sexta-feira, julho 05, 2013

Por favor, me apalpem - LUCAS MENDES

BBC Brasil

Pliiisi. Pliisi. Nunca fui apalpado pela polícia de Nova York. Uma injustiça. Sou latino e exijo minha apalpada.


Apalpam mais de 500 mil negros e latinos por ano, qual é o meu problema? Mitch Schwartz tem cabelos brancos como eu e já foi revistado 12 vezes.

A qualquer hora deve sair a decisão da juíza federal Shira Scheindlin que vai mexer com a apalpação da polícia. O caso Floyd x Nova York envolve direitos civis e já está em julgamento há dois meses.

Os queixantes acusam a polícia de abordar e revistar milhares de pessoas nas ruas de Nova York só porque são negros ou latinos. Uma violação da 4ª emenda (constitucional) que protege contra buscas sem motivo.

Pelos sinais que vêm do tribunal, a juíza vai dar uma apalpada legal no prefeito e na polícia. Ferro neles.

O número pessoas abordadas que são presas ou multadas por algum crime não chega a 10%. A juíza ironizou o "faro" dos policiais que apalpam 90% inutilmente.

O índice de homicídios em Nova York cai tanto que deixou de ser notícia. Uma injustiça. Do ano passado para cá, neste primeiro semestre, a queda foi de 25%, e hoje estamos a menos de uma morte por dia. Pré 1950.

A polícia atribui a redução a uma supervisão mais intensa de parceiros agressivos e a um novo método de lidar com crimes entre as gangues. Mas numa perspectiva mais longa, de dez anos, a lei do Stop and Frisk, Parar e Apalpar, de 2002, na versão do prefeito e do chefe de polícia, foi uma das principais responsáveis pela redução do crime em Nova York.

O chefe usa dois números. Na década anterior ao prefeito Bloomberg e ao "Parar e Apalpar", 12 mil pessoas foram assassinadas na cidade. Desde a posse do prefeito, o número caiu para 5 mil.

Os jornais, entre eles o New York Times, colocaram os contadores para conferir e revelaram que, por causa das críticas, o número de apalpadas do ano passado para cá caiu 25% e o número de crimes caiu exatamente na mesma proporção. Menos revistas, menos crimes. Como o prefeito e o chefe de polícia explicam esta coincidência?

Eles dizem que quando muitos bandidos sabem que podem ser abordados deixam as armas em casa. Mais de 8 mil armas foram confiscadas em dez anos. Quantos crimes foram evitados? Ninguém sabe.

A questão racial é complicada. A grande maioria dos parados e apalpados são negros e latinos nos bairros onde o índice de crimes é mais alto. Eles cometem mais de 90% dos crimes na cidade e mais de 90% das vítimas são negros e latinos.

Mas, como observou a juíza, 90% são abordados inutilmente.

Resposta do chefe Kelly: "Os negros representam 23% da população da cidade. Devemos abordar só 23% dos negros? Os homens são 50% da população e responsáveis por 90% dos crimes. Devemos, pela lógica das percentagens, abordar só 50% dos homens?"

Os brancos cometem 6% dos crimes e representam 13% dos apalpados. O prefeito diz que os brancos têm mais motivos para protestar porque são proporcionalmente duas vezes mais abordados do que os negros e os latinos.

Por lei, cada abordagem da polícia e todos os contatos com a população são cadastrados, até informações para turistas.

Com uma eleição pela frente, os números viraram parte do futebol político. A Câmara dos Vereadores atropelou o prefeito com duas leis. Uma propõe a criação de um supervisor acima do chefe de polícia e outra autoriza os abordados a processar a cidade. Vão castrar a apalpação.

Bloomberg prometeu vetar as duas leis e, se perder, vai investir milhões - ele tem bilhões- nas campanhas pró apalpadores.

Pela porcentagem de crime por mil habitantes, Nova York é quatro vezes mais segura do que Oslo e duas vezes mais do que Copenhagem. Deve ser manipulação estatística, mas nunca me senti tão seguro numa cidade.

Todas as vezes que viajo entro numa fila, tiro sapato, o cinto, esvazio os bolsos, disparo o alarme e sou apalpado. Qual o problema de ser apalpado na rua? Por favor, seu guarda, apalpe. Por favor, outra vez.

Quiz

Entre as quarenta cidades mais violentas do mundo, quantas são brasileiras?

Entre elas, qual a campeã?

Quantas mexicanas e quantas americanas estão entre as quarenta?

Resposta: O Brasil lidera com 13 cidades. O México vem em segundo com 10. Os Estados Unidos têm três e não estão entre as dez primeiras.

San Pedro de Sulla, em Honduras, aparece em primeiro lugar. Juarez, no México em segundo, e Maceió, em terceiro.


Cota de ingressos - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 05/07

Veja. Frei David, da Educafro, principal líder brasileiro na luta pelas cotas para negros, prepara uma representação junto à Fifa.
Pede que 30% dos ingressos da Copa sejam destinados a negros. A experiência na Copa das Confederações mostra que os estádios estavam tomados pela, digamos, elite branca.

Segue...
Frei David admite que nos jogos do Brasil a cota seja de 20% por causa da grande procura de ingressos.

Gois na Flip...
Aliás, a ideia de cota para pobres na Copa foi de certa forma defendida por Gilberto Gil na abertura da Flip, em Paraty:
— É preciso que os negros possam também ir aos estádios.

Só que...
O tema é polêmico. Roberto da Matta, antropólogo, fã de Gil, diz que é favorável a tudo que tem a ver com justiça. Mas que “não existe nenhum lugar no mundo que tenha cota para doce de leite”:
— É justo que se faça uma distribuição do que a sociedade produz para todos. Mas cota para sorvete Kibon e doce de leite, não.

No mais...
Bom debate. Cartas para a Redação.

Documentos históricos 
Sai hoje no Diário Oficial da União edital do Arquivo Nacional liberando acesso a documentos da antiga Divisão de Informações da Petrobras.

São pareceres, relatórios, listas e inquéritos administrativos sobre empregados investigados pela companhia entre 1962 e 1992.

O Rei e a presidente
No encontro com Dilma, na quarta, Roberto Carlos explicou por que defende, que pena!, a proibição de biografias não autorizadas.

Foi meia hora de conversa. O Rei, que conseguiu proibir na Justiça uma biografia sua, saiu do gabinete feliz.

Como se sabe...
A Câmara está analisando a proposta que permite a publicação de biografias sem autorização.

Aécio e os artistas
Na noite de quarta, no Senado, Aloysio Nunes, líder do PSDB, insistia para que não fosse votado o projeto que muda as regras de direitos autorais. Houve até bate-boca com artistas.

Mas, mudou de ideia, convencido pela lábia de Aécio Neves.

Os voos da alegria
O que se diz no Congresso é que Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, que usaram aviões da FAB para ir a um casamento e ao jogo da seleção, ouviram o “clamor das ruas” sobre o “passe livre”.
Só que começaram beneficiando... eles próprios.

Só dá Neymar
Quiosques e lojinhas da badalada La Rambla, em Barcelona, já vendem a camisa com o nome de Neymar Jr. 

Algumas, como esta da foto, já arriscam que a camisa do craque brasileiro será a 11. Mas a maioria vende ainda sem número.

Aliás...
Veja que, nesta loja, a camisa de Neymar está acima da de Iniesta.

Ficou barato
O histórico e belo prédio da Sociedade Portuguesa de Beneficência do Rio, na Glória, foi arrematado por R$ 60 milhões pela BMJ Empreendimentos Imobiliários. Entre os sócios da empresa está o empresário Pedro Junqueira Moll, da família que fundou a Rede D’Or.
O resultado está sendo contestado na 3ª Vara Federal de Execuções Fiscais.

‘Não tá fácil pra ninguém’
O Caiçaras, clube de bacanas na Lagoa, Zona Sul do Rio, resolveu, veja só, dividir entre seus sócios uma dívida de IPTU.
Cada um dos cerca de 1.300 sócios terá que pagar, além da mensalidade de R$ 550, R$ 117 por mês. São 84 parcelas ou... sete anos de taxa extra.

Plebiscito do Casseta
No momento em que o país discute o plebiscito, Hélio de la Peña decidiu fazer sua própria lista.
No site do Casseta, está lá a consulta popular sobre quais questões devem entrar no plebiscito: transformar Renan Calheiros em crime hediondo; aprovação de financiamento de propinas superfaturadas por empresas ou pelo governo; e participação de Marco Feliciano em novo clipe da Anitta mostrando o bumbum pulsando.

FH E OS COLEGAS IMORTAIS 
Em seu primeiro chá na ABL como imortal, FH posa ao lado de Marcos Vilaça. O ex-presidente confraternizou com outros acadêmicos que contaram histórias e gafes de intelectuais. Ao fim, FH comentou com a presidente Ana Maria Machado: “Se for sempre assim, eu vou até pagar ingresso.” A posse do novo imortal será no dia 10 de setembro

Ponto Final 
É triste. Mas Eduardo Alves, político experiente, é caso perdido. É um deboche, com as pessoas nas ruas pedindo ética na política, ele usar avião da FAB, dinheiro meu, seu, nosso, para levar amigos de Natal ao Rio para o jogo do Brasil. O presidente da Câmara é mais um caso de político que está na profissão não para servir à sociedade e sim ser servido pelo povo. É pena.


O caso do manifesto fantasma - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 05/07

RIO DE JANEIRO - Era uma mesa sobre biografias na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) de 2007. Os participantes --Paulo Cesar de Araújo, Fernando Morais e eu-- já havíamos sido alvos de processos movidos por biografados ou por seus herdeiros contra nossos livros. O caso mais recente era o de Paulo César, que tivera sua biografia "Roberto Carlos em Detalhes" recolhida das livrarias.

Ao descrever o impertinente artigo 20 do Código Civil, que restringia a liberdade de expressão e impedia o Brasil de escrever sua história, houve momentos em que levantamos a plateia de quase 800 pessoas e parecia que dali poderia sair um movimento que o derrubasse. Alguém no público teve a ideia de gerar um documento a ser assinado pelos escritores presentes à Flip, entre os quais um Prêmio Nobel, e levá-lo ao Congresso Nacional, em Brasília.

E assim se fez. Folhas de caderno surgiram de repente e foram assinadas por nós e por todo o mundo à nossa volta. Outras seriam levadas aos sul-africanos J. M. Coetzee e Nadine Gordimer, o israelense Amós Oz, o americano Lawrence Wright, o inglês Robert Fisk, a egípcia Ahdaf Soueif, todos em Paraty. Da bancada, com o lindo painel da Flip atrás de nós, podíamos ver as folhas sendo brandidas lá embaixo com grande entusiasmo.

Foi a última vez que as vi. Alguém deve ter recolhido o abaixo-assinado, mas, se lhe deu o competente destino --mandá-lo para os deputados e senadores--, é um mistério. Horas depois de encerrada a mesa, tentei saber a quantas andava o manifesto, mas ninguém sabia onde estava ou com quem.

Se foi enriquecer a coleção de autógrafos de algum fã da literatura, ótimo. O fato é que, seis anos depois, cá estamos, empolgados, numa nova Flip. O manifesto continua sumido e, nós, biógrafos brasileiros, ainda sonhamos com o fim do bendito artigo.

Plebiscito é a mais nova trapalhada de Dilma - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 05/07
Ao invés de trabalhar para atender aos anseios dos brasileiros que foram às ruas exigir o "padrão Fifa" de qualidade nas áreas da saúde, da educação e do transporte, além de protestar contra os gastos da Copa de 2014 e a corrupção, Dilma Rousseff tirou da cartola uma proposta de plebiscito sobre a reforma política cujo objetivo é desviar o foco da opinião pública. Segundo o governo, a mensagem enviada ao Congresso Nacional é uma mera "sugestão" da presidente para orientar as discussões dos parlamentares.

Mas é evidente que a petista extrapolou suas atribuições e cometeu mais um despautério. Depois de anunciar ao país a intenção de convocar uma Constituinte exclusiva para tratar da reforma política, o que configuraria uma aberração jurídica e um golpe na própria Constituição, Dilma atropelou o Congresso ao encaminhar uma proposta de plebiscito que jamais esteve entre as reivindicações dos manifestantes. O sistema eleitoral brasileiro carece de modificações, mas à presidente bastaria ter mobilizado sua gigantesca base aliada para votar o projeto quando bem entendesse. Em dois anos e meio de governo, além dos oito em que Lula comandou o país, isso não aconteceu.

Além do equívoco do plebiscito em si, a complexidade de um tema como a reforma política, com múltiplas questões e alternativas, recomendaria que o governo petista optasse por um referendo, por meio do qual o texto aprovado no Parlamento passaria pelo crivo da população. Desta forma, o Poder Legislativo cumpriria uma prerrogativa que é sua, e não do Executivo, e se debruçaria sobre o assunto antes de submete-lo à aprovação popular. OPPS tem uma proposta de reforma política em que defende, entre outros pontos, o voto distrital misto, o financiamento misto de campanha (público e de pessoas físicas filiadas aos partidos) com vedação total de contribuição de pessoas jurídicas, o fim das coligações proporcionais e até a possibilidade de candidaturas avulsas.

Mas este é um debate que deveria ser travado no foro adequado, o Congresso, e jamais colocado em pauta de forma atabalhoada por uma governante que pretende criar um factoide para sair das cordas. A insatisfação generalizada coma presidente foi traduzida em números divulgados pelo Datafolha, que registrou uma queda de 27 pontos percentuais na avaliação positiva do governo em apenas três semanas, a maior redução entre uma pesquisa e outra desde 1990, quando Fernando Collor confiscou a poupança dos brasileiros. Em relação ao levantamento anterior, o percentual dos que consideram a administração petista ruim ou péssima passou de 9% para 25%, mostrando que o descontentamento da população era muito mais profundo do que fazia crer a propaganda oficial.

Os resultados da pesquisa também desmontam a tese de alguns cientistas políticos e de setores da imprensa que anteciparam a reeleição da presidente em 2014 como fato consumado. O esgotamento do modelo petista, agravado pela difícil situação econômica vivida pelo país, indica que Dilma terá dificuldades para se recuperar, e não é afrontando o Congresso ou encampando bandeiras golpistas, como a Constituinte, ou mirabolantes, como o plebiscito, que ela alcançará esse intento. As ruas deixaram claro que o povo quer atitudes concretas e não tolera mais tergiversações ou trapalhadas.

A era dos extremos - MICHEL LAUB

FOLHA DE SP - 05/07

No Brasil, usar plebiscitos como base para todas as decisões resultaria em criacionismo nas escolas


Numa ótima entrevista ao "Roda Viva" de 10/6, dias antes da onda de protestos começar, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha falou das esferas centrais na análise da vida nas cidades: a sabedoria --técnica, científica-- e a política. Na primeira, quase tudo é possível. A engenharia moderna é capaz de cavar túneis, construir pontes, proteger arranha-céus contra terremotos, fazer o gás sair da bica do fogão.

Já a segunda é um problema. Se São Paulo tivesse feito a escolha política por transporte público nos anos 1930, época em que Prestes Maia começou a modelar uma cidade voltada para avenidas e carros, hoje seria mais fácil enfrentar dificuldades que parecem, mas não são técnicas --do espaço para trens e corredores de ônibus à vazão das águas nas enchentes.

Muito se discute os desdobramentos da crise atual. O caminho escolhido até agora por governos e Congresso é o da generalidade. Nada a opor: sem ela, dificilmente ocorrem mudanças necessárias. Se a política estiver certa, a técnica --campo do específico e possível, sem o qual nada pode ser concretizado-- se adapta.

Torço para que seja o caso do Estado de São Paulo, que suspendeu aumentos nos pedágios, ou dos royalties do petróleo para a educação, que não seriam aprovados sem o barulho das ruas.

Ocorre que em algum ponto a especificidade precisa ser ouvida. Subsidiar pedágio é tanto um bem-vindo barateamento de fretes quanto (mais) um incentivo ao transporte individual. E o problema da educação não se resume a verbas: capacitar professores e reformar o currículo são pautas intrincadas, que dispensam slogans de passeata.

Indo além nos exemplos, não é difícil a generalidade virar delírio. Quando custos, prazos e viabilidade jurídica e administrativa deixam de ser minimamente considerados, surgem as isenções ruinosas que pipocam pelo país ou a Constituinte sepultada em 24 horas.

Uma das dificuldades de frear a demagogia nasce justamente de um dos motores dos protestos. Os impasses da democracia contemporânea, apontados por pensadores como Ivan Krastev e Manuel Castells, não são recentes.

Também não se resumem ao debate sobre partidos e eleições: a tão citada ideia de mediação, base do atual modelo representativo, vem sendo posta em cheque nas artes (vozes críticas perderam importância), na história (cuja narrativa foi tomada por grupos antes alijados pelo discurso oficial), na relação com a imprensa (vista por muitos como poder em si, mais do que como intermediário entre o público e o grande poder).

A cultura antiautoridade, que se torna hegemônica nos anos 60 e ganha na internet sua plataforma perfeita --por ser acessível, interativa e horizontal--, é responsável por alguns dos maiores avanços do Ocidente, dos quais os direitos civis são o caso mais visível.

Por outro lado, ela facilmente se transforma numa cultura antiespecialista. Que vem a ser uma cultura antisaber. É outra característica ambígua da democracia: por ser um regime de maiorias, suas manifestações e demandas são as do pensamento médio, ou seja, leigo. Quando não obscurantista: no Brasil, ao contrário do que pensam radicais de bistrô e assemelhados, basear todas as decisões em plebiscitos resultaria --para começar-- em criacionismo nas escolas.

É para proteger minorias, planejamento estratégico e demandas complexas que existem as instâncias intermediárias, idealmente baseadas no acúmulo de conhecimento científico, histórico e social. O representante típico delas tem tido pouca voz: com seu tom de bom aluno, suas planilhas áridas, sua racionalidade sem carisma, ele está perdendo a batalha --por cansaço ou intimidação-- para a militância numerosa, barulhenta e apaixonada.

Nenhum sistema resiste privilegiando apenas a técnica ou a política. A ditadura brasileira foi o paraíso de engenheiros e economistas, que puderam implantar seus projetos sem oposição. Já Pol Pot matava quem usasse óculos no Camboja, pois números e lógica nunca são engajados o bastante.

Há um momento em que é preciso sair dos extremos, mesmo os proporcionalmente menos graves de uma democracia que, como a brasileira, bem ou mal funciona. Até porque um lado não vive sem o outro. Técnica sem política é o caminho para o elitismo autoritário. Política sem técnica é um convite à bagunça paralisante.

Os Jovens do Restelo - NELSON MOTTA

O GLOBO - 05/07

Há dois meses, a presidente Dilma comparava os que criticavam o governo ao Velho do Restelo, de Camões, como símbolo do derrotista agourento. Hoje a rainha está nua. E ninguém ousa lhe contar. O mito da grande gestora ruiu: como mostrou a reportagem de José Casado, seu governo não conseguiu gastar em 2012 nem metade das verbas do orçamento para Saúde, Educação e Transporte — o que desmoraliza qualquer gestão. E também é a prova cabal de que não falta dinheiro para investir, mas capacidade de usá-lo em benefício da população.

Com os assessores e aliados que tem, que se borram de medo dela, a presidente não tem pior adversário do que seu temperamento autoritário, mesmo sendo uma democrata. Um exemplo é a recente sugestão, crítica jamais, do ministro Gilberto Carvalho à presidente, em reunião ministerial para aplacar os protestos: “Temos que estar mais junto dos movimentos sociais. Esta meninada que está nas ruas antigamente estava com a gente. Não está mais.”

Por que será? rsrsrs

Uma pista: 74% dos petistas consultados pelo Datafolha são a favor da prisão imediata dos mensaleiros condenados. Eles também se sentem traídos. Como estar mais junto de movimentos sociais espontâneos, sem lideranças nem manadas domesticadas, que não podem ser cooptados com verbas e cargos? Será que ele não entendeu que as jovens multidões estão contra os privilégios, a corrupção e a incompetência dos governos, do PT e dos demais partidos? Ou tem medo de dizer e a rainha gritar “cortem-lhe a cabeça”?

Na mesma reunião, a ministra Maria do Rosário diagnosticou que “houve um afastamento do governo das demandas dos movimentos sociais. O governo está longe do PT antigo”.

Mas os movimentos sociais da ministra estão longe das ruas, não estão demandando nada além do de sempre, se contentam com verbas e afagos do ministro Gilberto. A UNE, os sindicatos amestrados e os movimentos sociais estatizados não estavam na rua. Quem estava eram os Jovens do Restelo, a classe média, a antiga e a nova, que paga a conta. Para eles, do PT antigo de Zé Dirceu, João Paulo e Genoino, quanto mais longe, melhor.

Ueba! FAB é Folgados A Bordo! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 05/07

SPFC quer dizer São Paulo Freguês do Corinthians. Rarará! Fora Fifa! Saudades de frango caipira!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Jato de spray de pimenta nos folgados que usam jato da FAB. Pra passear: Henrique Alves e Renan Escandalheiros.

FAB quer dizer Folgados A Bordo! FAB quer dizer Força Aérea da Bandidagem!

E não adianta devolver o dinheiro. Não é pelos R$ 0,20, é pela atitude. Ops, altitude! Ou como disse o tuiteiro thiagu83: "Henrique FABalves". Rarará!

E agora a Fifa foi embora e voltamos ao normal: jogo no horário da Globo e São Paulo X Corinthians. A Recopa dos Frangos!

Tava com saudades de frango caipira! Frango do Ceni X Frango do Cássio!

Comentário de um torcedor no CornetaFC: "Carne é Friboi, frango é Cássio". E o Rogério é tão adiantado que já tem o iPhone 8!

E essa: "Mega acumulada! Quer ganhar? O Ceni adianta os números sorteados".

E sabe o que o Cássio falou depois do jogo? "Para no Frango Assado que eu ainda tô com fome."

E sabe o que o Cenil gritou? "Na minha idade não aguento mais frango, manda uma canja de galinha." Rarará!

E o site Neimar revela que o Ceni é tão adiantado que já tá lá no Pacaembu esperando o jogo da volta, no dia 17! Rarará!

SPFC quer dizer São Paulo Freguês do Corinthians! Rarará! Fora Fifa! Saudades de frango caipira!

E sabe o que uma amiga minha disse no Facebook? "O Rogério é tão adiantado que já votou no plebiscito." Rarará!

Plebiscito! Continuo com a minha enquete: "Qual pergunta você acha que não pode faltar no plebiscito?".

Por enquanto já temos três ganhadoras: "Débito ou Crédito?", "CPF na nota?" e "Com ou sem borda recheada?".

E hoje temos mais três: "Gelo e Limão?", "Luz acesa ou apagada?", "Troca todos os políticos agora ou um por vez?". E mais uma: "Ivete ou Claudia Leite?". Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

Os Predestinados! Mais dois para a minha série Os Predestinados!

Foto de uma clínica: "Clínica Vacine-se! Dra Mariza Medeiros AGULHA".

E um amigo me contou que em Curitiba tem um guarda municipal chamado Guardiano! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Aberta a temporada de caça aos marajás? - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 05/07

Quando nosso Yoda do Maranhão, José Sarney, jedi desde os idos de 1964, fala, eu abaixo a orelhinha


Tiro algumas conclusões sobre os protestos que tomaram o país neste inverno do nosso descontentamento, como diria o Will Shakes:

1) Consigo resistir à enorme tentação de subestimar o marqueteiro do PT, João Santana, mesmo depois de ver Dilma diante das câmeras balançando feito coqueiro ao vento; das medidas espetaculosas e de saber que a presidente é aconselhada por luminares como Ideli Salvatti. Tenho por mim que deva haver um ardil muito bem urdido por trás de tanto foguetório mal disparado. Isso tudo só pode ser manobra para distrair o adversário.

2) Greve de médico na av. Paulista vem a ser o melhor local para arrumar uma consulta grátis para tratar de dores na lombar e/ou arranjar um marido muito do bom partido. Ao menos é o que garante minha tresloucada amiga Bucicleide.

3) Velhos hábitos custam a morrer. Renan Calheiros e Henrique Alves parecem dois tabagistas obrigados a largar o cigarro diante da novidade de ter de abrir mão de avião da alegria pago com o nosso tutu. É difícil abandonar o vício, mas é isso ou a danação, né não?

4) Quando nosso Yoda do Maranhão, José Sarney, jedi desde 1964, afirma que Joaquim Barbosa será candidato, é porque está na hora de pegar carona num avião da FAB de partida para a Namíbia, Mali ou qualquer outro país de grande importância estratégica com o qual o Brasil se relacione.

5) Falar das qualidades ou deméritos da democracia representativa antes mesmo de refletir sobre valores e o papel que o mercado e o indivíduo têm na degradação da vida política nacional só pode ser coisa de imediatistas e oportunistas que não se dão conta do empenho que a construção de vida democrática tem exigido nos últimos 25 anos.

Nas páginas amarelas de "Veja" desta semana, por algum motivo misterioso, surge um entrevistado descrito como "A voz que emergiu das ruas". A mim, mais parece um "parvenu", um paraquedista com tanta legitimidade quanto meu defunto cão Pacheco Pafúncio (que se orgulhava de ostentar 450 seguidores no Twitter).

O rapaz, aparentemente carioca, de 31 anos (peço perdão pela minha paranoia pós-manifestação, impregnada de teorias conspiratórias, mas, afinal, sou brasileira, com muito orgulho etc.) com aparência de modelo de comercial de carro 1.0 afirma ter criado há três meses uma página na internet que já tem 800 seguidores. Diz que gastou até agora R$ 400 com cartolina e um megafone. Segundo a "Veja", seu movimento, União contra a Corrupção, mobilizou 4.000 na Candelária. Mas ele admite que nunca gostou de política. "Não entendia porque era tão importante. O que deu o clique foi minha primeira viagem aos EUA no fim do ano passado."

Pois é, e, de repente, ele agora tem opinião sobre tudo, está politizado até o último fio de cabelo, conhece toda a trajetória de Marina Silva, discursa sobre reforma tributária, fala com desenvoltura sobre voto distrital e o peso do Estado no nosso bolso. Camarada é um azougue tão tremendo que em seis meses foi da mais completa ignorância política para as páginas amarelas de "Veja".

Daqui a pouco, camarada é capaz de pedir que a "ordem" presente na bandeira seja restabelecida nas ruas --será? Pois é! Esqueci de men­cionar. Em resposta à pergunta "Há algum líder brasileiro que o senhor admire?", o cidadão, que se diz contra a participação de partidos nas manifestações, como se democracia plena prescindisse de grupos organizados em marchas populares, responde transbordando de cidadania: "Respeito a postura do ministro Joaquim Barbosa".

Para a plateia - - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 05/07

A recente agitação nas ruas, apesar do mau comportamento de uma minoria — o que parece ser infelizmente inevitável —, despertou nos políticos brasileiros, cujo instinto de sobrevivência é reconhecidamente notável, o desejo de convencerem a opinião pública de que, como ela, também se preocupam em melhorar o desempenho da administração pública.

Isso explica a recente crítica do PMDB ao governo federal. Na última terça-feira, a Executiva Nacional do partido, depois de três horas de discussão, divulgou uma nota com críticas tão pesadas quanto surpreendentes à administração da presidente Dilma Rousseff.

O PMDB chegou a sugerir que ela reduza o número de ministérios, para enxugar a máquina do governo e reduzir os seus gastos. O vice-presidente Michel Temer participou da reunião e se esforçou, sem êxito algum, para baixar o tom das críticas à administração de Dilma.

Outros aliados do governo, como Amauri Teixeira, vice-líder do PT na Câmara dos Deputados, acusaram o PMDB do feio pecado de adotar o discurso da oposição. O senador petista Jorge Viana, por exemplo, reconheceu que existe um gigantismo no governo — mas acrescentou que “muitos jogam para a plateia”.

Na verdade, muitos observadores diriam, com razão, que a plateia realmente preferiria menos ministérios e mais ações concretas de verdadeiro interesse público. O PMDB pode estar agindo de forma oportunista, mas certamente procura, pelo menos, ter o aplauso da opinião pública — inclusive dos eleitores que não costumam votar nele. O novo — alguns diriam novíssimo — discurso do partido vai ao encontro do que pensa a fatia do eleitorado que não costuma votar em candidatos aliados do PT.

Pode dar certo com essa guinada, principalmente — talvez exclusivamente — junto aos cidadãos que enxergam no gigantismo da máquina do governo um dos seus defeitos, talvez o mais grave deles.

Mas a nova atitude do partido pode também ser vista como puro oportunismo. A resposta da opinião pública talvez tenha essa opinião, concordando com os petistas que acusam o PMDB de “jogar para a plateia”. Em geral, como provam diversos episódios da história política do país, o eleitor brasileiro costuma saber a diferença entre posições políticas sinceras e guinadas que têm cheiro de manobras, supostamente sinceras, quando, na verdade, não passam de tentativas de ir ao encontro do que pensa a maioria do eleitorado.

A perplexidade diante de um golpe conveniente - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 05/07

Dois anos depois da primavera egípcia que em fevereiro de 2011 destituiu o general Hosni Mubarak, depois de 30 anos de ditadura, eis que irrompe um surpreendente "verão egípcio" que derruba o sucessor de Mubarak, o presidente Mohamed Morsi, da Irmandade Muçulmana.

De uma estação a outra, os atores são praticamente os mesmos: governo, Exército, Irmandade Muçulmana e a população. Mas a sua disposição no cenário não é a mesma.

Na primavera de 2011 a multidão queria a derrubada do regime militar de Mubarak, o que ocorreu de maneira gloriosa. Mas sua vitória foi confiscada pela Irmandade Muçulmana que instalou no governo, no lugar de um militar, um civil, Morsi.

Este ano o exercício foi diferente. A rua, furiosa de se ver privada do seu heroísmo e sua vitória, desesperada com a incompetência e o sectarismo dos novos dirigentes, encurralada e faminta, retomou o combate. E pela segunda vez foi vitoriosa.

Mas o estranho é que o protagonista afastado há dois anos pela revolução, o Exército, canalizou em seu proveito esta segunda onda de tumultos populares e assumiu provisoriamente o poder.

Deparamos com um cenário inédito e praticamente sem precedentes: um governo democraticamente eleito é deposto pela população em cólera, apoiada pelos militares e são estes que ganham. E esse imbróglio é aclamado por uma multidão que só deseja estabelecer a democracia em seu país.

Decididamente, Tocqueville, Maquiavel, Aristóteles ou Raymond Aron não ajudam muito a decifrar o combate de sombras e luzes que arrasta o Egito para onde não sabemos.

É caso de rir ou de chorar? Os Estados Unidos, as democracias, não sabem se estão felizes ou furiosos.

Claro que qualquer coisa é melhor do que o governo catastrófico de Morsi. Mas é preciso reconhecer que o retorno a uma nova e melhor gestão só foi possível graças a um levante popular que terminou com um golpe de Estado militar.

Um golpe de Estado conveniente, sem dúvida apoiado pela sociedade, controlado e decidido a restabelecer a legalidade, mas de qualquer modo foi um golpe.

De maneira que Estados Unidos e outras potências democráticas não sabem agora se devem rir ou chorar. Na verdade estão satisfeitos, mas evitam declarar isso em alto e bom som, temendo arruinar a nobre figura da democracia.

À espera que Paris, Washington ou Berlim delineiem sua reação e seus sentimentos, uma outra pergunta, capital, deve ser levantada: a violenta queda do governo da Irmandade Muçulmana, islamistas considerados moderados e realistas, não marcará uma reviravolta em todo o mundo árabe?

O acesso da Irmandade ao governo do Egito teve um forte conteúdo simbólico. De um lado, o Egito é o maior país árabe. De outro, a Irmandade, que nasceu no Egito em 1928, foi a inspiradora de todas as formas do islamismo que se desenvolveram depois no mundo inteiro, formas furiosas, violentas, e também moderadas e sedutoras.

O fato de a Irmandade egípcia sofrer uma derrota tão radical, depois de apenas um ano no poder, não poderá ser um tremendo golpe para as revoluções árabes, para os islamistas moderados ou radicais? Tomemos como exemplo a Tunísia, que viveu a primeira Primavera Árabe, há dois anos, que, como o Egito, elegeu em seguida um governo islâmico (o partido Ennahda). Ora esse poder islamista é contestado violentamente pela população, em particular as mulheres, que não aceitam o retorno a uma situação arcaica de vida.

Não longe do Egito, na fronteira do Oriente Médio, um outro caso merece ser esclarecido: o enclave palestino de Gaza, em Israel, está nas mãos do Hamas, movimento que nasceu da Irmandade Muçulmana egípcia, porém, mais radical, duro, brutal e sectário. Como o Hamas, regime bastante militarizado e furiosamente islamista reagirá ao desaparecimento do aliado egípcio? Poderíamos lembrar muitos outros casos, por exemplo o da Turquia, governada por uma equipe de islamistas moderados. Ao contrário do Egito, os islamistas moderados da Turquia contabilizaram resultados econômicos brilhantes, e apesar deste sucesso há semanas são acossados pela população descontente.

Poderíamos multiplicar as perguntas, especialmente porque o ocorrido no Cairo, pela geografia, história, política e religião, situa-se no centro palpitante da esfera de influência islâmica.

Ocasiões para voltarmos a este tema não tardarão./
TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO.

Fora com todos eles! - MOISÉS NAÍM

FOLHA DE SP - 05/07

A experiência mostra que derrubar líderes corruptos e ineptos pode ser a parte mais fácil do desafio


Nos anos 90, italianos, russos e venezuelanos estavam tão cansados de seus políticos quanto os brasileiros atuais. A corrupção, que existia havia muito, subitamente tornou-se intolerável. As pessoas também perderam a paciência com a inépcia burocrática e os maus serviços públicos.

"Fora com todos eles" tornou-se o grito que exprimia o sentimento predominante. "Eles", é claro, eram todos os que detinham o poder.

Na Itália, o escândalo de corrupção Tangentopoli, deflagrado por subornos pagos por construtoras, levou a imensas mudanças. Mais da metade do Legislativo foi indiciada.

Os cinco partidos que haviam governado o país desde 1947 desapareceram. As pessoas saíram avidamente em busca de caras novas e, especialmente, de líderes honestos.

Silvio Berlusconi ofereceu seus serviços à nação e, em 1994, três meses após lançar seu partido, tornou-se premiê. Virou o chefe de governo mais longevo da Itália do pós-guerra.

Vladimir Putin era outra dessas "caras novas". Subiu ao poder como resultado de um súbito surto de indignação popular quanto aos políticos, à corrupção e à percepção de que a Rússia estava a caminho de um declínio humilhante.

Como o magnata da mídia Berlusconi, Putin, ex-agente da KGB, explorava os atrativos de se apresentar como "não político". Foi indicado como primeiro-ministro em 1999 pelo presidente Boris Ieltsin, doente e fragilizado politicamente.

Naquele mesmo ano, Ieltsin renunciou e, graças a uma eleição na qual conquistou 55% dos votos, Putin tornou-se o primeiro presidente democraticamente eleito da Rússia. E não saiu mais do Kremlin.

Enquanto isso, na Venezuela, algo surpreendentemente parecido acontecia. Em 1998, o país elegeu uma "cara nova" como líder. Uma vez mais, a corrupção e a exasperação diante do mau estado da economia e dos maus políticos conduziram a uma desesperada ansiedade por "alguém novo".

Hugo Chávez satisfez aquela ansiedade. Como Putin, chegou ao palácio presidencial para ficar. Manteve-se no poder por 14 anos e, quando percebeu que estava doente demais para governar, apontou um sucessor, Nicolás Maduro.

Berlusconi, Putin, Chávez e os três países não podiam ser mais diferentes. Mas os paralelos são notáveis.

Eram todas sociedades cansadas de elites havia muito tempo no poder. Inevitavelmente, encontraram "caras novas", que, depois de eleitas, concentraram poderes, pulverizaram a oposição e governaram por muito tempo.

É triste dizer que Itália, Rússia e Venezuela são sociedades muito doentes hoje. As "caras novas" não fizeram um grande trabalho governando seus países. E a corrupção continua intocada.

A lição não é que líderes que tolerem corrupção e inépcia administrativa não devam ser derrubados. A lição é que derrubá-los pode ser a parte mais fácil do desafio.

Dar poder a um líder que ofereça apenas uma cara nova e retórica sedutora é o verdadeiro perigo. Quando as caras novas chegam ao poder, elas nunca partem. Cuidado.

Olhos externos - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 05/07

Numa webconferência esta semana, a Standard & Poor"s indicou claramente que existe a possibilidade de o Brasil ter sua classificação de risco rebaixada. Alguém pode dizer: "Agências? Quem liga para as agências? Elas erraram tanto!" Apesar dos erros, suas classificações ainda fazem subir ou cair o preço cobrado nos empréstimos aos países ou às empresas. É preciso ficar atento ao que elas dizem.

Além do mais, o Brasil sabe que, de fato, os problemas aumentaram: o governo não investiu o que estava autorizado pelo orçamento nos últimos anos, mas os gastos de custeio aumentaram mais do que as receitas. Houve sucessivos e abusivos truques contábeis que tornaram menos confiáveis os indicadores fiscais, o país cresce pouco e a população está descontente. No meio de tudo isso, um grande grupo empresarial, alavancado principalmente em bancos públicos, está passando por uma traumática reestruturação. O Brasil hoje é um país mais arriscado e, em parte, por erros na condução da política econômica.

Nesse contexto é que a Standard & Poor"s fez esta semana uma conferência pela internet com investidores para dizer como está vendo a economia brasileira. A agência colocou o Brasil em perspectiva negativa e um rebaixamento teria efeito de elevar o custo de captação no país. O processo de revisão é lento, e isso, de certa forma, é sinal de amadurecimento econômico, segundo a S&P, porque houve aumento na confiança internacional depois de quase 20 anos de estabilização econômica. Esse é o ponto positivo.

O negativo é que o diretor para risco soberano da agência Sebastian Briozzo enxerga um enfraquecimento estrutural da economia brasileira, nos últimos anos, com crescimento baixo, divida pública em alta, investimentos fracos, tanto do governo quanto do setor privado. A inflação continua pressionada e há pouco espaço para novos estímulos via gastos públicos e crédito. Ou seja, o governo precisa do investimento privado para voltar a engrenar o PIB, mas não tem conseguido estimular o apetite por risco dos empresários.

Briozzo avalia que a alta popularidade tirou de governo o senso de urgência por reformas estruturais, como da previdência e tributária, que melhorariam a competitividade da economia como um todo. Nesse sentido, a resposta pública às manifestações das ruas será acompanhada de perto pela Standard & Poor"s.

- Essas manifestações podem dar um novo senso de urgência ao governo. Mas como isso vai se transformar em ação é algo que vamos acompanhar de perto. Essa pressão pode levar o governo a fazer grandes reformas ou pode provocar relaxamento fiscal, que, se acontecer, agravará o risco de rebaixamento da nota de crédito - disse.

A revisão do rating acontece em um momento ruim da conjuntura econômica. Hoje, o IBGE divulga o IPCA de junho e é grande a chance de que ele estoure o teto da meta pela décima vez desde o início do governo Dilma. A alta do dólar eleva o risco inflacionário e o custo financeiro das empresas, mas ainda não produziu o efeito positivo que é o de melhora das contas externas. O déficit em transações correntes está em 3,2% do PIB e o país permanece com déficit na balança comercial.

O Ministério da Fazenda tem desmontado todo o arsenal que usou recentemente para impedir a entrada de dólares no Brasil, porque, antes, o fluxo de dólar para o Brasil era abundante. Agora, precisa atrair capital. Tem retirado até as travas contra o capital especulativo e de curto prazo. Uma verdadeira reviravolta, para um governo que até bem pouco tempo criticava os países ricos por provocarem uma tsunami cambial. Um rebaixamento da nota de crédito reduziria esse fluxo de moeda estrangeira.

Seria interessante o governo olhar com mais cuidado para os alertas que são feitos pelas agências de risco e por todos aqueles que têm criticado a política econômica. Nem o Banco Central está fora dessa onda de tentar adaptar os números à versão mais conveniente. Ele mudou o conceito de superávit primário que usa para evitar a explicitação dos problemas que existem hoje dentro desse indicador fiscal. Adianta pouco tapar o sol com a peneira. Melhor seria enfrentar os problemas que vêm tirando credibilidade da política econômica e, portanto, do próprio país.

Uma crise puxa a outra - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 05/07

Faltam recursos financeiros, políticos e imaginação para o governo conter dominó de crises


O GOVERNO ESPERA economizar uns bilhões segurando o dinheiro previsto no Orçamento para emendas parlamentares, a verba picada que os congressistas reservam para a satisfação do seu eleitorado.

Em momentos conturbados, mas nem tanto como agora, soltar dinheiro de emenda parlamentar é um método tradicional de compra de boa vontade no Congresso, como se sabe. Boa vontade com o governo é mercadoria escassa no Parlamento das últimas semanas, para não dizer meses; se escassa, fica mais cara. Com menos recursos para arrebanhar apoio, qual será o efeito da presente barafunda política?

O estoque de prestígio de Dilma Rousseff diminuiu. Seja lá o que aconteça com a aprovação da presidente e de suas perspectivas eleitorais, por ora ela tem menos recursos políticos na caixinha.

O governo não tem dinheiro para fazer a barganha habitual com verbas do Orçamento. Não tem mais meios de inflar seu ministério com cargos de fantasia cara.

Enfim, causou revolta com essa história confusa de fazer o Congresso se emendar (fazer "reforma política"). Isto é, aumentou sua dívida com deputados e senadores, que muitos querem seu fígado, segundo colegas brasilianistas (jornalistas especializados no mundo paralelo de Brasília).

Além de aprovar qualquer projeto que pareça cair no gosto popular, tanto faz se financeira ou politicamente absurdo, parte grande do Congresso quer vingança, quer mostrar que está podendo: que pode fazer estragos nas contas e no prestígio de Dilma Rousseff.

Onde isso vai dar? Por enquanto, é possível dizer apenas que isso vai dar em desgoverno pelo menos transitório, pois não se sabe o que tende a dizer "a voz das ruas" a respeito da politicalha.

É especulativo, mas o povo pode bem achar que a "resposta dos políticos" a seja lá o que for o que os manifestantes queriam foi apenas mais política politiqueira, um motivo aparentemente maior da nebulosa ira das ruas.

Pode ser que a confusão politiqueira desbaste ainda mais o prestígio de Dilma, com o que pareceria lucrativo e razoável articular um bloco político de apoio a uma candidatura alternativa. Nova queda de Dilma nas pesquisas suscitaria a ideia de mudança no governo em 2014 sem que a alternativa de poder esteja clara, o que deixaria mais nervosos os donos do dinheiro grosso.

Por ora, o clima já não está bom: há algum tumulto financeiro no mundo rico e os problemas já conhecidos no Brasil vão limitar ainda mais o crescimento.

Decerto, nada disso está dado. Depende da habilidade (ora escassa em qualquer parte) de levar a "voz das ruas" para cá ou lá. A desordem financeira que prejudica o Brasil pode arrefecer.

Pode ser que em outubro o governo venda bem aeroportos e direitos de exploração de petróleo, o que mostraria "a confiança dos investidores no Brasil" (imagem é quase tudo etc.). Mesmo a desordem política em Brasília pode dar em nada se não surgir alguém para organizar e lucrar com a má vontade em relação ao governo.

O problema é que há muito fio desencapado, e o governo ainda não sabe como isolar essas crises várias de modo a evitar choques e incêndios.

A tempestade perfeita - CLAUDIA SAFATLE

VALOR ECONÔMICO - 05/07

Mercado externo praticamente fechado para novos créditos a países emergentes, economia da China em franca desaceleração, aperto do crédito doméstico pelos bancos privados, famílias endividadas, queda da produção industrial, fim do crescimento acelerado do emprego, inflação resistente e juros em alta.

Para os mais pessimistas, essa combinação se configura como uma "tempestade perfeita". Para os que cultivam uma certa dose de otimismo e creem no instinto de sobrevivência do ser humano, está aí a oportunidade para uma guinada do governo Dilma Rousseff. Hora de a presidente dar um "choque de confiança".

Hoje, o IBGE divulga a inflação de junho. A taxa acumulada em 12 meses vai ser ruim, sobe para a casa dos 6,8%. A expectativa do Banco Central, implícita no Relatório de Inflação, é de uma variação da ordem de 0,36% do IPCA no mês. Desde maio, portanto, a inflação mensal anualizada está próxima da meta de 4,5%. Isso ainda não é garantia de que os preços, agora, estão sob estrito controle. A desvalorização da taxa de câmbio prossegue e não há muita certeza sobre quão limitado é o repasse cambial para a inflação.

Ademais, houve um cerco a alguns preços administrados ou monitorados por contratos que em, algum momento, terão que ser liberados. Em 12 meses até maio, os preços livres aumentaram 8,11%. Os administrados, apenas 1,54%. Isso sem considerar os recentes adiamentos ou congelamentos de tarifas de ônibus e pedágio.

A queda de 2% da produção industrial em maio e os indicadores de atividade ainda preliminares, porém fracos, para junho levaram o mercado a precificar um aumento mais moderado da taxa Selic, sob o risco de a elevação demasiada dos juros colocar a economia de joelhos e gerar desemprego. Os que apostavam em uma elevação de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nos dias 9 e 10, reviram a decisão para 0,50 ponto percentual.

Diante da dimensão dos problemas econômicos que fazem lembrar os períodos de estagflação, fruto de mudanças na cena internacional e de esgotamento de um modelo de crescimento doméstico, o governo decidiu ceder na política fiscal.

Até o início da próxima semana, às vésperas da reunião do Copom, o Ministério da Fazenda vai expor os cortes no Orçamento deste ano para garantir o cumprimento da meta de superávit primário de 2,3% do Produto Interno Bruto (PIB). De fortemente expansionista, e em direção contrária à do aperto monetário, a gestão do gasto público tende a ser, depois dos cortes, entre neutra e contracionista para a economia. Seria importante, também, o governo se pronunciar sobre a meta fiscal para 2014, assim como moderar na expansão do crédito dos bancos públicos e na emissão de dívida para financiar toda a sorte de despesas, programas e projetos.

Na reunião ministerial de segunda feira, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, foi enfático na necessidade de o governo apresentar uma meta crível para o superávit primário, lembrou que a taxa de câmbio é uma variável sob a qual o BC não tem controle e que seu impacto na inflação não é algo trivial, mas será menor do que foi em 2008-2009. Salientou que há dois meses a inflação anualizada está na meta. E disse, ainda, que a vantagem em relação à crise financeira de 2008 é que, agora, as empresas brasileiras não estão expostas a ativos tóxicos.

A desvantagem, que ele não mencionou, é que os indicadores da atividade econômica não sustentam a tão anunciada recuperação e o aumento do investimento, ansiosamente aguardado, não se confirma.

Analistas de mercado passaram a considerar, de uns dias para cá, o risco de uma contração do PIB no terceiro trimestre. Essa ainda não é uma previsão, mas um temor. As expectativas de crescimento para o ano estão sendo rebaixadas para a casa de 2% ou menos.

O governo deposita suas esperanças nas concessões de serviços públicos ao setor privado e nos leilões de petróleo, aguardados para outubro. O leilão do campo de Libra pode render de R$ 15 bilhões a R$ 20 bilhões, que vão ajudar no cumprimento da meta fiscal. E, somados às concessões, devem dar um impulso nos investimentos em logística no país.

Não se espera que as intervenções nos preços de pedágios e tarifas de ônibus, feitas em resposta às manifestações de protestos por todo o país, sejam um desestímulo para as empresas que vão explorar serviços públicos.

Para a política monetária, a ajuda de uma meta fiscal explícita e crível e a fragilidade da atividade econômica são questões que podem representar uma nova equação, que ajudará na ancoragem das expectativas inflacionárias, batalha que o Banco Central não tem conseguido vencer ao longo deste governo.

Ontem, em pronunciamento no Senado, o Ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, reconheceu que "o foco principal da autoridade monetária deve ser a inflação".

Assim como o momento se apresenta como uma oportunidade para Dilma dar um choque de credibilidade no seu governo, para o Banco Central é, também, uma boa ocasião. Uma das escolhas disponíveis ao Comitê de Política Monetária é seguir com calma no seu trabalho de conduzir o ciclo de aumento da taxa de juros, incorporando a desaceleração econômica como um elemento adicional para domar as expectativas de inflação.

Governança em foco - RODOLFO LANDIM

FOLHA DE SP - 05/07

Segurança na internet e ativismo dos acionistas são temas de interesse para empresas de capital aberto


Há cerca de 20 anos e de forma pioneira, a conceituada Universidade Stanford, nos Estados unidos, criou um programa educativo direcionado a membros de conselhos de administração de empresas de capital aberto.

Desde então, são selecionados e debatidos por três dias, em um único programa anual, temas de caráter estratégico que venham causando impacto na governança das grandes empresas. Os deste ano estão aqui destacados.

Uma preocupação crescente no ambiente empresarial é a segurança cibernética. Uma especialista no assunto do FBI afirmou que entre as grandes empresas existem apenas dois grandes grupos: as que já sofreram ações de hackers e as que sofrerão ataques novamente.

Um aspecto interessante é que 60% delas, quando alertadas pelo FBI, não tinham conhecimento do que estava acontecendo.

O objetivo principal é o roubo de propriedade intelectual envolvendo projetos de produtos e planos de negócio. Um alerta especial foi feito em relação a empresas com negócios na China cujas atividades não são segregadas e protegidas por firewall. Elas devem partir da premissa de que o governo chinês está espionando tudo o que elas fazem.

Outro enfoque grande foi dado ao chamado ativismo. Trata-se da crescente atuação de acionistas de empresas, normalmente grandes fundos de investimento, junto a conselheiros de companhias para que estes tomem ações voltadas aos seus interesses.

Historicamente, quando em desacordo com a forma de atuação da alta administração de uma companhia, a posição passiva tomada era apenas a venda de suas ações.

Foram debatidos exemplos em que o ativismo foi utilizado para desestabilizar companhias tornando-as alvos mais fáceis para aquisições.

Também foram comentados casos ativismo "positivo", como o da Apple, empresa que possui US$ 137 bilhões em caixa e que se nega a distribuir parte desse dinheiro como dividendo, mesmo não tendo planos de aquisições ou necessidades de caixa, mesmo nos cenários mais críticos de liquidez, que justifiquem a manutenção desses recursos na companhia.

Debates interessantes envolveram o papel do Conselho de Administração (CA), sua estrutura e o desejável perfil dos conselheiros.

Ainda hoje, a grande maioria das empresas americanas tem depositado na mesma pessoa o papel de presidente do CA e presidente-executivo da companhia (CEO).

Um conflito que surge é que, além de ajudar a definir a estratégia da companhia e aconselhar o CEO, talvez o mais importante papel do CA seja o de admitir e demitir o CEO.

Assim, apontar um conselheiro externo líder nesses casos, para conduzir as agendas que envolvam a avaliação do desempenho dos executivos da empresa, é algo que vem sendo muito adotado.

Além disso, aumenta a tendência de buscar maior diversidade, principalmente de sexo, mas também de raça e origem geográfica na composição dos conselhos.

Outro tema bastante discutido coincidentemente se encontra na agenda da reforma política brasileira: as contribuições de campanha.

Hoje, os acionistas das companhias buscam a cada dia maior divulgação dos valores doados e de benefícios concedidos a políticos pelas empresas, principalmente durante o período de eleições.

Em consequência, práticas de governança começam a ser estabelecidas no CA como forma de implantar "supervisão adulta" nas ações dos executivos, que por muitas vezes ocorrem por trás dos bastidores.

Por fim, foi abordado o poder crescente de alguns organismos independentes, notadamente a International Shareholder Service (ISS), que emitem a todos os seus clientes recomendações de voto para as assembleias ordinárias de acionistas.

Os relatórios emitidos por essas instituições, hoje, acabam servindo no mínimo para validar as visões de acionistas em relação à eleição de membros do CA, definição dos pacotes de remuneração dos executivos e outros temas.

Com isso, o índice de aprovação nas votações tem sido por vezes significativamente inferior aos 95% tradicionais quando ocorrem orientações de rejeição pelo ISS.

Que as boas práticas de governança sejam universalizadas.

Despindo um santo para vestir outro - ROBERTO FENDT

O ESTADÃO - 05/07

Há a um evidente desconforto com o rumo que está tomando o comércio exterior neste ano. Nos primeiros cinco meses de 2013, as exportações estão em queda, relativamente ao mesmo período do ano passado. Pior: estão em queda tanto os preços como as quantidades exportadas, E estão em queda tanto as vendas de manufaturados como as exportações de produtos básicos e semi-manufaturados. Do lado das importações, os valores são recordes para a última década A expectativa corrente, e de um saldo da ordem de US$ 6 bilhões este ano, comparado com valores da ordem de US$ 30 bilhões em 2011 e US$ 20 bilhões em 2012.
Alguém poderá alegar que esses resultados são transitórios e explicáveis por fatores conjunturais que estão afetando nosso comércio exterior somente no curto prazo. Entre esses fatores, a expansão da liquidez internacional teve como principal efeito a valorização das moedas da maioria dos países emergentes. Essa valorização penalizou as exportações e incentivou as importações, deteriorando o saldo comercial. Também se poderá atribuir parte da queda das nossas exportações à desaceleração do crescimento da economia chinesa. Tudo isso é verdadeiro, exceto a conclusão de que os efeitos negativos serão passageiros e que não afetarão a inserção competitiva da produção nacional nas cadeias internacionais de valor. Infelizmente, nos entraves estruturais à inserção competitiva do Brasil residem as maiores ameaças que enfrentaremos no futuro.
Ao longo das últimas décadas, as trocas internacionais, dominadas pelo comércio de bens finais, foram se transmutando gradualmente para uma participação crescente de partes, peças e componentes no total dos fluxos de comércio. Essa mudança ocorreu pelo aumento do comércio intrafirmas, entre partes relacionadas e dentro de cadeias produtivas. Contribuíram para esses desenvolvimentos as expressivas reduções nos custos de transporte e das comunicações. O resultado final foi uma crescente desagregação e dispersão geográfica da produção.
Grandes mercados internos, um dos principais ativos das economias espacialmente maiores, vão perdendo importância à medida que cresce a interdependência dos processos produtivos e o; acesso ao maior dos mercados, o mercado internacional.
É o reconhecimento desses fatos novos que levou a China a buscar integrar-se às cadeias de valor internacional. O grande salto para a frente da economia chinesa baseia-se na rejeição do modelo autárquico de desenvolvimento em favor da alternativa de inserção competitiva no comércio internacional contemporâneo. Seu desenvolvimento é orientado para e pelo mercado externo e voltado para a exportação.
Infelizmente, estamos na contramão dessas tendências. Está em vigor desde outubro do ano passado a Resolução Camex n.° 70, que determina o aumento temporário da alíquota do imposto de importação para 100 itens produzidos no País. Por decisão da Comissão de Comércio do Mercosul (CCM39/11), o Brasil foi formalmente autorizado a adotar a medida. Pleiteia-se agora, a ampliação da medida para outros 100 itens da pauta de importação.
O objetivo apontado da medida foi o permitir uma maior margem de manobra para lidar com a crise econômica internacional. Ocorre que o grupo de 100 itens que sofreram aumento de tarifas incluiu insumos, bens intermediários e também bens de capital e suas partes. Segundo a Abiplast, o aumento da tarifa de importação sobre insumos já pressiona o custo de produção e tirou a competitividade da indústria doméstica. O mesmo está se passando em outros segmentos de nossa indústria.
Reconhece-se que a proteção deve ser temporária para não resultar em falta de eficiência e dê competitividade. Mas o País tem uma longa tradição de medidas transitórias que se eternizam, penalizando a inserção das empresas brasileiras nas cadeias internacionais de valor. Medidas dessa natureza abrem perigoso precedente. Elas têm claro caráter protecionista e, como tal, despem um santo para vestir outro. No longo prazo, pela ineficiência que geram, prejudicam a todos. Especialmente os consumidores, os ignorados em todos os processos protecionistas.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 05/07

Recessão na Europa é o maior problema turco, diz executivo
"Problemas nacionais [na economia]? Não, não temos", afirma o presidente da Tuskon (Confederação de Empresários e Industriais da Turquia), Rizanur Meral.

É um discurso de apoio à política econômica do premiê Tayyip Erdogan, totalmente voltada ao mercado externo e que pretende alavancar os embarques dos atuais US$ 150 bilhões para US$ 500 bilhões até 2016.

"Nosso maior problema é a recessão na Europa, e o segundo, o Oriente Médio", diz.

"Antes, 60% das nossas exportações eram para o mercado europeu. Agora, são 30%. A recessão fez a demanda cair muito. No Oriente Médio, com problemas de instabilidade política como o da Síria, o crescimento é ao redor de 5%, mas costumava ficar na casa dos dois dígitos."

O mercado interno não é interessante, diz Meral, por ser limitado a uma população de 75 milhões de habitantes.

"Nossa capacidade de produção é alta. Não podemos consumir tudo. Por isso, acreditamos que a sobrevivência da Turquia depende das exportações", acrescenta.

Nesse cenário, o Brasil passou a ser visto como um país com potencial e que precisa ser mais explorado.

"A razão pela qual não vendemos mais não é qualidade ou falta de competitividade, é falta de conhecimento. Conforme conhecerem a Turquia melhor, os negócios crescerão."

Meral quer que o Brasil seja a porta de entrada dos turcos na América Latina.

NOVA DISPUTA DE VENTO
O governo federal incluiu a participação da fonte eólica no leilão A-3, previsto para ocorrer em outubro deste ano, segundo Mauricio Tolmasquim, presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).

O segmento de energia solar também foi colocado na lista para esse leilão, com entrega em três anos.

Com a definição, o setor eólico participará de dois leilões em 2013. Em agosto, haverá uma rodada para energia de reserva, que teve 655 projetos inscritos para nove Estados (no Sul e Nordeste do país).

As disputas marcadas para este ano demonstram otimismo do governo ante o cenário de 2012, quando houve apenas um pregão.

A geração de energia eólica representa atualmente 1,6% da matriz brasileira.

BANCO FIADOR
A CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) desenvolveu um projeto para obrigar as empresas que compram e vendem energia a terem um banco que garantirá o pagamento das operações.

A ideia é que a instituição financeira ajude a diminuir a inadimplência do setor ao atuar como uma espécie de fiadora, diz Ricardo Lima, conselheiro do órgão.

"O banco deverá determinar o limite até o qual poderá ser responsável pelo pagamento", afirma.

A proposta foi apresentada para a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), que abriu audiência pública para discutir o projeto.

Essa é a segunda medida desenvolvida pela CCEE para tentar conter a falta de pagamentos no setor.

A primeira está em vigor desde o começo do ano e suspende contratos quando os agentes não realizam um depósito financeiro 12 dias antes da liquidação.

"O nível de inadimplência atual varia de 1% a 2%. Com a nova medida, queremos que se aproxime de zero", diz o presidente da CCEE, Luiz Eduardo Barata Ferreira.

A expectativa é que os bancos sejam obrigatórios nas negociações já em 2014.

SAÚDE MAIS CARA
Contratos de planos de saúde coletivos com limite de 30 beneficiários tiveram reajuste de até 43,2% a partir de maio. Na média, a expansão foi de 11,9%, segundo o Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), que pesquisou 61 operadoras.

"A resolução da ANS que entrou em vigor em maio para evitar altos reajustes nesses contratos não trouxe resultados", afirma Marilena Lazzarini, presidente do conselho diretor do Idec.

A norma determinou que as operadoras devem agrupar os contratos de até 30 vidas e calcular um percentual único de aumento, com intuito de diluir os custos. Antes, os reajustes eram feitos um a um.

Ao contrário do que ocorre nos planos individuais, a elevação de valor nos coletivos não é definida pela ANS (Agência Nacional de Saúde), mas em negociação direta com a operadora de saúde.

Três empresas, segundo o Idec, corrigiram os planos de 30 beneficiários acima de 20%: São Francisco Saúde (22,3%), Admédico (32,1%) e São Domingos Saúde (43,2%).

Procuradas, só a São Francisco informou, em nota, que seguiu a norma da ANS e que o aumento foi calculado por uma assessoria especializada. As demais operadoras não se manifestaram.

A agência disse que a resolução torna mais estável o reajuste dos contratos e que, como ela começou a vigorar em maio, ainda não é possível avaliar seus efeitos.

43,2%

foi o reajuste mais alto encontrado pelo Idec

5 MILHÕES

são os beneficiários de planos coletivos de até 30 pessoas

EMBARQUE COM OU SEM SOL
O porto de Paranaguá, no Paraná, fez nesta semana o primeiro teste de uma cobertura para navios que possibilita o carregamento de grãos mesmo durante a chuva.

O protótipo em escala real ficou pronto após 14 meses de criação. A Appa (administração dos portos do Estado) planeja colocar o equipamento em operação ainda neste ano.

"Hoje, quando ameaça chover, é preciso paralisar [o carregamento], porque produtos como soja e milho podem estragar com a umidade", diz o superintendente da autarquia, Luiz Henrique Dividino.

Até junho, o porto teve 51 dias de paralisações nas operações por causa da chuva.

O aporte de R$ 1,3 milhão é das empresas com terminais privados no porto. Haverá novos gastos até a operação.

PROPOSTAS DA INDÚSTRIA
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) prepara uma série de propostas para levar ao governo federal com o intuito de melhorar a competitividade do Brasil.

Essa é uma segunda fase após a divulgação do Mapa Estratégico da Indústria, lançado pela entidade em maio e feito com a colaboração de cerca de 500 empresários.

O documento traçou estimativas e metas de desempenho para a economia brasileira para os próximos dez anos e também apontou os gargalos que precisam ser superados pelo país.

Agora, com as propostas, a entidade deve trabalhar para atingir as metas previstas.

DESCANSO TRIBUTADO
O consumidor paga quase 30% de imposto sobre pacotes de viagens, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, cujos dados alimentam o impostômetro da Associação Comercial de São Paulo.

Os tributos também são quase um terço dos preços das entradas de teatro e cinema e das diárias de hotel. No preço das passagens aéreas, eles correspondem a 22%.

No próximo sábado, o impostômetro da entidade vai atingir a marca de R$ 800 bilhões --cinco dias mais cedo do que no ano passado.

"Mesmo com o crescimento mais baixo e com as desonerações, os impostos ainda aumentaram", afirma o presidente da associação, Rogério Amato.

O CANTOR E O POETA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 05/07

Antes de subir ao palco para o show de abertura da Flip, anteontem, Gilberto Gil recebeu o poeta Thiago de Mello, 87, na pousada onde está hospedado em Paraty. O cantor foi saudado pelo amigo ao som de sua canção "Beira-Mar". "Nós nos amamos há bastante tempo", foi logo explicando o amazonense para curiosos que se juntaram na janela para ver o encontro.

Em seguida, presenteou o compositor baiano com um exemplar de "Estatutos do Homem", seu poema mais conhecido. Fez uma dedicatória ao casal Flora e Gil: "Pelo exemplo luminoso de que o amor perdura, quando transforma o seu milagre no poder real sagrado de saber amar".

Gil retribuiu. "Thiago é um daqueles poetas naturais, como os pés de planta. Já pertence à flora." O amazonense se emocionou ao lembrar que os versos do baiano foram um alento durante o exílio na Alemanha nos tempos da ditadura. "Ouvir Procissão' me dava forças."

O poeta, palestrante do Centro Cultural Sesc Paraty, afirma: "O Brasil hoje se inclina perigosamente para a perda da ética, uma doença contagiosa". Tem esperança, no entanto, na recente onda de manifestações. "É nas ruas que começam as mudanças." O roteirista Paulo Lins, a atriz Ana Petta, o editor Luiz Schwarcz e o prefeito de Paraty, Carlos José Gama Miranda, o Casé, também estiveram na feira.

FAÇA O QUE EU DIGO
O senador Aécio Neves (PSDB-MG) é duro quando se trata das obras da Copa 2014 e propõe até CPI em Brasília para investigá-las. Em Minas Gerais, no entanto, a história é outra. Lá, são os deputados da oposição que querem examinar a parceria que o governo tucano fez para a reforma do estádio do Mineirão. Até agora, em vão. O grupo de apoio ao senador e a seu sucessor, o governador Antonio Anastasia, não deixa a ideia vingar.

QUINTAL
O deputado Paulo Guedes (PT-MG), líder da oposição a Anastasia, afirma que "o grupo do Aécio não deixa ter CPI em Minas". Até ontem, ele já tinha coletado 22 das 26 assinaturas necessárias para investigar supostas "irregularidades nas licitações e custos" do Mineirão. A obra custou R$ 695 milhões. Guedes diz: "Quem não assinar vai ter que se explicar".

QUINTAL 2
Já o líder do maioria, Gustavo Valadares (PSD), nega que o governo mineiro faça pressão contra a criação de comissões. "O que nós não deixamos é que, de forma irresponsável, se criem CPIs apenas para desestabilizar um governo que vem dando certo", afirma. Já contra o governo Dilma Rousseff, Valadares acha que a investigação é válida. "As obras de mobilidade e infraestrutura estão todas atrasadas."

APERTADINHO
Alex Atala e Facundo Guerra vão reabrir o bar Riviera, na esquina da rua da Consolação com a avenida Paulista, no dia 16 de setembro, ao som da Riviera Jazz Band, formada para tocar na casa. Não haverá festa, já que eles têm 2.000 nomes para convidar e só 250 lugares.

CORTINA
José Wilker e Zezé Polessa voltam ao teatro depois de mais de quatro anos em "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", com estreia marcada para setembro, no Rio. Gringo Cardia assina a direção de arte.

A montagem, do projeto Vivo EnCena, chega a São Paulo em março.

OMBRO AMIGO
Tony Bellotto almoçava sozinho no restaurante Skye, do hotel Unique, na terça, quando foi surpreendido pelo choro da garçonete que o servira. A jovem foi avisada de que a mãe acabara de morrer. O músico e escritor deixou de lado o livro que estava lendo e foi até ela.

Ao saber o que aconteceu, o marido de Malu Mader consolou a funcionária.

TAPETE VERMELHO
O encontro de Danny Glover com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, na terça, em Brasília, foi avaliado como o ponto alto da mobilização pelo direito de sindicalização dos funcionários de uma fábrica da Nissan, no Mississipi, nos EUA. Carvalho disse a ele que vai dar o recado à montadora. "As empresas recebem muitos subsídios no Brasil e precisam cumprir esses direitos", declarou Carvalho.

CURTO-CIRCUITO
A peça "Os 39 Degraus" reestreia hoje, com Rosanne Mulholland no lugar de Carol Castro. Às 21h30, no teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista. 12 anos.

Edoardo Tonolli, Luigi Tonolli e Nick Johnston inauguram hoje uma nova loja da Bacio di Latte, no shopping Morumbi.

O empresário Sergio K comemora seu aniversário hoje, no Jardim Europa.

A mostra "Videoarte 2013", do Oi Futuro, será apresentada em Lisboa a partir de segunda.

Gol contra - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 05/07

O anúncio de Michel Temer de que o plebiscito não valeria para a eleição de 2014, como defende Dilma Rousseff, frustrou a tática do governo de jogar no colo do Congresso o "enterro'' da proposta. Integrantes do Planalto e parlamentares aliados relatam que ficou combinado na reunião ontem, no Jaburu, que não se falaria sobre calendário até a semana que vem. Mas o vice-presidente surpreendeu ao cometer, segundo um interlocutor, "sincericídio'' sobre o destino do plebiscito.

Folhetim Um petista que ajudou a boicotar a consulta popular compara a proposta à personagem de Regina Duarte na novela "Roque Santeiro". "Esse plebiscito é como a Viúva Porcina: foi sem nunca ter sido", disse.

À flor... Ideli Salvatti (Relações Institucionais) chorou na reunião de ontem da direção do PT ao falar sobre as dificuldades que o partido e o governo estão enfrentando.

...da pele Criticada pelas falhas na interlocução do governo com o Congresso, a ministra precisou lembrar aos dirigentes que também é defensora do partido.

Carona Na reunião, o PT admitiu "abrir diálogo" com o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, que pretende apresentar um projeto de lei de iniciativa popular para a reforma política, caso o plebiscito naufrague.

DR Hoje, a presidente receberá no Planalto um grupo de parlamentares do PT. Em coro com os aliados, os deputados do partido de Dilma têm atacado a condução do núcleo duro do governo na relação com o Legislativo.

Piquete Em meio à tentativa de reação do Congresso às passeatas, Renan Calheiros (PMDB-AL) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) receberão na terça-feira as centrais sindicais para discutir vetos de Dilma a pautas trabalhistas, como o fator previdenciário.

Pacote Quando autoridades usam aviões da FAB, como nos casos recentes de Renan e Henrique Alves, são designados dois pilotos militares e um sargento para atuar como comissário de bordo. Os passageiros usam salas VIP em aeroportos que têm bases militares.

Camarote A convite da Fifa, Beto Richa (PSDB) viajou ao Rio no último domingo, para assistir à final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha, no avião oficial do governo do Paraná. O tucano justifica que o jogo foi um compromisso oficial, já que Curitiba será uma das sedes da Copa do Mundo.

Econômica Richa foi acompanhado de seu filho ao jogo, mas ele seguiu em um voo comercial, segundo a assessoria do governador.

Semiaberto O senador Antonio Carlos Rodrigues (PR-SP) vai apresentar emenda ao projeto que acaba com voto secreto no Legislativo, para manter sigilo para indicação de membros de tribunais. A justificativa é evitar que ministros do STF tenham de se dizer impedidos de julgar ações contra senadores.

Superstar Além de ter participado ontem do "Programa do Ratinho", no SBT, Marina Silva (Rede) também gravou entrevista para o "É Notícia", da Rede TV!, que vai ao ar domingo. A ex-senadora criticou o papel de Dilma na condução da crise política e disse que falta à presidente postura de estadista.

Na bomba Fernando Haddad (PT) vai tentar convencer Dilma a apoiar o repasse da Cide aos municípios para subsidiar investimentos em transporte público. O prefeito levará estudo da FGV que mostra que a medida não teria impacto sobre a inflação, receio da presidente.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"Se esse fosse um regime parlamentarista, Dilma já teria caído. O líder Arlindo Chinaglia está falando sozinho, como Dom Quixote."
DO DEPUTADO WALTER FELDMAN, articulador da Rede Sustentabilidade, sobre as dificuldades enfrentadas pelo governo nas negociações com o Congresso.

contraponto


Cartografia ideológica
Quando a Câmara de São Paulo discutia um projeto de lei para alterar nomes de ruas batizadas em homenagem a militares ligados à ditadura, em abril, o vereador Andrea Matarazzo (PSDB) questionou a motivação de seus colegas que apoiavam a proposta. A maioria era de partidos de esquerda, como o PC do B e o PT.

Com ironia, o tucano disse no plenário que pretendiam mudar o nome da rua Direita, no centro da cidade.

--Daqui a pouco, vão querer mudar o nome da rua Direita para rua Esquerda, porque podem achar que a direita é algo ruim! Isso pode acontecer!