terça-feira, março 19, 2013

O grande negócio - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/03

Chamou a atenção, ontem, o número de embaixadores no auditório da Embrapa, quando o então ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro, transmitiu o cargo para o sucessor, Antônio Andrade. Estiveram representados países como Suécia, Bélgica, Portugal, Uruguai, Sudão, Croácia, Cuba, Haiti e Barbados. Juntando esse público com o discurso da presidente da Confederação Nacional de Agricultura, Kátia Abreu, fica translúcido o interesse comercial na agricultura brasileira.

A senadora pelo PSD, que, aliás, já esteve cotada para assumir a pasta, se referiu ao Mercosul como um “acordo-âncora” que impede o crescimento e amarra o país. Não é de hoje que o setor reclama de estar amarrado ao bloco econômico. Kátia Abreu falou sobre a necessidade de “acordos-balões” que elevem a agricultura brasileira a patamares mais atrativos. Foi incisiva na frente dos uruguaios, ao mencionar o Mercosul como um acordo do atraso.

Em recente artigo, a senadora já havia se referido ao mercado comum do Cone Sul como algo que “a cada dia mais, converte-se em um clube ideológico”. Foi direta ainda ao descrevê-lo como um “condomínio atrasado e medroso, com muita retórica e pouco comércio”. Sem cerimônia, escreveu que “o Mercosul teme o comércio livre e impede que o Brasil faça acordos com o resto do mundo, a não ser que se conforme e se limite aos termos da política argentina. O Brasil ficou grande demais para se submeter às limitações impostas pela cultura do atraso que teima em não nos deixar ou ser abafado pela miopia kirchnerista ou bolivariana”, num recado direto à presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Kátia Abreu foi, ali, porta-voz do que o setor reclama todos os dias: o fim das amarras às exportações brasileiras. Até porque é o agronegócio quem sustenta a balança comercial.

O novo ministro, Antônio Andrade, concordou com o discurso da colega de parlamento. Ocorre que, como recém-chegado ao governo e sem intimidade com a chefe — leia-se Dilma Rousseff —, talvez não tenha voz suficiente para servir de cunha entre Dilma e Cristina, ou mesmo entre Dilma e José Mujica, em defesa das exportações brasileiras para países de fora do Mercosul. Além disso, ele tem prazo para mostrar resultado ao seu partido, sob pena de ser chamado a se retirar mais cedo. Esperamos que consiga se equilibrar entre tantos cristais.

Enquanto isso, no PMDB…

Os peemedebistas de Minas Gerais compareceram em peso à transmissão de cargo. Os gaúchos nem tanto, mas os aplausos de pé foram para o hoje ex-ministro Mendes Ribeiro (RS). Mendes era o único ministro do PMDB que não estava no governo porque era o preferido de alguma bancada estadual peemedebista. E sim porque Dilma o conhece e ele esteve desde o começo de corpo e alma no projeto Dilma. Além disso, não via como primeiro compromisso o PMDB, e sim, o governo e as diretrizes da presidente. Por isso, deixa o governo não por uma questão de saúde. Até porque ele concluiu o tratamento. Agora, Dilma ganhou mais um ministro mais afinado com o partido do que com o governo. E o partido, como sempre, espera que dê resultados, em especial, aos municípios de Minas Gerais governados pelos peemeedebistas.

E no PSDB…

A oposição hoje está com os olhos voltados ao desfecho das reuniões de ontem à noite, em São Paulo, para onde Aécio Neves se dirigiu a fim de tentar agregar os tucanos estaduais ao seu projeto. As notícias que se têm de lá deixam claro que, se depender de Geraldo Alckmin, Aécio terá todo o respaldo. O governador só não quer precipitar o processo eleitoral agora para não ser, logo ali na frente, acusado de fazer campanha antecipada. O mesmo, entretanto, não se pode dizer de José Serra.

Nos bastidores, há quem diga que a divisão do PSDB de hoje repete o PT do passado, quando ninguém no partido conseguia se unir em prol da campanha pelo outro. Em São Paulo, por exemplo, o PSDB resiste em aceitar o senador por Minas Gerais. Se fosse um partido unido, a conversa de ontem seria no sentido de os paulistas perguntarem ao mineiro o que ele necessita para se fortalecer em São Paulo. Mas não estamos falando da missa papal. Aqui é a vida real. E, na política, ela costuma ser dura. Mas essa é outra história.

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