FOLHA DE SP - 11/07
O passado não pode ser mudado --é lenha calcinada. O futuro será o que fizermos dele --é promessa de combustão. Daí que todas as nossas escolhas na vida prática, como ensina George Shackle, "se dão sempre entre pensamentos, pois será sempre tarde demais para escolher sobre os fatos".
O início formal da campanha convida a refletir sobre o caminho trilhado e as opções em jogo. Ao término do mandato, há duas formas básicas de se avaliar um governo.
A primeira é interna: o governo realizou o que se propôs a fazer? Trata-se de medir a gestão por sua própria régua: o hiato entre propósitos declarados e resultados obtidos. Já a avaliação externa questiona o teor da visão estratégica --ou a falta dela-- que norteou a ação do governo. O exame recai sobre o projeto perseguido: a pertinência dos valores e prioridades revelados pelas políticas implementadas.
Como o espaço é exíguo, atenho-me neste artigo a uma avaliação interna do governo Dilma na área de atuação em que o hiato entre o almejado e o obtido foi mais gritante --a economia.
Três grandes paradoxos marcam a atual gestão.
Dilma elegeu-se e governou sob o signo da aceleração do crescimento. Ultrapassado o impacto da crise global, a intenção era dar sequência à vigorosa recuperação de 2010 e superar os 4% de média anual dos governos Lula. Apesar de todo o empenho sincero --e em boa parte por causa dele, na medida em que a adoção de uma pletora de medidas "ad hoc" gerou grave incerteza sobre as regras da economia-- o resultado foi justamente o contrário do pretendido.
O governo Dilma encerra o mandato com a menor taxa de crescimento de toda a era republicana, excetuados os governos Floriano Peixoto e Collor. No acumulado de 2011 a 2014, nosso crescimento deverá ficar em 61% do verificado na América Latina.
O segundo paradoxo decorre do voluntarismo na política monetária. Movido pela intenção louvável de reduzir o custo dos investimentos, o governo Dilma fez da queda da taxa Selic sua grande bandeira. Só que em vez de criar condições reais para isso, forçou uma redução prematura e viu a inflação extrapolar o teto da meta.
Deu no que deu: o Brasil volta a ostentar a maior taxa de juros real planetária e a Selic deverá terminar o atual mandato acima do patamar inicial --fato inédito desde a adoção do regime de metas em 1999.
E, por fim, a joia da coroa. Um governo de claro perfil estatizante mas que, graças a barbeiragens e gambiarras em série, logrou a proeza de prejudicar seriamente nossas duas maiores estatais, Petrobras e Eletrobras, deprimindo seu valor patrimonial e tolhendo sua capacidade de investimento. Os resultados, outra vez, tripudiam das intenções. Obra de rara alquimia.
sexta-feira, julho 11, 2014
O abismo e a luneta - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE
O ESTADÃO - 11/07
Longe, muito longe, há um abismo. Além dele, movimentos de agitação - revoltas? Manifestações? - que os vigilantes são encarregados de observar. Há dois tipos de vigilantes: os de visão curta, com lunetas simplórias, e os de visão longa, com lunetas intrincadas, de múltiplas molas, mecanismos de relojoaria, de lentes de refração e difração. O narrador possui luneta complexa, angustia-se com o peso de tal responsabilidade: "Não posso dizer que não fui prevenido dos riscos. Lembraram-me, com solenidade, que esse instrumento tão delicado se desajusta ao menor erro; que os erros são, às vezes, tão difíceis de detectar que a gente pode até nem se dar conta deles; que aqueles que o utilizam correm, assim, o terrível risco de passar toda uma vida no erro". A narrativa surrealista é de Pierrette Fleutiaux, A História do Abismo e da Luneta, Julliard, 1976. Poderia igualmente ser a história da semifinal entre Brasil e Alemanha.
Longe, muito longe, além da Copa das Copas, há um abismo. Para lá do abismo, grande agitação. O que será da economia brasileira? E dos empregos, dos salários, das conquistas dos últimos anos de parte relevante da sociedade? O que será do crescimento, da inflação? A presidente Dilma ergue a sua luneta e enxerga... o quê? A ansiedade dos pessimistas, o clamor dos críticos de sua atribulada política econômica, o frêmito do povo, tão próximo do abismo que a presidente não vê. Não porque tenha uma luneta simples, modelo corriqueiro. Sua luneta é complexa, mas ela não sabe encaixar as lentes, as molas, os mecanismos intrincados do instrumento de observação.
Vê a Copa das Copas e acha que o êxito futebolístico - dos outros, diga-se - tem paralelos com o êxito de suas políticas econômicas. É refratária aos argumentos de que, se os estímulos à indústria não funcionaram até agora, é porque estão equivocados. Não entende que, se a inflação está alta, é porque desviou o Banco Central da rota. Não percebe que o descuido com que trata setores importantes da economia nos ameaça a todos com riscos de apagão e de queda da atividade econômica em 2015. Não vê que a descrença em seu governo é generalizada e já atingiu a nova classe média urbana, que percebe com mais nitidez a perda de qualidade de vida e as incertezas sobre o futuro.
O que a presidente promete? Na melhor das hipóteses, mais do mesmo. Afinal, foi mais do mesmo que tornou possível a Copa das Copas. Mas o mais do mesmo é crescimento baixo com inflação alta, crescimento baixo com perspectiva de demissões na indústria, inflação alta com corrosão da renda, sobretudo da renda dos menos favorecidos. Na pior das hipóteses, é o mais do mesmo triplicado, a Copa das Copas das Copas, o abismo - pois ninguém é capaz de dizer onde tais políticas desembocam. Menos crescimento do que projetam os analistas? Inflação ainda maior que os quase 6,5%, o teto do nosso atabalhoado regime de metas?
Das plataformas de observação, nem tão longe do abismo, está difícil de falar da economia brasileira sem ser repetitivo. O que é preciso fazer para aprumá-la? Esse é o debate em suspenso, que deve se iniciar a partir da próxima semana, quando a Copa das Copas tiver terminado, quando a grande ressaca que é o Brasil atual nos vitimar a todos, impiedosamente. Simples ou complexas, de visão curta ou longa, o que as lunetas de hoje nos permitem enxergar é uma economia praticamente estagnada, com uma inflação tinhosa que abaixo dos 6% não cai, taxas de juros altas para conter o ímpeto dos preços e um câmbio administrado para impedir que resvalem para além dos 6,5% de inflação. A combinação não é sustentável, não é "equilíbrio ruim". É desequilíbrio perverso. Não há separação entre joio e trigo, tudo é joio, nada é trigo. Há que mudar tudo.
Só assim será possível encerrar da forma correta essa triste narrativa brasileira: "Minha luneta está quebrada: um grito de viva! Nunca mais precisarei calcular e predizer, vociferar e aplaudir, empilhar relatório sobre relatório para nossas torres de Babel". Quem nos dera...
Longe, muito longe, há um abismo. Além dele, movimentos de agitação - revoltas? Manifestações? - que os vigilantes são encarregados de observar. Há dois tipos de vigilantes: os de visão curta, com lunetas simplórias, e os de visão longa, com lunetas intrincadas, de múltiplas molas, mecanismos de relojoaria, de lentes de refração e difração. O narrador possui luneta complexa, angustia-se com o peso de tal responsabilidade: "Não posso dizer que não fui prevenido dos riscos. Lembraram-me, com solenidade, que esse instrumento tão delicado se desajusta ao menor erro; que os erros são, às vezes, tão difíceis de detectar que a gente pode até nem se dar conta deles; que aqueles que o utilizam correm, assim, o terrível risco de passar toda uma vida no erro". A narrativa surrealista é de Pierrette Fleutiaux, A História do Abismo e da Luneta, Julliard, 1976. Poderia igualmente ser a história da semifinal entre Brasil e Alemanha.
Longe, muito longe, além da Copa das Copas, há um abismo. Para lá do abismo, grande agitação. O que será da economia brasileira? E dos empregos, dos salários, das conquistas dos últimos anos de parte relevante da sociedade? O que será do crescimento, da inflação? A presidente Dilma ergue a sua luneta e enxerga... o quê? A ansiedade dos pessimistas, o clamor dos críticos de sua atribulada política econômica, o frêmito do povo, tão próximo do abismo que a presidente não vê. Não porque tenha uma luneta simples, modelo corriqueiro. Sua luneta é complexa, mas ela não sabe encaixar as lentes, as molas, os mecanismos intrincados do instrumento de observação.
Vê a Copa das Copas e acha que o êxito futebolístico - dos outros, diga-se - tem paralelos com o êxito de suas políticas econômicas. É refratária aos argumentos de que, se os estímulos à indústria não funcionaram até agora, é porque estão equivocados. Não entende que, se a inflação está alta, é porque desviou o Banco Central da rota. Não percebe que o descuido com que trata setores importantes da economia nos ameaça a todos com riscos de apagão e de queda da atividade econômica em 2015. Não vê que a descrença em seu governo é generalizada e já atingiu a nova classe média urbana, que percebe com mais nitidez a perda de qualidade de vida e as incertezas sobre o futuro.
O que a presidente promete? Na melhor das hipóteses, mais do mesmo. Afinal, foi mais do mesmo que tornou possível a Copa das Copas. Mas o mais do mesmo é crescimento baixo com inflação alta, crescimento baixo com perspectiva de demissões na indústria, inflação alta com corrosão da renda, sobretudo da renda dos menos favorecidos. Na pior das hipóteses, é o mais do mesmo triplicado, a Copa das Copas das Copas, o abismo - pois ninguém é capaz de dizer onde tais políticas desembocam. Menos crescimento do que projetam os analistas? Inflação ainda maior que os quase 6,5%, o teto do nosso atabalhoado regime de metas?
Das plataformas de observação, nem tão longe do abismo, está difícil de falar da economia brasileira sem ser repetitivo. O que é preciso fazer para aprumá-la? Esse é o debate em suspenso, que deve se iniciar a partir da próxima semana, quando a Copa das Copas tiver terminado, quando a grande ressaca que é o Brasil atual nos vitimar a todos, impiedosamente. Simples ou complexas, de visão curta ou longa, o que as lunetas de hoje nos permitem enxergar é uma economia praticamente estagnada, com uma inflação tinhosa que abaixo dos 6% não cai, taxas de juros altas para conter o ímpeto dos preços e um câmbio administrado para impedir que resvalem para além dos 6,5% de inflação. A combinação não é sustentável, não é "equilíbrio ruim". É desequilíbrio perverso. Não há separação entre joio e trigo, tudo é joio, nada é trigo. Há que mudar tudo.
Só assim será possível encerrar da forma correta essa triste narrativa brasileira: "Minha luneta está quebrada: um grito de viva! Nunca mais precisarei calcular e predizer, vociferar e aplaudir, empilhar relatório sobre relatório para nossas torres de Babel". Quem nos dera...
Graça na derrota - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 11/07
SÃO PAULO - Se o objetivo do esporte é entreter o espectador e fazê-lo escapar, ainda que por instantes, das asperezas da vida ordinária, então a derrota do Brasil pelo dilatado placar de 7 a 1 superou em muito uma hipotética vitória. Pelo menos para mim, o festival de piadas que inundou a internet logo após a partida foi muito mais divertido do que teria sido a conquista do hexa.
Deixo para os especialistas as explicações para o fiasco da seleção e volto minhas baterias para o humor. Por que rimos de desastres, tragédias e troçamos dos infelizes? Em que recônditos da alma humana se funda aquele humor que transita entre o negro, o cínico e o de mau gosto? Recorro aqui ao trabalho do neurocientista Scott Weems, ao qual já aludi antes.
Esse tipo de piada costuma surgir de forma clandestina. Pelo menos num primeiro instante, as pessoas se sentem incomodadas em rir de desgraças. A partir de um certo instante, porém, a névoa de vergonha se dissipa e passa a ser socialmente aceitável fazer chiste com o assunto.
Podemos até medir a magnitude da hecatombe pelo intervalo entre o fato e o surgimento do ciclo de piadas. Na explosão da nave Challenger, o período de latência nos EUA foi de 17 dias. Na morte da princesa Diana o hiato foi menor, e o 11 de Setembro exigiu afastamento maior. O interessante no caso do futebol é que, como não há mortos e feridos de verdade, o movimento pôde ser instantâneo.
O ponto central é que, por maior que seja a tragédia, o humor em algum momento acaba reaparecendo. Segundo Weems, isso ocorre porque, quando algo grave acontece, experimentamos múltiplas reações, como tristeza, desespero, pena e alívio (por não sermos as vítimas). O humor é simplesmente a forma como nossos cérebros lidam com a complexidade e conciliam tantos sentimentos contraditórios. Mais do que isso, desgraças só se tornam risíveis quando desencadeiam essa cascata coletiva de emoções ambíguas.
SÃO PAULO - Se o objetivo do esporte é entreter o espectador e fazê-lo escapar, ainda que por instantes, das asperezas da vida ordinária, então a derrota do Brasil pelo dilatado placar de 7 a 1 superou em muito uma hipotética vitória. Pelo menos para mim, o festival de piadas que inundou a internet logo após a partida foi muito mais divertido do que teria sido a conquista do hexa.
Deixo para os especialistas as explicações para o fiasco da seleção e volto minhas baterias para o humor. Por que rimos de desastres, tragédias e troçamos dos infelizes? Em que recônditos da alma humana se funda aquele humor que transita entre o negro, o cínico e o de mau gosto? Recorro aqui ao trabalho do neurocientista Scott Weems, ao qual já aludi antes.
Esse tipo de piada costuma surgir de forma clandestina. Pelo menos num primeiro instante, as pessoas se sentem incomodadas em rir de desgraças. A partir de um certo instante, porém, a névoa de vergonha se dissipa e passa a ser socialmente aceitável fazer chiste com o assunto.
Podemos até medir a magnitude da hecatombe pelo intervalo entre o fato e o surgimento do ciclo de piadas. Na explosão da nave Challenger, o período de latência nos EUA foi de 17 dias. Na morte da princesa Diana o hiato foi menor, e o 11 de Setembro exigiu afastamento maior. O interessante no caso do futebol é que, como não há mortos e feridos de verdade, o movimento pôde ser instantâneo.
O ponto central é que, por maior que seja a tragédia, o humor em algum momento acaba reaparecendo. Segundo Weems, isso ocorre porque, quando algo grave acontece, experimentamos múltiplas reações, como tristeza, desespero, pena e alívio (por não sermos as vítimas). O humor é simplesmente a forma como nossos cérebros lidam com a complexidade e conciliam tantos sentimentos contraditórios. Mais do que isso, desgraças só se tornam risíveis quando desencadeiam essa cascata coletiva de emoções ambíguas.
Notícias do meteorito americano - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 11/07
Em tempos de calmaria e alegre especulação global, fala-se de novo de alta dos juros, um risco para nós
EM ALGUM DIA, um meteorito causará grande estrago ao cair na Terra, nos dizem aqueles documentários de ciência "pop" ou ficção científica das madrugadas da TV. Em algum dia, as taxas de juros subirão nos Estados Unidos. Esse filme voltou a passar na mídia financeira mundial. Talvez até por falta do que fazer ou de notícia, economistas e publicistas da área voltaram a tratar do assunto neste início de julho.
Os juros norte-americanos não vão alterar o clima ou dizimar dinossauros, mas estima-se que a coisa venha a ser "tensa", como dizem os adolescentes. Pode haver inversões do curso dos rios de dinheiro pelo mundo, enchentes e secas financeiras, não se sabe em qual escala. Isso vai nos afetar de algum modo e em algum grau entre 2015 e 2016, os quais já não seriam anos fáceis.
Como se recorda, a ameaça de tais mudanças causou as tempestades de junho-agosto de 2013; a especulação a respeito causou a pororoca de janeiro-fevereiro de 2014. Aqui no Brasil, esses fenômenos apareceram de modo mais evidente como altas do dólar, que foi além de R$ 2,40 nesses paniquitos.
O que houve recentemente?
Alguns economistas de grandes bancos do mundo passaram a estimar que os meteoritos americanos, ainda pedrinhas, começarão a cair mais cedo do que o imaginado. Isto é, não mais entre o final de 2015 e o início de 2016, mas, sim, a partir da metade de 2015. Ou até no segundo trimestre do ano que vem.
Por quê?
Porque os indicadores de emprego e inflação nos Estados Unidos começariam a apontar, enfim, a recuperação duradoura da economia, que cresceu espantosamente pouco no início do ano, menos ainda que seria previsível devido aos efeitos de um inverno duro.
Pode ser. Ainda assim, em vez de uns 3%, a economia americana deve crescer uns 2% neste 2014. Os salários reais não sobem, menos gente trabalha (apesar da baixa firme do desemprego), há muito emprego precário etc. Enfim, a previsão de retomada americana foi frustrada em todos os inícios de ano depois da explosão de 2008.
Há sinais de que os juros vão se mover?
Hum. Pode parecer que há. Um aficionado de filmes catástrofe "B" poderia lembrar daquelas cenas em que técnicos de um laboratório de terremotos notam um tremor mínimo no sismógrafo, temem o fim do mundo e são ignorados pelo chefe displicente.
Houve algumas balançadas mínimas nos sismógrafos dos juros de empréstimos entre bancos nos Estados Unidos e nas taxas de juros de títulos de dois anos de prazo.
No entanto, quando não parecem quase aleatórias, são reações pontuais, microespeculações do dia a dia. Entenda-se: caso os donos do dinheiro grosso imaginem uma alta de juros (ou imaginem que seus pares vão imaginar), vai haver algum sururu na praça.
Mas na quarta-feira saiu a exposição de motivos do comitê de política de juros deles, o Fomc, que pareceu liberar a turma para ainda chutar para perto da Lua o preço dos ativos financeiros, como ações. Nem mesmo a estrela cadente do grupo financeiro português Espírito Santo fez estrago maior.
Ainda assim. Um meteorito vai cair por aí até 2016.
Em tempos de calmaria e alegre especulação global, fala-se de novo de alta dos juros, um risco para nós
EM ALGUM DIA, um meteorito causará grande estrago ao cair na Terra, nos dizem aqueles documentários de ciência "pop" ou ficção científica das madrugadas da TV. Em algum dia, as taxas de juros subirão nos Estados Unidos. Esse filme voltou a passar na mídia financeira mundial. Talvez até por falta do que fazer ou de notícia, economistas e publicistas da área voltaram a tratar do assunto neste início de julho.
Os juros norte-americanos não vão alterar o clima ou dizimar dinossauros, mas estima-se que a coisa venha a ser "tensa", como dizem os adolescentes. Pode haver inversões do curso dos rios de dinheiro pelo mundo, enchentes e secas financeiras, não se sabe em qual escala. Isso vai nos afetar de algum modo e em algum grau entre 2015 e 2016, os quais já não seriam anos fáceis.
Como se recorda, a ameaça de tais mudanças causou as tempestades de junho-agosto de 2013; a especulação a respeito causou a pororoca de janeiro-fevereiro de 2014. Aqui no Brasil, esses fenômenos apareceram de modo mais evidente como altas do dólar, que foi além de R$ 2,40 nesses paniquitos.
O que houve recentemente?
Alguns economistas de grandes bancos do mundo passaram a estimar que os meteoritos americanos, ainda pedrinhas, começarão a cair mais cedo do que o imaginado. Isto é, não mais entre o final de 2015 e o início de 2016, mas, sim, a partir da metade de 2015. Ou até no segundo trimestre do ano que vem.
Por quê?
Porque os indicadores de emprego e inflação nos Estados Unidos começariam a apontar, enfim, a recuperação duradoura da economia, que cresceu espantosamente pouco no início do ano, menos ainda que seria previsível devido aos efeitos de um inverno duro.
Pode ser. Ainda assim, em vez de uns 3%, a economia americana deve crescer uns 2% neste 2014. Os salários reais não sobem, menos gente trabalha (apesar da baixa firme do desemprego), há muito emprego precário etc. Enfim, a previsão de retomada americana foi frustrada em todos os inícios de ano depois da explosão de 2008.
Há sinais de que os juros vão se mover?
Hum. Pode parecer que há. Um aficionado de filmes catástrofe "B" poderia lembrar daquelas cenas em que técnicos de um laboratório de terremotos notam um tremor mínimo no sismógrafo, temem o fim do mundo e são ignorados pelo chefe displicente.
Houve algumas balançadas mínimas nos sismógrafos dos juros de empréstimos entre bancos nos Estados Unidos e nas taxas de juros de títulos de dois anos de prazo.
No entanto, quando não parecem quase aleatórias, são reações pontuais, microespeculações do dia a dia. Entenda-se: caso os donos do dinheiro grosso imaginem uma alta de juros (ou imaginem que seus pares vão imaginar), vai haver algum sururu na praça.
Mas na quarta-feira saiu a exposição de motivos do comitê de política de juros deles, o Fomc, que pareceu liberar a turma para ainda chutar para perto da Lua o preço dos ativos financeiros, como ações. Nem mesmo a estrela cadente do grupo financeiro português Espírito Santo fez estrago maior.
Ainda assim. Um meteorito vai cair por aí até 2016.
Amadorismo empresarial no futebol - JOSÉ PIO MARTINS
GAZETA DO POVO - PR - 11/07
Em dezembro de 2011, publiquei um artigo na Gazeta do Povo intitulado “A decadência do futebol brasileiro”. Com algumas alterações, vou reproduzir o que escrevi naquele artigo, quando afirmei que o futebol brasileiro está em decadência, em parte por razões econômicas e empresariais. Naquele ano, o Campeonato Brasileiro havia apresentado um final empolgante, provocando elogios de dirigentes e jornalistas, e foi o que me motivou a escrever.
Para mim, tratava-se de uma ilusão, pois, se houvesse um torneio de futebol na Somália, o campeão e o vice-campeão seriam louvados, mas não deixariam de ser muito ruins, por uma simples razão: na Somália só há times ruins. Isso vem ocorrendo com o Brasil, país em que o futebol poderia ser um grande setor da economia, capaz de gerar produto, renda e emprego.
Há tempo, os times brasileiros vêm se dando mal quando enfrentam equipes de outros países. No passado, a seleção brasileira dava goleadas nos times sul-americanos, e hoje sofremos para derrotar Bolívia, Colômbia, Equador, equipes que sempre estiveram muito abaixo do Brasil. Grandes times brasileiros começaram a perder para equipes modestas, como a tal LDU e o Universidad do Chile, sem falar no massacre do Barcelona sobre o Santos na final do Campeonato Mundial de Clubes, no Japão, anos atrás.
Os clubes de futebol sempre estiveram entre as piores instituições em termos de gestão, eficiência e moral. Uma das causas é o protecionismo de que desfrutam por serem associações sem fins lucrativos, não tributadas e sem fiscalização da Receita Federal. Os clubes cresceram com venda de ingressos, patrocínios, publicidade, direitos de tevê, venda de atletas, venda de material, tornando estranho seguirem sendo beneficiados com isenções tributárias (a isenção deveria atingir apenas as receitas de mensalidades dos sócios do clube).
Livres dos tributos e da fiscalização, os clubes atraíram, no passado, contraventores do jogo do bicho, comerciantes de mercadorias ilíticas e políticos corruptos. Os homens de bem que estavam no setor viram-se rodeados de gente que estava ali justamente pelo fato de os clubes não serem empresas tributadas. Somente há pouco tempo o futebol começou a atrair empresários e executivos dispostos a tratar esse esporte como um negócio e dirigir os clubes como empresas eficientes e rentáveis.
Em relação aos jogadores, muitas vezes é o menino talentoso, pobre e sem estudo que segue sem estudar e fica longe de ser o atleta profissional de alta performance que o esporte exige atualmente. Quanto aos técnicos, em geral são ex-jogadores, sem ciência e sem formação teórica. Apesar de ter ganho tantas Copas, o Brasil nunca viu um técnico daqui dirigir qualquer time grande do mundo com sucesso. Falta-lhes estudo, formação, ciência e competência no padrão dos melhores do mundo.
A gestão do futebol mundial evoluiu; no Brasil estagnou. Enquanto prevalecerem o protecionismo e o amadorismo, a derrota será a colheita normal. Protecionismo sempre gera ineficiência, a exemplo dos produtores de aço nos Estados Unidos, dos arrozeiros no Japão, da indústria automobilística brasileira (até 1990) e da nossa reserva de mercado de informática (de 1974 a 1990).
Os dirigentes competentes e honestos são muitos, mas sozinhos não conseguem mudanças expressivas. Um começo seria transformar, por lei, os clubes em empresas, tributadas, fiscalizadas e submetidas à Lei de Falências, o que as forçaria a ter administração profissional, focada na eficiência e na rentabilidade. Amadorismo empresarial não conduz ao sucesso.
Em dezembro de 2011, publiquei um artigo na Gazeta do Povo intitulado “A decadência do futebol brasileiro”. Com algumas alterações, vou reproduzir o que escrevi naquele artigo, quando afirmei que o futebol brasileiro está em decadência, em parte por razões econômicas e empresariais. Naquele ano, o Campeonato Brasileiro havia apresentado um final empolgante, provocando elogios de dirigentes e jornalistas, e foi o que me motivou a escrever.
Para mim, tratava-se de uma ilusão, pois, se houvesse um torneio de futebol na Somália, o campeão e o vice-campeão seriam louvados, mas não deixariam de ser muito ruins, por uma simples razão: na Somália só há times ruins. Isso vem ocorrendo com o Brasil, país em que o futebol poderia ser um grande setor da economia, capaz de gerar produto, renda e emprego.
Há tempo, os times brasileiros vêm se dando mal quando enfrentam equipes de outros países. No passado, a seleção brasileira dava goleadas nos times sul-americanos, e hoje sofremos para derrotar Bolívia, Colômbia, Equador, equipes que sempre estiveram muito abaixo do Brasil. Grandes times brasileiros começaram a perder para equipes modestas, como a tal LDU e o Universidad do Chile, sem falar no massacre do Barcelona sobre o Santos na final do Campeonato Mundial de Clubes, no Japão, anos atrás.
Os clubes de futebol sempre estiveram entre as piores instituições em termos de gestão, eficiência e moral. Uma das causas é o protecionismo de que desfrutam por serem associações sem fins lucrativos, não tributadas e sem fiscalização da Receita Federal. Os clubes cresceram com venda de ingressos, patrocínios, publicidade, direitos de tevê, venda de atletas, venda de material, tornando estranho seguirem sendo beneficiados com isenções tributárias (a isenção deveria atingir apenas as receitas de mensalidades dos sócios do clube).
Livres dos tributos e da fiscalização, os clubes atraíram, no passado, contraventores do jogo do bicho, comerciantes de mercadorias ilíticas e políticos corruptos. Os homens de bem que estavam no setor viram-se rodeados de gente que estava ali justamente pelo fato de os clubes não serem empresas tributadas. Somente há pouco tempo o futebol começou a atrair empresários e executivos dispostos a tratar esse esporte como um negócio e dirigir os clubes como empresas eficientes e rentáveis.
Em relação aos jogadores, muitas vezes é o menino talentoso, pobre e sem estudo que segue sem estudar e fica longe de ser o atleta profissional de alta performance que o esporte exige atualmente. Quanto aos técnicos, em geral são ex-jogadores, sem ciência e sem formação teórica. Apesar de ter ganho tantas Copas, o Brasil nunca viu um técnico daqui dirigir qualquer time grande do mundo com sucesso. Falta-lhes estudo, formação, ciência e competência no padrão dos melhores do mundo.
A gestão do futebol mundial evoluiu; no Brasil estagnou. Enquanto prevalecerem o protecionismo e o amadorismo, a derrota será a colheita normal. Protecionismo sempre gera ineficiência, a exemplo dos produtores de aço nos Estados Unidos, dos arrozeiros no Japão, da indústria automobilística brasileira (até 1990) e da nossa reserva de mercado de informática (de 1974 a 1990).
Os dirigentes competentes e honestos são muitos, mas sozinhos não conseguem mudanças expressivas. Um começo seria transformar, por lei, os clubes em empresas, tributadas, fiscalizadas e submetidas à Lei de Falências, o que as forçaria a ter administração profissional, focada na eficiência e na rentabilidade. Amadorismo empresarial não conduz ao sucesso.
Fracasso não se cultiva - PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
O GLOBO - 11/07
Brasileiros ficaram atônitos como franceses assistindo à entrada das tropas alemãs em Paris
Bem sei, leitor, que a seleção é a “pátria de calção e chuteiras, dando botinadas em todas as direções”. E que o jogo de terça-feira foi um desastre de proporções inimagináveis. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues escreveria páginas de Dickens sobre a tragédia que se abateu sobre o escrete brasileiro.
Mas não vamos cultivar o fracasso. Todo grande país sofre grandes derrotas. Os Estados Unidos tiveram o seu Vietnã. A França teve o seu verão de 1940, quando as forças alemãs desmontaram a defesa francesa em questão de semanas, na mais impressionante das Blitzkriege (guerras-relâmpago) que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial. O que sofremos terça-feira foi nada mais nada menos do que uma “guerra-relâmpago”. Os brasileiros ficaram tão atônitos quanto os franceses assistindo estarrecidos à entrada das tropas alemãs em Paris.
Acabou. Vamos em frente. A disputa pelo terceiro lugar com a Holanda será uma oportunidade de mostrar que o jogo de terça foi um acidente grotesco, um ponto totalmente fora da curva para a grande seleção brasileira.
O próximo evento internacional no Brasil depois da Copa será a Cúpula dos líderes do Brics, em Fortaleza, na semana que vem. Virão ao Brasil os presidentes de Rússia, China, África do Sul e o primeiro-ministro da Índia. Trata-se da sexta cúpula anual do Brics, presidida desta vez pela presidente do Brasil.
O brasileiro tende, de modo geral, a subestimar a importância do Brics. Alguns porque dão pouca importância a temas internacionais — países continentais tendem à introversão. Outros preferem ver o Brasil como parte do “mundo ocidental”, um sócio menor de um sistema de governança internacional dominado pelas potências tradicionais — Europa e, principalmente, Estados Unidos.
As potências tradicionais não nos dão, entretanto, o espaço que legitimamente pretendemos ter nas instituições e foros internacionais, tais como as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial. Americanos e europeus estão agarrados ao status quo e não pretendem ceder espaço aos emergentes.
Isso cria enorme descompasso entre a arquitetura institucional e a realidade da economia mundial. Foram divulgadas há pouco novas estimativas de PIB, calculadas por paridade de compra. Os países emergentes e em desenvolvimento respondem agora por 56,4% da economia mundial; os desenvolvidos por 43,6%.
A participação do Brics na economia mundial alcança 29,7% do PIB mundial. A China, com 15,9%, já é quase do tamanho dos EUA, cuja participação caiu para 16,5%. A participação da área do euro é 12,2%, não chegando nem à metade da do Brics.
Se tudo correr bem nesta reta final, serão assinados na cúpula da semana que vem os tratados que criam um Banco de Desenvolvimento e um Fundo Monetário do Brics. E Fortaleza ficará para o Brics como Bretton Woods para o Banco Mundial e o FMI.
Brasileiros ficaram atônitos como franceses assistindo à entrada das tropas alemãs em Paris
Bem sei, leitor, que a seleção é a “pátria de calção e chuteiras, dando botinadas em todas as direções”. E que o jogo de terça-feira foi um desastre de proporções inimagináveis. Se estivesse vivo, Nelson Rodrigues escreveria páginas de Dickens sobre a tragédia que se abateu sobre o escrete brasileiro.
Mas não vamos cultivar o fracasso. Todo grande país sofre grandes derrotas. Os Estados Unidos tiveram o seu Vietnã. A França teve o seu verão de 1940, quando as forças alemãs desmontaram a defesa francesa em questão de semanas, na mais impressionante das Blitzkriege (guerras-relâmpago) que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial. O que sofremos terça-feira foi nada mais nada menos do que uma “guerra-relâmpago”. Os brasileiros ficaram tão atônitos quanto os franceses assistindo estarrecidos à entrada das tropas alemãs em Paris.
Acabou. Vamos em frente. A disputa pelo terceiro lugar com a Holanda será uma oportunidade de mostrar que o jogo de terça foi um acidente grotesco, um ponto totalmente fora da curva para a grande seleção brasileira.
O próximo evento internacional no Brasil depois da Copa será a Cúpula dos líderes do Brics, em Fortaleza, na semana que vem. Virão ao Brasil os presidentes de Rússia, China, África do Sul e o primeiro-ministro da Índia. Trata-se da sexta cúpula anual do Brics, presidida desta vez pela presidente do Brasil.
O brasileiro tende, de modo geral, a subestimar a importância do Brics. Alguns porque dão pouca importância a temas internacionais — países continentais tendem à introversão. Outros preferem ver o Brasil como parte do “mundo ocidental”, um sócio menor de um sistema de governança internacional dominado pelas potências tradicionais — Europa e, principalmente, Estados Unidos.
As potências tradicionais não nos dão, entretanto, o espaço que legitimamente pretendemos ter nas instituições e foros internacionais, tais como as Nações Unidas, o FMI, o Banco Mundial. Americanos e europeus estão agarrados ao status quo e não pretendem ceder espaço aos emergentes.
Isso cria enorme descompasso entre a arquitetura institucional e a realidade da economia mundial. Foram divulgadas há pouco novas estimativas de PIB, calculadas por paridade de compra. Os países emergentes e em desenvolvimento respondem agora por 56,4% da economia mundial; os desenvolvidos por 43,6%.
A participação do Brics na economia mundial alcança 29,7% do PIB mundial. A China, com 15,9%, já é quase do tamanho dos EUA, cuja participação caiu para 16,5%. A participação da área do euro é 12,2%, não chegando nem à metade da do Brics.
Se tudo correr bem nesta reta final, serão assinados na cúpula da semana que vem os tratados que criam um Banco de Desenvolvimento e um Fundo Monetário do Brics. E Fortaleza ficará para o Brics como Bretton Woods para o Banco Mundial e o FMI.
20 anos de Plano Real - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
FOLHA DE SP - 11/07
Em nova dinâmica social, cada vez mais nítida, cidadão sabe que mudança está ligada ao mercado, e não ao governo
O PLANO Real recebeu intensa atenção da mídia na comemoração de seus 20 anos. Os brasileiros foram lembrados da importância deste evento na sua vida, apesar de milhões deles nunca terem vivido os anos infernais da hiperinflação. Mesmo os que viveram entre 1980 e 1993 --período de chumbo da desorganização econômica do Brasil-- já se acostumaram a uma economia com inflação baixa e salários crescendo em termos reais.
Mas a cobertura da imprensa esteve muito focada em questões pontuais e pelas recordações dos técnicos que desenharam o programa. Também fizeram parte da cobertura de jornais, e outros canais da mídia, as advertências sobre os riscos que o Plano Real corre neste fim de mandato da presidente Dilma. Gostaria de trazer ao leitor da Folha outra visão sobre a estabilidade de preços obtida nos últimos 20 anos.
O Plano Real já pode ser visto hoje sob a ótica da história e isto muda totalmente sua compreensão. Muitos dos detalhes relembrados nos últimos dias perdem importância, dando lugar a fenômenos mais complexos e de natureza estrutural que se desenvolveram. Com essas novas lentes de aumento, inúmeras observações --que passavam desapercebidas aos olhos do analista-- se impõem.
Em minha opinião, expressada várias vezes neste espaço, a grande vitória do Plano Real foi permitir a formalização das relações econômicas de 70% dos brasileiros. Por formalização entendo a passagem das relações informais para o domínio dos contratos formais. Nesta passagem os dois elementos principais são a carteira de trabalho assinada e o registro das micro e pequenas empresas no cadastro do CNPJ.
Esta passagem corresponde a um salto quântico no funcionamento da economia e na dinâmica social de um país. Gostaria de focar hoje as mudanças sociais que acredito ocorrerão nos próximos anos e que deverão moldar um novo equilíbrio político no país.
Inicialmente vamos medir o grau de formalização dos brasileiros que existia antes da estabilidade e nos dias de hoje. Para tal vamos usar as cinco classes de renda definidas nas pesquisas do IBGE e agrupá-las em apenas duas: as classes A, B e C, que representam os brasileiros que vivem no mundo formal, e as D e E, que correspondem aos que vivem na informalidade.
Outra forma de entender a divisão entre formalidade e informalidade é a de colocar, lado a lado, brasileiros que possuem um futuro com previsibilidade em termos econômicos e brasileiros sem futuro.
Nos cinco anos anteriores ao Plano Real apenas 30% dos brasileiros viviam no mundo formal e 70% viviam na informalidade, ou segundo minha leitura, no grupo dos sem futuro. Para este grupo, verdadeiros cidadãos de segunda classe, apenas o governo poderia dar alguma garantia de segurança social. A economia de mercado não chegava a eles e, por isto, não tinham acesso ao crédito bancário e comercial e não conseguiam visualizar o peso dos impostos cobrados pelo governo para prover alguns serviços públicos.
Uma forma de entender a Constituição de 1988, com sua marca da garantia de universalidade e gratuidade dos serviços públicos, é olhar para essa profunda divisão que existia na sociedade brasileira, entre os sem futuro e os cidadãos de primeira classe, à época da Constituinte. Fica mais claro entendê-la.
Hoje essa divisão social não existe mais e os brasileiros com futuro são 70% da sociedade.
Os que mudaram de categoria pela formalização sabem que as mudanças que estão ocorrendo estão associadas à sua vida com o mercado, e não com o governo. Eles podem agora avaliar o que aconteceu com os serviços públicos disponíveis nesse mesmo período. Além disso, na formalidade a visualização da carga de impostos pagos fica explícita e a gratuidade por obrigação constitucional passa a ser vista como uma farsa.
Essas mudanças começam, neste ano eleitoral, a mostrar-se de forma mais perceptível ao analista mais cuidadoso. O próprio governo do PT está sentindo --sem entendê-las-- alterações de comportamento no cidadão consumidor. Se estiver correto na minha leitura, nos próximos anos é que vamos viver, de forma mais intensa, essa nova dinâmica social criada quando a hiperinflação foi dominada pelo ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.
Em nova dinâmica social, cada vez mais nítida, cidadão sabe que mudança está ligada ao mercado, e não ao governo
O PLANO Real recebeu intensa atenção da mídia na comemoração de seus 20 anos. Os brasileiros foram lembrados da importância deste evento na sua vida, apesar de milhões deles nunca terem vivido os anos infernais da hiperinflação. Mesmo os que viveram entre 1980 e 1993 --período de chumbo da desorganização econômica do Brasil-- já se acostumaram a uma economia com inflação baixa e salários crescendo em termos reais.
Mas a cobertura da imprensa esteve muito focada em questões pontuais e pelas recordações dos técnicos que desenharam o programa. Também fizeram parte da cobertura de jornais, e outros canais da mídia, as advertências sobre os riscos que o Plano Real corre neste fim de mandato da presidente Dilma. Gostaria de trazer ao leitor da Folha outra visão sobre a estabilidade de preços obtida nos últimos 20 anos.
O Plano Real já pode ser visto hoje sob a ótica da história e isto muda totalmente sua compreensão. Muitos dos detalhes relembrados nos últimos dias perdem importância, dando lugar a fenômenos mais complexos e de natureza estrutural que se desenvolveram. Com essas novas lentes de aumento, inúmeras observações --que passavam desapercebidas aos olhos do analista-- se impõem.
Em minha opinião, expressada várias vezes neste espaço, a grande vitória do Plano Real foi permitir a formalização das relações econômicas de 70% dos brasileiros. Por formalização entendo a passagem das relações informais para o domínio dos contratos formais. Nesta passagem os dois elementos principais são a carteira de trabalho assinada e o registro das micro e pequenas empresas no cadastro do CNPJ.
Esta passagem corresponde a um salto quântico no funcionamento da economia e na dinâmica social de um país. Gostaria de focar hoje as mudanças sociais que acredito ocorrerão nos próximos anos e que deverão moldar um novo equilíbrio político no país.
Inicialmente vamos medir o grau de formalização dos brasileiros que existia antes da estabilidade e nos dias de hoje. Para tal vamos usar as cinco classes de renda definidas nas pesquisas do IBGE e agrupá-las em apenas duas: as classes A, B e C, que representam os brasileiros que vivem no mundo formal, e as D e E, que correspondem aos que vivem na informalidade.
Outra forma de entender a divisão entre formalidade e informalidade é a de colocar, lado a lado, brasileiros que possuem um futuro com previsibilidade em termos econômicos e brasileiros sem futuro.
Nos cinco anos anteriores ao Plano Real apenas 30% dos brasileiros viviam no mundo formal e 70% viviam na informalidade, ou segundo minha leitura, no grupo dos sem futuro. Para este grupo, verdadeiros cidadãos de segunda classe, apenas o governo poderia dar alguma garantia de segurança social. A economia de mercado não chegava a eles e, por isto, não tinham acesso ao crédito bancário e comercial e não conseguiam visualizar o peso dos impostos cobrados pelo governo para prover alguns serviços públicos.
Uma forma de entender a Constituição de 1988, com sua marca da garantia de universalidade e gratuidade dos serviços públicos, é olhar para essa profunda divisão que existia na sociedade brasileira, entre os sem futuro e os cidadãos de primeira classe, à época da Constituinte. Fica mais claro entendê-la.
Hoje essa divisão social não existe mais e os brasileiros com futuro são 70% da sociedade.
Os que mudaram de categoria pela formalização sabem que as mudanças que estão ocorrendo estão associadas à sua vida com o mercado, e não com o governo. Eles podem agora avaliar o que aconteceu com os serviços públicos disponíveis nesse mesmo período. Além disso, na formalidade a visualização da carga de impostos pagos fica explícita e a gratuidade por obrigação constitucional passa a ser vista como uma farsa.
Essas mudanças começam, neste ano eleitoral, a mostrar-se de forma mais perceptível ao analista mais cuidadoso. O próprio governo do PT está sentindo --sem entendê-las-- alterações de comportamento no cidadão consumidor. Se estiver correto na minha leitura, nos próximos anos é que vamos viver, de forma mais intensa, essa nova dinâmica social criada quando a hiperinflação foi dominada pelo ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso.
O setor energético brasileiro está em apuros - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 11/07
Depois de R$ 4 bilhões de ajuda do Tesouro, recebeu o empréstimo bancário de R$11,3 bilhões, para cobrir os desequilíbrios entre receitas e custos até o fim do ano, e o dinheiro já acabou. Tem chovido muito neste período seco e, mesmo assim, o nível dos reservatórios do Sudeste está em 36%, o pior número desde 2001.
Quando a Aneel decidiu dar mais tempo para as distribuidoras de energia pagarem a conta do que compraram no mercado à vista, estava criando mais um desequilíbrio. O regulador, ao permitir um atraso no pagamento, impôs um custo a quem tem a receber. É uma intervenção arbitrária.
Como as empresas podem estar tão quebradas? O Tesouro fez dois aportes em janeiro e fevereiro na Conta de Desenvolvimento Energético. Depois, negociou através da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica o empréstimo de R$11,2 bilhões. Achou que o assunto estava resolvido. E o valor bilionário só deu para até abril. O que venceu em julho é referente a maio. O pagamento foi adiado para o final do mês, mas ainda não se sabe como será pago. Para isso, está sendo providenciado um novo socorro ou novo empréstimo.
É buraco sem fundo. O primeiro empréstimo será coberto com um reajuste extra nas nossas contas de luz de 2015, conforme o documento dado pela Aneel aos bancos, como garantia. O novo empréstimo comprometerá a conta de luz de 2016. Nem os maiores críticos da mudança feita no setor de energia pela MP 579 chegaram a imaginar um cenário tão catastrófico.
Frequentemente o governo tem sido chamado a intervir, socorrer, ou mudar regras para ajudar um dos vários segmentos em problemas nesse setor politraumatizado. A piada entre as empresas é que o governo pelo menos foi isonômico: conseguiu uma fórmula em que todos perdem.
As geradoras hidráulicas não terão como gerar a energia que venderam em contrato, por causa do baixo nível de água nos reservatórios.
Para entregar a energia que são contratualmente obrigadas a fornecer, terão que comprar no mercado livre e arcar com o prejuízo. Os reservatórios estão com nível muito abaixo de anos anteriores, como se pode ver no gráfico.
As térmicas estão funcionando muito acima da capacidade técnica e, quando têm que parar para as revisões, precisam comprar energia no mercado porque estão “despachadas” pelo ONS. Ser “despachado” é receber ordem para gerar. Elas têm que continuar fornecendo mesmo em parada técnica.
O atraso nas linhas de transmissão chega a quase 50% das obras. As grandes hidrelétricas da Amazônia estão atrasadas e os fundos de pensão de estatais e empresas estatais que são parte integrante dos consórcios estão tendo prejuízo. As distribuidoras têm que comprar energia no mercado livre para cobrir a que não está sendo fornecida em função do atraso. E isso aumenta mais o buraco em que as empresas estão.
O custo total do desequilíbrio no sistema está ficando impagável. Pelas contas da consultoria PSR, a fatura pode chegar a R$ 56 bilhões se forem somados custos de 2013 e 2014. A maior parte da conta será paga em 2015. Os gastos se referem a subsídios oferecidos para garantir a redução da energia em 20% no ano passado e ao que o setor chama de “descontratação involuntária das distribuidoras”, ou seja, empresas não fecharam contratos porque o governo não conseguiu organizar toda a oferta e demanda através dos leilões. A conta será dividida: a maior parte será paga pelos consumidores e o resto pelo Tesouro, ou seja, os contribuintes.
Depois de R$ 4 bilhões de ajuda do Tesouro, recebeu o empréstimo bancário de R$11,3 bilhões, para cobrir os desequilíbrios entre receitas e custos até o fim do ano, e o dinheiro já acabou. Tem chovido muito neste período seco e, mesmo assim, o nível dos reservatórios do Sudeste está em 36%, o pior número desde 2001.
Quando a Aneel decidiu dar mais tempo para as distribuidoras de energia pagarem a conta do que compraram no mercado à vista, estava criando mais um desequilíbrio. O regulador, ao permitir um atraso no pagamento, impôs um custo a quem tem a receber. É uma intervenção arbitrária.
Como as empresas podem estar tão quebradas? O Tesouro fez dois aportes em janeiro e fevereiro na Conta de Desenvolvimento Energético. Depois, negociou através da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica o empréstimo de R$11,2 bilhões. Achou que o assunto estava resolvido. E o valor bilionário só deu para até abril. O que venceu em julho é referente a maio. O pagamento foi adiado para o final do mês, mas ainda não se sabe como será pago. Para isso, está sendo providenciado um novo socorro ou novo empréstimo.
É buraco sem fundo. O primeiro empréstimo será coberto com um reajuste extra nas nossas contas de luz de 2015, conforme o documento dado pela Aneel aos bancos, como garantia. O novo empréstimo comprometerá a conta de luz de 2016. Nem os maiores críticos da mudança feita no setor de energia pela MP 579 chegaram a imaginar um cenário tão catastrófico.
Frequentemente o governo tem sido chamado a intervir, socorrer, ou mudar regras para ajudar um dos vários segmentos em problemas nesse setor politraumatizado. A piada entre as empresas é que o governo pelo menos foi isonômico: conseguiu uma fórmula em que todos perdem.
As geradoras hidráulicas não terão como gerar a energia que venderam em contrato, por causa do baixo nível de água nos reservatórios.
Para entregar a energia que são contratualmente obrigadas a fornecer, terão que comprar no mercado livre e arcar com o prejuízo. Os reservatórios estão com nível muito abaixo de anos anteriores, como se pode ver no gráfico.
As térmicas estão funcionando muito acima da capacidade técnica e, quando têm que parar para as revisões, precisam comprar energia no mercado porque estão “despachadas” pelo ONS. Ser “despachado” é receber ordem para gerar. Elas têm que continuar fornecendo mesmo em parada técnica.
O atraso nas linhas de transmissão chega a quase 50% das obras. As grandes hidrelétricas da Amazônia estão atrasadas e os fundos de pensão de estatais e empresas estatais que são parte integrante dos consórcios estão tendo prejuízo. As distribuidoras têm que comprar energia no mercado livre para cobrir a que não está sendo fornecida em função do atraso. E isso aumenta mais o buraco em que as empresas estão.
O custo total do desequilíbrio no sistema está ficando impagável. Pelas contas da consultoria PSR, a fatura pode chegar a R$ 56 bilhões se forem somados custos de 2013 e 2014. A maior parte da conta será paga em 2015. Os gastos se referem a subsídios oferecidos para garantir a redução da energia em 20% no ano passado e ao que o setor chama de “descontratação involuntária das distribuidoras”, ou seja, empresas não fecharam contratos porque o governo não conseguiu organizar toda a oferta e demanda através dos leilões. A conta será dividida: a maior parte será paga pelos consumidores e o resto pelo Tesouro, ou seja, os contribuintes.
Parada no afrouxamento - CELSO MING
O ESTADÃO - 11/07
Quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) avisou que a partir de outubro deve estancar a emissão de dólares para compra de títulos no mercado secundário.
Ainda não se trata do início da operação de retirada de dólares do mercado, o que implicaria a revenda de títulos do seu estoque. Mas é o início da reversão de uma política não convencional destinada a promover a recuperação da economia americana.
Denominada afrouxamento quantitativo (quantitative easing), essa política levantou muita polêmica, não só porque exigiu emissões gigantescas de moeda mas, também, porque não foram dissipadas as dúvidas sobre sua utilidade como instrumento novo de combate a crises.
É uma política monetária não convencional na medida em que, até o estouro da última crise, se entendia que os bancos centrais devessem se limitar a administrar a política de juros, que corresponde a retiradas ou a injeções de moeda no mercado, para garantir o nível desejável de inflação (de 2% ao ano nos Estados Unidos). Em 2009, os juros básicos rastejavam a nível zero sem que a economia americana desse sinais de recuperação. Como não houvesse mais espaço para a derrubada dos juros, o Fed decidiu partir para essas emissões. Na ocasião, já havia nos seus ativos US$ 2,8 trilhões em títulos. De lá para cá, novas compras feitas com emissões de moeda incharam seu balanço para US$ 4,4 trilhões.
A lógica dessa política é a de que a nova demanda de títulos de logo prazo criada pelo Fed provocasse a derrubada geral dos juros de longo prazo. Com isso, não só o capital procuraria aplicações mais rentáveis nas opções de risco, mas o crédito, assim estimulado, ajudaria na recuperação do consumo e da produção. E na área de títulos de crédito, a principal recuperação desejada era a dos valores das hipotecas (crédito para compra de imóveis), que despencaram no auge da crise.
O anúncio de que estancará a compra de títulos a partir de outubro tem como fundamento certa recuperação da economia americana, que mostra não só perspectiva do crescimento do PIB de 2,8% neste ano mas, também, redução do desemprego que atingira 10% em 2009 e, em junho, baixou para 6,1%.
As dúvidas não se concentram apenas em torno da eficácia da operação enquanto instrumento capaz de reverter a crise. Também se estendem ao ritmo da reversão pretendida. O mercado pode ter ficado dependente dessas emissões de moeda, como o viciado em drogas.
A mera expectativa de estancamento pode provocar ondas de incerteza. Quando começou a política de afrouxamento quantitativo, o Fed passou a navegar mares nunca antes mapeados. Os problemas a enfrentar no retorno à normalidade são igualmente desconhecidos, especialmente quando não se tem certeza de que a recuperação esteja garantida.
Do ponto de vista dos atuais interesses do governo brasileiro, que agora quer maior entrada de moeda estrangeira, a parada das compras de títulos pelo Fed é um fato preocupante, especialmente se a crise da economia se acentuar e se as agências de classificação de risco colocarem em dúvida a qualidade dos títulos da dívida brasileira.
Quarta-feira, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) avisou que a partir de outubro deve estancar a emissão de dólares para compra de títulos no mercado secundário.
Ainda não se trata do início da operação de retirada de dólares do mercado, o que implicaria a revenda de títulos do seu estoque. Mas é o início da reversão de uma política não convencional destinada a promover a recuperação da economia americana.
Denominada afrouxamento quantitativo (quantitative easing), essa política levantou muita polêmica, não só porque exigiu emissões gigantescas de moeda mas, também, porque não foram dissipadas as dúvidas sobre sua utilidade como instrumento novo de combate a crises.
É uma política monetária não convencional na medida em que, até o estouro da última crise, se entendia que os bancos centrais devessem se limitar a administrar a política de juros, que corresponde a retiradas ou a injeções de moeda no mercado, para garantir o nível desejável de inflação (de 2% ao ano nos Estados Unidos). Em 2009, os juros básicos rastejavam a nível zero sem que a economia americana desse sinais de recuperação. Como não houvesse mais espaço para a derrubada dos juros, o Fed decidiu partir para essas emissões. Na ocasião, já havia nos seus ativos US$ 2,8 trilhões em títulos. De lá para cá, novas compras feitas com emissões de moeda incharam seu balanço para US$ 4,4 trilhões.
A lógica dessa política é a de que a nova demanda de títulos de logo prazo criada pelo Fed provocasse a derrubada geral dos juros de longo prazo. Com isso, não só o capital procuraria aplicações mais rentáveis nas opções de risco, mas o crédito, assim estimulado, ajudaria na recuperação do consumo e da produção. E na área de títulos de crédito, a principal recuperação desejada era a dos valores das hipotecas (crédito para compra de imóveis), que despencaram no auge da crise.
O anúncio de que estancará a compra de títulos a partir de outubro tem como fundamento certa recuperação da economia americana, que mostra não só perspectiva do crescimento do PIB de 2,8% neste ano mas, também, redução do desemprego que atingira 10% em 2009 e, em junho, baixou para 6,1%.
As dúvidas não se concentram apenas em torno da eficácia da operação enquanto instrumento capaz de reverter a crise. Também se estendem ao ritmo da reversão pretendida. O mercado pode ter ficado dependente dessas emissões de moeda, como o viciado em drogas.
A mera expectativa de estancamento pode provocar ondas de incerteza. Quando começou a política de afrouxamento quantitativo, o Fed passou a navegar mares nunca antes mapeados. Os problemas a enfrentar no retorno à normalidade são igualmente desconhecidos, especialmente quando não se tem certeza de que a recuperação esteja garantida.
Do ponto de vista dos atuais interesses do governo brasileiro, que agora quer maior entrada de moeda estrangeira, a parada das compras de títulos pelo Fed é um fato preocupante, especialmente se a crise da economia se acentuar e se as agências de classificação de risco colocarem em dúvida a qualidade dos títulos da dívida brasileira.
Dilma continuará na Fazenda em 2015 - LEANDRA PERES
VALOR ECONÔMICO - 11/07
Política econômica não muda após eleição presidencial
Há poucas dúvidas entre auxiliares da presidente Dilma Rousseff de que o ministro da Fazenda num eventual segundo mandato continuará sendo a própria Dilma Rousseff. Guido Mantega dará lugar a alguém que possa reconquistar alguma credibilidade junto a empresários e investidores, mas as decisões importantes continuarão sendo exclusividade do Palácio do Planalto.
Esse arranjo significa que um eventual segundo mandato petista continuará estimulando o consumo, financiando a política industrial e gastando na área social. "Não tem volta atrás", é a descrição ouvida no QG da campanha petista.
A grande mudança esperada por quem acompanha os planos políticos da presidente é mais agressividade nas concessões. A presidente Dilma teria se convencido de que o modelo dá resultados mais rápidos e melhores que o investimento público direto. O exemplo da modernização dos aeroportos é citado com frequência.
Questões como o represamento de preços administrados, convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano, futuro da taxa de juros ou desempenho fiscal são tidas como conjunturais e vão esperar pelo calendário político. As certezas no momento são de que não haverá um "tarifaço" em 2015 ou após as eleições e que o custo de trazer a inflação para a meta num prazo curto é muito alto e socialmente injusto. Ajustes devem ocorrer, mas não no ritmo esperado pelo mercado e não mudarão o rumo da política econômica.
Aliás, sobre esse assunto, o governo tem tido uma única voz. Interlocutores da equipe econômica em conversas com investidores têm reforçado a percepção de que a inflação não caminhará a passos rápidos para os 4,5% ao ano. Mesmo reconhecendo que os índices atuais, na casa de 6,5% ao ano, são desconfortáveis, o Banco Central e o Ministério da Fazenda têm insistido que uma convergência rápida da inflação exigiria um sacrifício econômico desproporcional e não seria aceito por um eleitor que quer manter emprego e renda.
A estratégia de ajustes lentos na economia durante um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff parte da convicção de que o colapso nos indicadores de confiança é parte do processo eleitoral e não um problema estrutural. Definido o vencedor das eleições presidenciais, acredita-se que o empresariado terá que trabalhar com o novo governo e, sendo reeleita, Dilma Rousseff terá o benefício da dúvida e um voto de confiança para começar a trabalhar.
A última pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que os empresários estão pessimistas. O índice de confiança da indústria de junho foi de 87,2 pontos, o menor valor desde maio de 2009 quando havia alcançado 86,4 pontos. Se forem analisados os diferentes setores da indústria, é entre os fabricantes de bens de capitais onde a expectativa de piora no futuro é maior.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer participar mais ativamente das articulações de um novo governo do que fez no primeiro mandato. O grau de influência de Lula pode suavizar a política econômica de Dilma Rousseff, mas é preciso lembrar que o ex-presidente nunca foi contra o crescimento do mercado interno, aumento do crédito ou dos salários e dificilmente será um opositor agora.
Há clareza entre a equipe que coordena a campanha à reeleição de que uma deterioração econômica nos próximos meses é o principal e o maior risco ao segundo mandato. O outro consenso que se formou é que não há mais o que o governo possa fazer para mudar o cenário econômico até as eleições e será preciso convencer o eleitor com os indicadores que estão aí.
Os recentes pacotes de ajuda ao mercado de capitais, manutenção do IPI reduzido para automóveis, melhores condições para o pagamento de dívidas tributárias, crédito a exportadores e estímulo ao setor de máquinas e equipamentos têm como objetivo quase exclusivo não piorar o que já não anda bem e sinalizar ao setor privado que a política de desonerações e crédito subsidiado será mantida.
A campanha petista monitora dois indicadores econômicos quase que em tempo real: a inflação de alimentos e o mercado de trabalho. O indicador do IPCA cheio, que esta semana ultrapassou a meta chegando a 6,52% ao ano, tem importância relativa. Para o cenário eleitoral, só não pode chegar ao fim de outubro ainda acima do teto oficial.
Já a inflação de alimentos é considerada um indicador-chave. As pesquisas de opinião mostram que o assunto é sensível. Em junho a pesquisa CNI-Ibope mostrou que 71% dos eleitores ouvidos reprovaram a política de combate à inflação do governo.
Os analistas políticos da presidente apostam que o eleitorado insatisfeito com a inflação já começou a sentir no bolso a queda no preço de alimentos, efeito que se ampliará nos próximos meses na visão oficial. Os dados do IBGE mostram recuo na inflação de alimentos. Em junho, o IPCA registrou deflação de 0,11%. No primeiro semestre de 2013, o grupo alimentos e bebidas subiu 6% e neste ano, 5% no mesmo período.
O discurso econômico preparado para a campanha insistirá nos custos do ajuste proposto pela oposição. Sempre que a inflação for tema, a presidente Dilma está sendo aconselhada a dizer que um ajuste rápido exigirá cortes de salários. Se a discussão for crescimento da economia, deve lembrar dos 11 milhões de empregos que o Brasil criou desde o início da crise internacional e prometer preservar os salários.
Os nomes citados na campanha petista para o Ministério da Fazenda continuam sendo o presidente do BC, Alexandre Tombini, e do atual secretário-executivo, Paulo Caffareli. A grande dúvida é o que a presidente Dilma Rousseff reserva para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, em quem deposita 101% de confiança. Ele sai da Fazenda, mas não há quem afirme com tanta certeza que se afaste definitivamente do governo ou perca influência.
Há poucas dúvidas entre auxiliares da presidente Dilma Rousseff de que o ministro da Fazenda num eventual segundo mandato continuará sendo a própria Dilma Rousseff. Guido Mantega dará lugar a alguém que possa reconquistar alguma credibilidade junto a empresários e investidores, mas as decisões importantes continuarão sendo exclusividade do Palácio do Planalto.
Esse arranjo significa que um eventual segundo mandato petista continuará estimulando o consumo, financiando a política industrial e gastando na área social. "Não tem volta atrás", é a descrição ouvida no QG da campanha petista.
A grande mudança esperada por quem acompanha os planos políticos da presidente é mais agressividade nas concessões. A presidente Dilma teria se convencido de que o modelo dá resultados mais rápidos e melhores que o investimento público direto. O exemplo da modernização dos aeroportos é citado com frequência.
Questões como o represamento de preços administrados, convergência da inflação para a meta de 4,5% ao ano, futuro da taxa de juros ou desempenho fiscal são tidas como conjunturais e vão esperar pelo calendário político. As certezas no momento são de que não haverá um "tarifaço" em 2015 ou após as eleições e que o custo de trazer a inflação para a meta num prazo curto é muito alto e socialmente injusto. Ajustes devem ocorrer, mas não no ritmo esperado pelo mercado e não mudarão o rumo da política econômica.
Aliás, sobre esse assunto, o governo tem tido uma única voz. Interlocutores da equipe econômica em conversas com investidores têm reforçado a percepção de que a inflação não caminhará a passos rápidos para os 4,5% ao ano. Mesmo reconhecendo que os índices atuais, na casa de 6,5% ao ano, são desconfortáveis, o Banco Central e o Ministério da Fazenda têm insistido que uma convergência rápida da inflação exigiria um sacrifício econômico desproporcional e não seria aceito por um eleitor que quer manter emprego e renda.
A estratégia de ajustes lentos na economia durante um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff parte da convicção de que o colapso nos indicadores de confiança é parte do processo eleitoral e não um problema estrutural. Definido o vencedor das eleições presidenciais, acredita-se que o empresariado terá que trabalhar com o novo governo e, sendo reeleita, Dilma Rousseff terá o benefício da dúvida e um voto de confiança para começar a trabalhar.
A última pesquisa divulgada pela Fundação Getulio Vargas (FGV) mostra que os empresários estão pessimistas. O índice de confiança da indústria de junho foi de 87,2 pontos, o menor valor desde maio de 2009 quando havia alcançado 86,4 pontos. Se forem analisados os diferentes setores da indústria, é entre os fabricantes de bens de capitais onde a expectativa de piora no futuro é maior.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer participar mais ativamente das articulações de um novo governo do que fez no primeiro mandato. O grau de influência de Lula pode suavizar a política econômica de Dilma Rousseff, mas é preciso lembrar que o ex-presidente nunca foi contra o crescimento do mercado interno, aumento do crédito ou dos salários e dificilmente será um opositor agora.
Há clareza entre a equipe que coordena a campanha à reeleição de que uma deterioração econômica nos próximos meses é o principal e o maior risco ao segundo mandato. O outro consenso que se formou é que não há mais o que o governo possa fazer para mudar o cenário econômico até as eleições e será preciso convencer o eleitor com os indicadores que estão aí.
Os recentes pacotes de ajuda ao mercado de capitais, manutenção do IPI reduzido para automóveis, melhores condições para o pagamento de dívidas tributárias, crédito a exportadores e estímulo ao setor de máquinas e equipamentos têm como objetivo quase exclusivo não piorar o que já não anda bem e sinalizar ao setor privado que a política de desonerações e crédito subsidiado será mantida.
A campanha petista monitora dois indicadores econômicos quase que em tempo real: a inflação de alimentos e o mercado de trabalho. O indicador do IPCA cheio, que esta semana ultrapassou a meta chegando a 6,52% ao ano, tem importância relativa. Para o cenário eleitoral, só não pode chegar ao fim de outubro ainda acima do teto oficial.
Já a inflação de alimentos é considerada um indicador-chave. As pesquisas de opinião mostram que o assunto é sensível. Em junho a pesquisa CNI-Ibope mostrou que 71% dos eleitores ouvidos reprovaram a política de combate à inflação do governo.
Os analistas políticos da presidente apostam que o eleitorado insatisfeito com a inflação já começou a sentir no bolso a queda no preço de alimentos, efeito que se ampliará nos próximos meses na visão oficial. Os dados do IBGE mostram recuo na inflação de alimentos. Em junho, o IPCA registrou deflação de 0,11%. No primeiro semestre de 2013, o grupo alimentos e bebidas subiu 6% e neste ano, 5% no mesmo período.
O discurso econômico preparado para a campanha insistirá nos custos do ajuste proposto pela oposição. Sempre que a inflação for tema, a presidente Dilma está sendo aconselhada a dizer que um ajuste rápido exigirá cortes de salários. Se a discussão for crescimento da economia, deve lembrar dos 11 milhões de empregos que o Brasil criou desde o início da crise internacional e prometer preservar os salários.
Os nomes citados na campanha petista para o Ministério da Fazenda continuam sendo o presidente do BC, Alexandre Tombini, e do atual secretário-executivo, Paulo Caffareli. A grande dúvida é o que a presidente Dilma Rousseff reserva para o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, em quem deposita 101% de confiança. Ele sai da Fazenda, mas não há quem afirme com tanta certeza que se afaste definitivamente do governo ou perca influência.
Dilma simula pênalti: 'Schwalbe!' - REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SP - 11/07
A 'andorinha' é metáfora. A simulação da falta é um vício nacional. No futebol, na vida, na política
Aos 17 minutos do primeiro tempo, no desastre de terça-feira (8), a seleção brasileira já perdia para a alemã por um a zero quando Marcelo, atendendo a um chamado do atavismo macunaímico, caiu na área, simulando um pênalti.
O zagueiro alemão Jérôme Boateng, cujo pai é ganês, se zangou. Deu-lhe uma bronca humilhante. Os alemães execram esse teatro ridículo e têm uma palavra para defini-lo --na verdade, uma metáfora: "Schwalbe", que quer dizer "andorinha". É um pássaro de asas curtas em relação ao corpo e que voa rente ao solo, lembrando o atleta que agita, desajeitado, os braços ao encenar uma falta que não existiu. Boateng chegou a imitar com as mãos o voo da "Schwalbe". Naquele pênalti patético cavado por Fred contra a Croácia, a imprensa alemã o chamou de "Schwalbinho", acrescentando à palavra o sufixo do diminutivo que costuma vir colado a nomes de alguns de nossos craquinhos.
Apesar da humilhação dos 7 a 1, nunca foi tão civilizado perder. Os alemães vieram dispostos a conquistar também o coração dos brasileiros. Jogaram um futebol bonito, honesto, respeitoso. Quando os canarinhos estavam sem ânimo até para imitar andorinhas, os adversários não começaram a dar toquinhos de lado, a fazer firulas ou gracejos destinados a humilhar quem já não tinha mais nada. Ao contrário: um deles aplaudiu o gol de honra de Oscarzinho. Nas redes sociais, deram a dimensão da própria vitória ao cobrir a nossa seleção e o nosso país de elogios. "Respeite a amarelinha com sua história e tradição", recomendou Lukas Podolski. "Vocês têm um país lindo, pessoas maravilhosas e jogadores incríveis --esta partida não pode destruir o seu orgulho", escreveu Mesut Özil.
Os alemães vieram para reverenciar uma tradição. Por isso Boateng se zangou com Marcelo. Era como se dissesse: "Levante-se daí, cara! Honre a sua história para me dar a glória de vencê-lo". Marcelo, no entanto, parecia antever que aquele Brasil que estava em campo não sabia vencer porque, antes de tudo, não sabia perder --daí o voo da "Schwalbe".
Se o futebol é metáfora da guerra, é preciso lembrar que a guerra também pode ter uma ética --não quando se é Gêngis Khan. Depois de se vingar de Heitor --e como!--, Aquiles entrega o corpo do oponente para ser honrado pelo pai. Só os vitoriosos mesquinhos --e, pois, derrotados moralmente pela própria arrogância-- tripudiam sobre o vencido. A vitória final é ser humilde no triunfo para que o outro possa ser digno na derrota, enobrecendo, então, aquele que conquistou o galardão. Só existe honra quando se vence um forte. Nesse sentido, o confronto, inclusive a guerra com regras, é uma forma de apuro ético. E, obviamente, é possível ser indigno na paz.
Também a minha "andorinha" é metáfora. A simulação da falta é um vício nacional. No futebol, na vida, na política. Acusar o adversário de uma transgressão que ele não cometeu é uma falha moral grave. Trata-se de reivindicar a licença para reagir àquilo que não aconteceu, tentando fazer com que o outro pague uma conta indevida. Um dia antes da partida fatídica, a presidente Dilma Rousseff, demonstrando que anda com pouco serviço --e só gente muito ocupada tem tempo de fazer direito o seu trabalho--, resolveu participar de um bate-papo numa rede social. Exaltou o heroísmo de Neymar, discorreu sobre a garra do povo brasileiro e, ora vejam!, censurou os "urubus do pessimismo".
Desde o início do torneio, a presidente e seu partido acusam a oposição e críticos do governo de faltas que não cometeram: teriam antevisto o caos na Copa e estariam torcendo contra o sucesso do evento. Simulação! "Schwalbe!" Dilma sonhou esmagá-los no próximo domingo, passando a taça para as mãos de Thiago Silva. No pior dos cenários, Lionel Messi beijará o troféu, hipótese em que se cumprirá uma predição de Lula, que anunciou (is.gd/kTXWkN), em 2007, que o Brasil faria uma Copa "para argentino nenhum botar defeito".
Ouça o que diz Boateng, presidente! Levante-se da área! Jogue limpo! É muito melhor vencer com honra. Ou honrar o vencedor.
A 'andorinha' é metáfora. A simulação da falta é um vício nacional. No futebol, na vida, na política
Aos 17 minutos do primeiro tempo, no desastre de terça-feira (8), a seleção brasileira já perdia para a alemã por um a zero quando Marcelo, atendendo a um chamado do atavismo macunaímico, caiu na área, simulando um pênalti.
O zagueiro alemão Jérôme Boateng, cujo pai é ganês, se zangou. Deu-lhe uma bronca humilhante. Os alemães execram esse teatro ridículo e têm uma palavra para defini-lo --na verdade, uma metáfora: "Schwalbe", que quer dizer "andorinha". É um pássaro de asas curtas em relação ao corpo e que voa rente ao solo, lembrando o atleta que agita, desajeitado, os braços ao encenar uma falta que não existiu. Boateng chegou a imitar com as mãos o voo da "Schwalbe". Naquele pênalti patético cavado por Fred contra a Croácia, a imprensa alemã o chamou de "Schwalbinho", acrescentando à palavra o sufixo do diminutivo que costuma vir colado a nomes de alguns de nossos craquinhos.
Apesar da humilhação dos 7 a 1, nunca foi tão civilizado perder. Os alemães vieram dispostos a conquistar também o coração dos brasileiros. Jogaram um futebol bonito, honesto, respeitoso. Quando os canarinhos estavam sem ânimo até para imitar andorinhas, os adversários não começaram a dar toquinhos de lado, a fazer firulas ou gracejos destinados a humilhar quem já não tinha mais nada. Ao contrário: um deles aplaudiu o gol de honra de Oscarzinho. Nas redes sociais, deram a dimensão da própria vitória ao cobrir a nossa seleção e o nosso país de elogios. "Respeite a amarelinha com sua história e tradição", recomendou Lukas Podolski. "Vocês têm um país lindo, pessoas maravilhosas e jogadores incríveis --esta partida não pode destruir o seu orgulho", escreveu Mesut Özil.
Os alemães vieram para reverenciar uma tradição. Por isso Boateng se zangou com Marcelo. Era como se dissesse: "Levante-se daí, cara! Honre a sua história para me dar a glória de vencê-lo". Marcelo, no entanto, parecia antever que aquele Brasil que estava em campo não sabia vencer porque, antes de tudo, não sabia perder --daí o voo da "Schwalbe".
Se o futebol é metáfora da guerra, é preciso lembrar que a guerra também pode ter uma ética --não quando se é Gêngis Khan. Depois de se vingar de Heitor --e como!--, Aquiles entrega o corpo do oponente para ser honrado pelo pai. Só os vitoriosos mesquinhos --e, pois, derrotados moralmente pela própria arrogância-- tripudiam sobre o vencido. A vitória final é ser humilde no triunfo para que o outro possa ser digno na derrota, enobrecendo, então, aquele que conquistou o galardão. Só existe honra quando se vence um forte. Nesse sentido, o confronto, inclusive a guerra com regras, é uma forma de apuro ético. E, obviamente, é possível ser indigno na paz.
Também a minha "andorinha" é metáfora. A simulação da falta é um vício nacional. No futebol, na vida, na política. Acusar o adversário de uma transgressão que ele não cometeu é uma falha moral grave. Trata-se de reivindicar a licença para reagir àquilo que não aconteceu, tentando fazer com que o outro pague uma conta indevida. Um dia antes da partida fatídica, a presidente Dilma Rousseff, demonstrando que anda com pouco serviço --e só gente muito ocupada tem tempo de fazer direito o seu trabalho--, resolveu participar de um bate-papo numa rede social. Exaltou o heroísmo de Neymar, discorreu sobre a garra do povo brasileiro e, ora vejam!, censurou os "urubus do pessimismo".
Desde o início do torneio, a presidente e seu partido acusam a oposição e críticos do governo de faltas que não cometeram: teriam antevisto o caos na Copa e estariam torcendo contra o sucesso do evento. Simulação! "Schwalbe!" Dilma sonhou esmagá-los no próximo domingo, passando a taça para as mãos de Thiago Silva. No pior dos cenários, Lionel Messi beijará o troféu, hipótese em que se cumprirá uma predição de Lula, que anunciou (is.gd/kTXWkN), em 2007, que o Brasil faria uma Copa "para argentino nenhum botar defeito".
Ouça o que diz Boateng, presidente! Levante-se da área! Jogue limpo! É muito melhor vencer com honra. Ou honrar o vencedor.
Traço de união - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 11/07
Diante da cena, o paralelo foi inevitável: Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira na entrevista do dia seguinte à débâcle da seleção atuavam à maneira de determinados políticos e governantes que brigam com os fatos como se a negação tivesse o poder de mudar a realidade.
Na ojeriza à autocrítica que nesse episódio ressaltou a proximidade entre os condutores de times e de partidos, estiveram presentes as incongruências, os malabarismos verbais, a socialização do prejuízo, a invocação ao imponderável e até o recurso à pieguice.
Tudo muito parecido. A começar pelo pano de fundo: a arrogância que no semblante e nas palavras teimava em desobedecer ao tom da fala mansa de estudada humildade.
Cheio de estatísticas, ao molde daqueles números que candidatos despejam para impressionar o eleitorado, o técnico mostrava papéis para provar que a prancheta indicava o caminho certo. Ao lado, seu auxiliar corroborava incisivo: "Foi perfeito. Faríamos tudo de novo". Pela versão dos dois, nada saiu errado. Ou seja, tirando a goleada de 7 a 1, foi tudo bem.
Sabe como é? Descontada a demonstração exaustiva do ocorrido e da condenação por maioria no Supremo Tribunal Federal, o julgamento de certa ação penal foi obra de perseguição insidiosa do ministro Joaquim Barbosa.
Nada como uma narrativa virtual para substituir os fatos reais. Estes, no entanto, costumam atropelar o narrador. Assim foi com Scolari. Momentos depois da exibição dos números probatórios do sucesso veio o ato falho: "Cometemos um erro fatal. Uma vergonha".
A falta de compromisso com a coerência é recorrente na política. Aquela coisa, uma hora a pessoa diz que foi traída por gente envolvida em escândalos a fim de marcar distância dos acusados, outra hora a mesma pessoa afirma que os aludidos traidores são vítimas e que vai se dedicar a provar a inocência dos companheiros. Não só não o faz como segue a vida repetindo "não sei de nada".
Luiz Felipe Scolari disse não saber o que aconteceu na terça-feira. Não precisa entender de futebol para saber: o Brasil jogou inacreditavelmente mal e não deve ter sido porque o time estava no "caminho certo".
Assim como os políticos gostam de atribuir os problemas ao "sistema" do qual seriam todos reféns - um exemplo é o uso do caixa dois no financiamento de campanhas -, o técnico da seleção recorreu à figura da "pane geral" para dar um nome de fantasia ao que teria uma denominação correta na forma de autocrítica.
Note-se que num primeiro momento ele chamou a responsabilidade a si, mas no dia seguinte falou nos "seis minutos" de abalo coletivo dando um sentido fantasmagórico ao desastre que, no dizer dos especialistas no tema, tem razões objetivas. Políticos quando em situações adversas também tergiversam.
E quando se esgotam todos os recursos, fazem como Carlos Alberto Parreira e apelam à "força do povo". Entre "centenas de e-mails" de apoio escolheu a mensagem endereçada a Scolari pela torcedora Lucia para ler ao final da entrevista.
"Desejo-lhe boa sorte nos próximos jogos. E tenho certeza de que o senhor os comandará com sua inquestionável competência." Inocente útil, dona Lucia não tem parte no efeito constrangedor do uso de sua singela manifestação.
Paradoxo. A população reclama da qualidade dos políticos. Repudia a corrupção. Entretanto, na hora de votar deixa para lá a oportunidade de fazer a sua parte.
José Roberto Arruda foi condenado em 2.ª instância por um colegiado. Poderia por isso ter ficado inelegível, mas como seu registro de candidatura foi pedido cinco dias antes da condenação, em princípio pode seguir candidato.
O Ministério Público vai recorrer, mas ele pode ganhar na Justiça e vencer. E por quê? Porque a despeito de ser reincidente está em primeiro lugar nas pesquisas.
Diante da cena, o paralelo foi inevitável: Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira na entrevista do dia seguinte à débâcle da seleção atuavam à maneira de determinados políticos e governantes que brigam com os fatos como se a negação tivesse o poder de mudar a realidade.
Na ojeriza à autocrítica que nesse episódio ressaltou a proximidade entre os condutores de times e de partidos, estiveram presentes as incongruências, os malabarismos verbais, a socialização do prejuízo, a invocação ao imponderável e até o recurso à pieguice.
Tudo muito parecido. A começar pelo pano de fundo: a arrogância que no semblante e nas palavras teimava em desobedecer ao tom da fala mansa de estudada humildade.
Cheio de estatísticas, ao molde daqueles números que candidatos despejam para impressionar o eleitorado, o técnico mostrava papéis para provar que a prancheta indicava o caminho certo. Ao lado, seu auxiliar corroborava incisivo: "Foi perfeito. Faríamos tudo de novo". Pela versão dos dois, nada saiu errado. Ou seja, tirando a goleada de 7 a 1, foi tudo bem.
Sabe como é? Descontada a demonstração exaustiva do ocorrido e da condenação por maioria no Supremo Tribunal Federal, o julgamento de certa ação penal foi obra de perseguição insidiosa do ministro Joaquim Barbosa.
Nada como uma narrativa virtual para substituir os fatos reais. Estes, no entanto, costumam atropelar o narrador. Assim foi com Scolari. Momentos depois da exibição dos números probatórios do sucesso veio o ato falho: "Cometemos um erro fatal. Uma vergonha".
A falta de compromisso com a coerência é recorrente na política. Aquela coisa, uma hora a pessoa diz que foi traída por gente envolvida em escândalos a fim de marcar distância dos acusados, outra hora a mesma pessoa afirma que os aludidos traidores são vítimas e que vai se dedicar a provar a inocência dos companheiros. Não só não o faz como segue a vida repetindo "não sei de nada".
Luiz Felipe Scolari disse não saber o que aconteceu na terça-feira. Não precisa entender de futebol para saber: o Brasil jogou inacreditavelmente mal e não deve ter sido porque o time estava no "caminho certo".
Assim como os políticos gostam de atribuir os problemas ao "sistema" do qual seriam todos reféns - um exemplo é o uso do caixa dois no financiamento de campanhas -, o técnico da seleção recorreu à figura da "pane geral" para dar um nome de fantasia ao que teria uma denominação correta na forma de autocrítica.
Note-se que num primeiro momento ele chamou a responsabilidade a si, mas no dia seguinte falou nos "seis minutos" de abalo coletivo dando um sentido fantasmagórico ao desastre que, no dizer dos especialistas no tema, tem razões objetivas. Políticos quando em situações adversas também tergiversam.
E quando se esgotam todos os recursos, fazem como Carlos Alberto Parreira e apelam à "força do povo". Entre "centenas de e-mails" de apoio escolheu a mensagem endereçada a Scolari pela torcedora Lucia para ler ao final da entrevista.
"Desejo-lhe boa sorte nos próximos jogos. E tenho certeza de que o senhor os comandará com sua inquestionável competência." Inocente útil, dona Lucia não tem parte no efeito constrangedor do uso de sua singela manifestação.
Paradoxo. A população reclama da qualidade dos políticos. Repudia a corrupção. Entretanto, na hora de votar deixa para lá a oportunidade de fazer a sua parte.
José Roberto Arruda foi condenado em 2.ª instância por um colegiado. Poderia por isso ter ficado inelegível, mas como seu registro de candidatura foi pedido cinco dias antes da condenação, em princípio pode seguir candidato.
O Ministério Público vai recorrer, mas ele pode ganhar na Justiça e vencer. E por quê? Porque a despeito de ser reincidente está em primeiro lugar nas pesquisas.
Até o futebol? - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/07
O governo petista chegou à conclusão de que é preciso estatizar o futebol brasileiro para que ele volte a ser competitivo, uma ideia estapafúrdia que o coloca em pé de igualdade com o governo da Nigéria, onde o presidente John Goodluck demitiu todos os dirigentes da CBF de lá devido à eliminação da sua seleção nas oitavas de final do Mundial.
Em consequência, a Fifa suspendeu a Federação de Futebol da Nigéria de todas as suas atividades, proibindo-a de participar de competições internacionais e até mesmo de organizar campeonatos locais. Mas, apesar de saber que a Fifa proíbe qualquer ingerência estatal no futebol, para mantê-lo como uma atividade privada, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, defendeu ontem a volta da presença do Estado brasileiro na organização do futebol, o que é expressamente proibido pela Lei Pelé.
Mas não foi só. Um site ligado à campanha da presidente, de nome Muda Mais , pediu uma completa reformulação na CBF - no que estamos de acordo -, e a própria presidente Dilma, em entrevista a Christiane Amanpour, da CNN, pronunciou-se sobre a necessidade de manter no Brasil os seus principais jogadores - no que tem razão -, mas atribuiu essa tarefa não ao mercado futebolístico, mas à ação do governo:
O Brasil não pode mais ser apenas exportador de jogadores. Exportar jogadores significa que estamos abrindo mão de nossa principal atração, que pode ajudar a lotar os estádios. Até porque, qual é a maior atração que os estádios no Brasil podem oferecer? Deixar a torcida ver os craques. Há anos, muitos jogadores brasileiros têm ido jogar fora, então renovar o futebol no Brasil depende da iniciativa de um país que é tão apaixonado por futebol .
As inúmeras denúncias de corrupção envolvendo a Fifa e a própria CBF, e o histórico das entidades de se envolverem em maracutaias diversas, não falam bem da atividade empresarial privada na gestão do futebol. Mas o único caminho para restabelecer a capacidade brasileira de produzir bons times e jogadores é reduzir a interferência política na gestão dos clubes e da CBF, e seguir o caminho de federações vitoriosas como a Alemanha, a Espanha, a Itália, onde o futebol tornou-se um negócio altamente rentável e que produz grandes times e seleções.
Ficha suja
O caso do ex-governado José Roberto Arruda, de Brasília, que, mesmo condenado em segunda instância pelo TJ-DF, manteve sua candidatura ao governo, pode ser emblemático para o sucesso da Lei da Ficha Limpa.
A alegação da defesa é a de que o prazo para não aceitar a candidatura teria sido 5 de julho, dia em que se encerraram as inscrições dos candidatos. E a jurisprudência eleitoral diz que nenhum fato superveniente pode atingir uma candidatura.
Mas há questões que estão sendo discutidas. Esse caso será o primeiro para aplicação da Lei da Ficha Limpa em que questões de prazo serão discutidas, e há um entendimento do Supremo tribunal Federal de que, para os casos da Lei da Ficha Limpa, condenações posteriores também valem.
Além disso, o caso de Arruda estava para ser julgado antes do dia 5 de julho, mas ele, numa manobra, conseguiu uma liminar suspendendo o julgamento.
Há outras interpretações mais favoráveis ainda à impugnação de sua candidatura. O juiz Marlon Reis, um dos artífices da Lei da Ficha Limpa, diz que o registro de uma candidatura não está concluído quando o candidato o pede ao Tribunal Regional Eleitoral, mas quando o Tribunal defere o pedido.
O pedido seria apenas o primeiro dos vários passos até que a candidatura se torne realidade. O segundo é a publicação do edital com a lista das candidaturas deferidas pela Justiça Eleitoral; em seguida, é aberto o prazo para pedidos de impugnação, há a produção de provas e, finalmente, o julgamento, cujo prazo se encerra em 5 de agosto.
Portanto, a candidatura de José Roberto Arruda ainda está em tempo de ser barrada pelo Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal. O caso deve parar no STF, que terá chances, então, de esclarecer a questão da Lei da Ficha Limpa.
Os campeões - ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP - 11/07
BRASÍLIA - Final de Copa do Mundo é como um segundo turno de eleições presidenciais. Quem já apoiava um dos dois finalistas costuma (não obrigatoriamente) seguir em frente. E quem torcia por um terceiro time, ou um terceiro candidato, fica observando, refletindo, até decidir se vai lavar as mãos e votar branco/nulo ou optar pelo "menos pior" do seu ponto de vista.
O que será menos pior no domingão do Maracanã para nós, torcedores brasileiros: uma vitória da Alemanha, que liquidou a seleção do Felipão e o hexa, ou da Argentina, nosso adversário direto e visceral?
Seria uma típica "escolha de Sofia" às avessas, não fosse um fato inquestionável: a Alemanha já é de fato, e tem tudo para ser também de direito, a grande campeã da Copa.
É doído ter de torcer pelo time que massacrou o Brasil a céu aberto, ao vivo e em cores para bilhões de pessoas mundo afora. Mas é uma questão de justiça. Campeões não são só os que fazem mais gols --e nós vimos como a Alemanha sabe fazer gols!--, mas também os que se comportam como ídolos: dão exemplo, trabalham duro, têm disciplina, cultivam o espírito de equipe e, de quebra, demonstram humildade e simpatia com o anfitrião. Esses são os alemães nesta Copa 2014 no Brasil.
Não vai aí, porém, nenhuma patriotada ridícula, uma pinimba rasteira contra nossos "hermanos", que têm o papa Francisco, o Maradona e o Messi, mas, coitados, afundam junto com a inacreditável Cristina Kirchner. Quantos de nós amamos Buenos Aires? Quantos de nós temos bons amigos argentinos? E, afinal, quantos de nós adoraríamos trazer a taça para a América do Sul?
Trata-se, pois, de uma torcida desapaixonada e diferente do cálculo político dos comitês dos candidatos. Dilma entra na onda de empurrar a tragédia para o colo da CBF, tendo pesadelos com vaias e acendendo velas para a vitória da Alemanha. Logo, Aécio e Campos devem estar torcendo pela Argentina...
BRASÍLIA - Final de Copa do Mundo é como um segundo turno de eleições presidenciais. Quem já apoiava um dos dois finalistas costuma (não obrigatoriamente) seguir em frente. E quem torcia por um terceiro time, ou um terceiro candidato, fica observando, refletindo, até decidir se vai lavar as mãos e votar branco/nulo ou optar pelo "menos pior" do seu ponto de vista.
O que será menos pior no domingão do Maracanã para nós, torcedores brasileiros: uma vitória da Alemanha, que liquidou a seleção do Felipão e o hexa, ou da Argentina, nosso adversário direto e visceral?
Seria uma típica "escolha de Sofia" às avessas, não fosse um fato inquestionável: a Alemanha já é de fato, e tem tudo para ser também de direito, a grande campeã da Copa.
É doído ter de torcer pelo time que massacrou o Brasil a céu aberto, ao vivo e em cores para bilhões de pessoas mundo afora. Mas é uma questão de justiça. Campeões não são só os que fazem mais gols --e nós vimos como a Alemanha sabe fazer gols!--, mas também os que se comportam como ídolos: dão exemplo, trabalham duro, têm disciplina, cultivam o espírito de equipe e, de quebra, demonstram humildade e simpatia com o anfitrião. Esses são os alemães nesta Copa 2014 no Brasil.
Não vai aí, porém, nenhuma patriotada ridícula, uma pinimba rasteira contra nossos "hermanos", que têm o papa Francisco, o Maradona e o Messi, mas, coitados, afundam junto com a inacreditável Cristina Kirchner. Quantos de nós amamos Buenos Aires? Quantos de nós temos bons amigos argentinos? E, afinal, quantos de nós adoraríamos trazer a taça para a América do Sul?
Trata-se, pois, de uma torcida desapaixonada e diferente do cálculo político dos comitês dos candidatos. Dilma entra na onda de empurrar a tragédia para o colo da CBF, tendo pesadelos com vaias e acendendo velas para a vitória da Alemanha. Logo, Aécio e Campos devem estar torcendo pela Argentina...
Fechando a tampa - NELSON MOTTA
O GLOBO - 11/07
A escolha do técnico da seleção brasileira deveria ser feita em eleições diretas por todos os brasileiros maiores de 14 anos
Para qualquer brasileiro louco por futebol, era como estar em Nova York no 11 de Setembro, com o espetáculo de horror e grandiosidade da História diante dos nossos olhos, em tempo real. Apesar de tudo, foi um privilégio testemunhar o melhor do pior, sem mortos nem feridos: só humilhados.
Em qualquer clube-empresa, uma derrota dessas derrubaria toda a diretoria e até a presidência, por pressão dos acionistas. Mas os que escolheram a comissão técnica, os arquitetos do fracasso, como o presidente da CBF, José Maria Marin, dizem que o nosso futebol precisa de grandes mudanças, fingindo que não sabem que são eles a raiz dos problemas que nos levaram a essa humilhação histórica. Só falta culparem a imprensa golpista… rsrs.
Se essa sucessão de arrogâncias, negociatas, cinismos e incompetências que resultaram nessa épica derrota do futebol brasileiro — não de um time, mas como um todo — não for motivo para uma CPI suprapartidária, o que seria? Se 70% dos brasileiros exigem mudanças na política e na economia, imaginem no futebol. Mas com a “bancada da bola” investigando, em vez de ser investigada, nem esse, que seria o maior legado da Copa, teremos.
Se, como filosofava Neném Prancha, “pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”, a escolha do técnico da seleção brasileira deveria ser feita em eleições diretas por todos os brasileiros maiores de 14 anos. E não por um cartola eleito por outros cartolas que dominam federações estaduais como políticos dominam currais e que vivem de vampirizar a paixão popular. Agora o sangue ferveu.
Mas Deus teve compaixão por Neymar e Thiago Silva, poupando-os de sofrer o vexame de corpo presente. E também por Lula, que não foi ao estádio para não ser vaiado e escapou do pior: ser acusado de pé-frio. E por nós, que escapamos de levar uma “zapatada” da Argentina na final no Maracanã. Deus é mesmo brasileiro.
Como sabem os grandes artistas, políticos, empresários e atletas vitoriosos, o sucesso não ensina nada, só infla o ego e subestima os limites, é nos fracassos que se aprendem as lições que levam a conquistas maiores.
A escolha do técnico da seleção brasileira deveria ser feita em eleições diretas por todos os brasileiros maiores de 14 anos
Para qualquer brasileiro louco por futebol, era como estar em Nova York no 11 de Setembro, com o espetáculo de horror e grandiosidade da História diante dos nossos olhos, em tempo real. Apesar de tudo, foi um privilégio testemunhar o melhor do pior, sem mortos nem feridos: só humilhados.
Em qualquer clube-empresa, uma derrota dessas derrubaria toda a diretoria e até a presidência, por pressão dos acionistas. Mas os que escolheram a comissão técnica, os arquitetos do fracasso, como o presidente da CBF, José Maria Marin, dizem que o nosso futebol precisa de grandes mudanças, fingindo que não sabem que são eles a raiz dos problemas que nos levaram a essa humilhação histórica. Só falta culparem a imprensa golpista… rsrs.
Se essa sucessão de arrogâncias, negociatas, cinismos e incompetências que resultaram nessa épica derrota do futebol brasileiro — não de um time, mas como um todo — não for motivo para uma CPI suprapartidária, o que seria? Se 70% dos brasileiros exigem mudanças na política e na economia, imaginem no futebol. Mas com a “bancada da bola” investigando, em vez de ser investigada, nem esse, que seria o maior legado da Copa, teremos.
Se, como filosofava Neném Prancha, “pênalti é tão importante que deveria ser batido pelo presidente do clube”, a escolha do técnico da seleção brasileira deveria ser feita em eleições diretas por todos os brasileiros maiores de 14 anos. E não por um cartola eleito por outros cartolas que dominam federações estaduais como políticos dominam currais e que vivem de vampirizar a paixão popular. Agora o sangue ferveu.
Mas Deus teve compaixão por Neymar e Thiago Silva, poupando-os de sofrer o vexame de corpo presente. E também por Lula, que não foi ao estádio para não ser vaiado e escapou do pior: ser acusado de pé-frio. E por nós, que escapamos de levar uma “zapatada” da Argentina na final no Maracanã. Deus é mesmo brasileiro.
Como sabem os grandes artistas, políticos, empresários e atletas vitoriosos, o sucesso não ensina nada, só infla o ego e subestima os limites, é nos fracassos que se aprendem as lições que levam a conquistas maiores.
Depois da bonança, a tempestade - JOAO MELLÃO NETO
O ESTADÃO - 11/07
Passada a festa e ainda sob efeitos da ressaca, o Brasil vai retornando aos poucos a sua dura realidade. Organizar uma festa em casa é algo muito trabalhoso. E, convenhamos, até que não nos saímos tão mal assim. O anfitrião, que hesitou em entrar na pista para dançar, esbanjou simpatia e cordialidade. Alguns casos à parte, enquanto houve festa, a alegria e a bonança prevaleceram em nossas ruas. A impressão geral que nossos convidados levarão em sua bagagem - já que, como afirmou nossa presidente, não poderão levar os estádios como lembrança - será positiva. Foi uma verdadeira festa de arromba! Uma Copa com médias altíssimas de gols - bem sabemos - e de público. Grandes emoções foram servidas aos que aqui vieram.
Mas como tudo o que é bom sempre acaba, pouco a pouco os convidados foram saindo e voltando para casa. Uns pela porta da frente, gentilmente se despedindo, outros "à francesa". Mas o que não estava no script era a saída do próprio anfitrião, que, após ingerir "7 doses", tristemente teve de abandonar a própria festa, antes mesmo que a música parasse e tivesse a sonhada chance de conquistar a mocinha cobiçada, a taça do mundo. Tudo havia sido montado para conquistá-la dentro de casa. Acreditava-se que qualquer despesa extra, por maior que fosse, teria valido a pena se, ao fim, pudesse ter a amada em seus braços, aos olhos do mundo todo. Agora corre o sério risco de vê-la justamente nos braços do seu maior rival. Que, cá entre nós, não precisou gastar um desvalorizado peso argentino para tanto, bastou atravessar a rua...
Mas, apesar dos pesares, o show tem de continuar. Enquanto houver convidados, a cortesia e a gentileza devem também continuar.
Algo contra dar uma festa em casa para impressionar os nossos vizinhos ou conquistar a mocinha pretendida? Sinceramente, não. Ceder o espaço para a alegria e a integração das mais diferentes nações é algo extremamente positivo. Ganhar a Copa, também. Antes a competição nos campos de futebol do que nos de batalha. E é nos gramados que nós, brasileiros, podemos equiparar-nos às grandes potências, sentindo um pouco pertencermos ao Primeiro Mundo. E temos cinco grandes razões para tanto. Nada mais natural que ambicionarmos recepcionar a Copa do Mundo no país que mais vezes a conquistou.
O grande problema é que não se deve dar uma festa "padrão Fifa" - facilmente atendido apenas por nossos colegas mais abastados - enquanto dentro de casa não apresentamos condições de prover aos nossos próprios filhos acesso a uma boa escola ou de tratá-los num hospital minimamente decente. É algo um tanto questionável e inconsequente.
Caímos na síndrome do vizinho complexado que, na tentativa de impressionar a comunidade ao redor, resolve abrir sua casa oferecendo uma grandiosa recepção com tudo do bom e do melhor. Isso certamente exige alguns gastos aqui, outros reparos ali... Afinal, todos devem ter a impressão de que a casa é de "Primeiro Mundo". E quanto menos ela o for, maior será o preço da "maquiagem". O que o irresponsável vizinho não percebe é que, uma vez que se chama a atenção para sua suposta opulência, toda a sua vida e a de sua família passam a ser alvo de olhares mais atentos. De onde será que veio tanto progresso de repente? Será que finalmente emplacou? E isso já começou a ser devastado antes mesmo de a festa começar.
Agora, com a festa acabada e sem as distorções causadas pela embriaguez, a imagem vai ficando mais nítida. E com o som baixando já se escuta a criança gritando no quarto. Isso quando não resolve proferir palavrões diante de todos os convidados... Como diria Tancredo Neves, se quiser descobrir se as pessoas de uma casa falam mal de você, repare em como as crianças o tratam. Estas não conseguem mentir. Então, ao fixar os olhos nas nossas crianças, a comunidade mundial verá que toda a "abundância" não passou de uma grande ilusão. Os estádios que foram construídos nada trarão em termos de maior qualidade de vida para a nossa população. Nem sequer temos demanda econômica para todos eles. Serão meros elefantes brancos alimentados no jardim de casa pelo contribuinte, que terá de arcar com a sua manutenção.
O anfitrião pode desfrutar a tão sonhada "noite de rei", mas quando voltar à sua realidade perceberá não só que é plebeu, como está endividado. Ao acordar no dia seguinte, além da enorme dor de cabeça, terá de lidar com filhos cada dia mais esclarecidos e indignados com as irresponsabilidades do pai.
Mas, diferentemente de uma casa comum, as criança aqui já atingiram a maioridade e até gozam de certa autonomia. Andam cada dia mais amadurecidas, embora ainda estejam um tanto longe do nível de um verdadeiro adulto. E elas detêm o poder de mudar o destino da casa. As mesadas que durante anos lhes foram ofertadas - as famigeradas Bolsas Família - as ludibriam cada dia menos. Os filhos deste solo descobrem a cada dia que passa que a mãe não é lá "tão gentil" assim. Por mais gratos que sejam ao mínimo de dignidade que ela lhes trouxe, começam a ver que ela lhes escondia oportunidades de um futuro muito melhor. Tal instrumento não pode ser utilizado para justificar e legitimar a irresponsabilidade fiscal, gerencial e moral que há alguns anos nos assola.
De tão invocada, finalmente a herança maldita chegou. Há sujeira espalhada por toda a casa. Aquele que a assumir terá de arcar com a responsabilidade de que, além de uma bela faxina, a regra agora passará a ser dormir e acordar cedo, trabalhar duro. Chega de ostentação. A verdadeira prosperidade chega àqueles que planejam o futuro inteligentemente e trabalham de forma árdua para cumpri-lo. E já que não pudemos ficar até o fim da nossa própria festa, que a mocinha, ao menos, caia nos braços daqueles que hoje melhor encarnam tais valores.
Alguma sugestão para torcermos no domingo?
Passada a festa e ainda sob efeitos da ressaca, o Brasil vai retornando aos poucos a sua dura realidade. Organizar uma festa em casa é algo muito trabalhoso. E, convenhamos, até que não nos saímos tão mal assim. O anfitrião, que hesitou em entrar na pista para dançar, esbanjou simpatia e cordialidade. Alguns casos à parte, enquanto houve festa, a alegria e a bonança prevaleceram em nossas ruas. A impressão geral que nossos convidados levarão em sua bagagem - já que, como afirmou nossa presidente, não poderão levar os estádios como lembrança - será positiva. Foi uma verdadeira festa de arromba! Uma Copa com médias altíssimas de gols - bem sabemos - e de público. Grandes emoções foram servidas aos que aqui vieram.
Mas como tudo o que é bom sempre acaba, pouco a pouco os convidados foram saindo e voltando para casa. Uns pela porta da frente, gentilmente se despedindo, outros "à francesa". Mas o que não estava no script era a saída do próprio anfitrião, que, após ingerir "7 doses", tristemente teve de abandonar a própria festa, antes mesmo que a música parasse e tivesse a sonhada chance de conquistar a mocinha cobiçada, a taça do mundo. Tudo havia sido montado para conquistá-la dentro de casa. Acreditava-se que qualquer despesa extra, por maior que fosse, teria valido a pena se, ao fim, pudesse ter a amada em seus braços, aos olhos do mundo todo. Agora corre o sério risco de vê-la justamente nos braços do seu maior rival. Que, cá entre nós, não precisou gastar um desvalorizado peso argentino para tanto, bastou atravessar a rua...
Mas, apesar dos pesares, o show tem de continuar. Enquanto houver convidados, a cortesia e a gentileza devem também continuar.
Algo contra dar uma festa em casa para impressionar os nossos vizinhos ou conquistar a mocinha pretendida? Sinceramente, não. Ceder o espaço para a alegria e a integração das mais diferentes nações é algo extremamente positivo. Ganhar a Copa, também. Antes a competição nos campos de futebol do que nos de batalha. E é nos gramados que nós, brasileiros, podemos equiparar-nos às grandes potências, sentindo um pouco pertencermos ao Primeiro Mundo. E temos cinco grandes razões para tanto. Nada mais natural que ambicionarmos recepcionar a Copa do Mundo no país que mais vezes a conquistou.
O grande problema é que não se deve dar uma festa "padrão Fifa" - facilmente atendido apenas por nossos colegas mais abastados - enquanto dentro de casa não apresentamos condições de prover aos nossos próprios filhos acesso a uma boa escola ou de tratá-los num hospital minimamente decente. É algo um tanto questionável e inconsequente.
Caímos na síndrome do vizinho complexado que, na tentativa de impressionar a comunidade ao redor, resolve abrir sua casa oferecendo uma grandiosa recepção com tudo do bom e do melhor. Isso certamente exige alguns gastos aqui, outros reparos ali... Afinal, todos devem ter a impressão de que a casa é de "Primeiro Mundo". E quanto menos ela o for, maior será o preço da "maquiagem". O que o irresponsável vizinho não percebe é que, uma vez que se chama a atenção para sua suposta opulência, toda a sua vida e a de sua família passam a ser alvo de olhares mais atentos. De onde será que veio tanto progresso de repente? Será que finalmente emplacou? E isso já começou a ser devastado antes mesmo de a festa começar.
Agora, com a festa acabada e sem as distorções causadas pela embriaguez, a imagem vai ficando mais nítida. E com o som baixando já se escuta a criança gritando no quarto. Isso quando não resolve proferir palavrões diante de todos os convidados... Como diria Tancredo Neves, se quiser descobrir se as pessoas de uma casa falam mal de você, repare em como as crianças o tratam. Estas não conseguem mentir. Então, ao fixar os olhos nas nossas crianças, a comunidade mundial verá que toda a "abundância" não passou de uma grande ilusão. Os estádios que foram construídos nada trarão em termos de maior qualidade de vida para a nossa população. Nem sequer temos demanda econômica para todos eles. Serão meros elefantes brancos alimentados no jardim de casa pelo contribuinte, que terá de arcar com a sua manutenção.
O anfitrião pode desfrutar a tão sonhada "noite de rei", mas quando voltar à sua realidade perceberá não só que é plebeu, como está endividado. Ao acordar no dia seguinte, além da enorme dor de cabeça, terá de lidar com filhos cada dia mais esclarecidos e indignados com as irresponsabilidades do pai.
Mas, diferentemente de uma casa comum, as criança aqui já atingiram a maioridade e até gozam de certa autonomia. Andam cada dia mais amadurecidas, embora ainda estejam um tanto longe do nível de um verdadeiro adulto. E elas detêm o poder de mudar o destino da casa. As mesadas que durante anos lhes foram ofertadas - as famigeradas Bolsas Família - as ludibriam cada dia menos. Os filhos deste solo descobrem a cada dia que passa que a mãe não é lá "tão gentil" assim. Por mais gratos que sejam ao mínimo de dignidade que ela lhes trouxe, começam a ver que ela lhes escondia oportunidades de um futuro muito melhor. Tal instrumento não pode ser utilizado para justificar e legitimar a irresponsabilidade fiscal, gerencial e moral que há alguns anos nos assola.
De tão invocada, finalmente a herança maldita chegou. Há sujeira espalhada por toda a casa. Aquele que a assumir terá de arcar com a responsabilidade de que, além de uma bela faxina, a regra agora passará a ser dormir e acordar cedo, trabalhar duro. Chega de ostentação. A verdadeira prosperidade chega àqueles que planejam o futuro inteligentemente e trabalham de forma árdua para cumpri-lo. E já que não pudemos ficar até o fim da nossa própria festa, que a mocinha, ao menos, caia nos braços daqueles que hoje melhor encarnam tais valores.
Alguma sugestão para torcermos no domingo?
Desvios em Abreu e Lima parecem inesgotáveis - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 11/07
A cada história sobre a refinaria fica mais entendido por que o diretor da Petrobras ligado à obra está preso, pilhado pela PF num esquema de lavagem de dinheiro
A no mínimo estranha compra da refinaria de Pasadena, no Texas, já transitava pelo noticiário quando a presidente Dilma, ao responder a perguntas sobre o assunto a “O Estado de S.Paulo", promoveu o caso de vez à categoria de escândalo. Responsável pelo Conselho de Administração da Petrobras à época do fechamento do negócio, a presidente declarou, por escrito, que, se soubesse da existência de certas cláusulas no contrato de compra, não teria aprovado o negócio.
Estas cláusulas haviam sido omitidas do resumo do contrato levado pela diretoria executiva ao conselho. O assunto é sério e em torno dele há muitas dúvidas, apesar de todos os depoimentos dados por atuais e ex-funcionários da Petrobras no Congresso, em que existem duas CPIs sobre a estatal, porém impedidas pela bancada do Planalto de ir fundo nas investigações.
Não se poderia prever que outra questão, também esquisita, ligada à empresa, a cada vez mais custosa construção da refinaria Abreu e Lima — fruto de acerto pessoal entre o então presidente Lula e o caudilho venezuelano Hugo Chávez — rivalizaria em gravidade com Pasadena. O Tribunal de Contas da União (TCU) já detectara evidências de superfaturamento na compra de bens e serviços para a execução de uma obra orçada, no início, em US$ 2,3 bilhões, mas que custará quase dez vezes mais, US$ 20 bilhões — sem que os venezuelanos hajam entregue um centavo de dólar sequer à estatal.
Abreu e Lima não para de gerar notícias escandalosas. O GLOBO de ontem, com base em relatórios de auditorias da própria Petrobras, revelou sinais estridentes de favorecimento a fornecedores contratados para a obra.
O Consórcio Alusa-CBM, por exemplo, recebeu contrato de R$ 651,7 milhões para uma obra na qual a Petrobras permitiu-lhe um lucro de 12%, embora a margem média de lucratividade no ramo, segundo os auditores, fosse de 7%. A mesma Alusa, firma de engenharia, recebeu um contrato de R$ 921 milhões para a realização de um projeto, sem que atendesse aos requisitos estabelecidos no edital da licitação.
Há de tudo. Um contrato bilionário, com o Consórcio Ipojuca (Queiroz Galvão com Iesa Óleo e Gás), ganhou aditivo de preço antes do previsto. Enquanto a Jaraguá Empreendimentos venceu uma peculiar concorrência de R$ 13,3 milhões: não houve concorrentes.
A cada história dessas sobre Abreu e Lima fica mais entendido por que o diretor da Petrobras que presidiu o conselho de administração da obra, Paulo Roberto Costa, está preso, em regime preventivo, pilhado no enorme esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youseff pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
Não deve ser coincidência que um desses fornecedores de Abreu e Lima, a Jaraguá, também conste do inquérito da Lava-Jato. A impressão é que tudo isso ainda é a superfície deste escândalo.
A cada história sobre a refinaria fica mais entendido por que o diretor da Petrobras ligado à obra está preso, pilhado pela PF num esquema de lavagem de dinheiro
A no mínimo estranha compra da refinaria de Pasadena, no Texas, já transitava pelo noticiário quando a presidente Dilma, ao responder a perguntas sobre o assunto a “O Estado de S.Paulo", promoveu o caso de vez à categoria de escândalo. Responsável pelo Conselho de Administração da Petrobras à época do fechamento do negócio, a presidente declarou, por escrito, que, se soubesse da existência de certas cláusulas no contrato de compra, não teria aprovado o negócio.
Estas cláusulas haviam sido omitidas do resumo do contrato levado pela diretoria executiva ao conselho. O assunto é sério e em torno dele há muitas dúvidas, apesar de todos os depoimentos dados por atuais e ex-funcionários da Petrobras no Congresso, em que existem duas CPIs sobre a estatal, porém impedidas pela bancada do Planalto de ir fundo nas investigações.
Não se poderia prever que outra questão, também esquisita, ligada à empresa, a cada vez mais custosa construção da refinaria Abreu e Lima — fruto de acerto pessoal entre o então presidente Lula e o caudilho venezuelano Hugo Chávez — rivalizaria em gravidade com Pasadena. O Tribunal de Contas da União (TCU) já detectara evidências de superfaturamento na compra de bens e serviços para a execução de uma obra orçada, no início, em US$ 2,3 bilhões, mas que custará quase dez vezes mais, US$ 20 bilhões — sem que os venezuelanos hajam entregue um centavo de dólar sequer à estatal.
Abreu e Lima não para de gerar notícias escandalosas. O GLOBO de ontem, com base em relatórios de auditorias da própria Petrobras, revelou sinais estridentes de favorecimento a fornecedores contratados para a obra.
O Consórcio Alusa-CBM, por exemplo, recebeu contrato de R$ 651,7 milhões para uma obra na qual a Petrobras permitiu-lhe um lucro de 12%, embora a margem média de lucratividade no ramo, segundo os auditores, fosse de 7%. A mesma Alusa, firma de engenharia, recebeu um contrato de R$ 921 milhões para a realização de um projeto, sem que atendesse aos requisitos estabelecidos no edital da licitação.
Há de tudo. Um contrato bilionário, com o Consórcio Ipojuca (Queiroz Galvão com Iesa Óleo e Gás), ganhou aditivo de preço antes do previsto. Enquanto a Jaraguá Empreendimentos venceu uma peculiar concorrência de R$ 13,3 milhões: não houve concorrentes.
A cada história dessas sobre Abreu e Lima fica mais entendido por que o diretor da Petrobras que presidiu o conselho de administração da obra, Paulo Roberto Costa, está preso, em regime preventivo, pilhado no enorme esquema de lavagem de dinheiro do doleiro Alberto Youseff pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal.
Não deve ser coincidência que um desses fornecedores de Abreu e Lima, a Jaraguá, também conste do inquérito da Lava-Jato. A impressão é que tudo isso ainda é a superfície deste escândalo.
Muita inflação pela frente - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 11/07
As bolas de cristal do mercado financeiro continuam errando para menos nas projeções de inflação. Se há algum jogo especulativo nessas previsões, deve estar funcionando ao contrário - e isso já ocorre há um bom tempo. Com 6,52% até junho, a alta de preços acumulada em 12 meses furou com um mês de antecedência o limite da margem de tolerância, de 6,5%. Pelas contas oficiais, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,4% no mês passado, pouco acima da mediana das projeções do mercado, de 0,33%. Por essas estimativas, ainda haverá um recuo neste mês, para 0,25%, e em seguida uma nova aceleração - de 0,30%, em agosto, até 0,64%, em dezembro. Esses números integram a série coletada na sexta-feira 27 de junho, antes de conhecido, portanto, o último dado. O resultado final do ano será de 6,48%, de acordo com a mesma série, atualizada semanalmente pelo Banco Central (BC). Na avaliação do governo, complacente com a alta de preços e com a própria política, a inflação ainda estará dentro da meta - embora a meta oficial, em sentido próprio, seja de 4,5%.
De acordo com aquelas projeções, a inflação acumulada em 12 meses ficará sempre acima do limite até novembro. O pico, de 6,80%, está previsto para setembro. Apesar do recuo dos preços por atacado e, especialmente, da acomodação dos preços dos alimentos, economistas do mercado têm mantido a expectativa de recrudescimento da inflação a partir de agosto. Pode parecer estranho, até porque uma parte dos aumentos de junho foi classificada como "inflação da Copa". Esse é o caso das tarifas aéreas e das diárias de hotéis. Esses aumentos serão provavelmente anulados nos próximos meses, ou, como se diz no jargão obviamente impreciso dos especialistas, "devolvidos".
Para o pessoal das instituições financeiras e das consultorias, o recuo das taxas mensais, iniciado há algumas semanas, é, portanto, apenas uma trégua. Essa trégua talvez seja explicável, em parte, pelas nove altas de juros a partir de abril do ano passado. Mas nem o BC aposta com muita firmeza em efeitos a curto prazo. Por isso, mantém projeções de inflação acima de 5% ao ano até junho de 2016. Suas projeções conhecidas publicamente acabam aí.
Há mais de uma razão para projetar uma nova intensificação da alta geral de preços nos próximos meses. Uma delas é o reajuste previsto de vários preços administrados ou meramente controlados pelo governo, como o da energia elétrica. Também tarifas de transporte coletivo e preços de combustíveis poderão subir. As contas de eletricidade já começaram a subir, mas as companhias do setor continuam à espera de mais aumentos. A presidente da Petrobrás, Graça Foster, insiste em cobrar reajustes, até porque a empresa precisará de caixa para pagar pelos novos campos de petróleo recebidos do governo sem licitação. A estatal precisará, de fato, de muito mais dinheiro para enfrentar os investimentos previstos - ou prometidos - para os próximos anos.
Mas há razões bem mais importantes para a expectativa de muito desarranjo nos preços, tanto no segundo semestre quanto no próximo ano. A mais importante é o mau estado das contas públicas. O governo poderá maquiar seu balanço e tentar disfarçar o fracasso em relação à meta fiscal definida para o ano, mas isso de nenhum modo reduzirá as pressões inflacionárias. A gastança continuará, reforçada pelos interesses eleitorais, e incentivos setoriais financiados pelo Tesouro serão mantidos - sem efeito duradouro sobre a economia. Algumas indústrias poderão elevar ou manter suas vendas. Será muito otimismo, no entanto, esperar maiores investimentos como consequência dessa política.
Além disso, nada indica, pelo menos até o fim do ano, novas altas de juros, mesmo com o recrudescimento da inflação. Alguns analistas já duvidam até de um aperto fiscal e monetário mais sério no próximo ano. Um ajuste mais forte na fase inicial poderá facilitar nos anos seguintes o trabalho do governo eleito, mas falta saber, em primeiro lugar, se haverá disposição - ou condições políticas - para uma política severa em 2015. Tudo parece reforçar, portanto, a expectativa de inflação elevada ainda por muito tempo.
As bolas de cristal do mercado financeiro continuam errando para menos nas projeções de inflação. Se há algum jogo especulativo nessas previsões, deve estar funcionando ao contrário - e isso já ocorre há um bom tempo. Com 6,52% até junho, a alta de preços acumulada em 12 meses furou com um mês de antecedência o limite da margem de tolerância, de 6,5%. Pelas contas oficiais, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,4% no mês passado, pouco acima da mediana das projeções do mercado, de 0,33%. Por essas estimativas, ainda haverá um recuo neste mês, para 0,25%, e em seguida uma nova aceleração - de 0,30%, em agosto, até 0,64%, em dezembro. Esses números integram a série coletada na sexta-feira 27 de junho, antes de conhecido, portanto, o último dado. O resultado final do ano será de 6,48%, de acordo com a mesma série, atualizada semanalmente pelo Banco Central (BC). Na avaliação do governo, complacente com a alta de preços e com a própria política, a inflação ainda estará dentro da meta - embora a meta oficial, em sentido próprio, seja de 4,5%.
De acordo com aquelas projeções, a inflação acumulada em 12 meses ficará sempre acima do limite até novembro. O pico, de 6,80%, está previsto para setembro. Apesar do recuo dos preços por atacado e, especialmente, da acomodação dos preços dos alimentos, economistas do mercado têm mantido a expectativa de recrudescimento da inflação a partir de agosto. Pode parecer estranho, até porque uma parte dos aumentos de junho foi classificada como "inflação da Copa". Esse é o caso das tarifas aéreas e das diárias de hotéis. Esses aumentos serão provavelmente anulados nos próximos meses, ou, como se diz no jargão obviamente impreciso dos especialistas, "devolvidos".
Para o pessoal das instituições financeiras e das consultorias, o recuo das taxas mensais, iniciado há algumas semanas, é, portanto, apenas uma trégua. Essa trégua talvez seja explicável, em parte, pelas nove altas de juros a partir de abril do ano passado. Mas nem o BC aposta com muita firmeza em efeitos a curto prazo. Por isso, mantém projeções de inflação acima de 5% ao ano até junho de 2016. Suas projeções conhecidas publicamente acabam aí.
Há mais de uma razão para projetar uma nova intensificação da alta geral de preços nos próximos meses. Uma delas é o reajuste previsto de vários preços administrados ou meramente controlados pelo governo, como o da energia elétrica. Também tarifas de transporte coletivo e preços de combustíveis poderão subir. As contas de eletricidade já começaram a subir, mas as companhias do setor continuam à espera de mais aumentos. A presidente da Petrobrás, Graça Foster, insiste em cobrar reajustes, até porque a empresa precisará de caixa para pagar pelos novos campos de petróleo recebidos do governo sem licitação. A estatal precisará, de fato, de muito mais dinheiro para enfrentar os investimentos previstos - ou prometidos - para os próximos anos.
Mas há razões bem mais importantes para a expectativa de muito desarranjo nos preços, tanto no segundo semestre quanto no próximo ano. A mais importante é o mau estado das contas públicas. O governo poderá maquiar seu balanço e tentar disfarçar o fracasso em relação à meta fiscal definida para o ano, mas isso de nenhum modo reduzirá as pressões inflacionárias. A gastança continuará, reforçada pelos interesses eleitorais, e incentivos setoriais financiados pelo Tesouro serão mantidos - sem efeito duradouro sobre a economia. Algumas indústrias poderão elevar ou manter suas vendas. Será muito otimismo, no entanto, esperar maiores investimentos como consequência dessa política.
Além disso, nada indica, pelo menos até o fim do ano, novas altas de juros, mesmo com o recrudescimento da inflação. Alguns analistas já duvidam até de um aperto fiscal e monetário mais sério no próximo ano. Um ajuste mais forte na fase inicial poderá facilitar nos anos seguintes o trabalho do governo eleito, mas falta saber, em primeiro lugar, se haverá disposição - ou condições políticas - para uma política severa em 2015. Tudo parece reforçar, portanto, a expectativa de inflação elevada ainda por muito tempo.
Na batalha contra a inflação o crédito começa a esfriar - EDITORIAL VALOR ECONÔMICO
VALOR ECONÔMICO - 11/07
O Banco Central (BC) acaba de reduzir a previsão de expansão do crédito neste ano de 13% para 12%. Se a projeção se confirmar, os empréstimos irão registrar o menor crescimento desde 2003. A correção de trajetória foi feita por causa da desaceleração dos financiamentos ao consumo, especialmente para a compra de veículos. Chamados de créditos com recursos livres, essas operações acumularam 5,7% de expansão nos 12 meses terminados em maio, depois de terem crescido 7,8 % no ano passado. Por isso, o Banco Central reduziu a previsão de aumento para este ano de 10% para 7%.
Outras operações também estão mais moderadas. Os empréstimos direcionados para linhas como financiamento imobiliário e rural, por exemplo, aumentaram 22,3% nos 12 meses terminados em maio e, segundo o BC, fecharão o ano com expansão de 19% e não dos 17% anteriormente estimados. No ano passado, registraram aumento de 24,6%.
A retração do crédito em 2003 foi resultado da turbulência generalizada nos mercados, causada pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. O crédito cresceu 8,4%, para retomar posteriormente a tendência de recuperação iniciada com a estabilização econômica, caracterizada por taxa média de crescimento anual de 20,9% nos últimos dez anos.
A desaceleração atual que levou o BC a rever as previsões para o ano, coincidentemente nas proximidades de nova eleição presidencial, pode ser explicada por uma conjunção de fatores.
Os tomadores de recursos estão mais arredios depois que os juros do crédito subiram para patamares mais elevados, na esteira do aumento da taxa básica de juros (Selic) promovida pelo BC para conter a inflação, manobra ainda sem sucesso evidente.
O juro do crédito com recursos livres para empresas subiu de 18,5% para 23% ao ano, com aumento de 4,5 pontos percentuais, um pouco mais do que os 3,75 pontos de reajuste imprimido à Selic, que está atualmente em 11%. Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) realiza nova reunião e deve manter os juros nesse patamar. Já nas operações com pessoas físicas, as taxas subiram quase 10 pontos, de 34% para 42,5% ao ano.
O encarecimento do crédito tornou as pessoas mais cuidadosas, mesmo porque já vinham aumentando o endividamento nos últimos anos. Levantamento do Banco Central mostra que o endividamento das famílias equivalia a 45,7% da renda em março, dado mais recente disponível, em comparação com 40% há três anos; e que o serviço da dívida comprometia 21,5% da renda mensal.
O financiamento habitacional representa cerca de um terço do endividamento das famílias, o que é um bom sinal, mas significa também um compromisso de longo prazo, que reduz o espaço para outras dívidas por um bom período. Sem as dívidas habitacionais, o endividamento cai para 29,5% e o comprometimento, para 19,6%.
O brasileiro chegou a esses níveis de endividamento em um cenário preocupante, de atividade econômica mais fraca, com impacto nos salários e menor ritmo de criação de empregos. Depois de aumentar 4,1% em 2012, o rendimento real dos salários cresceu 1,8% em 2013 e 2,3% nos 12 meses terminados em abril. Tudo isso tem contribuído para reduzir os índices de confiança.
Os bancos, do seu lado, também estão mais cautelosos diante desse quadro e apertando os critérios de concessão de recursos, embora raramente admitam isso. A postura foi reforçada depois que a inadimplência deu sinais de aumento em maio, pela primeira vez no ano. Os atrasos acima de 90 dias nas operações com recursos livres passaram de 6,5% para 6,7% no caso das pessoas físicas; e de 3,3% para 3,5% nas empresas.
Tem razão, portanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando reclama da menor oferta de crédito para o consumo, o que reduz as atividades do varejo e repercute na indústria. Nos 12 meses terminados em maio, o financiamento para a aquisição de veículos diminuiu 2,7%, embora o crédito pessoal tenha aumentado 11,8%, e o cartão de crédito, 13,3%, no mesmo período.
Mas a situação é resultado das medidas tomadas para conter a inflação. Do ponto de vista do Banco Central, o comportamento do mercado de crédito reflete nada menos do que o funcionamento azeitado dos canais de transmissão da política monetária, como foi repetido exaustivamente na apresentação do mais recente relatório trimestral de inflação.
O Banco Central (BC) acaba de reduzir a previsão de expansão do crédito neste ano de 13% para 12%. Se a projeção se confirmar, os empréstimos irão registrar o menor crescimento desde 2003. A correção de trajetória foi feita por causa da desaceleração dos financiamentos ao consumo, especialmente para a compra de veículos. Chamados de créditos com recursos livres, essas operações acumularam 5,7% de expansão nos 12 meses terminados em maio, depois de terem crescido 7,8 % no ano passado. Por isso, o Banco Central reduziu a previsão de aumento para este ano de 10% para 7%.
Outras operações também estão mais moderadas. Os empréstimos direcionados para linhas como financiamento imobiliário e rural, por exemplo, aumentaram 22,3% nos 12 meses terminados em maio e, segundo o BC, fecharão o ano com expansão de 19% e não dos 17% anteriormente estimados. No ano passado, registraram aumento de 24,6%.
A retração do crédito em 2003 foi resultado da turbulência generalizada nos mercados, causada pela eleição de Luiz Inácio Lula da Silva. O crédito cresceu 8,4%, para retomar posteriormente a tendência de recuperação iniciada com a estabilização econômica, caracterizada por taxa média de crescimento anual de 20,9% nos últimos dez anos.
A desaceleração atual que levou o BC a rever as previsões para o ano, coincidentemente nas proximidades de nova eleição presidencial, pode ser explicada por uma conjunção de fatores.
Os tomadores de recursos estão mais arredios depois que os juros do crédito subiram para patamares mais elevados, na esteira do aumento da taxa básica de juros (Selic) promovida pelo BC para conter a inflação, manobra ainda sem sucesso evidente.
O juro do crédito com recursos livres para empresas subiu de 18,5% para 23% ao ano, com aumento de 4,5 pontos percentuais, um pouco mais do que os 3,75 pontos de reajuste imprimido à Selic, que está atualmente em 11%. Na próxima semana, o Comitê de Política Monetária (Copom) realiza nova reunião e deve manter os juros nesse patamar. Já nas operações com pessoas físicas, as taxas subiram quase 10 pontos, de 34% para 42,5% ao ano.
O encarecimento do crédito tornou as pessoas mais cuidadosas, mesmo porque já vinham aumentando o endividamento nos últimos anos. Levantamento do Banco Central mostra que o endividamento das famílias equivalia a 45,7% da renda em março, dado mais recente disponível, em comparação com 40% há três anos; e que o serviço da dívida comprometia 21,5% da renda mensal.
O financiamento habitacional representa cerca de um terço do endividamento das famílias, o que é um bom sinal, mas significa também um compromisso de longo prazo, que reduz o espaço para outras dívidas por um bom período. Sem as dívidas habitacionais, o endividamento cai para 29,5% e o comprometimento, para 19,6%.
O brasileiro chegou a esses níveis de endividamento em um cenário preocupante, de atividade econômica mais fraca, com impacto nos salários e menor ritmo de criação de empregos. Depois de aumentar 4,1% em 2012, o rendimento real dos salários cresceu 1,8% em 2013 e 2,3% nos 12 meses terminados em abril. Tudo isso tem contribuído para reduzir os índices de confiança.
Os bancos, do seu lado, também estão mais cautelosos diante desse quadro e apertando os critérios de concessão de recursos, embora raramente admitam isso. A postura foi reforçada depois que a inadimplência deu sinais de aumento em maio, pela primeira vez no ano. Os atrasos acima de 90 dias nas operações com recursos livres passaram de 6,5% para 6,7% no caso das pessoas físicas; e de 3,3% para 3,5% nas empresas.
Tem razão, portanto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando reclama da menor oferta de crédito para o consumo, o que reduz as atividades do varejo e repercute na indústria. Nos 12 meses terminados em maio, o financiamento para a aquisição de veículos diminuiu 2,7%, embora o crédito pessoal tenha aumentado 11,8%, e o cartão de crédito, 13,3%, no mesmo período.
Mas a situação é resultado das medidas tomadas para conter a inflação. Do ponto de vista do Banco Central, o comportamento do mercado de crédito reflete nada menos do que o funcionamento azeitado dos canais de transmissão da política monetária, como foi repetido exaustivamente na apresentação do mais recente relatório trimestral de inflação.
Violência contra a mulher ofende a modernidade - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO BRAZILIENSE - 11/07
Artistas retratam a deusa Atenas acompanhada de uma coruja. A ave, que enxerga no escuro, alça voo ao anoitecer. O horário tem significado simbólico. Indica que o passado não tem volta. O dia anterior abre espaço para o seguinte, que, por sua vez, caminha para a frente. O processo é irreversível.
Na história ocorre fenômeno semelhante. O tempo se encarrega de tornar ultrapassadas práticas antes aceitas pela sociedade. É o caso da homofobia, da corrupção, da impunidade, da discriminação racial, do trabalho escravo, do desrespeito ao meio ambiente, da exploração de crianças e adolescentes. É o caso, também, da violência contra a mulher.
O fato de ter sido incluído no index do extemporâneo não significa que se tenha apagado da memória de pessoas ou grupos. Não é outra a razão por que aumentam os casos de denúncia contra quem teima em olhar para trás em vez de abraçar a nova realidade. Na capital da República, por exemplo, cresce o número de processos abertos contra homens acusados de humilhar, espancar e, no limite, matar a companheira.
Nada menos de 8.167 processos de agressão a mulheres tramitam no Distrito Federal. A cifra assustadora permite duas leituras. De um lado, que teriam aumentado os casos de violência contra representantes do sexo feminino. De outro, que teria crescido o número de denúncias em razão da abertura de canais aptos a acolher queixas diretas ou indiretas. É possível que ambas estejam corretas e interligadas.
Delegacias especializadas, juizados especiais e disque-denúncias têm incentivado a exposição de maus-tratos infligidos a pessoas em desvantagem física. A presença efetiva do Estado cria condições para o enfrentamento da violência. Quem bate à porta da instituição acredita que pode encontrar ajuda para livrar-se da violência e abrir caminho para vida livre de medos e pancadas.
Ao lado da repressão, medidas preventivas devem pavimentar o futuro. Os diferentes segmentos da sociedade precisam estar atentos à contribuição que têm ao alcance para que o país entre integralmente na contemporaneidade. São tônicas do século 21 a tolerância e o respeito às diferenças.
Estado, família, escola, igreja, clubes, meios de comunicação, mídias sociais podem - e devem - exercer papel civilizatório importante na necessária mudança de mentalidade. Exige-se deles ação efetiva e contínua apta a devolver ao passado o que ao passado pertence - o velho e o intempestivo.
Na história ocorre fenômeno semelhante. O tempo se encarrega de tornar ultrapassadas práticas antes aceitas pela sociedade. É o caso da homofobia, da corrupção, da impunidade, da discriminação racial, do trabalho escravo, do desrespeito ao meio ambiente, da exploração de crianças e adolescentes. É o caso, também, da violência contra a mulher.
O fato de ter sido incluído no index do extemporâneo não significa que se tenha apagado da memória de pessoas ou grupos. Não é outra a razão por que aumentam os casos de denúncia contra quem teima em olhar para trás em vez de abraçar a nova realidade. Na capital da República, por exemplo, cresce o número de processos abertos contra homens acusados de humilhar, espancar e, no limite, matar a companheira.
Nada menos de 8.167 processos de agressão a mulheres tramitam no Distrito Federal. A cifra assustadora permite duas leituras. De um lado, que teriam aumentado os casos de violência contra representantes do sexo feminino. De outro, que teria crescido o número de denúncias em razão da abertura de canais aptos a acolher queixas diretas ou indiretas. É possível que ambas estejam corretas e interligadas.
Delegacias especializadas, juizados especiais e disque-denúncias têm incentivado a exposição de maus-tratos infligidos a pessoas em desvantagem física. A presença efetiva do Estado cria condições para o enfrentamento da violência. Quem bate à porta da instituição acredita que pode encontrar ajuda para livrar-se da violência e abrir caminho para vida livre de medos e pancadas.
Ao lado da repressão, medidas preventivas devem pavimentar o futuro. Os diferentes segmentos da sociedade precisam estar atentos à contribuição que têm ao alcance para que o país entre integralmente na contemporaneidade. São tônicas do século 21 a tolerância e o respeito às diferenças.
Estado, família, escola, igreja, clubes, meios de comunicação, mídias sociais podem - e devem - exercer papel civilizatório importante na necessária mudança de mentalidade. Exige-se deles ação efetiva e contínua apta a devolver ao passado o que ao passado pertence - o velho e o intempestivo.
'Refis' da sem-vergonhice - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 11/08
Senadores da República querem instalar a possibilidade de parcelar multa por improbidade. Conforme apurou reportagem do Estado (5/7), eles "trabalham para aprovar no Congresso Nacional uma proposta de parcelamento de dívidas com a União para beneficiar empresas e pessoas responsabilizadas pela aplicação irregular de dinheiro federal e condenadas a devolver recursos aos cofres públicos. A medida também abrange o pagamento de multas impostas em ações de improbidade administrativa".
A estratégia adotada foi incluir uma emenda na Medida Provisória (MP) 641, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica, com o seguinte conteúdo: "poderão ser pagos ou parcelados, em até 180 (cento e oitenta) meses (...) os débitos de qualquer natureza administrados e cobrados pela Procuradoria-Geral da União". A proposta da MP era permitir que a energia comprada pelas distribuidoras possa ser entregue pelas geradoras no mesmo ano do contrato, e não apenas a partir do ano subsequente. O conteúdo enxuto da MP - tem apenas um único artigo - não impediu que senadores e deputados apresentassem 54 emendas ao projeto de lei de conversão n.º 12.
O autor da emenda do parcelamento é o senador Gim Argello (PTB), que ocupa como primeiro suplente a cadeira de Joaquim Roriz (PMDB). Ambos são notórios políticos do Distrito Federal (DF). Recentemente, Gim havia recebido apoio do governo federal para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Era parte da estratégia do Palácio do Planalto para garantir o apoio do PTB à coligação da reeleição de Dilma. Diante dos protestos da oposição e de técnicos do TCU, que recordaram que o senador era alvo de processos por crimes contra a administração pública, o próprio Gim desistiu de postular a vaga no TCU. Agora, é candidato a um novo mandato parlamentar pelo Distrito Federal.
Gim Argello já havia conseguido aprovar, no ano passado, uma emenda de sua autoria na MP 615, instituindo novo prazo para adesão ao programa de parcelamento de dívidas fiscais com a União. Agora, pretende criar o parcelamento de dívidas por improbidade à União. Recentemente, o senador recebeu um prefeito de uma cidade goiana, próxima ao DF, que tinha uma dívida de R$ 75 mil por "problemas com um convênio". Esse caso explicita o valor político da emenda, que busca favorecer especialmente prefeitos, que constituem a maioria dos homens públicos envolvidos em processos por improbidade administrativa.
Não são poucos os casos que receberiam o benefício do "Refis" de Gim Argello. A Procuradoria-Geral da União propôs, entre 2009 e 2013, mais de 10 mil ações que buscam a restituição aos cofres públicos. Estima-se que o valor desses processos alcance a cifra de R$ 6,5 bilhões, sendo R$ 462 milhões relativos a 800 ações por improbidade administrativa.
Segundo a reportagem do Estado, a proposta pegou de surpresa a própria Advocacia-Geral da União, que não concorda com a possibilidade de um "Refis" para as dívidas cobradas pela Procuradoria-Geral da União. Atualmente, as dívidas acima de R$ 100 mil podem ser parceladas, mas sempre caso a caso e com prazo máximo de 60 vezes.
O relator do projeto de conversão em lei da MP - e que aceitou a emenda de Gim Argello - é o senador Vital do Rêgo, presidente das CPIs da Petrobrás no Congresso e candidato ao governo da Paraíba. Ao ser questionado pelo Estado sobre o assunto, Vital disse ter cometido um "equívoco". A intenção seria apenas abrir um programa de refinanciamento para dívidas sob responsabilidade da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. No entanto, tais dívidas já estão contempladas por um "Refis". Prometeu, compungido, modificar o texto no plenário do Senado.
É de esperar. Num momento em que o País dá mostras de que não quer diálogo com a corrupção, seria um claro retrocesso o Congresso Nacional, por medidas pouco transparentes, abrir brechas para dificultar a restituição aos cofres públicos de valores que deles saíram indevidamente. Ou, pior ainda, institucionalizar parcelamento de multas. Que o equívoco seja tratado como equívoco. E que sem-vergonhice continue a ser sem-vergonhice, sem ganhar ares institucionais.
Senadores da República querem instalar a possibilidade de parcelar multa por improbidade. Conforme apurou reportagem do Estado (5/7), eles "trabalham para aprovar no Congresso Nacional uma proposta de parcelamento de dívidas com a União para beneficiar empresas e pessoas responsabilizadas pela aplicação irregular de dinheiro federal e condenadas a devolver recursos aos cofres públicos. A medida também abrange o pagamento de multas impostas em ações de improbidade administrativa".
A estratégia adotada foi incluir uma emenda na Medida Provisória (MP) 641, que dispõe sobre a comercialização de energia elétrica, com o seguinte conteúdo: "poderão ser pagos ou parcelados, em até 180 (cento e oitenta) meses (...) os débitos de qualquer natureza administrados e cobrados pela Procuradoria-Geral da União". A proposta da MP era permitir que a energia comprada pelas distribuidoras possa ser entregue pelas geradoras no mesmo ano do contrato, e não apenas a partir do ano subsequente. O conteúdo enxuto da MP - tem apenas um único artigo - não impediu que senadores e deputados apresentassem 54 emendas ao projeto de lei de conversão n.º 12.
O autor da emenda do parcelamento é o senador Gim Argello (PTB), que ocupa como primeiro suplente a cadeira de Joaquim Roriz (PMDB). Ambos são notórios políticos do Distrito Federal (DF). Recentemente, Gim havia recebido apoio do governo federal para ocupar uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Era parte da estratégia do Palácio do Planalto para garantir o apoio do PTB à coligação da reeleição de Dilma. Diante dos protestos da oposição e de técnicos do TCU, que recordaram que o senador era alvo de processos por crimes contra a administração pública, o próprio Gim desistiu de postular a vaga no TCU. Agora, é candidato a um novo mandato parlamentar pelo Distrito Federal.
Gim Argello já havia conseguido aprovar, no ano passado, uma emenda de sua autoria na MP 615, instituindo novo prazo para adesão ao programa de parcelamento de dívidas fiscais com a União. Agora, pretende criar o parcelamento de dívidas por improbidade à União. Recentemente, o senador recebeu um prefeito de uma cidade goiana, próxima ao DF, que tinha uma dívida de R$ 75 mil por "problemas com um convênio". Esse caso explicita o valor político da emenda, que busca favorecer especialmente prefeitos, que constituem a maioria dos homens públicos envolvidos em processos por improbidade administrativa.
Não são poucos os casos que receberiam o benefício do "Refis" de Gim Argello. A Procuradoria-Geral da União propôs, entre 2009 e 2013, mais de 10 mil ações que buscam a restituição aos cofres públicos. Estima-se que o valor desses processos alcance a cifra de R$ 6,5 bilhões, sendo R$ 462 milhões relativos a 800 ações por improbidade administrativa.
Segundo a reportagem do Estado, a proposta pegou de surpresa a própria Advocacia-Geral da União, que não concorda com a possibilidade de um "Refis" para as dívidas cobradas pela Procuradoria-Geral da União. Atualmente, as dívidas acima de R$ 100 mil podem ser parceladas, mas sempre caso a caso e com prazo máximo de 60 vezes.
O relator do projeto de conversão em lei da MP - e que aceitou a emenda de Gim Argello - é o senador Vital do Rêgo, presidente das CPIs da Petrobrás no Congresso e candidato ao governo da Paraíba. Ao ser questionado pelo Estado sobre o assunto, Vital disse ter cometido um "equívoco". A intenção seria apenas abrir um programa de refinanciamento para dívidas sob responsabilidade da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. No entanto, tais dívidas já estão contempladas por um "Refis". Prometeu, compungido, modificar o texto no plenário do Senado.
É de esperar. Num momento em que o País dá mostras de que não quer diálogo com a corrupção, seria um claro retrocesso o Congresso Nacional, por medidas pouco transparentes, abrir brechas para dificultar a restituição aos cofres públicos de valores que deles saíram indevidamente. Ou, pior ainda, institucionalizar parcelamento de multas. Que o equívoco seja tratado como equívoco. E que sem-vergonhice continue a ser sem-vergonhice, sem ganhar ares institucionais.
Ficha não tão limpa - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP -11/07
Deficiências estruturais da Justiça Eleitoral prejudicam correta aplicação da lei de iniciativa popular que torna políticos inelegíveis
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve a condenação do ex-governador José Roberto Arruda (PR-DF) e da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) por atos de improbidade administrativa.
Poderia bastar, nos termos da Lei da Ficha Limpa, para que ambos se tornassem inelegíveis no pleito deste ano, não fosse um relevante óbice: o lapso temporal.
A condenação foi confirmada pelo colegiado somente depois de os políticos terem registrado suas novas candidaturas ao governo do Distrito Federal e ao Legislativo. De acordo com o entendimento corrente nos tribunais, a decisão, para produzir efeitos neste ano, precisaria ter sido proferida antes das inscrições na Justiça Eleitoral.
A favor de Arruda pesou um recurso que, aceito pelo Superior Tribunal de Justiça no dia 24 de junho, suspendeu o andamento da ação. Embora revertido no Supremo Tribunal Federal, o ato forçou o TJ-DF a adiar o julgamento do ex-governador, antes marcado para o dia 25 do mês passado --a tempo, portanto, de ter efeito na eleição.
Ilustra-se, com esse episódio, as dificuldades de cumprimento dessa norma que busca contribuir para a moralização da política.
Fruto de iniciativa popular, com mais de um milhão de assinaturas de apoio, a Lei da Ficha Limpa foi promulgada em junho de 2010. Impede que pessoas condenadas em definitivo ou por órgãos colegiados e políticos cassados ou que tenham renunciado para evitar a cassação disputem cargos eletivos.
Quando aplicada pela primeira vez, no pleito municipal de 2012, respondeu por 43% dos 7.781 processos sobre registros de candidatura analisados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Agora consolidada, mas inédita em eleições gerais, tende a ser ainda mais invocada.
Será preciso contornar, porém, grandes deficiências apresentadas pela Justiça Eleitoral. No início da campanha, os tribunais regionais dedicados ao tema ainda tinham deficit de 38 juízes; na região Sudeste, 38% das vagas não estavam preenchidas, devido sobretudo a atrasos no processo de nomeação de advogados para os postos nessas cortes.
Ademais, diante do grande número de instâncias a serem consultadas para verificar se há processos que possam causar inelegibilidade --somente o Ministério Público Federal oficiou 6.000 órgãos--, parece escasso o prazo de cinco dias para que partidos e procuradorias eleitorais ajuízem ações.
Sendo uma das poucas leis de iniciativa popular existentes no país, seria grande desserviço permitir que obstáculos como esses façam a norma cair em descrédito --mas talvez seja exatamente isso o que pretendem certos políticos.
Deficiências estruturais da Justiça Eleitoral prejudicam correta aplicação da lei de iniciativa popular que torna políticos inelegíveis
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal manteve a condenação do ex-governador José Roberto Arruda (PR-DF) e da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF) por atos de improbidade administrativa.
Poderia bastar, nos termos da Lei da Ficha Limpa, para que ambos se tornassem inelegíveis no pleito deste ano, não fosse um relevante óbice: o lapso temporal.
A condenação foi confirmada pelo colegiado somente depois de os políticos terem registrado suas novas candidaturas ao governo do Distrito Federal e ao Legislativo. De acordo com o entendimento corrente nos tribunais, a decisão, para produzir efeitos neste ano, precisaria ter sido proferida antes das inscrições na Justiça Eleitoral.
A favor de Arruda pesou um recurso que, aceito pelo Superior Tribunal de Justiça no dia 24 de junho, suspendeu o andamento da ação. Embora revertido no Supremo Tribunal Federal, o ato forçou o TJ-DF a adiar o julgamento do ex-governador, antes marcado para o dia 25 do mês passado --a tempo, portanto, de ter efeito na eleição.
Ilustra-se, com esse episódio, as dificuldades de cumprimento dessa norma que busca contribuir para a moralização da política.
Fruto de iniciativa popular, com mais de um milhão de assinaturas de apoio, a Lei da Ficha Limpa foi promulgada em junho de 2010. Impede que pessoas condenadas em definitivo ou por órgãos colegiados e políticos cassados ou que tenham renunciado para evitar a cassação disputem cargos eletivos.
Quando aplicada pela primeira vez, no pleito municipal de 2012, respondeu por 43% dos 7.781 processos sobre registros de candidatura analisados pelo Tribunal Superior Eleitoral. Agora consolidada, mas inédita em eleições gerais, tende a ser ainda mais invocada.
Será preciso contornar, porém, grandes deficiências apresentadas pela Justiça Eleitoral. No início da campanha, os tribunais regionais dedicados ao tema ainda tinham deficit de 38 juízes; na região Sudeste, 38% das vagas não estavam preenchidas, devido sobretudo a atrasos no processo de nomeação de advogados para os postos nessas cortes.
Ademais, diante do grande número de instâncias a serem consultadas para verificar se há processos que possam causar inelegibilidade --somente o Ministério Público Federal oficiou 6.000 órgãos--, parece escasso o prazo de cinco dias para que partidos e procuradorias eleitorais ajuízem ações.
Sendo uma das poucas leis de iniciativa popular existentes no país, seria grande desserviço permitir que obstáculos como esses façam a norma cair em descrédito --mas talvez seja exatamente isso o que pretendem certos políticos.
Afronta à moralidade - EDITORIAL ZERO HORA
ZERO HORA - 11/07
As candidaturas do ex-governador José Roberto Arruda (PR) ao governo do Distrito Federal e da deputada federal Jaqueline Roriz (PMN) a um novo mandato na Câmara dos Deputados são uma afronta à Lei da Ficha Limpa, à Justiça e ao bom senso. Ambos foram condenados por improbidade administrativa no processo da operação Caixa de Pandora, que investigou o esquema de corrupção conhecido como mensalão do DEM. Jaqueline Roriz foi flagrada em vídeo recebendo das mãos do ex-secretário Durval Barbosa o dinheiro da propina. Arruda tem envolvimento em vários episódios, todos delituosos, considerados desonrosos ao Congresso e ao próprio partido a que pertence. Seus casos configuram exemplos clássicos de corrupção na política, pela reincidência, pela forma acintosa com que ambos tentam agora continuar atuando na vida pública e, o que é pior, pela sensação generalizada de que ambos poderão prosperar em seus objetivos.
A defesa de Arruda sustenta-se no argumento batido e desrespeitoso da formalidade. Ele teria registrado a candidatura antes da condenação, em segunda instância, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O candidato valeu-se de uma manobra, que adiara o julgamento no Tribunal, para inscrever-se como pretendente ao governo. A condenação que o enquadra na Ficha Limpa teria ocorrido, portanto, fora do prazo que poderia impedi-lo de concorrer. É uma alegação formalista. O senhor José Roberto Arruda deveria, tão logo foi condenado, ter solicitado o cancelamento da inscrição. O Ministério Público já anunciou que irá recorrer contra o registro. Se fracassar, teremos mais um corrupto julgado e condenado concorrendo a um importante cargo público e com chances reais de se eleger. A candidata a deputada Jaqueline Roriz era, como a Justiça apurou, operadora do esquema que favorecia Arruda.
O ex-governador é personagem recorrente no noticiário sobre episódios negativos na política brasileira. Em 2000, como senador pelo PSDB, rebatia com veemência acusação de que violara o painel eletrônico de votação da Casa. Pressionado pelos próprios colegas de partido, subiu à tribuna e, chorando, admitiu que fraudava as votações. Há quatro anos, já como deputado federal, esteve preso por tentativa de suborno de uma testemunha do mensalão do DEM. Logo depois, seu mandato foi cassado por infidelidade partidária.
Arruda vale-se de uma estratégia de difícil sustentação moral. E usa as desculpas de que as normas devem ser respeitadas, sempre com a intenção de procurar as brechas legais favoráveis aos criminosos. Se a filigrana jurídica prevalecer, a Lei da Ficha Limpa ficará desmoralizada exatamente no início de um processo eleitoral em que se esperava mais lisura. Mas há tempo para que uma lei ainda posta em dúvida se torne mais efetiva.
A defesa de Arruda sustenta-se no argumento batido e desrespeitoso da formalidade. Ele teria registrado a candidatura antes da condenação, em segunda instância, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal. O candidato valeu-se de uma manobra, que adiara o julgamento no Tribunal, para inscrever-se como pretendente ao governo. A condenação que o enquadra na Ficha Limpa teria ocorrido, portanto, fora do prazo que poderia impedi-lo de concorrer. É uma alegação formalista. O senhor José Roberto Arruda deveria, tão logo foi condenado, ter solicitado o cancelamento da inscrição. O Ministério Público já anunciou que irá recorrer contra o registro. Se fracassar, teremos mais um corrupto julgado e condenado concorrendo a um importante cargo público e com chances reais de se eleger. A candidata a deputada Jaqueline Roriz era, como a Justiça apurou, operadora do esquema que favorecia Arruda.
O ex-governador é personagem recorrente no noticiário sobre episódios negativos na política brasileira. Em 2000, como senador pelo PSDB, rebatia com veemência acusação de que violara o painel eletrônico de votação da Casa. Pressionado pelos próprios colegas de partido, subiu à tribuna e, chorando, admitiu que fraudava as votações. Há quatro anos, já como deputado federal, esteve preso por tentativa de suborno de uma testemunha do mensalão do DEM. Logo depois, seu mandato foi cassado por infidelidade partidária.
Arruda vale-se de uma estratégia de difícil sustentação moral. E usa as desculpas de que as normas devem ser respeitadas, sempre com a intenção de procurar as brechas legais favoráveis aos criminosos. Se a filigrana jurídica prevalecer, a Lei da Ficha Limpa ficará desmoralizada exatamente no início de um processo eleitoral em que se esperava mais lisura. Mas há tempo para que uma lei ainda posta em dúvida se torne mais efetiva.
Elegância na derrota - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 11/08
Mesmo eliminados e ouvindo provocações dos maiores rivais, brasileiros estão levando na esportiva e mantendo o clima que entusiasmou torcedores estrangeiros nesta Copa
As notícias divulgadas logo depois da goleada que tirou o Brasil da disputa pelo hexacampeonato eram preocupantes: em São Paulo, ataques a ônibus e uma tentativa de saque a uma loja; em Curitiba e na região metropolitana, vários ônibus foram apedrejados ou incendiados, com um assalto; Rio, Belo Horizonte e Salvador registraram brigas, na Fan Fest ou em bares onde a partida entre Brasil e Alemanha estava sendo exibida. É praticamente impossível dizer se as ocorrências foram realmente motivadas pela frustração com a eliminação do Brasil ou se foram obra de oportunistas que resolveram cometer delitos comuns sob o manto de uma suposta revolta popular (caso diferente foi o do torcedor alemão que, no Mineirão, perdeu a audição ao levar um soco quando comemorava um gol de sua seleção). Mesmo assim, foi o suficiente para o alemão Lukas Podolski, em sua mensagem de apoio aos brasileiros, dizer nas mídias sociais que “brigas nas ruas, confusões, protestos não irão resolver ou mudar nada”.
Por isso, o dia da semifinal entre Argentina e Holanda, em São Paulo, começou sob uma certa atmosfera de tensão. Temia-se pela reação dos brasileiros, maioria na Arena Corinthians, diante das inevitáveis provocações dos argentinos, tradicionais rivais futebolísticos e que não desperdiçam a chance de cantar superioridade sobre o futebol canarinho. Até então, com a exceção de episódios pontuais em algumas das cidades onde a Argentina jogou (e que podem até ser considerados inevitáveis pela presença, entre os argentinos, de alguns barras-bravas, como são chamados os membros violentos das torcidas organizadas), a convivência havia sido pacífica, com os cantos argentinos revidados não no braço, mas com a criatividade de novos refrões explorando os tradicionais temas da disputa entre vizinhos: o número de Copas conquistadas e as glórias de Maradona e Pelé. Mas era uma circunstância em que ambos os países seguiam sonhando com o título, que poderia vir justamente em uma final entre as duas seleções. Com o Brasil eliminado, os anfitriões poderiam reagir à provocação de outra forma.
Felizmente, não foi o que ocorreu. Antes da partida, os relatos de quem foi ao Itaquerão descreviam argentinos cantando como de costume, apenas incorporando o número sete às letras sempre que possível para recordar o placar da derrota brasileira no Mineirão, mas sem reações agressivas da torcida local. Depois do jogo, com a Argentina já classificada para a final no Maracanã, houve um único registro de briga envolvendo cerca de 20 brasileiros e argentinos, apartada por outros torcedores brasileiros antes mesmo da chegada da polícia. De resto, nossos vizinhos puderam fazer seu carnaval particular nas ruas de São Paulo.
O brasileiro, que já tem fama de acolhedor, teve sua reputação reforçada pela maneira como vem recebendo todos os estrangeiros que vêm torcer por suas seleções. Parte da ideia de que essa tem sido a “Copa das Copas” se deve justamente ao grau de interação entre brasileiros e torcedores de outros países, e aparentemente nem a derrota do time de Felipão na semifinal mudou esse panorama. O brasileiro pode estar frustrado, e com razão, mas não tem deixado que isso atrapalhe a festa daqueles que ainda têm chance de comemorar o título, ou daqueles que permanecem no Brasil para apreciar o bom futebol, ainda que suas seleções já estejam fora do páreo.
Se a Argentina for campeã no próximo domingo, certamente haverá piadas sobre como o Brasil é um bom anfitrião, pois gastou bilhões de reais para nossos maiores rivais futebolísticos fazerem a festa em nossa casa. Pois que seja; afinal, independentemente do vencedor, que a Copa termine com o mesmo clima em que começou, de confraternização.
Mesmo eliminados e ouvindo provocações dos maiores rivais, brasileiros estão levando na esportiva e mantendo o clima que entusiasmou torcedores estrangeiros nesta Copa
As notícias divulgadas logo depois da goleada que tirou o Brasil da disputa pelo hexacampeonato eram preocupantes: em São Paulo, ataques a ônibus e uma tentativa de saque a uma loja; em Curitiba e na região metropolitana, vários ônibus foram apedrejados ou incendiados, com um assalto; Rio, Belo Horizonte e Salvador registraram brigas, na Fan Fest ou em bares onde a partida entre Brasil e Alemanha estava sendo exibida. É praticamente impossível dizer se as ocorrências foram realmente motivadas pela frustração com a eliminação do Brasil ou se foram obra de oportunistas que resolveram cometer delitos comuns sob o manto de uma suposta revolta popular (caso diferente foi o do torcedor alemão que, no Mineirão, perdeu a audição ao levar um soco quando comemorava um gol de sua seleção). Mesmo assim, foi o suficiente para o alemão Lukas Podolski, em sua mensagem de apoio aos brasileiros, dizer nas mídias sociais que “brigas nas ruas, confusões, protestos não irão resolver ou mudar nada”.
Por isso, o dia da semifinal entre Argentina e Holanda, em São Paulo, começou sob uma certa atmosfera de tensão. Temia-se pela reação dos brasileiros, maioria na Arena Corinthians, diante das inevitáveis provocações dos argentinos, tradicionais rivais futebolísticos e que não desperdiçam a chance de cantar superioridade sobre o futebol canarinho. Até então, com a exceção de episódios pontuais em algumas das cidades onde a Argentina jogou (e que podem até ser considerados inevitáveis pela presença, entre os argentinos, de alguns barras-bravas, como são chamados os membros violentos das torcidas organizadas), a convivência havia sido pacífica, com os cantos argentinos revidados não no braço, mas com a criatividade de novos refrões explorando os tradicionais temas da disputa entre vizinhos: o número de Copas conquistadas e as glórias de Maradona e Pelé. Mas era uma circunstância em que ambos os países seguiam sonhando com o título, que poderia vir justamente em uma final entre as duas seleções. Com o Brasil eliminado, os anfitriões poderiam reagir à provocação de outra forma.
Felizmente, não foi o que ocorreu. Antes da partida, os relatos de quem foi ao Itaquerão descreviam argentinos cantando como de costume, apenas incorporando o número sete às letras sempre que possível para recordar o placar da derrota brasileira no Mineirão, mas sem reações agressivas da torcida local. Depois do jogo, com a Argentina já classificada para a final no Maracanã, houve um único registro de briga envolvendo cerca de 20 brasileiros e argentinos, apartada por outros torcedores brasileiros antes mesmo da chegada da polícia. De resto, nossos vizinhos puderam fazer seu carnaval particular nas ruas de São Paulo.
O brasileiro, que já tem fama de acolhedor, teve sua reputação reforçada pela maneira como vem recebendo todos os estrangeiros que vêm torcer por suas seleções. Parte da ideia de que essa tem sido a “Copa das Copas” se deve justamente ao grau de interação entre brasileiros e torcedores de outros países, e aparentemente nem a derrota do time de Felipão na semifinal mudou esse panorama. O brasileiro pode estar frustrado, e com razão, mas não tem deixado que isso atrapalhe a festa daqueles que ainda têm chance de comemorar o título, ou daqueles que permanecem no Brasil para apreciar o bom futebol, ainda que suas seleções já estejam fora do páreo.
Se a Argentina for campeã no próximo domingo, certamente haverá piadas sobre como o Brasil é um bom anfitrião, pois gastou bilhões de reais para nossos maiores rivais futebolísticos fazerem a festa em nossa casa. Pois que seja; afinal, independentemente do vencedor, que a Copa termine com o mesmo clima em que começou, de confraternização.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Vai pagar o preço quem tentou se apropriar da Copa”Aécio Neves (PSDB) sobre Dilma, que, para ele, fazia pose de ‘artilheira da Seleção’
PT ACHA QUE VAIAS FAVORECERÃO DILMA
Após a derrota vergonhosa do Brasil contra Alemanha pela semifinal da Copa do Mundo, a cúpula do PT já “absorveu” a sonora vaia que se espera contra a presidente Dilma no Maracanã, na entrega da taça à seleção campeã, domingo. Dirigentes acham mesmo que irá ao estádio a “elite branca”, e a hostilidade a Dilma dará força ao discurso da “luta de classes”, pobres vs. ricos, que o PT pretende estimular na campanha eleitoral.
VITIMIZAÇÃO
Os xingamentos a Dilma na abertura da Copa levam o PT a tentar fazer do limão uma limonada, tentando caracterizá-los como “coisa de rico”.
MAU EXEMPLO
A estratégia de estimular a luta de “pobres contra ricos” foi usada pelo semiditador Hugo Chávez. Não deu certo: quebrou a Venezuela.
SEGUINDO A TRILHA
Aécio Neves (PSDB) realizou o primeiro ato de campanha em Vitória (ES), ontem, onde o avô Tancredo lançou a Nova República em 1984.
MATCH É FIFA
A Match usou sua influência na Fifa para bloquear 60% dos hotéis para hospedar convidados que levou a Brasília para ver Brasil x Camarões.
APOIO DE FIGURÕES EVANGÉLICOS
Aspirante à Presidência, Pastor Everaldo Pereira (PSC) se reuniu a portas fechadas no Rio, ontem, com Silas Malafaia e o senador Magno Malta (PR-ES), além de outras lideranças evangélicas, de quem obteve garantia de apoio a sua candidatura à sucessão de Dilma. O grupo tentará abocanhar parte dos votos destinados à candidatura de Marina Silva, em 2010, e alcançar a meta de 10% dos votos em outubro.
TRANSFERÊNCIA
O PSC ficou animado com o apoio de Magno Malta, que apareceu com 2% das intenções de votos em pesquisa Datafolha, em junho.
PROJEÇÃO
Conhecido por suas críticas ao lobby gay na mídia, Silas Malafaia é vice-presidente do Cimeb, conselho que congrega oito mil pastores.
BOROCOXÔ
O PMDB percebeu desânimo de Gilberto Kassab (PSD) na disputa de vaga ao Senado após o padrinho José Serra (PSDB) decidir concorrer.
NEM VEM
Arlindo Chinaglia (PT-SP) reagiu à provocação do visitante Alexander Zhukok, vice-presidente do parlamento russo, sobre a Seleção: “A Rússia só pode sacanear Brasil quando também for pentacampeã”.
DIA DE CÃO
O tradicional Banco Espírito Santo, de Portugal, viveu dia de Seleção Brasileira, ontem. Suas ações desabaram mais de 15%, levando a bolsa de Lisboa a suspender o pregão. Quase tão ruim quanto os 7x1.
IMPUGNAÇÃO DE ARRUDA
Ação do PSOL na Justiça Eleitoral pretende retirar José Roberto Arruda (PR) da disputa pelo governo do DF, mas a jurisprudência o protege porque sua candidatura foi registrada. O MP, no entanto, poderá impugnar o mandato que eventualmente obtenha nas urnas.
GESTO
Logo após o evento com Paulo Hartung (PMDB) em Vitória, ontem, o presidenciável Aécio Neves fez uma visita pessoal ao casal Gerson e Rita Camata, que perdeu a mãe há duas semanas.
TÔ FORA
Um poço de mágoas com Paulo Hartung, de quem esperava apoio para disputar contra Renato Casagrande (PSB), o senador Ricardo Ferraço (PMDB) não colocou os pés no ato do correligionário com Aécio Neves.
PROIBIDO PARA MENORES
Boa praça, grande contador de causos e figura querida, Mário Affonso de Mello lançará seu livro Sexo Após os 80, relato aliciante e divertido sobre suas próprias experiências. Será dia 19 na Academia Alagoana de Letras, em Maceió. Na capa, o aviso: “Impróprio para menores”.
SUSPEITA NO SERPENTÁRIO
O serpentário do Itamaraty chama de “pé-frio” o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, que estava no Mineirão no vexame brasileiro. Torcedor relutante, ele não exibiu a camisa amarelinha que vestia sob o paletó.
OUTROS QUINHENTOS
Para o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), a derrota do Brasil contra Alemanha aumentará comparações entre Dilma e Angela Merkel: “O Brasil joga muito com a sorte, e planejamento zero”.
SÚBITA REBELDIA
Contra a vontade de Dilma, o presidente da Câmara, Henrique Alves, decidiu pôr em votação segunda (14) matéria anticonselhos populares.
PODER SEM PUDOR
TOUPEIRA
O cordato senador Jarbas Passarinho (PA) certa vez se meteu num bate-boca entre Petrônio Portella (PI) e Paulo Brossard (RS) para socorrer o amigo do Piauí. Polemista competente, Brossard escorregou no autoelogio:
- Minha conduta de homem público é uma linha reta!
Passarinho exclamou ao microfone, arrancando gargalhadas:
- Se andar em linha reta fosse mérito, a toupeira seria o rei dos animais...
PT ACHA QUE VAIAS FAVORECERÃO DILMA
Após a derrota vergonhosa do Brasil contra Alemanha pela semifinal da Copa do Mundo, a cúpula do PT já “absorveu” a sonora vaia que se espera contra a presidente Dilma no Maracanã, na entrega da taça à seleção campeã, domingo. Dirigentes acham mesmo que irá ao estádio a “elite branca”, e a hostilidade a Dilma dará força ao discurso da “luta de classes”, pobres vs. ricos, que o PT pretende estimular na campanha eleitoral.
VITIMIZAÇÃO
Os xingamentos a Dilma na abertura da Copa levam o PT a tentar fazer do limão uma limonada, tentando caracterizá-los como “coisa de rico”.
MAU EXEMPLO
A estratégia de estimular a luta de “pobres contra ricos” foi usada pelo semiditador Hugo Chávez. Não deu certo: quebrou a Venezuela.
SEGUINDO A TRILHA
Aécio Neves (PSDB) realizou o primeiro ato de campanha em Vitória (ES), ontem, onde o avô Tancredo lançou a Nova República em 1984.
MATCH É FIFA
A Match usou sua influência na Fifa para bloquear 60% dos hotéis para hospedar convidados que levou a Brasília para ver Brasil x Camarões.
APOIO DE FIGURÕES EVANGÉLICOS
Aspirante à Presidência, Pastor Everaldo Pereira (PSC) se reuniu a portas fechadas no Rio, ontem, com Silas Malafaia e o senador Magno Malta (PR-ES), além de outras lideranças evangélicas, de quem obteve garantia de apoio a sua candidatura à sucessão de Dilma. O grupo tentará abocanhar parte dos votos destinados à candidatura de Marina Silva, em 2010, e alcançar a meta de 10% dos votos em outubro.
TRANSFERÊNCIA
O PSC ficou animado com o apoio de Magno Malta, que apareceu com 2% das intenções de votos em pesquisa Datafolha, em junho.
PROJEÇÃO
Conhecido por suas críticas ao lobby gay na mídia, Silas Malafaia é vice-presidente do Cimeb, conselho que congrega oito mil pastores.
BOROCOXÔ
O PMDB percebeu desânimo de Gilberto Kassab (PSD) na disputa de vaga ao Senado após o padrinho José Serra (PSDB) decidir concorrer.
NEM VEM
Arlindo Chinaglia (PT-SP) reagiu à provocação do visitante Alexander Zhukok, vice-presidente do parlamento russo, sobre a Seleção: “A Rússia só pode sacanear Brasil quando também for pentacampeã”.
DIA DE CÃO
O tradicional Banco Espírito Santo, de Portugal, viveu dia de Seleção Brasileira, ontem. Suas ações desabaram mais de 15%, levando a bolsa de Lisboa a suspender o pregão. Quase tão ruim quanto os 7x1.
IMPUGNAÇÃO DE ARRUDA
Ação do PSOL na Justiça Eleitoral pretende retirar José Roberto Arruda (PR) da disputa pelo governo do DF, mas a jurisprudência o protege porque sua candidatura foi registrada. O MP, no entanto, poderá impugnar o mandato que eventualmente obtenha nas urnas.
GESTO
Logo após o evento com Paulo Hartung (PMDB) em Vitória, ontem, o presidenciável Aécio Neves fez uma visita pessoal ao casal Gerson e Rita Camata, que perdeu a mãe há duas semanas.
TÔ FORA
Um poço de mágoas com Paulo Hartung, de quem esperava apoio para disputar contra Renato Casagrande (PSB), o senador Ricardo Ferraço (PMDB) não colocou os pés no ato do correligionário com Aécio Neves.
PROIBIDO PARA MENORES
Boa praça, grande contador de causos e figura querida, Mário Affonso de Mello lançará seu livro Sexo Após os 80, relato aliciante e divertido sobre suas próprias experiências. Será dia 19 na Academia Alagoana de Letras, em Maceió. Na capa, o aviso: “Impróprio para menores”.
SUSPEITA NO SERPENTÁRIO
O serpentário do Itamaraty chama de “pé-frio” o chanceler Luiz Alberto Figueiredo, que estava no Mineirão no vexame brasileiro. Torcedor relutante, ele não exibiu a camisa amarelinha que vestia sob o paletó.
OUTROS QUINHENTOS
Para o deputado Osmar Terra (PMDB-RS), a derrota do Brasil contra Alemanha aumentará comparações entre Dilma e Angela Merkel: “O Brasil joga muito com a sorte, e planejamento zero”.
SÚBITA REBELDIA
Contra a vontade de Dilma, o presidente da Câmara, Henrique Alves, decidiu pôr em votação segunda (14) matéria anticonselhos populares.
PODER SEM PUDOR
TOUPEIRA
O cordato senador Jarbas Passarinho (PA) certa vez se meteu num bate-boca entre Petrônio Portella (PI) e Paulo Brossard (RS) para socorrer o amigo do Piauí. Polemista competente, Brossard escorregou no autoelogio:
- Minha conduta de homem público é uma linha reta!
Passarinho exclamou ao microfone, arrancando gargalhadas:
- Se andar em linha reta fosse mérito, a toupeira seria o rei dos animais...