sábado, setembro 21, 2013

Santo Antônio também foi gordo - MARLETH SILVA

GAZETA DO POVO - PR - 21/09

Alguns leitores ficaram tocados com a imagem de Nelson Rodrigues choramingando a falta de atenção de seu amigo Otto Lara Resende, que não o procurava, não telefonava nem escrevia. Contei na semana passada a historinha, que está em um livro da Clarice Lispector. Para quem acha que senhores de ar austero e currículo respeitável não choramingam, aqui vai mais uma. Alceu Amoroso Lima, uma sumidade da vida intelectual brasileira do século 20, em carta à sua filha Maria Teresa, no dia 11 de janeiro de 1969, escreve: “Tenho mágoa de ser gordo”. Aos 76 anos, o consolo de Amoroso Lima era saber que Santo Antônio também foi gordo.

A descoberta da obesidade de Santo Antônio é uma historinha divertida em meio a um livro denso. Diário de um Ano de Trevas (Instituto Moreira Salles) reúne as cartas que Alceu Amoroso Lima escrevia diariamente à sua filha, a monja beneditina Maria Teresa. A correspondência durou anos e já rendeu um livro anterior. Diário de um Ano de Trevas cobre o período que vai de janeiro de 1969 a fevereiro de 1970.

Antes de falar das trevas, vamos esclarecer de onde o pensador católico, crítico literário e professor, que usava o pseudônimo de Tristão de Ataíde, desencavou a informação sobre o excesso de peso de seu santo de devoção. Foi durante uma consulta à Biblioteca Nacional, onde revirava livros em busca de biografias do santo sobre o qual escreveria um artigo para a revista Manchete. Foi um consolo para o velho intelectual, que contou à filha: “Você bem sabe que um dos meus ideais, agora inatingíveis, seria voltar ao tempo de magro, que já fui e desbarrigado...”.

Maria Teresa, lá de seu isolamento, foi a memória do pai. Diríamos hoje que ela era o backup, o HD externo do escritor. Guardava tudo o que ele escrevia, cartas e textos para jornais, livros e discursos. Ele fazia das cartas uma espécie de diário. Anotava fatos corriqueiros e fazia reflexões importantes. As cartas de Alceu Amoroso Lima hoje têm um valor histórico, educativo. Guardam sua revolta, raiva até, diante da ditadura militar.

As trevas do título do livro são uma referência ao primeiro ano do AI-5, quando o governo militar arrochou a censura e a perseguição aos inimigos do regime. As palavras usadas por Amoroso Lima são fortes. O ministro Gama e Silva é “o inefável palhaço da Justiça”, o general-presidente Costa e Silva é “bocó”, os militares e civis que baixaram o AI-5 “apoderaram-se de uma pistola automática ou de uma metralhadora” achando que são donos do Brasil. Os empresários da época o deixavam enojado (“...o que se vê é o mais cínico materialismo reacionário e capitalista. A liberdade que lhes importa é apenas a dos bons negócios. E ainda criticam o marxismo por desdenhar dos ‘valores espirituais’.”). Por causa desse descontentamento e de suas convicções, ajudou militantes que sofreram perseguição.

Não se sabe o que respondia a madre Maria Teresa, confinada que estava na abadia de Santa Maria, em São Paulo. Talvez seu pai não necessitasse de muitas réplicas. Claramente ele precisava desabafar e a censura imposta aos jornais o emudecia. A angústia é permanente. Com o golpe de 64 completando 50 anos, é uma angústia importante de ser lembrada e compartilhada com as gerações que vieram depois e que não têm lembranças do que é viver em um regime de exceção.

Amoroso Lima morreria 14 anos depois daquele janeiro em que descobriu o sobrepeso de Santo Antônio, aos 90 anos, sem ver o fim da ditadura e sempre gordinho.

A história que tanto desprezamos - MARCELO RUBENS PAIVA

O Estado de S.Paulo - 21/09

Toda mudança de regime precede a desqualificação do anterior. Enquanto reis e czares são decapitados, fuzilados e exilados, a máquina de propaganda dos novos governantes reescreve a história, satiriza antigos governantes e cria um novo álbum de ícones.

De Lucrécia Bórgia, ficou a fama de uma bastarda incestuosa, manipuladora e descontrolada. Maria Antonieta virou a deslumbrada palaciana, que fez o povo passar fome para suprir seus caprichos. Os Romanovs estavam hipnotizados pela barba e magia negra de Rasputin, enquanto o império ruía estepe abaixo.

A monarquia brasileira sofreu na mão da historiografia republicana. De Pedro I, ficou a fama de um mulherengo incorrigível. Teria proclamado a Independência numa mula, depois de uma parada para se aliviar, vítima de uma diarreia, a caminho de um prostíbulo às margens do Ipiranga. Pedro II, tímido, infeliz e solitário, manipulado pela oligarquia agrária, era um exótico rei num continente de novas repúblicas.

A República resgatou da Inconfidência Mineira o herói de que precisava, Tiradentes. O Golpe de 64 não teve como usar a iconografia do movimento que clamava liberdade. Deu sorte, porque estava em campo a geração Pelé, e foi buscar na ignorada família real lacunas que legitimassem o projeto de soberania nacional - numa grande operação, no sesquicentenário da Independência, os despojos de Pedro I foram trasladados do panteão de São Vicente de Fora para a cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga.

O regime militar também financiou através da estatal Embrafilme o primeiro épico do cinema nacional, Independência ou Morte, de 1972, que foi proclamada por Tarcísio Meira desembainhando uma espada sobre um cavalo ao estilo da tela de Pedro Américo. Glória Menezes era Marquesa de Santos, retratada não como uma pulada de cerca que escandalizou os súditos, mas como o amor impossível do príncipe aprisionado por suas obrigações. Não foram mostrados outros affaires.

Carlota Joaquina, filme que representa a retomada do cinema nacional, depois do desmantelamento do entulho militar, é uma gozação sem dó da vinda da família real e de seus membros. Fez um baita sucesso entre nós, republicanos que anos antes votamos no plebiscito que decidiu se o País seria monarquista ou republicano controlado por um sistema presidencialista ou parlamentarista.

Laurentino Gomes traça um perfil menos tendencioso da Casa de Bragança do Brasil. Mostra em 1889 que Pedro II, alto e loiro, "Pedro da Mala", como Eça de Queiroz o chamou, pois nunca largava uma valise, não era a figura apagada e inerte que a República pintou. Conseguiu manter o Brasil unido e o Exército sob controle civil, enquanto os vizinhos se implodiam em repúblicas. Esteve no front de batalha da Guerra do Paraguai, gastava pouco, falava várias línguas, inclusive tupi, lia sem parar, usava adornos indígenas na roupa imperial, era amigo de Victor Hugo, Graham Bell, dispensava protocolos, nada rancoroso e vingativo, admirador dos positivistas que o derrubaram, foi tratado como estrela na viagem aos EUA em 1876 e pedia a jornalistas estrangeiros que o chamassem de Pedro Alcântara. Que avô de FHC propôs ser fuzilado.

A decisão para mudar o governo em 1889 estava tomada. Civis e militares não chegavam a um consenso se o que viria era um golpe contra a monarquia, alimentado pelo descontentamento na caserna, mudança ministerial, deposição ou a República. Em 6 de novembro, um grupo de revoltosos se reuniu na casa de Benjamin Constant, entre eles, o alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso, do 9.º Regimento de Cavalaria em São Cristóvão.

Sem o apoio do descontente Deodoro da Fonseca, não dariam um passo. Planejaram agitação nos quartéis, estoque de armas. Constant, ex-professor dos filhos do rei, perguntou o que fazer com Pedro II. Joaquim Inácio, com 29 anos, propôs o fuzilamento, caso resistisse.

Joaquim Inácio era avô de um futuro presidente da República proclamada dias depois, o pacato, calmo, sociólogo de fala mansa, agora imortal da Academia Brasileira de Letras, Fernando Henrique Cardoso. Prevaleceu a proposta de Constant. Pedro II partiu para o exílio, onde morreu dois anos depois, aos 66 anos de idade, numa modesta casa em Paris.

Laurentino não se restringiu a uma ordem cronológica. Dividiu os capítulos por temas. E, como nos livros anteriores, 1808 e 1822, mostrou que a história brasileira, desprezada por muitos, foi, sim, feita com atos de heroísmo e derramamento de sangue. Muito sangue, por sinal.

Conseguiu traçar um retrato completo dos bastidores da Corte e da queda do imperador, que, apesar de ser um homem culto e com prestígio internacional, vivia uma contradição insolúvel, um monarca que defendia o republicanismo, num Brasil difícil de entender, que experimentou um período de muita liberdade, inclusive de expressão, sob os garrotes da escravidão, num mundo que se transformava rapidamente com as novas invenções do Século das Luzes, que tinham um entusiasta, o rei do Brasil - navio a vapor, telégrafo, cabos submarinos, eletricidade, fotografia, telefone, trem e carros.

Outra revelação de 1889: a agitada vida fora do casamento de dom Pedro II. Foram 14 amantes catalogadas, entre atrizes, damas de corte, mulheres casadas, paixões platônicas e concretizadas, que se aconchegaram nas barbas do imperador. "Que loucura cometemos na cama de dois travesseiros", escreveu em 1880 para Ana Maria de Albuquerque, condessa de Villeneuve, mulher de Constâncio de Villeneuve, dono do Jornal de Commercio. "Não consigo mais segurar a pena, ardo de desejo de te cobrir de carícias."

Outras: Anne de Baligand, Vera de Haritoff, Eponine Octaviano, ex-mulher do amigo de infância, e a mais notória, a baiana Luísa Margarida Portugal de Barros, condessa de Barral, morena de grandes olhos negros, filha de fazendeiro do Recôncavo, que deixou 300 íntimas cartas de dom Pedro II para ela sem queimá-las, como tinha sido solicitado. "Olho sempre com imensas saudades para o quartinho do anexo do Hotel Leuentorh", escreveu Pedro II em 1876, indicando o lugar em Petrópolis em que se encontravam.

Puxou o pai, mas preservou a imagem de marido fiel. Um come quieto.

Prisioneiros do passado - ROBERTO RACHEWSKY

ZERO HORA - 21/09

É recorrente a discussão sobre o tombamento de edificações para mitigar a dinâmica da cidade.
No meu entendimento, tombar a propriedade alheia para preservar a memória da cidade atenta contra os princípios do Direito e da lógica.
Quanto ao Direito, o tombamento viola a liberdade e a propriedade das pessoas. Sequestra, dos donos dos imóveis tombados, a possibilidade de uso desses como melhor lhes convier. Muitas das vezes ainda, demanda com que arquem com custos de manutenção da coisa preservada que, se houvesse liberdade, talvez não desejassem suportar.
Grupos com interesses próprios buscam se utilizar da força coercitiva do Estado para impingir à sociedade sua visão retrospectiva, corrente e prospectiva da História.
O Estado, que deveria proteger os direitos individuais, viola-os, impondo aos proprietários das edificações, alvos da sanha preservacionista, perdas expressivas que comprometem a liberdade, a propriedade e, como consequência, suas próprias vidas.
Esse mal existe, também, quando o Estado resolve atender ao clamor desses conservadores, desapropriando o imóvel a ser preservado, violando dessa forma o direito de propriedade e a liberdade de todos os membros da sociedade que serão chamados a pagar pela aquisição do bem. Mesmo aqueles que nunca passaram na frente do imóvel e sequer sabem que ele existe ou desconhecem seu significado acabarão por arcar com tal ônus.
A história é um processo contínuo que flui da realidade do dia a dia, transformando-se em passado no futuro, sendo compreendida e memorizada individualmente.
Não existe memória coletiva, como não existe pensamento coletivo. Cada um de nós guarda em sua memória, da maneira como pretende e preza, aquilo que sua mente captou.
Não compete ao Estado estabelecer o que devemos guardar como memória. Da mesma maneira, não lhe cabe forjar os fatos da História.
Quem quiser manter algo como está, que o adquira por sua própria conta. Não é justo se utilizar da força coercitiva do Estado e do dinheiro alheio, para pagar por aquilo que deseja preservar. Muito menos, confiscar o que é dos outros, sem a contrapartida do pagamento devido de acordo com o valor solicitado pelo proprietário do bem ambicionado.
A sociedade que pretende preservar sua memória, violando os direitos individuais, ou seja, suprimindo o direito de propriedade e a liberdade dos indivíduos de dispor do que é seu como bem entenderem, acaba por criar monumentos à opressão.
Quanto à lógica, não há como preservar a memória de algo que existe, não faz sentido. Cabe preservar a memória de algo que já passou e que não existe mais. Para isso servem os museus, os álbuns, os arquivos, a lembrança e a própria imaginação.
Devemos tratar disso, como tratamos nossos antepassados que já se foram. Os guardamos na memória, com as circunstâncias que os cercavam. Não guardamos seus esqueletos e nem os embalsamamos para venerá-los, como aqueles ditadores que se pretendem imortais. Devemos honrar nossos antepassados, criando, inovando e desenvolvendo o mundo que nos deixaram, para torná-lo um mundo cada vez melhor.
Se fosse para manter o mundo como era, nem nós mesmos precisávamos aparecer por aqui.
Proteger o que aí está, sob o pretexto de conservar o passado vivo, é abdicar do presente que poderia ter sido. É renunciar ao futuro, como um dia ele haveria de ser.

Eternos - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 21/09

RIO DE JANEIRO - No começo dos anos 60, as prateleiras dos fundos da Livraria Civilização Brasileira, na rua Sete de Setembro, eram uma festa de Livres de Poche --os livros de bolso franceses, de Molière a Ionesco, de Maupassant a Camus, que eu sonhava ler quando dominasse o parlevu. Tudo neles abria o apetite para a leitura: o formato, as capas, os refiles tingidos e, claro, o miolo.

O Livre de Poche, lançado em 1953 pela Hachette, de Henri Filipacchi, está fazendo 60 anos, e descubro com surpresa que, ao surgir, foi mal recebido pelos críticos e livreiros de Paris. Era vistoso demais para os habituados à austeridade dos livros da Gallimard --estes, sim, "sérios", com suas capas tipográficas, sem figuras e, no máximo, um fio vermelho cercando o nome do autor e da editora e o título. E olhe que as capas do Livre de Poche tinham uma origem nobilérrima: era comum estamparem um detalhe de um quadro clássico ou moderno.

Mas não adiantava. Para piorar, os Livres de Poche traziam o pecado original: eram... de bolso. Livros de bolso eram coisa de americano, próprios para science fiction ou policiais vagabundos, não para Flaubert ou Malraux. Lembravam os livrecos populares europeus do século 19, vendidos nas feiras, como os nossos cordéis.

Pois aconteceu que os escritores franceses adoraram se ver publicados pelo Livre de Poche e se saber lidos em aviões, trens, metrôs, salas de espera e até na rua, em edições de grande tiragem e em livros quase indestrutíveis, resistentes a manuseio e transporte. Eu próprio conservo os que comprei na Civilização e tenho também vários dos anos 50, achados em sebos, todos com a cola e as costuras intactas.

Há algo de especial em folhear livros que vêm de décadas ou séculos. O quê, não sei. Mas pode ter a ver com a finitude do homem e a eternidade do livro.

Sangue sobre a neve - SÉRGIO AUGUSTO

O Estado de S.Paulo - 21/09

De volta às livrarias a melhor obra de ficção brasileira sobre a 2.ª Guerra Mundial. Mina R, de Roberto de Mello e Souza, lançada em 1973 pela editora Duas Cidades e reeditada pela Record 22 anos depois, sai agora pela Ouro Sobre Azul (233 págs., R$44). Relatos jornalísticos, históricos e memorialísticos sobre a participação da Força Expedicionária Brasileira na Itália já temos bastante, romances e contos, quase nada. Mas não é só pela escassez de concorrentes que Mina R se destaca como uma obra notável. Mello e Souza escreveu um belo livro, à altura da epopeia dos pracinhas nos Apeninos. Esqueça A Retirada da Laguna, de Taunay. É outra guerra, outra mirada, outra forma de narrar.

Se no contingente da FEB enviamos algum poeta, ele não se atreveu a versejar sobre a guerra com a mesma pujança de Drummond (sou mais Visão 1944 e O Medo do que Carta a Stalingrado, todos de A Rosa do Povo), Murilo Mendes (Poesia Liberdade) e Cecilia Meireles (Pistoia, Cemitério Militar Brasileiro).

O historiador e teórico marxista Jacob Gorender, ao contrário dos poetas citados, lutou na frente italiana, mas refletiu relativamente pouco sobre o conflito. Clarice Lispector levantou o moral dos pracinhas internados num hospital napolitano, ajudando-os a escrever cartas para parentes, amigos e namoradas, mas não se empenhou em extrair combustível literário dessa experiência.

Roberto de Mello e Souza (1921- 2007) era irmão do prof. Antonio Candido. Deixou vários livros sobre recursos humanos, sua especialidade e ganha-pão, mais três ou quatro volumes de ficção, nenhum com a reputação de Mina R. Foi como cabo especializado em desarmar minas terrestres que embarcou com a FEB para derrotar as forças nazi-fascistas. Em tese, cuidar de explosivos é combater sem ódio e sem remorso, livre do confronto direto com o inimigo. É também uma guerra particular, que se ganha sozinho. E especialmente gratificante quando se consegue derrotar uma bomba tida como impossível de ser desarmada, como a Mina R e suas 12 libras de TNT hermeticamente blindadas.

Sem uma história linear, com idas e vindas no tempo, mudança de vozes e pontos de vista, reminiscências e fluxos da consciência, momentos de alta tensão e intermezzi pitorescos e românticos, seu núcleo é o cotidiano do front e seus "falsos jogos atléticos" (apud Cecilia Meireles), seus desconfortos, sobressaltos, desalentos, suas calamidades e pequenas recompensas: corpos dilacerados por balas, morteiros e bombas, o inferno em carne viva, um cheiro permanente de pólvora e sangue no ar, medo e coragem em cada palmo de neve ("ninguém tinha vergonha de ter medo porque nós sabíamos que coragem não é não ter medo mas ter medo e aguentar a mão"), a camaradagem reconfortante, sem a qual, comenta ainda o narrador, "a gente viraria um animal mesmo, porque aquilo tudo que a gente estava fazendo era um troço muito feio".

A narrativa, próxima do coloquial, flui como a de um Hemingway de sotaque mineiro, com esparsa pontuação e toques rosianos.

O crítico e tradutor Boris Schnaiderman, autor da orelha da reedição de 1995 que a Ouro Sobre Azul acrescentou ao seu apêndice apologético, também integrou o contingente da FEB. Era calculador de tiros e nos premiou, pouco tempo atrás, com outra obra ficcional ambientada nas trincheiras italianas, Guerra em Surdina, editada pela Cosac Naify. Seu batismo de fogo, por sinal, chamou atenção de um bocado de gente, inclusive do correspondente de guerra do Diário Carioca, Rubem Braga.

O Velho Braga, ainda um jovem de 30 anos, foi um dos soldados da notícia que cobriram a campanha da FEB, entre os últimos meses de 1944 e os primeiros do ano seguinte. Acantonados nos frígidos escombros do quartel dos carabinieri de Pistoia, a uns 10 km da frente de batalha, ele, Joel Silveira (cobrindo para os Diários Associados), Raul Brandão (Correio da Manhã), Egydio Squeff (O Globo) e Thassilo Mitke (Agência Nacional) fizeram um trabalho de nível internacional, especialmente Rubem e Joel, dois mestres do jornalismo e da escrita.

Em suas reportagens de guerra, enfeixadas no antológico Com a FEB na Itália (Record), o sabiá da crônica quase não menciona seus confrades, talvez porque levasse demasiado a sério o dogma de que jornalista não é notícia. Numa guerra, é. Joel foi menos dogmático. Apesar de muito mais amigo de Rubem, acabou fazendo do "frágil e ardiloso" Squeff seu mais constante parceiro no ataque à Linha Gótica alemã e, por tabela, um personagem de suas narrativas, reunidas em O Inverno da Guerra (Objetiva).

Era Squeff quem tentava animar a turma quando pela manhã todos saíam do quentinho do saco de dormir (ou cama-rolo, como Rubem preferia chamá-la) para a geladeira apenina. Sempre com o mesmo refrão: "Guerreiros, de pé! À luta!". Invariavelmente acompanhado desta exortação: "Vamos acabar logo com a porcaria dessa guerra que estou doido para voltar ao meu chopinho na Galeria Cruzeiro".

É possível que, na época, muitos tenham preferido a cobertura, com toques rossellinianos, de Rubem. Não entro nessa discussão, mas de uma certeza não abro mão: o último capítulo de O Inverno da Guerra é uma joia jornalística e literária.

A cinco dias do fim oficial do conflito, Joel, já liberado de suas funções, pegou carona no jipe de um sargento, rumo a Milão, e no meio do caminho cruzou com o que restava de um regimento de artilharia alemão. Amarfanhados, barbudos e esfomeados, os retirantes tedescos pareciam almas penadas a caminho do inferno. Um cabo que falava italiano puxou conversa com o jornalista brasileiro. Fora informado de que a guerra terminara, mas nem ele nem seus comandados sabiam ou tinham para onde ir: as cidades de alguns deles haviam sido praticamente varridas do mapa pelas bombas aliadas.

É uma sequência digna dos melhores filmes de guerra, sobretudo pelo desfecho, quando Joel decide que "já era hora de arrumar a trouxa" e tirar a farda que, àquela altura, o fazia sentir-se "como alguém fantasiado de palhaço numa Quarta-feira de Cinzas". Até com um punchline digno de Casablanca Joel nos agraciou.

Quem quer dinheiro? - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 21/09

SÃO PAULO - Como sempre acontece, a utilização da Lei Rouanet para financiar eventos que "soam errado", como um desfile de moda em Paris e o Rock in Rio, desperta polêmica. Não tenho nada contra esse tipo de debate, mas acho que está faltando um anterior, sobre nossos mecanismos de incentivo à cultura.

Não sou daqueles liberais ultraortodoxos que têm vontade de sacar o revólver à simples menção de financiamentos públicos para a cultura. Se queremos preservar a música erudita ou ter mais produções de baixa viabilidade comercial, não há alternativa que não destinar dinheiro de impostos a essas atividades. Poderíamos optar por fechar as orquestras sinfônicas e acabar com o apoio oficial ao teatro e ao cinema. Talvez até fosse a coisa racional a fazer, mas tenho a impressão de que o resultado líquido seria um país um pouco pior.

Reconhecer a necessidade de subsídios não implica aceitar que nossos métodos para distribuí-los sejam decentes. É verdade que a Lei Rouanet pode ser apresentada como uma forma de incentivo à cultura. Mas, dado que em muitas situações quem a utiliza pode abater 100% do que "investiu" do imposto de renda devido pela empresa, ela também pode ser descrita como um mecanismo pelo qual a sociedade subsidia a publicidade de firmas e ainda transfere a seus diretores o direito de escolher quais espetáculos serão beneficiados. Num resumo cru, a legislação permite ao empresário fazer propaganda de graça e ainda definir quem vai faturar uma graninha oficial.

A forma óbvia de reduzir essa distorção é acabar com os abatimentos de 100% e exigir que o patrocinador coloque ao menos 50% de dinheiro próprio. Não é uma solução sem problemas, já que a tendência seria reduzir os repasses e canalizá-los para produções de maior visibilidade, que são as mais comerciais --e isso vai contra o espírito original da lei. Mas talvez seja impossível ficar com a omelete e os ovos ao mesmo tempo.

Ligações perigosas - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 21/09

Ideli Salvatti (Relações Institucionais) disse ontem a Dilma Rousseff que não foi ela quem indicou Idaílson Vilas Boas, ex-assessor da pasta acusado pela Polícia Federal de ser lobista de um esquema que lavou R$ 300 milhões. O padrinho do ex-assessor, demitido ontem, é Olavo Noleto, subchefe de Assuntos Federativos da secretaria de Ideli. Noleto foi citado na Operação Monte Carlo da PF, que investigou o grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, mas continua no cargo até hoje.

Santinhos Foi tensa a reunião de Dilma com Gleisi Hoffmann (Casa Civil) e César Borges (Transportes) sobre os próximos leilões de rodovias. A presidente reclamou da ausência de concorrentes na disputa pela BR-262 (MG-ES) na semana passada.

Deixa comigo Dilma lembrou que, quando era chefe da Casa Civil, no governo Lula, todas as concessões tiveram vários competidores. No final, anunciou que vai decidir pessoalmente as datas e quais rodovias estarão nos próximos leilões.

Pegadinha O governo acreditava que a Chevron participaria do leilão do campo de Libra, no pré-sal. A petroleira norte-americana emitiu duas vezes o boleto de R$ 2 milhões para mostrar que estava interessada, mas recuou. As gigantes do setor ficaram fora do leilão.

Ilusão Empresários que viram os cálculos do governo para o programa de concessões não têm dúvida: alguns dados foram apenas "marretados" para chegar ao número que o Planalto queria.

Malas prontas O Ministério da Cultura concluiu as licitações referentes à Feira Literária de Frankfurt. A produção será feita pela empresa Locations & Ideas, contratada por R$ 1,5 milhão. A assessoria de imprensa ficou com a Media Consulta, por R$ 243 mil. Ambas tiveram lances abaixo do teto.

Memória O presidente da Comissão da Verdade da Câmara de São Paulo, Gilberto Natalini (PV), pedirá na segunda-feira ao secretário de Defesa Social de Minas, Rômulo Ferraz, agilidade na realização de duas novas perícias para esclarecer a morte do presidente Juscelino Kubitschek, em suposto acidente de carro em 1976.

Intervenção 1 Eduardo Campos deve acatar pedido para destituir Alexandre Cardoso do comando do PSB no Rio. O prefeito de Duque de Caxias é visto como "alma gêmea" do governador Sérgio Cabral (PMDB), que apoia a reeleição de Dilma.

Intervenção 2 Com aval de Gilberto Kassab, o PSD de Minas reorganizou sua estrutura e reduziu o poder do grupo ligado a Aécio Neves (PSDB). Alexandre Silveira deixou a secretaria-geral para integrar comissão que vai decidir as alianças para 2014.

Geopolítica Silveira é secretário do governo de Antonio Anastasia (PSDB) e trabalhava para apoiar os tucanos tanto na corrida presidencial quanto na estadual. Kassab quer fechar com o PT.

Curto-circuito De um potencial aliado do PT, descrente no potencial eleitoral de Alexandre Padilha (Saúde) em São Paulo: "Lula pode ser bom de iluminação, mas já temos postes demais''.

Guizo A visita, com direito a foto, de Aécio Neves a ACM Neto (DEM) teve como objetivo dissipar os boatos de que o prefeito de Salvador estaria propenso a apoiar a reeleição de Dilma em 2014.

Adesão O deputado Reguffe (PDT-DF) avisou à direção da Rede que vai se filiar ao partido, caso o pedido de registro da sigla seja aprovado. Assim, a sigla de Marina Silva contaria com ao menos quatro deputados federais.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Dilma ameaçou falar grosso com Obama, mas, para ter o tempo de TV do PDT, afinou diante das ameaças do ministro do Trabalho."

DO DEPUTADO MENDONÇA FILHO (DEM-PE), sobre as declarações de Manoel Dias, de que iria "tomar providências impublicáveis" caso fosse demitido.

contraponto


Aromaterapia

A minirreforma eleitoral ganhou o apelido de "perfumaria" de um grupo de senadores que critica as discretas mudanças nas regras das eleições. O relator Romero Jucá (PMDB-RR) disse que não se abalava com o uso do termo:
-Isso não me ofende, ao contrário. Me senti indiretamente chamado de cheiroso!
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos críticos da proposta, reagiu:
-Eu não estou querendo dizer que é cheiroso, não! Digo é que se está botando perfume nas regras para que ninguém sinta o cheiro.

Quem fala ao povo tem de ouvi-lo - JORGE BASTOS MORENO - NHENHENHÉM

O GLOBO - 21/09

Nas preliminares do julgamento de Collor, coube ao então ministro Paulo Brossard desempatar os votos do STF numa determinada questão fundamental, mantendo expectativa semelhante à de agora, de Celso de Mello, no mensalão.

Ciente do bom relacionamento meu com essa figura respeitada e admirada da República, o jornal me escalou para obter antecipadamente o voto de Brossard. Marquei, para a casa do próprio, um lauto café da manhã, tipo colonial, desses servidos em Gramado — a amizade permitia tal exigência.
Açodado, mal sentara na cadeira, perguntei de chofre como ele votaria.
— Ponha-se daqui para fora, seu insolente!
Tentei argumentar, mas ele:
— Ponha-se daqui para fora, antes que eu lhe dê voz de prisão, por desacato! Juiz só fala pelos autos!
O Têmpora! O Mores!
Graças a Deus, juiz hoje fala em todas as mídias. Só não vai ao Faustão porque o grande comunicador sabe que isso não dá ibope.


Show
Contei a história ao lado por causa da retórica de Celso de Mello de que o STF deve ficar imune às pressões das ruas e ater-se apenas à tecnicidade das leis.
Ora, juiz que, às vésperas j do voto, se expõe em declarações dúbias sobre decisão da, hoje, mais respeitada casa política do país; que legisla sobre matérias omissas do Legislativo; briga com o Executivo; e tem como presidente um popstar, que desfila, nos seus merecidos descansos, pelos calçadões de Ipanema, aplaudido por onde passa, não pode afirmar que ignora a opinião pública.
Pergunte a qualquer estudante se ele conhece Mercadante, e a resposta será "não" E não é só porque Mercadante não dá expediente no ministério.
Agora, Lewandowski, a garotada, ao contrário de mim, até o nome escreve, sem consultar ninguém.

Perfil
Já que falei em Brossard, no seu livro de memória, há uma pérola que poucos ou quase nenhum dos 11 ministros da Suprema Corte pode se vangloriar. Trata-se de um conselho, em forma de carta, ao então presidente Itamar:
"Ninguém, por mais eminente que seja, tem direito de postular o cargo, que não se pleiteia, e aquele que o fizer, a ele se descredencia; seu provimento é entregue à integridade, descortino e senso de responsabilidade do presidente da República, sujeito apenas ao praz-me do Senado Federal"
Comovido, Itamar, também em carta, disse que faria do conselho de Brossard uma regra de governo.
E o fez. Às avessas! Nomeou, para a vaga do próprio Brossard, seu amigo de farra, samba e carnaval Maurício Correia.

"Didi Mocó"
Registro para a História: coube única e exclusivamente ao ministro Mercadante o desembarque : antecipado de Eduardo Campos do governo.

Honra
A modéstia me impede de dizer que fui convidado para abrir o Fórum Internacional sobre os 25 anos da Constituição Brasileira.
(Se eu disser que vai ser em Cuiabá, e que seu organizador é o meu ex-assessor Gilmar Mendes, as más-línguas vão dizer que é festa de comadres.
Mas não. Eu vou falar a juristas do mundo todo sobre o papel de Ulysses Guimarães no reordenamento jurídico institucional do país.

Consideração
Antes de devolver os cargos ao governo, Eduardo Campos avisou Jarbas Vasconcelos.
Fisioiogismo
Crise institucional: os presidentes do Senado e da Câmara quase foram aos tapas na disputa do ministério que era de Eduardo Campos.

Sem máscaras
Dilma deve estar dando gargalhadas por conta da nota acima.
Esses dois arautos defendem a redução do número de ministérios.

Espionagem
Recebi e-mail da Casa Branca contendo arquivos de fotos da Mariana Ximenes aos abraços com Zuenir Ventura em NY.
Obama, La Ximenes não é Dilma, não!
Ela pode apelar para a Lei Carolina Dieckmann, que garante a privacidade na internet. E ao Marco Regulatório do Molon.

Kassab no Bandeirantes - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 21/09

O ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab avisou ao PSDB e ao PT que será candidato ao governo. O criador do PSD avalia: o eleitor paulista está cansado dos tucanos; e a gestão petista na prefeitura da capital não alavanca um candidato. Sobre suas chances, tem dito que venceu a eleição para a prefeitura contra Geraldo Alckmin e Marta Suplicy, em 2008. E lembra que tem jogo no segundo turno.

Nova linha de articulação
A presidente Dilma acertou com a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) mudança no tratamento das divergências nos projetos de lei e Medidas Provisórias em debate no Congresso. A ministra começou a trabalhar para evitar que MPs e projetos cheguem à sanção com a necessidade de vetos. A orientação é negociar previamente solução para questões passíveis de atendimento. Ideli tem se reunido com líderes, relatores e parlamentares envolvidos nas negociações de cada um dos temas para tentar costurar um texto que não tenha necessidade de vir a ser vetado. Esse modelo já foi usado para bater o martelo nas propostas do Ato Médico e do direito de taxistas.

O maestro do nosso campo político se chama Luiz Inácio Lula da Silva
Fernando Pimentel
Ministro do Desenvolvimento, sobre o governador Eduardo Campos (PSB) declarar que ele é uma alternativa no campo político dos eleitores que elegeram Lula e Dilma para a presidência

Consertando os arroubos
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), recebeu ligação do ministro Manoel Dias (Trabalho). Este pediu desculpas por ter citado, indevidamente, o nome de Aécio, ao ameaçar pôr a boca no trombone sobre mazelas do ministério. 

Morreu na praia
O ministro demissionário Fernando Bezerra (Integração Nacional), foto, estava cheio de planos. Pretendia lançar em outubro o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, estudo sobre as diferenças econômicas e sociais dentro de cada estado para melhor distribuir recursos. Usava como exemplo programa da União Européia. 

Novo critério para vetos
Os petistas encontraram uma nova forma de evitar nomeações de aliados. Se o indicado não for alvo da Justiça, do Tribunal de Contas e da CGU, usam como argumento "notícia negativa na imprensa". A regra não vale para petistas.

A sorte está lançada
Líderes aliados do governo estão apostando que a decisão do PSB de deixar o governo pode virar um tiro no pé. A presidente Dilma não vai demitir nem pedir o cargo de ninguém. Nem do segundo escalão. Ela pediu ao ministro Fernando Bezerra (Integração) para ficar. Aí mora o perigo. Eventual atitude de quadros do PSB, de ficar no governo, vai afetar negativamente a imagem do partido. 

Quero que me esqueçamO presidente da Nuclep (Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A), Jaime Cardoso, está desolado. Quer permanecer no cargo, mas foi indicado pelo presidente do PSB, Roberto Amaral, e pelo governador Eduardo Campos (PE).

Tempo mano velho
Com as dificuldades enfrentadas para a criação da Rede, do Solidariedade e do PROS, muitos deputados estão soltos no espaço à procura de uma legenda para pousar antes de 5 de outubro.

Aposentadoria.O ex-presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PR-PE) anuncia nos próximos dias que não disputará mais eleições.

Fora da Rede - LUIZ CARLOS AZEDO

CORREIO BRAZILIENSE - 21/09


Complicou-se a situação de Marina Silva, que tenta garantir o registro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, na Justiça Eleitoral e concorrer à Presidência da República por essa legenda. Parecer do Ministério Público Eleitoral enviado ontem ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirma que a ex-senadora só conseguiu comprovar 304.099 assinaturas, em 14 estados e no Distrito Federal. Marina precisa apresentar 492 mil para garantir o registro.

A Rede precisa cumprir a exigência até 5 de outubro, ou seja, em duas semanas. O TSE terá quatro sessões até lá, a última, em 3 de outubro. O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, exigiu da legenda novas certidões com assinaturas validadas. Marina Silva havia protocolado o processo de criação da Rede no TSE sem as firmas. A ministra do TSE Laurita Vaz, corregedora do tribunal, porém, negou o pedido para validar as assinaturas de apoio sem conferência prévia dos nomes pelos cartórios eleitorais.

Segunda colocada em todas as pesquisas de opinião, Marina Silva é a candidata de oposição que mais cresceu depois das manifestações populares dos últimos meses. Seu partido político, concebido a partir da lógica das redes sociais — ou seja, em plano horizontal —, tem mais características de movimento do que de agremiação política tradicional. Vem daí as dificuldades para atender as exigências da Justiça Eleitoral. Caso não consiga registrar o partido, Marina terá duas alternativas: se filiar a outra legenda para ser candidata ou desistir da disputa.

Pessimismo
O deputado federal Alfredo Sirkis (foto), do Rio de Janeiro, é um dos mais pessimistas com a situação da Rede. Continua filiado ao PV para não perder o mandato, mas não terá legenda para concorrer à reeleição se permanecer no partido. Outro que está em dificuldade é o deputado paulista Walter Feldman, do PSDB, que também se incompatibilizou com os tucanos.

Comemoração
Como na piada, quem quase está pedindo para ser engessada, porque não pode rir, é a presidente Dilma Rousseff, que tem em Marina Silva a maior pedra no sapato. Ex-ministra do Meio Ambiente de Lula, a ex-senadora vem “metabolizando” os descontentamentos com o governo. Caso Marina fique realmente fora da disputa, Dilma voltará a sonhar com a vitória no primeiro turno.

Sai daí
Idaílson José Vilas Boas, assessor da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, foi exonerado ontem das funções que exerce no Palácio do Planalto. Ele é acusado pela Polícia Federal de envolvimento no esquema que desviava recursos de fundos de pensão municipais.

Campanha/ O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), inicia hoje, em Maceió, uma série de encontros regionais organizados pelo partido. O primeiro contará com a presença de lideranças do partido de todo o Nordeste.

Fora do ar/ A TV Senado e o Portal da Casa na internet estão fora do ar, desde a meia-noite, para manutenção do sistema de energia. Somente à 0h de segunda feira, voltarão a funcionar. A Rádio Senado, cujos equipamentos foram transferidos para a Torre de Televisão, manteve as transmissões em Brasília.

Satisfeito// O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse ontem que a ausência de grandes petroleiras norte-americanas e britânicas no primeiro leilão do pré-sal, marcado para 21 de outubro, não compromete o sucesso da licitação. Grandes petroleiras estatais estão inscritas na concorrência, três delas chinesas, que são as favoritas na disputa.

Espionagem
Durante audiência pública no Senado Federal, a presidente da Petrobras, Graça Foster, anunciou o investimento de R$ 4 bilhões em tecnologia da informação e telecomunicações
somente neste ano.
Até 2017, a empresa pretende investir R$ 21,2 bilhões



Apagão legislativo
O presidente do Senado, Renan Calheiros (foto), do PMDB-AL, voltou a criticar a atuação da Câmara dos Deputados na hora de apreciar os projetos aprovados pelos senadores. “Na semana, votamos muitos projetos da Câmara. Essa contrapartida é fundamental do ponto de vista do processo legislativo. Se só uma Casa votar e a outra não responder igualmente, teremos um apagão legislativo. Isso não é bom para o país”, advertiu. Segundo ele, cerca de 30 propostas de senadores aprovadas nas comissões e no plenário do Senado aguardam decisão dos deputados.

LISTA NEGRA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 21/09

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou lei que obriga todos os estabelecimentos comerciais do Estado a afixar lista dos dez maiores fraudadores do Código de Defesa do Consumidor, com base no ranking do Procon. Em 2012, os campeões de reclamação foram Itaú, Claro, Bradesco e Vivo.

LISTA NEGRA 2
O projeto segue agora para sanção do governador Geraldo Alckmin. "Temos o apoio do Procon e a simpatia do governador", afirma o deputado estadual Fernando Capez (PSDB), autor do projeto. Quando era deputado, Alckmin foi relator da lei que criou o Código de Defesa do Consumidor.

PAREDE
As líderes do ranking serão obrigadas a afixar a lista negra em seus próprios estabelecimentos.

NÃO CREIO
A Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos mandou carta a Maria Adelaide Amaral, autora de "Sangue Bom", para cumprimentá-la pela abordagem do ateísmo na novela da Globo. Ao elogiar o pai, ateu, durante briga com Bárbara (Giulia Gam), a personagem Malu (Fernanda Vasconcellos) disse: "Acho mais honesto ser ateu do que ficar ensinando seus filhos a rezar por um deus com o qual vocês barganham, trocam favores. Isso para mim é insultar Deus".

NÃO CREIO 2
"É a primeira vez que temos conhecimento de um tratamento positivo de ateus na ficção", escreveu Daniel Sottomaior, presidente da Atea. "Sabemos que muitos religiosos ficaram enfurecidos pelo mesmo motivo que ficamos agradecidos."

A GRANDE FAMÍLIA
Roger Pinto Molina, o senador boliviano que fugiu para o Brasil no mês passado, viajou ontem para Rio Branco para reencontrar a mulher, filhas e netos, que estão refugiados no Acre. Ele não via a família desde que pediu abrigo na embaixada brasileira em La Paz, em maio do ano passado --com exceção de uma das filhas, que o visitava regularmente.

APERTO
Carol Magalhães (foto ao lado) foi assaltada anteontem a caminho do show de John Mayer no Anhembi. Presa no congestionamento, ela desceu da van, que a levaria ao camarote, para ir ao banheiro de um posto de gasolina. "Na volta, um cara apontou uma arma e mandou eu entregar a carteira. Tinha dinheiro e documentos", conta. Não levou o celular, que estava no bolso da calça, nem a bolsa Chanel.

PADRINHO
O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) alerta: "postes" de Lula também perdem nas urnas. "Ele é um cabo eleitoral espetacular mas nem todo candidato [apoiado pelo ex-presidente] ganha eleição." A afirmação foi feita a Marília Gabriela no canal GNT. Vai ao ar amanhã.

SAÚDE!
O médico Paulo Quagliato e sua mulher, Rosy Verdi, homenagearam o casal David Uip, secretário estadual de Saúde, e a socióloga Maria Teresa, anteontem, em um jantar nos Jardins. O banqueiro Joseph Safra com Vicky, o governador Geraldo Alckmin e a primeira-dama Lu Alckmin e o empresário Chiquinho Scarpa com a noiva, Marlene Nicolau, foram alguns dos convidados. Também participaram o médico Humberto Delboni, com Amanda, e o empresário Meyer Joseph Nigri, com Lilian. Entre os presentes, estavam ainda a empresária Bia Aydar, Manuel Tavares de Almeida Filho, do Banco Luso-Brasileiro, com Teresa, e Ricardo Saad, do grupo Bandeirantes, com Rosana.

NA PISTA
Michel Teló e a namorada, Thaís Fersoza, assistiram anteontem ao show de John Mayer no Anhembi. A atriz Giovanna Lancellotti, o publicitário Felipe Barahona e a apresentadora Carol Magalhães também estavam entre os convidados do camarote JK Iguatemi.

CURTO-CIRCUITO

Os irmãos Paulo e Chico Caruso apresentam o espetáculo "Paparicando Papas", hoje, às 22h, no Tom Jazz. 14 anos.

Kaká e a mulher, Carol Celico, são os rostos da nova campanha de Nutella.

Boni será entrevistado por Washington Olivetto hoje, às 20h, no Festival do Clube de Criação de SP, no Memorial da América Latina.

Marcelo Mansfield estreia temporada da peça "Nocaute", com supervisão de Rafinha Bastos. Hoje, às 21h, no teatro Fernando Torres, no Tatuapé. 14 anos. Até 26 de outubro.

Marcos Mion recebe amigos para exibição do filme "Família do Bagulho", no JK Iguatemi, na terça.

Antes da galinha - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 21/09

Às vezes, o governo Dilma é tomado pela síndrome do empresário Eike Batista, aquele que se notabilizou por contar com uma profusão de ovos antes de ter a galinha.

É o que parece estar acontecendo também com o primeiro leilão do pré-sal, marcado para 21 de outubro e que prevê a licitação do super Campo de Libra, na Bacia de Santos, do qual se espera um potencial de produção de petróleo entre 8 bilhões e 12 bilhões de barris de 159 litros.

Há meses, o governo vinha proclamando sucesso. É o maior campo disponível do mundo, avisava o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (veja, ainda, o Confira). "Vamos ter 40 interessados", calculava a diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Magda Chambriard. "Só esse campo vai exigir a construção de 12 a 17 plataformas de petróleo", proclamou há semanas a presidente Dilma. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, conta com R$ 15 bilhões apenas em bônus de assinatura para fechar as contas públicas, sem considerar a mais remota possibilidade de eventual adiamento, apesar da mobilização contrária do fogo jurídico amigo. E os políticos do governo têm como garantidas receitas em royalties de R$ 112 bilhões em 10 anos, para despesas com saúde e educação.

E, no entanto, apenas 11 empresas mostraram interesse pelo leilão. Pelo menos 5 das gigantes do setor (Exxon Mobil, BP, BG, Chevron e Statoil) preferiram ficar de fora. E não se sabe ainda se outras duas parrudas, a Shell e a Total, estão mesmo dispostas a participar. A concorrência acirrada que se esperava não acontecerá e já estão postas razões mais sérias que indicam para um desapontamento.

Não fazem sentido os argumentos com que a chefe da ANP, se defendeu da decepção: "Existe um contexto mundial que levou a isso", disse, dando a entender que as primeiras desistências se deveram a circunstâncias aleatórias, como se um projeto de 35 anos e US$ 400 bilhões em investimentos pudesse ser guiado por questiúnculas de curto prazo.

Há meses, os especialistas vinham apontando problemas na modelagem desse leilão, que agora precisarão de análises mais profundas. Nessas circunstâncias, o modelo de partilha não convém à maioria dos candidatos em potencial. Também é questionável a exigência de ter a Petrobrás como única operadora, sabendo-se com quais custos e com que ritmo trabalha. De alto risco é também a participação no negócio de uma nova estatal, a Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural S.A. - Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que não colocará na empreitada um único centavo e, no entanto, terá poder de veto em todas as matérias relevantes.

Há outras questões a considerar, algumas delas apontadas nesta Coluna em outras ocasiões. Uma delas é que está próximo o dia (em 2020) em que o maior consumidor mundial de petróleo, os Estados Unidos, também será autossuficiente em energia, graças à revolução do gás de xisto. Ou seja, está próximo o dia em que o petróleo terá perdido boa parte de sua força estratégica acumulada desde finais do século 19.

Ainda há condições para que o governo Dilma se livre de um vexame licitatório. O que já ocorreu está a exigir mais realismo num campo em que muita coisa não passa de gabolice tupiniquim.

Senhores passageiros - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 21/09

Se dois aviões da mesma companhia abastecerem com o mesmo volume de combustível, um ao lado do outro, e um for para Maceió, e o outro, para Buenos Aires, o que viajar pelo Brasil pagará 35% mais caro. É que recairá PIS/Cofins e ICMS sobre o combustível para o que voar internamente. Isso é o que conta Paulo Sérgio Kakinoff, presidente da Gol, sobre uma das esquisitices do setor.

Há várias outras esquisitices que os presidentes das empresas aéreas não conseguem explicar, como o fato de terem pulado de 30 milhões para 100 milhões de passageiros transportados por ano, num período de 10 anos, e mesmo assim estarem em crise.

Esta semana conversei com Kakinoff, da Gol, e José Efromovich, presidente da Avianca, sobre os problemas reclamados pelas companhias aéreas. A interrupção da disparada do dólar diminuiu um pouco a intensidade com que se falava em o governo ajudar as empresas. Os dois, em entrevista na Globonews, não foram claros sobre o que exatamente querem do governo.

Efromovich reclama dos impostos — e o exemplo dado acima por Kakinoff é mesmo surrealista —, mas, ao mesmo tempo, como isentar um setor cuja tendência mundial é pagar mais impostos por ser um grande emissor de gases de efeito estufa?

Kakinoff disse que eles não têm previsibilidade da demanda, mas os aviões têm prazos de entrega de quatro, cinco anos. Ou seja, eles têm que encomendar novos aviões mesmo sem ter capacidade de prever se a demanda por voos vai aumentar.

Eles alegam que a tarifa média caiu à metade. Mas é difícil auditar. Como todos sabem, eles oferecem tarifas baixas em horários e dias que ninguém quer viajar. Todas as empresas cobram mais em passagens para um prazo mais curto do que as tarifas compradas com antecedência. Se o passageiro quiser antecipar uma
viagem, pagará uma barbaridade, se quiser postergar, não receberá dinheiro de volta.

Kakinoff disse que a demanda de passageiros, de fato, cresceu muito e isso fez as empresas ampliarem a oferta, e, quando o setor parou de crescer, como aconteceu este ano, houve um aumento de custos das companhias aéreas. Efromovich e Kakinoff reclamam muito da volatilidade do dólar — mais até do que da alta da moeda — porque ela traz a falta de previsibilidade dos custos.

Seja como for, não é novidade que o custo do leasing é em dólar, o querosene de aviação é afetado pelo dólar, portanto, o setor tem que se proteger de alguma forma, exatamente porque essa volatilidade cambial acontece depois de um longo período de vento a favor.

Eles não concordam. Alegam que se fizessem hedge de tudo seria caro demais e têm que conviver, como disse Efromovich, com certas velharias como a de pagar adicional de marinha mercante, quando o querosene de aviação é produzido aqui mesmo.

Conferindo os dados da ANP se vê que o pagamento da taxa de marinha mercante pode ser antigo, mas nem tudo é refinado aqui. A balança comercial de querosene de aviação tem um rombo de US$ 900 milhões de janeiro a julho. O Brasil produziu, mas teve que importar 26% da oferta. É bem verdade que repassa imediatamente o custo para as empresas, ao contrário do que faz com a gasolina.

Esse é um setor em que há muita reclamação de passageiro. Todo mundo tem histórias para contar, por isso é difícil ouvi-los falar em melhora do serviço e que a Gol é uma companhia de baixa tarifa. Ou ouvir que a empresa preservou 500 funcionários da Webjet quando ela comprou a empresa para fechar e demitiu mil. Mas esse é o setor que está na porta do governo pedindo ajuda. Que ele se restrinja a acabar com algumas irracionalidades.

Receitas para operar com a China - MARCOS CARAMURU DE PAIVA

FOLHA DE SP - 21/09

Para ver empresas e bancos chineses em projetos de infraestrutura, será preciso trazê-los pelas mãos


A presidente Dilma Rousseff declarou, no dia 6 de setembro, que a parceria estratégica Brasil-China deve estar baseada em um tripé: maior exportação de manufaturados, parceria nas áreas de infraestrutura e logística e avanços em inovação e tecnologia.

O sentido de direção é sensato. Mas chegar ao rumo traçado envolve desafios que temos enfrentado com uma baixa taxa de sucesso. O que fazer?

Comecemos pelos manufaturados. O mercado chinês não é inatingível. Mas para penetrá-lo na sua dimensão plena --e não chegar apenas esporadicamente a pequenos nichos em centros conhecidos-- é necessário agir em três vertentes:

Uma, investir pesadamente na produção exportável, o que, se hoje não se afigura simples, nos próximos anos será menos ainda, já que a liquidez externa se reduzirá e a disputa por capitais, dentro e fora do país, será bem mais acirrada.

Outra, focar em "branding". Os chineses são obcecados pela ideia de marcas. Aprenderam a fabricar para quem tem marcas no exterior e absorveram, como ninguém, o apreço por elas.

Finalmente, formar uma rede de distribuição eficiente. Quem quiser distribuir de um ponto só da China, sem contar com vendedores que entendam as culturas locais, que falem os dialetos locais e que possam abrir caminhos localmente, não chegará muito longe.

O sonho da maioria das empresas é encontrar um distribuidor chinês. Mas realizá-lo não é garantia de sucesso. O mundo inteiro está à cata dos distribuidores chineses. Eles estão altamente seletivos.

Além disso, um distribuidor pode explorar mal uma marca e destruir sua imagem de forma irrecuperável.

Entregar a alma a um distribuidor pode funcionar, mas pode ser também caminho para o insucesso definitivo.

Para que os chineses participem nos leilões de infraestrutura brasileiros, é preciso que adquiram uma cultura que ainda não têm.

Empresas chinesas sabem exportar, e bancos sabem apoiá-las nesse esforço. Mas nem as empresas nem os bancos têm traquejo para entrar como sócios em consórcios destinados a operar infraestrutura, como fazem empresas e fundos de investimentos europeus e dos EUA.

Os chineses não são verdadeiros capitalistas. Capital não lhes falta, mas não sabem como operá-lo. E, à parte os fundos mais sofisticados, como o soberano, a China Investment Corporation, raramente buscam retorno puramente financeiro. O que querem, em última análise, é abrir mercado para equipamentos.

Para ver os chineses na infraestrutura, será preciso trazê-los pela mão, fazê-los entender a cultura das licitações e a engenharia financeira dos projetos. O esforço é bem maior do que apenas mostrar-lhes as oportunidades brasileiras.

Os avanços em inovação virão da cooperação interuniversitária e dos centros especializados. No mundo empresarial, chineses compram empresas na Europa, para absorver tecnologia, ou abem centros de pesquisa na Alemanha e nos EUA.

Isso deve catapultá-los a um outro patamar e, assim, tornar a competição no seu mercado ainda mais difícil para os brasileiros.

Confisco ao setor produtivo brasileiro - EDSON CAMPAGNOLO

GAZETA DO POVO - PR - 21/09

O Brasil assistiu, nesta semana, à consolidação de um dos maiores confiscos já registrados em sua história. Com a participação direta do governo federal e a conivência do Congresso Nacional. A vítima, em primeira instância, é o setor produtivo. Em última, o desenvolvimento do país.

Na terça-feira, o Congresso decidiu pela manutenção do veto que a presidente Dilma Rousseff impôs ao Projeto de Lei Complementar 200/2012. A proposta, aprovada por ampla maioria na Câmara dos Deputados em julho, acabava com a contribuição adicional de 10% sobre o saldo do FGTS que as empresas vêm pagando em casos de demissões sem justa causa. Dinheiro que não vai para o bolso do trabalhador, mas direto para os cofres públicos.

A criação desse adicional, em 2001, ocorreu após acordo entre governo, empresários e trabalhadores, para cobrir um rombo de R$ 42 bilhões causado ao FGTS por pacotes econômicos implantados no fim dos anos 1980, começo dos 1990. As empresas, de onde saiu o dinheiro, cumpriram sua parte: o setor privado contribuiu com R$ 43 bilhões no esforço para sanar o Fundo e garantir um direito aos trabalhadores. Tanto que, em julho de 2012, a Caixa Econômica Federal, gestora do FGTS, informou ao governo que os objetivos da contribuição haviam sido alcançados.

Começa aí uma verdadeira demonstração de má-fé do governo federal. Mesmo avisado de que o adicional poderia ser extinto, manteve um silêncio que lhe era conveniente e prosseguiu com a cobrança. Desde então, apropriou-se indevidamente de quase R$ 4 bilhões, retirados dos cofres das empresas. Como se não bastasse a omissão proposital, quando os deputados foram alertados do absurdo e finalmente aprovaram o Projeto 200/2012, o governo vetou a proposta. A partir daí, a União passou a agir na esfera da ilegalidade, ao considerar como permanente uma contribuição criada como provisória e com um fim específico.

Entraram em cena, então, a conivência e a submissão do Congresso. Pressionados pelo governo e ignorando o princípio da independência entre poderes, os parlamentares mantiveram o veto presidencial. Escondidos atrás do subterfúgio do voto secreto, que não nos permite nem ao menos saber quem são os responsáveis pela continuidade desse confisco, garantiram o prosseguimento da cobrança ilegal. É preciso aqui fazer um parênteses e reconhecer a coragem dos parlamentares que, mesmo pressionados, mantiveram sua posição e votaram pela derrubada do veto. Infelizmente, mais uma vez pela limitação imposta pelo voto secreto, não é possível agradecer nominalmente a cada um deles.

Mas a soma de todas essas atitudes é mais uma demonstração de que governos e parlamentares, eleitos como representantes dos cidadãos, em sua maioria seguem insensíveis aos anseios e necessidades da sociedade. Coloca em dúvida, ainda, o grau de comprometimento do poder público com o desenvolvimento do país. Em um momento em que o setor produtivo – e em especial a indústria – clama por medidas que garantam maior competitividade, decide-se pela consolidação de mais um tributo, que se soma a um verdadeiro emaranhado de impostos e encargos que sufocam as empresas.

Por tudo isso, a Federação das Indústrias do Paraná acionará a Justiça para buscar a retomada daquilo que vem sendo tirado indevidamente das empresas. Nosso Departamento Jurídico trabalha na elaboração de uma ação coletiva que vai pedir a imediata paralisação da cobrança adicional – já que, mesmo com a manutenção do veto, ela segue na ilegalidade – e a devolução dos recursos recolhidos indevidamente desde que a contribuição cumpriu seu objetivo. Esperamos que ao menos o Judiciário não feche os olhos diante deste confisco ao setor produtivo brasileiro.

Entre a ficção e a realidade - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 21/09

Se quisermos continuar criando empregos, temos que ter a flexibilidade necessária para sobreviver


Nesta semana, realizou-se na Câmara dos Deputados uma comissão geral sobre terceirização de serviços. O que me chamou a atenção durante as discussões foi o tom de radicalização empregado por dirigentes sindicais e pelas chamadas bancadas de esquerda.

Por mais que apurássemos nossos ouvidos, não seríamos capazes de distinguir um único argumento baseado nos fatos ou na razão.

O que dominou o cenário foram os gritos primitivos das galerias e a retórica antiquada dos oradores, que pareciam falar a uma assembleia sindical nos anos 50 do século passado.

O projeto de lei 4.330 que, neste momento, tramita no Congresso Nacional procura regulamentar, com muito equilíbrio, um fato da vida real: empresas públicas, como a Petrobras, entidades governamentais e empresas privadas de todos os setores valem-se de serviços e mão de obra terceirizadas para, em conjunto com a mão de obra própria, realizar as suas tarefas.

Como não há um marco legal regulando a matéria, empresários e trabalhadores estão expostos a incertezas e instabilidade.

Há muita gente nesse mundo que não se conforma com fato de que a vida social está em permanente estado de mudança e que o ritmo das mudanças tem se acelerado cada vez mais. Apegam-se à sua imagem do passado e lutam com todas as suas energias para que esse passado não passe.

Mas, parodiando Galileu, "e no entanto ele passa"! Os desejos dos consumidores e os mercados estão em contínua transição. As empresas precisam se reinventar a cada dez ou vinte anos, e a organização da produção não cessa de assumir formas novas.

Por isso, as leis que regulam o trabalho e a produção não podem ficar congeladas no tempo. Se ficarem, condenarão a sociedade e o país ao atraso e à pobreza. É preciso que as pessoas e a política entendam isso com a maior clareza.

Na realidade do século 21, as leis que tratam do trabalho não podem mais ser discutidas num cenário de luta de classes ou de conflito entre trabalhadores e empresários. Ao contrário, esse debate deve se dar num clima de cooperação e de entendimento, pois os desafios econômicos reais exigem uma visão compartilhada.

Num mundo mais aberto e globalizado, as economias nacionais precisam, antes de tudo, ser competitivas em relação ao resto do mundo. Se não forem, as empresas e os empregos poderão desaparecer.

O Brasil não é mais a economia fechada e sem competição que era em 1950, quando maiores custos podiam ser transferidos automaticamente para os preços, com prejuízos apenas para os consumidores. Hoje, custos mais altos podem resultar na exclusão da empresa do mercado e sua substituição por produção estrangeira, com benefícios para os consumidores e a destruição dos empregos.

Ao contrário do que costumava ser há 40 ou 50 anos, o Brasil não compete com economias de altos salários, mas com economias asiáticas e latino-americanas de salários e custos trabalhistas muito mais baixos. Se quisermos continuar criando empregos e mantendo a renda de nossos trabalhadores, temos que ter a flexibilidade necessária para sobreviver. Não temos outra escolha.

Um exemplo marcante da diferença entre países em que trabalhadores e empresários cooperaram e se entendem, e de países em que a política não deixa que isso ocorra, pode ser visto na comparação entre a Alemanha e a Espanha.

Na Alemanha, os trabalhadores participaram ativamente de um esforço legislativo para modernizar e flexibilizar as relações de trabalho e adaptá-la às novas circunstâncias tecnológicas. Hoje, os alemães têm uma das mais baixas taxas de desemprego da zona do euro: 5,3%.

A Espanha, que teima em manter rígidas as regras trabalhistas, sofre a segundo mais alta taxa de desemprego do bloco: 26,3%, ou seja, para os espanhóis, os direitos trabalhistas só existem na teoria. São quase uma ficção para grande parte da população, especialmente os jovens, pois nesta faixa o desemprego se aproxima de 50%.

Se não aprendemos com os fatos, com o que poderemos aprender?

De novo uma gravidez pequena, mas nem tanto - ROLF KUNTZ

O Estado de S.Paulo - 21/09

A velha comparação da inflação pequena com a pequena gravidez pode ser tão detestável quanto qualquer lugar-comum, mas lugares-comuns podem ser didáticos. Além disso, a inflação mensal brasileira, por enquanto próxima de 0,3% e com tendência de alta, só é pequena para um país acostumado a taxas muito maiores que as do mundo civilizado e, de modo especial, que as de seus concorrentes. Mas os sinais da gravidez são cada vez mais visíveis. A inflação volta a mover-se com vigor crescente, depois de uma breve e enganadora acomodação dos índices. Todos os principais indicadores pioraram nos últimos dois meses, enquanto a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuaram alardeando a contenção da alta de preços.

O sinal de alerta mais recente veio com o IPCA-15, prévia do indicador oficial, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Este é medido entre o começo e o fim de cada mês. O outro, entre o dia 16 de um mês e o dia 15 do seguinte. O IPCA-15, divulgado nesta sexta-feira, havia ficado quase estável em julho, com variação de apenas 0,07%. A taxa mais que dobrou em agosto (0,16%) e continuou a aumentar em setembro, quando atingiu 0,27%. A acomodação no meio do ano foi enganadora, para quem gosta de ser enganado, é claro, porque resultou de pequenos truques de um governo empenhado em jogadas eleitorais.

Durou pouco o efeito, nada mais que ilusório, da redução política das tarifas de transporte urbano. Em agosto, ainda em consequência desse lance, o custo dos transportes incluído no IPCA-15 recuou 0,3% Em setembro, cresceu 0,3%, apesar da queda de preços do etanol e da gasolina. O custo da alimentação subiu 0,04%, bem pouco, mas havia diminuído 0,09% no período anterior. A alta poderia ter sido maior, sem o sensível barateamento de hortaliças. Mas o ponto mais importante para a avaliação da política oficial é outro.

Não tem sentido cuidar da inflação como se a alta geral de preços fosse ocasionada por um ou outro aumento localizado. Há poucas imagens mais enganadoras que a do famigerado vilão da inflação. Num mês é o preço do tomate, em outro, o do petróleo, num terceiro, o conjunto das cotações internacionais dos produtos agrícolas. De vez em quando o culpado é o câmbio, um preço com potencial para afetar muitos outros.

Esse tipo de palavrório pode dar colorido ao noticiário dos meios de comunicação, mas ninguém deveria tomá-lo ao pé da letra. Todos os países, na maior parte em desenvolvimento, foram afetados pela alta das cotações internacionais dos alimentos, nos últimos anos, assim como foram atingidos, na maior parte de 2013, pelo recuo desses preços. Mas nem todos enfrentaram inflação tão alta quanto a brasileira, embora, em muitos casos, a alimentação seja um componente importante do custo de vida.

No Brasil, a escalação dos vilões tem mudado e a inflação nunca desapareceu. Por isso mesmo voltou a ganhar força, depois das intervenções eleitoreiras do governo, O índice de preços por atacado, componente mais importante do IGP-10, da Fundação Getúlio Vargas, aumentou 1,46% em setembro, muito mais velozmente que no mês anterior, quando havia subido 0,19%.

Os produtos agropecuários haviam ficado 0,45% mais baratos em agosto e aumentaram 1,83% em setembro. Os bens industriais também ficaram bem mais caros, com alta de 1,32%. Ainda no atacado, os preços dos bens finais diminuíram 0,02%, mas, excluídos alimentos in natura e combustíveis para consumo, sobrou uma alta de 0,63%, nada desprezível.

Nem sempre esses aumentos chegam ao consumidor final. Isso depende das condições da demanda - fatores como o nível de renda, a oferta de crédito, o grau de resistência aos aumentos, a possibilidade de substituição de bens ou serviços e, naturalmente, as expectativas dos indivíduos e das famílias. A taxa de juros e o controle do crédito são os principais instrumentos de administração da demanda, no Brasil e em muitos países, mas o gasto público também é um componente importante desse quadro. Se houver alguma dúvida quanto à importância da demanda, bastará consultar o encarecimento dos serviços, 0,61% em agosto e 0,62% em setembro, no IPCA-15. Além disso, houve aceleração em todos os núcleos calculados pelos economistas para eliminar a influência de componentes mais instáveis.

No fim de agosto de 2011 o Banco Central (BC) iniciou uma baixa de juros e manteve essa política até abril deste ano, embora a inflação tenha sido muito alta durante todo esse tempo e até superado o limite anual de 6,5%. Além disso, a expansão do crédito continuou - e ainda continua. O governo jamais conteve a gastança e ainda estimulou o consumo com redução de impostos sobre alguns produtos, sem cuidar do aumento da produção interna.

Sem as famigeradas intervenções pontuais - contenção dos preços dos combustíveis e redução das tarifas de transportes e de energia - os números teriam sido muito piores. Todos esses fatos tornaram ainda mais grotesca a tentativa, repetida várias vezes, de atribuir a inflação brasileira à alta das cotações internacionais dos produtos agrícolas.

A única demonstração de juízo nos últimos meses foi a elevação de juros iniciada em abril pelo BC. O resto do quadro interno pouco mudou, exceto por alguma retração dos consumidores e pela redução do emprego no setor industrial.

Mas o governo mostra-se pouco preocupado e a presidente repete sua ladainha. Segundo ela, a inflação continuará dentro da meta. Mas isso vale para qualquer resultado até 6,5% ao ano, o limite de tolerância para situações excepcionais. A meta, em sentido próprio, é 4,5%, um alvo pouco ambicioso. Nem esse alvo deve ser atingido até o segundo trimestre de 2015, segundo o BC.

Descompasso - PAULO SILVA

CORREIO BRAZILIENSE - 21/09
A semana que se encerra foi das mais significativas na área de infraestrutura brasileira. Houve, na quarta-feira, o desfecho do leilão da primeira concessão de rodovia federal neste ano. No dia seguinte, tornaram-se conhecidas as 11 empresas que pretendem se candidatar ao leilão do campo de Libra, o primeiro do pré-sal brasileiro, marcado para 21 de outubro.
Integrantes do governo procuram demonstrar em seus discursos que os dois processos tiveram resultado altamente satisfatório. Tal esforço de convencimento já é sinal de que as coisas não foram tão bem assim. Afinal, o sucesso costuma ser autoexplicativo.

As frustrações, nos dois casos, estão na ausência de competidores de peso. Uma das concessões de estradas, a da BR-262, em Minas Gerais e Espírito Santo, não teve um único interessado. O leilão teve de ser adiado.

Para a BR-050, em Goiás e Minas, houve oito inscritos, e o vencedor ofereceu desconto de 42,38% sobre o valor máximo de pedágio proposto pelo governo. São números que podem dar a impressão de bom resultado, mas apenas quando não se conhece a história completa.

O consórcio que levou a concessão é composto por empresas pouco conhecidas no mercado, nenhuma delas com experiência na operação de rodovias. É grande a insegurança quanto à capacidade do grupo de cumprir o prometido em termos de obras e de assistência ao usuário.

Na lista do leilão de Libra também destacam-se ausências: a expectativa do próprio governo era de 40 inscritos. Ficaram fora cinco das maiores empresas de petróleo do mundo.

Se as expectativas em torno dos leilões são excessivas, a culpa é do próprio governo, que deposita neles uma série de responsabilidades: melhorar o conforto da população; elevar os investimentos e o crescimento do país; garantir o fluxo de capital externo em um momento de incertezas globais; permitir o equilíbrio das contas públicas; e proporcionar segurança energética a longo prazo.

A complexidade não se resume à extensa lista de objetivos. Está também nos modelos de operação, que unem entes públicos e privados nas operações e no financiamento. Empresas, porém, costumam valorizar preferência pela clareza e pela simplicidade. Tal descompasso tem resultado em desinteresse.

A estatal do pré-sal - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 21/09
A decisão das grandes empresas de petróleo dos Estados Unidos e da Inglaterra de não participar da licitação do Campo de Libra, a primeira do pré-sal no novo marco regulatório de partilha, em vez de concessão, reflete um receio de como funcionarão as novas regras, com a atuação da estatal PPSA com poder de veto nas decisões de produção.
Há várias dúvidas: sobre como atuará a nova estatal, que não tem nem mesmo a direção nomeada; como a indústria brasileira vai responder à demanda de material local; e até mesmo quanto à capacitação da mão de obra. Esse receio, no entanto, é menosprezado pelas empresas que entraram na licitação, como a espanhola Repsol, cujo representante me disse considerar "uma burrice" não entrar agora.

Em consórcio com a chinesa Sinopec, com quem já atua em conjunto no Brasil, a Repsol pretende até mesmo enfrentar com criatividade a exigência de conteúdo nacional. Como estão encontrando dificuldades para essa produção no Brasil, querem que empresas brasileiras possam comprar estaleiros na Europa que estão sem serviço para suprir a demanda brasileira.

A impressão é que as grandes empresas ficaram de fora para acompanhar como as coisas andarão, e, se tudo caminhar bem, provavelmente estarão no próximo leilão, que deve se realizar somente em 2015, pois no próximo ano, eleitoral, não haverá licitação. Certamente essas empresas estão também aguardando o resultado da eleição para saber com quem terão que negociar.

Nestes cinco anos em que não houve licitação no Brasil, o país que tirou mais proveito foi a Colômbia, atraindo capitais para investimento. A indústria do petróleo é muito globalizada e padronizada, não há margem para muita invenção. A empresa vai para onde há mais garantias e potencial. O potencial do pré-sal do Brasil é gigantesco, mas o governo tem de dar condições para se desenvolver a produção, alegam : executivos da área.

O petróleo é uma commoditie que tem uma demanda crescente, a economia dos Estados Unidos está se recuperando e há indicação de que haverá nos próximos 30 anos uma demanda sustentável no mundo, e as companhias terão de trabalhar muito para oferecer o petróleo de que o mundo precisará.

A Agência Internacional de Energia diz que o consumo atual de 85 milhões de barris/dia chegará a mais de 100 milhões e demandará para tanto a aplicação de cerca de US$ 25 trilhões nesse período.

A área a ser licitada tem cercá de 1,5 mil quilômetros quadrados. A Petrobras descobriu, além de Libra, outros campos, como o de Franco. A indicação com o poço que foi feito é maravilhosa, qualquer petroleiro fica extasiado com o resultado. Mas daí a afirmar que toda a área de Libra vai ter o mesmo resultado é de difícil comprovação, existe um risco. Quando a ANP diz que o volume de petróleo recuperável do Campo de Libra deverá oscilar entre oito bilhões e 12 bilhões de barris, está jogando com 50% de margem.

A exploração exige muito dinheiro. O Ministério de Minas e Energia estima entre 15 e 18 módulos de produção. Cada um deles tem um grande navio produtor que se conecta com os poços, e todo esse conjunto de exploração está estimado em US$ 6 bilhões cada. Só de investimento, fica em torno de US$ 100 bilhões. Mais os R$ 15 bilhões para o bid dos 70% do campo (a Petrobras tem 30% no mínimo), e há o custo operacional.

É um projeto que pode chegar até a US$ 200 bilhões, com recuperação a longo prazo. Há todo o período de estudos geológicos até a perfuração dos poços. Só depois de ter certeza da capacidade do campo, é que o projeto de concepção pode ser efetivamente detalhado. Tudo isso pode levar de sete a nove anos, e por volta de 2020-2022 começa a render frutos, a partir do quê, as empresas terão cerca de 20 anos para recuperar o investimento.

A PPSA provoca insegurança nas companhias operadoras. Há certos custos que podem ter caráter subjetivo e ficarão sujeitos ao crivo dessa estatal. Em todo o mundo existe um documento chamado JOA (Joint Operating Agreement), que é quase padrão. Ali estão definidas as regras, e as empresas sabem como se decidem brigas, conflitos, qual é o papel de cada um, o que faz o operador, o que fazem os sócios, tudo já está definido há 50 anos.

Quando em lugar do JOA se põe uma empresa estatal que não investe um centavo, mas tem poder de muda totalmente a conversa. Na Noruega, há uma empresa do governo que participa, mas até agora não criou problemas para ninguém. As companhias querem saber como se comportará a nossa estatal do pré-sal.