domingo, dezembro 11, 2011

Ainda há juízes em Brasília - REINALDO AZEVEDO

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Svetlana, a prisioneira - ROBERTO POMPEU DE TOLEDO

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Recessão é uma política ou efeito? MAÍLSON DA NÓBREGA

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A TRAMA DOS FALSÁRIOS - REVISTA VEJA

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A banalidade do mal - CARTA AO LEITOR

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Retratos da vida - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 11/12/11
Veja como a Justiça, com todo orespeito, às vezes parece tratar mal os filhos deste solo. Em abril, completará seis anos sem desfecho o processo movido pelo caseiro Francenildo Santos Costa contra a Caixa Econômica por ter tido seu sigilo bancário quebrado no episódio da demissão de Palocci, então ministro da Fazenda, em 2006. 

Segue... 

A Caixa já foi condenada a pagar R$ 500mil a Francenildo, que denunciou aatuação de Palocci em suposta corrupção. Mas a Caixa apelou e, desde agosto, a ação dorme no TRF . O advogado WlicioNascimento teme que ainda se arraste por uns oito anos. Francenildo, pai de dois filhos, desempregado desde o escândalo que virou sua vida de cabeça para baixo, vai concluir agora o ensino médio. 

Engana que eu gosto 

Jennifer Lopez, atriz americana, gravou com um grupo de capoeiristas brasileiros cenas do programa “American Idol” numa praia de... Montevidéu. A doidice se deve a... não sei. 

No país da vodca 

A Copa na Rússia será só em 18. Mas a federação local já resolveu o problema da venda de cerveja nos estádios, de olho, é o que se diz lá, numa receita de US$ 15 milhões. Já aqui... 

No mais 

Comentário cafajeste de um parceiroda coluna: “A crise na Europa está tão braba que Sarkozy,mesmo casado coma bela Carla Bruni, tem passado mais tempo com... Angela Merkel.” Com todo o respeito.

Rei do Baião 

Hoje, em Recife, o diretor Breno Silveira (“2 filhos de Fran- cisco”) começa a filmar “Gonzaga de pai para filho”, longa que vai contar a história de Gonzagão e Gonzaguinha. Quem fará o Rei do Baião é o cantor e sanfoneiro Chambinho.

A violência é negra 

Pesquisa do professor Marcelo Paixão, da UFRJ, sobre violência sexual contra mulheres mostra que as negras e pardas são maiores vítimas. De 2009 a 2010, foram 15.994, considerados apenas os casos denunciados. Ou seja, a cada hora, duas negras ou pardas são submetidas a violência sexual. 

Segue... 

Entre as denunciantes, 45% eram negras ou pardas; 40%, brancas; e13% não tiveram a cor declarada na notificação. Entre 2009 e 2010, foram 10.378 vítimas de estupro (49% negras ou pardas, 38%brancas e 12% sem cor declarada). 

E mais... 

No período, 3.045 denunciaram assédio sexual (43% negras ou pardas, 40% brancas e 16% sem cor declarada). As negras e pardas também formaram a maioria das vítimas de pornografia infantil (50,3%) e exploração sexual (51,9%)

Mês dos livros 

Dezembroé feito de Papai Noel e de... livros. Não há nas livrarias do Rio mais nenhuma data disponível para lançamentos este mês. 

Petróleo na Glória 

Sabe aquele edifício da antiga TV Manchete, na Glória, no Rio, projetado por Oscar Niemeyer? Vai se transformar numa espécie de prédio das petroleiras. Depois da norueguesa Statoil, agora é inglesa BP que se mudará para lá. 

Miss no samba 

Leila Lopes, 25 anos, a angolana que venceu o último concurso de Miss Universo, vai desfilar na Vila Isabel. Alinda mulata sairá como “Rainha Zíngara”. 

Polícia no campus 

Quinta passada, um laptop foi furtado dentroda sala de aula de audiovisual do curso de Comunicação da UFRJ. Pertencia à professora. 

MMA na Ilha 

RorionMoraes, 27 anos, filho do conselheiro do TCM José Moraes, envolveu-se numa confusão, sexta, na Ilha, no Rio. Teria sido agredido por dez homens, alguns seriam PMs. Perdeu sete dentes e levou 18 pontos na cabeça. O caso está na 37a -DP. 

Última ceia 

ARádio Cocheira diz que o Jockey do Rio planeja fechar os restaurantes que funcionam em sua sede do Centro para dar lugar a novos salões de festa,mais rentáveis para o clube. A conferir.

Aula de ponta-cabeça - CLAUDIO DE MOURA CASTRO

REVISTA VEJA
"Uma boa ideia que se captializa na existência de comunicadores briIhantes e dispostos a gravar aulas, na Conveniência e ubiquidade do YouTube, somando-se a insubstituível interação pessoa entre mestre e estudante" 


De dois ou três séculos para cá, o jeito das aulas se fixou em uma fórmula clássica: o professor explica e depois, em casa, os alunos fazem o "dever", exercitando o que aprenderam. As variações sobre o tema têm sido mínimas, longe de, serem revoluções. Mas eis que pipoca uma novidade: quem sabe virar a rotina da aula de ponta-cabeça? O aluno aprende em casa e depois vai à aula. Nela, com a ajuda do professor, vai se exercitar no que estudou.

Essa possibilidade e suas muitas variantes sempre existiram, pois nada impede os alunos de abrir seus livros para aprender a lição em casa. Na prática, por ser bem mais árdua, jamais foi uma solução adotada amplamente.

Mas eis que um jovem graduado do MIT, Salman Khan, recebe um pedido de primos, para que explique passagens mais complicadas da matemática. Se estivessem pertinho; ele explicaria pessoalmente, mas, como moravam longe, usou o YouTube para gravar a preleção. Deu certo. Surpresa: deu mais certo do que esperava.

Logo Sal se vê produzindo aulas sobre variados temas de matemática e outros assuntos, conquistando uma freguesia cada vez maior. Bill Gates ficou sabendo e o presenteou com 1,5 milhão de dólares para criar a Khan Academy. O sucesso tem sido espantoso, com seu site (www1hanacademy.org) ultrapassando 60 milhões de acessos para suas 2700 aulinhas de vinte minutos.

O que Khan fez foi mostrar uma porta aberta, levando a muitas soluções no mesmo espírito e não apenas à sua. No YouTube, ou onde quer que seja, pode morar uma aula expositiva, mostrando a matéria, tal como apresentada por um bom professor. Mas, como está gravada, não depende do humor do mestre naquele dia ou da preparação, na véspera, além de poupá-lo da enfadonha repetição, dia após dia. Alguém no mundo deve ser o campeão de ensinar, por exemplo, regra de três. Por que contentar-se com uma aula pior? Faça um experimento. Faça um aluno de boa escola. assistir a uma aula do Telecurso sobre algum assunto que ele já viu ao vivo do próprio professor. Aposto que ele achará melhor e mais clara a do vídeo. Aliás, a fórmula do Telecurso tem essa peculiaridade, pois os alunos olham o vídeo e depois interagem com o professor da telessala.

Desemprego maciço de professores, se der certo? Sob tal cenário, seria fracasso assegurado. Mas não é nada disso. Pelas restrições de tempo de aula, explicar regra de três - ou o que seja - é um processo inevitavelmente unidirecional, só o professor fala. Se o aluno não entendeu a explicação, há pouco tempo para insistir. No YouTube, em casa, continua unidirecional, mas basta clicar para repetir, até entender. Ou seja, a tecnologia serve para congelar a melhor aula possível, sobre qualquer assunto. Quando precisar, está lá, pai-a ser instantaneamente descongelada, na tela do computador. O professor ao vivo é importante na hora de discutir o assunto e tirar as dúvidas. Isso porque na aula expositiva o aluno acha que entendeu. Só descobre que não havia entedido quando precisa aplicar o conhecimento. Sendo assim, se - o exercício vai ser feito na aula a dificuldade emerge justamente no momento em que o professor está presente para ajudá-lo e com amplo tempo para tal. De fato, a graça da fórmula é que o professor passa todo o tempo interagindo com os alunos onde é insubstituível, em vez de desperdiçar a aula repetindo uma preleção estacionada no YouTube, com direito a bis.

A história da educação é uma sequência de fórmulas mágicas que vão sendo anunciadas, com promessas redentoras. Livro, cinema, TV, vídeo, computador, CD e mais outras tantas novidades tiveram suas promessas e, mais adiante, esquecimento. Será esse o destino chocho da minirrevolução desencadeada pelas dificuldades dos primos do Khan? Depois de tantos fracassos, não há como ser excessivamente otimista. Mas a ideia é boa. Capitaliza-se na existência de comunicadores brilhantes e dispostos a gravar aulas, na conveniência e ubiquidade do YouTube, somando-se a isso a velha e insubstituível interação pessoal entre mestre e aprendiz, na hora dé aplicar os conhecimentos. Finalmente, cada ingrediente do aprendizado pode ser usado no seu lugar certo.

GOSTOSA


Gandhi e Confúcio - MERVAL PEREIRA


O Globo - 11/12/11

A Prefeitura do Rio de Janeiro está desenvolvendo um trabalho de complementação do Bolsa Família, sob a coordenação do economista Marcelo Neri, do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas, que mostra como um programa assistencial pode ter, ao mesmo tempo, função educacional relevante, preparando uma futura geração para dias melhores de inclusão social.

O programa concilia a meritocracia social, dando prêmio para aqueles estudantes pobres que aumentaram as notas, com agilidade administrativa, com provas bimestrais aos alunos.

A nota de matemática daqueles programas se equiparou aos demais (era 5% menor), a de Ciências era 4% menor e agora é 5% maior, mas os diferenciais de Português continuaram 4,7% menores, confirmando experiências internacionais, que mostram que a melhoria no estudo da língua é sempre mais difícil, segundo Neri.

A maior inovação educacional do Família Carioca é premiar os alunos pelo desempenho escolar. Os alunos têm que atingir a nota mínima 8 nesses exames, ou aqueles com rendimento insuficiente, com notas até o mínimo de 4, terão que apresentar uma melhora mínima de 20% a cada bimestre, de forma a se habilitar a um prêmio extra bimestral de R$ 50 reais por estudante.

Nesse caso não há limite de prêmios por família, dada a natureza individualizada do prêmio por desempenho escolar. Esses requisitos são diferenciados nas Escolas do Amanhã situadas em áreas conflagradas da cidade.

Outra diferença fundamental, além da exigência de níveis de frequência escolar mínimos de 90%, contra 85% do Bolsa Família, é a exigência da presença de um dos pais, ou do responsável, em reuniões bimestrais nas escolas, numa tentativa, segundo Neri, de aprimorar o respaldo familiar, responsável por mais de 70% dos diferenciais de educação, segundo a literatura empírica.

Como resultado, as reuniões bimestrais aos sábados têm 70% de presença dos pais dos garotos com cartão contra 30% da presença dos demais.

Outra diferença nessa direção é que cada um desses benefícios não são fixos, mas proporcionais à insuficiência de renda estimada das famílias em relação à linha internacional.

A linha de pobreza do Família Carioca é de R$ 108 por mês por pessoa, o que corresponde aos dois dólares por dia da linha de pobreza mais generosa da primeira meta do milênio da ONU.

A meta da prefeitura é a redução da pobreza à metade no quarto de século terminado em 2015, entre a Copa de Mundo e as Olimpíadas.

Marcelo Neri destaca outra inovação do Família Carioca: a ênfase dada à educação na primeira infância, que tem se mostrado como determinante no desempenho escolar e social futuro.

Como os desafios de cobertura estão presentes nesta faixa etária, Neri explica que se optou por inverter os termos de oferta nesta faixa, privilegiando as famílias mais pobres presentes no Cadastro Único na alocação de crianças em creches e pré-escolas da cidade, assim como no programa Primeira Infância Carioca (PIC), com atividades complementares para aqueles que não obtiveram vagas na rede municipal.

A presença dos pais em reuniões bimestrais também é parte das condicionalidades nesta faixa etária. O programa do município do Rio de Janeiro dá um benefício básico, e até três benefícios por família, “número máximo de forma a evitar incentivos à natalidade”, ressalta o economista Marcelo Neri.

De maneira geral, se todas as condicionalidades e os prêmios forem concedidos, o Família Carioca transferirá R$ 122 milhões por ano para 98 mil famílias compostas de 421 mil pessoas, sendo 56,7% menores de idade.

Famílias já contempladas pelo Bolsa Família com R$ 95 médios mensais receberão ainda do Família Carioca um benefício médio de R$ 104 por mês, composto de R$ 70 de benefícios básicos e condicionalidades e mais R$ 34 de prêmios educacionais.

Os benefícios totais variam de acordo com a pobreza e o desempenho escolar, indo do piso fixado de R$ 20 até R$ 417 por mês por família beneficiada, 80% delas das Zonas Oeste e Norte, as mais pobres da cidade.

Só em Santa Cruz o programa levaria benefícios a 53 mil pessoas. Nos complexos gêmeos da Penha e do Alemão são 52 mil pessoas.

O valor médio é de R$ 105 por mês, e com o Bolsa Família, o benefício médio por família poderia chegar a R$ 200.

Marcelo Neri destaca que um dos pontos básicos para a implantação do programa foi a integração dos cadastros municipal e federal para identificar os pobres cariocas assistidos pelo Bolsa Família.

O sistema de pagamento do Família Carioca se utiliza do acervo de informações do Cadastro Social Único para, segundo Marcelo Neri, “captar, na definição do seu público-alvo, múltiplas dimensões da vida dos pobres, desde o acesso a outras transferências de renda e serviços públicos, configuração física da moradia, educação e trabalho de todos familiares, a presença de pessoas vulneráveis com deficiência, grávidas, lactantes, crianças”.

Primeiro estima a renda permanente das pessoas a partir desse conjunto de informações, para depois completá-la até a renda mínima fixada, “dando mais benefícios a quem tem menos, tratando os pobres na medida de suas diferenças”, segundo Neri.

A busca dos mais pobres dos pobres é facilitada pelo uso da renda estimada a partir de ativos e carências, e não da renda declarada pelas pessoas.

A equipe da Fundação Getulio Vargas utilizou para medir o impacto sobre a pobreza presente um índice denominado P2,segundo Neri o “favorito de nove entre dez especialistas por enxergar na bruma das carências a desigualdade entre os pobres”.

A previsão é que o P2 no universo de beneficiários vai cair instantaneamente 80% a partir do primeiro pagamento do Família Carioca, a um custo de menos de 0,7% do orçamento público da cidade.

Para Marcelo Neri, a exigência de maior frequência dos alunos, a presença dos pais nas escolas, a inclusão da educação da primeira infância e os prêmios-extras por desempenho escolar “farão com que a maior renda dos pobres hoje seja seguida de novos horizontes de riqueza”.

O Família Carioca é um programa de renda mínima que conjuga, na definição de Marcelo Neri, as máximas de Mahatma Gandhi e de Confúcio: chegar aos mais pobres dos pobres, dar mais a quem tem menos; e não dar apenas o peixe a quem é pobre, mas ensinar os seus filhos a pescar.

Temporada de romarias - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 11/12/11


A largada de 2014 estará em jogo em 2012 tanto na política quanto na economia. Por isso, Aécio se movimenta e os petistas não saem da casa de Lula

Quem prestou atenção aos movimentos da política nos últimos dias já tem uma ideia de quem distribuirá as cartas na sucessão municipal do ano que vem. Da parte da oposição, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) aproveita esse restinho de 2011 para dar alguns passos à frente do ex-governador de São Paulo José Serra, o outro pré-candidato do PSDB. No PT, é Lula.

O primeiro gesto solo de Aécio rumo à candidura foi um almoço com o Democratas na última sexta-feira em Salvador. Ali, ele se colocou claramente como pré-candidato a presidente da República. Conclamou tucanos e Democratas a recuperarem o legado do governo Fernando Henrique Cardoso “abandonado nas últimas campanhas”. Ou seja, fez uma crítica direta a José Serra e ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, candidato a presidente em 2006.

Antes de chegar à Bahia, Aécio telefonou para o vice-presidente de Pessoa Jurídica da Caixa Econômica Federal, Geddel Vieira Lima, e pediu a ele que fosse ao almoço. Geddel compareceu. Afinal, é amigo de Aécio há muito tempo. De Salvador, Aécio seguiu para Natal, onde participou do aniversário do líder peemedebista, Henrique Eduardo Alves.

Aécio está fazendo exatamente aquilo que se propôs: percorrer o país animando tucanos e aliados. A romaria começou bem. Seus amigos dizem apenas que ele não pode parar. Senão, corre o risco de seus adversários internos começarema achar que Aécio não deseja a candidatura pra valer, como já ocorreu em outras oportunidades.

A sorte do senador é que o principal adversário interno, José Serra, está hoje enfurnado na sucessão paulistana. Serra não convence mais ninguém de que não será candidato a prefeito e assim deixa o caminho mais livre para Aécio percorrer o país semeando o futuro.

Enquanto isso, em São Bernardo…
Da mesma forma que Aécio busca o PSDB, os petistas procuram Lula. Não passa uma semana sem que o petista-mor receba amigos para tratar de eleição e cenários futuros. A romaria já foi feita por senadores, deputados, governadores, prefeitos.

Engana-se quem pensa no ex-presidente abatido, sem falar. Nos últimos dias, a irritação com os enjoos decorrentes da quimioterapia foi substituída por uma alegria só. As pesquisas internas do PT indicam que a popularidade de Dilma Rousseff vai de vento em popa em São Paulo, onde Aécio Neves não é tão conhecido. Isso, calcula o ex-presidente, soa como um jingle para a campanha de Fernando Haddad na eleição do ano que vem e para a própria Dilma no futuro.

Lula está cada vez mais convencido de que Eduardo Campos, ainda que seja candidato a presidente, somado a Cid Gomes, do Ceará, consegue, com Jaques Wagner da Bahia, e Marcelo Déda, de Sergipe, evitar que os nordestinos migrem com seus votos para a oposição. Ele também acredita que a oposição sairá com ampla vantagem de Minas Gerais, estado que Aécio governou por oito anos. Isso leva a disputa eleitoral de 2014 para São Paulo, onde as brigas internas do PSDB repercutem mal, e para o Sul do país. Por isso, o PT não deixará ainda de lançar candidato em Porto Alegre, e ficará muito atento ao Paraná, estado que o PSDB de Beto Richa comanda com o apoio do PSB na prefeitura de Curitiba.

Lula recebe os petistas dizendo que é hora de deixar o tabuleiro minimamente organizado para o futuro. Aécio vai atrás do PSDB tentando montar seu time. A largada de 2014 estará em jogo em 2012, tanto na política quanto na economia. Afinal, se os indicadores econômicos minguarem — e por enquanto nada indica que estamos livres de um tornado nesse campo — será na politica que o PT tentará se segurar.

Em tempo: até agora, o programa e os comerciais do PT na TV não exibem mensagens de políticos dos partidos aliados. Não é à toa que Aécio Neves começa a procurar o PMDB. Afinal, em política os gestos falam mais do que muitas palavras.

Enxugando gelo - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 11/12/11


A presidente Dilma não tem simpatia pela proposta de fusão de ministérios. "Meu problema não é esse, não é redução de ministérios", disse a presidente a auxiliares. Um deles explica: a fusão das secretarias, como a da Igualdade Racional e a das Mulheres, não tem peso orçamentário. Além disso, criaria problemas políticos pois elas são conquistas dos movimentos sociais. As mudanças terão como foco a eficiência da gestão.

Negromonte na mira
Além de não ter apoio de uma ala de seu partido, o ministro Mário Negromonte (Cidades) caiu em desgraça com a presidente Dilma. Ela o considera um gestor ruim. Acha que a pasta tem potencial, por causa da Copa e dos programas de mobilidade urbana, mas afirma que Negromonte só faz o feijão com arroz. A presidente já disse a auxiliares que o ministro não tem criatividade e não é eficiente. Embora esteja insatisfeita com ele, a reforma ministerial ainda não entrou na pauta da presidente. Certo, por ora, só a troca dos ministros que vão disputar as eleições, como Fernando Haddad (Educação) e Iriny Lopes (Mulheres), além de Paulo Roberto Pinto (Trabalho), que é interino.

"O PT é, na prática, partido único” — Osmar Terra, deputado federal (PMDB-RS), reclamando da preponderância do PT no governo Dilma 

QUERIDINHOS. Está em curso uma nova disputa no governo pelo coração da presidente Dilma. Participam do concurso os ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento), velho amigo da presidente, e Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia), que a conquistou pelo desempenho administrativo. Ambos costumam acompanhar a presidente Dilma em viagens, nacionais e internacionais, e não medem esforço nem mesuras para agradar.

Indicação
A vice-presidente da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), tenta emplacar Fernando Câmara na vaga da Agência Nacional de Petróleo que ficará vaga com a aposentadoria de Haroldo Lima, que está concluindo seu segundo mandato.

Choradeira
A presidente Dilma não é sensível às queixas do PMDB de que está sub-representado no governo. Rebate que o partido tem a vice-presidência da República e, além dos ministérios, ocupa dezenas de cargos de segundo escalão.

PMDB quer reforma ministerial mignon
A presidente Dilma não tem falado com quase ninguém sobre as mudanças que fará em janeiro no Ministério. No comando dos partidos aliados esse silêncio está sendo interpretado como um sinal que a reforma pode ficar restrita à substituição dos ministros candidatos. O principal aliado do PT no governo, o PMDB, é a favor de uma reforma pontual agora, de caráter administrativo. Seus líderes avaliam que depois das eleições municipais, diante da nova geografia política, seria o momento de reformar e preparar a sucessão presidencial de 2014.

Operação Miami
Temendo perder a votação da DRU, o governo pediu para que o senador Walter Pinheiro (PT-BA), que estava em Miami em uma conferência sobre internet, voltasse. Ele diz que sua volta já estava prevista para terça-feira passada.

Show na Câmara
Na votação da PEC da Música, terça-feira, na Câmara, artistas farão um ato-show em frente à biblioteca da Casa. Confirmados Chico Cesar, Margareth Menezes, Francis Hime, Zé Renato, Frejat, Sandra de Sá, Fagner e Digão, dos Raimundos.

A PRESIDENTE Dilma gosta muito do deputado Brizola Neto (PDT-RJ), mas acha que ele é muito novo para ser ministro.

COTADO para assumir um ministério no governo Dilma, o presidente do PP, senador Francisco Dornelles (RJ), desconversa: "Você acha que uma pessoa de 76 anos pode ser ministro?".

O PP fará uma convenção informal na terça-feira para registrar que o partido está organizado em 5.019 municípios e tem hoje 1.327 pré-candidatos a prefeito.

O óbvio desprezado - MAURICIO CORRÊA



CORREIO BRAZILIENSE - 11/12/11
A crise do Ministério do Trabalho deve ter dado ao governo alguma experiência de como lidar com aproveitadores. Não foi nada sensato querer minimizar as denúncias encampadas pela mídia contra as evidências de ilicitudes de seu ministro. Ainda mais sob a alegação de que estava em curso uma “onda denuncista” que o envolvia. Quanto mais se buscava eliminar o problema, mais ele aumentava de intensidade com os episódios que se sucediam. O governo foi quem mais perdeu com a inércia de providências, que só foram tomadas depois de ter sofrido danos de conduta. O saldo gerado foi de desgaste para quem já começa a ter a credibilidade combalida por negligência com a ética.

Se os prejuízos de avaliação podem ser bem menores entre as categorias sociais de níveis mais baixos, sem dúvida que, entre as mais altas, poderão ser bem maiores, embora incidentes similares, ao longo dos tempos, não tenham produzido quedas de pesquisa. Num confronto eleitoral futuro, entretanto, é difícil supor que não possam trazer riscos a candidatos do governo. De qualquer forma, a postura seguida pode ser registrada como um dos maiores equívocos de procedimento e de falta de percepção de tema tão sério para um país ávido de que as ações governamentais sejam limpas.

Se tudo o que se apurou com as ocorrências em referência já era mais do que suficiente para a demissão do acusado, o pior foi consultar a Comissão de Ética Pública da Presidência da República para saber que destino dar às denúncias recebidas. De fato, encaminhado o feito à relatora, não tardou para que proferisse voto pela sua demissão, que foi acompanhado pelos demais membros do órgão. Mais grave ainda foi a recusa em não acolher as sugestões alinhadas, até mesmo depois de terem sido vazadas críticas à rapidez com que a comissão se desincumbiu do encargo de analisar o pleito e de apresentar as conclusões pela demissão do servidor.

Se a presidente tinha a prerrogativa de acolher ou não os resultados do trabalho, a alternativa era mais do que possível do ponto de vista formal. No mérito, contudo, não é sequer crível pensar que, tratando-se da Comissão de Ética Pública, as considerações moralizadoras propostas no campo ético não tenham podido ser prontamente encampadas. O pressuposto é o de que, se enviada a matéria ao exame da comissão, órgão de consulta de ética da Presidência da República, é porque se subentende que as conclusões formuladas não fossem recusadas. Caso contrário, o certo seria que houvesse alguma manifestação fundamentada para o desacolhimento da recomendação dada. Como tudo foi levado ao conhecimento público pelo farto noticiário da mídia, a nação tinha o direito de saber o que teria afinal sucedido para a negativa do voto da relatora, de resto unanimemente seguido. É o que se pode dizer da falha da presidente ou de seus assessores no cometimento de tão gritante disparate perante a opinião pública.

Lamentável é que os membros da comissão tenham sido tão bruscamente atacados com chulas imprecações, que provam a desqualificação dos que se sentiram molestados pelos trabalhos realizados. É inadmissível terem querido atingir o presidente da comissão, cujos atributos de honradez e dignidade, eu mesmo acerca deles posso afirmar existentes desde os bancos acadêmicos da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais, onde, no longínquo ano de 1960, eu e ele colamos grau. Exerceu com competência e zelo, entre outros cargos da Justiça, o de procurador-geral da República, presidente do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, além de ter sido um dos mais consagrados ministros que passaram por aquelas cortes. Aposentado, mas atuante na advocacia, emérito jurista, competente e culto, por certo o presidente da Comissão de Ética Pública da Presidência da República dispensaria qualquer defesa que pudesse ser feita a seu favor.

Apesar do acidente de percurso do governo, a omissão deve ser didática como parâmetro de comportamento. O que o povo não quer mais ver no serviço público é servidor que não cumpre os seus deveres éticos. Principalmente quando descambam para práticas ilícitas, como têm sido triviais se constatarem nestes tempos em que se presumia terem sido em parte reduzidas. Todo desvirtuamento no desempenho de cargo público ofende a sociedade e, particularmente, o cidadão. Se os servidores possuem regras estatutárias de procedimento a serem respeitadas, o importante é que os governantes não se descuidem da obrigação de agir, quando fatos de violação ética cheguem ao seu conhecimento. Esse dever do administrador é ínsito ao exercido de mandar. O que mais agrada o povo é sentir que o governante não transige com o dever de mandar investigar os servidores que usam os cargos públicos para a prática de roubos contra a nação.

De tudo e em conclusão, o que mais o povo deseja ver é o domínio da ética no serviço público. A ideia da criação da Comissão de Ética Pública é relevante. É preciso que a presidente se acautele com as conclusões por ela propostas. Não é prudente deixar o órgão perecer no desprestígio. Nem é bom para o governo deixar sem explicação o que sugere que faça, quando se tratar de grave disfunção ética cometida por ministros do governo.

Guerra e paz - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 11/12/11
A Alemanha invadiu a França, a França ocupou a Alemanha, a Alemanha ocupou a França, e o ódio entre os dois países foi cultivado em duas guerras mundiais. Isso para ficar só na primeira metade do século XX. Dias atrás, o presidente Nicolas Sarkozy disse que fala diariamente com a chanceler Angela Merkel, ainda que não concorde sempre com ela.

A História está repleta de cicatrizes do velho ódio. Nas guerras mundiais, entraram outros países, mas a animosidade franco-germânica sempre esteve no coração dos conflitos. Nas últimas décadas eles se impuseram o desafio da convivência cotidiana e inescapável para assim tornar a paz irreversível. É o mais interessante projeto político da atualidade. Na sexta-feira de madrugada, depois de 10 horas de reuniões tensas, em Bruxelas, para salvar o euro, Merkel saiu cansada, deixando ao colega Sarkozy o trabalho de porta-voz do descontentamento com o Reino Unido, que propôs o “inaceitável”, na palavra do francês.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, disse que o euro é um projeto em que “alguns estão dentro e outros estão fora” e que o Reino Unido “está fora disso e continuará fora”. Com base nisso, defendeu como aceitável sua ideia de isentar a Inglaterra das regras de regulação bancária mais rigorosas.

O euro não é apenas uma moeda, é o símbolo do passo mais ousado de um sonho que foi costurando a paz entre inimigos históricos. Nos anos 1950, os países começaram a marcha que os levou da Comunidade de Carvão e do Aço à União Europeia, do núcleo de seis países aos atuais 27. Desses, 17 usam a mesma moeda.

De todos os países que abandonaram suas moedas nacionais, o passo mais difícil foi dado pela Alemanha. O marco nasceu das cinzas da devastação provocada pela hiperinflação. Era o símbolo da capacidade de recuperação da Alemanha e o próprio país viu o abandono de sua moeda como a prova de que estava disposto a qualquer sacrifício pelo futuro comum. A solidez do compromisso fiscal dos alemães foi testada na unificação das duas metades do país, quando o custo de igualar padrões de desenvolvimento arrombou os cofres públicos. A Alemanha fez dolorosos ajustes. Hoje, está fora dos limites do acordo de Maastricht, mas todos estão. Só que a Alemanha tem um dos menores déficits da Europa e nos últimos dias desenhou com a França o acordo que impõe a todos os limites negociados anteriormente, sob pena de punições.

O Reino Unido não faz parte da Zona do Euro, mas está capturado pela mesma incerteza fiscal e bancária. Também tem alta dívida pública e déficit público; também tem bancos com exposição a dívidas europeias; também pode ser vítima de uma onda de desconfiança. O país está “fora” da moeda, mas não do destino europeu. Não quer mudança em regulações bancárias, mas elas são inevitáveis após o ciclo de excesso de desregulamentação.

Nos últimos meses, inúmeros economistas escreveram que o melhor é abandonar o receituário de ajuste fiscal porque ele pode agravar o problema. O Brasil que conhece bem crises econômicas sabe o quanto isso é um fato: ajustes podem produzir recessão, e ela reduz a arrecadação, aumentando o déficit. Esse era o debate no Brasil no começo dos anos 1980, na época das primeiras cartas do então ministro Delfim Netto com o FMI. Os anos seguintes mostraram que o receituário estava errado para atacar o problema da inflação, mas havia sim um enorme trabalho a fazer para sanear as contas deixadas em desordem pelo governo militar.

Aumentar as emissões monetárias e ampliar gastos como fizeram os países ricos em 2008 é a melhor forma de contratar uma recidiva da crise como a que o mundo está vivendo agora. Ao mesmo tempo, é preciso ter mecanismos financeiros poderosos de resgate. Foi nesse acordo que chegaram França e Alemanha. A França mais favorável ao fortalecimento imediato dos mecanismos de resgate e a Alemanha defensora de um ajuste fiscal comum que unifique padrões de contas públicas. Nos últimos dias, os dois decidiram, depois de muita discórdia, atacar nas duas frentes. Foi quando o Reino Unido se opôs mais uma vez. Segundo o primeiro-ministro, David Cameron, os “de dentro” do euro “devem fazer mudanças radicais e desistir da soberania para que o projeto funcione”, e explicou que o fato de haver os de dentro e os de fora do euro cria inevitáveis tensões dentro da UE.

Ninguém está completamente fora do desafio da estabilidade fiscal e financeira do mundo atual. Os Estados Unidos podem continuar expandindo seu endividamento enquanto se financiarem a 2% ao ano, mas até para uma dívida barata tudo está ficando complexo demais, como mostrou o impasse do teto da dívida no congresso americano.

Se a moeda comum acabar, terá que ser após todos saberem que França e Alemanha fizeram tudo o que poderia ser feito. O projeto político de união da Europa é a melhor aposta para um mundo que já viu até que ponto podem chegar as rivalidades nacionais do continente. Neste aspecto, o tema vai muito além da Europa.

Reforma sem nexo - PAULO VINICIUS COELHO


 O Estado de S.Paulo - 11/12/11


A inteligência se manifesta em alguns corredores da CBF, muitas vezes longe das salas onde as decisões são tomadas. O caso da reforma da Copa do Brasil, apresentada na semana passada como uma mudança do calendário, é um caso assim.

O Departamento Técnico da entidade afirma que não houve reforma do calendário, mas a correção de um defeito da Copa do Brasil.

A partir de agora, os clubes classificados para a Libertadores terão também o direito de disputar o mata-mata mais charmoso do país.

Sem reforma, o calendário segue burro e inchado.

Ricardo Teixeira não mexeu no que existe de mais urgente. Quando a seleção joga, os clubes não podem entrar em campo, sob pena de tornar impossível tanto o trabalho de Mano Menezes, quanto dos técnicos de clube.

Há um mês, Mano Menezes e Dorival Júnior tiveram uma divergência pública, num seminário realizado em Porto Alegre.

O treinador da seleção questionou o colega do Internacional por ter afirmado que a seleção leva jogadores para amistosos sem importância.

Em 2007, a Copa América tirou apenas três jogadores do Brasileirão.

Em 2011, desfalcou o Brasileirão de seis atletas.

Dos 82 jogadores chamados por Mano Menezes, 44 jogam por clubes brasileiros, ou 53%.

Em quatro anos, um probleminha virou um problemão.

O diretor do departamento técnico da CBF, Virgílio Elísio, é um dos que pensam ser prioridade corrigir essa distorção. Mas julga ser impossível com o calendário atual.

A prioridade de Ricardo Teixeira foi outra: atender à televisão. Como os direitos de transmitir Libertadores e Copa Sul-Americana agora pertencem à Fox, a ideia foi colocar todos os grandes na Copa do Brasil.

Tempos passados. Até o ano 2000, o calendário se espremia e clubes podiam disputar três torneios simultâneos.

Em 1999, o Palmeiras perdeu para o River Plate numa quarta-feira, 26 de maio, pelas semifinais da Taça Libertadores, voltou direto para o Maracanã e empatou como Botafogo na sexta-feira, dia 28. Dois dias depois, no domingo, 30, venceu a Portuguesa por 4 x 3 pelo Paulistão. Ganhou a Libertadores, mas perdeu o Paulista e a Copa do Brasil.

Em 1994, o São Paulo jogou duas vezes no mesmo dia, contra o Grêmio, pelo Brasileirão, e Sporting Cristal, pela Copa Conmebol. Juninho Paulista jogou as duas.

Prioridade é evitar que esse tipo de situação volte a acontecer. Também é permitir que o técnico da seleção brasileira trabalhe sem atrapalhar, nem ser atrapalhado pelos clubes. Mas não, nisso não se mexe.

Nos corredores da CBF em que as decisões não acontecem, há gente capaz de fazer somas e subtrações. Neles, a ideia de Andrés Sanchez de paralisar o Brasileirão para os clubes excursionarem gerou um comentário: só se o campeonato terminar no carnaval.

GOSTOSA


O Natal de Dilma - SUELY CALDAS


O ESTADÃO - 11/12/11


Neste final de ano o bom velhinho do Natal reservou para a presidente Dilma um difuso saco de presentes: uma miscelânea que deu ao governo alívio, com a aprovação da prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) no Senado; angústia, por uma economia estagnada, inflação alta e investimento em recuo; e um inquieto temor, com pressões por aumentos salariais do Judiciário e do Legislativo, a votação do Código Florestal no Congresso e o efeito do reajuste de 14% do salário mínimo, em janeiro, nas contas da Previdência.

O bom velhinho até gostaria de dar um presente mais grandioso a ela e ao País - um plano de ação ordenado, com metas e diretrizes para os próximos três anos -, mas o governo não ajudou. Não perdeu o rumo pois nem sequer buscou encontrar um para o País, caminhou trôpego, concentrando ações no imediatismo, apagando incêndios políticos herdados do antecessor e agindo desordenadamente na economia. E a desordem chegou até o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a vitrine mais vistosa do governo, que empacou e é criticado até pelo ex-presidente Lula.

Entre a vitória eleitoral e a posse na Presidência, Dilma teve tempo de sobra para definir rumos e prioridades, organizar um plano de ação com metas de curto, médio e longo prazos. Afinal, ela não era novata, acumulou quatro anos de experiência e boa parte na Casa Civil, coordenando o governo inteiro. Perdeu precioso tempo. Ao sentar na cadeira maior do Palácio do Planalto, ela não sabia o que fazer para estimular o setor privado a investir em infraestrutura - portos, estradas, ferrovias, geração de energia. Às pressas, com a proximidade da Copa, o ex-ministro Antonio Palocci preparou um improvisado plano de privatização de três aeroportos, cujas licitações vêm sendo seguidamente adiadas.

Não há nenhuma estratégia para superar o vergonhoso e gigante déficit de saneamento básico, que deixa 45% dos municípios do País sem esgoto e água tratada. Lançado no início de agosto, o Plano Brasil Maior ainda não produziu resultados e seu principal mentor, o ministro Fernando Pimentel, se ocupa agora em explicar-se de denúncias de corrupção. É o sétimo ministro acusado de práticas ilícitas. Seis foram demitidos.

Aliás, administrar crises políticas decorrentes de corrupção de ministros tomou semanas, meses da presidente nesse primeiro ano de governo. Ela passou mais tempo consertando do que construindo. Os herdados de Lula, a escolha errada de políticos indicados por partidos aliados, sem nenhum preparo técnico e com o único propósito de extrair do cargo vantagens e recursos para os partidos, custaram muito caro a Dilma. E deixam um aprendizado que, se ela souber e quiser tirar proveito, vai aplicar na reforma ministerial que vem por aí.

Na economia, dias melhores com certeza não virão. Todos os diagnósticos apontam para recessão na Europa em 2012. A estagnação econômica constatada pelo IBGE entre julho e setembro persistiu em outubro. São Paulo, o Estado mais industrializado do País, acumulou perdas de 7,6% em setembro e outubro e não há fatos que indiquem melhora no curto prazo. O consumo até aqui foi menos afetado, mas o emprego industrial caiu 0,4% entre setembro e outubro, indicando um cenário nada animador.

Na melhor das hipóteses, a inflação de 2011 ficará no limite do teto da meta, de 6,5%, com forte risco de ultrapassá-la. A valorização do dólar em relação ao real levou o Índice de Preços ao Produtor a disparar para 1,23%, em setembro, e 0,85%, em outubro, com reflexos perversos nos preços de varejo nos próximos meses. Mas o pior indicador da pesquisa do PIB do 3.º trimestre foi o recuo de 0,2% dos investimentos, em relação ao trimestre abril-junho, um reflexo da queda na produção industrial. No Brasil, o investimento tem avançado só em momentos de crescimento na indústria e é fraco e desordenado na infraestrutura, justamente onde há maior deficiência e onde o governo deveria ter, e não tem, um plano de ação de longo prazo.

Por isso o Brasil vai fechar 2011 com o pior desempenho econômico entre os países do Brics e um dos piores da América Latina.

Na água - LUIS FERNANDO VERISSIMO

O ESTADÃO - 11/12/11
Toda a nossa vida passa diante dos nossos olhos quando estamos nos afogando. É verdade. Vários relatos de quase-afogados confirmam isto. Você se lembra de estar no ventre da sua mãe, flutuando dentro da bolsa dágua. Dizem que, do momento da concepção até o parto, o homem recria no ventre materno toda a evolução da sua espécie.

O espermatozoide que chega ao óvulo é como aquela primeira ameba que flutuava no mar primevo, recebeu uma descarga elétrica e começou a se reproduzir e a evoluir e milhões de anos depois deu na Patrícia Pillar. A vida começou no mar. O homem é um fruto do mar. Ainda temos no sangue restos de água salgada. E o feto de muitos peixes é igual ao feto do homem.

Até o seu segundo mês de vida, nada está decidido. Você tanto pode ser um peixe quanto uma pessoa. Um linguado ou um advogado. Imagine a cara do seu pai, no caso de alguma confusão genética, quando lhe anunciassem: Parabéns, é um golfinho.

O parto, o rompimento da bolsa d´agua, é a nossa chegada à terra. A ameba já transformada em réptil. E a partir daí você lembra de tudo. Do seu primeiro banho. Das primeiras fraldas. Da água benta do seu batismo. E mais: de toda a memória aquática da humanidade. Os descobrimentos, os grandes naufrágios. A passagem das tribos de Israel pelo Mar Vermelho. O Dilúvio. Moby Dick. O Príncipe Submarino.

O Capitão Nemo. A Esther Williams. Você se lembra de andar de quatro, depois andar ereto, e de virar um aquário sobre a sua própria cabeça com peixinho e tudo. Lembra da vez que caiu no chafariz da praça. Da primeira vez que viu um rio. Do primeiro xixi na piscina. E da primeira vez que viu o mar. E ficou paralisado na frente do mar, que parecia uma coisa viva. Até então, a maior coisa viva que você conhecia era o seu tio Afonsão, e o mar era maior do que seu tio Afonsão.

Ex-quase-afogados contam que a gente se lembra das coisas mais incríveis quando toda a nossa vida passa diante dos nossos olhos. Um se lembrou de onde tinha guardado uma boina basca que comprara numa viagem à Europa. Outros se lembravam de números de telefone. Outro, de cenas de filmes.

Outro, de trechos de música. Teve um que se lembrou de toda a letra do Cha-cha-cha de la Secretaria. E um, que quase não se salvou, queixou-se porque tinha revivido toda a sua infância e adolescência, lembrando-se de tudo, até do nome do cachorro do Vigilante Rodoviário – menos das suas aulas de natação.

BARRO

(Da série “Poesia numa hora destas?!”)

Nada se comparava

a andar de pés descalços

no barro.

Que sarro!

Por mais que pela memória

eu puxe

não consigo me lembrar

de algo melhor

do que o barro entre os dedos

fazendo “escuche”.

Abaixo Chapeuzinho - JOÃO UBALDO RIBEIRO


O Estado de S.Paulo - 11/12/11


Como temos visto, parece estar na moda o Estado se meter cada vez mais na vida privada dos cidadãos. Na convicção de que existem, universalmente, comportamentos "certos" ou "corretos", tecnocratas fazem tudo para impingir-nos essa correção. É comum que sejam alegadas bases "científicas" para definições do normal e do desejável, com frequência misturando-se asininamente a neutralidade da ciência com valores que não têm, nem pretendem ter, fundamento científico, mas cultural, filosófico ou religioso. Acaba-se gerando - e suspeito que isso se vem intensificando - a expectativa de que todos assumam diante da vida a mesma atitude "normal" ou "sadia" e ajam sempre de acordo com ela. Se alguém não se encaixa nessa fôrma, não só padecerá de culpa e estresse, convencido de que, de alguma maneira, é um réprobo anormal ou doente, como, em atos cada vez mais numerosos, o Estado força o cidadão a proteger-se do que é oficialmente considerado danoso ou inapropriado, cerceando-lhe, "no seu próprio interesse", a liberdade. O Estado sabe o que é bom para nós e não temos o direito de contestá-lo.

Um exemplo dessa mentalidade e das práticas que engendra é a leitura. Parece agora implantada a convicção de que existe uma leitura correta para cada livro. Poemas e romances, devem ser "contextualizados" e depois interpretados segundo a ótica recomendável. Remove-se assim toda a aventura de ler um poema ou romance, a atitude diante deles é a de um patologista diante de um cadáver. Não duvido nada de que, acostumado a essa leitura tutelada, o sujeito saia da escola, torne-se adulto e fique incapaz de ler, a não ser que alguém "contextualize" o texto para ele. Não é preciso contextualizar Dom Quixote, Hamlet ou qualquer outro personagem clássico, assim como não é necessário contextualizar Tarzan ou Sherlock Holmes. Deve-se mergulhar nos clássicos sem intermediários, as descobertas e sustos são pessoais e íntimos. A tutela só é legítima se fruto da decisão do leitor. Se ele pede, que se faça a tutela. Mas, se ele não pede, que sua liberdade, seus horizontes e sua sensibilidade se expandam sozinhos através de leitura, em experiências individuais que não se pode, em rigor, repartir com ninguém.

E a tutela não para por aí, como sabemos. As próprias histórias são alvo dos tutores, que já reescreveram as letras de canções folclóricas infantis, como Atirei o Pau no Gato e O Cravo e a Rosa. Não se atira mais o pau no gato, nem o cravo sai ferido ou a rosa despedaçada. Tudo isso é nocivo, corrompe e perverte e teremos uma sociedade bem menos violenta, quando as gerações assim educadas chegarem ao poder. Imagino que alguém já possa ter tido a ideia, ora sob análise no Ministério da Educação, de ensinar somente as "partes boas" da História, deixando de lado crueldades, desumanidades, atrocidades e tudo mais que possa dar mau exemplo à juventude. Os assírios, por exemplo, não esfolavam ninguém vivo, faziam peeling. Assim como o Santo Ofício não torturava ninguém, aqueles aparelhos todos eram de ginástica.

Estive pensando nessas coisas com algum vagar e a conclusão é que muitas novidades nos esperam. Não creio, por exemplo, que a história de Chapeuzinho Vermelho venha a ser conhecida no futuro. Talvez agora mesmo uma comissão lá no ministério esteja examinando o assunto, para depois baixar normas estritas, que redundarão na proibição dela e de semelhantes. Um mero exame superficial e preliminar é suficiente para demonstrar como é nociva a história de Chapeuzinho e como somos irresponsáveis ao transmiti-la a nossas crianças.

Em primeiro lugar, tão à vista que passa despercebida a quase todos, vem a cor do chapéu. Por que vermelho? Durante a Guerra Fria, era uma óbvia tentativa de instilar subliminarmente, no inconsciente da juventude, o apego a um dos símbolos do comunismo, a cor vermelha de sua praça, sua bandeira e seu Exército. Passada essa era, o vermelho é atualmente a cor do PT. Não fica bem para o partido uma menina como Chapeuzinho, hoje desmascarada como uma pequeno-burguesinha preconceituosa e reacionária, usar um chapéu com a cor dele. Nesse caso, que outra cor, amarelo? Não, também fica chato. Além de ser uma das cores do Brasil, o amarelo pode ofender as minorias de raça amarela. O mesmo se diz do preto, acrescida a circunstância de que, neste caso, os mais radicais poderiam exigir que fosse Chapeuzinho Afro-brasileiro. E por aí marcha uma discussão infindável, terminando-se afinal por abolir a cor e deixar somente Chapeuzinho.

Também grave, embora da mesma forma poucos reparem, é o presente que Chapeuzinho leva para a vovó. Doces? A esta altura da evolução da medicina, levar doces para uma senhora já velhinha? Doces nessa idade deveriam ser evitados. Eles engordam e a maior parte dos ingredientes das gulodices é nociva para os idosos. Para não falar que o consumo de açúcar pode deflagrar um caso de diabete. Não, não, não se pode permitir que o exemplo de Chapeuzinho transforme gerações de jovens em envenenadores de vozozinhas.

O caçador é outro exemplo gritante de incorreção. A caça e o porte de armas no Brasil são proibidos e, portanto, esse pseudo-herói um criminoso. Numa clamorosa falta de consciência ecológica, esse fora da lei mata um lobo. O lobo é uma espécie ameaçada em toda parte e tem seu lugar na Natureza. E, para piorar, é também caluniado, porque o caçador abre a barriga dele e encontra a vovozinha viva, quando se sabe que não há lobo capaz de engolir uma pessoa inteira. Enfim, a história de Chapeuzinho tem tudo para ser banida de escolas e bibliotecas. Quando chegará o dia em que precisaremos de autorização oficial para dar um livro de presente a um filho?

Sem querer interromper - MARTHA MEDEIROS

ZERO HORA - 11/12/11

Não é um defeito que mereça entrar no rol dos crimes hediondos, mas é bem chato: pessoas que falam em cima da fala da gente. Ainda nem terminamos a frase, e o nosso interlocutor já está falando junto, numa demonstração clara de que não importa o que estamos dizendo, ele próprio tem algo mais importante a dizer.

Pode parecer uma crítica, mas é, na verdade, uma autocrítica: entre essas pessoas, estou eu mesma. Minha família é ótima, alegre, desinibida, mas tem essa mania incontrolável: todos falam em cima dos outros. Não somos italianos, e sim ansiosos (nascidos e criados num país fictício chamado Ânsia).

É um costume que passa de geração para geração. Mães, pais, avós, tios, primas, todos praticam essa esquizofrenia de não permitir que ninguém termine uma fala, ninguém. A conversa é de doidos, mas as festas são animadas.

Fui incorrigível, desse mesmo jeito, por muito tempo, até que comecei a perceber o quanto a situação é desagradável para quem não faz parte da nossa árvore genealógica. Levei uns puxões de orelha das amigas, o que me salvou. Hoje, se não estou 100% curada, posso dizer que já consigo me conter um pouco.

Procuro não sair falando junto, em cima, atrapalhando o trânsito das palavras. Ouço o que o outro tem a dizer, mas ainda cometo o pecado de terminar a frase por ele. Basta que o coitado vacile na conclusão da sua argumentação, buscando uma palavra que não vem, e eu rapidamente encontro a palavra que ele procurava. Quase sempre acerto, o que não me redime. Por que raios não esperei ele próprio encerrar seu discurso? Nascida em Ânsia, num lugarejo chamado Impaciência.

Nós, os acelerados de berço, não fazemos por mal, mas precisamos nos dar conta de que duas pessoas falando juntas é a anticomunicação. Sabemos como é azucrinante ter que concluir nosso pensamento e ao mesmo tempo ouvir o que o nosso interlocutor está dizendo.

Por isso me compadeço de entrevistadores que usam um ponto eletrônico no ouvido, aquele dispositivo que permite que se receba instruções do diretor do programa. Que sufoco ouvir duas vozes ao mesmo tempo, a do entrevistado falando sobre sua obra e a do diretor avisando: “Arruma o cabelo que caiu no rosto”, “Não esquece de perguntar sobre o escândalo do ano passado”, “Corta esse chato e chama o comercial”.

Duas vozes simultâneas: adeus, diálogo. Faz alguns anos que prometi a mim mesma: não vou mais me atravessar. Vou aguardar minha vez. Esperar a amiga falar, o namorado concluir. Vou escutar. Vou respeitar. Quieta, deixa ele acabar. Ai, que aflição, não vou conseguir. Putz, não me segurei. Falei em cima, de novo.

Desculpe, desculpe. Termine o que você estava dizendo.

Base obesa desafia Dilma - JOÃO BOSCO RABELLO


O Estado de S.Paulo - 11/12/11


A cena se repete pela sétima vez, em menos de um ano, fazendo antever ao País mais um enredo que promete se arrastar com os protagonistas de sempre - de um lado, o governo que resiste ao que comodamente classifica de intriga da mídia; de outro, um ministro que se diz "tranquilo" e prestigiado pela presidente da República.

Não há como estabelecer diferenças entre a situação do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, e de seu ex-colega de governo Antonio Palocci. Talvez a única seja a de que, nesta, estão identificados os clientes da consultoria (não se sabe se todos, mas pelo menos os que correspondem ao faturamento até aqui conhecido do consultor).

Bem sabe o governo que o problema não é a "mídia golpista", mas a base movediça de um sistema, oportunamente resumido pelo deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), como "capitanias partidárias".

E é aqui a encruzilhada da presidente Dilma Rousseff, eleita por uma aliança tão ampla quanto fisiológica, origem de uma base parlamentar muito superior à necessária para garantir seus interesses no Legislativo. É um governo obeso, com dificuldade para carregar o próprio peso, refém de demandas por mais aparelhamento da máquina, condenado a emagrecer para sobreviver.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abordou esse aspecto, sugerindo que a presidente trabalhe com uma base menor, porém fiel, fazendo mais com menos. Mas a sugestão é acompanhada de um alerta: isso não é possível sem programas de governo e sem enfrentar o patrulhamento ideológico.

ANP é a

disputa da vez

O fim do mandato do diretor-geral, Haroldo Lima, abre a principal das cinco vagas em disputa na Agência Nacional do Petróleo (ANP) e testa mais uma vez a determinação da presidente Dilma por opções técnicas para o setor fiscalizador. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), após as últimas vitórias do governo na Casa, já cobra a promissória: quer a efetivação do atual interino do órgão, Allan Kardec, ou emplacar outro nome. Mas Dilma tem uma favorita: Magda Chambriard, servidora de carreira da Petrobrás e ligada à diretora da estatal, Maria das Graças Foster. Se Magda assumir a direção-geral da agência, restará a Sarney uma das diretorias.

Dias contados

O fim do mandato do líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP), pode representar também a saída do líder do governo na Casa, Cândido Vaccarezza (PT-SP), a quem sucederia. Às turras com Ideli Salvatti, ministra das Relações Institucionais, Vaccarezza hoje apenas resiste na função.

Deixa quieto...

O ministro Jorge Hage, da Controladoria-Geral da União (CGU), cobra da Câmara a aprovação de seu projeto que pune empresas comprometidas com fraudes em licitação, superfaturamento de contratos e suborno de servidores. O projeto prevê desde a proibição de contratos novos com a administração pública a multas que variam entre R$ 6 mil e R$ 6 milhões. Mas o relator na comissão especial da Câmara que o examina, Carlos Zarattini (PT-SP), está sentado em cima dele.

CEF x BB

A Caixa Econômica Federal ganhou as folhas de pagamento dos Estados de Goiás e Bahia. Somente Goiás deve movimentar R$ 1 bi. Com isso entra num filão do Banco do Brasil, que administra as folhas de mais da metade dos Estados (16), das principais capitais (incluindo São Paulo) e de um quinto dos municípios.

GOSTOSA


O Rei-Sol se põe Adeus, cartola - SÉRGIO AUGUSTO


O ESTADÃO - 11/12/11


Havelange só não conseguiu ser presidente póstumo da Fifa e organizar a Copa dos Embriões



Como aqueles parlamentares que renunciam ao cargo para escapar da cassação, o megacartola Jean-Marie Faustin Goedefroid de Havelange entregou seu posto no Comitê Olímpico Internacional para dele não ser expulso, também por malfeitorias. Melancólico desfecho para um longo mandarinato esportivo. Havelange integrava o COI havia 48 anos. Se continuará presidente de honra da Fifa, só o tempo e o atual presidente daquela entidade, Joseph Blatter, dirão.

Oficialmente, Havelange demitiu-se por motivos de saúde. É possível que o peso da idade (95 anos) esteja afinal dobrando o acerado empresário da bola, mas a promessa de que o conselho de ética do COI arquivaria o caso de uma antiga maracutaia na Fifa se ele entregasse o crachá sugere outra coisa.

Após anos e anos de suspeitas e investigações, em 2008 um tribunal suíço apontou Havelange como beneficiário de um pagamento ilícito da ISL, a empresa falida que cuidava dos contratos de publicidade e transmissões de TV da Fifa, no valor de US$ 1 milhão. Fazia então dez anos que ele deixara a presidência da Fifa, seu feudo durante um quarto de século. Cadê as provas e a sentença?, cobrou a BBC, a primeira a noticiar o veredicto. E cobrando ficou até cansar. Interesses mais altos que os da Justiça impediram a divulgação do papelório forense.

Àquela altura completara também uma década da publicação de Como Eles Roubaram o Jogo, devassa dos subterrâneos da Fifa feita pelo britânico David A. Yallop, aqui editada pela Record. Eram 365 páginas de escândalos envolvendo as elites do futebol, grandes corporações, canais de televisão, paraísos fiscais e empresas especializadas em marketing e tráfico de influências - o trivial da corrupção AAA. O livro há muito se esgotou, o que é uma pena, pois continua sendo o mais suculento balanço da mafiosa atuação dos próceres esportivos acobertados pela Fifa. Mas, por módicos US$ 4,76, é possível baixar sua versão Kindle (How They Stole the Game) pela internet.

Sete meses atrás, outra investida da BBC, dessa vez no programa Panorama. A Fifa estava impedindo a divulgação de um documento que revelava quais de seus dirigentes haviam sido forçados a devolver o equivalente a US$ 6,1 milhões de propinas, como parte de outro acordo para encerrar uma investigação criminal na Suíça. Um juiz do cantão de Zug determinou a divulgação, mas Blatter evitou-a para não atrapalhar sua reeleição como presidente da Fifa, poucas semanas depois. Procurados pelo programa, dois dirigentes na berlinda, Havelange e seu ex-genro Ricardo Teixeira, do Comitê Executivo da Fifa e presidente da CBF, nem se deram o trabalho de dizer "no comments".

Há sempre uma eleição atrapalhando a transparência nos negócios do futebol. Havelange safou-se de prestar contas pelos US$ 6,6 milhões desaparecidos sem deixar vestígio dos cofres da CBD (a antiga encarnação da CBF, presidida por ele de 1958 a 1974) para que sua campanha eleitoral à presidência da Fifa pudesse correr sem atropelos.

Geisel, o general que então governava o País, fez vista grossa para um relatório confidencial e secreto sobre os desvios e os prejuízos financeiros (mais de US$ 10 milhões) causados pela Minicopa de 1972 aos cofres da CBD e autorizou a Caixa Econômica Federal a tapar o buraco, mas escolheu para suceder a Havelange o almirante Heleno Nunes, irmão do almirante Adalberto Nunes, inimigo de Havelange. Este, espertamente, ajustou-se à planificação esportiva do almirante, construindo 13 estádios em cidades grandes e pequenas para arrumar votos para a Arena, o partido do governo, entre 1969 e 1975.

Pelas contas de Yallop, que apelidou Havelange de "Rei-Sol do futebol", sua campanha eleitoral à presidência da Fifa deve ter custado entre US$ 2 milhões e US$ 3 milhões, já incluída a viagem de dez semanas por 86 países à cata de apoios. Quem a financiou? "Meu próprio bolso", respondeu Havelange, supostamente um homem de negócios muito bem-sucedido à frente da Viação Cometa e da fábrica de produtos químicos e explosivos Orwec, da qual era sócio.

Yallop descobriu que, na Cometa, ele apenas ocupava um cargo honorífico, pelo qual recebia US$ 6 mil mensais, o mesmo salário de sua secretária na Fifa - ou 10% do que alegadamente custara o voto da Etiópia -, e na Orwec passara a perna no sócio. Mestre em cabalar votos e aliciar delegados do Comitê da Fifa (lautas refeições, com todas as despesas pagas e mimos que começavam com relógios Rolex) e jornalistas (barras de chocolate suíço, aparelhos de barbear, filofaxes, bonés, distintivos, jaquetas, bolas, chaveiros, canetas), reinou absoluto durante 8.760 dias, dos quais 7.200 consumidos por viagens. Visitou 191 países pelos menos três vezes.

Apenas na base da simpatia não teria ido longe. Frio, enigmático, sorumbático, em nada o ajudou aquele imperturbável olhar de basilisco. Se atraiu muitos aduladores, maior foi o número de inimigos que acumulou ao longo da carreira, no Brasil e no exterior. Sua maior nêmesis nestas paragens, o jornalista Juca Kfouri, teve a credencial para a Copa de 98 contestada por causa de suas críticas ao Rei-Sol.

Aliás, quando das conversas para sediar aquele Mundial, o presidente francês Jacques Chirac nem pigarreou antes de acusar Havelange de "suborno". Brian Granville, o decano dos colunistas de futebol britânicos, insiste em que Havelange só não conseguiu concretizar duas ambições na vida: tornar-se o primeiro presidente póstumo da Fifa e organizar a Copa do Mundo dos embriões.

Em princípio, o resultado das investigações sobre as propinas pagas pela ISL (cerca de US$ 100 milhões, no total) seria divulgado no próximo sábado, na reunião do Comitê Executivo da Fifa, em Tóquio. Na última terça-feira, Blatter, que desde a reeleição assumira uma postura de faxineiro ético, "arrecuou os arfes", adiando sine die a tão esperada revelação, segundo ele embargada judicialmente por alguém com culpa no cartório. Superado esse entrave, saberemos de tudo, prometeu o sucessor de Havelange na Fifa. Depois do poente, o eclipse?

19 meses depois, o acordo - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 11/12/11


O mercado financeiro internacional aprovou, sim, mas recebeu sem entusiasmo o acordo de unificação fiscal acertado na madrugada de sexta-feira, por 26 dos 27 membros da União Europeia, em Bruxelas. Só o Reino Unido do primeiro-ministro David Cameron ficou de fora - Hungria, Suécia e República Checa se comprometeram a aderir após uma consulta aos parlamentos. Foi um grande passo no 20.º aniversário do Tratado de Maastricht - e após 19 meses de desentendimento -, que foi o primeiro plano criado para conter os problemas da dívida europeia.

No acordo de Bruxelas, os líderes europeus decidiram destinar 200 bilhões para o FMI combater a crise e evitar sua repetição. Eles anteciparam de 2013 para julho do próximo ano o início de um fundo de resgate de 500 bilhões e desistiram da demanda de que os detentores de bônus deveriam assumir perdas nos resgates, como aconteceu com a dívida grega. Já foram muito castigados e estão recebendo recursos do Banco Central Europeu.

Neste fim de semana, a posição dos investidores era de pedir que medidas urgentes e de resultado imediato fossem aprovadas para garantir a rolagem da dívida da Itália, da Espanha e de outros países que venham a enfrentar problemas dessa ordem. Eles anteciparam o início de um fundo de resgate de 500 bilhões: é pouco, dizem os investidores, que esperavam no mínimo 1 trilhão.

A dívida é de 1,1 trilhão. Segundo levantamento da Bloomberg, os governos da zona do euro devem pagar mais de 1,1 trilhão em dívida de curto e longo prazos em 2012. Destes, 519 bilhões de títulos da Itália, França e Alemanha vencem no 1.º trimestre. No caso da Itália, 300 bilhões vencem em 2012. O fundo atual e o mecanismo de resgate ficam muito aquém do que é preciso.

Mais ainda, só devem entrar em operação em seis meses e isso se tudo correr bem e não houver mais desentendimentos como os que ocorreram nestes 19 meses de indefinição.

Há muitas dúvidas, ainda, sobre a criação, agora anunciada, de uma espécie de fundo de socorro permanente, o chamado Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) em julho do próximo ano, quatro meses depois que os países assinarem definitivamente, em março, o acordo fiscal aprovado na sexta-feira. É certo que cerca de 200 bilhões serão repassados para o FMI, que poderá usá-los na compra de títulos dos países endividados. Estima-se que o Fundo estaria se preparando para comprar 150 bilhões em títulos, mas isso vai depender da liberação dos recursos.

Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, havia afirmado um dia antes da reunião que o acordo proposto pela Alemanha era insuficiente. Ao término do encontro, limitou-se a dizer que "nós podemos estar muito satisfeitos com os resultados". De acordo com a unanimidade dos analistas, o caminho está aberto, só falta evitar adiamentos e apressar o passo. Por exemplo, não esperar até março para a assinatura do acordo e antecipar tanto quanto possível o novo mecanismo de estabilidade.

O BCE está atendendo às necessidades imediatas de liquidez dos bancos europeus, estimadas em 115 bilhões, reduziu o juro básico. O que os investidores esperam agora é mais agressividade na compra de títulos, sem ter de passar pelo FMI. Um desafio a enfrentar.

Tudo bem aqui. Para o Brasil, as decisões da União Europeia são bem-vindas, podem retirar a tensão do mercado internacional e reduzir o custo das captações externas que aumentou, esse foi um dos principais canais de contágio da crise soberana europeia. O custo do financiamento das exportações aumentou. Aqui o peso é menor porque as exportações se concentram em commodities menos flexíveis à desaceleração mundial e, muito mais, destinam-se principalmente aos países asiáticos, que estão investindo pesadamente.

Começa quando acaba. Sim, só quando a crise do euro for superada é que a União Europeia vai pensar em crescer. O que se espera para o próximo ano: recessão, desemprego de dois dígitos, consumo achatado, problemas de financiamento da produção.

Dá para sonhar - DANUZA LEÃO

FOLHA DE SP - 11/12/11

Sempre haverá um herói na família para, num calor absurdo, se vestir de bom velhinho no Natal 


Foi dada a largada para as festas, e de todos os lados se ouve o mesmo refrão: “ah, mas que chatice, odeio Natal, estou louca/o para chegar logo janeiro e tudo isso tiver acabado”. Alguns já compraram a passagem, estão viajando uma semana antes, para disfarçar que estão fugindo, e só voltam em 2012 _ e é por isso que não se encontra mais lugar em nenhum avião para nenhum destino.
Já passei noites de Natal em casa de amigos, e elas são, sempre, rigorosamente iguais: as mesmas comidas, o mesmo troca-troca de presentes, as luzinhas da árvore piscando, piscando, as mesmas pessoas de todos os anos repetindo o mesmo texto _ Feliz Natal _, mas ficando pouco tempo, pois tinham pela frente outras festas espalhadas pela cidade, da sogra do irmão, da mãe do futuro genro, etc. etc., nessa loucura que são hoje as novas famílias.
Mas ouço falar que existem os que curtem de verdade; não sei se pelo lado religioso _ será? _ ou pelo lado familiar. Há os que cruzam os oceanos, para poderem estar todos juntos e unidos nessa noite, e para esses o Natal começa em setembro, outubro. É quando combinam em casa de quem vai ser a ceia, quem leva o que, e começam as compras: presentes, papéis de embrulho, laços de fita, e os enfeites, os famosos enfeites da árvore, que a cada ano deve surpreender por ser maior e mais bonita que a do anterior. E o Papai Noel? Sempre haverá um herói na família para, num calor absurdo, se vestir de bom velhinho, com direito a peruca, gorro, barba e bigode. Onde se compra a roupa de Papai Noel? Mistério. E será que alguma criança ainda acredita em Papai Noel? Outro mistério.
Mas as datas têm um peso, e os que não têm família _ ou acham que o Natal não tem nenhuma importância, é um dia como qualquer outro _, estão sujeitos a uma certa melancolia (e alguém encontra um analista dia 24 de dezembro?). Esses ligam a televisão e olham para o relógio a cada 10 minutos, para ver se já está na hora de poder tomar um tranquilizante, dormir, e só acordar dia 25 com um ufa!, já passou. Mas ainda tem o 31.
Nessa noite é obrigatório ser feliz, e ai de quem estiver só, curtindo um amor que se foi ou lembrando das tristezas do ano que passou. E quanto mais alegres estiverem as pessoas nas ruas, mais fogos forem estourados para festejar 2012, mais sós e tristes vão se sentir. Não adianta o discurso de que é um dia como qualquer outro, porque não é; a pressão é grande, dela poucos escapam.
E é inútil tentar brigar com o mundo; ainda é tempo de se organizar, combinar com amigos, aqueles que estarão tão sós quanto você, e combinar de passarem juntos a famosa data. Para isso, o ideal seria ter um bom ar condicionado, alguma bebida, muito gelo, e _ por que não? _ uma travessa de rabanadas, mas com afirme intenção de achar tudo normal. É claro que à meia-noite vão haver muitos beijos e abraços, muitos votos de feliz ano novo, mas é rápido, pronto, acabou. E atenção: beba com moderação, pois as ressacas do primeiro dia do ano costumam ser colossais, e podem ser confundidas com depressão; aliás, alguém já viu uma ressaca feliz?
No fundo, bem lá no fundo, dá uma inveja danada dos que acreditam e festejam o Natal e o Ano Novo a sério; estas devem ser as pessoas mais felizes do mundo, mas por que não tentar entrar no clima e pensar que o novo ano vai ser maravilhoso, e que vamos ser felizes para sempre?
Afinal, sonhar não custa.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 11/12/11
PPPs farão creches em terrenos cedidos por empresas de transporte
Depois da resistência enfrentada pela Prefeitura de SP à lei que autorizava a venda de área no Itaim Bibi (zona oeste) em troca da construção de 200 creches, surge um novo projeto para atender à demanda por atendimento a crianças pequenas.

PPPs (parcerias público-privadas) farão creches em terrenos de companhias de transporte.

"O Metrô, além da CPTM e da EMTU, tem muitos terrenos em torno de estações. A construção dessas creches interessa às mães que poderiam deixar seus filhos ao ir para o trabalho", diz o vice-governador do Estado de SP, Guilherme Afif Domingos (PSD).

De início, serão dez creches experimentais em sete terrenos. Ainda não estão definidas as áreas, nem os custos das PPPs, que ainda estão sendo estruturadas.

"Será uma cessão onerosa [locação] de companhias de transporte. A empresa vai construir creches e cuidar da administração geral, como alimentação, limpeza. A prefeitura garantirá a locação."

monotrilho
O governo estadual de São Paulo trabalha também na modelagem de PPP para três linhas de monotrilho.

Até o dia 23, serão divulgadas as audiências públicas de demonstração do projeto. Duas linhas serão no sistema misto: o Metrô entra com trens e as empresas privadas, com a construção e a operação do sistema. Na terceira linha (bronze), o privado ficará com todas as etapas.

EMBARCAÇÃO A REBOQUE
A Brasil Supply investirá US$ 70 milhões (R$ 126 milhões) para construir seis embarcações para a Petrobras.

Esses seis barcos irão se somar a outros 11 que a empresa já está fabricando, sob custo de US$ 250 milhões. As 17 embarcações serão entregues até 2014 à petrolífera.

A Brasil Supply pretende alugar para a empresa 60 barcos até 2020. Todo o projeto envolve aporte de US$ 6,5 bilhões. "Nosso planejamento estratégico é baseado no da Petrobras", diz o presidente Fernando Barbosa.

Cerca de 80% do investimento deve sair do Fundo de Marinha Mercante.

O QUE ESTOU LENDO
Sergio Amado, presidente da Ogilvy Brasil

"'Sorry for the Lobsters', de Neil French, é um livro muito engraçado sobre a vida maravilhosa desse inglês, boa parte passada na Ásia", diz Sergio Amado, presidente da Ogilvy no Brasil.

"São passagens divinas da publicidade, por um dos melhores criativos do mundo dos últimos anos."

Ele lê também "Voo para a Escuridão", de Marcelo Simões. "História verdadeira de um comissário de bordo preso com o companheiro por tráfico de drogas. Fantástico. Li em duas noites."

CONSTRUÇÃO IMPORTADA
A BMC (Brasil Máquinas) fechou contrato para vender a linha de guindastes da norte-americana Link-Belt no Brasil.

A expectativa é faturar R$ 150 milhões com a venda de 50 máquinas em 2012, diz Felipe Cavalieri, presidente da companhia brasileira. "Com o acordo, teremos R$ 1 bilhão de faturamento."

Em 2012, a empresa passa a produzir escavadeiras em Itatiaia (RJ), em sua fábrica conjunta com a Hyundai. "As construtoras perceberam que as máquinas da China não são de boa qualidade", diz Christiano Kunzler, vice-presidente da BMC.

Jornada... Os setores de trabalho temporário e serviços terceirizáveis faturaram R$ 69,8 bilhões entre maio de 2010 e de 2011, segundo o Sindeprestem (que reúne empresas).

...de trabalho O resultado é 12% superior ao período anterior. A massa salarial paga pelos setores a 2,6 milhões de trabalhadores foi de R$ 31,26 bilhões, segundo a entidade.

Vitrine A Imaginarium pretende abrir 40 lojas em 2012 em cidades como Rio Branco, Recife, Ponta Grossa, Londrina, Campo Grande, Sorocaba, Ribeirão Preto e outros.

OXIGÊNIO HOSPITALAR
O Hospital Sírio-Libanês acaba de receber a primeira parcela de R$ 74,6 milhões do financiamento de R$ 430 milhões do BNDES.

"Refere-se a uma parte das obras do prédio novo", diz o superintendente Paulo Chapchap. No cronograma da obra de expansão, a sede do hospital em SP deve ser duplicada até 2013.

Em 2010, o desembolso do BNDES para a Saúde, sem indústria farmacêutica, foi de R$ 593,2 milhões. Até setembro deste ano, chega a R$ 488 milhões.

com JOANA CUNHA, VITOR SION e LUCIANA DYNIEWICZ