sexta-feira, dezembro 14, 2012

Tudo ao mesmo tempo agora - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 14/12


Tsunamis, avalanches e furacões coincidem com a época do ano em que o governo Dilma vai às favas


Chame a polícia! Solte os cães farejadores! Roger Abdelmassih está na cidade! Isso mesmo. Sumido há quase dois anos, depois de condenado por submeter mulheres anestesiadas a atos que não iremos relembrar aqui a fim de não contaminar nossas festas de fim de ano por imagens bestiais, o doutor Roger teria sido flagrado por câmeras de segurança de uma padaria no bairro de Moe­ma, em São Paulo.

Está certo então. Um cidadão careca e de fartos bigodes brancos e traços mediterrâneos iguais aos do dr. Moreau tapuia surge em ima­gens mal-ajambradas e se conclui que só pode ser o dr. Roger Abdelmassih. Sei. Não há dúvida de que a possibilidade existe, seria palpável. Chega uma hora no périplo do fugitivo em que ele não tem mais para onde correr ou até deseja ser preso. Seu dinheiro começa a minguar e sua resistência cede. Mas, veja bem. No caso do nosso Mengele do Vale do Beka, ao brincar de Deus mani­pulando material reprodutivo alheio ele pode ter arruinado a exis­tência de centenas de famílias, muitas delas vivendo bem ali, nos arredores do bairro de Moema. Será que arriscaria tomar um caco de xícara no meio do olho?

Não podemos provar que Abdelmassih esteve em Moema, mas permanece a percepção de que ele passou por lá.

Se amanhã, durante minhas compras na 25 de Março, eu vir um gordo de óculos e cabelos e barbas brancas andando com um saco nas costas, minha percepção me dirá que estou diante do Papai Noel. Mas e se for o procurador-geral, Roberto Gurgel, carregando as de­núncias e evidências de que Mar­cos Valério tanto fala e que, aparen­temente, são de conhecimento do procurador desde setembro?

A distorção entre o que nos diz nossa percepção e o que ocorre de fato é um tópico de que Hélio Schwartsman trataria com gran­de naturalidade e talento calçado por dados científicos.

Já eu prefiro deixar os livros de la­do e usar exemplos colhidos na ga­veta de minha multicolorida vivên­cia pessoal. Dá muito menos traba­lho, convenhamos.

Veja: dirijo muito bem, sou filha de dois pilotos e cresci em Interlagos. Mesmo assim, tomo uma multa de trânsito atrás da outra. Pois sempre tive a percepção, especialmente por notar o quanto o motorista se porta mal no trânsito da cidade, de que a maioria leva tantas multas quanto eu. A realidade é bem diversa: mais de 50% das pes­soas que conduz automóveis nunca tomaram uma multa sequer.

Outra falsa impressão que guardei até parar de beber era a de que a bala­da inteira em que eu me encontra­va estaria tão pra lá de Bagdá quanto eu. Engano. Só entre 1O% a 15% dos bebedores, aqueles considerados problemáticos, extrapolam.

Mas percepções acabam virando grandes verdades. Rosemary Noronha, nossa marquesa dos Santos da Vila Mandioquinha, pagava em dinheiro vivo. Mas toda amiga do rei não paga? Tinha a belíssima amante do prefeito paulistano que tirava notas crocantes de dólar da bolsa. E quem não lembra da aman­te que transformou o haras cons­truído para abrigar os cavalos do presidente em spa?

Ora, a natureza tem andado inquieta. Vimos o tsunami Rosemary, a avalanche de declarações do apenado já sem esperanças de trocar a sentença por uma delação premiada e o furacão do bicheiro que ameaça virar Linda Lovelace. Tudo ao mesmo tempo agora e bem na mesma estação em que o governo Dilma vai indo às favas. Só faltam vir à tona as fotos confidenciais do Eike e do Chitãozinho Miranda ex­perimentando os novos modelos da linha interlace. Aguardemos.

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