sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Dilma x Serra - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 24/02/12


Dilma, em várias reuniões ministeriais, deu um recado claro: não queria gastar sola de sapato nas eleições municipais.
Faria algumas gravações para programas de TV, poderia ir a um ou outro comício, mas... pretendia mesmo era se manter longe das disputas.

Mas agora...
Com a iminente candidatura de Serra em São Paulo, a turma do Planalto acha que a presidente terá de rever seus planos.
Gente no PT acha que o foco da campanha de Serra será bater em Dilma, o que a forçaria a a entrar em campo. A conferir.



Revolta das barcas
Todo cuidado é pouco. A 76ª DP, em Niterói, abriu inquérito para apurar a conduta de algumas pessoas que estão convocando uma manifestação dia 1o-de março contra o aumento do preço das barcas (vai passar de R$ 2,80 para R$ 4,50).
Com base no teor de mensagens nas redes sociais, e até de vídeos no YouTube, a polícia teme vandalismo.

Mas...
Tomara que o ato, legítimo numa democracia, seja pacífico.

Corredor da Justiça
O ministro Ricardo Lewandowski, presidente do TSE, em viagem ao Japão, cancelou a sessão de julgamentos de ontem.
O Tribunal Superior Eleitoral já deveria ter tido sete sessões este mês, mas só teve duas. A Rádio Corredor diz que ministros reclamam de atrasos e cancelamentos recorrentes, que retardariam as decisões.

CABRAL E PAES selaram ontem um acordo para viabilizar financeiramente a derrubada de 77 imóveis que ficam na chamada Vila União, na Barra. A comunidade, que abriga alguns borracheiros, surgiu no início dos anos 1950 e fica espremida entre a Av. Armando Lombardi e a Lagoa da Tijuca (veja na imagem aqui ao lado), próximo ao Barra Point. Em seu lugar, surgirão uma praça —— ao lado da futura estação de metrô da Barra — com uma marina que dará acesso a várias ilhas e lagoas da região 

Pagode russo
Foi agitado o voo 442 da Air France (Paris-Rio), quarta.
Um casal de russos, que parecia embriagado, entrou na classe executiva e começou a fazer saliência na cara de todo mundo.

Segue...
O comandante pediu que parassem, mas a moça se jogou na cadeira e começou a gritar.
Resumo: o casal foi preso, e o voo atrasou meia-hora.

Torturador 171
O argentino Claudio Vallejos está preso em Santa Catarina, acusado de aplicar golpes no estado, segundo a coluna “Visor”, do “Diário Catarinense”.
Ex-agente da ditadura argentina, Vallejos admitiu à revista “Senhor”, em 1986, ter participado da prisão do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior. Tenorinho tocava com Vinicius, em Buenos Aires, em 1976, quando desapareceu.
PIB da favela
Surpresa com o grande volume de vendas, a Casa & Vídeo vai ampliar a loja inaugurada, acredite, há apenas 20 dias no Complexo do Alemão, no Rio.
A unidade já é uma das cinco maiores na rede de 69 lojas no Estado do Rio.

Sexta estrela
Ricardo Fernandes, diretor de carnaval da Unidos da Tijuca, vai fazer uma nova tatuagem.
É que, cada vez que é campeão, tatua uma estrela no corpo nas cores da escola. Será a sexta, a segunda azul e amarela.

Sapucaí 2013...
Aliás, Paulo Barros, carnavalesco da Tijuca, virou sonho de consumo da Grande Rio.

É pena
O desembargador Jorge Luiz Habib, da 18a- Câmara Cível do Rio, determinou a proibição de qualquer evento musical no antigo Quilombo Sacopã, na Lagoa, onde era realizada uma feijoada todo segundo sábado do mês.

Carnaval família
Caetano, com bursite no ombro, jantou com os filhos Zeca e Tom nas madrugadas de terça e quarta no Porcão de Ipanema.
Nosso cantor fez a festa de fãs e turistas, e posou para fotos.

Duro na queda
Oscar Niemeyer, 104 anos, ficou feliz com a notícia de que será enredo da União da Ilha ano que vem.
Aproveitou e ligou para Paes. Avisou que quer assistir a todos os desfiles das campeãs, amanhã. Grande Niemeyer.

Tempo esgotado - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 24/02/12


Chegou a hora de Serra abrir o jogo. Não dá para deixar o PSDB exposto à realização de uma prévia “café com leite”, termo que as crianças usam em referência aos mais novos que entram na brincadeira só para constar
Virou novela. E o pior: novela naquela fase chata, em que você sabe que uma coisa importante para o desenrolar da trama está prestes a acontecer e nada sai do lugar, levando o telespectador a trocar de canal. É nessa fase que se encontra o folhetim paulistano do PSDB. E o tempo de José Serra — apontado dentro do partido como o único capaz de tirar o partido dessa pasmaceira — está no fim, dada a proximidade das prévias, marcadas para 4 de março. 
E venhamos e convenhamos: tudo o que Serra poderia sonhar, conforme escrito aqui há alguns dias, ele obteve. O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ouviu de gente de seu próprio partido que era tarde demais para dizer que apoiaria Serra e que largar o PT agora, só mesmo se os petistas dispensassem o PSD. Kassab, entretanto, foi fiel a quem lhe estendeu a mão há alguns anos, fazendo dele candidato a vice-prefeito. Já está dito e redito que seu destino será apoiar Serra de corpo e alma. Mesmo que alguns integrantes do PSD não gostem. 
Quanto ao DEM, há alguns meses, os democratas tinham feito exigências para compor uma aliança. Disseram que só aceitariam ficar ao lado do PSDB, fosse Serra ou qualquer outro nome, se tivessem o direito de indicar o candidato a vice na chapa. Hoje, a turma do já aceita ficar ao lado de Serra, dando-lhe liberdade total para escolher o vice. Ou seja, mais uma pecinha que, há algumas semanas, era considerada “fantasia” na cabeça dos tucanos, acaba de virar realidade. 

Por falar em realidade...Dentro do PSDB de São Paulo, a névoa que causava o receio de abandono no meio da campanha, também se dissipou. Os tucanos ligados ao governador Geraldo Alckmin estão cada vez mais cientes de que, se pode ser ruim com Serra, será muito pior sem ele, uma vez que, em termos de votos em São Paulo, o ex-governador tem bastante e ainda pode ajudar na reeleição de Alckmin em 2014. 
Para completar, o presidente nacional do PSDB, Sérgio Guerra, declarou recentemente que apenas Serra, diante das circunstâncias, pode servir de resistência ao projeto do PT de matar a oposição no maior celeiro de votos do país, leia-se São Paulo. Era a cereja do bolo que faltava. A cúpula do partido, que há alguns meses tratava o ex-governador e ex-prefeito como página virada, agora lhe rende homenagens. 
Serra, realmente, errou na campanha presidencial. Errou no tempo, tropeçou ao não fazer a defesa das privatizações e deixar que predominasse o discurso do PT, de demonização do processo. Não jogou com a sua turma. Dentro do PSDB, muita gente se recorda que Serra citava apenas as suas realizações enquanto ministro da Saúde, como governador de São Paulo — mas, justiça seja feita, não foi um mau governo. A Nota Fiscal Paulista ganhou versões em vários estados, inclusive a Nota Legal, no Distrito Federal. O programa de atenção aos idosos, idem. 

Por falar em tempo...Uma das críticas a Serra na campanha de 2010 foi o fato de ter demorado a assumir a candidatura. Quando ele saiu candidato, Dilma já tinha tomado para si a simpatia de Lula junto à população, uma vez que passou todos os quatro meses iniciais rodopiando pelas inaugurações ao lado do presidente. Serra, por sua vez, não citava a palavra “candidato”. Dizia que seu trabalho era governar São Paulo. 
Agora, Serra não tem essa obrigação de outros cargos. Pode perfeitamente assumir a candidatura. Mas tem que fazer isso logo. Se não assumir esta semana, antes da prévia de 4 de março, que está à disposição do partido para ajudar na tarefa de barrar o crescimento do PT, Serra terá perdido o timing. Afinal, tudo o que ele queria — e que muitos achavam impossível — aconteceu. 
Chegou a hora de Serra abrir o jogo. Não dá para deixar o PSDB exposto à realização de uma prévia “café com leite”, termo que as crianças usam em referência aos mais novos que entram na brincadeira só para constar, sem valer ponto. Serra só pode adiar essa decisão se não for candidato. Em sendo, para fazer o anúncio depois da prévia, terá que obter a certeza de que os eleitores tucanos votantes optarão por um quinto nome, fora dos que estão colocados. No caso, o dele, Serra. No mais, tudo o que poderia fazer de Serra um candidato de peso está posto. Ou seja, chegou a hora de sair da toca e, como um tucano de bico duro, enfrentar a campanha. Afinal, o ano começa agora. E a campanha, na prática, também. 

Clima, impérios e bruxas - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 24/02/12


SÃO PAULO - Secas moderadas podem ter contribuído para o fim dos maias. Qual o papel do acaso e de forças a ele correlatas, como intempéries e cataclismos, na história?

Um pouco por culpa da tendência de seres humanos de nos colocarmos como centro de tudo, um pouco por excessos da tradição marxista, que só tinha olhos para as relações econômicas, a historiografia passou um bom tempo menosprezando fatores geográficos e climáticos.

A moda começou a ser quebrada com a publicação de obras como a do geógrafo Jared Diamond, que, em "Armas, Germes e Aço" e "Colapso", colocou a ecologia e o clima como explicações centrais para o surgimento e o ocaso de civilizações.

Na mesma linha de pesquisa vão Raymond Fisman e Edward Miguel que, em "Economic Gangsters", atribuem boa parte dos desastres da África aos caprichos do clima. Eles analisaram a relação entre secas e guerras civis e concluíram que o fator climático explica os conflitos até melhor do que as divisões étnicas e religiosas. Para esses economistas, uma queda de 5% no PIB, comum em vários países nos anos de seca, eleva em 50% (de 20% para 30%) o risco de ocorrer uma guerra civil nos 12 meses seguintes.

Fisman e Miguel também acharam correlações mais improváveis, como aquela entre a falta de chuvas e o maior número de mulheres assassinadas por bruxaria na Tanzânia. A deterioração das condições econômicas leva as famílias a sacrificarem alguns de seus membros. A escolha acaba recaindo sobre as "bruxas", isto é, as duplamente vulneráveis: mulheres mais idosas.

Nós, no conforto de nossos supermercados, já nos esquecemos de que, durante a maior parte de sua existência, a humanidade travava uma luta diária pela sobrevivência, na qual pequenas variações, como o volume de precipitações ou o humor do tirano de plantão, podiam revelar-se decisivos para o futuro do grupo.

Como o CNJ pode limpar mais a ficha - MARIA CRISTINA FERNANDES

VALOR ECONÔMICO - 24/02/12


Duas semanas separaram duas decisões do Supremo, a que garantiu o poder de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a magistratura e a que referendou o veto a candidatos condenados por deliberação colegiada ainda que não definitiva.

À primeira vista, as duas decisões, de grande apelo popular, parecem se contrapor. Os mesmos juízes cujos poderes estarão sob a lupa do CNJ são aqueles que se veem reforçados pela possibilidade de condenar carreiras políticas ao limbo. O STF estaria garantindo prerrogativas à magistratura com uma mão e tirando-as com a outra.

Ambas as decisões tiveram placar apertado. Os poderes do CNJ foram garantidos por seis votos a cinco enquanto a Ficha Limpa teve a aprovação de sete ministros e a oposição de quatro. Dos 11 ministros, apenas quatro votaram favoravelmente tanto ao CNJ quanto à Ficha Limpa (Ayres Brito, Joaquim Barbosa, Rosa Weber e Cármen Lúcia).

O exame dos votos mostra que as duas questões não foram relacionadas, mas o que a proximidade dos julgamentos revela é que a defesa das prerrogativas do Conselho presidido pela ministra Eliana Calmon é uma das maiores garantias contra arbitrariedades a que a magistratura se arrisca na missão de que foi imbuída pela Ficha Limpa.

Juízes, das menores às maiores comarcas, terão o poder de destruir projetos eleitorais eventualmente legítimos que, por contrariarem interesses políticos e empresariais, acabam denunciados a meios de comunicação partidarizados e acabam virando réus em processos judiciais.

O ministro Gilmar Mendes foi o principal porta-voz da visão de que o Supremo deve ir contra a maioria para garantir direitos constitucionais, como a presunção de inocência. Contra o argumento de que a Ficha Limpa foi um projeto de iniciativa popular com mais de um milhão de assinaturas e aprovado pelo Congresso, arguiu-se pela impossibilidade de se arregimentar tantas assinaturas sem interesses partidarizados por trás. Os algozes da Ficha Limpa também creditaram o interesse do Congresso em aprovar a lei ao instinto de sobrevivência política de parlamentares que, sob intensa pressão popular, votaram contra seus próprios direitos.

Mendes tem-se notabilizado pela defesa do ativismo judicial que preenche lacunas deixadas pelo Legislativo. Na Ficha Limpa, porém, não houve lacuna alguma. O Congresso respondeu a uma pressão popular fazendo tramitar a proposta em tempo recorde e aprovando-a com um único voto contrário. O Congresso agiria no mesmo sentido na legislatura seguinte ao mobilizar uma Proposta de Emenda Constitucional, com a adesão de senadores de todos os partidos, em defesa do CNJ caso o Supremo julgasse procedente a ação que lhe retirava poderes.

Foi no Supremo que a Ficha Limpa enfrentou inúmeros obstáculos desde sua promulgação em junho de 2010. Desde a indefinição sobre sua validade para as eleições daquele ano até questões de mérito como o poder de veto de colegiados contra os quais ainda cabe recurso judicial.

A dificuldade do Supremo de deliberar sobre a questão fez com que as eleições de 2010 transcorressem indefinidas sobre cerca de 10 milhões de votos dados a candidatos cuja sujeição à lei ainda permanecia incerta.

Nas contas de Mendes um quarto dos candidatos barrados pelas primeira e segunda instâncias têm suas carreiras políticas posteriormente regeneradas pelo Supremo.

É aí que entra a importância da decisão que manteve os poderes do CNJ. Se os magistrados barrarem candidaturas sob pressão de interesses ilegítimos, o Conselho Nacional de Justiça estará fortalecido para investigá-los e puni-los. Se quem tem poderes para julgar os políticos também estiver passível de julgamento é a democracia que ganha.

Os poderes renovados do CNJ ainda garantem a vigilância sobre a magistratura a despeito de injunções políticas de sua organização classista.

A Ficha Limpa teve na Associação dos Magistrados Brasileiros uma de suas grandes propulsoras. Foi o comando anterior da AMB que decidiu mobilizar a entidade por campanhas de cidadania.

Ao assumir a entidade no ano passado, depois de uma eleição apertada (52%), o atual presidente, o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Nelson Calandra, achou que era chegada a hora de retirá-la da linha de frente de campanhas como a da Ficha Limpa e colocá-la na defesa de interesses de classe.

Se a Ficha Limpa foi aceita pelo Supremo num momento em que a entidade de classe dos magistrados está sob uma gestão marcadamente corporativa, cresce a responsabilidade do CNJ.

Durante a campanha eleitoral para fazer seu sucessor na presidência da AMB, o juiz pernambucano Mozart Valadares relatou ter sido pressionado por seus pares para não se engajar pela Ficha Limpa. O argumento era de que ele se arriscava a ficar contra parlamentares que depois deliberariam sobre os salários da magistratura. O candidato de Valadares acabaria derrotado por Calandra na disputa.

Daí porque toda vigilância é pouca. A Ficha Limpa certamente não será capaz de, sozinha, moralizar a República. Terá que se valer da participação cidadã que originou a lei e, como diz o jurista Joaquim Falcão, aproximou a democracia representativa da participativa. O que a vigilância do CNJ garante é que a lei não seja desmoralizada.

Ao vencedor... as laranjas - DECIO ZYLBERSZTAJN

VALOR ECONÔMICO - 24/02/12


A notícia de que a "Food and Drug Administration" (FDA) embargou lotes de suco de laranja de origem brasileira provocou flutuação nos preços e preocupação generalizada entre produtores e exportadores. A FDA, agência americana que cuida do controle e registro de medicamentos e de produtos de defesa vegetal, pode criar problemas para o sistema agroindustrial da laranja, afetando produtores, indústria de insumos e exportadores. É inevitável que os consumidores brasileiros perguntem se o produto aqui vendido é seguro.

O fato isoladamente é relevante bem como a identificação da sua causa, no sentido de evitar futuros problemas. Voltemos à origem do conceito de "agribusiness", que traz na sua essência a ideia de "coordenação". O conceito não foi cunhado para significar a grande agricultura industrial como tem sido interpretado no Brasil, mas para ressaltar que a agricultura não pode ser tratada como um setor isolado da indústria de insumos que a precede ou da indústria de processamento de alimentos que a sucede na cadeia produtiva.

O funcionamento dos Sistemas Agroindustriais (SAGs) é complexo, pois envolve agricultores dispersos geograficamente que adotam tecnologias em geral apontadas pela indústria de insumos. A produção é processada pela indústria ou poderá ser consumida diretamente sem processamento, no caso do alimento in natura.

O tema da coordenação é imperativo e dá o mote para os estudos e pesquisas geradas nos centros dedicados ao tema em todo o mundo. A pesquisa dos últimos 20 anos converge para fato de que a competitividade dos SAGs é pautada pela adoção de tecnologias produtivas, ambientalmente compatíveis, e seguras sob o ponto de vista do consumidor final. Para tanto, a adoção de mecanismos de coordenação entre produtores e indústria se faz necessária. A indústria processadora, os agricultores e a indústria de insumos, quando conseguem aprimorar os mecanismos de coordenação, são capazes de gerar valor, criando incentivos para a cooperação de longo prazo, condição necessária para a incorporação de novos mercados.

Se no passado o alimento era produzido e consumido localmente, os atuais sistemas de produção e consumo são caracterizados pelo distanciamento entre o local da produção e processamento do local onde se dá o consumo. Tal fato gera a necessidade de mecanismos de controle de qualidade e sanidade dos alimentos bem como de normas legais e estrutura para efetuar os controles.

O fato que funcionou como o gatilho para a intensificação do controle sobre os alimentos foi o mal da vaca louca ocorrido na Europa, que gerou o critério de segurança hoje representado pelo Global-Gap, servindo de pauta para todos os SAGs que desejam chegar ao mercado europeu. Nos Estados Unidos, o FDA foi criado no século XIX a partir da Divisão de Química do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos. Nasceu como uma resposta institucional à necessidade de controles de sanidade dos alimentos e medicamentos.

Instituições como o FDA ou seus similares europeus são movidas por razões técnicas e também por pressões políticas. Estratégias de acesso aos mercados, não raro, são marcadas por mecanismos não tarifários de proteção aos produtores locais. De modo pragmático, os SAGs que competem nos mercados internacionais devem prever situações críticas cujos sinais estão disponíveis, reorganizando a produção. Um exemplo é a substituição do uso de moléculas que gerem resíduos banidos dos mercados.

Em suma, as exigências dos consumidores, sejam elas impostas pelo mercado ou por mecanismos regulatórios, são fatores indutores de mecanismos refinados de coordenação nos sistemas de base agrícola. Cabe perguntar como anda a coordenação na agroindústria citrícola no Brasil.

Eu diria que os indicadores não são os mais animadores. Os citricultores independentes e a agroindústria tem vivido momentos cheios de emoção nas últimas décadas. O tema de maior visibilidade é o conflito distributivo que ganhou um status crônico, mobilizando o Cade e o Poder Judiciário.

A tentativa de criar um mecanismo contratual de precificação (Consecitrus), à luz da experiência do Consecana, tem mostrado uma visão imperial da indústria que sugere ter ela o modelo para a solução do problema distributivo. No mínimo, esta é uma visão ingênua, pois os modelos de sucesso são embasados em negociação de longo prazo e criação de laços de relacionamento entre agricultores, indústria de insumos e indústria de processamento.

O exemplo do uso do fungicida que contém o princípio ativo "carbendazim" apenas acentua a disritmia que caracteriza o SAG da laranja no Brasil, abrindo o flanco para a perda de poder competitivo. Os sinais são óbvios. As discussões realizadas entre o FDA, a Juice Producers Association e a Citrus-BR, em janeiro de 2012 deixaram os agricultores em condição subsidiária na mesa de negociação.

Não há sinais de que as arestas estejam sendo adequadamente trabalhadas. A indústria eleva o seu grau de integração vertical, cuja eficiência é questionável por envolver grandes investimentos em ativos, e os contratos de longo prazo entre a indústria e produtores perdem a sua capacidade coordenadora. O ambiente que impera não sugere que ações geradoras de incentivos para a cooperação estejam à vista.

A indústria e a agricultura tratam o tema com miopia usual. Se cooperassem, agricultura e indústria gerariam e protegeriam valor que poderia ser distribuído entre os setores de modo inteligente. Da maneira como tratam a cooperação, o sistema agroindustrial da laranja nos faz lembrar Quincas Borba, de Machado de Assis. As duas tribos estão famintas e acham que o campo de batatas é suficiente apenas para alimentar uma delas. Ao vencido o ódio ou compaixão, ao vencedor as laranjas

Onde estão as vítimas? - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 24/02/12

A Livraria Cultura também é vítima ou deveria ser cobrada por negligenciar a segurança de seus clientes?



VAMOS ESTRAGAR o café da manhã de novo? Então releia a nota publicada dias atrás na coluna da colega Mônica Bergamo: "Os pais do jovem atacado com um taco de beisebol na Livraria Cultura, em São Paulo, em 2009, estão pedindo na Justiça indenização de R$ 2 mi­lhões por dano moral e material. Eles dizem que a segurança da loja falhou. Pedro Herz, dono da Cultu­ra, diz que foi vítima também".
O pão com manteiga atravessou na goela tudo de novo, não é?

Gosto muito do Pedro Herz, ouso dizer que é meu amigo. Desde sem­pre sou tiete da livraria do Conjun­to Nacional, acompanhei a expan­são do seu negócio, frequento o tea­tro Eva Herz, nome da mãe do pro­prietário, bem como os das lojas dos shoppings. Já estive lá median­do palestras e participando de en­contros de portadores de câncer e suas famílias e sei avaliar a contribuição que o empresário presta à cidade. São Paulo é bem mais feliz desde que seu negócio virou essa potência com rede de lojas, serviço de entrega rápida pela internet, ci­nemas, cafés, sistema de pontos nos cupons, é uma festa a Livraria Cultura do Pedro Herz.

Mas tive uma sensação horrorosa ao ler que os pais do rapaz foram forçados a recorrer à Justiça para receber uma soma qualquer.

O leitor deve lembrar do caso, muita gente acompanhou o sofri­mento dos pais entrando e saindo das Clínicas. Foram 300 dias de vi­gília na UTI.

O designer Henrique de Carvalho Pereira, 22, jamais recobrou a consciência. Morreu em 22 de ou­tubro de 2010 e até hoje a mãe, pro­fessora do ensino público, passa por processo de readaptação para tentar voltar a dar aula.

No calor da emoção, com o rapaz entubado na UTI, Pedro Herz se dispôs a ajudar a família. Henrique era designer gráfico e, dias antes de ser atacado na livraria, tivera o desenho de sua vaquinha aprovado no "Cow Parade". Pedro comprou a escultura por R$ 17 mil e deu o di­nheiro à família. E só.

Agora alega ser tão vítima quanto Henrique. "Tão vítima quanto" porque o assassino já havia atacado uma vitrine e depredado uma TV na mesma loja dias antes de chegar ao rapaz. Mas, se este é o caso, não se pode argumentar que, em vez de se colocar na posição de vítima, Pe­dro Herz e a Livraria Cultura deve­riam estar sendo cobrados por ne­gligenciar a segurança de seus clientes?

Tudo indica que a defesa de Pedro Herz não quer abrir precedentes. O raciocínio parece ser o de que pagar a indenização agora significa abrir o flanco para futuras ações.

Pode-se enxergar aí uma falácia. Ao fantasiar que exista como blin­dar o cliente contra o imponderá­vel, os advogados de Herz esque­cem de que cada caso é um caso. E tolhem dele a oportuni­dade de fazer o que é certo.

A família de Henrique não buscou confronto. Apenas tentou reaver o que gastou no tratamento e no pós-vendavel que lhes arruinou a vida. Foi a imprensa que, por acaso, encontrou o processo em anda­mento na Justiça.

E agora Pedro Herz, seus advoga­dos e sua assessoria de imprensa armam um muro de silêncio ao re­dor da Livraria Cultura. O que eles não estão percebendo é que, em breve, pode ser necessário adicio­nar à guerreira equipe alguns es­trategistas de marketing. Para lidar com danos à marca e à imagem.

Sem cinzas - SONIA RACY

O ESTADÃO - 24/02/12


Acabou o carnaval e, para combater o estresse, a Câmara dos Deputados está comprando novos equipamentos para exercícios. Gastará R$ 75 mil.

Entre os aparelhos, o kinesis, que alivia problemas ortopédicos, e uma maca para exercícios, desenvolvida pelo sistema Pilates.

Balada dos sonhos
Sócios de David Lynch estão no Rio. Procurando endereço para casa noturna à imagem e semelhança de seu exclusivíssimo clube Silencio, em Paris.

Lá e cá
Hugo França doou um banco à Gracie Mansion, residência do prefeito de NY. Feito com resíduos de um pequivinagreiro de 800 anos.

Retribuição ao presente que Michael Bloomberg deu a São Paulo no ano passado: também um banco, idêntico ao do Central Park, que está no Parque Ibirapuera.

Tudo em casa
Depois de emplacar o caçula no CNJ, o ministro Emmanoel Pereira, do TST, trabalha por seu outro filho, Erick.

Ele já tentou vaga no Conselho. Perdeu. Agora, quer ser ministro do TSE na vaga destinada aos advogados.

Pelo ralo
Os portais de compras coletivas na internet acabam de provar que o impulso é mesmo pai do desperdício.

Pesquisa da Lab 42, nos EUA, garante que dois em cada três cupons adquiridos em sites do gênero não são usados no tempo devido pelos consumidores.

Amadíssimo
A família de Jorge Amado teve de se dividir, durante o carnaval, para assistir às muitas homenagens ao escritor. Cecília, a neta, comentou a emoção de todos em Salvador, com Ivete Sangalo, Daniela Mercury e Carlinhos Brown –que fizeram questão de lembrar o autor baiano.

O clã também comemorou a vitória da Mocidade em SP e lamentou a sorte da Imperatriz Leopoldinense no Rio.

Estante
Romário vai ganhar mais um título para sua vasta coleção: o de embaixador mundial do... futevôlei.

Grécia, mais um triste capítulo - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

FOLHA DE SP - 24/02/12


A mudança do presidente do BCE e a liderança de Draghi fizeram os mercados deixar de apostar no caos


Finalmente, após semanas de idas e vindas, os governos europeus aprovaram um pacote de empréstimos à Grécia, evitando uma moratória da dívida soberana desse país.

Com essa decisão, os credores privados que detêm mais de € 100 bilhões em títulos do Tesouro grego vão trocá-los por outros, recebendo para cada € 1 o equivalente a € 0,30.

Como se diz por aqui, "lá se vão alguns anéis para ficarem os dedos", ou, no caso grego, "pelo menos alguns dedos".

Com todo esse esforço financeiro envolvendo governos e investidores privados, a Grécia ainda ficará devendo -se tudo der certo nos próximos anos- mais de 120% de seu PIB em 2020. A magnitude dos números mostra de forma clara a verdadeira irresponsabilidade dos bancos, principalmente os europeus, em emprestar, durante os anos de vacas gordas, tanto dinheiro para esse pequeno país mediterrâneo.
Embora a maioria da imprensa ainda aja como se essa operação de socorro não vá ocorrer e 8 em 10 analistas prevejam um desastre mais à frente, o fato é que a Europa evitou uma crise de contornos inimagináveis. Uma moratória grega iniciaria uma nova crise de confiança nos mercados, pior até do que a criada pela falência do banco Lehman Brothers, em julho de 2008.

Para chegar à conclusão de que o pior ficou para trás, basta analisar o comportamento do preço dos títulos italianos de dez anos no mercado nos últimos seis meses. No auge da crise de confiança, na metade de 2011, eram negociados com deságio de mais de 16% sobre o valor de resgate; hoje são negociados com um desconto de só 3%. Esse mesmo comportamento -embora de forma menos acentuada- pode ser encontrado nos papéis de mesmo prazo da Espanha e da França.

Os mercados de títulos dão sinal claro de que a crise das dívidas soberanas dos países europeus passou a ser vista como um desajuste de longo prazo, e não mais como uma ruptura iminente. Essa parece ser a visão majoritária nos mercados, embora todos reconheçam que os riscos de uma nova recaída, ao longo dos próximos anos, ainda são muito grandes.

As dificuldades que os países mais endividados terão que enfrentar para estabilizar de forma estrutural suas dívidas poderão criar condições objetivas para uma crise política séria e uma volta da desconfiança aos mercados.

Os analistas mais otimistas com o futuro apresentam, para defender sua posição, um fato real: os líderes europeus têm hoje uma visão mais detalhada dos problemas que criaram a crise na Europa e um plano de voo mais claro para enfrentá-los.

Quando ela eclodiu com violência, eram visíveis o espanto e a falta de entendimento que havia na liderança política da Europa do euro. Em razão disso, as manifestações públicas eram desencontradas, elevando o pânico dos investidores e jogando mais lenha na fogueira da crise. Hoje pode-se notar uma coesão maior, tanto ao nível das ideias como das ações propostas nos fóruns de decisão da zona do euro.
Mas há um ponto em que pessimistas e otimistas concordam: foram a mudança do presidente do Banco Central Europeu e a liderança assumida pelo italiano Mario Draghi no comando dessa instituição, historicamente dominada pelo pensamento alemão conservador, que fizeram com que os mercados deixassem de apostar no caos.
Em questão de dois meses, quando a maioria dos analistas dizia que um italiano teria dificuldade de jogar o BCE de cabeça na crise, Draghi liderou uma operação agressiva de empréstimos aos bancos europeus, colocando no caixa dessas instituições mais de € 600 bilhões pelo prazo de três anos. E agora, no fim de fevereiro, mais uma parcela do mesmo tamanho está prometida.

Para atender os bancos menores, dessa vez o BCE aceitará como garantia colateral empréstimos a empresas privadas. Imagino o ranger de ossos nos corredores do Bundesbank -o banco central alemão- com essa decisão. Foi a liderança do BCE, mais do que outra decisão tomada pelos políticos de plantão, que virou o jogo na Europa.

Mas ainda teremos um longo caminhar e muitas mudanças estruturais na governança dos 17 países que compartilham o euro como moeda antes de chegarmos a um novo desenho dessa comunidade de nações.

Importar mão de obra por contrato temporário - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 24/02/12


O aquecimento do mercado de trabalho, apesar do desaquecimento da economia desde o segundo semestre de 2011, preocupa o governo e leva alguns economistas oficiais a cogitar a possibilidade de o país vir a importar mão de obra por meio da criação de um contrato temporário de trabalho. Poderia ser, segundo eles, um contrato com prazo limitado a cinco anos, pelo menos até terminar o ciclo de grandes obras decorrentes dos eventos esportivos.

Os indicadores de oferta e demanda de trabalhadores qualificados são, de fato, inquietantes. Estima-se que de agora até 2014 as universidades do país formarão cerca de 60 mil engenheiros civis. A demanda por esses profissionais, calculada a partir dos projetos de investimentos projetados para os próximos três anos, é de 350 mil.

Na área da tecnologia da informação (TI), o quadro de escassez se repete. As escolas do país devem formar até 2014 entre 34 mil e 35 mil profissionais de TI. A demanda, conforme diagnosticada pelo governo junto ao setor privado, é de que serão necessários até lá cerca de 80 mil trabalhadores da área.

Há relatos, que chegam a esses economistas, sobre companhias que estariam contratando guardas para proteger os portões das empresas e, assim, evitar o assédio de concorrentes em busca de mão de obra especializada.

Outro indicador de que o mercado de trabalho no país continuará aquecido é a expectativa de que até 2016 as microempresas devem abrir cerca de 30 milhões de vagas.

Pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revela que 69% das empresas de construção civil apontam para dificuldades em encontrar profissionais de maior qualificação.

"Hoje o salário de um engenheiro civil no Brasil é da ordem de R$ 16 mil. Na Espanha, um engenheiro pode ser contratado pelo equivalente a R$ 9 mil", disse uma fonte do governo, que argumenta: "Temos uma transição a fazer" e uma solução possível seria aproveitar a alta do desemprego decorrente da crise na zona do euro para institucionalizar, de forma negociada com os sindicatos, o contrato temporário.

Além dos efeitos que a carência de profissionais especializados pode produzir sobre o crescimento e a inflação, a preocupação se estende também para a queda da produtividade, na medida das substituições de mão de obra qualificada por semiqualificada.

Muito se discutem as razões do aumento da oferta de emprego para níveis de quase pleno emprego ao mesmo tempo que a economia teve uma forte desaceleração. No ano passado, a taxa de desemprego foi de 4,7%, recorde de baixa.

Estudos feitos pelo Credit Suisse indicam queda expressiva da taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) necessária para manter a estabilidade do mercado de trabalho. Era de 3,3% em 2003 e baixou para a casa dos 2% em 2011. Os economistas do banco projetam crescimento de apenas 2,5% do produto em 2012 e de 4,0% em 2013 e argumentam que essa performance é compatível com a continuidade da queda do desemprego e aumento da renda.

Isso decorreu, segundo o mesmo estudo, das mudanças demográficas que o país vem atravessando, como o envelhecimento da força de trabalho e menor percentual de jovens na população economicamente ativa (PEA). O mesmo fenômeno já havia ocorrido na crise de 2008/2009. Mesmo com a contração de 0,3% do PIB em 2009, o desemprego cresceu somente 0,2 ponto percentual em relação a 2008.

O economista-chefe do banco Itaú, Ilan Goldfajn, também chamou a atenção para o que pode estar ocorrendo no mercado de trabalho, em artigo recente. A absorção de trabalhadores de menor qualificação pode estar reduzindo a produtividade média da economia, as mudanças demográficas reduziram o crescimento da PEA, ou, ainda, os empresários estariam apostando numa rápida recuperação do crescimento - tal como ocorreu na crise de 2008/2009, e evitando os custos das demissões agora para ter que voltar a contratar mais à frente. O mais provável é que seja uma combinação desse conjunto de fatores.

A preocupação de técnicos do governo com o mercado de trabalho é mais do que justificável, pelos riscos inflacionários e limitações que traz ao crescimento sustentado.

Há anos se fala da baixa escolaridade dos jovens brasileiros e das péssimas condições da educação no país. Os anos de baixo crescimento econômico mascararam o problema, adiando soluções que inevitavelmente passam pela educação. Sem demérito para os últimos governos que até tentaram melhorar a qualidade do ensino público, o fato é que as soluções não são simples, o país ficou para trás e agora colhe o preço da negligência.

Queda de braço - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 24/02/12


 COM FERNANDA KRAKOVICS 


Os comandantes das Forças Armadas caíram em cima dos presidentes dos clubes militares por causa do manifesto com críticas à presidente Dilma. O motivo de insatisfação dos militares da reserva é com a Comissão da Verdade. Os comandantes reclamaram que o texto extrapolou o debate de ideias e foi desrespeitoso com a presidente. Uma nota de desautorização do manifesto ficou no site do Clube Militar por cerca de 20 minutos, na tarde de ontem, e depois foi retirada. O tempo foi considerado “suficiente” pelos militares da reserva.

Os pontos da discórdia
A questão urbana não será problema na votação do Código Florestal na Câmara. O governo aceita retirar do texto a exigência de 20 metros quadrados de área verde por pessoa nas expansões urbanas e a necessidade de recomposição da vegetação às margens de rios nas cidades. Essa também não é uma prioridade para os verdes.

A briga será em torno da anistia para quem desmatou ilegalmente — no caso, o resgate da emenda 164 — e da proteção dos manguezais. Outros pontos polêmicos são a proibição de pastagens em encostas e topos de morro com declive acima de 25° e a definição do que é a função estratégica da produção rural. 

“A Saúde no Brasil está se transformando, cada vez mais, em caso de polícia” — Pedro Simon, senador (PMDB-RS), sobre a morte do filho do presidente da Embratur, Flávio Dino, em um hospital em Brasília 

BOMBEIRO. O vice-presidente Michel Temer, na foto, está agindo como mediador nas negociações do Código Florestal. Ele tenta evitar uma radicalização do PMDB, já que o relator do projeto, deputado Paulo Piau (PMDB-MG), é da bancada ruralista. O governo quer manter o texto aprovado no Senado. Na primeira votação do Código na Câmara, ano passado, Temer bateu boca com o então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci.

Sem espaço
Um integrante do PR ironiza a sondagem feita pela ministra Ideli Salvatti para saber se o partido se contentaria com outro cargo sem ser o de ministro dos Transportes.“Iam nos oferecer o quê? O Ministério da Cultura?”, questiona ele.

Pressa
Preocupado com o atraso na tramitação da Lei Geral da Copa na Câmara, o governo quer jogar para o Senado a discussão de pontos em que há divergência com a Fifa, como a responsabilidade civil da União por danos ocorridos no torneio.

Fashion Câmara
A Câmara havia encomendado um novo modelo de bottom para diferenciar os deputados de primeiro mandato. O objetivo seria evitar problemas com os seguranças. Mas o novo modelo não agradou aos deputados, e a Câmara teve que voltar ao modelo antigo, mais parecido com uma joia, para todos. Os dois mil novos bottons custaram R$ 4.380. Como não agradaram, a Câmara teve que gastar mais R$ 2.980.

Climão
O Congresso retoma os trabalhos na semana que vem com um clima de insatisfação na base aliada. Deputados continuam reclamando por terem demandas por cargos não atendidas e do bloqueio das emendas ao Orçamento.

Mantra
Autor do requerimento de audiência pública sobre a reintegração de posse de Pinheirinho, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) aproveitou a presença de moradores do local para distribuir seu livro sobre o Renda Mínima.

OUTROS VOOS. O carnavalesco Paulo Barros, da vitoriosa Unidos da Tijuca, filiou-se ao PSDB. Pretende disputar uma vaga de vereador.

INSURREIÇÃO. Presidente do PSDB da Bahia, Sérgio Passos não reconhece acordo feito pelo presidente nacional do partido, Sérgio Guerra, para apoiar ACM Neto (DEM) em Salvador. Diz que o candidato será o deputado Antonio Imbassahy (PSDB).

RESCALDO. O deputado Chico D’Ângelo (PT-RJ) teve o celular furtado no Bola Preta sábado.


Quem te viu, quem te vê - NELSON MOTTA


O Estado de S.Paulo - 24/02/12


No tempo da ditadura, Chico Buarque era uma unanimidade nacional, ou quase. Até os generais-presidentes Costa e Silva e Garrastazu Médici apreciavam as suas músicas mais líricas. É possível que alguns militares menos românticos e mais durões não gostassem - mas suas filhas gostavam.

Hoje, apesar de viver um dos melhores momentos de sua carreira, em plena maturidade criativa, já com uma obra monumental e lugar de honra na nossa história, Chico, que sempre se acreditou amado, descobriu nos blogs da internet que é (também) odiado. Pelas milícias partidárias que unem a ignorância e a intolerância para desqualificar uma obra e um artista pelas suas opiniões políticas. Em 1968, vaiado pela esquerda universitária, Caetano Veloso gritava em seu célebre discurso: "Se vocês forem em política como são em estética, estamos feitos". Os que hoje xingam Chico atualizam as mesmas palavras.

É um clássico da condição humana. A inveja e o ressentimento que se transformam em ódio irracional contra indivíduos vitoriosos, admirados por muita gente, que ganham dinheiro com seu trabalho, que não têm patrão nem comandante e podem viver com liberdade e independência. Sem sequer ler o que escrevem sobre eles. Para quem escreve, como militante anônimo de uma engrenagem coletiva, é a oportunidade para descarregar suas misérias e frustrações pessoais sobre o invejável invejado. Pena que ele não vai ouvir.

A política é transitória e contraditória. Pela visão do Zé Dirceu, fã de Chico, os que são contra o aborto e a favor da pena de morte e da maioridade penal aos 16 anos são "de direita". Então a maioria da classe média tão cortejada pelos políticos, que elegeu um governo de esquerda, é "de direita" e não sabe?

A ironia é que esta nova e imensa classe média, alardeada como grande vitória de governos progressistas, é cada vez mais conservadora, pelo instinto natural de manter suas conquistas recentes, casa, carro, consumo, emprego, com lei e ordem e sem sobressaltos. E também gosta de Chico Buarque.

As paixões políticas passam, a obra artística permanece. Não se afobe não, que nada é pra já.

Território neutro ou zona de perigo? - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

ESTADÃO - 24/02/12

Suíça ou Faixa de Gaza? Para onde caminham os juros brasileiros? O Banco Central reintroduziu, recentemente, o debate sobre o nível da taxa de juros real neutra, aquela que é compatível com a estabilidade inflacionária para um determinado ritmo de crescimento. As motivações do BC para a retomada dessa discussão são claras.

Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), os membros da diretoria reforçaram o compromisso de reduzir a taxa Selic para o nível de um dígito, argumentando que as atuais condições macroeconômicas brasileiras e um quadro internacional marcado por mudanças que os diretores consideram permanentes justificariam a decisão de trazer os juros no Brasil para níveis compatíveis com os internacionais.

O objetivo é válido. Afinal, os juros elevados são, reconhecidamente, a nossa famosa "jabuticaba". Mas será mesmo que já temos maturidade macroeconômica para isso? O BC ressalta alguns pontos importantes. Argumenta a favor do aumento da potência da política monetária, derivado, sobretudo, da maior disponibilidade de crédito.

Enfatiza o comportamento das taxas de juros internacionais. Afinal, se essas taxas influenciam os juros brasileiros, a constatação de que estão excepcionalmente baixas sugere que um elemento importante da tendência de queda dos juros brasileiros será preservado. Ao menos até que algumas dessas economias comecem a sofrer as pressões inflacionárias resultantes do excesso de liquidez gerado pela atuação sincronizada de expansão monetária dos principais bancos centrais.

A verdade é que há mais mistérios entre o comportamento da taxa de juros real e o de sua variante estrutural - a taxa neutra - do que sugere a vã filosofia monetária atual. A taxa de juros real neutra é um conceito, não é facilmente mensurável. Assim como os conceitos de crescimento potencial do PIB e de taxa natural de desemprego, a taxa neutra serve para fundamentar a política monetária, mas não para definir o dia a dia da Selic.

Além do mais, as três construções teóricas estão relacionadas. Por exemplo: se o crescimento potencial futuro for menor do que o BC(digamos 3,5%), isso implica uma taxa natural de desemprego mais elevada do que se pensa (algo próximo de 8%). Se esses forem os parâmetros estruturais, a taxa neutra, que o BC parece acreditar ser de 4,5%, não poderá se sustentar nesse nível. Uma conta rápida sugere que os números acima são compatíveis com uma taxa neutra entre 6,5% e 7%.

Eis o cerne do problema. Para tratar da taxa neutra, deve-se discutir as mudanças na economia brasileira que serão capazes de sustentar um crescimento próximo de 5%, com desemprego também neste nível, sem gerar aceleração inflacionária. Tais mudanças envolvem uma discussão sobre as reformas que o País ainda não fez. Sem isso, a ilusão dos juros neutros em 5% é apenas uma fantasia perigosa. Uma constatação derivada de um contexto efêmero. O caminho para Gaza e seus bombardeios inflacionários.

Ricardo Teixeira: não é hora de renúncia - MARCIO BRAGA

FOLHA DE SP - 24/02/12


Sem recursos, em 1987 a CBF nem organizou o Brasileirão; Teixeira estabilizou a entidade, levou a seleção a três finais de Copa e trouxe o evento ao Brasil

Há mais de 40 anos participo ativamente da vida esportiva nacional. Nesses anos todos, ninguém foi mais crítico ao sistema de poder consolidado no futebol brasileiro e mundial.

A novela atual sobre possível renúncia de Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e sobre a sua sucessão, que está sendo articulada apenas por grupos de federações estaduais, evidencia mais uma vez a lacuna de representatividade dos clubes brasileiros.

Eles, embora tenham conquistado o direito de participar do processo eleitoral da CBF, não podem apresentar candidatos.

Não há nenhum fato novo, nenhuma razão objetiva concreta, para a renúncia do presidente. É fácil aproveitar a onda de críticas para empurrá-lo nessa direção como se, apesar dos pesares, a CBF e o futebol brasileiro não tivessem evoluído muito nos últimos tempos.

A seleção brasileira, em todas as categorias, ganhou a maior parte dos seus títulos de 1989 pra cá. Só a categoria principal chegou a três finais de seis Copas do Mundo que disputou. Ganhou duas vezes, conquistando também cinco títulos da Copa América e dois da Copa das Confederações.

Há 50 anos, os jornais anunciavam que o governo federal estava salvando o futebol ao prover o dinheiro necessário para que a seleção embarcasse para a Copa no Chile. Em 1987, a CBF anunciava que não organizaria o Campeonato Brasileiro por não ter recursos suficientes em caixa.

Hoje, a CBF tem uma situação financeira estável, com contratos sólidos e reservas que ultrapassam R$ 200 milhões. O Campeonato Brasileiro, que nunca tinha sido disputado por mais de dois anos seguidos com o mesmo formato, tem agora uma fórmula consagrada desde 2003.

Ele conta atualmente com quatro divisões, garantindo atividade permanente a cem clubes do país inteiro. O campeonato promove uma atividade econômica com potencial de responder por 1% do PIB brasileiro, gerando emprego e renda para milhares de pessoas.

Outro aspecto importante que se deve ressaltar se refere à Copa do Mundo de 2014, que pode servir de catalisadora para reformas estruturais no futebol brasileiro.

A escolha do Brasil como sede da Copa é prova da habilidade política dos nossos articuladores, liderados pelo próprio Ricardo Teixeira, que conseguiram o apoio de todos os países da América do Sul para que o Brasil fosse o único candidato -geralmente, isso não acontece, pois os países se engalfinham para disputar o direito de sediar uma Copa.

Não é hora de renunciar, mas sim de avançar ainda mais. A desconstrução do Clube dos 13 abre caminho para a criação de uma liga do futebol profissional, que permitirá aos clubes desenvolverem plenamente os seus potenciais desportivo e econômico.

A CBF precisa estar na linha de frente desse movimento. Não é hora de perder tempo com discussões deletérias. É hora de trabalhar para aproveitar esse momento especial que o Brasil vive, em especial no esporte. Ricardo Teixeira não pode ser sucedido por um Zé das Medalhas qualquer.

Brasileiro beija a mão de famoso meia-boca - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO


O Estado de S.Paulo - 24/02/12


Segunda-feira e terça de carnaval, Rua João Moura, deserta. Nestes dias o assunto tem sido a nova ministra da Dilma, Eleonora Menicucci, que mora aqui, e nesta quadra, perto da CPL. Será que ela se junta ao grupo de professoras universitárias que todos os domingos, pela manhã, ocupa as mesas da calçada para conversar? Fará parte do nosso cotidiano, da padaria do José, da sapataria do Pepe, do salão La Bella Donna? Ou agora, por força do cargo, terá batedores, carro blindado, seguranças? Um casal se aproxima. Na rua vazia só há três pessoas: Marika Gidali, Décio Otero e eu. Marika diz que voltou. O seu Stagium é uma instituição na dança brasileira. Os bons povoam o bairro.

Seja pelo tempo que muda repentinamente, seja pelo que for, comecei a semana com faringite. Preocupei-me, ontem falaria aos professores em Santana de Parnaíba. Meu médico estava viajando, fora de área. Ao correr do dia fui diagnosticado pelos habituais "médicos" e loucos:

- Tome Cataflam.

- Faça gargarejos com vinagre, limão e sal.

- Pastilhas de mel e gengibre.

- Enrole no pescoço um lenço com álcool.

- Passe Vick Vaporub na garganta, proteja e não tome friagem.

- Pincele com azul de metileno.

- Coma alho.

- Tome 20 gotas de própolis em meio copo de água.

- Própolis, poejo, guaco e agrião.

- Não tome friagem.

- Não beba gelado.

- Tome anti-inflamatório forte. Tandrilax, por exemplo.

Assim por diante. Se vocês tiverem, podem mandar sugestões. Abri um caderno de variedades, e pensei: Rubem Fonseca lança outro livro? Ou é matéria sobre o filme Mandrake? Nada disso, era a foto de Joaquim Rolla, o empreendedor que criou o Cassino da Urca, lendário, mítico, cuja biografia foi escrita por João Perdigão e Euler Corradi. Se for filmado, já tem um ator, Rubem Fonseca. Cara de um, focinho de outro.

Hoje é sexta, pós-carnaval. Olhando as bancas de jornais, lembrei-me do pós-carnaval nos anos 50. Corríamos para garantir os exemplares de O Cruzeiro e da Manchete. Esgotavam num abrir de olhos. Preferíamos a Manchete, era colorida, bem impressa, as mulheres tinham cor de carne, eram quase palpáveis. Revistas de carnaval nos alegravam com centenas de páginas trazendo mulheres de biquíni, coxas de fora, seios (quase) de fora, bundas à vontade. A maior libidinagem, excitação. Padres e mães de família alertavam: pecado, pecado. Queríamos pecar. Os mais fanáticos garantiam que o Rio de Janeiro era a perdição, o apocalipse. Revistas pós-carnaval iam para baixo dos colchões, para os pais não desaparecerem com elas. A vida sexual era restrita, usava-se a imaginação.

Agora, perdeu a graça. Perdeu mesmo. Tem gente pelada o ano inteiro, em toda parte. Banalizou. Não temos mais gana de ver tanta mulher nua e isso não é por causa da idade. É que quando tem muito melado, a gente se lambuza. Onde não tem mulher nua? Acabou a insinuação, a sugestão, a provocação. É tudo explícito. Quer ver alguém transando? Ligue para o BBB. Coxas, bundas, xoxotas (ou parte pudendas, como se dizia) estão à solta, enchem caçambas. Sabem o que me lembra? Estrogonofe. Antes, era comida sofisticada, o filé flambado em vodca, etc. Caríssimo. Degustado com sabor. Hoje, qualquer restaurante a quilo tem por dois reais. Pena que a sensualidade tenha sido jogada ao lixo.

A poesia da imaginação, da fantasia, a excitação alimentada por nesgas de corpos entrevistos, por um cruzar de pernas, uma eventual calcinha, o início de um seio estão fora de questão. A imaginação foi implodida. Vivemos a era do explícito. Quer ver? Te mostro. Recato é palavra anacrônica. Pudor há muito desapareceu dos dicionários, assim como ética. Mulher pelada ficou igual a corrupção. Tem tanta, tantos praticam, que ninguém mais liga, corruptos são até admirados.

Ou será que as uvas estão verdes? Jovens, perguntávamos: quem pega essas mulheres? Um dia, no Pasquim, Tarso de Castro comentou: "Antigamente perguntávamos quem comia aquelas mulheres lindas. Hoje, respondo: somos nós". E era mesmo, ele teve até a Candice Bergen. Cada bateria de escola de samba tem sua madrinha. Cada uma mais vistosa e imponente e despida que a outra. Li sobre elas. Não é fácil cultivar um corpo fenomenal daqueles. Tem uma que na academia levanta 200 quilos nas pernas. É duro ser madrinha. Em outros tempos, elas sairiam em página inteira, esplêndidas. Hoje, tiveram o espaço reduzido. Na televisão, duram segundos. Sabrina Sato foi a que mais apareceu em São Paulo. Hoje, ela é famosa porque namora um deputado. Ou o deputado ficou conhecido porque namora a Sabrina? Os camarotes do Rio estão à deriva. Achar que Jennifer Lopez é celebridade é estar por fora de tudo. Jennifer só fez filmes de quinta. E os nossos famosos lá no beijão-mão. Mandar buscar o Teló de jatinho mostra a indigência total. Tá ruim a coisa! Vá! Vá! Vá! Como dizia minha avó Branca. Divagações de um prosaico cotidiano com uma lágrima (olá, Daniel Piza) em homenagem à menina morta por um jet ski em Bertioga. Que vai dar em nada!

***

PS: A leitora Satie Okuma Tuacek, de Jundiaí, me corrigiu: naquele início dos anos 60 não existia ainda o gel que eu coloquei nos cabelos dos grã-finos. Devia ser uma brilhantina boa, importada. Porque rico não usava Gumex ou Glostora com aquele cheiro enjoativo.

A China vai perder o fôlego - EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE

FOLHA DE SP - 24/02/12

Quanto mais atrasado um país, mais milagrosa é a sua taxa de crescimento; uma hora, porém, a China terá de parar de imitar e começar a criar, desacelerando

A China é o exemplo de sucesso do século 21. O país se tornou o maior produtor industrial do mundo no ano passado e, em breve, passará a ter também o maior PIB entre todas as nações, em ambos os casos ultrapassando os EUA.

Apesar desses resultados espetaculares, o sucesso é perfeitamente explicável e não pode ser considerado um milagre. Ao mesmo tempo, é impossível para qualquer país continuar nesse ritmo por muito mais tempo. É difícil precisar quando exatamente o ritmo vai cair, mas isso é inevitável.

Um país atrasado tecnologicamente pode conseguir elevadas taxas de crescimento do PIB durante um determinado período. Isso pode ocorrer se existir uma diferença significativa entre a fronteira tecnológica mundial e a desse país. Um exemplo ilustra essa possibilidade.

Ao longo dos anos, a indústria de computadores nos países desenvolvidos desenvolveu novos processadores, passando por 286, 386, 486 e Pentiums, até o Quad Core.

Um país atrasado, sem acesso a computadores, pode adotar a última tecnologia disponível, sem a necessidade de passar por todas as etapas anteriores. Ele não vai pagar o custo da inovação, mas sim o da imitação, geralmente menor.

O salto de produtividade é gigantesco em um curto espaço de tempo, assim como o consequente crescimento econômico. Esse salto é maior do que aquele verificado pelos países que foram obrigados a passar por todas as etapas do processo de evolução da tecnologia.

Processo dessa natureza ocorreu com a China quando ela decidiu se integrar à comunidade econômica internacional. Em 2000, ano em que entrou para a Organização Mundial de Comércio (OMC), o seu PIB per capita era de um país de renda baixa, o equivalente a 10% do PIB per capita que os EUA tinham em 1985.

Demorou somente sete anos para ela passar a ser uma economia de renda média, com o PIB per capita correspondendo a 20% do PIB per capita dos EUA em 1985.

O Japão e o Brasil, por exemplo, demoraram, respectivamente, 37 e 17 anos para dar o mesmo salto, como mostraram os economistas Stephen Parente e Edward Prescott, que desenvolveram essa ideia de adoção de tecnologia.

Quanto mais tardiamente um país entra no jogo, mais espetacular será o "milagre".

Assim, é totalmente injusta a comparação do desempenho econômico recente do Brasil com o chinês -ou até mesmo com o indiano, frequentemente utilizado por analistas.

A colocação desses países no mesmo saco ("Brics") é enganosa. É de se esperar um crescimento mais vigoroso da China, dado o seu estágio de desenvolvimento. Apesar do seu sucesso recente, ela tem ainda um PIB per capita de 70% do brasileiro.

À medida que a diferença entre os desenvolvimentos tecnológicos da China e da fronteira do mundo se reduz, o mesmo ocorrerá com as suas taxas de crescimento. É verdade que os chineses investem substancialmente em educação e que os pais cobram dedicação dos seus filhos aos estudos. Mas eles vão ter de parar de imitar e vão ter de criar, o que é mais difícil.

Não é surpreendente, portanto, que analistas comecem a tentar prever o inevitável: quando o ritmo econômico do gigante perderá a força.

Esses exercícios de futurologia são sempre difíceis, mas o certo é que o Brasil, cedo ou tarde, não mais contará com os expressivos ganhos dos termos de troca e com o seu consequente aumento de riqueza, ambos obtidos desde que a China entrou na OMC. O preço em dólares das nossas exportações subiu quase 150% entre 2002 e 2011.

Aumentos importantes de riqueza terão de ser conquistados. Isso exigirá mais qualidade na educação e na infraestrutura, além de reformas estruturais. Cuidado: a China vai perder o fôlego, e a vida vai ficar um pouco mais difícil.

Parados no ar - DORA KRAMER


O Estado de S.Paulo - 24/02/12



O passivo é grande e alcança os três Poderes. Findo o carnaval, 2012 começa para valer a partir da próxima segunda-feira e já com um acúmulo substancial de pendências no Executivo, Legislativo e Judiciário, que foi o primeiro a resolver uma delas, a Lei da Ficha Limpa.

Mas a maior de todas ainda está para ser enfrentada no Supremo Tribunal Federal, segundo as expectativas, neste ano: o processo do mensalão, em suspenso desde 2007 quando o STF aceitou a denúncia contra 40 (hoje 38) acusados de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e peculato.

No Executivo há diversas, mas duas chamam especial atenção por serem leis aprovadas, de execução mais difícil do que fazia supor o clima de celebração quando da sanção pela Presidência da República.

A Comissão da Verdade, criada para trazer à luz todas as informações sobre agressões aos direitos humanos cometidas durante o regime militar sofre restrição dos militares e até hoje não se sabe quem integrará o grupo nem quando serão indicados.

A Lei de Acesso à Informação entra em vigor em maio próximo, mas até agora o governo não construiu meios e modos para dar-lhe eficácia na prática.

Os ministérios enfrentam dificuldades para montar estruturas capazes de atender à legislação que obriga o poder público a fornecer todo tipo de informação livre do sigilo de Estado, havendo ainda o obstáculo mais difícil que é a cultura da falta de transparência em relação a dados oficiais. 

No Congresso, 2012 começa sem que tenha sido votada a Lei Geral da Copa, a dois anos do Mundial, nem que tenha sido resolvido de que modo Estados, municípios e União farão um entendimento sobre a distribuição dos royalties do petróleo.

Isso sem falar de problemas eternos: reforma política - em discussão agora transferida para o âmbito de uma proposta de plebiscito - e medidas provisórias, cujo excesso e sistemática de tramitação obstruem o trabalho do Parlamento.

Sobre eleições, tudo o mais seguirá pendente até que se resolva o drama dos tucanos em São Paulo, em mais uma reprise do show de hesitações permanentemente em cartaz.

Contramão. O PSD pleiteia na Justiça receber parte do Fundo Partidário equivalente à sua bancada atual no Congresso, formada por parlamentares eleitos por outras legendas.

Se por decisão judicial ficou estabelecido que os mandatos pertencem aos partidos e não às pessoas físicas dos políticos, seria uma contradição em termos transferir para estes a posse dos votos para efeito de cálculo de distribuição do dinheiro do Fundo.

Resistência. A insistência do PMDB em manter a candidatura de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo é tida como ponto de honra.

O único restante, num ambiente em que o partido se sente tratado com desdém no governo federal e visto no PT como um adversário a ser afastado do maior número possível de prefeituras nas próximas eleições.

Se colar. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, nomeou Carlos Lupi assessor especial e, em boa hora, recuou.

Mas o fez por causa da má repercussão, já que antes dela não vira nada de mal em dar a alguém recém-saído do Ministério do Trabalho sob uma série de suspeições éticas e penais, a função de promover "interação" com o governo federal.

Na cola. A Associação dos Magistrados do Brasil, autora da ação para retirar prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça "aceitou" a decisão do Supremo de manter o poder originário do CNJ para abrir investigações.

Mas já dá sinais claros de que continuará a contestar no STF todas as ações do conselho que possam significar subtração de privilégios a magistrados.

A mesmice ou a coragem, qual será nossa escolha? - WASHINGTON NOVAES


O Estado de S.Paulo - 24/02/12


Todos os dias, ao defrontar-se na comunicação com o noticiário do País sobre a administração, o mundo da política, o andamento dos negócios públicos, o cidadão (inclusive o autor destas linhas) com certeza se sente perplexo e desorientado, perguntando-se o que pode e deve fazer para que mude tal quadro. Mas não encontra respostas fáceis nem imediatas.

Pode-se começar pelo Executivo federal, no qual tudo parece semiparalisado (na melhor das hipóteses), pois nada anda se não houver acordo entre as diversas forças - partidos, alas e grupos - que compõem a aliança majoritária no governo e no Congresso Nacional. E como as divergências a respeito de tudo são a regra, não se avança, para não perder o apoio dos que se sentirem descontentes. Parece melhor até manter no cargo um ministro sobre quem pesam acusações, ou nomear outro que já sobe flechado por numerosas suspeitas, do que correr o risco de perder a maioria em votações.

E com isso as grandes questões nacionais nem sequer chegam à pauta. Como a de se discutir que modelo de gestão convém: o do crescimento puro e simples dos indicadores econômicos, passando por cima das graves questões ambientais, da discussão sobre a matriz energética, da possibilidade de o Brasil ser uma potência ambiental, rica em recursos, no momento em que os economistas começam a dizer com clareza que já estamos confrontados pela finitude de recursos? Ou seguir pelos caminhos tradicionais, ditados pelos países industrializados, que deles se beneficiam há séculos, transferindo para os demais os custos ambientais e sociais?

Como na prática a última opção parece evidente, seguimos perplexos com decisões no comércio exterior, na política financeira, na área energética que precisam ser rediscutidas com urgência. E deixamos de lado questões avassaladoras, como a de metade da população não contar com rede coletora de esgotos, metade do lixo urbano continuar indo para lixões, ou o sistema de saúde estar em frangalhos em quase toda parte, o panorama da educação/analfabetismo/analfabetismo funcional causar arrepios, a inovação tecnológica quase não sair do terreno da ficção, muito menos políticas eficientes para os dramas das metrópoles, para a insegurança coletiva. Muito mais poderia ser enumerado, mas nem é preciso - embora se deva lembrar que o quadro é praticamente o mesmo na imensa maioria dos Estados e municípios.

Chega-se ao Legislativo, em Brasília, e se verifica que o tema central é o do acordo ou desacordo entre as forças majoritárias e a semiparalisia reinante, com projetos vitais esquecidos há anos, até décadas. Quem ouve falar em apressar a reforma fiscal, embora as políticas localizadas em Estados e municípios tendam a levar quase todos eles à falência e à inércia, concedendo incentivos fiscais que teriam - só na letra da lei - de ser aprovados pelo Conselho de Secretários da Fazenda? Na falta do acordo, as receitas estaduais ou municipais se tornam insuficientes para cobrir as despesas necessárias nos setores vitais - embora a carga geral de impostos no País, em tese, seja muito alta.

Não bastasse tudo isso, acordos abertos ou velados permitem mudar no Legislativo projetos como o da Lei da Ficha Limpa, para, trocando uma palavra, dificultar a identificação de quem é ou não inelegível. E ainda sem o Senado retornar o projeto à Câmara dos Deputados, como seria obrigatório, diante da modificação no texto. Esperteza repetida no projeto de lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos, ao excluir do texto aprovado na Câmara que a incineração de lixo (inconveniente, inadequada e cara) só seria admitida na impossibilidade de qualquer outra solução.

Vai-se ao Judiciário, para constatar que processos vitais para a sociedade e o avanço das instituições estão há anos à espera de decisões - como o caso do "mensalão". Que milhares e milhares de pessoas esperam há décadas que se cumpram precatórios em casos já apreciados em última instância pelo Judiciário - e estes cidadãos ainda são felizes, porque o acúmulo de processos nas várias instâncias torna a lentidão marca característica desse Poder fundamental da República, que impede milhões de processos de chegarem à fase decisória - até por insuficiência mesma das estruturas. Mas também porque em quase toda parte muita gente está mais empenhada em obter vantagens pecuniárias pessoais do que recursos para que o Poder funcione melhor. E ainda se revoltando quando uma voz no Conselho Nacional de Justiça apregoa aos quatro ventos certas coisas.

Mas que fará o cidadão? Que pode fazer a sociedade? Parece não fazer parte das nossas tradições a organização de novos movimentos, capazes de discutir todas essas questões e depois levar suas propostas para o campo político. Os cidadãos sentem-se limitados às possibilidades, aos caminhos, já colocados sobre a mesa, e que não os atraem. Repetindo escolhas que os desiludem ao cabo de pouco tempo. É um laissez passer ineficaz e até perigoso. Estamos vendo a cada dia surgirem no mundo movimentos contestatórios que, sem propostas políticas claras e exequíveis, abrem caminhos para mudanças tempestuosas que, tempos depois, levam a novas contestações violentas.

Este início de Quaresma é um bom tempo para uma meditação mais aprofundada a respeito dos nossos impasses. E lembrando que cabe à comunicação em geral um papel decisivo - que abra portas a novas discussões; deixe claro que estamos diante de tempos novos, em que é preciso rediscutir mesmo o próprio padrão civilizatório - e encontrar soluções adequadas para esses desafios que já estão no horizonte.

Não será pelos velhos caminhos da política fundada na troca de favores entre grupos e pessoas que encontraremos nossas possibilidades reais, como país ou como cidadãos. Precisamos, todos, dar à política muito mais do que temos feito.

O ano ainda não começou - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 24/02/12

Primeiros indicadores da indústria e balanço do emprego formal apontam início de 2012 bem fraco

O ANO COMEÇOU mesmo fraco, como apontam o balanço do emprego formal, divulgado ontem pelo governo, certos indicadores antecedentes da produção industrial, a prudência nas despesas publicitárias e um certo desânimo entre o pessoal da construção civil (residencial).

São em parte "evidências anedóticas", como os economistas gostam de dizer, e, afora os setores massacrados da indústria, associações empresariais, em conversa de corredores, acreditam em melhoria a partir do segundo trimestre.

Mas o segundo trimestre talvez fique para o terceiro, vamos dizer. É a opinião, por exemplo, dos economistas da consultoria MB Associados, expressa por Sérgio Vale, em relatório divulgado ontem.

Vale ressaltar que os sinais que tem captado são "ainda bastante preliminares". Mas observa que os primeiros indicadores de produção industrial "são bastante ruins e podem prenunciar um resultado um pouco pior para o PIB do trimestre".

"O dado de janeiro da produção industrial pode apresentar queda de até 2% na comparação com dezembro, resultado esse que pode jogar uma recuperação mais importante no terceiro trimestre e não no segundo", escreve Vale.

Embora a indústria desaponte, o que há semanas se reflete nas reduções de estimativas de crescimento para o setor, "é provável que [o setor de] serviços mostrem potencial de crescimento um pouco maior", argumenta Vale.

A MB, pois, não acredita em crescimento horrível para 2012. Prevê, como quase todo mundo, recuperação sobre 2011, quando o PIB não deve ter crescido mais de 2,8%. Neste ano, a economia cresceria 3,5%.

Esse é o número que está nas estimativas das consultorias e bancos mais certeiros. O governo de Dilma Rousseff diz que vai apressar o passo do crescimento para 4,5%.

Por que o setor de serviços andaria mais rápido? Porque há o aumento dos salários menores, o do mínimo em particular, e o desemprego anda baixo, menor em janeiro deste ano do que em 2012.

De fato, os números do mercado de trabalho têm sido surpreendentes. A taxa de desemprego continuou a cair mesmo com o ritmo de crescimento da economia tendo sido reduzido para um terço de 2011 para 2012, embora o crescimento do número de empregados e da renda tenha embicado para baixo.

Os números do cadastro do emprego do Ministério do Trabalho (o Caged, do emprego formal) têm sido frios pelo menos desde outubro. Os de ontem não foram muito brilhantes, mesmo no setor de serviços. No comércio, houve diminuição de 36 mil empregos em janeiro.

Trata-se do "segundo pior resultado para meses de janeiro na série do Caged... somente em janeiro de 2009, na esteira da crise financeira internacional" o emprego no comércio caiu tanto, observa o pessoal da consultoria LCA.

Mas o resultado da indústria de transformação também foi no máximo medíocre: abaixo de janeiro de 2011, semelhante aos dos anos fracos de 2004 e 2005, com o agravante de que desde então há obviamente mais gente para trabalhar.

O ano, de fato, mal começou. O efeito da taxa de juro menor ainda virá. Mas a relativa modorra deste início do ano prenuncia pelo menos um aumento da atividade: o das medidas de estímulo do governo.

Uma nova direita, por que não? - JOÂO MELLÃO NETO


O Estado de S.Paulo - 24/02/12


A resistência da opinião pública à direita se explica: a direita foi a principal força civil a sustentar a ditadura. E os militares, no período, jamais respeitaram os direitos humanos e as garantias individuais de ninguém.

Por causa disso, um fenômeno raro na maior parte do mundo ocorreu no Brasil: nas últimas eleições presidenciais os principais concorrentes eram dois candidatos assumidamente esquerdistas. Cada um deles foi apoiado por uma constelação de partidos menores cujo único ponto em comum é a inclusão das palavras social e socialista em suas siglas. Até os mais empertigados empresários, no País, alegam ser dotados de "consciência social". Em resumo, não existe aqui nenhum partido estruturado que defenda ideias de direita. Até segunda ordem, todos os gatos são pardos. Esse fenômeno é curioso porque as teses da direita não são de difícil entendimento, ao contrário, elas têm muito que ver com o que a maioria das pessoas pensa. O que precisa mudar é a forma de abordagem: conquistam-se os homens mais pelas ideias do que pelas baionetas.

Talvez por medo do impressionante avanço comunista durante a guerra fria, nossos melhores pensadores de direita acabaram por se engajar no movimento dos generais. Isso foi fatal para eles: perderam sua moral e sua credibilidade.

Mas o pensamento da direita ainda existe. E está bem vivo tanto na Europa como nos Estados Unidos. A maioria dos governos no Velho Continente é de direita - Alemanha, França, Itália, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha. Será que os povos de todos esses países simplesmente não sabem votar? Seríamos nós, aqui, nos rincões da América Latina, os únicos que conhecem a verdade? Deveríamos, então, doutriná-los, mostrar-lhes qual é, de fato, o "caminho justo"?

Na verdade, o "caminho justo" boa parte deles já conhece. E quer distância dele. São os povos da Europa do Leste, os quais, depois da 2.ª Guerra Mundial, foram obrigados a ser felizes à maneira da União Soviética. Angela Merkel, que cresceu do lado de lá, hoje é a chanceler dos alemães. E chegou a esse posto por defender ideias conservadoras.

Afinal, o que é a direita? Ela se divide em duas vertentes: a conservadora e a liberal. E embora ambas pensem de forma semelhante, não é sempre que estão de acordo. Sobre os liberais trataremos em outro artigo. Façamos uma breve descrição do pensamento conservador.

O primeiro autor a retratar o conservadorismo foi o irlandês Edmund Burke, no final do século 18. Seu livro Reflexões sobre a Revolução na França e sobre o Comportamento de Certas Comunidades em Londres Relativo a esse Acontecimento foi uma resposta aos excessos cometidos pela Revolução Francesa. Segundo Burke, todas as reformas necessárias poderiam ter sido implantadas sem derramamento de sangue, ou a execução de seu rei.

E o que é o pensamento conservador? Em primeiro lugar, o conservador entende que os pensadores atuais são meros anões nos ombros de gigantes do passado. Eles acreditam enxergar mais longe, mas isso se dá unicamente em função da estatura de seus antecessores. No que tange a ideias, tudo o que existe já foi pensado ou implantado no passado. A única que medrou foi a da democracia liberal - conceito que foi mais bem desenvolvido por Karl Popper na sua obra Sociedade Aberta e os Seus Inimigos.

Os conservadores, por entenderem - como Platão - que a prudência é a maior da virtudes, levam muito a sério o que denominam "teste do tempo". A ideia subjacente disso é a de que o passar dos anos é o grande algoz das falsas ideias. Elas surgem, empolgam e algum tempo depois desaparecem ou caem em desuso. Se isso é válido até para as ciências, que dirá, então, da sociedade?

O conservador entende que, apesar do gigantesco avanço tecnológico dos tempos recentes, praticamente em nada se evoluiu em termos de moral ou de política. Apesar do conforto material ser muito maior, será que tivemos algum avanço em termos de felicidade? Provavelmente, não. O homem é até mais infeliz porque foi desentranhado de seu hábitat natural. E esse hábitat era harmonioso, uma vez que fora o resultado de séculos e séculos de arranjos sociais, todos eles decorrentes de tentativas e erros através da História.

Nunca é recomendável se atirar com ímpeto nas novas concepções de mundo. Primeiro, porque os radicais, apesar de ridicularizarem os nossos usos e costumes e questionarem as nossas instituições, nunca se mostraram capazes de construir algo melhor do que o que antes existia. As mudanças devem sempre existir, mas na forma de aperfeiçoamentos, jamais de ruptura. As pessoas têm de entender que o "novo" não é necessariamente melhor que o "velho".

Outra forte razão para não dar ouvidos aos radicais é que, após tantos séculos de civilização, é, no mínimo, improvável que nós, modernos, venhamos a descobrir algo de realmente novo em termos de moral, política ou arranjos sociais. Nenhuma ideia é plenamente nova. Tudo já foi pensado e idealizado. E se não foi implantado, é porque se mostrou inviável. Os conservadores, defendendo a ideia de que o livre-arbítrio existe, jamais culpariam a sociedade, em geral, por o malfeitor ser o que é. Todas as pessoas são dotadas de consciência, ninguém há de se compadecer dos malfeitores.

O conservador, por fim, entende que a ordem moral é um valor permanente no universo. Se uma sociedade se pautar por um forte sentido de certo e errado, por uma ordem moral duradoura e por convicções pessoais sobre honra e justiça, ela prosperará. Mas se, por outro lado, não passar de uma malta de indivíduos ignorantes das normas e convenções, voltados exclusivamente para a imediata satisfação de seus apetites primários, essa sociedade, por melhor que seja o seu governo, desaparecerá.

APOSTA NO PIJAMA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 24/02/12
Réus do mensalão jogam suas fichas na antecipação da aposentadoria de Cezar Peluso, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), para adiar o julgamento do caso para 2013. O magistrado sai do cargo em abril. E precisa deixar a corte até setembro, quando se aposenta, aos 70 anos.

DATA MARCADA
A saída deixaria o STF com dez ministros. E criaria pretexto para que o caso só fosse julgado com o quórum completo, depois da nomeação do substituto de Peluso. Dilma Rousseff não tem prazo para fazer a indicação.

UNIDADE
Um ministro do STF observa que o regimento da corte exige a presença de apenas seis ministros para a realização de um julgamento.

NO TOPO DO MUNDO
O jornalista Paulo Henrique Amorim chegou a ocupar na manhã de ontem o primeiro lugar nos assuntos mais comentados do Twitter mundial. Ele terá que pagar R$ 30 mil ao jornalista Heraldo Pereira, da TV Globo, por chamá-lo de "negro de alma branca" na internet. Concordou, na Justiça, em se retratar publicamente e em afirmar que a expressão "foi dita num momento de infelicidade". E que não quis "atingir a conotação de racismo".

REINADO
Ana Furtado, mulher do diretor Boninho, da TV Globo, e apresentadora do "Vídeo Show", foi a única rainha de bateria a ganhar destaque no "Jornal Nacional" de terça. Ela desfila pela Grande Rio. A assessoria do "JN" diz que na crônica sobre o Carnaval "não caberiam todas as madrinhas". Ana Furtado foi a eleita "porque ela era uma das estreantes".

VIA SACRA
Os discos com o show de Roberto Carlos em Jerusalém serão lançados na primeira semana de abril, de olho na Semana Santa e no Dia das Mães. "Vamos lançar a apresentação em CD, DVD, Blu-Ray e Blu-Ray 3D", afirma Alexandre Schiavo, presidente da gravadora Sony.

CANTA COMIGO
E as cantoras Marisa Monte, Vanessa da Mata e Maria Gadú devem gravar em abril o CD de duetos que o norte-americano Tony Bennett fará com artistas latinos.

FÚRIA NA FOLIA
Tiago Faria, que roubou e rasgou as notas do Carnaval de SP, disse a seu advogado, Eduardo Moraes, que teve "um ataque de fúria" ao avançar sobre a mesa de apuração. Moraes diz que ele está arrependido. "Se soubesse que rasgar os papéis fosse crime, não teria feito", disse, segundo o advogado.

FÚRIA 2
Já o presidente da Império de Casa Verde, Alexandre Furtado, escola da qual Faria é integrante, diz que Tiago "é modelo, faz fotos, cuida do corpo" e é "muito tranquilo". Apesar disso, afirma, "este foi o primeiro e o último ano" em que ele desfilou.

BEIJINHOS E BEIJOCAS
Os atores Enrique Diaz, Mariana Lima e Matheus Nachtergaele desfilaram pelo bloco Me Beija que Eu Sou Cineasta, anteontem, na Gávea, no Rio. As colegas Paula Braun e Amanda Paiva também curtiram a folia na Quarta-Feira de Cinzas.

CENAS DE UM CARNAVAL

O secretário estadual da Segurança Pública de São Paulo, Antônio Ferreira Pinto, leva o Corinthians grudado no coração.

Ele mostrou a amigos, no Camarote da Prefeitura, no Sambódromo de São Paulo, o brasão do clube que tem tatuado no peito. Já o ex-governador Claudio Lembo, hoje secretário municipal de Negócios Jurídicos, bem-humorado, tirava fotos dos jornalistas que se aproximavam para tentar clicá-lo durante o Carnaval no Anhembi.

BOTA ÁGUA NESSE FEIJÃO
A atriz Larissa Maciel foi à Feijoada do Amaral, que comemorou 35 anos neste Carnaval. O apresentador Bruno Chateaubriand e Aline Prado, a Globeleza, também compareceram ao evento, no Jockey Club, no Rio.