quinta-feira, agosto 15, 2013

'Flores Raras' - CONTARDO CALLIGARIS

FOLHA DE SP - 15/08

Na história de Lota e Elizabeth, o gênero das amantes é bem menos importante do que o amor


Estreia amanhã "Flores Raras", de Bruno Barreto. O filme (baseado no livro "Flores Raras e Banalíssimas", de Carmen L. Oliveira --nova edição pela Rocco) conta a história dos 17 anos (mais ou menos) que Elizabeth Bishop passou no Brasil.

Na sua chegada ao porto de Santos, em 1951, Bishop já era uma poeta reconhecida, "poet laureate" dos EUA. Nota: "poet laureate" é um cargo de poeta oficial nacional, que raramente me desapontou. Carol Ann Duffy, uma de minhas poetas preferidas, ainda é "poet laureate" do Reino Unido; Billy Collins e Louise Glück foram "poet laureate" dos Estados Unidos, sem contar Robert Frost e Joseph Brodsky. Aliás, eu descobri Collins e Duffy quando se tornaram "poet laureate" de seus países.

Enfim, Bishop estava circum-navegando a América do Sul; viajando, ela queria aliviar sua melancolia. Como Robert Lowell lhe diz lindamente no filme: ela procurava a "cura geográfica". Em Santos, a poeta desceu do barco com a ideia de passar uma semana ou duas visitando uma amiga, Mary Morse, que era então a companheira de Lota de Macedo Soares.

À primeira vista, o encontro de Elizabeth Bishop e Lota não foi muito promissor. Aos olhos de Lota, maravilhosamente interpretada ou inventada por uma inesquecível Glória Pires, Bishop devia parecer como uma chata, por grande poeta que fosse. E é provável que Bishop se assustasse pela presença expansiva de Lota. Agora, uma sugestão: é sempre bom desconfiar dos outros ou outras que seu parceiro ou parceira acha imediata e excessivamente desinteressantes.

De qualquer forma, o encontro de Elizabeth e Lota foi o começo de uma relação que é, para mim, um protótipo de história de amor que vale a pena. Alguns dirão que não acabou bem. Mas esse não é um argumento. O que importa mais é que, nos anos em que elas se amaram, cada uma delas deu o melhor de si: Bishop escreveu os poemas de "North and South" (que lhe valeram o prêmio Pulitzer), e Lota concebeu e realizou o aterro de Flamengo, no Rio de Janeiro.

É frequente que, num casamento, o cônjuge, por adorável que seja, apareça como alguém que limita nosso desejo --às vezes, ele, de fato, compete com nossa vida e domestica nossos sonhos. Esse não foi o caso de Elizabeth e Lota: cada uma potencializou o gênio da outra --essa é uma flor rara.

Detalhe crucial, "Flores Raras" não é um filme sobre um amor homossexual, simplesmente porque o fato de que se trata de duas mulheres é indiferente --o espectador não tem nem tempo nem disposição para aprovar ou para recriminar o amor de Elizabeth e Lota.

Talvez, na sociedade privilegiada e culta do Rio de Janeiro dos anos 1950-1960, pouco importasse que Lota e Elizabeth fossem duas mulheres. Não sei. O fato é que Bruno Barreto conseguiu contar a história de Lota e Elizabeth de tal forma que o gênero e a opção sexual das amantes é muito menos importante do que o amor entre elas.

Ontem, em São Paulo, no "Fronteiras do Pensamento", palestrou Anthony Appiah (professor em Princeton, autor de "O Código de Honra", Cia das Letras). Numa entrevista a Cassiano Elek Machado, na Folha de 10/8, Appiah menciona a revolução moral recente pela qual "há 20 anos, a maioria das pessoas (nos EUA) diria que a ideia do casamento gay é totalmente ridícula. Hoje, se você falar com jovens americanos, 70% deles vão defender sua aprovação".

Pois bem, "Flores Raras" não precisa caber num catálogo de "filmes homossexuais" porque cabe no dos grandes filmes de amor e porque já pertence a uma época em que a orientação sexual talvez seja, enfim, inessencial.

Não me lembro de um momento de minha vida (sequer a infância) em que a orientação sexual fosse, para mim, um fato relevante. Um pilar de minha educação moral foi minha avó, que era católica devota e moralmente preconceituosa, mas dotada de senso prático --se eu fosse homossexual, ela provavelmente se tornaria antipapal (talvez anglicana) na hora.

O outro pilar foi meu pai, para quem a própria ideia de "anormalidade" era uma bizarrice. Embora fosse especialista, tinha uma prática de médico de família: de manhã, ele visitava seus pacientes a domicílio. Quando eu estava de férias, ele pedia que eu o acompanhasse. Dizia que era para lhe fazer companhia. Suspeito que ele quisesse me ensinar a reconhecer meus semelhantes na diversidade do mundo, das casas, dos quartos e das vidas. Enfim, divago. Não perca "Flores Raras".

A verdade de Dias - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 15/08

Pelo sistema de rodízio, assume semana que vem o comando da Comissão da Verdade José Carlos Dias, no lugar de Rosa Cardoso.

O ex-ministro da Justiça de FH é pivô de polêmica por defender a Lei da Anistia, que perdoou os crimes da ditadura.

Sem revanchismo
A Comissão de Viação e Transportes da Câmara rejeitou o projeto que substituía o nome de “Costa e Silva” por “Herbert de Souza — Betinho” para a Ponte Rio-Niterói.

O ex-ministro Mário Negromonte, do PP baiano, relator, diz que a mudança de denominação da ponte “não deve parecer um ato de revanchismo ou de confrontação ideológica”. É. Pode ser.

O aviador
A gigante de óleo e gás Baker Hughes, fundada por Howard Hughes, após acumular alguns prejuízos no Brasil, demitiu 400 funcionários no Rio e em Macaé.

A empresa prestava serviço para a OGX e a Petrobras.

Calma, gente
O ator Preto Viana, que participou, entre outros trabalhos, de “A gaiola das loucas”, de Miguel Falabella, deu queixa na 13ª DP, no Rio.

Diz que foi obrigado a ficar de cuecas no supermercado Zona Sul, da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, para provar que não tinha roubado nada.

Cine saliência
O Cine Orly, templo do cinema pornô, em plena Cinelândia, no Rio, fechou as portas.

A história da casa, acredite, registra uma dúzia de infartos provocados por Viagra em excesso, tomado por idosos em busca, digamos, de fazer justiça com as próprias mãos.

Boletim médico
O artista plástico Vik Muniz, aquele do filme “Lixo extraordinário”, sofreu um acidente de moto quinta passada. Teve politraumatismo e foi atendido na Clínica São Vicente, no Rio. Passa bem.

Arca de Noé
Em homenagem ao centenário de Vinicius de Moraes, Adriana Calcanhotto está produzindo nova versão do clássico “Arca de Noé”, com músicas que estavam fora da primeira versão. Uma delas é “As borboletas”, que acaba de ganhar a voz de Gal Costa.

Cotação
Julio de Angeli, CEO da Englistown — líder no ensino de idiomas on-line para a Europa, Américas e Brasil — assume a presidência da Wise Up, adquirida pela Abril Educação.

Liv e Ingmar
Deeraj Akolkar, diretor do filme “Liv e Ingmar”, mandou incluir nos extras do DVD a entrevista que Sandra Coutinho, correspondente da Globo News em Nova York, fez com ele e a atriz Liv Ullman.
Momento de paz

Nasceu, segunda, a filha de José Júnior, do AfroReggae. Chama-se Lakshimi.

Júnior, como se sabe, anda cercado de seguranças depois que recebeu ameaças de morte.

Aliás...
A atriz Cissa Guimarães vai prestar uma homenagem ao AfroReggae, segunda-feira, durante o concerto da OSB pelos 20 anos do grupo liderado por Júnior.

Perdidos no Rio
Dois jovens mexicanos, que vieram para a Jornada Mundial da Juventude, só conseguiram voltar para casa ontem. Eles foram vítimas de golpe da empresa aérea Copa-Airlines, do Panamá, e tiveram os bilhetes cancelados. Um deles, com uma doença crônica, já estava sem remédio.

A OAB-RJ conseguiu uma liminar no TJ do Rio que obrigou a voadora a levar os dois para casa.

Diário de Justiça
A 14ª Câmara Cível do Rio condenou, por danos morais, a Monange apagar R$ 100 mil à Victoria Secrets. É que, num evento, a empresa de cosméticos usou asas de anjo em suas modelos, uma marca registrada da grife de lingerie.

Causa ganha pelo escritório Dannemann Siemsen.

Furto no campus
Sete computadores foram furtados, segunda, da sala da Coordenação de Controle Interno do Hospital Clementino Fraga Filho, da UFRJ. O larápio invadiu a sala pela entrada do ar-condicionado. A PF está investigando.

Sem tiros
Em dezembro agora completa cinco anos da instalação da primeira UPP, no Morro Santa Marta, no Rio.
Desde então não houve uma única troca de tiros no lugar.

Maria divide os cristãos - ALDO PEREIRA

FOLHA DE SP - 15/08

Protestantes também veneram Maria, mas condenam como fetichismo idólatra o enlevo do papa ao beijar sua imagem esculpida em Aparecida


Há mais templos consagrados a Maria do que a Jesus, e toda catedral reserva a ela uma capela (recesso provido de altar). Católicos dirigem mais orações à Mãe do que ao Filho.

Descontadas as jaculatórias (orações facultativas intercaladas), as contas do terço correspondem a 106 invocações mântricas de Maria (duas em cada ave-maria), mais uma referência na salve-rainha e outra no credo. Em contraste, o terço menciona o nome de Jesus 55 vezes: uma em cada ave-maria, uma no credo e outra na salve-rainha. Invoca Deus uma única vez, no pai-nosso.

Segundo o catecismo católico, Maria nunca morreu: após misteriosa Dormição, subiu ao Céu levada por anjos. Vive lá em carne e osso. Duvidar desse portento, a Assunção, configura anátema, sujeita o incrédulo a excomunhão e tormentos perpétuos do Inferno. Mas o próprio papa Pio 12, que decretou esse dogma em 1950, parece ter hesitado, pois antes consultou 1.181 bispos; 1.169 aprovaram.

A mais antiga referência à Assunção menciona celebração da festividade em 15 de agosto de 431 na cidade de Kathisma, entre Jerusalém e Belém. Não se sabe qual é a origem dessa data, nem por que outras denominações cristãs adotaram data alternativa próxima. Dezenas de países celebram a Assunção como feriado nacional. No Brasil, é feriado local em muitos municípios.

Protestantes veneram Maria (até muçulmanos a reverenciam), mas reprovam "mariolatria". Como outros não-católicos, objetam que a Bíblia não menciona Assunção. Condenam como fetichismo idólatra o enlevo do papa ao beijar imagem esculpida de Maria em Aparecida no mês passado.

Maria pode ter ganhado proeminência hagiográfica a partir do século 4 por facilitar a conversão de pagãos mediante incorporação sincrética de elementos de outros credos no cristianismo, e vice-versa. Muitos pagãos cultuavam deusas-mães. Representações de Ísis amamentando Horus bebê inspirariam madonas lactantes na pintura renascentista.

Antes de denotar fieira de contas representativa de 150 ave-marias (número inspirado pelos 150 salmos do saltério), o termo "rosarium" denotava grinalda de rosas como as de Vênus e outras deusas celestes tutelares de amor carnal e procriação. Terço é a terça parte do rosário.

Teólogos protestantes argumentam que o clero católico confere status de divindades menores a Maria e outros santos (quase 8.000) quando lhes atribui milagres. Milagres como os de aparições de Maria, certificadas pela igreja a partir do século 16 (Guadalupe, Fátima, Lourdes e outras). Deificação de Maria, acusam os anticatólicos, viola o preceito monoteísta das religiões abraâmicas.

Réplica dos católicos: reverenciam Maria como santa, mas não a adoram como deusa. E a chamam de Rainha por ser mãe do Rei Imortal dos Séculos. (Na tradição bíblica, rei judeu conferia título de rainha apenas à mãe, não a suas muitas esposas, que no caso de Salomão seriam 300.)

O cognome Virgem refere outro controvertido atributo de Maria. A Bíblia faz menção explícita a irmãos de Jesus. Mateus 13:55-56 e Marcos 6:3 nomeiam quatro, enquanto Mateus 12:46, Marcos 3:32 e Atos 1:14 referem outros. Segundo Mateus 1:18-25, José não "conheceu" Maria antes de ela ter tido o primeiro filho, o que sugere que ele a "conheceu" depois.

Para a igreja, tal entendimento configura audaciosa blasfêmia, pois o Primeiro Concílio de Latrão (649) reafirmou a virgindade de Maria "ante partum", "in partu" e "post partum". "Irmãos" de Jesus? A apologética assegura haver aí mera referência figurada a "primos" ou "parentes".

Dona Dilma, use o 2° mandato para governar! - MARCO ANTONIO ROCHA

O Estado de S. Paulo - 15/08

Como o ex-presidente Lula proclamou, em Brasília, do alto da sua visão privilegiada ou de algum palanque comemorativo que ele sempre arranja para nunca estar fora das manchetes e das TVs, que dona Dilma já está reeleita "e isso incomoda uma parte da sociedade elitista brasileira", resta à sociedade elitista se bater pelo que dona Dilma deve fazer no seu segundo mandato, quando já não precisará pensar na costura do terceiro.

Sim, porque ela só não está fazendo o governo dos sonhos do PT, dela própria e do Lula porque teve de compor de tal maneira o seu governo e o seu ministério, inchá-lo de tal modo, poluí-lo com tantos corpos estranhos remanescentes da era em que Lula prometia "acabar com tudo isso que está aí", sem conseguir, que se viu enredada numa espécie de teia de aranhas peludas da política, cada uma perseverando para abocanhar fatias, por menores que sejam, da pizza governamental brasileira - principalmente dos seus orçamentos fiscais, monetários, bancários, publicitários e empresariais.

Pensando, portanto, no segundo mandato que dona Dilma terá de suportar ainda, antes de começar a cuidar do seu netinho, que parece ser seu maior desejo, como já proclamou, achamos que a primeira providência que ela pode e deve tomar ao ser reeleita - uma vez que não dependerá mais da corte de aproveitadores que a cerca - seria, justamente, cortar rente o cordão de puxa-sacos que cada vez aumenta mais. De uma boa tesourada no ministério e penduricalhos adviriam vantagens imediatas, outras, mediatas, e terceiras fundamentais para o futuro da Nação.

Entre as primeiras estaria, logo de saída, o aplauso do povo em geral, até mesmo de toda "a sociedade elitista" brasileira, que não comunga com a luzidia elite que verdadeiramente temos neste país, cujo povo é infenso a elites: a "elite" política, ou seja, a legião de envernizados luminares do Congresso, do Executivo e do Judiciário que, do altar isolado da Pátria, chamado Brasília, nos oferece diariamente um ritual cediço de ademanes, fingimentos e deboches a que se dá o nome de atos de governo, infelizmente com o apoio interessado de grande parte da mídia.

Esta, que o presidente do PT insiste em controlar, como se já não fosse controlada, quase nada mais faz durante todo o dia e grande parte da noite a não ser transmitir ao povo brasileiro os recados do poder, daquele dia ou daquela semana: "O governo pensa em...; o governo estuda fazer...; o governo nomeia uma comissão...; o governo quer resolver de uma vez por todas...; o governo monta um esquema para...; o governo diz...; o governo não diz...". Experimente, o leitor, abrir qualquer jornal, de qualquer dia, e contar quantas frases desse tipo aparecem em cada edição. Anote-as. Depois, espere um mês, ou duas semanas, abra de novo o mesmo jornal e conte qual, ou quais, daqueles projetos, estudos, pensatas, providências tiveram pelo menos alguma sequência ou consequência. Ficará perplexo ao ver que na grande maioria das vezes não se fala mais do assunto. Pode-se tentar inventariar também quantos e quais problemas foram resolvidos. O governo brasileiro é o mais estudioso do mundo - campeão na criação de estudos que levam a nada, de projetos, planos, comissões, grupos de trabalho e forças-tarefa, e um enorme fracasso na criação de soluções.

Então, a segunda séria providência que dona Dilma (já reeleita, como disse Lula) pode tomar no seu segundo mandato é mandar o seu governo - os poucos ministros e órgãos que restassem (só os que fossem minimamente eficientes e necessários) - parar de estudar e de pensar, e começar afazer. A trabalhar em coisas que são necessárias. Mesmo que as faça erradas. É melhor ter erro para corrigir do que não ter nada para fazer.

A terceira é deixar de governar para a imprensa e governar para o povo; deixar de combater tucanos e PSDB (que já acabaram mesmo) e cuidar do Brasil, este, sim, a perigo.

São meus tímidos conselhos a dona Dilma (já reeleita).

O peso da migração - FERNANDO DE HOLANDA BARBOSA FILHO

O GLOBO - 15/08

Existe uma grande disparidade na taxa de desemprego das regiões metropolitanas pesquisadas pela PME. Em junho, por exemplo, a menor taxa foi registrada em Porto Alegre, com 3,9%, e a maior em Salvador, com 8,8%. Este é um padrão da série histórica: Porto Alegre tem, na maioria dos anos, o menor desemprego, enquanto Salvador tem sempre o maior, com exceção de 2006 (quando Recife teve mais desocupação).

É verdade que essa diferença caiu nos últimos anos. Em 2005, o desemprego em Salvador era 8,1 pontos percentuais superior ao observado em Porto Alegre.

Em 2012, o diferencial caiu para 3,3 pontos percentuais. A partir de 2012, porém, voltou a subir.

Essa diferença regional do desemprego é um dado preocupante, que mostra que o mercado de trabalho funciona pior justamente numa região mais carente como o Nordeste. Há indicações também de que a migração de trabalhadores é de alguma forma restrita, porque seria natural que os desempregados de Salvador buscassem chances maiores de obter trabalho em locais de menor taxa de desocupação, como Porto Alegre. Seria uma forma, inclusive, de reduzir os efeitos negativos sobre as pessoas que permanecem longos períodos fora do mercado de trabalho.

Ao se analisar as causas dessa diferença regional na taxa de desemprego, o primeiro dado que chama a atenção é o fato de a educação explicar, na melhor das hipóteses, 10% do diferencial.

E, de forma bastante preocupante, parece que o componente racial é um fator importante dessa dinâmica.

A maior participação da população preta e parda chega a explicar mais de 30% do diferencial de taxas de desemprego entre Salvador e Porto Alegre.

Ou seja, a maior taxa de desemprego de pretos e pardos eleva o desemprego das cidades em que estes cidadãos possuem maior participação no mercado de trabalho. Seria importante entender a razão disso.

Resta saber o que explica o resto do diferencial. É possível que haja diferenças entre as preferências das pessoas de cada uma das regiões, mas não parece existir nenhuma razão objetiva para que estas distinções levem a resultados tão díspares no mercado de trabalho.

Outra possibilidade é de que o mercado de trabalho do Sul do país funcione melhor. Ainda assim, persiste a pergunta: por que os trabalhadores não migram das regiões com elevada taxa de desemprego para aquelas com baixa taxa de desemprego? Ou, mais especificamente, por que um trabalhador desempregado em Salvador não procura emprego em Porto Alegre? Uma primeira causa para esse fenômeno pode ser a falta de informação acerca de vagas de trabalho em outras regiões do país. Uma segunda seria o elevado custo de migração entre as cidades.

E existe ainda a possibilidade de o preconceito desencorajar migrantes.

O fato, porém, é que a migração possibilitaria uma convergência das taxas de desemprego entre as regiões. Assim, uma boa ideia de política pública seria estudar formas de facilitar a migração de trabalhadores, para reduzir as disparidades regionais da taxa de desemprego.

O mensageiro leva bala - IVAN FINOTTI

FOLHA DE SP - 15/08

SÃO PAULO - Minha ignorância é vasta e, a respeito de assuntos jurídicos, vastíssima. Apesar de ler sobre essas coisas quase diariamente, o pragmatismo cego das leis é sempre motivo de surpresa.

Em 2005, entrevistei o jurista Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça, sobre uma dessas situações. Suzane Louise von Richthofen, que dispensa apresentações, havia saído da prisão. Ela confessara o planejamento do assassinato dos pais, em 2002. Três anos depois, o STJ lhe concedia um habeas corpus porque sua prisão preventiva havia vencido e, como não tinha sido condenada ainda, deveria aguardar em liberdade.

Minha primeira pergunta a Reale Júnior foi sobre a opinião pública, que, obviamente, discordava do habeas corpus. "A opinião pública está errada", disse ele. "(...) Para a aplicação do direito existem determinadas regras. Essas regras precisam ser observadas. A primeira delas é que não existe pena sem processo. A segunda é que não basta que haja o processo. É necessário que ele seja regular e siga efetivamente os trâmites previstos."

É justa essa soltura?, questionei. "Se, num determinado caso, houve desrespeito às regras processuais e isso justifica a liberdade de alguém que está preso sem uma sentença condenatória, os cidadãos não deveriam se revoltar contra, mas, sim, reconhecer a importância disso."

Quis saber como fazer para um ignorante como eu concordar com isso: "Como explicar essa soltura para uma pessoa da população que não tem formação jurídica? (...) Como passar a importância do respeito pelos princípios jurídicos? Não tenho a solução".

Certo, porque, se Miguel Reale Júnior tivesse essa solução, o governo de São Paulo poderia pedir ajuda a ele agora. Para explicar a ignorantes como eu por que apenas a Siemens, que revelou a existência e a própria participação no cartel dos trilhos (sejam lá quais forem suas motivações), é que está pagando o pato na Justiça.

As regras são para todos - EVELYN ROSENZWEIG

O GLOBO - 15/08

Cresci ouvindo que não se podia confundir alhos com bugalhos. A ideia traduz bem o que vem acontecendo no Leblon. Manifestações populares estão entre as maiores expressões inalienáveis da democracia. Mas é preciso saber por que e aonde protestar. Na residência do governador certamente não é o lugar adequado. Não só por ser numa área basicamente residencial e nem pelo inevitável transtorno sofrido pela vizinhança.

Protestos têm mesmo de "fazer barulho", mesmo que sem gritos. Mas a questão aqui é outra: em casa, até mesmo o governador é "pessoa física". O poder público tem suas sedes próprias.

Faz parte da construção da cidadania entender o papel de cada uma das esferas de poder para que nossos direitos sejam corretamente exercidos e cobrados. Nós, da AMALeblon, por exemplo, já tivemos uma série de reivindicações.

A chegada do Metrô ao bairro é outro legado imenso para todos nós. Chegamos, sim, a questionar incessantemente o traçado da nova linha, mas, diante da impossibilidade de alterálo, precisamos reconhecer os benefícios que esta obra trará para toda a cidade. Mas nunca fomos bater na porta da casa do vizinho Sérgio Cabral para fazer essas cobranças.

Nem sempre conseguimos ser atendidos, claro. Mas em todos esses anos foram muitas as reivindicações que, com diálogo e encaminhamento adequados, tiveram retorno positivo.

Sempre respeitados os caminhos oficiais para todo e qualquer tipo de solicitação. Não há outro meio, é assim que deve ser. Não podemos perder de vista que vivemos num estado democrático.

Outro ponto fundamental é saber exatamente pelo que se protesta. Ouvi gente criticar o fato de o governador não morar no Palácio Laranjeiras, apesar de não haver uma lei que o proíba de morar na sua residência. Mas nunca vi ninguém perguntar em que condições o governo anterior deixou o lugar, que passa por imprescindíveis reformas, pois é um legado do Rio de Janeiro, nosso patrimônio, que estava em condições deploráveis.

Para preservar a liberdade de criticar e cobrar, optei por não fazer política partidária.

Embora nem todas as esquinas sejam flores, tivemos, repito, conquistas importantes e este não é um privilégio só do Leblon, mas de todo o Rio. Uma iniciativa que nos trouxe uma inquestionável melhora da qualidade de vida foi a criação das UPPs. Será que ninguém se lembra dos tiros traçantes que cruzavam o céu da cidade todos os dias? Duvido muito que alguém tenha saudade dessa época. Embora ainda precisem de aprimoramento, as UPPs foram um passo importantíssimo no combate à criminalidade, assim como as UPAs - que também precisam melhorar muito - favoreceram nosso sistema de saúde. Não por acaso defendemos que as UPPs sejam transformadas numa política de estado, independentemente do governante. Precisamos disso.

Não há mal nenhum em manifestar-se diante da insatisfação, muito ao contrário. Mas para exercer a democracia é preciso conhecer suas regras - e assim contribuir para preservá-la, não para atacá-la -, evitando que um estado democrático seja confundido com uma anarquia.

Por isso, com todo o respeito que tenho pelas melhores intenções e ideologia dos cidadãos que se manifestam atualmente acampados no canteiro central da Avenida Delfim Moreira, acho que estes também devem ser submetidos às regras legais imputadas a toda nossa cidade.

As excluídas - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O GLOBO - 15/08

O“Estado de S. Paulo” publicou uma lista de canções brasileiras pré-selecionadas pela Radio Eldorado para seus ouvintes escolherem a melhor de todos os tempos, numa enquete cujo resultado final irá ao ar no próximo dia 7 de setembro. Não há muito o que discutir sobre as canções incluídas na lista pré-selecionada — mas sobre as excluídas há. Compreende-se que na lista não haja mais músicas do Tom Jobim e do Chico Buarque. Afinal, seria difícil fazer uma relação das melhores canções brasileiras das últimas décadas que não fosse dominada pelo Tom e pelo Chico, o que só aumentaria o número das omitidas. Mas por que nada do Lupicínio? Por que não mais Noel Rosa, como “Feitiço da Vila” e aquele samba que começa: “Não te vejo nem te escuto/o meu samba está de luto/eu peço o silêncio de um minuto”? Por que, além de “Primavera”, não entrou a tão ou mais bonita “Minha namorada”, do Carlos Lira? E, além de “Ronda”, “Volta por cima”, do Paulo Vanzolini?

Como os impressionistas barrados do Salão de Arte de Paris, que fizeram o seu próprio Salão dos Rejeitados, com mais sucesso do que o Salão oficial, faço, aqui a minha lista de rejeitados, mas, como a Vila, sem a pretensão de abafar ninguém. Sei que gosto é o que mais se discute e as escolhas de melhores isto ou aquilo são sempre supersubjetivas. Mas na minha opinião intrometida nenhuma destas poderia ter ficado de fora. A ordem não é de preferência:

* “Pois é”, do Ataulfo Alves.

* “Última forma”, do Baden Powell e Paulo César Pinheiro (“E qualquer um pode se enganar/você foi comum, pois é, você foi vulgar”), dizem que feita para a Elis Regina cantar para o Ronaldo Bôscoli, ou vice-versa.

* “O teu corpo” (acho que o titulo é este, ah meus neurônios) do Roberto e do Erasmo.

* “Coisas do mundo, minha nega”, Paulinho da Viola.

* “Pressentimento”, Elton Medeiros

* “Sobre todas as coisas”, Chico Buarque e Edu Lobo

* “Saudades da Guanabara” , Moacyr Luz, Aldir Blanc e Paulo César Pinheiro

* “Senhorinha”, Guinga e Paulo César Pinheiro (pra mim a coisa mais bonita feita no Brasil depois das Bacchianas do Villa-Lobos e da Patricia Pillar.)

* “Antonico”, Ismael Silva.

* “Passarim”, Antonio Carlos Jobim.

Uau! Agora é Black Bloc in Rio! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 15/08

Agora é Black Bloc in Rio: os quebra-quebras acontecerão no Leblon, com transmissão ao vivo pela Mídia Ninja


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Manchete do Piauí Herald: "Roberto Medina anuncia o Black Bloc in Rio". Rock in Rio já era. Agora é Black Bloc in Rio: os quebra-quebras acontecerão no Leblon, com transmissão ao vivo pela Mídia Ninja.

Meia-entrada para estudantes, tiozões roqueiros (aqueles carecas com rabo de cavalo) e vândalos apartidários!

E o chargista Aroeira lança a nova pesquisa eleitoral no Rio: "Fora Cabral, 49,3%. Sai Cabral, 27,9%. Some Cabral, 18,5%. Rua Cabral, 4,3%". Aí o povo mandou o Cabral pra PQP. E ele foi: Paris, Querida Paris! Rarará.

E essa do RedatorBipolar: "Sírio Libanês Urgente: Sarney arruma cargo público para a bactéria, ela voa pra Brasília e ele melhora". Rarará!

E a coletiva-confessionário do Alckmin? "Não existe cartel só em São Paulo". Tradução: se todo mundo rouba, a gente pode roubar! Fico muito aliviado sabendo que não tem roubo só em São Paulo. "Vou processar a Siemens."

Comentários: "Se a moda pega, o Maluf vai processar todas as construtoras que deixaram ele rico". "Se a moda pega, o Cabral vai processar a Delta". "O Alckmin processando a Siemens é como se a minha mulher pegasse marca de batom na minha cueca e eu processasse o puteiro". Rarará!

Moral do metrô: chega de vagão velho e trilho podre!

E a novelha "Amor à Vida"? Ops, "Trepar a Vida"! Ops, "Amor à Bimba"! Diz que quando o César nasceu, quem levou tapa na bunda foram as enfermeiras. Rarará.

E o Malvino Salvador nessa novela está com duas expressões: olho aberto e olho fechado! Alguém tem que entrar em cena e apertar o saco dele pra ver se ele expressa alguma reação! Rarará! Scooby Doo School of Acting. Cigano Igor Style. Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

O Brasil é Lúdico! Olha a faixa em Vitória da Conquista, Bahia: "Restaurante Bem Bolado! COMA-SE a vontade!". Vou recomendar pro Feliciano! Rarará.

E essa placa em Pirenópolis, Goiás: "Vende-se CISNEIS". Tá certo, "cisneis" é muito mais chique. Parece aquela minha amiga que foi pra Minas comprar obras do Aleijadérrimo! Rarará.

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Como conseguem? - CARLOS ALBERTO SARDENBERG

O GLOBO - 15/08

Uma ironia: a ‘nova matriz’ do governo, alardeada pela presidente Dilma, se baseava em juro baixo e dólar caro, para ter crescimento elevado


É embaraçoso para o governo Dilma: como dizer que o automóvel particular a gasolina agora é o bandido, depois de ter passado anos dando-lhe tratamento de rei?

Não é modo de dizer. Os carros tiveram seus preços abatidos, via redução de impostos, e as montadoras locais foram apoiadas com proteção e financiamento subsidiado para aumentar a produção. Os compradores também foram brindados com enorme ampliação do crédito — nada menos que R$ 52 bilhões concedidos nos últimos dois anos.

De presente extra, a gasolina com o preço congelado e contido, para segurar a inflação e evitar a bronca dos motorizados.

Agradecidos, os brasileiros, especialmente os da nova classe média, foram à luta, quer dizer, aos bancos e concessionárias, e cumpriram sua obrigação de apoiar o crescimento do PIB. Saíram de carro por aí.

Infelizmente, a Petrobras não conseguiu entrar na festa. Sua produção de petróleo estagnou, as refinarias não deram conta da demanda, as novas refinarias estão atrasadas, de modo que a estatal precisou importar cada vez mais gasolina. E a preços não brasileiros, claro.

Não é de estranhar que o resultado tenho saído muito errado. A inflação continuou elevada e o crescimento permaneceu muito baixo. Sempre se pode dizer que tudo teria sido pior com a gasolina e os carros mais caros. Mas pior comparado com o quê? De todo modo, o fato é que muitas outras coisas também deram errado. A Petrobras, perdendo receita, sendo obrigada a vender gasolina mais barato do que importa, teve que se endividar. E as ruas ficaram congestionadas, pois não se investiu na infraestrutura necessária para acolher os carros e abrir caminhos para o transporte coletivo.

Como consertar isso, considerando ainda mais que a Petrobras precisa de dinheiro, muito dinheiro, para o pré-sal? E lembrando que o dólar caro veio para ficar?

Claro, precisa aumentar o preço da gasolina para turbinar as receitas da estatal. Quanto? Se for apenas para equilibrar o preço atual, pelo menos 20%. Se for para recuperar perdas passadas, uns 30%.

Mas isso jogaria a inflação de novo para cima do teto da meta — 6,5% — e provocaria uma justa bronca na classe média. Qual é? Não era para comprar carro?

Que tal, então, um aumento moderado para a gasolina e para o diesel? Ruim também. Talvez pior. Provocaria inflação de qualquer jeito — pois o índice está rodando em torno do teto —, não resolveria o caixa da Petrobras e deixaria todo mundo aborrecido.

E, para complicar, tem mais essa proposta do prefeito de São Paulo, Fernando Hadad, de colocar um imposto de 50 centavos por litro de gasoloina e usar todo o dinheiro para subsidiar e reduzir tarifas de ônibus. Para efeitos de índice de inflação, a redução da tarifa compensaria a alta da gasolina, mas vá explicar para o pessoal que está tudo bem com a gasolina a R$ 4,20.

Imaginem o impacto psicolólogico e social, pois a gasolina subiria em dose dupla, uma para a Petrobras, outra para os ônibus. E, como estes passam a ter prioridade, os brasileiros que micaram com os carros pagarão mais caro para ficar em congestionamento mais demorado.

Como o governo pode ter se equivocado tanto?

Seria uma pergunta cabível se o resto estivesse funcionando. Mas considerem apenas o que tem saído na imprensa nos últimos dias.

As usinas de Jirau e Santo Antonio, em construção no Rio Madeira, vão gerar uma carga de energia que não pode ser levada pela linha de transmissão projetada. Simplesmente queimaria tudo. A linha é insuficiente. Sabe-se disse desde 2010 — e ainda estão discutindo para descobrir de quem é a culpa.

Mas deve estar sobrando energia, não é mesmo? Usinas eólicas estão prontas e paradas há um ano, por falta de linhas de transmissão.

Há uma guerra judicial no setor elétrico, com o governo tentando empurrar para empresas a conta da energia produzida nas usinas térmicas.

Há milho para ser estocado, uma superprodução, e armazéns da Conab fechados por falta de manutenção ou porque estocam milho... velho.

Na política econômica, o Brasil é o único país importante que está subindo juros. É também o único emergente de peso que não pode se aproveitar do momento internacional para deixar a moeda local se desvalorizar o tanto necessário para dar muita competitividade às exportações.

Uma ironia: a “nova matriz” do governo, alardeada pela presidente Dilma, se baseava em juro baixo e dólar caro, para ter crescimento elevado. Pois, no momento em que o dólar sobe sozinho, por conta dos EUA, o BC brasileiro tem que elevar os juros e tentar segurar o dólar para controlar a inflação. E lá se vai o PIB.

Uma ironia pedagógica, se é que conseguem aprender com tantos equívocos.

Tarifas represadas - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 15/08

Todas as decisões de política econômica são tautologicamente políticas. Quando se tornam puramente eleitoreiras e atentam contra a racionalidade econômica, produzem distorções que, mais cedo ou mais tarde, se voltam contra quem as tomou.

Na edição de ontem esta Coluna concentrou seu foco sobre as distorções provocadas por uma dessas decisões eleitoreiras, o do represamento dos preços dos combustíveis, especialmente da gasolina. As duas principais distorções, entre as inúmeras que daí decorrem, são a deterioração da capacidade de investimento da Petrobrás e o aumento artificial do consumo de gasolina que, por sua vez, desestimula a produção de etanol, ajuda a travar o trânsito das grandes cidades e pressiona a balança comercial porque aumenta as importações infladas pela chamada conta petróleo. Mas esses não são os únicos preços represados pelo governo. O gráfico mostra como os preços administrados vêm sendo contidos em relação aos outros.

Apenas para tirar a poeira da memória, tarifas e preços administrados ou monitorados são aqueles cujos reajustes dependem de regras prefixadas ou de decisão do governo. Contrapõem-se aos preços livres, que são determinados pela lei da oferta e da procura. Os principais preços administrados são os do gás encanado, transporte coletivo, água e esgoto, planos de saúde, combustíveis, pedágio, remédios e energia elétrica. Pelos cálculos do Banco Central, têm um peso de 23,3% na cesta do custo de vida (IPCA).

No ano passado, sob alegação de que era preciso reduzir custos de produção e conter a inflação, a presidente Dilma determinou a redução de 20% dos preços da energia elétrica. Em princípio, as concessionárias teriam de absorver a diferença. Depois se viu que sobrariam R$ 6,7 bilhões sem cobertura nos próximos quatro anos. A primeira decisão foi descarregar essa conta sobre receitas a receber da Itaipu Binacional. Depois se viu que a medida produziria complicações jurídicas. Agora, imagina-se que o Tesouro tenha de engolir o prejuízo. Ou seja, o governo inventou mais um subsídio a ser descarregado sobre o contribuinte.

Outro subsídio apareceu nas contas do transporte coletivo. No início deste ano, para evitar mais uma tacada da inflação, o governo negociou com alguns governadores e os prefeitos das principais capitais o adiamento para maio do reajuste do transporte coletivo. Quando saiu, em maio, foi o choque que mobilizou as manifestações de junho. Pressionado, o governo decidiu desistir dos reajustes. Governos estaduais e prefeituras tiveram de absorver a diferença. De cambulhada, foram também removidos reajustes de alguns pedágios. E, assim, a conta dos subsídios cresceu e, com ela, criaram-se distorções de todo tipo.

Na Argentina, a presidente Cristina Kirchner elevou ao paroxismo a prática do represamento dos preços administrados, que lá são quase todos. A conta política veio domingo passado, com a paulada das urnas.

Mais cedo ou mais tarde, esses desvios populistas da presidente Dilma produzidos com o desrespeito às regras da economia também lhe serão cobrados. Falta saber como e quanto.

Menos gasolina, mais ônibus - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 15/08

Projeto de prefeitos de baixar preço do ônibus exige que governo reinvente política de combustíveis


PREFEITOS de cidades grandes, entre eles Fernando Haddad, de São Paulo, querem que o governo federal repasse para as prefeituras o dinheiro de um tributo que servia, em tese, para atenuar a variação do preço dos combustíveis e, em teoria, para financiar melhoria no transporte público. A ideia, em tese e teoria, é boa, em termos sociais e ambientais.

Na prática e na política, porém, sua implementação é um problema.

O tributo é a Cide, Contribuição para a Intervenção no Domínio Econômico. Desde junho de 2012, está zerado, pois o governo quer evitar alta de combustíveis e inflação.

A Cide existe desde 2001. Na prática, serve para reduzir a variação do preço dos combustíveis. Se o preço de mercado da gasolina, que é internacional, sobe, o tributo pode cair, e vice-versa. O governo podia assim compensar a variação do preço internacional com a contribuição, regulando o preço doméstico.

Para usar bem o instrumento, seria preciso reajustar os combustíveis quando fosse ultrapassado certo limite de variação do preço internacional. De outro modo, se o preço mundial continuasse a subir e o doméstico ficasse "tabelado", o tributo teria de cair a zero, perdendo eficácia e função, como agora.

Isto posto, se o dinheiro da Cide cair no cofre das cidades, o governo ficará sem instrumento de atenuar a variação do preço mundial da gasolina, por exemplo. Cada pulo do preço mundial seria sentido diretamente pelo consumidor final.

Pode ser boa coisa: consumiríamos de acordo com o preço "correto". Pode ser ruim: variações excessivas e frequentes podem criar certa desordem numa economia como a brasileira; é provável ainda que, como agora, o governo relutasse em autorizar aumentos, criando ainda mais problemas.

O governo poderia repassar apenas parte da Cide para as prefeituras, uma "parcela fixa", o que reduziria o efeito pretendido pelos prefeitos: baixar as tarifas de ônibus e os gastos com subsídios.

A conversa sobre tributos não pega bem, mas no caso é conveniente.

Como lembra o economista Paulo Rabello de Castro, um "imposto módico" sobre combustíveis fósseis (como diesel e gasolina) também compensa parte dos danos ambientais e sociais (congestionamento) causados pelo uso do transporte individual, um custo que não está no preço de mercado dos combustíveis.

De resto, gasolina e diesel mais caros incentivam o uso do etanol, o que tem benefícios ambientais e econômicos (temos um parque agroindustrial e tecnológico muito importante no setor).

Relembre-se que a Petrobras ora perde dinheiro com a importação de gasolina, vendida abaixo do preço por aqui (o país não tem refinarias suficientes; as novas estreiam apenas a partir de 2014, se tanto). Menos receita, menos investimento. Mas o problema não para aí, como observa Rabello de Castro: fica prejudicado também o crédito da empresa, que "é induzida a buscar recursos no BNDES. Assim se reduz a oferta de crédito para todas as demais empresas brasileiras".

Para que a proposta dos prefeitos dê certo, sem criar problemas novos, o governo teria de mudar sua política de combustíveis inteira (e não só). Ou criar uma, pois a atual é uma sucessão de remendos que distorcem o mercado com o fim apenas de maquiar a inflação.

Tri legal - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 15/08

Haverá um oásis de notícia boa para o governo na área onde ele mais tem se aborrecido: o crescimento econômico. Nada que resolva o problema que aprisionou o governo Dilma no baixo PIB, mas pelo menos vai ser possível comemoração. No dia 30 de agosto, quando sair o PIB do segundo trimestre, o número será melhor do que o do primeiro e maior do que o esperado.

Alguns economistas estão prevendo um número perto de 1% para o crescimento do trimestre, mais forte que o 0,6% do primeiro período. Segundo Monica de Bolle, há dois destaques nesse resultado.

- Pelo lado da demanda, a melhora do investimento; pelo lado da oferta, a melhora da indústria. O que decepcionou no primeiro trimestre virá melhor no segundo.

A MB Associados acha que pode ser de 1,1% o crescimento do segundo trimestre em relação ao primeiro. "A grata surpresa deve ter vindo da indústria, que deu sinais de recuperação", escreveu o economista Sergio Vale, no boletim da consultoria.

A FGV está mais pessimista e calcula que o primeiro trimestre será revisto para 0,7% e o segundo ficará em 0,6%. Mas a economista Silvia Matos diz que a "qualidade" do crescimento foi melhor do que no primeiro período. No começo do ano, tinha sido muito puxado pela agricultura. No segundo trimestre, o desempenho tanto da agricultura quanto da economia foram bons.

Seja qual for o número, a expectativa é boa em relação ao período de abril, maio e junho. Mas a mesma unanimidade é a de que esse crescimento não é ainda o início da retomada. Os primeiros sinais do terceiro tri são de que será o pior período do ano. Ninguém duvida que o governo vai comemorar como prova de que todos os alertas e críticas foram equivocados.

"A sensação do "agora vai" está pronta para tomar Brasília de assalto novamente", escreveu Sergio Vale. Há razões políticas e econômicas para cautela. "Na política, o foco tem sido aumentar os gastos. Os desencontros constantes da presidente com a política paralisam qualquer decisão que poderia ser relevante. Nota-se que a agenda das concessões está cada vez mais atrasada", diz a MB Associados.

Monica de Bolle não acredita que o crescimento se sustentará, mas já espera para ouvir a comemoração.

- Se a projeção se confirmar, o PIB anualizado ficaria em 4%. O governo vai fazer um enorme estardalhaço com esse número, marketing, mas o problema é que a situação piorou no terceiro trimestre, o cenário já é outro: a economia parou, e a tendência é de piora.

O terceiro trimestre está pelo meio, mas já saíram alguns números negativos.

- O terceiro trimestre não está bom, os números são fracos, as conversas com empresários confirmam isso. O consumo está se retraindo, o mercado de trabalho não tão bom, a renda crescendo menos e os consumidores continuam endividados. A tendência para a consumo é perder fôlego e, com o investimento baixo, a situação fica mais difícil - disse.

Para Silvia Matos, da FGV, o segundo trimestre pode ser o da indústria. Ela prevê que o setor terá um "expressivo crescimento", de 1,6% em relação ao trimestre anterior, quando havia encolhido 0,3%. Já a agropecuária teria crescimento de 1,9% no segundo trimestre (contra o tri anterior), e serviços, de 0,4%. Pelo lado da demanda, ela vê alta de 0,8% no consumo das famílias, de 1,2% no consumo do governo, de 1,6% nos investimentos, exportações crescendo 6% e importações, 3,2%.

O governo aposta que esse segundo trimestre ajudará a inverter o clima de pessimismo dos empresários. E que as concessões vão consolidar um novo nível de confiança. Por isso, o governo prepara para bater bumbo no dia 30 de agosto.

Vocação para o crescimento - MARCELO MITERHOF

FOLHA DE SP - 15/08

Crescimento, inclusão social e industrialização são faces de uma mesma vocação que o Brasil precisa atender


Gosto da palavra "vocação". Em sua acepção mais usual, quer dizer "ser talhado para algo". Mas sua etimologia indica um outro sentido original, o de atender a um chamado. A associação entre uma coisa e outra tem origem religiosa: vocação significa atender a um chamado interno, que revela a inclinação para o sacerdócio.

Um país continental e populoso, como o Brasil, que ainda tem renda média e mal distribuída, tem "vocação para o crescimento" porque crescer não apenas é algo que deve ser relativamente fácil de acontecer como também é um chamado que precisa ser atendido para transformá-lo num lugar melhor de viver.

A importância do crescimento foi tratada na coluna "Crescer é se desenvolver", de 11/10/2012. Hoje o objetivo é discutir as possibilidades e os limites desse objetivo.

Crescer deve ser fácil porque o Brasil depende primordialmente de seu mercado doméstico para colocar isso em prática. Basicamente, o gasto público --tanto em investimento em infraestrutura quanto em despesas correntes associadas ao estado de bem-estar social-- é capaz de promover um mecanismo de multiplicação da renda que gera demanda --por TVs, computadores e outros itens básicos do consumo moderno que nem sempre toda a população tem acesso-- e, por consequência, também empregos no setor privado.

Esse crescimento impulsiona o investimento, que faz a produtividade se elevar para fazer a produção atender ao maior nível de demanda, mesmo a pleno emprego. Conhecido como lei Kaldor-Verdoorn, tal mecanismo aponta a produtividade como variável pró-cíclica, isto é, aumenta como resultado do crescimento do PIB.

Isso não significa que o gasto público criou o moto-contínuo. Nos termos do xadrez, a moeda fiduciária (sem lastro) conferiu ao Estado o poder de "jogar com as brancas". Claro, o gasto público deve ser direcionado para itens que favoreçam os aumentos de produtividade, como para a infraestrutura, para o Estado de bem-estar social e para apoiar o sistema nacional de inovação.

Mais importante é que, num país em desenvolvimento, a autonomia do gasto público é particularmente poderosa porque a disponibilidade local e global de equipamentos e tecnologias mais eficientes que as utilizadas por grande parte de suas empresas torna mais fácil a obtenção dos ganhos de produtividade. Não à toa, a limitação ao crescimento, como historicamente aconteceu no Brasil, é dada pela disponibilidade de divisas internacionais necessárias para financiar os investimentos.

Porém, com o nível de reservas cambiais brasileiras, esse não é hoje um obstáculo tão grande, mesmo com o crescimento recente do deficit em transações correntes. O problema é que os mesmos estímulos que permitiram o acúmulo de reservas também levaram à apreciação do real, afetando a competitividade da indústria, que não tem absorvido plenamente os estímulos da formação do mercado de consumo massivo. A recente depreciação cambial deve ajudar a corrigir o problema.

Entretanto, um câmbio mais bem posicionado não é suficiente. O Brasil precisa retomar o processo de industrialização, investindo nos itens que mais geram deficit comerciais: química, bens de capital e tecnologias de informação e comunicação.

A tarefa é dura e envolve riscos. Empreendê-la não significa repetir exatamente o que foi feito no século 20. Por exemplo, o papel indutor do Estado seguirá relevante, mas com menor presença de estatais. Embora o mercado externo não vá ser o principal vetor do desenvolvimento, ele deve ter um papel mais atuante, pois é o melhor parâmetro de competitividade.

A industrialização brasileira no século 20 não foi totalmente bem-sucedida, pois o país não foi capaz de tornar autônomo seu desenvolvimento industrial, fazendo a inovação ser instrumento crucial da busca do lucro pelas empresas nacionais.

No entanto, houve, sim, transformação estrutural, o que é fundamental para a sustentação do crescimento e a geração de mais e melhores empregos.

Hoje, a novidade é que a inclusão social tem ajudado a resolver problemas que marcaram a industrialização no século, como os de escalas produtivas incompatíveis com tamanho do mercado interno.

Crescimento, inclusão social e industrialização são faces de uma mesma vocação que o Brasil precisa atender.

FLÁVIA OLIVEIRA- NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 15/08

Manifestações afetaram 35% das empresas
FGV investigou impacto dos protestos nos negócios. Comércio, com 46,7%, foi o setor que mais sentiu

As manifestações populares de junho e julho afetaram (negativamente) 35,2% das empresas consultadas pelo Ibre/FGV nas sondagens ao setor produtivo. A Fundação Getulio Vargas consultou 5.700 companhias de quatro setores sobre o impacto dos protestos. A área mais prejudicada pelas passeatas foi o comércio. Quase metade (46,7%) dos empresários consultados (veja o gráfico ao lado) sentiu o efeito das mobilizações populares, que saíram das redes sociais para as ruas. "Varejo e serviços sentiram mais que a indústria e a construção. Muitas lojas tiveram de fechar as portas nas grandes cidades", diz o economista Aloisio Campelo Jr., responsável pelas sondagens empresariais da FGV. A pesquisa também investigou a percepção dos empresários quanto ao desdobramento das manifestações. Dos consultados, 34,3% são otimistas. "Há um sentimento de que os negócios voltarão ao normal, quando os protestos cessarem", explica Campelo. Mas a confiança na economia foi afetada pelos protestos. No período junho-julho, os índices de serviços, indústria, comércio, construção e até dos consumidores voltaram aos menores patamares em dois ou três anos.

ARTES
O Parque das Ruínas, no Rio, serviu de cenário para a campanha de primavera e verão, da Outer Shoes, de calçados e acessórios. Será veiculada na web e nas lojas, a partir de hoje. É produção da Hola Que Tal. Com oito filiais, a marca espera alta de 29% nas vendas.

Mês que vem, lança loja virtual. Deve representar 5% do total comercializado pela rede.

FESTA

A Vivaz, grife mineira de moda festa, lança coleção deverão. Acampanha traz a modelo tcheca Ya na Manakova fotografada por Weber Pádua. Traz peças em tecidos nobres e bordados a mão. Vai circular no site da marca, em catálogo e em revistas.

A estimativa é de aumento de 10% nas vendas.

Pedalada
A Barcas S.A. será intimada a suspender a cobrança pelo transporte de bicicletas. Saiu ontem a decisão da 4ª Vara Empresarial do TJ-RJ. A ação foi movida pelo MP do Rio. “A cobrança não está prevista no contrato de concessão e desestimula o transporte limpo”, diz o promotor Rodrigo Terra.

Sem controle
O descontrole financeiro (50,8%) foi a principal causa da inadimplência no varejo carioca no 2º trimestre, diz o CDL-Rio. Demissão e queda da renda foram citados por 12,9% dos consumidores, cada. Dívidas no cartão levaram 38,6% ao SPC.

Captação
A Geoquasar, de sísmica, iniciou operação de private equity com a Pátria Investimentos. Espera captar US$ 100 milhões. Prestadora de serviços para o setor de óleo e gás, quer se preparar para a demanda gerada pela 11ª Rodada de Licitações.

Quem vem
A DMA United, agência de representação e divulgação de NY, assinou com a gaúcha Supermarcas. Clientes dos EUA poderão ser licenciados por empresas do Brasil.

Quem vai
A BNP Paribas Cardif, braço de seguros do grupo francês, montou joint-venture com o Banco de Pequim. Terá 50% de uma seguradora do ramo vida. A parceria marca a entrada do BNP na China.

Papelão
A Klabin põe em operação, hoje, máquina onduladeira que vai duplicar a capacidade de produção de embalagens de papelão ondulado na fábrica de Goiana (PE). Sairá de 71 mil toneladas ao ano para 146 mil. A unidade de sacos industriais também está sendo ampliada. Produzirá 20 milhões de unidades por mês, até o fim de 2014. É aporte de R$ 94,7 milhões.

Energia
A Orteng, de sistemas e equipamentos elétricos e eletromecânicos, liderou o consórcio responsável pela ampliação da PCH Pery (SC). Abre amanhã. O contrato com a Celesc foi de R$ 75 milhões.

DE MINAS
SKSkunk, outra de Minas Gerais, estreia hoje campanha da coleção de verão.

A modelo Renata Kuerten posou para Antonio Andrade. As imagens sairão em mídias impressa e on-line.

As peças chegam às lojas da rede nasemana que vem.

Dona de cinco unidades, em Juiz de Fora, Rio e Niterói, a grife espera vender25% mais.

BELEZA PURA
O Boticário lança hoje o Clube Viva, plataforma de relacionamento coma clientela. O ambiente na web terá informações sobre beleza e ofertas. O projeto começa pelos clientes do programa de fidelidade da marca. Dia 25, estreia campanha em impressos (foto), TV e internet.

Formação
A Escola de Hotelaria Windsor (São Conrado) pode ganhar filial ainda este ano, na Zona Oeste. É para dar conta da demanda por mão de obra no setor. Em dois anos, a escola formou 600 profissionais.

Contratação
Em 2014, só a rede Windsor vai contratar 700 no Rio, para dois novos hotéis. Prefeitura e Instituto Pertencer são sócios.

Livre Mercado
A Zelo, de cama, mesa e banho, abriu ontem no Plaza Shopping (Niterói). É a 45ª da marca. Investiu R$ 2 milhões.

ResolveAí, aplicativo de busca de táxis, estreia hoje nova versão. É aporte de R$ 30 mil.

O canal Sexy Hotvai distribuir 1.500 adesivos e 1.500 preservativos hoje no Rio.

É ação pelo Dia dos Solteiros.

MAIS BRANCO
A Colgate estreia hoje a campanha promocional do creme dental Luminous White. Consumidores da marca vão concorrer a cinco automóveis Mini Cooper e a cinco cartões de débito com saldo de R$ 20 mil. Assinada pela Bullet Promo, a ação vai até o fim de outubro.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 15/08

Grupo planeja em MS centro logístico de R$ 200 milhões
Um complexo de armazenagem e transporte de bens, como produtos agrícolas e combustíveis, será construído em Campo Grande (MS), com investimento estimado em R$ 200 milhões.

O projeto é da JBens, que atua no ramo de desenvolvimento imobiliário, em parceria com a Cotia Trading, que já tem no país outros empreendimentos de logística.

"Contratamos um estudo de vocação da região e detectamos que há excelente potencial para segmentos como o agronegócio e a distribuição de combustíveis", diz Jorge Judas Manubens, diretor-presidente da incorporadora.

O terminal multimodal será erguido em um terreno de 611 mil m² e terá interligação entre os transportes rodoviário e ferroviário.

Um porto seco também será criado, assim como áreas para uso de transportadoras, como posto de abastecimento e pátio de manutenção.

As obras ficarão a cargo da Somague MPH, que tem como sócias as empresas brasileiras JBens, Halna e EWP e o grupo português Somague.

A construção deve começar até o fim deste ano. O dinheiro virá de recursos próprios, financiamentos e investidores, afirma Manubens.

Entre os tipos de cargas que devem gerar mais fluxo no local estão grãos, como soja e milho, fertilizantes, açúcar e combustíveis.

1,8 MILHÃO
é a estimativa de toneladas que o terminal de cargas planeja movimentar a partir de 2015

2,2 MILHÕES
é a previsão para 2020

Produtividade do Brasil cresce menos do que a de outros países
A produção por trabalhador da indústria brasileira aumenta mais lentamente do que a da maioria dos dez países com os maiores parques industriais do mundo, segundo a CNI (Confederação Nacional da Indústria).

A produtividade do brasileiro cresceu apenas 4% entre 2001 e 2011, o segundo pior resultado na lista. Apenas a Itália obteve um índice menor (0%).

O melhor resultado foi registrado na Coreia do Sul, com um aumento de 86% na década analisada.

Em segundo lugar, estão os Estados Unidos (77%), seguidos pelo Japão (43%).

Os índices da China e da Índia não foram levantados pela pesquisa.

"O baixo desempenho do Brasil resulta de questões de natureza regulatória e problemas associados à formação fraca dos trabalhadores", diz José Augusto Fernandes, diretor de políticas e estratégia da entidade.

A regulamentação do trabalho terceirizado pode colaborar para o aumento da produtividade no país, segundo Fernandes.

"A terceirização estimula a contratação de pessoas mais qualificadas e dá segurança jurídica para as indústrias", diz o diretor.

ÁLBUM DE VIAGEM
A agência de turismo Agaxtur vai inaugurar uma loja modelo na Avenida Paulista, em São Paulo, no próximo mês.

O local terá computadores "touchscreen" que os clientes poderão usar para comparar pacotes de viagem e cruzeiros marítimos.

A unidade terá três consultores para tirar as dúvidas dos interessados.

"Nós alinhamos o mundo digital com o atendimento tradicional do negócio de turismo", diz Aldo Leone Filho, presidente da empresa.

Das sete lojas da agência, quatro vão passar por reforma para se adaptar ao novo conceito de atendimento. A segunda inauguração será em Sorocaba, em outubro.

80 MIL
foram os passageiros que viajaram pela agência em 2012

200
é a quantidade de funcionários da Agaxtur, que tem sete lojas, todas no Estado de São Paulo

Palestra... O diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, faz palestra gratuita hoje na Casa do Saber.

...e pesquisa O evento terá como tema principal as descobertas da ciência no Brasil e no mundo moderno.

Declaração de estrangeiros
O prazo para a entrega do censo de capitais estrangeiros referente ao ano passado termina hoje às 18h.

A declaração deve ser feita pela internet por pessoas jurídicas que possuam participação direta de estrangeiros em seu capital e que tenham patrimônio igual ou superior a US$ 100 milhões.

"É uma forma de o Banco Central mapear o fluxo de investimentos de fora no país", explica Flávia Ferraz, do escritório Machado Meyer.

"Essa coleta é importante porque ajuda o Brasil a formular políticas econômicas", afirma Rodrigo Vieira, do TozziniFreire Advogados.

"Quem não declarar pode pagar multa de até R$ 250 mil dependendo da infração", alerta Bruno Balduccini, do Pinheiro Neto.

Bancos... O ministro Guido Mantega (Fazenda) despachou ontem de seu gabinete em São Paulo, onde conversou com Aldemir Bendini, presidente do Banco do Brasil.

...e concessões Hoje, na pauta de reuniões do ministro na cidade, constam as visitas de Jesús Zabalza, presidente do Santander Brasil desde junho, e, em outro horário, de um representante do Grupo Camargo Corrêa.

Pás... A Mega Máquinas, que distribui equipamentos para as áreas de construção civil, agrícola e mineração, irá investir R$ 30 milhões nos próximos quatro anos na expansão de sua unidade em Barueri (São Paulo).

...em alta Até o final de 2014, a rede em São Paulo estima faturar R$ 100 milhões. A companhia está também presente no Ceará, na Paraíba, em Pernambuco e na Bahia.

As emendas e a eleição - TEREZA CRUVINEL

CORREIO BRAZILIENSE - 15/08
O placar com que foi aprovada em primeiro turno a emenda do orçamento impositivo - 378 votos a favor, 48 contra e 13 abstenções - não deixa dúvidas sobre a determinação dos deputados para impor a mudança. Ela pode atenuar o toma-lá-dá-cá, como tantos disseram, mas outras moedas continuarão sendo usadas nas barganhas entre Executivo e Legislativo, num sistema político que dificulta a formação de maiorias a partir das urnas. Mas a motivação fundamental foi outra, de ordem eleitoral: garantir uma certa equidade, entre os deputados, na distribuição de favores com verbas federais, num pleito em que não será fácil a reeleição de representantes contestados pelas ruas. Com a liberação impositiva, governistas e oposicionistas serão igualmente beneficiados. E entre os governistas, os petistas não levarão a melhor sobre seus aliados.
Falta ainda o segundo turno na Câmara e a votação no Senado mas a mudança é irreversível. O máximo que o governo pode conseguir, no Senado, será a destinação de 50% do valor global das emendas individuais (mais de R$ 6 bilhões) a projetos na área da Saúde. Efetivamente, o Congresso tomou da presidente Dilma Rousseff o controle sobre 1% das receitas liquidas correntes da União. Mesmo beneficiando a população, esta fração do orçamento está destinada a beneficiar o velho modo de fazer política, o de domesticar clientelas eleitorais com a distribuição de favores.

Quando a emenda chegar ao Senado, o governo tentará garantir a destinação dos 50% à Saúde, o serviço público mais criticado pela população. Mas, num segundo momento, acabará recorrendo ao Supremo. "Não tenho dúvidas de que esta medida será considerada inconstitucional mas aqui, no Senado, vamos tentar apenas racionalizar o assunto, garantindo a metade para a saúde", diz o líder do PT no Senado, Wellington Dias. Na terça-feira, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, falará às bancadas do PT, PSB, PC do B, PDT e PSol sobre o programa Mais Médicos e outras ações de sua pasta, tentando demonstrar o quanto poderia ser feito com 50% das emendas. Destes partidos de esquerda, terá apoio. Mas os outros, aceitarão abdicar da ponte, da quadra de esportes e outras obras mais visíveis, ainda que menos relevantes? A ver.

Fato é que, mesmo tendo um aspecto positivo, ao acabar com o uso das emendas como arma de premiar ou punir, pelo Executivo, a mudança mitiga o poder presidencialista. A nova regra para apreciação dos vetos - que passam a travar a pauta de votações 30 dias depois de publicados - também reduzirá o conforto do presidente, exigindo negociações mais cuidadosas com o Congresso, antes mesmo do envio de projetos. Pois aqueles que, de antemão, enfrentam grandes resistências, acabarão sendo mudados, levando ao veto e à conseqüente derrubada. No caso de Dilma, o desconforto aumenta porque a base, embora venha se recompondo aos poucos, dificilmente voltará a ter o tamanho que já teve.

Mensalão: faltava dizer
A partir do 2005, e passando pelo julgamento do ano passado, seria chamado de "defensor de mensaleiros" todo aquele que ousasse apontar a relação entre o chamado mensalão e o sistema político nefasto que temos. Tudo não passara, afinal, de malfeitoria do PT. Finalmente ontem, em sua estreia no caso, o ministro Roberto Barroso, disse o que a corte também evitou dizer. Possivelmente não tenha sido aquele o maior escândalo, mas com certeza foi o mais investigado da história. Não se trata de um caso único e isolado, mas inserido na tradição que vem de longe. "Se não houver reforma política, tudo vai acontecer de novo. A distinção se dará apenas entre os que foram pegos e os que não foram." O PT, neófito no poder, se deixou pegar. A "catarse" com o julgamento, disse ele ainda, foi sinal da fadiga nacional com o sistema, que este ano estourou nas ruas. Catarse que o tribunal estimulou, ele não disse, com o julgamento-espetáculo.

Um dos grandes arrependimentos do PT é o de não ter se empenhado pela reforma política em seus 10 anos no poder. "Foi um erro, aceitamos as regras do jogo que condenávamos, mas agora vamos enfrentar a reforma", diz o líder Wellington Dias. PT e aliados voltarão a insistir no plebiscito. Mas, para 2014, agora é tarde.

O outro mundo
Em evento sobre mídias digitais, promovido ontem pela Oficina da Palavra, o pesquisador Fabio Malini, do Labic/UFES, impressionou a plateia de jornalistas, gestores e assessores políticos com suas demonstrações sobre a dinâmica das redes sociais, a força e a rapidez com que se formam alinhamentos em torno de uma mensagem ou idéia. Se os partidos não entrarem para valer neste mundo, vão perder o bonde e os votos.

O ocaso das CPIs
Já não se fazem CPIs como antigamente, quando era certo que alguém morreria no final. A primeira em que houve um acordo de mútua-proteção foi a do Banestado. A dos Correios massacrou o PT mas na do Cachoeira tucanos e peemedebistas fizeram o acordo que salvou os governadores Cabral e Perillo. Agora vem a CPI mista do Cartel da Siemens. Se for para terminar em acordo, poderiam nos poupar.

Operação resgate - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 15/08

Em encontro reservado ontem em Brasília, Dilma Rousseff e Lula elegeram a recuperação da popularidade de Fernando Haddad como prioridade absoluta. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, os dois concluíram que a capital paulista é um reduto fundamental para a reeleição da presidente em 2014. A operação petista tem como eixo principal a imersão de Dilma em São Paulo, por onde ela passará novamente no dia 23, para evento sobre financiamento estudantil.

Lua de mel A relação entre Dilma e Haddad esfriou no auge dos protestos, quando o prefeito hesitou na redução das tarifas de ônibus, defendida pelo governo federal.

Marca Agora, o prefeito aposta na parceria com Dilma para se reerguer. O pacote de reforma educacional do município, que será lançado hoje, foi batizado de "Mais Educação São Paulo", tomando emprestado o nome de um programa do Ministério da Educação.

O que importa Para aliados do prefeito, o fundamental seria que a presidente desse o aval à municipalização da Cide e que o Congresso avançasse com o projeto de renegociação das dívidas.

De olho... Advogados presentes na retomada do julgamento do mensalão no STF se mostravam impressionados com a "coragem" de Luís Roberto Barroso, que disse que aquele não foi o maior caso de corrupção do país.

... no novato Os defensores não arriscavam apostar se ele acolherá ou não a procedência dos embargos infringentes, mas consideraram que deu pistas de que é favorável à revisão das penas de alguns condenados.

Tiririca Os advogados, que demonstravam ceticismo quanto às chances de seus clientes após a onda de protestos de junho, ontem já pareciam mais relaxados: "Pior do que está não fica", atestava um dos mais estrelados.

Offline Recuperando-se de uma cirurgia para correção de uma dissecção da aorta, José Genoino foi proibido pelo advogado Luiz Fernando Pacheco de acompanhar o julgamento dos recursos. Combinaram que, se os ministros decidirem algo relevante, a defesa avisará.

Mãozinha Integrantes do Judiciário relatam que Carlos Ayres Britto trabalha nos bastidores para ajudar Marina Silva a viabilizar a Rede, diante da dificuldade na certificação de assinaturas de apoio nos cartórios.

Azarão Na reta final para o registro da Rede, dirigentes adotaram o grito da torcida do Atlético-MG na jornada que levou ao título da Libertadores: "Eu acredito!".

Pleno voo Depois de almoçar com Beto Richa (PSDB) em Curitiba ontem, José Serra foi a Brasília para mais uma série de conversas sobre o cenário nacional. Hoje, tem encontro marcado com dirigentes do PPS.

Contaminou Conselheiros de Aécio Neves calculam que a denúncia de formação de cartel em licitações de governos do PSDB paulista respinga na candidatura do senador à Presidência porque arranha a imagem da sigla no principal reduto tucano.

Por fora Após derrota na Câmara, o governo recebeu sinal de que o Senado incluirá no texto do orçamento impositivo os 50% para a saúde, como defende o Planalto.

Visita à Folha Paulo Godoy, presidente da Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base), visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Ralph Lima Terra, vice-presidente executivo, e José Casadei, assessor de imprensa.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Renan chama meu discurso de strip tease', mas não costumo deixar as coisas escondidas por debaixo dos panos. Não me cheira bem."
DO SENADOR RANDOLFE RODRIGUES (PSOL-AP), sobre a comparação entre seu desabafo no plenário a um "strip tease público", feita por Renan Calheiros.

contraponto


Nem morto
O ministro Luís Roberto Barroso, primeiro a votar depois de Joaquim Barbosa nas questões preliminares aos embargos do mensalão, concordou em tudo com o presidente do STF, inclusive contra um pedido da defesa de que fosse nomeado outro relator.

--Vossa Excelência não se manifestou sobre um desdobramento da questão, que é que, em caso de acolhimento, a relatoria iria para o senhor -- disse Barbosa, rindo.

--Como disse, não vejo procedência jurídica no pedido. Ainda mais nesse caso. Aí, mesmo se houvesse mérito, eu diria: De jeito nenhum!' -- respondeu Barroso.