terça-feira, março 19, 2013

Maria Bonita e Lampião - ANCELMO GOIS


O GLOBO - 19/03

Eduardo Campos se encontrará segunda com Dilma, sua principal adversária na eleição de 2014.
A presidente vai inaugurar várias obras em Serra Talhada, terra de Lampião, no interior pernambucano.

Aliás...
Na última conversa dos dois, Campos criticou a falta de diálogo de Dilma com empresários. A presidente, bem-humorada, argumentou:
— Eduardo, você quer que eu convide banqueiros para dizer que, com a queda da taxa de juros, eu reduzi os lucros deles?

Anas ou Anes?
Ontem, na visita do governador de Minas, Antonio Anastasia, à Associação Comercial do Rio, a atração foi um senhorzinho que roncava a uns 80 decibéis.

Nesse clima sonolento, o tucano Luiz Paulo Corrêa da Rocha chamou de “Anestesia” o colega de partido.

Faz sentido.

Lá vem o noivo
Quinta agora, Jair Bolsonaro, 58 anos, vai se casar com Michele, 32 anos, no Alto da Boa Vista, no Rio.

A cerimônia será feita pelo pastor Silas Malafaia.

Banco das micros
Em janeiro, o BNDES liberou a maior quantidade de recursos de sua história, em um único mês, para as microempresas.

Foram mais de R$ 2,6 bilhões ou 25% do total desembolsado.

Maria Chuteira
Neymar gravou uma cena para a próxima novela das nove, de Walcyr Carrasco.

Ele é atacado por uma periguete, personagem de Tatá Werneck, que quer ter um filho com o craque. 


‘Estou indignado

O ator Murilo Rosa, 42 anos, o Élcio de “Salve Jorge”, deu queixa sexta passada, acompanhado do advogado Ricardo Brajterman, na Delegacia de Repressão a Crimes de Informática.

É que circulam na internet fotos em que o ator aparece nu. Trata-se de uma reprodução de um trecho de um vídeo íntimo recente que o ator fez com a mulher, a modelo Fernanda Tavares.

Segue...
Murilo descobriu que as imagens tinham vazado depois de receber uma mensagem de texto no celular. Em seguida, uma pessoa telefonou, explicitando uma chantagem:

— Estou indignado. Foi um crime contra a minha privacidade e a da minha mulher, num ambiente familiar. Não vou sossegar enquanto não descobrir o responsável por essa ameaça.

Como se sabe...
Depois do episódio em que 36 fotos da atriz Carolina Dieckmann nua caíram na rede, o Congresso aprovou a lei contra crime virtual, com pena que varia de três meses a dois anos de prisão.

Mensalão
Lançado há menos de um mês pela Record, “Mensalão”, do coleguinha Merval Pereira, ganhou sua terceira edição.

Rumo a NY
A artista plástica Maitê de Queirós Mattoso vai expor na Art Fair NYC 2013 (Feira de Arte de Nova York), no Metropolitan Pavillion.
A abertura será no dia 3 de abril.

Derrubada do quartel
O governo Cabral não desistiu de vender o terreno de 13.500 metros quadrados na Rua Evaristo da Veiga, onde funciona o QG da PM, mesmo depois que a Petrobras desistiu de pagar R$ 336 milhões.

O comando vai ser transferido para a Rua Fonseca Telles, em São Cristóvão, onde funciona uma parte do Inea.

Meia-volta
A desembargadora Nilza Bitar determinou que a Brahma tem o direito de pôr sua propaganda nos gramados durante o campeonato carioca de futebol.

Nos jogos do último final de semana, a Itaipava tinha conseguido, por via judicial, colocar seus anúncios.

Dona Inflação
Os alunos do ensino médio do Colégio Teresiano, no Rio, ameaçam com uma greve hoje na... cantina.

Durante três dias, os alunos prometem que não vão comprar nada por causa do aumento dos preços dos produtos.

Aluguel social
A 21ª Vara Criminal do Rio aceitou a denúncia contra o ex-chefe do setor de tecnologia da informação da Secretaria estadual de Assistência Social.

Wagner de Oliveira e Silva é acusado de desviar R$ 1,25 milhão do programa Aluguel Social.

A força gospel
Léo Moura, o lateral do Flamengo, lançou uma produtora gospel, a LMCRio.

Vai produzir o show de lançamento do CD “Aceito seu chamado”, da cantora Bruna Karla, em Campo Grande.

Imagina na Copa
Domingo à noite, naquele temporal que caiu sobre o Rio, um casal de franceses de uns 60 anos tentava, coitado, pegar um táxi no Santos Dumont para Santa Teresa.

Os táxis não aceitavam a corrida. Nenhum guarda ofereceu ajuda.

Desembarques na Normandia - JOÃO PEREIRA COUTINHO

FOLHA DE SP - 19/03

Chegar a universidades de elite apenas pela cor da pele é um desembarque pedagógico na Normandia


COTAS RACIAIS nas universidades: os argumentos são conhecidos.

Para o pensamento progressista, as cotas são uma forma de corrigir injustiças passadas, abrindo as portas das melhores universidades a candidatos negros, ou hispânicos, ou nativos-americanos etc.

Para temperamentos mais conservadores, as cotas são uma nova forma de racismo, ainda que invertido, ao reduzir a singular individualidade de cada um à mera pigmentação da pele.

E são, claro, um atentado às mais elementares noções de mérito.

Os argumentos são conhecidos, repito. Mas o que dizer quando duas bíblias do progressismo americano -o "New York Times" e a revista "Atlantic"- publicam matérias altamente críticas sobre as políticas afirmativas no país?

Aconteceu. Nenhuma delas repete argumentos gastos porque a discussão deixou de ser ideológica. Passou a ser empírica: estarão as políticas afirmativas a produzir efeitos contrários aos pretendidos?

Ambas respondem que sim e dão nome ao descalabro: "mismatch". Ou, traduzindo o conceito, alunos impreparados que entram em universidades de elite através de preferências raciais têm desempenhos acadêmicos sofríveis.

E esse "mismatch" não se limita aos anos de formação. Ele acompanha os indivíduos para o resto das suas vidas profissionais.

O problema é particularmente pronunciado nas ciências, nas engenharias e nas matemáticas, o que não admira: o conhecimento nas "ciências exatas", relembra o "New York Times", é um conhecimento contínuo, onde é necessária uma forte preparação de base para haver progressos contínuos também.

Sem essa preparação, chegar a universidades de elite apenas pela cor da pele é uma espécie de desembarque pedagógico nas praias da Normandia.

A "Atlantic" quantifica essa carnificina: os alunos negros continuam a preferir mais cursos de ciências ou de engenharia do que os brancos; mas o "mismatch" faz com que a desistência entre negros seja o dobro da verificada entre os brancos.

O mesmo acontece depois da universidade: em direito, por exemplo, os alunos negros são reprovados no exame de acesso à profissão quatro vez mais do que os alunos brancos; o "mismatch" explica metade desses fracassos. O que fazer perante os números aterradores das políticas afirmativas?

Escondê-los tem sido uma opção, o que significa arruinar silenciosamente a vida de milhares de pessoas para que as consciências progressistas possam dormir com as suas vaidades intactas.

Outra opção, sugerida sem um pingo de vergonha pelo "New York Times", é "convidar" as instituições de elite a serem um pouco menos de elite. No fundo, "convidar" Harvard a não ser Harvard -uma forma de corrupção intelectual e um caminho para o atraso científico do país.

Mas existe uma terceira via: defender a velha ideia de que competências médias devem frequentar universidades médias.

A "Atlantic", aliás, revela uma curiosa experiência: em 1998, a prestigiada UCLA deixou de usar critérios raciais nas suas admissões. Resultado imediato: queda acentuada de alunos negros (menos 50%) e hispânicos (menos 25%). Escândalo e protestos.

Porém, o mais espantoso é que, nos anos seguintes à abolição dos critérios raciais e, apesar da queda, o número total de negros e hispânicos graduados pela UCLA era semelhante ao número de negros e hispânicos que terminaram os seus cursos antes da abolição. Por quê?

Razões várias. Cito duas. Primeiro, porque a UCLA acabou por atrair os melhores alunos negros e hispânicos que assim puderam frequentar uma universidade sem o "estigma" das políticas afirmativas.

E, mais importante ainda, porque aumentou o número de alunos negros e hispânicos que iniciaram a sua formação em universidades mais modestas -e só depois se transferiram para a UCLA.

Sim, ideologicamente, sou contra discriminações positivas (ou negativas) porque sou incapaz de reduzir qualquer ser humano a um "grupo" ou uma "raça". E não creio que seja função da universidade prosseguir agendas igualitárias. Apenas científicas.

Mas existem evidências empíricas que reforçam as ideológicas: a igualdade de oportunidades deve ser uma igualdade de base na formação de qualquer indivíduo.

Pretender corrigir no fim o que vem torto desde o início é destruir vidas adultas com ilusões politicamente corretas.

Semente salva - XICO GRAZIANO

O ESTADÃO - 19/03

Cobrança de royalties sobre sementes agrícolas. Esse assunto causou recentemente uma desgastante briga de braços entre produtores nacionais de soja e a multinacional Monsanto. Judicializada, a querela exigiu conhecimentos de botânica nos tribunais. Uma mistura de Agronomia com Direito.

Os sojicultores não questionaram, propriamente, o direito de patentes sobre produtos oriundos do melhoramento genético e da biotecnologia, nesse caso, da soja transgênica RR1. Reconhece-se que os pesquisadores e seus laboratórios, do setor público ou privado, sejam remunerados pelas tecnologias inovadoras que desenvolvem. A experiência mundial garante que o pagamento de royalties estimula as descobertas científicas.

No Brasil, esses direitos intelectuais são definidos na Lei da Propriedade Industrial (n.º 9.279/96), que regula as patentes em geral, e na Lei de Proteção de Cultivares (n.º 9.456/97), na qual se regra a produção de mudas e sementes dos vegetais. Embora aceitas amplamente, existem, como sempre, controvérsias jurídicas. A principal delas advém do fato de existirem tratamentos diferenciados entre as sementes transgênicas e as convencionais.

Estas últimas, obtidas pelo processo tradicional do melhoramento genético, se enquadram na Lei de Proteção dos Cultivares. Na Embrapa, que lidera a pesquisa agronômica, existem centenas de variedades de cereais, hortaliças e frutas protegidas com o direito exclusivo de produção das sementes básicas, de alta qualidade. Por meio de convênios, a instituição pública pode repassar sua atribuição a firmas sementeiras, remunerando-se pelos investimentos realizados na obtenção da tecnologia. Beleza.

Já os produtos da engenharia genética, por serem considerados uma "invenção" tecnológica, acabaram se enquadrando na lei das patentes industriais. Dessa forma, empresas que as desenvolvem têm garantido o direito de cobrar royalties pela sua utilização. A Monsanto, que descobriu o gene RR e o incorporou ao genoma da soja, fornecendo à lavoura resistência contra certo herbicida, deteve por 20 anos a exclusividade na produção das sementes dessa leguminosa.

O argumento dos sojicultores, ao acionarem a Monsanto na Justiça, residia no prazo de vencimento da patente, ocorrido, segundo eles, desde 2010. A batalha nos tribunais trouxe à tona, para os juristas, uma curiosidade do mundo agrícola: a chamada semente salva. Ela se caracteriza quando os produtores rurais guardam grãos de sua própria colheita para utilizá-los como sementes na safra seguinte. A prerrogativa legal visa a combater o abuso do poder econômico, bem como a exagerada dependência do agricultor, permitindo-lhe escapar das compras contínuas das empresas produtoras de sementes.

Pois bem, foi sobre estas - as sementes salvas da soja - que nasceu a polêmica contra a Monsanto. Aconteceu o seguinte: os produtores rurais adquiriram sementes da soja RR1, pagando normalmente os royalties, embutidos no preço da saca comprada. Mas após colherem sua produção retiveram certa quantidade de grãos, destinados ao plantio seguinte. Só que a empresa, com base no seu direito de patente, exigiu também o pagamento de royalties sobre a semente salva dessa segunda colheita. Mas como cobrar isso?

Em acordo com as tradings e cooperativas que comercializam soja, passaram a examinar o DNA dos grãos vendidos e, em caso positivo para o gene RR1, recolhiam uma taxa de 2% sobre o valor negociado no mercado. No princípio, os agricultores engoliram, a contragosto, o mecanismo que onerava sua pós-colheita. Depois, resolveram partir para a briga, vencendo liminarmente a causa.

Se juridicamente o assunto parece complexo, quando se incluem as questões da agronomia ele se torna mais complicado ainda. Fica, porém, interessante. É curioso saber que a utilização de sementes salvas não funciona bem em todos os vegetais. Botanicamente, existem espécies, como a soja, cuja polinização ocorre dentro da mesma flor, na mesma planta. Nesse caso, quanto impera a autofecundação, os descendentes nascem mais homogêneos, geneticamente parecidos entre si. São as espécies endógamas.

Existe, porém, outro grupo de plantas nas quais, ao contrário, as estruturas botânicas favorecem a polinização cruzada. Nesse caso, o pólen fertilizante vem, trazido pelo vento ou por insetos, de flores distantes. Nessas espécies, os descendentes sujeitam-se ao processo de segregação genética, resultando maior diversidade entre filhos e pais. O milho funciona assim, caracterizando uma espécie alógama.

Se você plantar o caroço de uma manga deliciosa, por exemplo, o pé nascido dificilmente dará frutos iguais àquele que o encantou pelo sabor. Isso porque aquela semente foi gerada por fertilização cruzada, e a mistura de genes provocará uma descendência incerta, podendo ser igual, melhor ou pior que a mangueira-mãe. Por isso, na maioria das fruteiras se utiliza a técnica da enxertia ou da estaquia, por meio das quais se cria um clone da planta selecionada. Aí não tem erro.

Os sojicultores, em Mato Grosso principalmente, comemoraram sua vitória contra a gigante multinacional. Deixarão de recolher royalties sobre as sementes salvas de soja transgênica, utilizando-as com tranquilidade no plantio seguinte. Um perigo, porém, se esconde nesse assunto: a pirataria.

Agricultores espertos guardam grãos, de soja ou algodão, não para os utilizarem na sua própria lavoura, mas para venderem como sementes no mercado, o que é totalmente proibido. Escondida sob o manto das sementes salvas, a malandragem pirata tem crescido, pondo em risco a qualidade das lavouras brasileiras. Um caso de polícia para a fiscalização resolver.

O homem que não queria sonhar - CRISTOVÃO TEZZA

GAZETA DO POVO - PR - 19/03

Cansado de acordar todos os dias abarrotado de sonhos – encontrando um tesouro e sendo preso por isso, caindo de um precipício, bebendo de um copo que se dissolve na sua mão, sendo eleito representante de classe sob uma aclamação entusiástica dos colegas, todos vestindo máscaras de palhaço –, ele decidiu procurar um médico que desse fim ao seu sofrimento: “Não quero mais sonhar, doutor. Por favor, libere as minhas noites desses filmes ruins e inacabados que sou obrigado a ver em 3D e com todos os efeitos reais que nem inventaram ainda. E quase sempre sou eu mesmo o ator principal”.

O médico sorriu e, com seriedade profissional, explicou em detalhes o quão importantes são os sonhos. “O fato é que você só descansa, realmente, se sonhar. A ciência prova: se você for acordado cada vez que começar a sonhar, por mais que você durma, levantará da cama como se tivesse passado por um mês terrível de insônia. Você é obrigado a sonhar. É inescapável.”

“Não é justo”, ele contra-argumentou. “Gostaria de ter o direito de passar a noite em silêncio, sem a interferência de fantasmas, de duplos, de alçapões mentais. Eu queria ficar sozinho pelo menos durante o sono. Isso é grave? Há algum comprimido mata-sonhos?”

“É melhor não recorrer ainda aos comprimidos”, disse o médico, e recomendou-o a mudar a dieta noturna e o horário de refeições: “À noite, evite pratos pantagruélicos, bebidas alcoólicas, costeladas, feijoadas. Experimente só um leitinho desnatado, quentinho, com bolacha, e vamos ver se faz diferença”.

O homem voltou lá uma semana depois.

“É inútil, doutor. Está certo que os filmes – desculpe, os sonhos – ficaram mais suaves. Num deles eu cheguei a abraçar sorridente o primo Peçanha, que eu chamo secretamente de Peçonha, e no sonho éramos amigos de longa data. Ele nem se lembrava da garrafa que eu quebrei na cabeça dele, o que me deu um pouco de ansiedade e um certo sentimento de culpa ao acordar, como um sujeito de duas caras. Mas acordei aliviado, em paz. É o tal leitinho. Outros sonhos são apenas chatos, um coisa meio new age, crianças correndo em câmara lenta, aquela música nauseante de elevador. Num deles tinha um pôr do sol com anjos tocando trombeta. Não dá mesmo para não sonhar nada? Ficar só com a dura, velha e boa realidade?”

O médico tentou uma abordagem política: “Mas veja: sem os sonhos coletivos, o que seria do mundo? Os sonhos movem a história!” A reação foi imediata – o homem recuou em pânico: “Na Idade Média sonhavam com o paraíso, e queimavam gente para apressar o caminho. Sonhos coletivos, não, por favor, não! Lenin também sonhou com o paraíso, e poucos anos depois os russos tropeçavam em milhões de mortos”. Suspirou: “O senhor não tem nada, assim, digamos, mais simplesmente realista?”

“Lamento”, suspirou o médico. “A realidade anda em falta no mercado. Por enquanto, vá sonhando.”

Utopias - FRANCISCO DAUDT

FOLHA DE SP - 19/03

Quando o distanciamento da realidade é levado a sério, o sujeito é um escolhido pelos deuses

"ONDE É que ele está com a cabeça?", perguntei-me ao ouvir o candidato à presidência dizer que o PT era o bolchevismo sem utopia. Fiquei pensando na frase por bem uns minutos até entender que, em linguagem de dia de semana, o que a frase queria dizer era: o PT é autoritário e não é idealista.

Utopia: "não-lugar" (lugar que não existe), a ilha ideal que morava na cabeça de Thomas Morus antes que Henrique 8º o decapitasse, existe sim na nossa cabeça onde vários lugares existem, quase todos eles diferentes daquele em que estamos -as chamadas heterotopias (lugares diferentes, do grego).

"A felicidade está onde nós a pomos, e nós nunca a pomos onde estamos", dizia meu avô. De fato, o mais comum em nossas vidas é estarmos com a cabeça em outro lugar, como o candidato falando para um público muito culto, enquanto o outro falava para as multidões.

Quem venceu?

Não é que passear pelas heterotopias seja algo errado ou doentio. Estamos parados no tráfego, mas, com o rádio do carro ligado, viajamos para longe dali, ainda bem. Certo, ela pode ser perigosa se falamos ao telefone dirigindo. Digitar é bem pior. Quando nos apaixonamos, viramos nefelibatas (andamos nas nuvens), com a cabeça no mundo da lua. O emprego está chato, mas já estou naquelas férias planejadas.

Todas as drogas e vícios, tabaco, álcool, carboidratos e compras desnecessárias têm a sedução de nos tirar de onde estamos e nos transportar, por minutos que seja, para um mundo diferente.

Na heterotopia mora o planejamento: vejo-me velho, daqui a uns trinta sempre adiáveis anos, mas amparado pela previdência ("a capacidade de ver antes"), não a pública, deus me perdoe, mas a que construí com meu trabalho -que ser velho já é ruim, pobre então...

Claro, há heterotopias malucas, quando o distanciamento da realidade é levado a sério, o sujeito é um escolhido pelos deuses, é uma reencarnação de Napoleão, de Jesus Cristo (é curioso, mas os napoleões de hospício saíram de moda... será falta de cultura?), e etc.

A utopia é uma heterotopia do tipo faca de dois gumes. O primeiro gume corta o tempo-espaço como um farol-guia, dando princípios éticos que sabemos inatingíveis, mas que valem pela simples tentativa.

O segundo gume corta pescoços, ceifa vidas em seu nome. A primeira vez que entrei em contato com uma delas foi pelo livro "A chave do tamanho", de Monteiro Lobato. Como tantos comunistas, ele tinha a utopia da sociedade perfeita, pacífica e semelhante a uma colmeia de abelhas instalada por golpe extremo (a "revolução").

Emília, incomodada com a 2ª Guerra, reduz o tamanho dos humanos a poucos milímetros. Claro, a guerra cessa, e os sobreviventes (bilhões são devorados por gatos, cães, pássaros etc. Mas, para a utopia, sempre há um "pequeno custo") se organizam na "cidade do balde", todos iguais, bondosos, pacíficos e cooperativos, uma espécie de falanstério de Fourier.

Pela utopia homens se explodem, já morando no paraíso com suas virgens (e as mulheres-bomba, o quê as motiva?)

Ueba! Papa exorciza Cristina! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 19/03

Na passeata Fora Feliciano, um gay levantou o cartaz: "Meu fiofó é laico". É verdade! Eu tenho a foto!


BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

Predestinado do dia: brasileiro dono de uma banca de quinquilharias no Vaticano: Jesus Nascimento! E o antipredestinado do dia: prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo!

E na passeata Fora Feliciano, um gay levantou o cartaz: "Meu fiofó é laico". Rarará! É verdade! Eu tenho a foto!

E a foto dos inimigos históricos: o papa com a Cristina Kirchner? A legenda devia ser: "Falsos, porém simpáticos".

E o tuiteiro Comjota perguntou: "Rolou um exorcismo?". Rolou! A Cristina vomitou verde! Girou o pescoço, deu três voltas na cabeça e vomitou verde! Vai vomitar empanada no papa! Rarará!

E adorei a charge do Adilson com o capeta ao telefone com a Cristina Kirchner: "Dona Cristina, fechar o Vaticano não dá, serve o 'Clarín'?". Rarará!

E a Cristina Kirchner tá a cara da bispa Sônia! Com aquela boca de bico de tênis Conga! Ou como fala uma amiga minha: Cristina Quiche!

Prato do dia do Vaticano: papa frita com Cristina Quiche! E os papas já sofreram vários atentados, mas o pior foi "O Papa é Pop", dos Engenheiros do Hawaii! E eu quase sofro um atentado dos fãs da banda! Rarará!

E sabe o que a Dilma falou pro PMDB? "Por que essa boca tão grande?". "Pra te comer, Chapeuzinho." Ela já tá sempre de vermelho mesmo. E a Dilma em Roma? Vai aderir às massas! Avisa pra Dilma maneirar na lasanha e no espaguete e no talharim, senão ela vai voltar um polpetone!

É mole? É mole, mas sobe! Ou como disse aquele outro: é mole, mas rela pra ver o que acontece!

O Brasileiro é Cordial! Cartaz num restaurante por quilo em São Paulo: "Atenção! A quentinha que não fechar será cobrado a mais." A quentinha normal é R$ 9, se não fechar é R$ 13!

E olha esta placa num ponto de ônibus em Salvador: "Por favor jogue a porra do lixo na lixeira, se eu pegar jogando no chão, vai tomar esculacho!".

E sabe como eu descobri que era num ponto de ônibus em Salvador? Por causa da palavra "porra".

Nóis sofre, mas nóis goza. Hoje só amanhã! Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Toda Roma tremia - CARLOS HEITOR CONY

FOLHA DE SP - 19/03

RIO DE JANEIRO - Chega de papa! No último domingo, com gripe das brabas, não saí da cama e, para justificar o meu horror pelo mundo, fiz o que geralmente não faço: pererequei pela TV para saber se, afinal, embalsamaram o Chávez ou fizeram alguma coisa equivalente.

Vi cenas da Segunda Guerra Mundial, um discurso de Hitler contra os judeus, uma receita de pudim, um desenho animado do Pica-Pau, um papa pedindo que rezem por ele (não rezei) e um especialista explicando aquilo que ele chamava de "disfunção erétil".

Em outros tempos, procuraria extrair um sentido de tudo isso, mas seria inútil e só pioraria a minha gripe -que, naquele momento, a partir do "big bang" inicial, era o fato mais importante e transcendental do Universo. Desde que me tornei agnóstico profissional (desprezo os amadores que acabam numa dessas igrejas que recuperam maridos bêbados e trazem de volta amantes infiéis), descobri que nada faz sentido a partir da crença num Deus ou nos deuses que se oferecem no divertido mercado da fé.

O absurdo da condição humana e de todo o resto é a crença num ser onipotente e infinito. Numa cena da guerra, na floresta de Ardenas, vi um soldado engolir, por conta própria, uma granada de mão e explodir. Vi um papa pedir uma igreja pobre para os pobres. O Pica-Pau dirigiu uma fortaleza voadora e jogou uma bomba atômica numa das ilhas Papuas. Tomei um comprimido, a febre não baixou e dona Dilma mudou três ministros. O vizinho aqui do lado está ouvindo, no som máximo, uma ópera, "e avanti a lui tremava tutta Roma", Tosca acabou de assassinar o barão Scarpia.

Acreditando num Deus, Senhor do Universo, dos homens, animais e coisas, seria impossível (e inútil) extrair um sentido disso tudo. Sem Deus, tudo faz sentido, inclusive um papa argentino.

O alvo do governo Kirchner - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estado de S.Paulo - 19/03

A redução de 73% registrada em 2012 no saldo do Brasil no comércio com a Argentina - num período em que superávits dos principais parceiros comerciais dos argentinos aumentaram até 52% - não deixa dúvidas de que a política protecionista cada vez mais agressiva do governo da presidente Cristina Kirchner tem um alvo específico. Medidas administrativas que retardam ou impedem a entrada de produtos importados na Argentina têm sido contestadas por diversos países exportadores, mas toleradas pelo governo brasileiro. Como a escarnecer da atitude brasileira e das reiteradas promessas de amizade indestrutível da presidente Dilma Rousseff, feitas a sua colega argentina, o protecionismo de Buenos Aires prejudica direta e duramente o Brasil e preserva os demais países.

Os números da balança comercial entre os dois países não deixam dúvidas de que a condescendência com que o governo Dilma reage às restrições comerciais da Argentina estimula a ação dos funcionários do governo Kirchner notoriamente contrários à entrada de produtos brasileiros em seu país. Ruins para o Brasil já em meados do ano passado, os resultados do comércio bilateral ficaram ainda piores no acumulado de 2012.

Em julho do ano passado, as importações argentinas de produtos brasileiros tinham sido 67% menores do que as registradas em julho de 2011 e o superávit comercial acumulado pelo Brasil nos sete primeiros meses do ano tinha diminuído 52% em relação ao período janeiro-julho do ano anterior.

Em todo o ano passado, as exportações brasileiras para a Argentina somaram US$ 18 bilhões, 21% menos do que os US$ 22,7 bilhões exportados em 2011. As importações brasileiras de produtos argentinos, de sua parte, de US$ 16,8 bilhões, mantiveram-se praticamente no mesmo nível de 2011, de US$ 16,4 bilhões. Com isso, o saldo caiu de US$ 5,9 bilhões para US$ 1,6 bilhão, uma redução de 73% (algumas consultorias privadas, como a Abeceb.com, calculam a queda em 65%).

Atribui-se a queda das importações de produtos brasileiros à redução do ritmo da economia argentina no ano passado, quando deve ter crescido menos de 2%. Essa é uma explicação parcialmente verdadeira. Mas, no momento em que as exportações brasileiras caíam, as dos outros principais países fornecedores da Argentina cresciam, e em ritmo intenso. As da Holanda aumentaram 160%; as dos Estados Unidos, 9%; as do Japão, 7%; e as da Alemanha, 2%, como noticiou o jornal Valor (18/3). O superávit, que no caso do Brasil teve fortíssima contração, aumentou 52% para a Alemanha, 29% para os Estados Unidos e 14% para a China.

Brasil e Argentina são os principais integrantes do Mercosul, o bloco do Cone Sul que, teoricamente, é uma união aduaneira, na qual é livre a circulação de bens e serviços. Desde meados da década passada, no entanto, a Argentina vem restringindo a entrada de produtos estrangeiros, mesmo os originários de outros países do Mercosul.

No ano passado, o governo Kirchner instituiu um sistema de controle administrativo de importações que vem retendo mercadorias nos postos alfandegários até a emissão de uma autorização especial para a entrada no mercado argentino. Essa autorização está condicionada à apresentação prévia de uma declaração juramentada, cuja aceitação depende do juízo de setores do governo responsáveis pelas medidas protecionistas.

O objetivo dessas medidas é estimular a produção argentina, mas as ações do governo Kirchner no campo econômico vêm assustando os empresários, nacionais e estrangeiros, o que inibe os investimentos produtivos.

As presidentes dos dois países deveriam discutir, entre outras, a questão da deterioração do comércio bilateral por causa do crescente protecionismo argentino, numa reunião que estava marcada para o início de março. O encontro teve de ser adiado em razão da morte do presidente venezuelano Hugo Chávez. O tema, porém, não pode mais ser adiado, como deixam claro os dados recentes sobre o comércio bilateral. Se o governo Dilma não mudar sua atitude em relação à Argentina, o governo Kirchner se sentirá ainda mais livre para prejudicar o Brasil.

Visões parciais - JOSÉ PAULO KUPFER

O Estado de S.Paulo - 19/03

Um marciano minimamente versado em economia brasileira enfrentaria, no momento, sérios embaraços para produzir um relatório sobre alguns dos debates econômicos em curso naquele peculiar pedaço ensolarado, banhando pelo Atlântico Sul, do planeta vizinho a Marte. Acostumado a ouvir queixas sobre o peso desproporcional da carga tributária, é bem possível que o coitado encontre dificuldades para entender tantas desconfianças e temores em relação aos pacotes de desonerações fiscais expedidos pelo governo.

Em especial com relação à desoneração de tributos federais nos produtos da cesta básica, algumas reações dão a impressão de que se sustentam em visões parciais dos possíveis impactos da medida. Na verdade, uma coisa é criticar a limitada amplitude do corte pontual ou temporário de tributos e o objetivo implícito de usar desonerações como forma de tentar segurar no grito a inflação - ações que, se produzem algum efeito no curto prazo, contribuem para promover distorções e desequilíbrios ao longo do tempo. Outra é avaliar os efeitos da descompressão fiscal na economia real e no orçamento das famílias. Misturar uma coisa com a outra pode resultar num creme indigesto.

É claro que renúncias fiscais, qualquer que seja a forma que assumam, podem significar perda de arrecadação e estímulo ao consumo. Se as desonerações forem repassadas aos preços, a redução de tributos produzirá corte na arrecadação do governo e aumento na renda das pessoas para consumo. Segundo os críticos, é o caminho para mais expansionismo fiscal e, no fim das contas, para mais pressões inflacionárias.

Ocorre que não é possível saber se a sobra de renda acabará encaminhada ao consumo ou tomará o rumo da poupança. Do mesmo modo, é impossível determinar de antemão se a arrecadação pública encolherá, com a perda de tributos, ou aumentará, com a eventual elevação do consumo acima do nível anterior, compensando renúncia de arrecadação.

Além disso, se estimativas apontam para perdas de arrecadação acima de R$ 60 bilhões em 2013, com as desonerações vigentes ou já anunciadas, não significa que, automaticamente, faltarão recursos para as necessidades do governo ou para a execução de uma política fiscal ordenada, até porque é possível cortar outras despesas. Sim, o volume de dinheiro que deixará de ser arrecadado equivale a um terço da meta de superávit fiscal previsto, mas também está próximo da economia com pagamento dos juros da dívida pública no ano.

Nem mesmo o pressuposto de que as desonerações provocarão redução de preços, base dos raciocínios que levam ao temor de que promoverão estímulos indesejados ao consumo, está assegurada. Os tributos, no Brasil, são calculados por dentro dos custos e estão embutidos nos preços finais de comercialização. É impraticável, por isso, decompor o que é tributo e o que é margem de venda no valor pago pelo consumidor. Se o repasse da desoneração será maior, menor, total ou nenhum dependerá das condições do mercado.

As desonerações em tributos sobre produção e venda, entre nós, funcionam como um "aumento" de margem, a ser queimado ou não na definição do preço. É como uma sanfona, da qual o vendedor se vale para baixar preços, no caso de mercados deprimidos, mantendo alguma margem. Foi o que se deu na área de veículos, com os descontos do IPI.

Se, porém, o mercado estiver aquecido e a demanda forte, nada impede que o vendedor se aproprie de parte ou até integralmente da desoneração, ampliando sua margem, sem necessidade de aumentar o preço. A "surpresa" causada pelo aumento de itens da cesta básica, depois do anúncio das desonerações, só foi surpreendente para quem não compreende como o mecanismo funciona quando os tributos, como se dá no Brasil, vêm embutidos no preço.

Difícil entender, de todo modo, como desonerações fiscais podem ser mais prejudiciais do que benéficas, numa economia em que a carga tributária é sabidamente excessiva. Mais ainda em se tratando de produtos da cesta básica, geralmente menos elásticos a preços. Será que alguém vai consumir mais açúcar, arroz ou sabonete do que precisa só porque seus preços recuaram?

Parece que promover cortes, mesmo pontuais, na carga tributária, como no caso atual, é bom, mas é ruim. Tudo bem pesado, no entanto, o que há de ruim no modo como o governo passou a reduzir a incidência de tributos sobre custos de produção ou na venda final de produtos não suplanta o que pode haver de bom nas medidas de desoneração.

CAMA E CAFÉ - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 19/03

O Ministério do Turismo finaliza levantamento sobre os meios de hospedagem alternativos nas 12 cidades-sede da Copa. Já foram mapeados 3.710 imóveis para aluguel de temporada, capazes de acomodar 19,5 mil turistas. O Sudeste aparece em primeiro lugar, com 12,9 mil vagas, seguido do Nordeste (6,2 mil). Campings e albergues completarão a lista.

INFLAÇÃO
O estudo faz parte da estratégia da pasta para contornar o possível aumento de preços de hospedagem durante o megaevento.

CADASTRE AQUI
E o Ministério do Turismo informa que as pessoas interessadas em abrir suas casas para receber hóspedes durante a Copa poderão se cadastrar pelo site da pasta. Ainda não está definida a data para as inscrições.

ATÉ O FIM
O ministro Fernando Bezerra, da Integração Nacional, quer deixar a equipe de Dilma Rousseff. Ligado ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), ele foi aconselhado pelo próprio padrinho a ficar onde está. E esperar que a presidente o demita.

ATÉ O FIM 2
Campos fala mal de Dilma aonde vai e já circula pelo Brasil como candidato à Presidência contra ela, o que tem gerado constrangimento para Bezerra. Mas o pernambucano não quer piscar primeiro, ou seja, não quer tomar a iniciativa de romper formalmente com o governo para não ser chamado de "traidor".

ATÉ O FIM 3
Já Dilma relutava, até ontem, em tirar os cargos de Campos -além de ministérios, ele controla estruturas como a da Chesf (Companhia Hidroelétrica do São Francisco), com patrimônio de R$ 16 bilhões. A presidente não quer correr o risco de que Campos vire "vítima" de uma canetada política.

DUDA COELHO
Duda Mendonça viaja à Grécia nesta semana para participar da festa de São José com Paulo Coelho. O escritor reúne amigos uma vez por ano em alguma parte do mundo para a celebração. Duda era louco para conhecer o "mago". A ligação entre os dois foi feita por José Dirceu.

EM CASA
Condenado e com o passaporte apreendido por causa do mensalão, José Dirceu não poderá ir à festa. Sua mulher, Evanise, embarcou ontem para a Europa para representá-lo.

BEM-VINDA, GLORINHA!
Diana Bouth substituirá Deborah Secco no papel de Glorinha, na peça "O Casamento", de Nelson Rodrigues. Deborah deixou o elenco apresentando atestado médico de 90 dias. O espetáculo estreia no dia 13 de abril, no Tuca, em São Paulo.

PARABÉNS COM GIL
Gilberto Gil participa no dia 13 de abril da festa de 80 anos do produtor Quincy Jones, em Las Vegas. E, em maio, o baiano estará em outro aniversário: no de 68 anos do deputado do Partido Verde francês Daniel Cohn-Bendit.

ME DÁ UM ESPAÇO AÍ
Silvio Santos e Moacyr Franco se reuniram há alguns dias no SBT. O ator e diretor apresentou ao patrão o projeto de uma série e sugeriu que ele invista mais na TV fechada, como a Globo.

TÔ BEM, AMOR?
A apresentadora Ana Furtado diz que recorreu ao marido, o diretor do "BBB", Boninho, para treinar "caras e bocas" de personagens de Hitchcock. O resultado está em ensaio da Sara Joias.

COCORICÓ
O musical "Galinha Pintadinha - Cadê Popó?" estreou no sábado, no Procópio Ferreira. Na plateia estavam a apresentadora Adriane Galisteu e o filho, Vittorio, o publicitário Roberto Justus com Rafaella, o cantor Daniel com Luiza, o presidente da RedeTV!, Amilcare Dallevo, ao lado da mulher, Daniela Albuquerque, e da filha Alice. A cantora Fafá de Belém foi ao teatro com a filha, Mariana, e a neta, Laura.

SINFONIA DO BEM
Ana Feffer, da Acredite (Amigos da Criança com Reumatismo), e Anna Schvartzman, do Ciam (Centro Israelita de Apoio Multidisciplinar), comandam na quinta-feira, às 21h, um concerto beneficente, no Theatro Municipal. A programação terá o pianista Arnaldo Cohen e a Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo, sob a regência de John Neschling. Ainda há ingressos disponíveis.

CURTO-CIRCUITO
Jacob Klintowitz lança o livro "Vicente do Rego Monteiro - Olhar sobre a Década de 1960" na Jo Slaviero & Guedes, às 19h.

O evento Le Brésil Rive Gauche será apresentado hoje no Fasano, às 18h30.

A Ellus faz festa pós-desfile da SPFW no Cine Joia, com presença da modelo Lindsey Wixson.

Jonas Bloch fará participação na minissérie "José do Egito" (Record).

A Amapô mostra na quinta, na SPFW, dois tênis feitos junto com a Converse.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 19/03

'Bancos estão mais seletivos', diz sindicato da micro indústria
As restrições dos bancos para conceder empréstimos podem ser responsáveis pela queda no número de pequenas empresas que buscam crédito.

A avaliação é do presidente do Simpi-SP (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado), Joseph Couri, que afirma que os bancos estão cada vez mais seletivos.

"Estão restringindo muito o financiamento a pequenas companhias", diz.

Por outro lado, afirma, há muitas micro e pequenas empresas no Cadin (cadastro informativo de créditos não quitados do setor público federal), frequentemente, em razão de pequenos valores. Em breve, o Simpi fará uma pesquisa sobre o segmento.

Dados da Serasa Experian mostram que o número de empresas que procuraram por crédito em fevereiro de 2013 recuou 4,8% em relação ao mesmo mês de 2012.

O grupo das micro e pequenas empresas foi justamente o responsável pela retração.

Segundo a pesquisa, houve queda de 6% na busca do setor por crédito em fevereiro de 2013.

Para as PME, o resultado também é negativo na comparação entre os meses de janeiro de 2013 e de 2012.

As empresas médias, por outro lado, tiveram alta de 10,8% na procura por crédito em fevereiro deste ano ante o mesmo período de 2012.

As grandes se saíram ainda melhor, tiveram crescimento de 19,8% na procura por financiamento.

Na comparação por setor da economia, serviços (0,6%) foi o único que apresentou alta. Indústria (-7,9%) e comércio (-8,3%) registraram retração, mostra a pesquisa.

SOBREMESA
O faturamento do mercado de sorvetes no Brasil cresceu 26,5% em 2012, segundo as estimativas de um levantamento da Mintel, empresa de pesquisa global. A evolução em 2011 também foi positiva, 17,1% ante 2010.

Segundo o estudo, o setor vem crescendo, em média, 33% nos últimos cinco anos. Foram R$ 4,1 bilhões de reais de faturamento e 452 milhões de litros vendidos em 2012.

O Brasil é o 4º maior mercado de sorvetes no mundo, atrás de EUA, China e Japão. O consumo per capita, no entanto, é de apenas 2 kg por pessoa/ano, quase nove vezes menor do que nos EUA (17 kg pessoa/ano).

Isso coloca o país em 29º no ranking de volume de sorvete per capita.

Um dos fatores que influenciam o baixo consumo por habitante, segundo a pesquisa, é o preço do litro do produto, R$ 9 em média no Brasil, enquanto que nos EUA custa cerca de R$ 4.

FRENTE FEMININA
A rede de hotéis Accor criou uma rede, a Waag ( Women at Accor Generation), para aumentar a promoção de mulheres. "O objetivo é, em 2015, ter 35% de mulheres na direção de hotéis", diz Dominique Colliat, vice-presidente-sênior do Sofitel Américas.

"E de chegar à paridade muito rapidamente." Hoje são apenas sete mulheres em 120 unidades no mundo.

"A maioria das diretoras estão em hotéis latinos", diz.

Plano... A Confederação Nacional da Indústria (CNI) definiu uma agenda estratégica com dez pontos para tornar o país mais competitivo nos próximos anos. Os dados são do Mapa Estratégico da Indústria 2013-2022, que reuniu 520 empresas.

...industrial Inovação, educação, menos burocracia, modernização nas relações do trabalho e mudanças no sistema tributário são alguns pontos apontados no documento. As metas e ações para cada um dos assuntos serão divulgadas em maio.

CATA-VENTO
A capacidade instalada dos parques eólicos do país deve crescer, pelo menos, 60% neste ano.

Em 2012, essa capacidade era de 2.500 MW -o equivalente a 2% da matriz energética brasileira.

A previsão da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica) é que, com a conclusão de novos parques, esse número salte para 4.000 MW até dezembro. Dados da Anatel, no entanto, apontam que será para cerca de 6.000 MW.

"O ano passado foi ótimo para o setor. Tivemos ventos bons e aumentamos a capacidade de gerar energia de 1.000 MW para 2.500 MW", afirma Elbia Melo, presidente da entidade.

"Tendo essa perspectiva, 2013 também será um ano bom, pois vamos alcançar 4.000 MW", acrescenta.

Enquanto isso, as hidrelétricas caminham em sentido oposto, diz Elbia.

"Do ponto de vista relativo, os reservatórios estão diminuindo. O número de habitantes do país está crescendo, mas o das hidrelétricas não, porque o Ministério do Meio Ambiente dificilmente libera as licenças de construção."

O ano passado também foi positivo ao setor devido à seca. "Épocas com pouca chuva têm muito vento. Por isso, as fontes hídrica e eólica são complementares."

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 19/03


MAIS BEBIDAS QUENTES SOB CONTROLE DA RECEITA

Este ano, Fisco incluirá dez fábricas no sistema que coíbe a sonegação de impostos. Hoje, 289 já são monitoradas

Até o fim de 2013, a Receita Federal incluirá mais dez fábricas no Sistema de Controle de Produção de Bebidas. Dessa vez, a ação alcançará basicamente fabricantes das chamadas bebidas quentes, como rum, vodca e uísque, que não foram afetadas pela instalação do Sicobe em unidades produtoras de aguardente. Desde 2009, a Receita monitora a produção industrial de bebidas no país, para combater a sonegação. A ação começou com fabricantes de cervejas, refrigerantes e águas minerais. Em 2012, as indústrias de cachaça tiveram de entrar no sistema. Hoje, 289 fábricas no país são monitoradas; seis entraram no Sicobe nos dois primeiros meses de 2013. As dez restantes praticamente encerram a consolidação do sistema, diz Marcelo Fish, coordenador-geral de fiscalização da Receita. No mercado de bebidas quentes, estima-se que a cachaça represente 70% da produção. Em 2012, pelo Sicobe, passaram 378 milhões de litros. O número não inclui a produção artesanal dos alambiques. Vodca teria 11% do mercado; uísque, 8%; e rum, 3%. A sonegação no segmento beira 25%, mas os prejuízos são proporcionalmente maiores, porque essas bebidas custam mais que a cachaça.

De surpresa
A liminar da ministra Cármen Lúcia a favor do governo do Rio causou surpresa dentro do STF.

É que decisões monocráticas são incomuns quando o pedido de medida cautelar sinaliza o desfecho da ação de inconstitucionalidade. Esperava-se no Supremo que a decisão saísse do plenário.

Em tempo
Mas, no próprio despacho,

a ministra Cármen Lúcia informa que a decisão terá de ser referendada pelo plenário do STF. Se o tema não entrar na pauta de amanhã ou 5ª, só será apreciado depois da Páscoa.

Zangados
Cem cidades fora do eixo Rio, São Paulo e Espírito Santo recebem royalties do petróleo. E não gostaram nada da lei que redistribui os recursos. Há prefeitos pensando em ir ao STF.

De aço
As exportações de produtos siderúrgicos caíram 17,4% em fevereiro sobre um ano antes. Foram vendidas 815 mil toneladas. O relatório do Instituto Aço Brasil sai hoje. Em maio, o Rio será sede do congresso do setor, após quatro edições em SP. 

Só bilionário
A Torre One 57, que ficará pronta ano que vem em NY, foi 100% vendida. Christian de Portzamparc assina o residencial, apelidado de clube dos bilionários. É que os donos estão na “Forbes”. 

Quase azul
O Fluminense reduziu em 90% seu déficit orçamentário de 2011 para 2012. Saiu de R$ 34,135 milhões para R$ 3,716 milhões. As receitas do clube saltaram de R$ 77,382 milhões para R$ 144,029 milhões. 

Na Copa
A Aktuell assinará as ações de marketing promocional da Oi para a Copa 2014. Junto com J&J e Coca-Cola, a conta fará a agência crescer 25% em 2013, diz Rodrigo Rivellino, o dono. 

Saúde 
Até 2018, quatro em cada dez (41%) congressos agendados no Rio serão da área de saúde. A conta é do Rio C&VB.

Conciliação
Dos 1.800 consumidores que foram ao Mutirão do Procon Carioca, sábado passado, na Tijuca, 45% tinham problemas com operadoras da telefonia celular. Outros 27% foram negociar dívidas com bancos.

Mundo VIP
Clientes do Fashion Prime terão descontos nos hotéis Santa Teresa e Copacabana Palace. Com 20 mil usuários,o clube VIP representou 40% do faturamento do Fashion Mall em 2012. Uma cliente chegou a gastar R$ 500 mil.

Igualdade
O post do BB no Facebook sobre financiamento habitacional para casais do mesmo sexo já é o mais acessado e compartilhado do banco este ano. Duas mulheres protagonizam o anúncio. Até ontem, 1.599 pessoas curtiram e 1.791 compartilharam.

Me dá um dinheiro aí? - VERA MAGALHÃES -

FOLHA DE SP - 19/03

Diante da escassez de recursos para obras e da falta de previsão orçamentária para despesas deixadas por Gilberto Kassab, Fernando Haddad pedirá socorro de R$ 10 bilhões para Dilma Rousseff. O pacote, para quatro anos, será levado à equipe da presidente em abril. Há projetos de macrodrenagem, desocupação de áreas de risco, habitação e corredores de ônibus. A ajuda federal é a única forma de o prefeito tirar ao menos parte das promessas eleitorais do papel ainda este ano.

Casa da Moeda Haddadistas nutrem expectativa quanto ao atendimento de boa parte dos pleitos. Argumentam que os termos das parcerias vêm sendo tratados em tempo real com ministros e assessores da Esplanada.

Mui amigo A mais dispendiosa fatura seguirá para a pasta das Cidades, administrada por Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), que virou um dos ministros mais próximos de Haddad durante a campanha e na transição de governo.

Guinada? O vereador Andrea Matarazzo (PSDB) afirma que, antes de defender, em artigo, o arquivamento do projeto de Plano Diretor da gestão Kassab, o colega Nabil Bonduki (PT) e o Executivo defendiam sua aprovação na Câmara paulistana.

Eu sou... Durante assinatura de termo autorizando a construção de um túnel, ontem, em Recife, o governador Eduardo Campos (PSB) deu sonora gargalhada quando questionado sobre as críticas de Jorge Gerdau à criação do 39º ministério de Dilma.

... você amanhã "Se eu tivesse falado o que o Gerdau falou, vocês imaginam", comentou, diante de aliados.

Na rua Também ontem, Campos comandou homenagem ao Dia Internacional da Mulher no centro de convenções de Olinda, onde 2.000 pessoas o aguardavam. Nas abordagens, o socialista era chamado de "presidente".

Esqueçam... O ministro Luiz Fux mandou apagar suas intervenções das notas orais do STF (Supremo Tribunal Federal) contendo todo o debate em plenário durante o julgamento do mensalão.

... o que eu disse Entre as falas agora apagadas estava uma que contrariou os advogados, por sugerir que caberia à defesa provar a inocência dos réus. Os ministros estão liberando aos poucos suas notas orais para o sistema de informática da corte.

Veja bem A assessoria do ministro afirma que tudo que ele disse durante o julgamento constará no voto, e que foram excluídas as declarações para evitar um documento muito longo. Além disso, justifica que outros ministros fizeram o mesmo.

Esticadinha Advogados do mensalão vão entrar com petição conjunta nesta semana no Supremo pedindo a extensão do prazo para embargos de 15 para 30 dias a partir da publicação do acórdão.

PEC da Toga Joaquim Barbosa procurou Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) para pedir audiência sobre a Proposta de Emenda à Constituição que trata da criação de novos tribunais. Os dois e Renan Calheiros (PMDB-AL) discutirão o assunto hoje.

Deixa comigo Fernando Pimentel é o interlocutor da presidente Dilma nas tratativas com o PR para alojar o partido na Esplanada. Ele está encarregado de procurar Valdemar da Costa Neto e Alfredo Nascimento para fechar o espaço da legenda.

Visita à Folha O deputado federal Eduardo Sciarra (PR), líder do PSD na Câmara, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Danielle Arouche e Verônica Gomes, assessoras de imprensa.

com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI

tiroteio
"São Paulo sempre foi a terra do acolhimento. Se o Aécio vier, o PSDB paulista fará questão de recebê-lo e ouvir o que ele tem a dizer."
DE JOSÉ ANÍBAL, secretário estadual de Energia, sobre as articulações internas, com aval de Geraldo Alckmin, para adiar a visita do senador mineiro ao Estado.

contraponto


Gente como a gente


Dilma Rousseff aproveitou a solenidade de lançamento de medidas para as mulheres, na semana passada, para tirar fotos e conversar com beneficiárias de programas sociais do governo que foram ao Palácio do Planalto.

Aproveitando a rara presença da presidente próxima ao "cercadinho" de imprensa, jornalistas a chamaram:

-Esperem um pouco. Não veem que eu estou aqui com o povo? - respondeu a petista, bem-humorada.

-Nós também somos povo! -apelou uma repórter.

-Ah, é? - replicou Dilma, às gargalhadas.

Em seguida, concordou em falar com os jornalistas.

Poderoso - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 19/03

Pré-candidato ao governo de São Paulo, o ministro Aloizio Mercadante (Educação) é o nome preferido da presidente Dilma para concorrer contra o governador Geraldo Alckmin. Mercadante é um dos ministros mais influentes junto à presidente. Tanto que, há três meses, por sua influência, o projeto do ministro Alexandre Padilha (Saúde) para contratar médicos estrangeiros está parado para avaliação no Planalto.

Intriga internacional
O embaixador do Brasil em Cingapura, Luiz Fernando Serra, chegou ontem a Brasília, convocado pelo ministro Antonio Patriota. Ele está no Brasil para explicar a pedido de quem e que tipo de gestões fez junto ao Estaleiro Jurong para que este transferisse um investimento de R$ 500 milhões do litoral norte do Espírito Santo para o Porto de Açu (RJ). O embaixador foi chamado ao Brasil na quarta-feira, dia 13, quando esta coluna relevou que o governador Renato Casagrande (ES) estava protestando junto ao Itamaraty. O senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), sexta-feira, no Senado, revelou, em discurso, que a transferência beneficia o empresário Eike Batista.

“Um dos desafios da candidatura Marina Silva é manter e ampliar o eleitorado nas regiões Sul e Sudeste que já votou nela nas eleições presidenciais de 2010” Alfredo Sirkis Deputado Federal (PV-RJ)

Rebelião
Segundo cálculos dos senadores, só o Estado do Rio e São Paulo querem aprovar a unificação das alíquotas do ICMS. Todos os demais estados avaliam que perdem dinheiro e, portanto, vão tentar implodir a proposta do governo Dilma.

Chico presidente
O PSOL também já começou a tratar da sucessão presidencial de 2014. O partido decidiu que terá candidato. O deputado Chico Alencar (RJ), foto, é o nome preferido. Mas disputa a indicação com a ex-deputada Luciana Genro (RS). Para o partido manter sua vaga na Câmara, vão concorrer Marcelo Freixo e Milton Temer.

Um retrato dramático
O governador Renato Casagrande (ES) está apavorado. Hoje no Senado vai relatar que, de um orçamento de R$ 13,9 bi, perderá R$ 900 milhões com a lei dos royalties e R$ 3,6 bilhões se for aprovada a unificação do ICMS dos estados.

Mais atraente à cobiça política
A presidente Dilma pretende dar maior musculatura à Secretaria de Assuntos Estratégicos. Está na sua mesa medida provisória que dá à secretaria a responsabilidade de fiscalizar as agências reguladoras. A SAE cuida apenas do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e é considerada uma espécie de patinho feio da Esplanada dos Ministérios.

Gafe
Ao anunciar que pretende acabar com o reinado de 50 anos dos Sarney no Maranhão, o presidente da Embratur, Flávio Dino (PCdoB), coloca para debaixo do tapete os governos de José Reinaldo Tavares (2002-2006) e de Jackson Lago (2007-2009).

Cobiça no PSD
Um dos motivos para Afif Domingos não ter sido anunciado ainda para a Secretaria da Micro e Pequena Empresa é a ambição da bancada de deputados. Quase todos eles querem o cargo.

O MINISTRO Manoel Dias (Trabalho) está trazendo de volta para a secretaria executiva Paulo Roberto Pinto, que ocupou o cargo na gestão Carlos Lupi.

A religião tem futuro? - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SP - 19/03

SÃO PAULO - Agora que a fumaça em torno do conclave que elegeu o papa Francisco se dissipou, arrisco perguntar se a religião tem futuro?

No nível mais fundamental, a resposta é "sim". Depois de uma breve utopia iluminista, na qual a intelectualidade chegou a prognosticar a morte de Deus, o consenso científico parece caminhar para a classificação da religiosidade como um estilo cognitivo que dá mais ênfase às intuições geradas nos lobos temporais do que aos raciocínios lógicos produzidos no córtex pré-frontal. Isso significa que, enquanto contarmos com uma boa variedade de seres humanos, alguns deles deverão permanecer obstinadamente crentes.

Daí não decorre, porém, que os clérigos estejam com a vida ganha. Há uma correlação negativa forte entre desenvolvimento social e religiosidade, da qual a Europa dá testemunho. Nos últimos 30 anos, a tendência geral no continente tem sido de forte queda da fé, como mostram pesquisas que questionam não apenas as crenças dos entrevistados mas também o peso que cada um deles atribuía à religião em sua vida.

Um caso emblemático é o da Suécia. Como mostra Phil Zuckerman, menos de 20% dos suecos acreditam em um Deus pessoal. E este país nórdico, não custa lembrar, é um dos melhores lugares do mundo para viver, com uma democracia sólida, muita riqueza e bem distribuída, um amplo sistema de seguridade social, baixíssimas taxas de criminalidade, ótima educação etc.

No outro extremo, países mais pobres tendem a ser os mais carolas. Pesquisa Gallup de 2009 classificou 114 nações pelo valor que suas populações atribuíam à fé. No topo, com 99% ou mais afirmando que a religião é importante em suas vidas, temos Bangladesh, Níger e Iêmen.

Correlação, como se sabe, não é sinônimo de causa, mas a prioridade que o papa Francisco quer dar aos pobres pode ser, mais do que uma opção, uma questão de sobrevivência.

Sonos tranquilos - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 19/03
Cidadãos comuns, sem acesso às complicadas engrenagens do Estado, têm o direito - e às vezes o exercem - de desconfiar de que as autoridades nem sempre cumprem o que devem e prometem. Mas não é comum que ocupantes de altos cargos manifestem a mesma preocupação.

É curioso, portanto - ou, melhor dizendo, bastante preocupante -, que um alto funcionário afirme publicamente o temor de que decisões de tribunais não sejam cumpridas com a rapidez necessária.

Tem considerável importância, portanto, que numa recente entrevista o procurador-geral da República, Roberto Gurgel (que, deve-se lembrar, está em fim de mandato), tenha sentido a elogiável necessidade de cobrar agilidade na execução das penas impostas - sem possibilidade de qualquer recurso - aos cidadãos (todos da turma de colarinho branco, é bom lembrar) condenados no chamado processo do mensalão.

O qual, é sempre bom lembrar, ocupa a vergonhosa posição de maior escândalo político dos últimos anos. Por decisão do Supremo Tribunal Federal, última instância do Poder Judiciário, 25 réus foram condenados; 23 receberam penas de prisão, e 11 deles cumprirão a pena, pelo menos inicialmente, em regime fechado.

O caso teve o resultado merecido, que muita gente não esperava. A cobrança de Gurgel não é apenas oportuna: para quem se lembra do desfecho de muitos outros casos do gênero, pode ser definida também como surpreendente e exemplar.

Mas o bom trabalho do Judiciário não está concluído. Alguns pessimistas podem dizer que, no Brasil, nunca é simples ou rápido mandar para a cadeia condenados de colarinho branco. Nem será, desta vez. Primeiro, é preciso que o STF publique o acórdão do julgamento - uma providência burocrática: não há desculpa para adiamento. Depois, o tribunal terá de julgar recursos dos réus. Como todos têm recursos para contratar os melhores advogados da praça, pode-se imaginar quanto tempo isso pode demorar.

É justa e oportuna, portanto, a preocupação do procurador-geral. Deveria servir de estímulo a uma revisão do sistema. O que provavelmente não acontecerá. Há muita gente, no Congresso e no Executivo, que prefere as coisas como estão. O pessoal - com as exceções de praxe - dorme mais tranquilo.

O grande negócio - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/03

Chamou a atenção, ontem, o número de embaixadores no auditório da Embrapa, quando o então ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, transmitiu o cargo para o sucessor, Antônio Andrade. Estiveram representados países como Suécia, Bélgica, Portugal, Uruguai, Sudão, Croácia, Cuba, Haiti e Barbados. Juntando esse público com o discurso da presidente da Confederação Nacional de Agricultura, Kátia Abreu, fica translúcido o interesse comercial na agricultura brasileira.

A senadora pelo PSD, que, aliás, já esteve cotada para assumir a pasta, se referiu ao Mercosul como um “acordo-âncora” que impede o crescimento e amarra o país. Não é de hoje que o setor reclama de estar amarrado ao bloco econômico. Kátia Abreu falou sobre a necessidade de “acordos-balões” que elevem a agricultura brasileira a patamares mais atrativos. Foi incisiva na frente dos uruguaios, ao mencionar o Mercosul como um acordo do atraso.

Em recente artigo, a senadora já havia se referido ao mercado comum do Cone Sul como algo que “a cada dia mais, converte-se em um clube ideológico”. Foi direta ainda ao descrevê-lo como um “condomínio atrasado e medroso, com muita retórica e pouco comércio”. Sem cerimônia, escreveu que “o Mercosul teme o comércio livre e impede que o Brasil faça acordos com o resto do mundo, a não ser que se conforme e se limite aos termos da política argentina. O Brasil ficou grande demais para se submeter às limitações impostas pela cultura do atraso que teima em não nos deixar ou ser abafado pela miopia kirchnerista ou bolivariana”, num recado direto à presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Kátia Abreu foi, ali, porta-voz do que o setor reclama todos os dias: o fim das amarras às exportações brasileiras. Até porque é o agronegócio quem sustenta a balança comercial.

O novo ministro, Antônio Andrade, concordou com o discurso da colega de parlamento. Ocorre que, como recém-chegado ao governo e sem intimidade com a chefe — leia-se Dilma Rousseff —, talvez não tenha voz suficiente para servir de cunha entre Dilma e Cristina, ou mesmo entre Dilma e José Mujica, em defesa das exportações brasileiras para países de fora do Mercosul. Além disso, ele tem prazo para mostrar resultado ao seu partido, sob pena de ser chamado a se retirar mais cedo. Esperamos que consiga se equilibrar entre tantos cristais.

Enquanto isso, no PMDB…

Os peemedebistas de Minas Gerais compareceram em peso à transmissão de cargo. Os gaúchos nem tanto, mas os aplausos de pé foram para o hoje ex-ministro Mendes Ribeiro (RS). Mendes era o único ministro do PMDB que não estava no governo porque era o preferido de alguma bancada estadual peemedebista. E sim porque Dilma o conhece e ele esteve desde o começo de corpo e alma no projeto Dilma. Além disso, não via como primeiro compromisso o PMDB, e sim, o governo e as diretrizes da presidente. Por isso, deixa o governo não por uma questão de saúde. Até porque ele concluiu o tratamento. Agora, Dilma ganhou mais um ministro mais afinado com o partido do que com o governo. E o partido, como sempre, espera que dê resultados, em especial, aos municípios de Minas Gerais governados pelos peemeedebistas.

E no PSDB…

A oposição hoje está com os olhos voltados ao desfecho das reuniões de ontem à noite, em São Paulo, para onde Aécio Neves se dirigiu a fim de tentar agregar os tucanos estaduais ao seu projeto. As notícias que se têm de lá deixam claro que, se depender de Geraldo Alckmin, Aécio terá todo o respaldo. O governador só não quer precipitar o processo eleitoral agora para não ser, logo ali na frente, acusado de fazer campanha antecipada. O mesmo, entretanto, não se pode dizer de José Serra.

Nos bastidores, há quem diga que a divisão do PSDB de hoje repete o PT do passado, quando ninguém no partido conseguia se unir em prol da campanha pelo outro. Em São Paulo, por exemplo, o PSDB resiste em aceitar o senador por Minas Gerais. Se fosse um partido unido, a conversa de ontem seria no sentido de os paulistas perguntarem ao mineiro o que ele necessita para se fortalecer em São Paulo. Mas não estamos falando da missa papal. Aqui é a vida real. E, na política, ela costuma ser dura. Mas essa é outra história.

O primeiro paralelepípedo - TONINHO NASCIMENTO

O GLOBO - 19/03
Quando assumi a Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor, do Ministério do Esporte, em 29 de janeiro, sabia que, após duas décadas de jornalismo esportivo, passaria de pedra a vidraça, como me lembraram constantemente várias pessoas. E que, como tudo no esporte, mais do que pedra seria atingido por paralelepípedos, como afirmou na época o ministro Aldo Rebelo. O futebol é movido por paixão, quase nunca por razão, e é isso o que o faz se identificar de forma única com o nosso país, tanto nas coisas boas, como a alegria de comemorar um gol do seu time, quanto nas ruins, como a violência de um minoria de torcedores.

O primeiro paralelepípedo voou na direção do ministério. Vamos a ele, com fortes doses de razão na defesa e um pouco menos de paixão no ataque. Esta "pedra" veio atada com um bilhete que dizia: é um absurdo o Ministério do Esporte querer que os clubes passem a não pagar Imposto de Renda, afinal eles ganham milhões e contratam jogadores por milhões.

Voltemos no tempo. Rapidamente. Os clubes nunca pagaram Imposto de Renda. Não se quer mudar nada. Em 1998, na publicação da Lei Pelé, se achava que a solução para os clubes seria que eles se transformassem (todos) em empresas. Na criação da Timemania, em 2007, era necessário incluir os clubes-empresas junto aos sem fins lucrativos. A Receita Federal achou, com base nos dois casos, que todos os clubes deixaram de ser sem fins lucrativos. O Ministério do Esporte discorda, pois entende, com base no § 9º do art. 27 da Lei nº 9.615, de 1998, Lei Pelé, que os clubes de futebol - e todas as entidades desportivas profissionais - têm a faculdade de se constituírem sob a forma de sociedade empresarial, adotando, para tanto, uma das formas previstas nos arts. 1.039 a 1.092 do Código Civil Brasileiro de 2002, e que todos aqueles que estiverem constituídos sob a forma de associação civil têm o direito de gozar das isenções que a legislação brasileira lhes conferir em virtude dessa condição, tal como ocorre atualmente com o art. 15 da Lei nº 9.532, de 1997, e nos arts. 13 e 14 da MP nº 2158-35/2001.

Sai o "jurisdiquês" e entra o bom senso (primos que às vezes não se entendem, o que não é este o caso). Se prevalecer a visão da cobrança de Imposto de Renda, todos os clubes, até aqueles em que nossos filhos ou filhas têm aulas de natação ou vôlei, que ficam perto de nossas casas, estariam sujeitos, em tese, à tributação. Muitos deles não resistiriam.

Existe ainda outro argumento para manter a situação atual.

Se eu (ou você) não pagar Imposto de Renda quantos empregos serão criados? É quase certo que nenhum. A situação dos clubes é diferente.

Hoje, o investimento em futebol no Brasil equivale a 0,2% do PIB, situação muito pior do que a da nossa seleção no ranking da Fifa (18ª). Na Espanha, campeã do mundo (uma vez, fomos cinco vezes), o percentual equivale a 1,2%. Não é taxando os clubes que vamos aumentar este número, criando mais empregos, movimentando mais dinheiro etc.

Outro pedaço do paralelepípedo: mas o governo está perdendo dinheiro!!!, afirmam. Não. Não está. Pelo contrário. A renúncia fiscal é uma das opções mais bem-sucedidas que os governos têm para abrir mão de dinheiro imediato para arrecadar muito mais à frente. É o que está sendo feito, com sucesso, em várias áreas da economia brasileira, como a indústria automotiva (cerca de R$ 25 bilhões em 2012) e a construção e ampliação da rede de telecomunicações (R$ 6 bilhões em 2013), medida mais recente.

No futebol, ao contrário da cultura, tudo é motivo de polêmica. O Vale-Cultura prevê a injeção em benefícios de R$ 11,3 bilhões na área nos próximos anos. Bela medida. No esporte, essa "tática" também precisa continuar a ser usada, com a isenção de tributos dos clubes e, no futuro próximo, com a troca das dívidas dos clubes pelo apoio ao crescimento do esporte no Brasil. Evidentemente aliada a rígidas contrapartidas, o que nunca se fez, como o compromisso financeiro dos gestores e a perda de pontos em caso do não cumprimento do acertado.

Mas isso é assunto para um segundo paralelepípedo.