeiras eleitorais positivas.

Lições ao Senador - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 11/07


Precisar, não precisava, mas o caso dos catadores de papelão em São Paulo Rejaniel Santos e Sandra Domingues, que encontraram R$ 20 mil em sacos plásticos atrás de uma árvore próxima ao viaduto onde dormem e procuraram a polícia para devolver o dinheiro, faz um contraponto poderoso ao Senador Demóstenes Torres, que deve ser cassado hoje pelo Senado.
Não era preciso uma contraposição tão escandalosa, que coloca dois pobres trabalhadores na escala mais baixa da sociedade a dar lições de moral a um Senador da República, já que as gravações que incriminaram Demóstenes falam por si.
Mas, no Brasil, um gesto como esse ainda é tratado como fato anormal, dá primeira página de jornal, e periga os catadores honestos serem criticados pela "burrice" que fizeram. Parece o caso de uma amiga que, exilada nos anos 70 do século passado na Suécia, se espantou com a foto na primeira página de um jornal de um rato que aparecera na cidade. Fatos inusitados na pequena cidade sueca daquele tempo e hoje no Brasil.
Imediatamente, ambos entregaram o dinheiro à polícia. "A minha mãe me ensinou que não devo roubar", explicou candidamente Rejaniel Santos. "E que devia contar à polícia se visse alguém roubando."
Já o quase ex-Senador Demóstenes Torres encontrou uma maneira mais adequada a estes tempos de moral complacente para se explicar a seus colegas: disse da tribuna do Senado que mentir não é quebra de decoro.
Como um experiente promotor, Demóstenes Torres agarrou-se a duas estratégias na sua defesa. Do ponto de vista jurídico, alega que as gravações em que foi apanhado em flagrante não tinham autorização da Justiça, pois a Polícia Federal investigava o bicheiro Carlinhos Cachoeira e apanhou o Senador com a boca na botija de maneira indireta.
É possível que o advogado de Demóstenes, Antonio Carlos de Almeida Castro, o experiente Kakay, consiga anular no Supremo a legalidade das gravações, mas será impossível apagar da memória dos Senadores e, sobretudo, da opinião pública as conversas que ouviram.
No plano político, tentou em vão o apoio de seus pares para não ser julgado pela Comissão de Ética e foi condenado por unanimidade.
Um dos pontos levantados contra ele foi justamente o fato de ter mentido a seus pares, negando um relacionamento com o bicheiro que, ao final, ficou comprovado.
Nos últimos dias, Demóstenes Torres subiu à tribuna do Senado sete vezes seguidas, diante de um plenário praticamente vazio, para tentar a última defesa. Jogou sempre no aspecto emocional, tentando transformar-se em uma vítima do sistema político. Essa estratégia de vitimização, ele já tentara logo no início do processo, quando disse, a certa altura, "Eu não sou mais o Demóstenes". Na ocasião, ouvi o psicanalista Joel Birman, que viu na frase a revelação de uma personalidade psicologicamente quebrada, como se dissesse "Eu não sei mais quem é o Demóstenes".
Na sua defesa da tribuna, Demóstenes Torres continua confirmando que o personagem que ele criou para si próprio não era uma mentira, ele incorporou esse personagem e acreditava nele.
Podia acusar com veemência seus colegas Senadores apanhados em desvios, como o Senador Renan Calheiros, enquanto mantinha o relacionamento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira porque, como todo psicopata, não misturava as personalidades, analisou Birman. Ele vestiu uma máscara, e ela acabou se colando em seu corpo.
Outro que parece ter duas personalidades é o prefeito petista de Palmas, no Tocantins, Raul Filho, flagrado em uma conversa comprometedora com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, que tem o hábito de gravar seus encontros.
O prefeito, sentado naquele sofazinho do gabinete do bicheiro, foi abrindo propostas de parceria em seu futuro governo e não podia imaginar que, dentro do ar-condicionado, havia uma câmera filmadora.
Foi por isso que ele, num ato falho típico, disse que teve a "infelicidade" de ser gravado, em mais um comentário próprio dos tempos aéticos que vivemos na política.
O mais grave dessa sucessão de envolvimentos de políticos com o bicheiro é a constatação de que o crime organizado já estava tomando conta da política nacional.
Depois de ouvir os delegados da Polícia Federal que trabalharam na investigação, o Senador Pedro Taques, do PDT de Mato Grosso, disse que o bicheiro Carlinhos Cachoeira já estava no terceiro estágio do crime organizado, buscando negócios legais.
Oriundo do Ministério Público, assim como Demóstenes, o Senador Taques tem experiência de acompanhar esse tipo de ação criminosa e não estava fazendo um comentário leviano.
As investigações revelaram com uma profusão de detalhes as ligações de Cachoeira com praticamente todos os níveis de poder da República, sendo que tinha no bolso do colete pelo menos um Senador - Demóstenes Torres, ex-DEM de Goiás, que um dos delegados classificou como o braço político da organização - e dois deputados federais - Carlos Leréia, do PSDB, e Sandes Júnior, do PP, ambos de Goiás.
Além do Congresso, o bicheiro tinha influência importante sobre pelo menos dois governadores, o tucano Marconi Perillo (Goiás) e o petista Agnelo Queiroz (Brasília).
A atuação do mafioso não se limitava a Goiás, seu estado natal, ou ao Centro-Oeste, como quis fazer crer num primeiro momento o relator petista, tentando circunscrever as investigações ao interesse de setores de seu partido.
Seu império se espalhava por todo o país, e há ainda a se provar sua participação na empreiteira Delta, de quem parece ser um sócio oculto.
Mais do que o depoimento do dono da Delta, Fernando Cavendish, que acabou sendo convocado pela CPI, as investigações sobre as contas da empreiteira é que darão a real dimensão dos crimes praticados.
A cassação do Senador Demóstenes é apenas uma etapa dessa investigação. Isso se o Senado ainda se der ao respeito.

Entre a meritocracia e o aparelhamento - LUÍS RAUL WEBER ABRAMO e JOÃO CARLOS ALVES BARATA

FOLHA DE SP - 11/07


A população dá R$ 3,7 bi ao ano à USP, mas a falsa democracia interna pregada por militantes oportunistas só serviria a seus interesses sindicais e políticos

A universidade tem uma missão tríplice: educar as novas gerações, produzir conhecimento e promover sua ampla difusão. Essa é a matriz do sucesso social, científico, cultural e econômico de todas as sociedades que alcançaram alto grau de desenvolvimento.

As universidades que cumprem essa missão não são "gratuitas": somente em 2011 o Estado de São Paulo gastou mais de R$ 3,7 bilhões com a Universidade de São Paulo.

São os contribuintes de São Paulo que arcam com esses custos. Eles detêm o legítimo direito democrático de decidir como a USP e as demais universidades públicas estaduais devem ser dirigidas de modo a melhor servir-lhes.

Os pesquisadores da USP, que têm desempenhado um papel de enorme importância no desenvolvimento do Estado de São Paulo e do Brasil, defendem essa visão acadêmica da universidade pública e sua continuidade. Porém, a exemplo de outras maiorias silenciosas, eles são bem menos estridentes que certos grupos de oportunistas acadêmicos que, ornados de uma pseudointelectualidade a reboque da militância político-partidária, se arrogam o direito de representá-los.

Segundo essa militância, é a sociedade que deve servir aos seus interesses políticos e sindicais.
Assim, a universidade seria privatizada em favor de seus docentes, funcionários e alunos, que passariam a determinar "democraticamente" sua gestão, a despeito dos interesses maiores do país.

Essa visão néscia é popular entre entidades de autodesignados "representantes docentes", que há muito abdicaram de qualquer papel acadêmico, reduzindo-se à defesa de interesses sindicalistas, como questões salariais e trabalhistas, assim como às jogatinas das estruturas de poder.

O leitor não se iluda: as "eleições" desses representantes, assim como suas assembleias decisórias, reúnem uma parcela ínfima dos docentes.

Em particular, a ideia por eles difundida de que os "professores da USP" defendem a eleição "democrática" para reitor é uma farsa, por partir de entidades de representatividade questionável e por envolver uma distorção da noção de democracia.

Vale dizer, entretanto, que o atual processo de escolha do reitor da USP é talvez o segundo pior -só perdendo para a obtusa "eleição paritária" defendida pelos sindicalistas.
Como está hoje configurada, a eleição para reitor é uma sombra que recai sobre a USP, resultando, entre outras distorções, em um crescente aparelhamento dos órgãos acadêmicos, visando garantir votos para a eleição seguinte.

Como, então, proceder a essa escolha? As universidades de classe mundial resolveram há muito esse problema. Em quase todas o governo, a sociedade civil e as instituições que ajudam a financiá-las apontam os membros de um conselho, cuja missão é zelar pelo cumprimento de sua missão acadêmica.
Esse conselho escolhe, após rigoroso processo internacional de busca e seleção, o reitor da universidade. Trata-se de uma concepção oposta à de uma eleição direta, mas que garante a supremacia do profissionalismo e da eficiência em detrimento da politicagem.

O abismo entre uma universidade acadêmica e cientificamente forte, servidora da comunidade que lhe sustenta, e uma universidade corporativista e apegada aos sonhos de uma militância anacrônica tende a aumentar.

Nestes tempos, com exigências crescentes sobre as capacidades produtivas, de criação e de inovação das sociedades, as universidades públicas como a USP demandam reformas corajosas que venham ao encontro dos interesses da pesquisa e do ensino de qualidade.

A alternativa é seu sucateamento e o consequente empobrecimento geral do país.

Para Woody Allen, com amor - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 11/07


Tinham me dito que seu novo filme era meio bobinho, com piadas requentadas e que não acrescentava grande coisa à sua carreira. Querido cineasta, quem o julga com severidade o faz por amor também – admira tanto sua obra que não se contenta com menos do que um Match Point ou um Meia Noite em Paris –, porém ganharíamos mais se julgássemos você pelo seu estado de espírito, que tem sido transparente e inspirador. Espero não estar sendo pretensiosa, mas percebo que, depois de muitos anos procurando entender e diagnosticar as neuroses humanas – as suas, inclusive –, você deu o serviço como feito e agora está apenas se divertindo enquanto seu lobo não vem.

Não vejo maneira mais inteligente de envelhecer. Deixar de lado a obsessão por originalidade e dar seu recado com as ferramentas que domina é uma forma de se libertar, e a liberdade é um dom para poucos. Você sabe que um dos assuntos do seu novo filme, a de que as pessoas perderam a noção do ridículo ao valorizarem a vida íntima dos “famosos” (e os “famosos” mais ainda ao se deixarem seduzir por essa falácia), já está datado. No entanto, filmando em Roma, terra dos paparazzi, como não aproveitar a piada?

Acreditar-se especial nos torna patéticos. Somos todos uns pobres diabos tentando enfrentar a morte iminente com alguma ilusão tirada da cartola. Você é um homem talentoso com uma extensa folha de serviços prestados ao cinema mundial, mas o fato de se reconhecer comum o torna ainda maior.

Outro dia ouvi do grande Gilberto Gil, ao completar 70 anos: “Me dou cada vez menos importância”. Ah, que presente para si mesmo. Somos todos geniais cantando no chuveiro – quando passamos a acreditar seriamente que merecemos veneração, lá se vai um pouco da nossa essência.

Como diz o personagem de Alec Baldwin, maturidade talvez não seja sinônimo de sabedoria, e sim de exaustão. Quanto mais o tempo passa, mais se torna necessário simplificar a vida. O que não impede de estarmos abertos para algumas surpresas. Escutar mais do que falar, aprender mais do que ensinar, enxergar mais do que aparecer – não seria o ideal? Lutar contra o próprio ego não é fácil, mas é o único jeito de mantermos uma certa sanidade e paz de espírito.

Caro Woody, minha admiração segue gigantesca. Não só por todos os filmes brilhantes já realizados, mas também por você ter alcançado essa visão desestressada e zombeteira da vida maluca que levamos todos.

Por você conseguir, a despeito de todos os elogios e prêmios recebidos, ter a dimensão exata do seu tamanho no mundo. De não trocar seus prazeres pessoais pela ânsia de ter mais visibilidade. Por filmar em diferentes cidades do planeta, extraindo delas sua beleza genuína, mas sem deixar de unificar as fraquezas e grandezas humanas, que são iguais em qualquer lugar.

O resto é gordura desnecessária. Longa vida aos que conseguem se desapegar do ego e ver a graça da coisa.

A hegemonia - ILIMAR FRANCO


O GLOBO - 11/07

Os governadores Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE) fizeram duras críticas ao PT para a presidente Dilma, anteontem no Alvorada. Eles acusaram os petistas de tentar sufocar os aliados. Um deles disse que o PSB, para eleger presidentes petistas, já abriu mão até de uma candidatura com 15% de intenções de voto (Ciro Gomes). A presidente ouviu e fez um apelo: "Digam lá fora que o nosso casamento é indissolúvel." Combinado.

Um novo PMDB vem aí?
Depois que a senadora Kátia Abreu (PSD-TO) resolveu fazer oposição ao prefeito Gilberto Kassab por causa da intervenção em BH, abriu-se uma crise interna. O líder do PSD na Câmara, Guilherme Campos (PSD-SP), ligou para cada um dos 52 deputados para fazer uma operação-abafa. Nas conversas, disse que não quer que o PSD seja tachado de o "novo PMD", com dissidências internas. Pediu que todos, principalmente os mineiros, tentassem ignorar a polêmica e a senadora Kátia, não estendendo o assunto. Campos a criticou dizendo que a senadora quer holofote e que entrar na briga beneficiaria sua estratégia.

"O episódio de Belo Horizonte revelou o abandono de qualquer resquício de lealdade. Declaro-me em dissidência crítica e vigilante” — Kátia Abreu, senadora (PSD-TO), criticando Gilberto Kassab e a aliança com o PT

O CRIADOR. O ex-deputado Saulo Queiroz é o braço-direito do prefeito Gilberto Kassab (São Paulo) na criação do PSD. Ele é do ramo. Em 1980, ao lado de Tancredo Neves, ele fez o PP, que um ano depois incorporou-se ao PMDB. Em 1985, foi um dos fundadores do PFL, no qual dissidentes do PDS apoiaram no colégio eleitoral a chapa Tancredo-Sarney. Saulo faz anotações para um livro sobre os últimos 30 anos da História do país.

De araque
A CUT não fará qualquer mobilização no julgamento do mensalão. Nas 88 páginas do texto-base de seu 11 Congresso, não há sequer uma menção ao fato. O presidente Vagner Freitas levou um puxão de orelha dos demais dirigentes.

O rei do gado
Pelé vai virar garoto-propaganda da Confederação Nacional da Agricultura. A CNA fará campanha mundial, de R$ 27 milhões, com a Apex e o Sebrae, para forjar a marca "sustentável" na produção de carnes, grãos e biocombustíveis.

O professor critica governo e magistério
Sobre a greve de 56 dias nas universidades federais, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) criticou o governo Dilma e os professores: "O governo não entendeu que entramos no século XXI. Os professores também não entenderam." O senador enfrentou o problema na própria pele. Quando era governador em Brasília (1995/1998), os professores fizeram greve de 23 dias em 1995, de 44 dias em 1996 e de 69 dias em 1998.

Dançou
Candidato a vereador em Belo Horizonte (MG), o filho do petista Patrus Ananias, Pedro, procura novo marqueteiro. Cacá Moreno, que faria sua campanha, está na equipe do prefeito Marcio Lacerda (PSB), candidato à reeleição.

Na UTI
Uma subcomissão de deputados entrega hoje ao ministro Alexandre Padilha (Saúde) um raio X do quadro clínico das 2.100 Santas Casas e hospitais filantrópicos do país. As instituições precisam de um socorro de R$ 11,2 bilhões.

JURISPRUDÊNCIA. Além de Demóstenes Torres, abriram o voto pela cassação de Renan Calheiros, em 2007, os então senadores Marco Maciel (DEM-PE) e Aloizio Mercadante (PT-SP).

A PRESIDENTE Dilma lança hoje o programa Brasil Protege. O plano envolve os três níveis de governo, o Judiciário e o Ministério Público.

O PROGRAMA tem três eixos: adoção e acolhimento comunitário; violência e exploração sexual; e jovens em conflito com a lei. Recursos serão liberados para as pastas da Saúde, Educação, Justiça, Cultura, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social.

O Senado já ficou menor - FERNANDO RODRIGUES

FOLHA DE SP - 11/07


BRASÍLIA - O Senado estará menor hoje ao fim do dia. Não importa se Demóstenes Torres perder ou não o seu mandato. Nas duas hipóteses, a instituição sai desgastada e com relevância reduzida.


O pior (e improvável, espera-se) cenário é aquele no qual o ex-líder do DEM é perdoado e mantém seu mandato. A Câmara Alta do Congresso brasileiro estaria dando um sinal de "liberou geral".

A defesa do senador argumenta não haver provas materiais de ele ter estado a serviço de Carlinhos Cachoeira. As ligações telefônicas gravadas seriam ambíguas. Não houve dinheiro depositado em contas-correntes. São explicações controversas, mas vá lá. Só que há o telefone-rádio Nextel recebido por Demóstenes com outros integrantes do grupo de Cachoeira. Nesse caso houve quebra de decoro?

A resposta da defesa é que Demóstenes não teria como "adivinhar" que se tratava de instrumento para prática de crime e que o "custo de manutenção era irrisório". Se for esse o entendimento na sessão de hoje, qualquer senador da República poderá ganhar um celular de um contraventor, usar à vontade e mandar a conta para a quadrilha. O argumento do senador é tão disparatado e reducionista que não merece grandes reflexões.

Mas o Senado pode resgatar em parte sua imagem se cassar Demóstenes na sessão de hoje. Isto é, se o senador não entregar os pontos e mantiver sua palavra de não renunciar até o "último segundo", como afirmou em sua defesa ontem.

O problema é que a cassação é apenas o mínimo a ser entregue pelos senadores. Uma ação diminuta para reparar anos de reputação depauperada. No passado, era comum ouvir que a Câmara era o império do baixo clero. Agora, o Senado rivaliza em insignificância. Expulsar Demóstenes ajudará um pouco. Só que ainda demorará até o Poder Legislativo recuperar o seu prestígio.

Separando o joio do trigo - ANTONIO CORRÊA DE LACERDA


O Estado de S.Paulo - 11/07


Tornou-se mais frequente, nos últimos meses, algumas análises apontando um certo desinteresse com relação aos investimentos estrangeiros na economia brasileira. É, de certa forma, uma reversão da predominância ocorrida nos últimos anos, nos quais o Brasil se tornou um dos alvos preferenciais dos investidores.

Aqui se torna necessário destacar duas observações importantes. A primeira é que grande parte do deslumbramento que houve a respeito do potencial da economia brasileira refletia um (re)conhecimento tardio das características e peculiaridades do mercado doméstico. O fato é que o Brasil sempre foi retratado de forma estereotipada pela mídia internacional e muitos analistas internacionais também demoraram a levar em consideração o seu potencial econômico. A segunda observação é de que é preciso separar o que se convenciona chamar de investimento de uma forma equivocadamente genérica.

Há vários tipos de investimentos, começando pelos investimentos diretos, que representam as inversões associadas a projetos, novos empreendimentos, aquisição de empresas já em operação, enfim, aqueles investimentos diretamente associados às atividades da chamada economia real. Uma segunda modalidade é a dos investimentos em portfólio ou mercado de capitais e compras de ações de empresas. Trata-se, no caso, de investimentos mais voláteis que os do primeiro grupo, mas que podem representar importante instrumento de capitalização das empresas. A terceira modalidade é das aplicações voltadas para o mercado financeiro. Elas não têm uma relação direta com as atividades produtivas, são bastante sensíveis às taxas de juros e, portanto, têm elevado grau de volatilidade.

O Brasil foi por anos a fio o país que propiciou as maiores taxas de juros reais do mundo. Mas, recentemente, tem intensificado a redução dessas taxas, também aproveitando que a maioria dos países desenvolvidos vem praticando taxas muito baixas depois da crise de 2008, nos EUA, e seus efeitos. Um outro aspecto importante foi a alteração na política cambial. A cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a reversão do longo processo de valorização do real colocou um fator adicional de incerteza. Isso tudo associado à queda dos juros diminuiu a atratividade dos papéis brasileiros.

Portanto, há que diferenciar o que se considera de fato a potencialidade da economia brasileira no que se refere aos investimentos. Para os investidores que estão focados no longo prazo o que interessa mesmo é o potencial de crescimento do mercado brasileiro. Aqui o que conta são fatores que implicam uma relação de longo prazo. Esse é o perfil de investimento que mais interessa ao Brasil.

Quanto ao capital especulativo de curto prazo, é natural, e mesmo saudável, que perca o interesse em aplicações no Brasil. Primeiro, porque temos de perseguir o objetivo de consubstanciar o quadro de juros mais baixos e adequados à nova realidade brasileira e internacional. Segundo, porque esse tipo de capital nos proporciona muito pouca vantagem, para não dizer nenhuma.

O ideal é intensificar a absorção de capitais externos que possam complementar nossas competências e gerar novas oportunidades de geração de valor agregado, empregos, exportações e tecnologia. Os capitais de longo prazo também representam uma alternativa de financiamento mais perene para o déficit em conta corrente do balanço de pagamentos.

Declarações de investidores estrangeiros e seus representantes anotando a perda de atratividade da economia brasileira devem, por conseguinte, ser interpretadas com o devido cuidado. É preciso separar o joio do trigo e persistir nas mudanças que representam mais oportunidades para o Brasil. Isso, mesmo que desagrade a quem via no mercado brasileiro apenas um oásis de lucros fáceis e imediatos.

O olho do dono - DORA KRAMER

 O Estado de S.Paulo - 11/07



A discussão acerca do fim do voto no Parlamento soa algo estéril. Guarda semelhança com o debate sobre reforma política, pois ambos os temas ensejam muito ensaio e nenhuma solução.

Pelo simples e amplamente conhecido fato de que a maioria dos congressistas não simpatiza com mudanças em sistemáticas que lhes são bastante convenientes.

Aprovado em primeiro turno na Câmara em 2006 como reação a absolvições resultantes do mensalão e escândalos correlatos, mas depois esquecido no arquivo, o fim do voto secreto voltou à baila por causa do caso Demóstenes Torres.

Uma onda de altivez legislativa que, como veio, logo passará. Se quisesse mesmo derrubar o sigilo o Congresso teria feito como faz quando o assunto é de seu interesse: apressaria os ritos.

A começar por dar continuidade ao que havia iniciado retomando a votação em segundo turno na Câmara e remetendo o projeto de emenda constitucional ao Senado.

No lugar disso, preferiu a estaca zero ao optar pela tramitação de nova emenda na Casa revisora. Claro, não deu tempo de alcançar a votação relativa a Demóstenes.

A aprovação da emenda em dois turnos no Senado deu-se ao molde de uma satisfação oca à opinião pública. Por dois motivos: primeiro, porque vai empacar na Câmara e, segundo, porque restringe o voto aberto aos processos de cassação de mandatos, mantendo o sigilo para vetos presidenciais, indicações para tribunais superiores, nomeações de embaixadores e de integrantes de agências reguladoras.

Sob qual argumento? O de que o voto secreto protege o parlamentar de pressões.

Finíssima falácia. O parlamentar conta com a prerrogativa de imunidade de voz e voto justamente para se proteger do constrangimento da coação que, aliás, só ocorre antes da votação.

Depois dela é retaliação. Ainda que fosse possível acreditar que juízes de tribunais superiores, embaixadores ou meros membros de agências reguladoras trabalhassem com "listas negras" para se vingar os deputados e senadores sempre teriam a tribuna das respectivas Casas para denunciar a pressão.

O mesmo se aplica ao veto presidencial, cuja prática no Congresso, aliás, não é a derrubada, mas a manutenção.

Portanto, a única justificativa para a preservação do voto secreto é o desejo de restringir o espaço de fiscalização do público sobre a atuação do parlamentar. Mal comparando é o velho ditado: só o zelo do olho do dono do voto assegura a eficácia do desempenho do rebanho.

Voz da consciência. Se Demóstenes Torres será ou não cassado, isso diz respeito à consciência de cada um de seus 80 pares.

Em tese, a maioria é a favor da cassação. Mas, em outras ocasiões os senadores também disseram uma coisa nas pesquisas e fizeram outra na hora do voto. Assim foi com Renan Calheiros, absolvido a despeito de as prévias indicarem a condenação.

Contam aí dois fatores: o voto secreto e as ausências. Duas maneiras confortáveis de se manifestarem os favoráveis à absolvição. Não por convicção de inocência, mas por espírito de corpo, para desestimular processos que façam de suas excelências o condenado de amanhã.

Na essência se impõe um dilema entre a salvação de um mandato condenado pelas evidências e a preservação do que resta de credibilidade ao Congresso.

Demanda aquecida. O aumento do número de candidatos a vereador este ano, 531 mil contra 380 mil em 2008, não combina com o repúdio geral à política e aos políticos.

Se os presentes, passados e constantes escândalos não afastam as pessoas da atividade, talvez funcionem como fator de atração.

A questão que valeria a pena esmiuçar por meio de consulta a tantos pretendentes é se o que os move é o desejo de ajudar a sanear o ambiente ou se o atrativo é a expectativa de tirar proveito dele exatamente moralmente deteriorado como está.

O nome da crise - VERA MAGALHÃES - PAINEL


FOLHA DE SP - 11/07

Os governadores Eduardo Campos (PE) e Cid Gomes (CE) dedicaram o jantar com Dilma Rousseff a acusar o ex-ministro José Dirceu pela discórdia entre PT e PSB. A presidente ouviu que Dirceu arquitetou as candidaturas dos senadores Humberto Costa, em Recife, e Wellington Dias, em Teresina, em vez de defender alianças. Dilma disse que Dirceu não tem força em seu governo e ficou de intermediar conversa entre Campos e Lula, que está descansando no interior de São Paulo.

Reloaded A aliados, Eduardo Campos tem comparado o cenário político ao de 2004. Diz que a última vez que "uma ala do PT nacionalizou uma disputa municipal o resultado foi o mensalão".

Antes e hoje Na época do escândalo, Campos, então ministro de Ciência e Tecnologia, foi testemunha de defesa de Dirceu no processo de cassação contra o petista no Conselho de Ética a Câmara.

Carbonários Com a proximidade do julgamento, cresce no grupo político de Dirceu a tentativa de convencê-lo a fazer a própria sustentação oral no plenário do Supremo Tribunal Federal.

Bombeiros Os advogados do ex-ministro descartam a possibilidade e avaliam que essa decisão -que consideram fora de discussão- seria interpretada como provocação pelos ministros do STF.

Gênese O primeiro a levantar a possibilidade de Dirceu assumir a própria defesa foi o jornalista Elio Gaspari, que, em artigo, comparou o caso do petista ao julgamento de Fidel Castro no Tribunal de Moncada, em 1953.

Somos teu De passagem pelo Congresso, o governador Marconi Perillo (PSDB-GO), alvo da CPI do Cachoeira, conversou com senadores em um gesto pelo senador Demóstenes Torres (GO), cuja cassação será votada hoje.

Pomar Técnicos da CPI descobriram que uma mesma conta da Delta repassou R$ 22 milhões à MB Serviços, laranja da empreiteira no Rio, e fez pagamentos de R$ 13 milhões para a Adécio e Rafael, empresa de fachada usada por Carlinhos Cachoeira no Centro-Oeste. É a primeira evidência de que a Delta transferiu diretamente dinheiro a firmas que só existem no papel.

Caminho... Testemunha do polêmico encontro de Fernando Haddad com Alexandre Schneider, em fevereiro, a ex-secretária de Educação Básica do MEC Pilar Lacerda acusa o vice de José Serra de ter boicotado as reuniões do Grupo de Trabalho das grandes cidades brasileiras.

... suave Schneider não compareceu às reuniões do colegiado, criado em 2007. Ele diz que as plenárias não tinham caráter deliberativo e exigiam presença em Brasília durante três dias úteis consecutivos, durante os quais participaria de palestras e debates sobre programas federais.

O que eu digo Desafiando Serra a se aproximar do eleitor nas ruas e criticando o início da campanha do rival "em recinto fechado", o petista Haddad citou ontem como exemplo a ser seguido a campanha da presidente em 2010: "Dilma avisou que o calor do contato com a população nos estimula a seguir".

O que eu faço Na corrida presidencial, a petista evitava o corpo a corpo, recorrendo a cordões de isolamento com a imprensa. A então candidata chegou a usar o "Dilmamóvel" para se deslocar em grandes aglomerações.

Dobradinha Em meio à desconfiança quanto ao seu empenho na campanha paulistana, Geraldo Alckmin anuncia hoje ampliação do programa Creche-Escola na capital. A falta de vagas no setor é alvo de ataques do PT à gestão de Gilberto Kassab, defendida por Serra.

Visita à Folha Ophir Cavalcante Junior, presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Bartolomeu Rodrigues, assessor de imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

Tiroteio

"É uma infâmia citar Martin Luther King na defesa de um processo que evidenciou o elo entre a classe política e o crime organizado."
DO DEPUTADO FERNANDO FRANCISCHINI (PSDB-PR), sobre Demóstenes Torres ter evocado até a memória do ativista americano para tentar evitar a cassação.

Contraponto

Uma babá quase perfeita

O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) despachava com Dilma Rousseff quando, num raro papo fora da agenda, a presidente perguntou:
-Você tem chegado cedo em casa? Não pode deixar as crianças sozinhas!
Paulo Bernardo é casado com a titular da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que raramente sai do Planalto antes das 22h. Ele apenas sorriu amarelo e confirmou à chefe que estava zelando pelos filhos do casal ministerial.

Caso de polícia - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 11/07


SÃO PAULO - É preocupante descobrir que a Polícia Federal (PF), que mal dá conta de organizar a fila do passaporte, desperdiça valiosos recursos humanos interrogando pessoas sobre sua relação com a sogra para descobrir se tomam parte em um casamento arranjado, cujo objetivo seria facilitar a concessão de visto a estrangeiros. Ainda que fosse consensual que esse tipo de acerto nupcial constitui crime, certamente há ofensas mais graves a cobrar a atenção da elite policial do país.

O problema aqui é que, ao contrário do que quer a PF, é praticamente impossível caracterizar um casamento no qual nenhum cônjuge engana o outro como fraudulento. Fazê-lo exigiria, antes de mais nada, ter acesso à introspecção dos nubentes, o que a tecnologia ainda não permite.

Embora não haja uma definição de casamento amplamente aceita, o Direito brasileiro se inclina a pintá-lo como um misto de contrato solene com convivência pública que tenha por objetivo a constituição de família.

É nesse objetivo que reside o nó. Por quanto tempo os noivos precisam nutrir essa intenção para validar o casamento? Pela vida toda, como querem os católicos, ou pelo tempo de Planck (10-43 segundos), como advogam os liberais? E o que exatamente se entende por "constituir família"? Pares inférteis ou que não queiram filhos viram párias? O sujeito que se casa já pensando em aprontar ­-e, portanto, faltar com o dever de fidelidade recíproca do art. 1.566 do Código Civil- comete fraude? Se sim, por que a PF não vai atrás dele como vai atrás dos estrangeiros?

Não cabe ao Estado policiar consciências. É melhor deixar que cada comunidade lide com a questão moral e religiosa da forma que preferir, retirando o poder público do ramo dos casamentos. Ele lidaria apenas com os efeitos jurídicos das uniões.

Poder e legalidade no Mercosul - JOSÉ AUGUSTO FONTOURA COSTA


O ESTADÃO - 11/07


Muita água passou por sob as pontes dos rios da Bacia do Prata desde que o Tratado de Assunção foi firmado, em março de 1991. Naquele tempo, o Muro de Berlim já caíra, a URSS ainda não, mas havia uma clara percepção de que o consenso liberal chegara para ficar. Entrementes, a Rodada Uruguai do Gatt continuava empacada e as soluções regionais pareciam ser a melhor alternativa.

Buscou-se com o Mercosul, em consonância com as percepções da época, estabelecer um sistema de integração regional com liberalização comercial mais acelerada. Vale lembrar os presidentes que assinaram o documento: Menem, Collor, Lacalle e Rodríguez, os quais, talvez à exceção do paraguaio, incorporavam o credo neoliberal ao discurso político.

Assim, um sistema institucional enxuto era o adequado para facilitar uma contínua queda de barreiras - tarifárias e de outras naturezas - associada à redução da influência estatal, ajustada aos interesses do Cone Sul, mediante a harmonização macroeconômica.

Mesmo que muitos tentem explicar as reduzidas proporções do aparato institucional mercosulino pela falta de compromisso ou pelo temor da perda da soberania, é fato que o desenho adotado é perfeitamente adequado às finalidades originalmente pensadas. Em outras palavras, para que arcar com os custos de tribunais, comissões, parlamentos e fundos, se o ideal é que o mundo vá por si mesmo?

Além de uma estrutura econômica, adotou-se o consenso como mecanismo predominante de tomada de decisões. Os principais órgãos do Mercosul, presentes todos os membros, aprovam as propostas apresentadas, a menos que algum dos países se oponha. Quem cala, portanto, consente. Isso é bem diferente da exigência de unanimidade, um meio clássico e formal que exige a totalidade dos votos positivos, identificados e expressos, para a adoção de uma decisão.

Muito se criticou a opção pela regra do consenso, pois os fascinados pela Europa insistiam em que decisões por maioria eram uma condição necessária do sucesso. No entanto, as formas escolhidas mostram-se as mais adequadas para um grupo de apenas quatro membros, economicamente muito assimétrico e que apenas queria menos barreiras e regras. Assim, o consenso tornou-se o critério mais comum no Mercosul. Foi uma boa escolha, já que a crescente autonomia da esfera econômica em relação à política, que se buscava e esperava a partir do ideário dominante dos governos da época, é um par perfeito dos mecanismos ágeis e menos formais de decisão.

Nem tudo, porém, está submetido ao consenso. Às vezes se exige menos, outras mais. Esse aspecto, aparentemente técnico, está na base da discussão da juridicidade da recente incorporação da Venezuela ao Mercosul.

O Protocolo de Ushuaia, que reforça e regula o compromisso de manutenção da democracia nos quatro países, introduziu um mecanismo de consenso menos um. Desse modo, o país que venha a afastar-se do governo pelo povo pode ser suspenso e sofrer medidas restritivas por decisão dos três outros membros, sem sua participação. É uma regra necessária para lidar com situações excepcionais e gerar, de maneira imediata e vigorosa, pressões políticas e econômicas institucionalizadas. O Protocolo de Montevidéu de 2011, com maior cobertura material e geográfica, também prevê a suspensão do membro e medidas punitivas.

Por outro lado, algumas questões não são submetidas ao consenso. É o caso do ingresso de novos membros, a chamada adesão, que depende da aprovação unânime. Por se tratar de elemento essencial e constitutivo da própria organização internacional, é regida por normas mais rigorosas.

Nem mesmo o Conselho, órgão de condução política, tem competência expressa para autorizar a adesão: isso cabe a todos os membros, que devem expressar sua vontade mediante votos positivos e formais. O afastamento temporário do Paraguai não lhe retira a condição de membro nem permite nenhuma forma de adesão que prescinda da expressão positiva de sua vontade.

Da maneira como foi feita, a adesão da Venezuela - já aprovada no Brasil há muito e desejável sob vários pontos de vista - ocorreu fora da regularidade jurídica do Mercosul. É difícil afirmar que tal atitude promova a democracia.

Politicamente, fica o sabor amargo do oportunismo e do desrespeito à vontade dos paraguaios. Não há urgência alguma, nada que paralise, política ou economicamente, a região. Por que enfiar essa decisão pela goela do Parlamento do Paraguai? Não é melhor esperar um momento mais sereno e manter a regularidade institucional?

O panorama da região mudou muito nos últimos 20 anos. O consenso liberal ruiu e governos de esquerda passaram a ser a grande maioria na América do Sul. É compreensível, também, que a simpatia e o compartilhamento de visões de mundo e projetos sejam importantes lubrificantes da relação entre os países. Nesse contexto, o apoio a Lugo faz sentido.

Há, porém, uma ordem jurídico-institucional a ser respeitada e a mistura das convicções pessoais e partidárias com as relações entre Estados pode ser deletéria. Vista a distância, a intempestiva adesão venezuelana destoa do tradicional discurso que prima pela defesa da legalidade contra os mais fortes.

Pode ser que o Paraguai se dobre, se encolha em face de sua própria impotência e aceite, por ocasião do término de sua suspensão, o fato consumado. Não se pode esperar que reaja agora, desligando parte do Brasil da tomada ou punindo indefesos "brasiguaios". O que fica para a História é o exercício nu e cru do poder dos grandes contra o pequeno, tudo aquilo contra o que os países em desenvolvimento se vêm empenhando há muito.

Ainda é possível retroceder, interpretar a própria decisão açodada como uma declaração programática e deixar intacta a possibilidade de o Paraguai expressar sua vontade soberana. Infelizmente, isso parece ser água passada.

Bancos e empregos - MÍRIAM LEITÃO


O GLOBO - 11/07

A Espanha passará por um Proer. Como no Brasil, os maiores bancos serão fiscalizados, saneados, capitalizados. Os ativos podres serão separados para limpar os balanços das instituições. A diferença é que o Proer deles será feito com ajuda externa de 100 bilhões de euros. Ontem, foi anunciado o adiantamento de 30 bilhões de euros. Enquanto isso, a Organização Internacional do Trabalho anunciou um quadro de devastação do emprego na Zona do Euro.

Desde o começo da crise, foram perdidos 3,5 milhões de empregos na Zona do Euro. Em 2012, a destruição de postos de trabalho voltou a aumentar, e a OIT prevê perdas de mais 4,5 milhões de empregos, se o crescimento não for retomado.

A instituição que defende o emprego não acusa os governos de estarem derramando essa dinheirama nos bancos, em vez de investirem na economia produtiva, uma comparação feita com frequência. Pelo contrário, segundo a OIT, o caminho é resolver os problemas do mercado financeiro o mais rapidamente possível, para que os bancos possam voltar a emprestar e, assim, sustentar o investimento. Se forem “restaurados os canais de crédito” para sustentar “um investimento de 1% do PIB a mais”, isso permitiria a “criação líquida de 1,4 milhão de empregos durante dois anos”.

Esse é o ponto dramático de uma crise bancária. Mesmo quando os bancos são responsáveis pelas crises, por práticas irregulares ou até fraudes, eles acabam resgatados porque, na maioria das vezes, seu colapso tem efeitos terríveis na economia.

No Brasil, os bancos dependiam da inflação. Quando ela caiu, descobriu-se que havia muito ativo podre em alguns dos maiores bancos do país. Foi preciso intervir nas instituições, tomar de seus controladores, separar ativos líquidos daqueles que não eram fáceis de cobrar, vender a instituição para outro banco e emprestar recursos que permitiam a absorção do banco falido.

Na opinião do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, que comandou o programa de reestruturação dos bancos no Brasil, o Proer, ainda não estão claros os mecanismos de saneamento, mas ele acredita que, a partir do resgate dos bancos espanhóis, o sistema financeiro será mais saudável, com mais chances de financiar o crescimento.

Na Espanha, os 14 maiores bancos passarão por testes de stress para saber como seu balanço de ativos e passivos suporta um cenário de agravamento ainda maior da crise. Recentemente, já tinham passado por auditorias como esta e os dois maiores bancos — Santander e BBVA — saíram-se muito bem.

Depois de examinados os ativos dos bancos, serão criados os “bad banks” para onde serão transferidos os ativos podres retirados dos balanços dos bancos. Na Espanha, esses empréstimos duvidosos foram concedidos no boom do mercado imobiliário que antecedeu a grande crise, iniciada em 2008. Hoje, os imóveis valem menos do que valiam, menos do que o valor tomado emprestado, e os endividados não conseguem pagar.

— Na verdade, o que aconteceu na Espanha foi com os bancos das regiões autônomas, as Caixas. São bancos públicos que concederam muitos empréstimos e de forma pouco transparente. O maior problema foi com incorporadoras que tiveram dificuldade de vender os imóveis no início da crise, até porque os preços estavam altos. Houve muito crédito concedido de forma inadequada. As autoridades de supervisão tinham critérios mais frouxos de avaliação dos bancos públicos, que são a origem do problema. O Bankia — banco que está com maior dificuldade — é o resultado da fusão de várias dessas Caixas.

Segundo a OIT, a Europa está no início de um processo de recessão prolongada no mercado de trabalho, como efeito da crise na região. Dos 17 países, só Alemanha, Áustria, Bélgica, Luxemburgo e Malta criaram novos postos de trabalho.

Entre os que estão entrando no mercado, 31,5% estão desempregados ou inativos e entre os que perderam o posto de trabalho, 44% estão há mais de um ano desempregados. Na Espanha, a taxa dos jovens sem emprego chega a 50%. Segundo a OIT, essas pessoas atingidas pelo drama do desemprego no início de suas carreiras profissionais poderão “ter sequelas para o resto da vida”.

Esse é o drama maior da Europa. Atrás dessas informações áridas — como a taxa de risco cobrada do mercado para rolar a dívida soberana de países com desequilíbrios fiscais — existe um sofrimento pessoal enorme. Não é um problema abstrato.

O sistema de proteção social na Europa é forte e amplo, porém a falta de perspectiva de melhora de uma situação como a da Espanha tem desdobramentos cada vez mais negativos.

Em toda crise bancária há erros dos administradores dos bancos. O problema é que, ao entrarem em crise de insolvência, eles ameaçam a própria economia. O país inteiro fica refém do desequilíbrio. Normalmente, há uma retroalimentação. A piora dos bancos congela o mercado de crédito, que agrava a situação econômica que, por sua vez, aprofunda a crise bancária.

No Brasil, na crise dos anos 1990, os bancos foram saneados, mas os administradores e controladores foram punidos com perda de ativos e indisponibilidade de bens.

Na crise que estourou nos Estados Unidos, após a quebra do Lehman Brothers, o governo socorreu os outros bancos, permitindo que os executivos preservassem seus gordos bônus.

Na Espanha, fala-se da crise como uma fatalidade que ocorre pelos problemas globais. Mas na raiz do desequilíbrio bancário está má regulação e gestão irresponsável. O preço maior quem paga é todo o país.

Pragmatismo - ANTONIO DELFIM NETTO

FOLHA DE SP - 11/07


Não é razoável assistir, sem preocupação, a economistas bem apetrechados no cientificismo criticarem com enorme fúria verbal a atual política econômica.

Seria ridículo supor que ela não pode ser melhor, mas há sérias dúvidas sobre se ela pode ser "maximizada" sob as restrições impostas: 1º) pelo efetivo conhecimento de que eles mesmos dispõem e 2º) pelo comportamento do Poder Legislativo. Menos razoável ainda é transformá-la num ataque "ad hominem" ao ministro Guido Mantega.

É claro que a situação mundial é muito complicada. Ao gozarmos o benefício de estarmos no mundo, temos também o seu ônus. É impossível isolar o comportamento de nossos consumidores, empresários e banqueiros do que veem acontecer ao seu redor.

Por maior que seja o esforço governamental, seu resultado será sempre condicionado por esse fato. Mas é absurdo sugerir que a ação pragmática de curto prazo é "toda errada porque compromete uma visão de longo prazo".

É mais do que evidente que deveríamos ter feito algumas reformas (tributária, trabalhista, da seguridade social etc.) para melhorar a produtividade global da economia.

"Deveríamos", porém, é bem diferente do "poderíamos", devido às "condicionantes" expostas acima. Basta ver o comportamento recente do Congresso Nacional. Sem nenhuma cerimônia e às escondidas da sociedade inadvertida, ameaça pôr em risco toda a estabilidade fiscal duramente conquistada em 18 anos.

A ação do governo nas últimas semanas mostra que não há razão para desencanto e esmorecimento. Em primeiro lugar, por exemplo, a firme disposição da presidente da Petrobras de "pôr ordem na casa", dando maior transparência aos problemas responsáveis pela dramática perda de seu valor, que desagrada aos acionistas privados e espalha pessimismo, além de aumentar o custo de seu financiamento.

Em segundo lugar, a posição firme da presidenta Dilma Rousseff em relação ao aumento dos servidores públicos. A tragédia europeia já deveria ter acendido a luz vermelha nos sindicatos e no Congresso. A prodigalidade fiscal sempre termina mal. Cabe ao ministro Gilberto Carvalho, companheiro enturmado, convencê-los de que o aparente "bem maior de hoje" é um seguro "mal maior de amanhã".

Se a crise aterrissar aqui, não há poder que os proteja. Devolverão, com juros e correção monetária, o "excesso" do qual se apropriaram até agora.

Em terceiro lugar, o excelente e apropriado Plano Agrícola para a safra 2012/2013, com o reconhecimento da necessidade de ampliar o seguro e expandir dramaticamente os serviços de extensão rural, o que ajudará muito o crescimento em 2013.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO


FOLHA DE SP - 11/07

Venda de asfalto para obra aponta desaceleração

Em tempo de clima seco, quando o consumo de asfalto para a construção de obras pesadas deveria subir, houve queda nas vendas do produto no país, sinal de que uma desaceleração no setor pode se aproximar, segundo o Sinicesp (sindicato do setor).

O volume vendido caiu de 232,9 mil toneladas em maio para 221,5 mil em junho.

Quando a comparação é feita com junho do ano passado, que registrou comercialização de 239,6 mil toneladas no Brasil, a redução é mais alta.

"Nos períodos em que chove menos, a produtividade costuma ser maior. Mas o que vemos agora é o contrário", diz João Leopoldino Neto, vice-presidente da entidade.

"Entre as obras nacionais, em que o faturamento vem por conta do Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte], caiu muito o número de contratos", afirma.

No plano estadual, especialmente em São Paulo, o mercado se apoia no programa de recuperação de estradas, de acordo com Leopoldino Neto, mas falta aceleração nos demais Estados.

"As prefeituras, por outro lado, estão em época de eleição e, portanto, aumentando o trabalho e cumprindo o papel de executar obras no período", afirma.

sazonalidade congelada

A Metalúrgica Mor, empresa gaúcha que fabrica produtos de praia e camping, como piscinas de plástico, cadeiras e churrasqueiras, investirá R$ 45 milhões para produzir mercadorias isotérmicas.

"Vamos instalar essa nova unidade para evitar os efeitos sazonais, já que nosso faturamento costuma cair durante o inverno", diz o presidente da empresa, André Backes.

A princípio, serão produzidas 300 mil garrafas térmicas por mês. No futuro, produtos como baldes de gelo também serão fabricados.

Há dez anos, a companhia começou a entrar em outros segmentos para evitar a queda de receita nos meses de frio. Hoje produz objetos de utilidade doméstica, como escadas, varais, panelas e tábuas de passar roupas.

EM OBRAS

A Emit Equipamentos, que importa estruturas metálicas, como andaimes e escoramentos, passa a trazer também máquinas compactas, como placas vibratórias, cortadores de piso e compactadores de solo.

A estratégia serviu de proteção contra a variação cambial, segundo o sócio Guilherme Bueno, que diz ter começado a estudar o projeto no ano passado.

"Com a alta do dólar, o projeto ganhou relevância, pois grande parte dos concorrentes do setor importam esses equipamentos para vender no mercado local. Já a linha de estruturas tem fabricantes no Brasil."

PARAGUAI EMPRESARIAL

A troca de presidente no Paraguai não deve interromper o crescimento no número de empresas abertas no país.

Apesar das sanções internacionais, o governo de Federico Franco, que assumiu em 22 de junho após a destituição de Fernando Lugo, pretende aumentar em 30% o valor dos empréstimos às companhias em 2012.

"Mesmo com a crise política, os executivos seguem animados com nosso crescimento econômico", diz José Méndez Cardozo, presidente da Associação de Jovens Empresários do Paraguai.

Entre 2010 e 2011, foram criadas 914 empresas no país, alta de 155% ante os dois anos anteriores. No período, o desemprego passou de 6,4% para 5,6% e a taxa de subemprego caiu de 26,1% para 21,9%.

"A população paraguaia é jovem e representa mão de obra barata", diz Luiz Fernando Marchese, presidente da Câmara de Comércio Brasil-Paraguai do Rio de Janeiro.

ordem bancária

No Brasil, 52% da população acredita que o setor bancário é muito regulamentado. O número é mais que o dobro do registrado no mundo todo, segundo pesquisa da Ipsos.

Ainda entre os brasileiros, 54% dizem que os bancos precisam investir em comunidades. No mundo, a prioridade é a transparência.

Sobre mercados e governos - ELIANA CARDOSO


O ESTADÃO - 11/07


Pelo menos três hipóteses explicariam os pacotes econômicos dos últimos meses. A primeira atribuiria à presidente a ilusão de que Keynes lhe entregou todas as muletas de que necessita para lidar com a falta de crescimento. Mas, se assim fosse, por que misturar estímulos, que deveriam ser horizontais, com política industrial e protecionismo? Ela tem saudades das crenças cepalinas que ficaram para trás?

A segunda hipótese lembraria a força dos interesses. Os lobbies de algumas indústrias ganharam espaço junto ao governo...

Ainda mais lógica, talvez, é a sugestão de que o Brasil, a seu modo, acompanha o pêndulo que, historicamente, balança entre as forças do mercado e as do governo. Neste momento de crise internacional, ele se move em direção a mais intervenção.

Com certeza, a sociedade precisa de mercados e governo. Desejos e necessidades dão origem a mercados. Nossa malícia exige restrições impostas pelo Estado. Mercados sem cabresto produzem desigualdades e abusos. O governo é mal necessário, que se torna intolerável quando multiplica arbitrariedades ou seu peso se torna excessivo.

Tony Judt, historiador e ensaísta, disse que nos livramos da crença, dominante na metade do século 20, de o Estado ser a melhor solução para qualquer problema. Mas, continuou ele, ainda tínhamos de nos curar da noção oposta: a de que o Estado - sempre e por definição - é a pior opção. Parece que a crise de 2008 veio trazer a cura pela qual ele esperava.

Na verdade, a opinião sobre o papel do governo na promoção do crescimento oscilou durante os últimos 200 anos. Andou em baixa no final do século 18, quando Adam Smith difundiu a imagem da mão invisível a promover o equilíbrio entre oferta e demanda, ao mesmo tempo que David Ricardo afirmava que a eficiência do livre-comércio permitiria a especialização e fomentaria o crescimento. Ao governo caberia apenas promover a lei e a ordem.

1930 trouxe uma reviravolta e desmentiu a fé na correção automática dos mercados. Naquela década, a queda generalizada de preços, em vez de equilibrar oferta e demanda, pôs o mundo numa espiral deflacionária. Keynes apontou a instabilidade dos mercados e consagrou a intervenção do governo como agente da recuperação em períodos de desemprego alto. A ascensão do governo continuou na década de 1940, com o nascimento do Estado de bem-estar e seus gastos em saúde e aposentadorias.

Mas os anos 70 puseram em questão a eficiência da ação governamental com seus dois choques do petróleo, que produziram estagflação e moveram o pêndulo econômico para a direita. Milton Friedman culpou o governo, argumentando que a intervenção mina instintos, como o espírito empreendedor e a competição, fundamentais para o funcionamento do capitalismo. Liberalização tornou-se a palavra de ordem. Margaret Thatcher reduziu impostos, desregulamentou indústrias, privatizou estatais, limitou o poder sindical e reduziu programas sociais. O colapso da União Soviética e a abertura da China consagraram o triunfo do capitalismo e de seus mercados. Reformas estruturais sucederam-se em vários países.

Tudo parecia ir muito bem até que a crise financeira de 2008 mostrou o rei nu a exibir suas imperfeições: assimetria de informação, risco moral e comportamentos motivados não por escolhas consistentes, como alardeiam os economistas, mas alimentados pela ganância e pelo medo. As imperfeições dos governos - que mantiveram as taxas de juros baixas demais por muito tempo nos países ricos e eram, portanto, corresponsáveis por booms especulativos e endividamentos excessivos - completavam o quadro. A crise de 2008 abalou a fé no capitalismo, assim como o colapso da União Soviética havia destruído a confiança no Estado socialista. A opinião pública deu-se conta de que tem de ficar de olho no governo, nos bancos e nas empresas, para mantê-los na linha.

No Brasil, pragmatismo e flexibilidade evitaram guinadas radicais do pêndulo econômico. Não sofremos a centralização das economias socialistas, bastaram-nos alguns planos quinquenais cumpridos mal e parcamente. Não nos entregamos à liberalização de Thatcher, satisfizeram-nos certa abertura comercial e algumas privatizações. Não adotamos a dolarização dos vizinhos, contentaram-nos os percalços das valorizações cambiais, que tiveram o lado positivo de matar a megainflação em meados da década de 1990 e o negativo de reduzir a competitividade das exportações industriais, naquela ocasião e novamente nos anos recentes.

Alguns sinais mostram que a euforia dos investidores externos em relação ao Brasil acompanhou a queda do preço das commodities - que o governo não controla. O acúmulo de medidas casuístas também deve ter contribuído para o pessimismo em relação ao País.

Medidas pontuais não solucionam o baixo crescimento e tornam a economia menos previsível. O investimento odeia incertezas e desconfia do intervencionismo que escolhe eleitos. O protecionismo, que aceita preços mais altos de produtores nacionais, reduz a disciplina da competição. Ao invés de usar a crise para corrigir erros passados, nosso governo soma aos velhos erros novos.

Na economia globalizada os governos têm menos alavancas para mover os negócios e essas alavancas são menos potentes. Na tentativa de tapar o sol com a peneira dos pacotinhos, parece faltar calma para decidir o que fazer nas áreas em que as fraquezas exigem ação.

Se for verdade que o capitalismo resolve com crises os problemas acumulados durante o boom, chegou a hora da cura. Medidas que contribuem para aumentar a inadequação do nosso sistema tributário deveriam dar lugar a reformas que o tornem mais simples e horizontal. Se a crise ajuda de fato a focar no que importa, é hora de completar a reforma da Previdência e simplificar os impostos.

Ueba! Bruno fugiu do armário! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 11/07


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Efeito Maluf-Lula. Mais uma coligação bombástica: Batman e Coringa!

Sim! Olha a charge do Salvador com Batman e Coringa: "Se é para o bem de Gotham City, resolvemos nos coligar". Rarará.

E sabe o que o Batman faz quando se lembra do Robin? Pega o batmóvel, vai pra batcaverna e bat uma! E você sabia que morcego, pra salvaguardar a espécie, transa até com a sogra? Por isso que transmite raiva!

E mais do caso "Bruno comeu Macarrão". O advogado disse que o Bruno e o Macarrão tinham relacionamento gay. Ou seja, o advogado não tirou o Bruno da cadeia, mas tirou do armário. Advogado tira o Bruno do armário.

Outra: tirar o Bruno e o Macarrão do armário é fácil, quero ver tirar da cadeia! Rarará!

E esta: Eliza Samudio foi apenas um miojo na vida do goleiro Bruno! E o Bruno vai escalar um time em homenagem ao Macarrão: Rigatoni, Farfalle, Penne. Talharim, Espaguete, Fettuccini e Parafuso. Ravióli, Capelete, Lasanha e o lateral direito Cabelo de Anjo!

E atenção, corintianos! Corre na internet a promoção: Japão em 48 vezes! O Corinthians precisa de sua torcida! Passagem para o Japão! Falsificação de passaporte! Vale-refeição Internacional! Barraca de Camping.

E dicionário com traduções para o japonês de expressões úteis: "Perdeu, mano". "Vai levar pipoco." Não fui eu." "Sou trabalhador." "Quero minha mãe!". Rarará. Adorei o "quero minha mãe"! Vão deixar os japas de olho arregalado!

E a mãe de um amigo meu contratou uma bibinha pra copeiro e perguntou: "Menino, o que você sabe fazer de melhor?". "DUBLAR!", respondeu a bibinha. Rarará!

E tô adorando o Adauto da novela Avenida Barraco. O Adauto não é burro, é básico. Rarará. É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! E tecnológico! É que na Bahia tem um boteco chamado IPHOME! E aqui em São Paulo tem uma lanchonete servindo o FACEBURGUER! Rarará!

E ainda temos aquele motel na Barra Funda, o Apple Motel! Deve ser pra dar aquela iphoda. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje, só amanhã.

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

O eco de um apitaço - RODRIGO VILAÇA


O GLOBO - 11/07


Terminou a Rio+20, mas ainda ecoa no ar o chamado "Apito do Rio", soado por uma locomotiva brasileira e replicado por trens no mundo inteiro, salientando as vantagens ambientais, econômicas e sociais do transporte sobre trilhos. Organizado pela Union Internationale des Chemins de Fer, o "apitaço" serviu de alerta para o grave descompasso entre o prazo de maturação de investimentos e a necessidade urgente de mais ferrovias e metrôs, soluções ideais para o tráfego de grandes volumes de carga e para o transporte público de massa .

O ponto absurdo a que chegaram as cidades é fruto da falta de planejamento integrado no sistema de transportes. O cenário, no entanto, vem mudando para melhor, em ritmo acelerado, graças aos investimentos das concessionárias de transporte ferroviário de carga, que já ultrapassam a faixa de R$ 30 bilhões. Desde 1997, quando entrou em vigor o atual modelo de concessões, o setor aumentou sua produtividade em 111,7%, reduziu em mais de 80% o índice de acidentes, gerou milhares de empregos, dinamizou a indústria de componentes ferroviários e ainda desonerou os cofres públicos dos prejuízos bilionários da extinta Rede Ferroviária.

Os benefícios ambientais gerados nesse período são uma vitória à parte. À medida que um maior volume de cargas passa a ser transportado pelas vias férreas brasileiras, desafogam-se parcialmente as rodovias, reduzindo consequentemente a emissão de gases poluentes. Para se ter uma ideia, um único trem composto por 100 vagões graneleiros, com capacidade para 100 toneladas cada vagão, substitui 357 caminhões graneleiros de 28 toneladas .

As vantagens ambientais das ferrovias são corroboradas pelo 1 Inventário Nacional de Emissões Atmosféricas do Transporte Ferroviário de Cargas. Em 2010, as ferrovias foram responsáveis por apenas 5% das emissões totais de CO2 do transporte de cargas terrestres no Brasil, enquanto os caminhões responderam por quase 91% do total. Com a utilização cada vez maior de modernas locomotivas movidas a biodiesel, a tendência é que as vantagens dos trens sejam mais expressivas .

O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer. Precisamos investir com urgência mais de R$ 151 bilhões na eliminação de gargalos e na expansão da malha ferroviária. Assim será possível ampliar, dos atuais 25% para 35%, a participação do segmento na nossa matriz de transporte de carga - algo apenas um pouco mais próximo da realidade dos demais países desenvolvidos de grande extensão territorial, que concentram nas ferrovias cerca de 40% a 80% do transporte de cargas .

BOBA, NÃO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 11/07

Nathalia Dill, a Débora na novela "Avenida Brasil", é capa da revista "Joyce Pascowitch"; "a mocinha às vezes é tachada como boba e sonha com o príncipe, o que é distante de mim. Mas tem coisas que admiro na Débora, a ética e a vontade de se colocar no lugar do outro", diz

AINDA NO PÉ DE JORGINA
A Secretaria Nacional de Justiça transferiu recursos para que o Itamaraty contrate advogado e atue junto ao governo da Costa Rica para pedir a extensão da extradição de Jorgina de Freitas, que ficou célebre depois de ter formado uma quadrilha para fraudar o INSS, nos anos 90.

PASSE LIVRE
Jorgina foi condenada, presa na Costa Rica e extraditada para o Brasil. Como as leis preveem que o réu só cumpra pena no país de origem para os crimes cometidos até a data do pedido de extradição, ela escapou até agora de pendências mais recentes. Para que os processos sigam adiante, é preciso autorização da Justiça da Costa Rica.

OS ESQUECIDOS
A Secretaria de Direitos Humanos vai inspecionar abrigos para garantir que 37 mil crianças e adolescentes candidatos à adoção tenham uma guia que acelere o processo. Nela, constará a data de chegada de cada um aos 2.624 serviços de acolhimento. O mutirão é parte do programa Brasil Protege, que a ministra Maria do Rosário anuncia na 9ª Conferência Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Previstas em lei, as fichas costumam estar desatualizadas ou nem chegam a ser feitas. Na fila de adoção, encontram-se hoje 28 mil pais em potencial. Apenas 5.229 processos estão em andamento.

PRATELEIRA
A Livraria Cultura do shopping Iguatemi será inaugurada em novembro. O projeto está sendo finalizado pelo arquiteto Márcio Kogan. Além da nova loja paulistana, o empresário Pedro Herz abre duas outras neste ano: no Recife e a segunda no Rio, na Cinelândia. "A solução para a crise está nos livros", diz. Herz não revela o valor investido na expansão.

TRÁFEGO DE AÇÚCAR
No domingo, a fila da doceria francesa Ladurée, no novo shopping JK Iguatemi, era de 40 minutos. A loja colocou cones na porta para tentar organizar. Lá dentro, os macarons, doces à base de farinha de amêndoas, são vendidos por R$ 9 cada um.

Logo na abertura da loja, foram vendidos 1.000 docinhos em quatro horas.

MESTRE-CUCA
O chef Claude Troisgros lançará em agosto o primeiro livro de receitas de seu programa, "Que Marravilha!" (GNT). A obra trará uma seleção de 42 receitas. O número, diz, além de lhe trazer sorte, é o atribuído à região francesa da cidade onde ele nasceu, Roanne.

AL MARE
Assim que sair da pele da periguete Suelen da novela "Avenida Brasil" (Globo), Isis Valverde embarca para a Itália. Vai conhecer o país de origem de seus avós e quer pedir dupla cidadania.

TABUADA
A escritora americana Jennifer Egan, que ganhou o Pulitzer em 2011 e publicou um conto no Twitter da revista "New Yorker", quer escrever um livro contado a partir de números. A inspiração é a fixação do filho de 11 anos com almanaques de esporte, que contam "histórias inteiras" usando só numerais.

CONGA LA CONGA
E a cantora Gretchen, que abandonou o reality "A Fazenda" (Record) no sábado, agendou shows em casas de striptease no interior de SP. Ela se apresentará nas boates Noite Sem Pressa de Franca e Araraquara na próxima semana. O site das baladas mostra mulheres seminuas.

A CARNE QUE HABITO
Michel Melamed é criador, diretor e ator da peça "Adeus à Carne ou Go To Brazil", que estreou no fim de semana no Sesc Santana. Melamed escreveu o texto quando voltou de temporada fora do Brasil. Segundo o dramaturgo, o título "Adeus à Carne" seria a tradução do latim para Carnaval. No elenco, Bruna Linzmeyer, Thiare Maia e Giselle Mota. Os atores Milhem Cortaz e Virgínia Cavendish foram conferir a apresentação.

CURTO-CIRCUITO

Daniela Mercury apresenta o show "Canibália" no Via Funchal, no dia 4 de agosto. 12 anos.

O espetáculo "Despetalado Cabaré" será encenado hoje, às 21h, no Sesc Consolação. 14 anos.

Domingos Meirelles fala às 15h no Instituto Brasileiro de Geografia e História Militar do Brasil sobre a Revolta Paulista de 1924.

com LÍGIA MESQUITA (interina), ELIANE TRINDADE (colaboração), ANNA VIRGINIA BALLOUSSIER e OLÍVIA FLORÊNCIA