domingo, setembro 07, 2008

Sete Dias 

 Serial killer substitui promotor e juiz

Augusto Nunes

Em agosto de 2000, o jornalista Antonio Pimenta Neves foi preso por ter executado com um tiro nas costas e outro na cabeça a ex-namorada Sandra Gomide. Em agosto de 2006, festejava o 6º aniversário da impunidade ultrajante quando os brasileiros Renato Correia de Brito, William César de Brito e Wagner Conceição da Silva foram presos pela polícia de Guarulhos, que os acusou de terem estuprado e matado a ex-namorada de Renato. Em dezembro, enquanto os três continuavam jurando ao promotor de Guarulhos que haviam confessado sob tortura o crime que não cometeram, o assassino confesso continuava livre e feliz.

Soubera naquele mês, por decisão do Superior Tribunal de Justiça, aguardaria em casa o julgamento do pedido de anulação da sessão do Tribunal do Júri de Ibiúna que, em maio, o condenara a 19 anos e dois meses de cadeia. Neste setembro, Pimenta ganhou outro prêmio do STJ: caiu para 15 anos a pena que o Tribunal de Justiça, em 2007, já reduzira a 18. No mesmo dia 3, os presos de Guarulhos foram enfim libertados. Não pelo promotor nem pelo juiz, mas por um serial killer que confessou espontaneamente a autoria do crime. Pelo que fez em 2000, Pimenta ficou seis meses na cadeia. Pelo que não fizeram, três inocentes ficaram dois anos.

Desse grampo Dantas gostou

O grampo que registrou o diálogo telefônico entre o presidente do STF, Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres já entrou para a história da arapongagem. Foi o primeiro grampo a favor dos grampeados. Ambos ficaram bem no retrato – e, por tabela, os favorecidos pelo ministro. Foi o grampo que tornou suspeitas mesmo escutas autorizadas pela Justiça. E foi o grampo que reduziu a irrelevâncias grampos que ajudaram a desmascarar bandidos juramentados como Daniel Dantas.É o tipo da idéia que Dantas gostaria de ter tido

Só vira ministro quem é gente fina

Na edição especial do 40º aniversário, a revista Veja resgatou uma frase recitada pelo deputado Lula em 1988: "No Brasil é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia, mas quando um rico rouba vira ministro". Já que veio para mudar, o presidente Lula só inclui no primeiro escalão gente de notório saber e reputação ilibada. Gente como José Dirceu, Romero Jucá, Antonio Palocci, Humberto Quadros, Mathilde Ribeiro, Walfrido dos Mares Guia, Anderson Adauto, Alfredo Nascimento, Benedita da Silva, Carlos Lupi, Geddel Vieira Lima ou Silas Rondeau.

A testemunha que morreu de Brasil

Manoel Décio dos Santos, 42 anos, era a grande arma guardada pelo Ministério Público para manter na cadeia o ex-deputado Hildebrando Pascoal, ex-oficial da PM e especialista em fatiar desafetos com motosserras. Pela relevância das informações que reunira, Santos foi incluído no Programa de Proteção a Testemunhas do Ministério da Justiça. Deveria ficar todo o tempo em Brasília, cercado por policiais. Estava no fim de agosto num grotão de Goiás chamado Chapadão do Céu, à disposição de jagunços a serviço de Hildebrando. Foi assassinado a tiros. Mas morreu de Brasil.

Nenhum comentário: