sexta-feira, julho 05, 2013

Uma crise puxa a outra - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 05/07

Faltam recursos financeiros, políticos e imaginação para o governo conter dominó de crises


O GOVERNO ESPERA economizar uns bilhões segurando o dinheiro previsto no Orçamento para emendas parlamentares, a verba picada que os congressistas reservam para a satisfação do seu eleitorado.

Em momentos conturbados, mas nem tanto como agora, soltar dinheiro de emenda parlamentar é um método tradicional de compra de boa vontade no Congresso, como se sabe. Boa vontade com o governo é mercadoria escassa no Parlamento das últimas semanas, para não dizer meses; se escassa, fica mais cara. Com menos recursos para arrebanhar apoio, qual será o efeito da presente barafunda política?

O estoque de prestígio de Dilma Rousseff diminuiu. Seja lá o que aconteça com a aprovação da presidente e de suas perspectivas eleitorais, por ora ela tem menos recursos políticos na caixinha.

O governo não tem dinheiro para fazer a barganha habitual com verbas do Orçamento. Não tem mais meios de inflar seu ministério com cargos de fantasia cara.

Enfim, causou revolta com essa história confusa de fazer o Congresso se emendar (fazer "reforma política"). Isto é, aumentou sua dívida com deputados e senadores, que muitos querem seu fígado, segundo colegas brasilianistas (jornalistas especializados no mundo paralelo de Brasília).

Além de aprovar qualquer projeto que pareça cair no gosto popular, tanto faz se financeira ou politicamente absurdo, parte grande do Congresso quer vingança, quer mostrar que está podendo: que pode fazer estragos nas contas e no prestígio de Dilma Rousseff.

Onde isso vai dar? Por enquanto, é possível dizer apenas que isso vai dar em desgoverno pelo menos transitório, pois não se sabe o que tende a dizer "a voz das ruas" a respeito da politicalha.

É especulativo, mas o povo pode bem achar que a "resposta dos políticos" a seja lá o que for o que os manifestantes queriam foi apenas mais política politiqueira, um motivo aparentemente maior da nebulosa ira das ruas.

Pode ser que a confusão politiqueira desbaste ainda mais o prestígio de Dilma, com o que pareceria lucrativo e razoável articular um bloco político de apoio a uma candidatura alternativa. Nova queda de Dilma nas pesquisas suscitaria a ideia de mudança no governo em 2014 sem que a alternativa de poder esteja clara, o que deixaria mais nervosos os donos do dinheiro grosso.

Por ora, o clima já não está bom: há algum tumulto financeiro no mundo rico e os problemas já conhecidos no Brasil vão limitar ainda mais o crescimento.

Decerto, nada disso está dado. Depende da habilidade (ora escassa em qualquer parte) de levar a "voz das ruas" para cá ou lá. A desordem financeira que prejudica o Brasil pode arrefecer.

Pode ser que em outubro o governo venda bem aeroportos e direitos de exploração de petróleo, o que mostraria "a confiança dos investidores no Brasil" (imagem é quase tudo etc.). Mesmo a desordem política em Brasília pode dar em nada se não surgir alguém para organizar e lucrar com a má vontade em relação ao governo.

O problema é que há muito fio desencapado, e o governo ainda não sabe como isolar essas crises várias de modo a evitar choques e incêndios.

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