FOLHA DE SP - 17/01
Em 67, em Salvador, Piero Gancia e Emilio Zambello venceram a primeira prova em dupla pilotando uma Alfa
Não quis nem saber. Na largada, mandei o pé lá para baixo e saí desviando dos "marcha lentas". Não tinha tempo a perder, eu era uma mulher com uma missão. Quando cheguei na beirada do precipício do "S" do Senna já tinha papado uns dois ou três. A mim pouco importava se a maioria dos meus "adversários" estava ali só para tomar ar no rosto e rever os amigos ou se os carros deveriam ser poupados, posto que eram relíquias e nos haviam sido gentilmente cedidos pelos donos.
Quando soube que teria de defender a honra da família ao volante, no solo amigo da pista de Interlagos, achei melhor estabelecer um objetivo claro que pudesse tirar qualquer outra distração do caminho. Não queria que minha hipófise, já tão bombardeada em 56 carnavais, acabasse sendo fragilizada de antemão por emoções indevidas, entre elas, o fato concreto de que aquele evento traria fartas lembranças a todos os envolvidos.
O convite ao qual eu respondera (com grande entusiasmo, diga-se), fora o de reviver a equipe Jolly-Gancia junto com os filhos dos outros membros do "team" em uma "corrida" de 5 voltas que deveria ocorrer antes do início dos 500 Quilômetros de Interlagos.
Nos anos 60, a Jolly competia com as berlinetas da equipe Dacon, as carreteiras do Camillo Christófaro, o Fitti-Porsche dos irmãos Wilson e Emerson, brasincas e DKWs no campeonato nacional.
Tudo começara quando meu pai, Piero, levou uma Alfa Romeo de passeio para consertar em uma oficina no Brás e o mecânico que o recebeu, uma figura cuja perna direita foi extraída de um filme de Fellini e a esquerda de um filme de Mario Monicelli, imediatamente ordenou que ele colocasse o carro para correr.
Como Piero sempre fora admirador de Ascari e Nuvolari e conhecia um pouco de velocidade, e o mecânico, Giuseppe Perego, tinha trabalhado com Fangio na Maserati, a coisa engrenou.
Juntaram-se a eles Manolo, assistente de Giuseppe, Celso Lara Barberis, o melhor piloto da época, que viria a falecer logo em seguida, e Emilio Zambello, que de 1962 em diante acompanhou Piero dentro e fora das pistas em uma trajetória admirável como co-piloto, sócio, amigo e irmão.
A Jolly passou por altos e baixos. Em 1967, em Salvador, Piero e Emilio venceram a primeira em dupla. Em 1969, de 24 corridas, a equipe ganhou 23. Houve uma corrida na Bahia em que fizeram as seis primeiras colocações.
Giuseppe, sua bituca no canto da boca e seu chapelão de palha, todo sujo de graxa, Manolo, sempre com olhar grave, mais os bons rapazes Piero e Emilio montaram uma equipe pela qual passaram José Carlos Pace, Marivaldo Fernandes, Wilson Fittipaldi Jr., Tite Catapani, Ubaldo César Lolli, Graciela Fernandes, Ciro Cayres, Afonso Giaffone, os irmãos "Abillion" e Cidão Diniz, Lulla Gancia e Felice Albertini, que vinha a ser nosso motorista particular e também, não sei como conseguia tempo, sargento do juizado de menores.
Foi na subida do laranjinha que eu finalmente consegui mandar pela janela um vistoso dedo ao meu irmão, enquanto ultrapassava a alfinha GTA que o Marcelo, filho do Manolo, arrumou para ele pilotar naquele dia. O evento era uma homenagem ao Emilio, não uma prova de vida ou morte, ninguém estava pisando fundo, mas eu não pude conter minha dick-vigarice.
Nem tampouco contive as lágrimas, minutos depois, já nos box, na hora em que o sujeito ao microfone descrevia as glórias de Zambello e ele discretamente se aproximou do camarada e sussurrou ao seu ouvido: "Agora fala do Piero".
Não imaginava que aquela linda manhã de outubro em que a gente se divertiu tanto seria a última vez que o viria. Emilio Zambello nos deixou na última quarta-feira, aos 87 anos.
sexta-feira, janeiro 17, 2014
O ninho vazio - RUY CASTRO
FOLHA DE SP- 17/01
RIO DE JANEIRO - Uma amiga está triste porque sua filha se mudou para Nova York. Foi estudar na Universidade Columbia e não deve voltar tão cedo. O filho mais velho, também há pouco, foi trabalhar em outra cidade. Os dois moravam com ela. De repente, minha amiga ficou sozinha em casa. Está passando pela "síndrome do ninho vazio", uma figura da psicologia para definir a depressão que se apossa de alguns pais --ou, quase sempre, mães-- quando seus filhos vão à vida.
Estava pensando nisso quando, pouco antes do Natal, percebi certos movimentos alados no terraço. Uma rolinha ia e vinha, com matinhos no bico, e pousava numa viga alta do caramanchão. Mesmo à distância, constatei que estava construindo um ninho. No Natal, o ninho ficou pronto. Ela sossegou e sentou-se nele pelos dias seguintes. Batizei-a de Lola, a Rola, e saboreei a expectativa de, em breve, ser avô.
Não entendo de passarinhos, mas calculei que, por sua circunspecção no ninho, Lola devia estar sentada sobre três ou quatro ovos --e, se assim fosse, merecia respeito pelo que lhe devia ter custado botá-los para fora. Mas Silvania, minha funcionária, aproveitou-se da temporária ausência de Lola --numa das poucas vezes em que ela saiu, certamente para ir às compras--, subiu a um banquinho, espiou o conteúdo do ninho e me informou de que eu era avô de um único ovo.
Bem, não sejamos soberbos, um já estava bom. Dias depois, constatamos que, em certos momentos, o rabo e a cabecinha para fora do ninho eram menores. O bebê nascera. Dei-lhe o nome de Lolita, a Rolita, e esperei que ela e sua mãe nos brindassem com algumas piruetas, mesmo desajeitadas, como parte do aprendizado aéreo de Lolita.
Que nada. Ontem, Lola, a Rola, e Lolita, a Rolita, foram embora bem cedo. E sem se despedir. Agora entendo a síndrome do ninho vazio.
RIO DE JANEIRO - Uma amiga está triste porque sua filha se mudou para Nova York. Foi estudar na Universidade Columbia e não deve voltar tão cedo. O filho mais velho, também há pouco, foi trabalhar em outra cidade. Os dois moravam com ela. De repente, minha amiga ficou sozinha em casa. Está passando pela "síndrome do ninho vazio", uma figura da psicologia para definir a depressão que se apossa de alguns pais --ou, quase sempre, mães-- quando seus filhos vão à vida.
Estava pensando nisso quando, pouco antes do Natal, percebi certos movimentos alados no terraço. Uma rolinha ia e vinha, com matinhos no bico, e pousava numa viga alta do caramanchão. Mesmo à distância, constatei que estava construindo um ninho. No Natal, o ninho ficou pronto. Ela sossegou e sentou-se nele pelos dias seguintes. Batizei-a de Lola, a Rola, e saboreei a expectativa de, em breve, ser avô.
Não entendo de passarinhos, mas calculei que, por sua circunspecção no ninho, Lola devia estar sentada sobre três ou quatro ovos --e, se assim fosse, merecia respeito pelo que lhe devia ter custado botá-los para fora. Mas Silvania, minha funcionária, aproveitou-se da temporária ausência de Lola --numa das poucas vezes em que ela saiu, certamente para ir às compras--, subiu a um banquinho, espiou o conteúdo do ninho e me informou de que eu era avô de um único ovo.
Bem, não sejamos soberbos, um já estava bom. Dias depois, constatamos que, em certos momentos, o rabo e a cabecinha para fora do ninho eram menores. O bebê nascera. Dei-lhe o nome de Lolita, a Rolita, e esperei que ela e sua mãe nos brindassem com algumas piruetas, mesmo desajeitadas, como parte do aprendizado aéreo de Lolita.
Que nada. Ontem, Lola, a Rola, e Lolita, a Rolita, foram embora bem cedo. E sem se despedir. Agora entendo a síndrome do ninho vazio.
Melhoria no painel de controle - SERGEI SOARES
O GLOBO - 17/01
Em breve poderemos contar com informações mensais representativas para o Brasil sobre vários indicadores
Quando se dirige algo — de um carro a uma empresa — um bom painel de controle é fundamental. Apenas com evidências sobre a situação externa e o desempenho da máquina se pode traçar o melhor curso e modo de dirigir para chegar aonde se quer. Não é diferente quando se trata de uma sociedade inteira. A direção da sociedade brasileira — que cabe não apenas ao governo, mas a cada um de nós — será tanto melhor quanto melhor for o painel de controle que nos diz como e para aonde estamos indo.
Hoje, indicadores fundamentais no nosso painel de controle são a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). As duas têm orientado ações por quase quatro décadas, e debates como aqueles envolvendo o desemprego ou o aumento e depois a queda da desigualdade foram travados em torno dos seus números. As histórias da Pnad e da PME se confundem com a história dos debates sobre as políticas sociais no Brasil.
Mas todas as histórias chegam ao fim. A Pnad e PME têm uma folha de serviços prestados à nação, mas serão agora substituídas por uma pesquisa melhor em todas as dimensões. A nova Pnad, ou Pnad Contínua, será apresentada à nação pelo IBGE hoje com várias melhorias.
Enquanto hoje temos informações mensais que cobrem apenas seis regiões metropolitanas, em breve poderemos contar com informações mensais representativas para o Brasil sobre vários indicadores. A Pnad Contínua também contém uma amostra representativa de todos os brasileiros que será seguida ao longo de um ano, o que permitirá o acompanhamento de indicadores que dependem da existência de múltiplas entrevistas. Finalmente, o esquema amostral na Pnad Contínua permitirá que se observe em maior detalhe o que ocorre no conjunto dos municípios médios e pequenos, até hoje um pouco negligenciados nos períodos intercensitários.
O resultado final é uma melhoria inequívoca no painel de controle da sociedade brasileira.
Mas a mudança não é indolor e o principal custo de melhoria do nosso painel de controle será a falta de comparabilidade. Os números da PME e da Pnad antiga não são comparáveis com os números da nova Pnad Contínua. Como sempre haverá aqueles que insistem em comparar o incomparável, o que devem encontrar?
Com relação ao emprego, provavelmente, as taxas de desocupação serão maiores na Pnad Continua. Isso porque ela cobre o interior do país — menos dinâmico que as regiões metropolitanas cobertas pela PME — e usa um questionário que mede melhor o subemprego.
Com relação a renda e pobreza, a Pnad Contínua tencionará medir melhor certas rendas não muito bem medidas na atual PNAD. Por outro lado, a nova Pnad Contínua irá amostrar de modo mais intenso o interior do país, no qual as rendas são menores. Acredito que a renda será maior e a pobreza, menor.
Todas estas comparações não mostram mudanças reais — para ver estas teremos que comparar PNAD Contínua com PNAD Contínua —, mas apenas o que se espera da mudança do instrumento. São o preço a pagar para melhorar nosso painel de controle.
Em breve poderemos contar com informações mensais representativas para o Brasil sobre vários indicadores
Quando se dirige algo — de um carro a uma empresa — um bom painel de controle é fundamental. Apenas com evidências sobre a situação externa e o desempenho da máquina se pode traçar o melhor curso e modo de dirigir para chegar aonde se quer. Não é diferente quando se trata de uma sociedade inteira. A direção da sociedade brasileira — que cabe não apenas ao governo, mas a cada um de nós — será tanto melhor quanto melhor for o painel de controle que nos diz como e para aonde estamos indo.
Hoje, indicadores fundamentais no nosso painel de controle são a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) e a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). As duas têm orientado ações por quase quatro décadas, e debates como aqueles envolvendo o desemprego ou o aumento e depois a queda da desigualdade foram travados em torno dos seus números. As histórias da Pnad e da PME se confundem com a história dos debates sobre as políticas sociais no Brasil.
Mas todas as histórias chegam ao fim. A Pnad e PME têm uma folha de serviços prestados à nação, mas serão agora substituídas por uma pesquisa melhor em todas as dimensões. A nova Pnad, ou Pnad Contínua, será apresentada à nação pelo IBGE hoje com várias melhorias.
Enquanto hoje temos informações mensais que cobrem apenas seis regiões metropolitanas, em breve poderemos contar com informações mensais representativas para o Brasil sobre vários indicadores. A Pnad Contínua também contém uma amostra representativa de todos os brasileiros que será seguida ao longo de um ano, o que permitirá o acompanhamento de indicadores que dependem da existência de múltiplas entrevistas. Finalmente, o esquema amostral na Pnad Contínua permitirá que se observe em maior detalhe o que ocorre no conjunto dos municípios médios e pequenos, até hoje um pouco negligenciados nos períodos intercensitários.
O resultado final é uma melhoria inequívoca no painel de controle da sociedade brasileira.
Mas a mudança não é indolor e o principal custo de melhoria do nosso painel de controle será a falta de comparabilidade. Os números da PME e da Pnad antiga não são comparáveis com os números da nova Pnad Contínua. Como sempre haverá aqueles que insistem em comparar o incomparável, o que devem encontrar?
Com relação ao emprego, provavelmente, as taxas de desocupação serão maiores na Pnad Continua. Isso porque ela cobre o interior do país — menos dinâmico que as regiões metropolitanas cobertas pela PME — e usa um questionário que mede melhor o subemprego.
Com relação a renda e pobreza, a Pnad Contínua tencionará medir melhor certas rendas não muito bem medidas na atual PNAD. Por outro lado, a nova Pnad Contínua irá amostrar de modo mais intenso o interior do país, no qual as rendas são menores. Acredito que a renda será maior e a pobreza, menor.
Todas estas comparações não mostram mudanças reais — para ver estas teremos que comparar PNAD Contínua com PNAD Contínua —, mas apenas o que se espera da mudança do instrumento. São o preço a pagar para melhorar nosso painel de controle.
Humor e ofensa - MICHEL LAUB
FOLHA DE SP - 17/01
Uma vertente do humor opera no limite dos valores aceitos, confrontando gosto e ideologia do público
Toda vez que um humorista se mete em uma controvérsia, surge alguém para dizer que o problema não são as piadas ofensivas, e sim a falta de graça do autor. É mentira. Ninguém vai aos jornais falar mal de humoristas respeitosos, tenham eles talento ou não.
É mais ou menos o caso do arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, em relação a um especial de Natal do grupo Porta dos Fundos. "Será que isso é humor?", ele escreveu no Twitter. "Ou é intolerância religiosa travestida?" No vídeo, assistido 4,4 milhões de vezes até a última terça (http://migre.me/hr3jz), os esquetes citam Jesus, Deus, drogas, Luciano Huck, um carteiraço na Santa Ceia e crucificados que usam Bepantol nas feridas.
A indagação do cardeal tem história. De um lado da briga estão os que não consideram a liberdade um valor absoluto. Entre eles, cristãos que propõem boicote e medidas legais contra o Porta dos Fundos.
Um argumento que deve ser usado no processo é clássico: deve haver restrições ao discurso contrário à democracia ou que faz apologia do crime. O humor ofensivo não teria conteúdo análogo, pois pode incentivar a intolerância (e a violência) contra determinados grupos?
Nos Estados Unidos, uma das grandes derrotas judiciais dessa corrente se iniciou com uma sátira religiosa --uma falsa peça publicitária, publicada na revista do pornógrafo Larry Flynt, em que o pastor Jerry Falwell conta que perdeu a virgindade com a própria mãe.
Retratado num bom filme de Milos Forman, e tendo como objeto a imagem de figuras públicas, o caso discutiu a Primeira Emenda --que trata de liberdade de expressão-- e ajudou a firmar princípios como o de que o humor pode ser ruim, burro, grotesco, repulsivo. Mas proibi-lo seria dar ao Estado a prerrogativa de uma escolha --ignorar a revista, não assistir ao vídeo-- que é individual.
Daria para acrescentar que uma vertente importante do humor, como uma vertente importante da arte, opera no limite dos valores aceitos, confrontando gosto e ideologia do público. Pense em piadas que reproduzem estereótipos racistas. Elas podem confirmá-los ou, por meio da exacerbação irônica ou recurso semelhante, fazer o contrário.
De um modo ou outro haverá reações como a de d. Odilo. Que poderiam ser mais complexas de se lidar, digamos, trocando-se os personagens. Se o cardeal é um alvo até fácil para o establishment cultural progressista e laico --na Vila Madalena ou no Leblon, ninguém tem pena de um homem branco e poderoso na hierarquia da igreja--, o que aconteceria se o indignado fosse muçulmano, judeu, gay, mulher?
Uma resposta possível teria algo de casuístico. Certos grupos são menos ou mais vulneráveis de acordo com as circunstâncias. O Brasil é um país com passado recente de escravidão. Gays ainda são agredidos na avenida Paulista. Mulheres sofrem o diabo nas classes pobres. Já os cristãos, diferentemente do que ocorre em outras partes do mundo, são maioria e nunca foram perseguidos por aqui.
O problema desta abordagem caso a caso, que dependeria de uma sensibilidade política sempre discutível para dirimir conflitos, é ser discriminatória por princípio.
Às vezes, a democracia faz ginástica para se adaptar a distorções do gênero --caso das cotas em universidades, que têm como recompensa anunciada a diminuição de desigualdades históricas.
Tentar fazer esse tipo de reparo na esfera do humor, permitindo-se zombar da fé cristã, mas não de outras crenças e grupos, e considerando que tudo se resume a meia dúzia de piadas (que, ademais, passam pelos filtros de qualidade e conveniência da sociedade), já está além do razoável.
Restam, então, as alternativas a partir de uma regra única e universal. A primeira, que proíbe tudo o que parecer incômodo por via das dúvidas, é pior: o cerceamento do discurso do humorista, do artista ou de qualquer cidadão tende a limitar o debate público e formar uma audiência infantilizada.
A segunda alternativa, com todos os problemas que acarreta, é a da liberdade. Nos Estados Unidos, além do caso Larry Flynt, o modelo venceu batalhas difíceis e legitimou uma tradição de comediantes incisivos, de Lenny Bruce e Andy Kaufman a Louis C.K. e Chris Rock, e uma prática de confronto e oxigenação das ideias que fortalece a democracia. Se o Porta dos Fundos acabar nos tribunais superiores, seria bom que o mesmo acontecesse no Brasil.
Uma vertente do humor opera no limite dos valores aceitos, confrontando gosto e ideologia do público
Toda vez que um humorista se mete em uma controvérsia, surge alguém para dizer que o problema não são as piadas ofensivas, e sim a falta de graça do autor. É mentira. Ninguém vai aos jornais falar mal de humoristas respeitosos, tenham eles talento ou não.
É mais ou menos o caso do arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, em relação a um especial de Natal do grupo Porta dos Fundos. "Será que isso é humor?", ele escreveu no Twitter. "Ou é intolerância religiosa travestida?" No vídeo, assistido 4,4 milhões de vezes até a última terça (http://migre.me/hr3jz), os esquetes citam Jesus, Deus, drogas, Luciano Huck, um carteiraço na Santa Ceia e crucificados que usam Bepantol nas feridas.
A indagação do cardeal tem história. De um lado da briga estão os que não consideram a liberdade um valor absoluto. Entre eles, cristãos que propõem boicote e medidas legais contra o Porta dos Fundos.
Um argumento que deve ser usado no processo é clássico: deve haver restrições ao discurso contrário à democracia ou que faz apologia do crime. O humor ofensivo não teria conteúdo análogo, pois pode incentivar a intolerância (e a violência) contra determinados grupos?
Nos Estados Unidos, uma das grandes derrotas judiciais dessa corrente se iniciou com uma sátira religiosa --uma falsa peça publicitária, publicada na revista do pornógrafo Larry Flynt, em que o pastor Jerry Falwell conta que perdeu a virgindade com a própria mãe.
Retratado num bom filme de Milos Forman, e tendo como objeto a imagem de figuras públicas, o caso discutiu a Primeira Emenda --que trata de liberdade de expressão-- e ajudou a firmar princípios como o de que o humor pode ser ruim, burro, grotesco, repulsivo. Mas proibi-lo seria dar ao Estado a prerrogativa de uma escolha --ignorar a revista, não assistir ao vídeo-- que é individual.
Daria para acrescentar que uma vertente importante do humor, como uma vertente importante da arte, opera no limite dos valores aceitos, confrontando gosto e ideologia do público. Pense em piadas que reproduzem estereótipos racistas. Elas podem confirmá-los ou, por meio da exacerbação irônica ou recurso semelhante, fazer o contrário.
De um modo ou outro haverá reações como a de d. Odilo. Que poderiam ser mais complexas de se lidar, digamos, trocando-se os personagens. Se o cardeal é um alvo até fácil para o establishment cultural progressista e laico --na Vila Madalena ou no Leblon, ninguém tem pena de um homem branco e poderoso na hierarquia da igreja--, o que aconteceria se o indignado fosse muçulmano, judeu, gay, mulher?
Uma resposta possível teria algo de casuístico. Certos grupos são menos ou mais vulneráveis de acordo com as circunstâncias. O Brasil é um país com passado recente de escravidão. Gays ainda são agredidos na avenida Paulista. Mulheres sofrem o diabo nas classes pobres. Já os cristãos, diferentemente do que ocorre em outras partes do mundo, são maioria e nunca foram perseguidos por aqui.
O problema desta abordagem caso a caso, que dependeria de uma sensibilidade política sempre discutível para dirimir conflitos, é ser discriminatória por princípio.
Às vezes, a democracia faz ginástica para se adaptar a distorções do gênero --caso das cotas em universidades, que têm como recompensa anunciada a diminuição de desigualdades históricas.
Tentar fazer esse tipo de reparo na esfera do humor, permitindo-se zombar da fé cristã, mas não de outras crenças e grupos, e considerando que tudo se resume a meia dúzia de piadas (que, ademais, passam pelos filtros de qualidade e conveniência da sociedade), já está além do razoável.
Restam, então, as alternativas a partir de uma regra única e universal. A primeira, que proíbe tudo o que parecer incômodo por via das dúvidas, é pior: o cerceamento do discurso do humorista, do artista ou de qualquer cidadão tende a limitar o debate público e formar uma audiência infantilizada.
A segunda alternativa, com todos os problemas que acarreta, é a da liberdade. Nos Estados Unidos, além do caso Larry Flynt, o modelo venceu batalhas difíceis e legitimou uma tradição de comediantes incisivos, de Lenny Bruce e Andy Kaufman a Louis C.K. e Chris Rock, e uma prática de confronto e oxigenação das ideias que fortalece a democracia. Se o Porta dos Fundos acabar nos tribunais superiores, seria bom que o mesmo acontecesse no Brasil.
Ueba! 'BBB', a Turma do Friboi! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 17/01
O problema do 'BBB' é de Vigilância Sanitária. Rarará! Abriram o açougue! Bíceps, tríceps, bundas!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Polícia flagra racha de charretes em Botucatu". Mas o que é isso? Refilmagem de "Ben Hur"? Racha de charretes! E como eles dão cavalo de pau com a charrete? Rarará!
E um leitor me manda uma dúvida econômica: os materiais escolares subiram acima da inflação, alimentos sobem acima da inflação, tudo sobe acima da inflação, então a única coisa que ficou abaixo da inflação foi a inflação?!
Essa é a grande manchete econômica: "Inflação fica abaixo da inflação". Rarará! E notícia econômica é a coisa mais democrática que existe: ninguém entende absolutamente nada! Rarará!
E socuerro! Todos para o abrigo! Me mate um bode! Começou o Big Bagaça Brasil! O problema não é gostar ou não gostar do "BBB". O problema do "BBB" é de Vigilância Sanitária. É com a Anvisa! Rarará! Abriram o açougue! Bíceps, tríceps, bundas!
E as gostosas têm selo Friboi de qualidade? Esse povo é friboi? Agora vou chamar esse povo do "BBB" de: A Turma do Friboi! Ou: Turma da Frifranga! FRIBBBOI 14! Rarará! E se o peitão daquela loira explodir, vai ter avalanche de gel no "BBB"! Prova do líder: luta no gel! Rarará!
E a primeira pérola do programa: "A maldade está no olho de quem vê e no volume da sua sunga". Os rinocerontes de sunga! Como disse uma amiga: "Estou torcendo por aquele malhado tatuado". Quais deles? Ali, comeu um, comeu todos! Rarará! Malhados BigMac!
E no site Yahoo lançaram uma enquete: "O que você espera ver no BBB 14'?". 1) Muito barraco. 2) Sexo debaixo do edredom. 3) Os discursos do Bial. Ganhou: os discursos do Bial!
Eu já disse que a próxima geração no Brasil vai nascer falando "Oi, Bial". Papai, mamãe e oibial. Oibial é uma palavra só! Rarará! E como aquele cartomante não previu que ia sair do "BBB"? Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Placa no supermercado Extra: "Queima de aves natalinas". Tadinhas! Vai ter fogueira de peru? Rarará! E o brasileiro é cordial! Olha essa num portão em Pinheiros, aqui em São Paulo: "Promoção! Estacione aqui e ganhe uma multa, quatro pontos na carteira e 20 pontos na testa!". Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
O problema do 'BBB' é de Vigilância Sanitária. Rarará! Abriram o açougue! Bíceps, tríceps, bundas!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Direto do País da Piada Pronta: "Polícia flagra racha de charretes em Botucatu". Mas o que é isso? Refilmagem de "Ben Hur"? Racha de charretes! E como eles dão cavalo de pau com a charrete? Rarará!
E um leitor me manda uma dúvida econômica: os materiais escolares subiram acima da inflação, alimentos sobem acima da inflação, tudo sobe acima da inflação, então a única coisa que ficou abaixo da inflação foi a inflação?!
Essa é a grande manchete econômica: "Inflação fica abaixo da inflação". Rarará! E notícia econômica é a coisa mais democrática que existe: ninguém entende absolutamente nada! Rarará!
E socuerro! Todos para o abrigo! Me mate um bode! Começou o Big Bagaça Brasil! O problema não é gostar ou não gostar do "BBB". O problema do "BBB" é de Vigilância Sanitária. É com a Anvisa! Rarará! Abriram o açougue! Bíceps, tríceps, bundas!
E as gostosas têm selo Friboi de qualidade? Esse povo é friboi? Agora vou chamar esse povo do "BBB" de: A Turma do Friboi! Ou: Turma da Frifranga! FRIBBBOI 14! Rarará! E se o peitão daquela loira explodir, vai ter avalanche de gel no "BBB"! Prova do líder: luta no gel! Rarará!
E a primeira pérola do programa: "A maldade está no olho de quem vê e no volume da sua sunga". Os rinocerontes de sunga! Como disse uma amiga: "Estou torcendo por aquele malhado tatuado". Quais deles? Ali, comeu um, comeu todos! Rarará! Malhados BigMac!
E no site Yahoo lançaram uma enquete: "O que você espera ver no BBB 14'?". 1) Muito barraco. 2) Sexo debaixo do edredom. 3) Os discursos do Bial. Ganhou: os discursos do Bial!
Eu já disse que a próxima geração no Brasil vai nascer falando "Oi, Bial". Papai, mamãe e oibial. Oibial é uma palavra só! Rarará! E como aquele cartomante não previu que ia sair do "BBB"? Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! Placa no supermercado Extra: "Queima de aves natalinas". Tadinhas! Vai ter fogueira de peru? Rarará! E o brasileiro é cordial! Olha essa num portão em Pinheiros, aqui em São Paulo: "Promoção! Estacione aqui e ganhe uma multa, quatro pontos na carteira e 20 pontos na testa!". Rarará.
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Alô, alô, Realengo! - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 17/01
A Comissão convidou ontem Caetano Veloso e Gilberto Gil para participarem da diligência. Os dois, como se sabe, ficaram presos lá em dezembro de 1968.
Capitão Guimarães...
No dia seguinte, 24, a Comissão realiza uma audiência, no auditório do Arquivo Nacional, para apurar torturas e mortes lá na Vila Militar.
Um dos casos a ser relatado é o do estudante de medicina Chael Charles Schreier, 23 anos, morto em 1969.
O bicheiro Aílton Guimarães, na época capitão do Exército, é um dos acusados de torturar o jovem.
Tirando o corpo
Para o Palácio do Planalto, as últimas declarações de Joseph Blatter e Jérôme Valcke sobre os atrasos nas obras dos estádios são uma jogada para tentar livrar a Fifa de qualquer responsabilidade, caso algo dê errado.
Mas Dilma segue acreditando que os estádios ficarão prontos a tempo.
Aliás...
A turma do governo aposta que Dilma ficará com os méritos, caso a Copa seja um sucesso.
Se der errado, a presidente vai pagar a conta de qualquer jeito.
Deu ruim
Um chapéu da coleção verão da C&A, a popular loja de departamento, manchou de laranja uma cabeça do alto escalão de Brasília.
Além da vergonha de voltar das férias com mechas cor de abóbora, a dona de um loiro perfeito gastou quase R$ 500 para ter as madeixas originais de volta.
O verão do rolezinho
O rolezinho chegou ao “Le Monde”.
A reportagem fala do fenômeno dos jovens paulistas que invadiram os shoppings, assustaram os consumidores e mereceram até uma reunião de Dilma com ministros para tratar do assunto.
Diz lá...
Para o jornal francês, os shoppings brasileiros deixam claro a “tensão social e racial latente” que pode fazer o país derrapar a qualquer momento.
O texto afirma que o brasileiro se orgulha de não ser racista, mas faz piadinhas com negros.
Imprensa
O coleguinha Guilherme Barros deixou o Ministério da Fazenda.
Vai assumir a comunicação da Fiesp.
Dose dupla
A Rádio Cinemateca diz que o diretor cearense Karim Aïnouz terá outro filme no Festival de Berlim, além de “Praia do Futuro”, que está na competição.
Vai entrar na mostra Berlinale Special. O anúncio será feito hoje. O festival começa dia 6 de fevereiro.
O dicionário do Rio
Com mais de dois mil verbetes, sai em fevereiro o “Dicionário da política republicana do Rio de Janeiro” pela Editora FGV e Faperj.
Trata-se de um levantamento minucioso com os personagens que se destacaram na política fluminense da Proclamação da República até hoje.
Segue...
Foram dois anos de trabalho das pesquisadoras Alzira Alves de Abreu e Christiane Jalles de Paula, do CPDOC.
O novo dicionário tem também a história de movimentos sociais, jornais, emissoras de rádio e televisão.
Duas rodas
O grupo carioca AB Abolição, que vendeu 13.797 carros ano passado, entrou no negócio de duas rodas.
Assumiu a representação da Harley Davidson, no Rio.
São Sebastião
O jornalista Luiz Paulo Horta foi a personalidade post mortem eleita, ontem, pelo Conselho Cultural da Arquidiocese do Rio, para o Prêmio São Sebastião de Cultura.
Teatro molhado
A chuva de ontem inundou o palco do Teatro Ipanema, da prefeitura do Rio.
Com isso, foi adiada a reestreia da peça “Sonhos de um sedutor”, de Woody Allen, com Luana Piovani.
Acabou em samba
O Bloco Unidos do Limão, de Maricá, sai este ano com o enredo “No Bloco do Limão, o carnaval é padrão Fifa!”.
Um trecho: “Eu sou o Black Bloc da alegria/Em Bambuí vou brincar o carnaval/Vou me manifestar os quatro dias/Sem vandalizar nessa folia.”
COMANDO UNIFICADO - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 17/01
COMANDO 2
Em março, começa o processo de seleção do novo líder, quando os membros da Companhia de Jesus vão desenhar o perfil para o cargo. Um conselho de 30 representantes da ordem terá até setembro para preparar uma lista tríplice. Os nomes serão submetidos ao superior da congregação, em Roma, que fará a escolha. A posse será em 2015.
COMANDO 3
Padre Vicente Zorzo, provincial do Brasil Meridional, explica que "a determinação tem por objetivo tornar a instituição mais ágil no exercício da sua missão". Os jesuítas têm atuação forte na área de educação e administram universidades e colégios tradicionais em todo o Brasil.
TRANSPORTADORA
Miruna Genoino, filha de José Genoino, vai voltar a morar na casa dos pais, no Butantã. A mudança --que ela encara como um "sacrifício pessoal", segundo um amigo-- é para cortar sua despesa com aluguel e poder ajudar nos custos do pai em Brasília. Miruna está se mudando com o marido e os dois filhos pequenos. O ex-deputado alugou uma casa na capital federal para cumprir prisão domiciliar.
ROLEZÃO
A artista plástica Maria Bonomi, 70, e a galerista Maria Helena Peres, 55, foram agredidas pelo cliente de uma mesa ao lado, quando jantavam na terça-feira no Spot do shopping JK Iguatemi, em SP. A confusão começou quando elas pediram que os rapazes fizessem menos barulho. Foram surpreendidas com a reação de um deles, que as ofendeu com palavrões e em seguida virou uma garrafa de cerveja sobre a artista e um copo de sagu sobre a galerista.
ROLEZÃO 2
"Eles estavam aos berros. É gente mal-educada, mas com dinheiro para pagar conta", diz Bonomi, em referência ao público do shopping e do restaurante. "Infelizmente, o local não nos preservou dessa vulgaridade." Maria Helena diz que os funcionários "pareciam anestesiados". O rapaz, "visivelmente alterado", foi levado para fora pelo colegas. Procurado, o Spot não se manifestou.
DE PERTO
Sem alarde, a ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos) visitou a mãe da menina Ana Clara Sousa, 6, que morreu em um incêndio criminoso em São Luís (MA), na semana passada. Juliane Santos, 22, está internada em um hospital de Brasília com 40% do corpo queimado. A secretaria cobrou das autoridades maranhenses a apuração imediata do caso.
EM DIA
A equipe do time de basquete do Flamengo, que estava com os salários atrasados há dois meses e meio, vai finalmente receber o pagamento. É que o patrocínio da TIM, no valor de R$ 8 milhões, entrou na semana passada. Segundo o clube, até o fim de janeiro a situação deve estar resolvida.
ATEMPORAL
O romance "Maíra" será a primeira obra do antropólogo Darcy Ribeiro a ser relançada pela Global Editora, em 14 de fevereiro. O livro terá posfácios do sociólogo Antonio Candido e do crítico Alfredo Bosi. A capa ficou a cargo do designer Victor Burton, vencedor do Prêmio Jabuti.
INFERNO DE NOVO
Os atores Barbara Paz e André Bankoff apresentaram anteontem duas sessões gratuitas da peça "Hell" na Mostra de Teatro Panorama Petrobras Distribuidora de Cultura, no Itaú Cultural, na avenida Paulista. As modelos Anna Herrera e Vitória Brugnera estiveram na plateia, assim como a designer Patrícia Petroni e o estilista Vladimir Thimóteo. O espetáculo tem direção de Hector Babenco, marido da protagonista.
SUINGUE TROPICAL
As cantoras Sandra de Sá e Paula Lima abriram a temporada do show "Baile do Bem", anteontem, em homenagem a Jorge Ben Jor e Tim Maia. Na mesma noite, Toni Garrido e Izzy Gordon subiram ao palco do Club A São Paulo WTC. O espetáculo com grandes hits dos mestres do suingue será apresentado durante todas as quartas-feiras de janeiro e fevereiro.
CURTO-CIRCUITO
A peça "Tribos", com Antonio e Bruno Fagundes, reestreia hoje, no teatro Tuca, às 21h30. 14 anos.
A Urban Arts comemora seu primeiro aniversário e abre hoje a exposição "As Flores do Alecrim", de Kaju.ink, na Vila Madalena.
Marcelo Jeneci se apresenta no Sesc Pompeia, de hoje a domingo, para lançar seu novo CD, pelo programa Natura Musical. 18 anos.
Quem mais tem a perder - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 17/01
Briga de foice nos bastidores
É tenso o jogo de empurra-empurra por causa do polêmico artigo, no Facebook do PT, contra o governador Eduardo Campos. O vice-presidente petista, Alberto Cantalice, responsável político pelas redes sociais, está possesso com a tentativa de “companheiros” de culpá-lo no episódio. Ocorre que o responsável executivo pela página é o secretário de Comunicação, José Américo Dias, que está sendo vendido, pela cúpula paulista do PT, como o salvador da pátria. A repercussão negativa gerou um espetáculo de pusilanimidade. A lambança envolve um assessor da presidente Dilma que estimulou o tom do artigo, e que agora se dedica a criticar o equívoco do texto.
“Todos os presidentes convocam rede de TV para desejar um feliz Ano Novo aos brasileiros. Daqui a pouco, até dar bom dia ao porteiro vai virar crime”
Helena Chagas
Ministra da Secretaria de Comunicação, sobre o pedido do PSDB pela cassação do mandato da presidente Dilma
A missão
O candidato do PSDB ao governo de Minas, Pimenta da Veiga, e o presidente estadual tucano, Marcus Pestana, se reúnem na próxima semana. O desafio é capitalizar o apoio do governador Antonio Anastasia e do senador Aécio Neves.
Divisão de tarefas
Polêmicas à parte, está acertado que a empresa Pepper continuará no comando da ação do PT nas redes sociais. A campanha para a reeleição da presidente Dilma ficou com Franklin Martins (foto). Um porta-voz do Planalto foi preterido. O jornalista Laércio Portela, ex-assessor na Saúde, deve pilotar a intervenção nas redes e Facebook.
Aviso aos navegantes
Com a palavra o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO): “O PMDB disse o que queria para a presidente Dilma. Mas, na reforma ministerial, não fará um cabo de guerra nem vai esticar a corda. O Brasil precisa de unidade”.
O drama
O mais tenso anteontem na reunião do PMDB, no Jaburu, era o líder no Senado, Eunício Oliveira (CE). Sem o apoio de seu aliado local, o governador Cid Gomes (PROS), está aflito para ter o PT na chapa para o governo. Embora não tenha apoiado os petitas nos dois últimos pleitos.
Conclusão do Planalto
Analisados os rolezinhos, os ministros do governo avaliam que não são protestos. Eles são tratados como fenômeno social já ocorrido nos EUA. E que são organizados “por uma garotada de classe média com acesso à internet e a celulares”.
Em sintonia
O governador Geraldo Alckmin (SP) e o Planalto não querem confronto com os protagonistas dos rolezinhos. Eles não querem atrair para si a ira das ativas e dinâmicas redes sociais. Em ano eleitoral, não querem se meter em confusão.
NO REINO DO “CONSIDEROL". Políticos e autoridades identificaram um novo movimento crítico às suas ações e o batizaram de “filósofos do Facebook”.
Alô, Papuda - BERNARDO MELLO FRANCO - PAINEL
FOLHA DE SP - 17/01
Um secretário do governo da Bahia afirma ter conversado por celular com José Dirceu na semana passada. O ex-ministro está preso há dois meses na Papuda. O autor da ligação foi James Correia, titular da Indústria, Comércio e Mineração na gestão Jaques Wagner (PT). Ele é empresário na área de gás e petróleo, na qual Dirceu atuava como consultor. Correia diz que o amigo está bem disposto e animado por trabalhar na biblioteca do presídio. "Ele está fazendo o que gosta", contou.
Amizades A conversa ocorreu no dia 6. Correia diz ter falado com Dirceu pelo celular de um amigo em comum que visitava o ex-ministro na Papuda, onde a entrada de celulares não é permitida. Ele não quer identificar o dono do telefone.
Versões O secretário confirmou à coluna que conversou com Dirceu. Em um segundo contato, disse que o petista não falou diretamente com ele, mas respondeu às suas perguntas por meio do amigo misterioso que entrou na cadeia com o celular.
Regalias Para Correia, não houve privilégio ao petista. "Ele é uma das pessoas mais vigiadas na questão de não ter regalias. Não houve nenhuma irregularidade", diz. "Em breve, ele poderá falar o dia inteiro ao telefone, porque estará trabalhando."
Praia Antes da prisão, Dirceu era hóspede frequente da ampla casa do secretário na Praia do Forte (BA). Orgulhoso da propriedade, o secretário costuma descrevê-la como "pedaço do paraíso".
Defesa O advogado José Luís de Oliveira Lima disse que não poderia comentar o episódio. "Não sei se o fato é verdadeiro ou não. Vou conversar com meu cliente amanhã [hoje], e aí saberei."
De fora Nem o onipresente Aloizio Mercadante (Educação) entrou nas reuniões de Dilma Rousseff com presidentes de partidos, na terça. Com Gilberto Kassab (PSD) e Michel Temer (PMDB), a única testemunha foi o chefe de gabinete Giles Azevedo.
Bigode de molho A ausência instigou petistas que não se dão com Mercadante a sugerir que a presidente desista de promovê-lo e nomeie Paulo Bernardo (Comunicações) para a Casa Civil.
Dr. Aécio O tucano Aécio Neves convidou Barjas Negri, ex-ministro de FHC, para coordenar seu plano de governo na saúde. Ontem eles já se reuniram com Giovanni Cerri, da Faculdade de Medicina da USP, e Gonzalo Vecina, do hospital Sírio-Libanês.
Cartão de visita Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, começou na semana passada um giro de conversas com empresários e banqueiros. Ele está encarregado de apresentar as ideias de Aécio para a economia.
Velinhas Na reunião de ontem no Palácio dos Bandeirantes, o senador e Geraldo Alckmin (PSDB) acertaram sua próxima agenda conjunta em São Paulo: o aniversário do deputado e sindicalista Paulinho da Força (SDD).
Cinto apertado Alckmin congelou cerca de 20% das despesas de custeio previstas no Orçamento paulista deste ano --quase R$ 1 bilhão. O tucano também congelará parte dos investimentos.
Frio na espinha O governador convocou todo o seu primeiro escalão para reunião na segunda, às 8h. Não disse o tema do encontro. Os secretários esperam ouvir quem sai e quem fica.
Em nome do pai Emissários do Planalto ao Maranhão se espantaram com o tom de Roseana Sarney (PMDB) em relação ao pai, José Sarney. Ela se diz vítima de perseguição política "por herança do sobrenome".
TIROTEIO
"Os tucanos duvidam da solidariedade da militância do PT com Genoino. É porque essa palavra não existe no dicionário do PSDB."
DO PRESIDENTE DO PT-SP, EMIDIO DE SOUZA, sobre as críticas de tucanos ao site que arrecada dinheiro para pagar a multa de José Genoino pelo mensalão.
CONTRAPONTO
Convite de mineiro
Nos anos 70, Tancredo Neves saudava os estreantes no Congresso com entusiasmo. Um dia, disse a um novato:
--Assim que tiver tempo, passe no meu gabinete. Temos grandes temas a discutir!
Horas depois, o estreante visitou o então senador, que demonstrou surpresa ao vê-lo. O encontro foi frustrante.
--Era convite de mineiro, para você se sentir bem. Não era para ir, ele só queria mostrar que gosta de você --ouviu o calouro de um colega mais experiente.
A história foi coletada pelo jornalista Plínio Fraga, que lançará uma biografia de Tancredo em 2015.
Um secretário do governo da Bahia afirma ter conversado por celular com José Dirceu na semana passada. O ex-ministro está preso há dois meses na Papuda. O autor da ligação foi James Correia, titular da Indústria, Comércio e Mineração na gestão Jaques Wagner (PT). Ele é empresário na área de gás e petróleo, na qual Dirceu atuava como consultor. Correia diz que o amigo está bem disposto e animado por trabalhar na biblioteca do presídio. "Ele está fazendo o que gosta", contou.
Amizades A conversa ocorreu no dia 6. Correia diz ter falado com Dirceu pelo celular de um amigo em comum que visitava o ex-ministro na Papuda, onde a entrada de celulares não é permitida. Ele não quer identificar o dono do telefone.
Versões O secretário confirmou à coluna que conversou com Dirceu. Em um segundo contato, disse que o petista não falou diretamente com ele, mas respondeu às suas perguntas por meio do amigo misterioso que entrou na cadeia com o celular.
Regalias Para Correia, não houve privilégio ao petista. "Ele é uma das pessoas mais vigiadas na questão de não ter regalias. Não houve nenhuma irregularidade", diz. "Em breve, ele poderá falar o dia inteiro ao telefone, porque estará trabalhando."
Praia Antes da prisão, Dirceu era hóspede frequente da ampla casa do secretário na Praia do Forte (BA). Orgulhoso da propriedade, o secretário costuma descrevê-la como "pedaço do paraíso".
Defesa O advogado José Luís de Oliveira Lima disse que não poderia comentar o episódio. "Não sei se o fato é verdadeiro ou não. Vou conversar com meu cliente amanhã [hoje], e aí saberei."
De fora Nem o onipresente Aloizio Mercadante (Educação) entrou nas reuniões de Dilma Rousseff com presidentes de partidos, na terça. Com Gilberto Kassab (PSD) e Michel Temer (PMDB), a única testemunha foi o chefe de gabinete Giles Azevedo.
Bigode de molho A ausência instigou petistas que não se dão com Mercadante a sugerir que a presidente desista de promovê-lo e nomeie Paulo Bernardo (Comunicações) para a Casa Civil.
Dr. Aécio O tucano Aécio Neves convidou Barjas Negri, ex-ministro de FHC, para coordenar seu plano de governo na saúde. Ontem eles já se reuniram com Giovanni Cerri, da Faculdade de Medicina da USP, e Gonzalo Vecina, do hospital Sírio-Libanês.
Cartão de visita Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, começou na semana passada um giro de conversas com empresários e banqueiros. Ele está encarregado de apresentar as ideias de Aécio para a economia.
Velinhas Na reunião de ontem no Palácio dos Bandeirantes, o senador e Geraldo Alckmin (PSDB) acertaram sua próxima agenda conjunta em São Paulo: o aniversário do deputado e sindicalista Paulinho da Força (SDD).
Cinto apertado Alckmin congelou cerca de 20% das despesas de custeio previstas no Orçamento paulista deste ano --quase R$ 1 bilhão. O tucano também congelará parte dos investimentos.
Frio na espinha O governador convocou todo o seu primeiro escalão para reunião na segunda, às 8h. Não disse o tema do encontro. Os secretários esperam ouvir quem sai e quem fica.
Em nome do pai Emissários do Planalto ao Maranhão se espantaram com o tom de Roseana Sarney (PMDB) em relação ao pai, José Sarney. Ela se diz vítima de perseguição política "por herança do sobrenome".
TIROTEIO
"Os tucanos duvidam da solidariedade da militância do PT com Genoino. É porque essa palavra não existe no dicionário do PSDB."
DO PRESIDENTE DO PT-SP, EMIDIO DE SOUZA, sobre as críticas de tucanos ao site que arrecada dinheiro para pagar a multa de José Genoino pelo mensalão.
CONTRAPONTO
Convite de mineiro
Nos anos 70, Tancredo Neves saudava os estreantes no Congresso com entusiasmo. Um dia, disse a um novato:
--Assim que tiver tempo, passe no meu gabinete. Temos grandes temas a discutir!
Horas depois, o estreante visitou o então senador, que demonstrou surpresa ao vê-lo. O encontro foi frustrante.
--Era convite de mineiro, para você se sentir bem. Não era para ir, ele só queria mostrar que gosta de você --ouviu o calouro de um colega mais experiente.
A história foi coletada pelo jornalista Plínio Fraga, que lançará uma biografia de Tancredo em 2015.
Estações separadas - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 17/01
Em relação aos palanques, o PMDB quer uma definição logo. Como esta coluna divulgou em primeira mão lá atrás, a antecipação da convenção que escolherá o rumo do PMDB nas eleições deste ano, decidida por unanimidade ontem, vem justamente no sentido de cobrar dos petistas a retirada de alguns candidatos de campo, em especial, Lindbergh Farias no Rio de Janeiro.
Sérgio, o problema
Não, não é o Cabral, governador do Rio de Janeiro. É o Machado, da Transpetro. O PMDB só terá condições de pleitear um sexto assento na Esplanada se aceitar tirar o ex-senador Sérgio Machado da subsidiária da Petrobras. E sem reclamar.
Renan e as Alagoas
Na reunião dos peemedebistas na noite de quarta-feira, o presidente do Senado, Renan Calheiros, avisou que o candidato a governador de Alagoas será Renan Filho e não o senador.
Eunício e o Ceará
Como pré-candidato a governador do Ceará, o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira, foi o único que não defendeu a ida do senador Vital do Rêgo para o Ministério da Integração Nacional. Faz assim um gesto no sentido de afago aos Ferreira Gomes, Cid e Ciro, que ainda não anunciaram quem vão apoiar para governador, embora sejam remotas as chances de fecharem com o peemedebista.
A mensagem dos rolezinhos
As autoridades estão tão perdidas agora, em relação aos passeios em grupo nos shoppings causando desconforto a clientes e lojistas, como estavam no início das manifestações de rua, no ano passado. Dentro do governo, há quem diga que não se deve proibir, mas há que se ficar atento a infiltrações de algo parecido como os tais black blocs. A diferença é que quem andar mascarado no shopping não está livre de ser preso imediatamente. Ali, a propriedade é privada.
Dilma e Blatter
Preocupada com os impactos da Copa do Mundo nas eleições, a presidente Dilma Rousseff desembarca no próximo dia 25 em Zurique para apaziguar a relação com o presidente da Fifa, Joseph Blatter (foto). Recentemente, ele criticou o atraso das obras no país.
ACM Neto e Marta
A festa da Lavagem do Bonfim foi tão calma que ACM Neto e Marta Suplicy conversaram animadamente por um longo tempo, apesar do barulho. A calmaria, aliás, já havia sido prevista no terreiro Ylê Axé Oxumarê, um dos centros de cultura afro, tombado pelo Iphan com direito a placa de reconhecimento como patrimônio do Brasil.
No embalo da festa…
O governador da Bahia, Jaques Wagner, avisou que ficará no cargo até o fim do ano. Ou seja, vai capitanear do Palácio de Ondina a campanha de seu candidato, Rui Costa, ao governo estadual. Wagner, aliás, não ficou até o fim da festa do Bonfim por causa de uma fissura no pé. Assim, Rui Costa pôde testar sua popularidade sozinho.
A dor de cabeça
Que reforma ministerial que nada. O que tira o sono de Dilma é o medo de algo dar errado no período da Copa do Mundo. Daí, a atenção nos rolezinhos e nas obras. Já chega os alemães construindo seu próprio centro de treinamento na Bahia porque não gostaram das instalações disponíveis.
MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO
FOLHA DE SP - 17/01
Rede de cosméticos investe em centros de distribuição
A Mary Kay, marca de cosméticos de venda direta, pretende abrir mais cinco centros de distribuição em diferentes Estados do Brasil nos próximos cinco anos.
Os investimentos podem chegar a R$ 118 milhões.
Hoje, a empresa concentra três unidades em um armazém logístico em São Paulo.
"A distância e as diversas condições climáticas entre os Estados dificultam se centralizamos tudo. Estamos tentando diversificar o risco", afirma Álvaro Polanco, presidente da Mary Kay Brasil.
O novo plano de atuação se deve ao crescimento da marca no Brasil, pelo terceiro ano o maior registrado entre os 37 países onde a companhia americana atua.
"Tivemos que antecipar a abertura do terceiro centro de distribuição, inaugurado em novembro do ano passado, mas que estava previsto somente para 2014, e devemos abrir mais um até o final deste ano", afirma o executivo.
Em 2013, a empresa cresceu 70% --performance acima dos 50% previstos-- e alcançou a marca de 230 mil vendedores independentes.
"Estamos em todo o Brasil, com forte participação nas cidades do interior das regiões Sudeste, Nordeste e Sul", afirma Polanco.
Com os resultados positivos, a estimativa é que neste ano o Brasil ultrapasse a Rússia em número de consumidores da marca e se torne o terceiro principal país nos negócios globais.
A China ocupa o primeiro lugar no ranking dos maiores consumidores da marca, seguida por Estados Unidos, Rússia, Brasil e México.
LENÇÓIS LIMPOS
A companhia gaúcha Captiva Lavanderia Industrial vai investir R$ 30 milhões na construção de um complexo em Viamão (a cerca de 15 quilômetros do centro de Porto Alegre).
Com a expansão, a empresa, que atende hospitais e hotéis, terá capacidade de processamento de até 50 toneladas por dia.
O projeto nasceu a partir de uma demanda do mercado, de acordo com Ney Chrysostomo, sócio da lavanderia e responsável por 47,5% do aporte.
"Esse setor está descoberto. É uma oportunidade em cima de uma necessidade", afirma Chrysostomo.
O empreendimento também tem como parceiros Elton Matos, que aplicou 47,5% do montante, e Giovanni Cataldi (5%).
A maior parte do investimento --aproximadamente R$ 23 milhões-- será direcionada para a compra do maquinário, que será importado da Espanha.
A construção da infraestrutura, em um terreno de seis hectares doado pela prefeitura local, consumirá os R$ 7 milhões restantes. A conclusão das obras está prevista para o fim do ano.
CHEQUE COMPENSADO
O volume de cheques devolvidos por falta de fundos diminuiu 9,1% em 2013 na comparação com o ano anterior, segundo a Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
Nos 12 meses do ano passado, foram devolvidos 16,8 milhões de cheques. No mesmo período de 2012, o número foi de 18,5 milhões.
Em dezembro, também houve baixa no total de folhas rejeitadas pelos bancos por falta de saldo --queda de 8% ante o mesmo mês de 2012.
"A redução está em linha com o recuo da inadimplência que foi registrado de forma geral no país", diz Fernando Cosenza, da Boa Vista.
Os cheques sem fundos representaram 1,97% do total de folhas movimentadas em 2013. No ano anterior, o índice havia sido de 1,98%.
COMBUSTÍVEL PARA O BOLSO
A gasolina foi o combustível que garantiu maior economia ao motorista em 2013, de acordo com levantamento da Ticket Car.
O preço médio do litro do produto variou entre R$ 2,95 e R$ 3,08, enquanto o do etanol foi de R$ 2,32 a R$ 2,42.
Apesar de mais barato, o etanol deixa de ser vantajoso quando seu preço representa mais de 70% do valor da gasolina --como ocorreu no ano passado.
São Paulo foi o Estado que registrou a menor média para o derivado do petróleo --R$ 2,79 por litro. Na outra ponta, ficou o Acre (R$ 3,36).
Os combustíveis costumam ser mais caros no Norte por causa dos custos logísticos. Roraima foi o local onde o etanol teve o preço mais elevado (R$2,68 o litro).
Rede de cosméticos investe em centros de distribuição
A Mary Kay, marca de cosméticos de venda direta, pretende abrir mais cinco centros de distribuição em diferentes Estados do Brasil nos próximos cinco anos.
Os investimentos podem chegar a R$ 118 milhões.
Hoje, a empresa concentra três unidades em um armazém logístico em São Paulo.
"A distância e as diversas condições climáticas entre os Estados dificultam se centralizamos tudo. Estamos tentando diversificar o risco", afirma Álvaro Polanco, presidente da Mary Kay Brasil.
O novo plano de atuação se deve ao crescimento da marca no Brasil, pelo terceiro ano o maior registrado entre os 37 países onde a companhia americana atua.
"Tivemos que antecipar a abertura do terceiro centro de distribuição, inaugurado em novembro do ano passado, mas que estava previsto somente para 2014, e devemos abrir mais um até o final deste ano", afirma o executivo.
Em 2013, a empresa cresceu 70% --performance acima dos 50% previstos-- e alcançou a marca de 230 mil vendedores independentes.
"Estamos em todo o Brasil, com forte participação nas cidades do interior das regiões Sudeste, Nordeste e Sul", afirma Polanco.
Com os resultados positivos, a estimativa é que neste ano o Brasil ultrapasse a Rússia em número de consumidores da marca e se torne o terceiro principal país nos negócios globais.
A China ocupa o primeiro lugar no ranking dos maiores consumidores da marca, seguida por Estados Unidos, Rússia, Brasil e México.
LENÇÓIS LIMPOS
A companhia gaúcha Captiva Lavanderia Industrial vai investir R$ 30 milhões na construção de um complexo em Viamão (a cerca de 15 quilômetros do centro de Porto Alegre).
Com a expansão, a empresa, que atende hospitais e hotéis, terá capacidade de processamento de até 50 toneladas por dia.
O projeto nasceu a partir de uma demanda do mercado, de acordo com Ney Chrysostomo, sócio da lavanderia e responsável por 47,5% do aporte.
"Esse setor está descoberto. É uma oportunidade em cima de uma necessidade", afirma Chrysostomo.
O empreendimento também tem como parceiros Elton Matos, que aplicou 47,5% do montante, e Giovanni Cataldi (5%).
A maior parte do investimento --aproximadamente R$ 23 milhões-- será direcionada para a compra do maquinário, que será importado da Espanha.
A construção da infraestrutura, em um terreno de seis hectares doado pela prefeitura local, consumirá os R$ 7 milhões restantes. A conclusão das obras está prevista para o fim do ano.
CHEQUE COMPENSADO
O volume de cheques devolvidos por falta de fundos diminuiu 9,1% em 2013 na comparação com o ano anterior, segundo a Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).
Nos 12 meses do ano passado, foram devolvidos 16,8 milhões de cheques. No mesmo período de 2012, o número foi de 18,5 milhões.
Em dezembro, também houve baixa no total de folhas rejeitadas pelos bancos por falta de saldo --queda de 8% ante o mesmo mês de 2012.
"A redução está em linha com o recuo da inadimplência que foi registrado de forma geral no país", diz Fernando Cosenza, da Boa Vista.
Os cheques sem fundos representaram 1,97% do total de folhas movimentadas em 2013. No ano anterior, o índice havia sido de 1,98%.
COMBUSTÍVEL PARA O BOLSO
A gasolina foi o combustível que garantiu maior economia ao motorista em 2013, de acordo com levantamento da Ticket Car.
O preço médio do litro do produto variou entre R$ 2,95 e R$ 3,08, enquanto o do etanol foi de R$ 2,32 a R$ 2,42.
Apesar de mais barato, o etanol deixa de ser vantajoso quando seu preço representa mais de 70% do valor da gasolina --como ocorreu no ano passado.
São Paulo foi o Estado que registrou a menor média para o derivado do petróleo --R$ 2,79 por litro. Na outra ponta, ficou o Acre (R$ 3,36).
Os combustíveis costumam ser mais caros no Norte por causa dos custos logísticos. Roraima foi o local onde o etanol teve o preço mais elevado (R$2,68 o litro).
A inflação e sua perversa trajetória - CLAUDIA SAFATLE
VALOR ECONÔMICO - 17/01
A trajetória da inflação neste ano é perversa. As expectativas tanto do mercado quanto do governo são de uma variação do IPCA em doze meses muito próxima do teto da meta (6,5%) no terceiro trimestre, período que coincide com o auge da campanha presidencial. Só no fim do ano é que o índice pode cair abaixo de 6%.
Há uma janela favorável para o controle da inflação até abril. Entre janeiro e abril do ano passado, as taxas estavam bastante pressionadas, o que levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a iniciar um ciclo de aperto monetário que elevou a taxa Selic, desde então, em 3,25 ponto percentual, de 7,25% ao ano para 10,5% ao ano. Como o IPCA tende a ser mais moderado neste ano até abril, a inflação de doze meses deve cair. Daí por diante os ganhos vão ficar muito difíceis e, entre julho e setembro, a inflação volta para a casa dos 6% ao ano, podendo novamente superar o teto da meta, como os 6,7% de junho do ano passado.
São muitas, ainda, as incertezas que permeiam os dados de inflação para este ano e dificultam as projeções do Banco Central. Não está claro, por exemplo, qual será a política de reajuste dos derivados de petróleo, se haverá aumento da gasolina e se este será antes ou depois das eleições. Não se sabe qual será a conta de energia. O orçamento de 2014 prevê gastos de R$ 9 bilhões com o setor, cifra que se subestimada pressionará os reajustes das tarifas das distribuidoras. A performance dos preços dependerá, também, de qual será a atitude dos prefeitos das capitais em relação às tarifas de ônibus, congeladas desde 2012.
O mais decisivo, contudo, será o comportamento da taxa de câmbio. Em situação normal, não se contaria com uma desvalorização cambial importante após a depreciação acentuada dos últimos dois anos (de 16% em 2012 e de 11% no ano passado).
Os operadores do mercado financeiro, porém, já consideram favas contadas um rebaixamento do grau de investimento do país e da Petrobras pela agência de rating Standard & Poor"s neste ano. O que fará diferença no preço atual do câmbio será o que a S&P vai colocar como perspectiva para o país. Se for "estável", menos mal, já está implícito na cotação da moeda. Mas se a agência de rating considerar a perspectiva "negativa", os efeitos podem ser muito ruins, com a saída dos investidores institucionais e um déficit de cerca de US$ 80 bilhões em conta corrente para financiar.
Nem tudo é negativo para a inflação deste ano. Há fatores que vão colaborar, mas é prematuro considerar factível uma ligeira queda em relação ao inesperado IPCA de 5,91% de 2013.
O principal deles é a expectativa de que, finalmente, os alimentos tenham um melhor comportamento depois de vários choques de preços nos últimos anos. A projeção do governo é de que a variação do índice de preços desse setor fique na casa dos 6%, em comparação com os 8,48% de inflação de alimentos e bebidas no ano passado. Uma queda para esse patamar poderia reduzir a inflação anual em 50 pontos base, neutralizando parte do impacto da eventual descompressão dos preços administrados.
Embora o Banco Central trabalhe com um aumento de 4,5% nos administrados, vários economistas de bancos consideram que a variação será menor, de 3,5%, depois da inflação de administrados e monitorados em 2013 ter sido de somente 1,5%.
Outro fator que vai ajudar o Banco Central na tarefa de controlar a inflação é o reajuste do salário mínimo em vigor este mês, de 6,78%, o menor desde que o ex-presidente Lula começou a política de recuperação do valor do salário mínimo, em meados do primeiro mandato.
Há, no governo, quem ainda alimente alguma esperança na contribuição da política fiscal para a contenção dos preços. O Ministério da Fazenda prepara o decreto de contingenciamento do orçamento da União, que deve ser divulgado em fevereiro. Economistas do setor financeiro, no momento, não esperam qualquer auxílio vindo de uma suposta austeridade do gasto público.
É a política de aperto monetário que pode definir o futuro da inflação. O aumento da taxa Selic para 10,5% na quarta-feira mostrou um BC disposto a agir, mas também indicou que o próximo passo do Copom pode ser menor, de 0,25 ponto percentual, com os juros parando em 10,75% ao ano - exatamente a taxa de juros que Dilma Rousseff recebeu de Lula.
Para levar o IPCA a níveis mais próximos da meta de 4,5% - algo na casa dos 5,5% -, a Selic de 10,5% ao ano ainda estaria aquém do necessário, avaliam economistas do mercado financeiro.
Muitas iniciativas oficiais alimentaram a resistência inflacionária: a abertura dos cofres públicos, a expansão do crédito dos bancos federais, a super indexação do salário mínimo, a depreciação do real e os juros insustentavelmente baixos, de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e março de 2013. Não deu frutos o empenho da presidente Dilma Roussef em concluir o primeiro mandato com taxa de juros reais de 2% ao ano. A taxa real, que chegou ao pouco mais de 1% ao ano, já voltou para a casa dos 4%. Ontem o swap de 360 dias estava pagando 4,67% ao ano.
C; erca de 84% dos investimentos das 18 concessões realizadas pelo governo em 2013 vão ser feitos nos primeiros cinco anos. Segundo cálculos da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae), os aportes totais, estimados em R$ 80,3 bilhões, devem corresponder a uma média de R$ 13,5 bilhões por ano, nos primeiros cinco anos. A parcela restante, equivalente a R$ 12,8 bilhões, deverá ocorrer no curso das concessões cujos prazos variam de 25 anos a 30 anos, conforme as obrigações contratuais.
Esses investimentos, algo como 0,28% do PIB ao ano, devem ter impulso mesmo só a partir de 2015, pois os contratos ainda estão sendo assinados e os primeiros meses após a assinatura são inevitavelmente dedicados à montagem das empresas e à obtenção de licenças para as obras.
A trajetória da inflação neste ano é perversa. As expectativas tanto do mercado quanto do governo são de uma variação do IPCA em doze meses muito próxima do teto da meta (6,5%) no terceiro trimestre, período que coincide com o auge da campanha presidencial. Só no fim do ano é que o índice pode cair abaixo de 6%.
Há uma janela favorável para o controle da inflação até abril. Entre janeiro e abril do ano passado, as taxas estavam bastante pressionadas, o que levou o Comitê de Política Monetária (Copom) a iniciar um ciclo de aperto monetário que elevou a taxa Selic, desde então, em 3,25 ponto percentual, de 7,25% ao ano para 10,5% ao ano. Como o IPCA tende a ser mais moderado neste ano até abril, a inflação de doze meses deve cair. Daí por diante os ganhos vão ficar muito difíceis e, entre julho e setembro, a inflação volta para a casa dos 6% ao ano, podendo novamente superar o teto da meta, como os 6,7% de junho do ano passado.
São muitas, ainda, as incertezas que permeiam os dados de inflação para este ano e dificultam as projeções do Banco Central. Não está claro, por exemplo, qual será a política de reajuste dos derivados de petróleo, se haverá aumento da gasolina e se este será antes ou depois das eleições. Não se sabe qual será a conta de energia. O orçamento de 2014 prevê gastos de R$ 9 bilhões com o setor, cifra que se subestimada pressionará os reajustes das tarifas das distribuidoras. A performance dos preços dependerá, também, de qual será a atitude dos prefeitos das capitais em relação às tarifas de ônibus, congeladas desde 2012.
O mais decisivo, contudo, será o comportamento da taxa de câmbio. Em situação normal, não se contaria com uma desvalorização cambial importante após a depreciação acentuada dos últimos dois anos (de 16% em 2012 e de 11% no ano passado).
Os operadores do mercado financeiro, porém, já consideram favas contadas um rebaixamento do grau de investimento do país e da Petrobras pela agência de rating Standard & Poor"s neste ano. O que fará diferença no preço atual do câmbio será o que a S&P vai colocar como perspectiva para o país. Se for "estável", menos mal, já está implícito na cotação da moeda. Mas se a agência de rating considerar a perspectiva "negativa", os efeitos podem ser muito ruins, com a saída dos investidores institucionais e um déficit de cerca de US$ 80 bilhões em conta corrente para financiar.
Nem tudo é negativo para a inflação deste ano. Há fatores que vão colaborar, mas é prematuro considerar factível uma ligeira queda em relação ao inesperado IPCA de 5,91% de 2013.
O principal deles é a expectativa de que, finalmente, os alimentos tenham um melhor comportamento depois de vários choques de preços nos últimos anos. A projeção do governo é de que a variação do índice de preços desse setor fique na casa dos 6%, em comparação com os 8,48% de inflação de alimentos e bebidas no ano passado. Uma queda para esse patamar poderia reduzir a inflação anual em 50 pontos base, neutralizando parte do impacto da eventual descompressão dos preços administrados.
Embora o Banco Central trabalhe com um aumento de 4,5% nos administrados, vários economistas de bancos consideram que a variação será menor, de 3,5%, depois da inflação de administrados e monitorados em 2013 ter sido de somente 1,5%.
Outro fator que vai ajudar o Banco Central na tarefa de controlar a inflação é o reajuste do salário mínimo em vigor este mês, de 6,78%, o menor desde que o ex-presidente Lula começou a política de recuperação do valor do salário mínimo, em meados do primeiro mandato.
Há, no governo, quem ainda alimente alguma esperança na contribuição da política fiscal para a contenção dos preços. O Ministério da Fazenda prepara o decreto de contingenciamento do orçamento da União, que deve ser divulgado em fevereiro. Economistas do setor financeiro, no momento, não esperam qualquer auxílio vindo de uma suposta austeridade do gasto público.
É a política de aperto monetário que pode definir o futuro da inflação. O aumento da taxa Selic para 10,5% na quarta-feira mostrou um BC disposto a agir, mas também indicou que o próximo passo do Copom pode ser menor, de 0,25 ponto percentual, com os juros parando em 10,75% ao ano - exatamente a taxa de juros que Dilma Rousseff recebeu de Lula.
Para levar o IPCA a níveis mais próximos da meta de 4,5% - algo na casa dos 5,5% -, a Selic de 10,5% ao ano ainda estaria aquém do necessário, avaliam economistas do mercado financeiro.
Muitas iniciativas oficiais alimentaram a resistência inflacionária: a abertura dos cofres públicos, a expansão do crédito dos bancos federais, a super indexação do salário mínimo, a depreciação do real e os juros insustentavelmente baixos, de 7,25% ao ano, entre outubro de 2012 e março de 2013. Não deu frutos o empenho da presidente Dilma Roussef em concluir o primeiro mandato com taxa de juros reais de 2% ao ano. A taxa real, que chegou ao pouco mais de 1% ao ano, já voltou para a casa dos 4%. Ontem o swap de 360 dias estava pagando 4,67% ao ano.
C; erca de 84% dos investimentos das 18 concessões realizadas pelo governo em 2013 vão ser feitos nos primeiros cinco anos. Segundo cálculos da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (Seae), os aportes totais, estimados em R$ 80,3 bilhões, devem corresponder a uma média de R$ 13,5 bilhões por ano, nos primeiros cinco anos. A parcela restante, equivalente a R$ 12,8 bilhões, deverá ocorrer no curso das concessões cujos prazos variam de 25 anos a 30 anos, conforme as obrigações contratuais.
Esses investimentos, algo como 0,28% do PIB ao ano, devem ter impulso mesmo só a partir de 2015, pois os contratos ainda estão sendo assinados e os primeiros meses após a assinatura são inevitavelmente dedicados à montagem das empresas e à obtenção de licenças para as obras.
Bactéria mais resistente - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 17/01
O Banco Central teve de ir mais longe do que pretendia no aperto dos juros. Essa mudança de planos também diz mais do que poderia parecer.
Ficou claro que a dose anterior do remédio não foi suficiente. A infecção é mais séria do que apontavam os diagnósticos oficiais. Ou seja, está sendo questionada a capacidade do Banco Central de prever a trajetória da alta dos preços. Ele mais vem sendo conduzido pela inflação do que a vem conduzindo.
Desde novembro, os comunicados vinham passando o recado de que o ciclo de alta dos juros estava no fim. Esse fim ficou mais uma vez adiado até que esteja mais clara a convergência da inflação, não propriamente para a meta, mas para um ponto qualquer mais próximo dela, que é de 4,5% ao ano.
Fica questionado, também, o procedimento adotado. O Banco Central foi levado a reforçar a alta de juros não só porque a política fiscal não ajuda - ou porque a austeridade na condução das contas públicas é insuficiente para reduzir a demanda por bens e serviços que corre acima da capacidade de oferta da economia. Também vai ficando inevitável admitir que a política monetária (política de juros) perdeu certo grau de eficácia. Enfrenta uma bactéria geneticamente modificada bem mais resistente aos antibióticos convencionais.
Esse parece, em parte, o resultado das decisões do próprio governo, que vem represando artificialmente suas tarifas. Quanto mais interfere nos preços sobre os quais a política de juros não atua - ou sobre 25% da cesta de consumo -, mais, também, o Banco Central tem de puxar pelos juros, de maneira a agir sobre o segmento que cobre os 75% restantes.
Em outras palavras, a reindexação, ou seja, a prática de reajustes automáticos de preços, de que o Banco Central vem reclamando, também fica tanto mais acirrada quanto mais o governo atrasa seus reajustes: os agentes econômicos (os fazedores de preços livres) tendem a remarcar mercadorias e serviços não mais de acordo com a inflação, mas de acordo com a evolução dos preços livres.
Como vem sendo observado por esta Coluna em edições anteriores, em 2013, por exemplo, os preços administrados diretamente pelo governo avançaram apenas 1,52%, enquanto os preços livres subiram 7,27%.
Tudo indica que o Banco Central não tem clareza sobre os próximos passos. Segue determinado a desacelerar a alta dos juros, mas, diante do que aconteceu em dezembro, não sabe o quanto sua política será exigida nos próximos meses. A introdução da expressão "neste momento", usada pela primeira vez em seu comunicado para justificar a alta dos juros decidida quarta-feira, sugere que continuará monitorando os momentos seguintes e, a partir daí, agirá.
Em parte, depende do resto do governo, especialmente da qualidade da política fiscal dos próximos meses. Mas depende, principalmente, do comportamento futuro da própria inflação. As expectativas do mercado, colhidas pelo próprio Banco Central por meio da Pesquisa Focus, são de que, apesar do aperto monetário, a inflação continuará correndo acima dos 6,0% ao ano.
O Banco Central teve de ir mais longe do que pretendia no aperto dos juros. Essa mudança de planos também diz mais do que poderia parecer.
Ficou claro que a dose anterior do remédio não foi suficiente. A infecção é mais séria do que apontavam os diagnósticos oficiais. Ou seja, está sendo questionada a capacidade do Banco Central de prever a trajetória da alta dos preços. Ele mais vem sendo conduzido pela inflação do que a vem conduzindo.
Desde novembro, os comunicados vinham passando o recado de que o ciclo de alta dos juros estava no fim. Esse fim ficou mais uma vez adiado até que esteja mais clara a convergência da inflação, não propriamente para a meta, mas para um ponto qualquer mais próximo dela, que é de 4,5% ao ano.
Fica questionado, também, o procedimento adotado. O Banco Central foi levado a reforçar a alta de juros não só porque a política fiscal não ajuda - ou porque a austeridade na condução das contas públicas é insuficiente para reduzir a demanda por bens e serviços que corre acima da capacidade de oferta da economia. Também vai ficando inevitável admitir que a política monetária (política de juros) perdeu certo grau de eficácia. Enfrenta uma bactéria geneticamente modificada bem mais resistente aos antibióticos convencionais.
Esse parece, em parte, o resultado das decisões do próprio governo, que vem represando artificialmente suas tarifas. Quanto mais interfere nos preços sobre os quais a política de juros não atua - ou sobre 25% da cesta de consumo -, mais, também, o Banco Central tem de puxar pelos juros, de maneira a agir sobre o segmento que cobre os 75% restantes.
Em outras palavras, a reindexação, ou seja, a prática de reajustes automáticos de preços, de que o Banco Central vem reclamando, também fica tanto mais acirrada quanto mais o governo atrasa seus reajustes: os agentes econômicos (os fazedores de preços livres) tendem a remarcar mercadorias e serviços não mais de acordo com a inflação, mas de acordo com a evolução dos preços livres.
Como vem sendo observado por esta Coluna em edições anteriores, em 2013, por exemplo, os preços administrados diretamente pelo governo avançaram apenas 1,52%, enquanto os preços livres subiram 7,27%.
Tudo indica que o Banco Central não tem clareza sobre os próximos passos. Segue determinado a desacelerar a alta dos juros, mas, diante do que aconteceu em dezembro, não sabe o quanto sua política será exigida nos próximos meses. A introdução da expressão "neste momento", usada pela primeira vez em seu comunicado para justificar a alta dos juros decidida quarta-feira, sugere que continuará monitorando os momentos seguintes e, a partir daí, agirá.
Em parte, depende do resto do governo, especialmente da qualidade da política fiscal dos próximos meses. Mas depende, principalmente, do comportamento futuro da própria inflação. As expectativas do mercado, colhidas pelo próprio Banco Central por meio da Pesquisa Focus, são de que, apesar do aperto monetário, a inflação continuará correndo acima dos 6,0% ao ano.
Vendas do comércio, o pior do melhor - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 17/01
Ritmo do varejo no final de 2013 foi o pior de uma década impossível de repetir e ainda bem bom
O RITMO DAS VENDAS do comércio não cresce tão pouco desde o final da crise dos anos horríveis de 2001 a 2003. O aumento da vendas do comércio em outubro e novembro de 2013 foi o menor desde meados de 2004 (na medida do crescimento acumulado em 12 meses).
Essa é uma constatação que rende afirmações e manchetes do tipo "comércio tem o pior ano em uma década". É verdade e não é.
Para começar, o que quer dizer "o comércio não cresce tão pouco"? Até novembro, dado mais recente disponível e divulgado ontem pelo IBGE, o comércio cresceu 4,4% (nos 12 meses contados até novembro). Só na China 4,4% é "pouco".
Mas 4,4% é um ritmo muito inferior ao registrado de 2004 a 2012. Nesses anos, o crescimento médio anual foi de incríveis e de fato chineses 7,9%. Trata-se de um ritmo suficiente para mais que dobrar o volume de vendas do comércio em uma década. Entre 2004 e 2012, a população brasileira cresceu uns 13%.
Não parece possível repetir os anos de disparada do consumo dos anos douradinhos de 2004 a 2012, em parte movido a um aumento rapidíssimo do crédito, da redução do desemprego (da casa dos 12% para 5%), de aumentos reais de salários e de aumentos reais de transferências sociais.
Nesses anos, a capacidade de endividamento das famílias diminuiu, a capacidade de endividamento do governo foi para o bico do corvo e o Brasil passou a consumir demais no exterior, a ter deficit externo e depois deficit externo no nível chatinho de agora (isto é, de certo modo, passou a "tomar emprestado" cada vez mais no exterior a fim de consumir). Como cereja desse bolo, indicador do limite da alta do consumo, temos inflação persistente a 6%.
Em suma, como o país tem crescido mais devagar, há limites para o crescimento do total dos salários. Não havendo mais aumento de crédito, o consumo segue mais ou menos o ritmo do crescimento salarial mais comedido.
Isto posto, mesmo no momento de baixa desse ciclo animado, o consumo cresce a 4,4% ao ano, talvez ainda um pouco acima das nossas possibilidades de agora. Quão acima das nossas possibilidades é a questão interessante.
O Banco Central continua a elevar a taxa de juros a fim de, obviamente, limitar o consumo e conter as expectativas de que a inflação vai desgarrar dos 6%.
Dados outros problemas, qual seria, pois, a perspectiva de crescimento do consumo nos próximos anos?
Em relatório publicado ontem, os economistas do Itaú Unibanco Aurélio Bicalho e Luka Barbosa acreditam que o ritmo do próximo biênio será ainda mais fraco que o do final do ano passado.
"Nosso cenário é de moderação do crescimento do varejo. O crescimento mais lento da massa salarial real, o menor nível da confiança dos consumidores, o aumento das taxas de juros reais e o ritmo moderado de crescimento do crédito são compatíveis com um ritmo de expansão do varejo mais próximo de 3,0% a 3,5% anualizados neste ano e no ano que vem", escreveram os economistas.
Horrível? De dezembro de 2001 a março de 2004, o crescimento das vendas foi SEMPRE negativo (no acumulado em 12 meses), chegando a cair mais de 4%.
Ritmo do varejo no final de 2013 foi o pior de uma década impossível de repetir e ainda bem bom
O RITMO DAS VENDAS do comércio não cresce tão pouco desde o final da crise dos anos horríveis de 2001 a 2003. O aumento da vendas do comércio em outubro e novembro de 2013 foi o menor desde meados de 2004 (na medida do crescimento acumulado em 12 meses).
Essa é uma constatação que rende afirmações e manchetes do tipo "comércio tem o pior ano em uma década". É verdade e não é.
Para começar, o que quer dizer "o comércio não cresce tão pouco"? Até novembro, dado mais recente disponível e divulgado ontem pelo IBGE, o comércio cresceu 4,4% (nos 12 meses contados até novembro). Só na China 4,4% é "pouco".
Mas 4,4% é um ritmo muito inferior ao registrado de 2004 a 2012. Nesses anos, o crescimento médio anual foi de incríveis e de fato chineses 7,9%. Trata-se de um ritmo suficiente para mais que dobrar o volume de vendas do comércio em uma década. Entre 2004 e 2012, a população brasileira cresceu uns 13%.
Não parece possível repetir os anos de disparada do consumo dos anos douradinhos de 2004 a 2012, em parte movido a um aumento rapidíssimo do crédito, da redução do desemprego (da casa dos 12% para 5%), de aumentos reais de salários e de aumentos reais de transferências sociais.
Nesses anos, a capacidade de endividamento das famílias diminuiu, a capacidade de endividamento do governo foi para o bico do corvo e o Brasil passou a consumir demais no exterior, a ter deficit externo e depois deficit externo no nível chatinho de agora (isto é, de certo modo, passou a "tomar emprestado" cada vez mais no exterior a fim de consumir). Como cereja desse bolo, indicador do limite da alta do consumo, temos inflação persistente a 6%.
Em suma, como o país tem crescido mais devagar, há limites para o crescimento do total dos salários. Não havendo mais aumento de crédito, o consumo segue mais ou menos o ritmo do crescimento salarial mais comedido.
Isto posto, mesmo no momento de baixa desse ciclo animado, o consumo cresce a 4,4% ao ano, talvez ainda um pouco acima das nossas possibilidades de agora. Quão acima das nossas possibilidades é a questão interessante.
O Banco Central continua a elevar a taxa de juros a fim de, obviamente, limitar o consumo e conter as expectativas de que a inflação vai desgarrar dos 6%.
Dados outros problemas, qual seria, pois, a perspectiva de crescimento do consumo nos próximos anos?
Em relatório publicado ontem, os economistas do Itaú Unibanco Aurélio Bicalho e Luka Barbosa acreditam que o ritmo do próximo biênio será ainda mais fraco que o do final do ano passado.
"Nosso cenário é de moderação do crescimento do varejo. O crescimento mais lento da massa salarial real, o menor nível da confiança dos consumidores, o aumento das taxas de juros reais e o ritmo moderado de crescimento do crédito são compatíveis com um ritmo de expansão do varejo mais próximo de 3,0% a 3,5% anualizados neste ano e no ano que vem", escreveram os economistas.
Horrível? De dezembro de 2001 a março de 2004, o crescimento das vendas foi SEMPRE negativo (no acumulado em 12 meses), chegando a cair mais de 4%.
Fraqueza industrial - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 17/01
O economista Regis Bonelli acha que fazer a conta da balança comercial por setor dá uma visão distorcida da economia, mas, às vezes, é ilustrativo. O déficit comercial da indústria saltou de US$ 9 bilhões, em 2007, para US$ 105 bilhões, em 2013.O superávit do agronegócio no ano passado foi US$ 82 bilhões. “A maior parte da importação de produtos industriais foi feita pela própria indústria”, esclarece Bonelli.
Os grandes superávits eram fundamentais quando o país não tinha reservas, mas o déficit industrial publicado esta semana pelo “Estado de S. Paulo" assusta realmente. O crescimento do déficit foi alto e acelerado, como se pode ver no gráfico abaixo, de importações e exportações da indústria. O que levou a isso?
O Ministério do Desenvolvimento explica que, entre os bens manufaturados, as importações que mais cresceram desde 2007 foram máquinas e equipamentos, 16%; eletroeletrônicos, 12,7%; derivados de petróleo, 11%; automóveis, 10%; e os setores químicos, de adubos, plásticos, que ficaram entre 4% a 5%.
As importações de bens de capital permitem a modernização da indústria, necessária ao Brasil. É investimento. O aumento forte da importação de derivados de petróleo é resultado do incentivo ao consumo de gasolina. São importações de natureza diferente.
— A grande explicação para o déficit é que o Brasil vem perdendo competitividade pelos problemas que conhecemos: logística deplorável, complicações burocráticas na exportação, carga tributária alta. Mas eu elegeria a logística como o pior problema — diz Bonelli.
O que o professor da Fundação Getúlio Vargas prevê é que este ano o déficit deve diminuir por razões cambiais.
— O dólar já subiu no ano passado e deve continuar subindo. Isso leva um tempo para ter efeito positivo nas exportações. O Banco Central continua com sua política de rações diárias para evitar a desvalorização mais forte do real, mas é uma tendência internacional provocada pela mudança da política monetária americana. Com dólar mais alto, o déficit do turismo vai cair e a balança comercial terá um superávit um pouco maior do que o de 2013.
O essencial permanece sem solução: como fazer para a economia brasileira ser mais competitiva. O estudo do Conference
Board, um centro de estudos que apresenta anualmente dados de produtividade dos países, mostrou que
no mundo inteiro está diminuindo o ritmo de alta da produtividade. Continua subindo, mas mais lentamente em todos os países, inclusive na China. Tanto a produtividade total quanto a do trabalho. O inquietante é que o Brasil sobe menos que a média.
A indústria ou os setores industriais gostam de mostrar os déficits setoriais para pedir ao governo o de sempre: barreiras à importação. O automobilístico conseguiu que barrassem o importado, desde que não fosse o que as empresas instaladas no Brasil importam. O nome disso é protecionismo. Além disso, o lobby industrial pede redução de impostos. Se fosse uma redução horizontal, aumentaria a eficiência da economia, mas só alguns ganham os bons bocados.
O que o déficit de US$ 105 bilhões na indústria informa é que a política industrial do governo, baseada em distribuição de benefícios setoriais, não está funcionando. O que o superávit do agronegócio informa é que a lavoura é a salvação da lavoura. O agronegócio deveria se concentrar na luta por uma logística melhor, que aumentaria sua eficiência. Mas as lideranças focam bandeiras que fazem o setor parecer inimigo do meio ambiente. Um erro estratégico.
O economista Regis Bonelli acha que fazer a conta da balança comercial por setor dá uma visão distorcida da economia, mas, às vezes, é ilustrativo. O déficit comercial da indústria saltou de US$ 9 bilhões, em 2007, para US$ 105 bilhões, em 2013.O superávit do agronegócio no ano passado foi US$ 82 bilhões. “A maior parte da importação de produtos industriais foi feita pela própria indústria”, esclarece Bonelli.
Os grandes superávits eram fundamentais quando o país não tinha reservas, mas o déficit industrial publicado esta semana pelo “Estado de S. Paulo" assusta realmente. O crescimento do déficit foi alto e acelerado, como se pode ver no gráfico abaixo, de importações e exportações da indústria. O que levou a isso?
O Ministério do Desenvolvimento explica que, entre os bens manufaturados, as importações que mais cresceram desde 2007 foram máquinas e equipamentos, 16%; eletroeletrônicos, 12,7%; derivados de petróleo, 11%; automóveis, 10%; e os setores químicos, de adubos, plásticos, que ficaram entre 4% a 5%.
As importações de bens de capital permitem a modernização da indústria, necessária ao Brasil. É investimento. O aumento forte da importação de derivados de petróleo é resultado do incentivo ao consumo de gasolina. São importações de natureza diferente.
— A grande explicação para o déficit é que o Brasil vem perdendo competitividade pelos problemas que conhecemos: logística deplorável, complicações burocráticas na exportação, carga tributária alta. Mas eu elegeria a logística como o pior problema — diz Bonelli.
O que o professor da Fundação Getúlio Vargas prevê é que este ano o déficit deve diminuir por razões cambiais.
— O dólar já subiu no ano passado e deve continuar subindo. Isso leva um tempo para ter efeito positivo nas exportações. O Banco Central continua com sua política de rações diárias para evitar a desvalorização mais forte do real, mas é uma tendência internacional provocada pela mudança da política monetária americana. Com dólar mais alto, o déficit do turismo vai cair e a balança comercial terá um superávit um pouco maior do que o de 2013.
O essencial permanece sem solução: como fazer para a economia brasileira ser mais competitiva. O estudo do Conference
Board, um centro de estudos que apresenta anualmente dados de produtividade dos países, mostrou que
no mundo inteiro está diminuindo o ritmo de alta da produtividade. Continua subindo, mas mais lentamente em todos os países, inclusive na China. Tanto a produtividade total quanto a do trabalho. O inquietante é que o Brasil sobe menos que a média.
A indústria ou os setores industriais gostam de mostrar os déficits setoriais para pedir ao governo o de sempre: barreiras à importação. O automobilístico conseguiu que barrassem o importado, desde que não fosse o que as empresas instaladas no Brasil importam. O nome disso é protecionismo. Além disso, o lobby industrial pede redução de impostos. Se fosse uma redução horizontal, aumentaria a eficiência da economia, mas só alguns ganham os bons bocados.
O que o déficit de US$ 105 bilhões na indústria informa é que a política industrial do governo, baseada em distribuição de benefícios setoriais, não está funcionando. O que o superávit do agronegócio informa é que a lavoura é a salvação da lavoura. O agronegócio deveria se concentrar na luta por uma logística melhor, que aumentaria sua eficiência. Mas as lideranças focam bandeiras que fazem o setor parecer inimigo do meio ambiente. Um erro estratégico.
A ‘tungada’ da Caixa na caderneta de poupança - ROBERTO FREIRE
BRASIL ECONÔMICO - 17/01
Um dos grandes patrimônios reais e emblemáticos para os brasileiros, especialmente os de menor renda, a caderneta de poupança não está imune à incompetência reinante na administração petista. Especialista na “contabilidade criativa” que desmoraliza o pouco que resta de sua reputação na área econômica, o governo de Dilma Rousseff se vê aturdido diante de mais um escândalo, desta vez envolvendo a Caixa Econômica Federal, que protagonizou uma espécie de confisco secreto em mais de 525 mil contas e usou esse dinheiro para inflar seu lucro em 2012 e distribuir maiores dividendos para o governo.
Segundo reportagem publicada pela revista “Istoé”, uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União aponta que a Caixa encerrou 525.527 contas supostamente sem movimentação por até três anos e com valores que variam entre R$ 100 e R$ 5 mil. O saldo ilegalmente “tungado” dos poupadores foi lançado como lucro no balanço anual da instituição, sem que os correntistas ou os órgãos reguladores do sistema financeiro nacional fossem comunicados, somando um montante de R$ 719 milhões confiscados irregularmente.
A Caixa alega que encerrou as contas que apresentavam falhas cadastrais, mas a rapinagem escandalosa sobre mais de meio milhão de poupadores descumpriu a legislação. A resolução 2025/ 1993 do Conselho Monetário Nacional trata do encerramento de contas abertas “com documentação fraudulenta”, quando há indícios de crime contra a administração pública, mas é necessário obter autorização judicial para cada um dos casos. Além disso, a circular 3006/2000 do Banco Central prevê autorização do cliente para o fechamento da conta.
Sem qualquer embasamento legal, a Caixa tampouco encontra respaldo lógico em sua constrangedora tentativa de justificar o injustificável. Afinal, como as 525 mil contas encerradas estavam “inativas” se a caderneta de poupança rende mensalmente? E como insistir na tese de que a operação seguiu os preceitos legais se o próprio Banco Central determinou expressamente que o dinheiro “tungado” dos poupadores seja retirado do balanço financeiro da Caixa e volte para o passivo da instituição?
Esta não é a primeira vez que a Caixa protagoniza trapalhadas sob a chancela do governo petista. Em maio do ano passado, o banco alterou o calendário de pagamentos do Bolsa Família sem aviso prévio aos beneficiários, o que provocou correria às agências. Em um único fim de semana, mais de 1 milhão de pessoas realizaram 920 mil saques no valor total de R$ 152 milhões. Depois de acusar a oposição de criar boatos sobre o suposto fim do programa, o governo se viu obrigado a recuar e o próprio presidente da Caixa pediu desculpas pela lambança.
“tungada” na caderneta de poupança nos remete ao absurdo cometido pelo ex-presidente Fernando Collor, que confiscou parte das contas dos brasileiros e gerou um profundo trauma no imaginário popular. Mais de 20 anos depois, os petistas parecem ter se inspirado no antigo adversário, hoje fiel aliado de Lula e Dilma, para ludibriar os brasileiros e inflar o erário.
Além de desmoralizar ainda mais um governo que se arrasta com a credibilidade no chão, o confisco arbitrário da Caixa aumenta a desconfiança em relação ao Brasil e causa enorme prejuízo a correntistas e acionistas. O país não pode mais conviver com tamanho desmantelo e tantas ilegalidades.
Um dos grandes patrimônios reais e emblemáticos para os brasileiros, especialmente os de menor renda, a caderneta de poupança não está imune à incompetência reinante na administração petista. Especialista na “contabilidade criativa” que desmoraliza o pouco que resta de sua reputação na área econômica, o governo de Dilma Rousseff se vê aturdido diante de mais um escândalo, desta vez envolvendo a Caixa Econômica Federal, que protagonizou uma espécie de confisco secreto em mais de 525 mil contas e usou esse dinheiro para inflar seu lucro em 2012 e distribuir maiores dividendos para o governo.
Segundo reportagem publicada pela revista “Istoé”, uma auditoria realizada pela Controladoria-Geral da União aponta que a Caixa encerrou 525.527 contas supostamente sem movimentação por até três anos e com valores que variam entre R$ 100 e R$ 5 mil. O saldo ilegalmente “tungado” dos poupadores foi lançado como lucro no balanço anual da instituição, sem que os correntistas ou os órgãos reguladores do sistema financeiro nacional fossem comunicados, somando um montante de R$ 719 milhões confiscados irregularmente.
A Caixa alega que encerrou as contas que apresentavam falhas cadastrais, mas a rapinagem escandalosa sobre mais de meio milhão de poupadores descumpriu a legislação. A resolução 2025/ 1993 do Conselho Monetário Nacional trata do encerramento de contas abertas “com documentação fraudulenta”, quando há indícios de crime contra a administração pública, mas é necessário obter autorização judicial para cada um dos casos. Além disso, a circular 3006/2000 do Banco Central prevê autorização do cliente para o fechamento da conta.
Sem qualquer embasamento legal, a Caixa tampouco encontra respaldo lógico em sua constrangedora tentativa de justificar o injustificável. Afinal, como as 525 mil contas encerradas estavam “inativas” se a caderneta de poupança rende mensalmente? E como insistir na tese de que a operação seguiu os preceitos legais se o próprio Banco Central determinou expressamente que o dinheiro “tungado” dos poupadores seja retirado do balanço financeiro da Caixa e volte para o passivo da instituição?
Esta não é a primeira vez que a Caixa protagoniza trapalhadas sob a chancela do governo petista. Em maio do ano passado, o banco alterou o calendário de pagamentos do Bolsa Família sem aviso prévio aos beneficiários, o que provocou correria às agências. Em um único fim de semana, mais de 1 milhão de pessoas realizaram 920 mil saques no valor total de R$ 152 milhões. Depois de acusar a oposição de criar boatos sobre o suposto fim do programa, o governo se viu obrigado a recuar e o próprio presidente da Caixa pediu desculpas pela lambança.
“tungada” na caderneta de poupança nos remete ao absurdo cometido pelo ex-presidente Fernando Collor, que confiscou parte das contas dos brasileiros e gerou um profundo trauma no imaginário popular. Mais de 20 anos depois, os petistas parecem ter se inspirado no antigo adversário, hoje fiel aliado de Lula e Dilma, para ludibriar os brasileiros e inflar o erário.
Além de desmoralizar ainda mais um governo que se arrasta com a credibilidade no chão, o confisco arbitrário da Caixa aumenta a desconfiança em relação ao Brasil e causa enorme prejuízo a correntistas e acionistas. O país não pode mais conviver com tamanho desmantelo e tantas ilegalidades.
Na Argentina, o governo não se move. O resto, sim - CARLOS PAGNI
O GLOBO - 17/01
Sindicalistas e empresários se mobilizam em diversos encontros para elaborar uma agenda para o país, com vistas às eleições presidenciais de 2015 e depois
O país surfa uma onda de infortúnios que começou a se formar nos motins policiais e nos saques, ganhou volume com o colapso energético e se mantém em alta com a inflação acelerada e a perda de reservas. As turbulências encontram no governo uma presidente quase ausente e um Gabinete invertebrado. O desassossego não corrói apenas o kirchnerismo. Também tira da letargia a oposição. E, num ano sem eleições, dinamiza as organizações sociais.
Hugo Moyano (CGT) e Luis Barrionuevo (CGT dissidente) iniciaram gestões para unificar o movimento. Na Sociedade Rural Argentina (SRA), as principais organizações do empresariado começaram a elaborar uma agenda para comprometer os principais candidatos presidenciais em 2015. A sociedade civil começa a interpelar a política.
Barrionuevo e Moyano fizeram uma exibição de força ao alinhar a totalidade do sindicalismo dos transportes: caminhoneiros, pessoal dos ônibus, ferroviários e aeronautas. Está implícita a capacidade de parar o país. Porém, como estão acostumados a que Cristina Kirchner os responsabilize por todas as pragas que a afetam, Moyano e Barrionuevo preferem dissimular esse poder. Por isto, ao terminar a entrevista, disseram que, ao buscar a unidade da CGT, pretendem garantir a paz social.
Os dois convocaram novo encontro para o dia 20. Antes, entrarão em contato com o secretário-geral da CGT-Balcarce, Antonio Caló, e José Luis Lingeri, do Sindicato de Obras Sanitárias, para que a esta segunda assembleia compareçam também os sindicatos ligados ao governo. O objetivo é avançar rumo à unidade sindical em março. A esta altura, estarão reunidas as paritárias, discutindo os reajustes salariais. Casualidade zero: a convergência sindical pretende fazer frente a uma política cuja sobrevivência depende da queda do salário real.
A inovação mais destacada é que, para a reunião do dia 20, também estarão convidados os candidatos presidenciais do peronismo hoje: o deputado Sergio Massa e os governadores Daniel Scioli e José Manuel de la Sota. Os organizadores querem que os três escutem suas propostas e exponham os programas que estão elaborando. O maior desafio é o de Scioli: anfíbio como sempre, negocia com “hereges”, como De la Sota e Moyano, mas não se separa de Cristina.
Os sindicalistas pretendem fazer contato com os empresários, que também começaram a se reunir. Mas, nas entidades agropecuárias, dos bancos e na União Industrial Argentina (UIA) existe alguma prevenção. Querem estar seguros de que não serão usados em manobras que afetem a estabilidade de Cristina em benefício de algum candidato a sucedê-la. Quem seria esse candidato? Massa, cujos reclamos ao governo são cada dia mais urgentes? Ou Scioli, que analisou com De la Sota a eventualidade de um final abrupto do kirchnerismo? Os empresários que se reuniram na SRA decidiram que seus encontros serão públicos. A intenção é reduzir a segmentação do campo empresarial para levar uma proposta ao governo e aos candidatos para 2015.
A reunião na Rural foi o resultado de conversações mais ou menos discretas, que começaram aos cuidados de Jaime Campos, na Associação Empresarial Argentina (AEA) e se deslocaram depois a outras entidades. O antecedente imediato foi um encontro no Hotel Intercontinental, convocado pela Mesa de Enlace da agropecuária e os grupos Crea (Consórcios Regionais de Experiências Agrícolas), a que compareceram dirigentes da área industrial.
A assembleia foi preparada por Luis Miguel Etchevehere, presidente da Rural (SRA), em consulta com o filósofo Santiago Kovadloff. A assistência foi heterogênea: estiveram as entidades do campo, a UIA, AEA, Adeba (bancos nacionais), ABA (bancos estrangeiros), Câmara Argentina de Comércio, as câmaras de Comércio da Espanha, dos EUA e do Brasil; ACDE (empresários cristãos), Idea (Instituto para o Desenvolvimento Empresarial da Argentina), Comissão de Justiça e Paz e o Colégio de Advogados, entre outras.
O grupo, que se apresenta como Fórum de Convergência Empresarial, voltará a se reunir no dia 28. Entre os participantes circula um texto de Kovadloff que resulta de intercâmbio com vários empresários. O documento sustenta que o país tem um problema de natureza política, pela dificuldade que enfrenta uma liderança desarticulada para promover uma mudança modernizadora; e defende a ativação de uma rede setorial com o objetivo de distender o clima público este ano e criar uma agenda para além de 2015.
Sindicalistas e empresários se mobilizam em diversos encontros para elaborar uma agenda para o país, com vistas às eleições presidenciais de 2015 e depois
O país surfa uma onda de infortúnios que começou a se formar nos motins policiais e nos saques, ganhou volume com o colapso energético e se mantém em alta com a inflação acelerada e a perda de reservas. As turbulências encontram no governo uma presidente quase ausente e um Gabinete invertebrado. O desassossego não corrói apenas o kirchnerismo. Também tira da letargia a oposição. E, num ano sem eleições, dinamiza as organizações sociais.
Hugo Moyano (CGT) e Luis Barrionuevo (CGT dissidente) iniciaram gestões para unificar o movimento. Na Sociedade Rural Argentina (SRA), as principais organizações do empresariado começaram a elaborar uma agenda para comprometer os principais candidatos presidenciais em 2015. A sociedade civil começa a interpelar a política.
Barrionuevo e Moyano fizeram uma exibição de força ao alinhar a totalidade do sindicalismo dos transportes: caminhoneiros, pessoal dos ônibus, ferroviários e aeronautas. Está implícita a capacidade de parar o país. Porém, como estão acostumados a que Cristina Kirchner os responsabilize por todas as pragas que a afetam, Moyano e Barrionuevo preferem dissimular esse poder. Por isto, ao terminar a entrevista, disseram que, ao buscar a unidade da CGT, pretendem garantir a paz social.
Os dois convocaram novo encontro para o dia 20. Antes, entrarão em contato com o secretário-geral da CGT-Balcarce, Antonio Caló, e José Luis Lingeri, do Sindicato de Obras Sanitárias, para que a esta segunda assembleia compareçam também os sindicatos ligados ao governo. O objetivo é avançar rumo à unidade sindical em março. A esta altura, estarão reunidas as paritárias, discutindo os reajustes salariais. Casualidade zero: a convergência sindical pretende fazer frente a uma política cuja sobrevivência depende da queda do salário real.
A inovação mais destacada é que, para a reunião do dia 20, também estarão convidados os candidatos presidenciais do peronismo hoje: o deputado Sergio Massa e os governadores Daniel Scioli e José Manuel de la Sota. Os organizadores querem que os três escutem suas propostas e exponham os programas que estão elaborando. O maior desafio é o de Scioli: anfíbio como sempre, negocia com “hereges”, como De la Sota e Moyano, mas não se separa de Cristina.
Os sindicalistas pretendem fazer contato com os empresários, que também começaram a se reunir. Mas, nas entidades agropecuárias, dos bancos e na União Industrial Argentina (UIA) existe alguma prevenção. Querem estar seguros de que não serão usados em manobras que afetem a estabilidade de Cristina em benefício de algum candidato a sucedê-la. Quem seria esse candidato? Massa, cujos reclamos ao governo são cada dia mais urgentes? Ou Scioli, que analisou com De la Sota a eventualidade de um final abrupto do kirchnerismo? Os empresários que se reuniram na SRA decidiram que seus encontros serão públicos. A intenção é reduzir a segmentação do campo empresarial para levar uma proposta ao governo e aos candidatos para 2015.
A reunião na Rural foi o resultado de conversações mais ou menos discretas, que começaram aos cuidados de Jaime Campos, na Associação Empresarial Argentina (AEA) e se deslocaram depois a outras entidades. O antecedente imediato foi um encontro no Hotel Intercontinental, convocado pela Mesa de Enlace da agropecuária e os grupos Crea (Consórcios Regionais de Experiências Agrícolas), a que compareceram dirigentes da área industrial.
A assembleia foi preparada por Luis Miguel Etchevehere, presidente da Rural (SRA), em consulta com o filósofo Santiago Kovadloff. A assistência foi heterogênea: estiveram as entidades do campo, a UIA, AEA, Adeba (bancos nacionais), ABA (bancos estrangeiros), Câmara Argentina de Comércio, as câmaras de Comércio da Espanha, dos EUA e do Brasil; ACDE (empresários cristãos), Idea (Instituto para o Desenvolvimento Empresarial da Argentina), Comissão de Justiça e Paz e o Colégio de Advogados, entre outras.
O grupo, que se apresenta como Fórum de Convergência Empresarial, voltará a se reunir no dia 28. Entre os participantes circula um texto de Kovadloff que resulta de intercâmbio com vários empresários. O documento sustenta que o país tem um problema de natureza política, pela dificuldade que enfrenta uma liderança desarticulada para promover uma mudança modernizadora; e defende a ativação de uma rede setorial com o objetivo de distender o clima público este ano e criar uma agenda para além de 2015.
O Brasil não pode ser uma ilha - PEDRO LUIZ PASSOS
FOLHA DE SP - 17/01
É hora de a política de comércio exterior permitir que se rompa o isolamento do país na economia global
A intensa proliferação de acordos comerciais eleva ao grau de urgência a definição de uma nova política de comércio exterior para o Brasil, de forma a romper o isolamento internacional a que o país se submeteu nos últimos anos.
A falta de ação nessa área retarda ainda mais nossa integração à economia globalizada e atrasa a retomada do crescimento interno. A estratégia para dar mais fluidez às relações de troca com outras economias exige ações em diversas frentes --entre elas os acordos comerciais merecem atenção especial.
O país ficou à margem do forte movimento de negociações bilaterais que modificou a dinâmica nos fluxos comerciais e redesenhou o mapa de produção ao redor do planeta. Dados da OMC (Organização Mundial do Comércio) mostram que os acordos deixaram de ser só instrumentos para facilitar transações comerciais e se tornaram o motor na evolução do intercâmbio global.
Em 1991, a entidade contabilizava 50 acordos em vigor. Dez anos depois, o número já havia saltado para 200, e, em julho de 2013, atingiu o patamar de 379. Os Estados Unidos participam de 14 tratados desse tipo, enquanto a União Europeia está envolvida em 35.
Ao priorizar as negociações multilaterais em detrimento dos acordos preferenciais, o Brasil assumiu o papel de espectador nesse processo. A pujança do mercado interno contribuiu para tal alienação, como se o incentivo ao consumo local e o estímulo ao intercâmbio internacional fossem excludentes.
As raras iniciativas para estreitar relações comerciais externas ocorreram por intermédio do Mercosul e da Aladi (Associação Latino Americana de Integração), mas a falta de vigor de ambos não permitiu avanços substanciais.
Mesmo os poucos acordos firmados diretamente com outros países se revelaram excessivamente modestos, tanto no número como na relevância dos parceiros e na abrangência dos termos negociados, limitados a tarifas preferenciais e sem aprofundar questões importantes como o acesso a mercados e serviços.
O isolamento internacional do Brasil poderá se aprofundar caso o país não se integre à tendência de mega-acordos, desencadeada em 2011 com o lançamento da TPP (Trans-Pacific Parnership), que envolve Estados Unidos e outros 11 países de três continentes, e com a TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), reunindo EUA e União Europeia, cujas bases foram estabelecidas no ano passado.
Distante dessa movimentação, o Brasil deixará de usufruir dos benefícios destinados aos países participantes, como tarifas especiais, padronização de procedimentos e desburocratização, entre outros. Bens exportados atualmente por empresas brasileiras passarão a sofrer concorrência mais acirrada por parte de mercadorias produzidas em países signatários de tais acordos.
Além disso, com a multiplicação no número de tratados comerciais, as vantagens que o Brasil usufrui em acordos ora vigentes poderão deixar de existir, já que outros países conquistarão condições semelhantes.
Vale lembrar o exemplo do Chile, que celebrou anos atrás um acordo com o Mercosul, garantindo acesso preferencial para produtos e serviços do bloco vizinho. O país, porém, firmou vários outros acordos com economias de peso no cenário mundial, como EUA, China e União Europeia, o que, na prática, anula parte dos benefícios concedidos originalmente aos membros do Mercosul.
Ou seja, a demora em formular políticas comerciais adequadas coloca nossa economia diante de duas ameaças imediatas: não colher os ganhos gerados por novos acordos e perder acesso privilegiado já existente a mercados no exterior.
A lenta inserção do Brasil na economia internacional também inibe o seu desenvolvimento econômico. A pouca exposição à concorrência externa não estimula investimentos em inovação e gestão empresarial.
A intensificação no fluxo de comércio com outros países, tanto na importação como na exportação, possibilitaria a integração às cadeias globais de valor, permitindo o acesso a insumos mais baratos e tecnologias mais avançadas. Assim, uma política de comércio exterior que rompa o isolamento brasileiro traria ganhos para toda a economia.
Uma condição é necessária para que isso ocorra: o Brasil precisa rapidamente ganhar competitividade, o que, por seu turno, requer que sua produtividade aumente e que o governo desenvolva bons programas em educação e infraestrutura.
É hora de a política de comércio exterior permitir que se rompa o isolamento do país na economia global
A intensa proliferação de acordos comerciais eleva ao grau de urgência a definição de uma nova política de comércio exterior para o Brasil, de forma a romper o isolamento internacional a que o país se submeteu nos últimos anos.
A falta de ação nessa área retarda ainda mais nossa integração à economia globalizada e atrasa a retomada do crescimento interno. A estratégia para dar mais fluidez às relações de troca com outras economias exige ações em diversas frentes --entre elas os acordos comerciais merecem atenção especial.
O país ficou à margem do forte movimento de negociações bilaterais que modificou a dinâmica nos fluxos comerciais e redesenhou o mapa de produção ao redor do planeta. Dados da OMC (Organização Mundial do Comércio) mostram que os acordos deixaram de ser só instrumentos para facilitar transações comerciais e se tornaram o motor na evolução do intercâmbio global.
Em 1991, a entidade contabilizava 50 acordos em vigor. Dez anos depois, o número já havia saltado para 200, e, em julho de 2013, atingiu o patamar de 379. Os Estados Unidos participam de 14 tratados desse tipo, enquanto a União Europeia está envolvida em 35.
Ao priorizar as negociações multilaterais em detrimento dos acordos preferenciais, o Brasil assumiu o papel de espectador nesse processo. A pujança do mercado interno contribuiu para tal alienação, como se o incentivo ao consumo local e o estímulo ao intercâmbio internacional fossem excludentes.
As raras iniciativas para estreitar relações comerciais externas ocorreram por intermédio do Mercosul e da Aladi (Associação Latino Americana de Integração), mas a falta de vigor de ambos não permitiu avanços substanciais.
Mesmo os poucos acordos firmados diretamente com outros países se revelaram excessivamente modestos, tanto no número como na relevância dos parceiros e na abrangência dos termos negociados, limitados a tarifas preferenciais e sem aprofundar questões importantes como o acesso a mercados e serviços.
O isolamento internacional do Brasil poderá se aprofundar caso o país não se integre à tendência de mega-acordos, desencadeada em 2011 com o lançamento da TPP (Trans-Pacific Parnership), que envolve Estados Unidos e outros 11 países de três continentes, e com a TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), reunindo EUA e União Europeia, cujas bases foram estabelecidas no ano passado.
Distante dessa movimentação, o Brasil deixará de usufruir dos benefícios destinados aos países participantes, como tarifas especiais, padronização de procedimentos e desburocratização, entre outros. Bens exportados atualmente por empresas brasileiras passarão a sofrer concorrência mais acirrada por parte de mercadorias produzidas em países signatários de tais acordos.
Além disso, com a multiplicação no número de tratados comerciais, as vantagens que o Brasil usufrui em acordos ora vigentes poderão deixar de existir, já que outros países conquistarão condições semelhantes.
Vale lembrar o exemplo do Chile, que celebrou anos atrás um acordo com o Mercosul, garantindo acesso preferencial para produtos e serviços do bloco vizinho. O país, porém, firmou vários outros acordos com economias de peso no cenário mundial, como EUA, China e União Europeia, o que, na prática, anula parte dos benefícios concedidos originalmente aos membros do Mercosul.
Ou seja, a demora em formular políticas comerciais adequadas coloca nossa economia diante de duas ameaças imediatas: não colher os ganhos gerados por novos acordos e perder acesso privilegiado já existente a mercados no exterior.
A lenta inserção do Brasil na economia internacional também inibe o seu desenvolvimento econômico. A pouca exposição à concorrência externa não estimula investimentos em inovação e gestão empresarial.
A intensificação no fluxo de comércio com outros países, tanto na importação como na exportação, possibilitaria a integração às cadeias globais de valor, permitindo o acesso a insumos mais baratos e tecnologias mais avançadas. Assim, uma política de comércio exterior que rompa o isolamento brasileiro traria ganhos para toda a economia.
Uma condição é necessária para que isso ocorra: o Brasil precisa rapidamente ganhar competitividade, o que, por seu turno, requer que sua produtividade aumente e que o governo desenvolva bons programas em educação e infraestrutura.
Toma lá dá cá e Dilmalalá - DAVID FRIEDLANDER
FOLHA DE SP - 17/01
SÃO PAULO - Que tal dar um ministério de R$ 8,5 bilhões (Integração Nacional) ao PTB em troca de 39 segundos a mais na propaganda eleitoral de TV? Ou manter a pasta das Cidades (orçamento de R$ 24 bi) com o PP para ganhar um minuto e 18 segundos? O PMDB já tem cinco ministérios, mas quer mais um. Tem dois minutos e 18 segundos para oferecer. E, claro, ainda há o recém-criado Pros com seus importantíssimos 21 segundos no horário eleitoral.
Em essência, esse é o jogo na reforma ministerial que a presidente Dilma negocia com os políticos. Para amarrar o apoio dos partidos a seu projeto de reeleição, ela oferece parte das vagas abertas pelos ministros que vão disputar as eleições.
Tudo para ampliar o número de palanques nos Estados e, principalmente, garantir o maior tempo possível na propaganda eleitoral de rádio e TV. Os partidos, por sua vez, chantageiam porque querem verbas para liberar, usar a máquina pública a seu favor e o contato direto com fornecedores do governo, potenciais financiadores de campanha.
Melhorar a eficiência do governo ou competência para os cargos raramente entram nesse tipo de conversa. Deveriam. Uma das críticas ao trabalho de Dilma é que ela se cercou de gente que tem medo dela, diz "sim, presidenta" a tudo, e a ausência de contraponto teria contribuído para o fraco rendimento em algumas áreas.
Barganha política e loteamento de cargos são valores já arraigados na política brasileira. Apesar das provas de que essa prática explica boa parte da ineficiência e da corrupção no setor público, políticos de todos os partidos usam o toma lá dá cá para se reeleger ou fazer sucessores.
É uma pena, mas parece que pouca gente se espanta com isso. Na última campanha presidencial, vendeu-se a ideia de que Dilma era uma dessas pessoas: não gostava dos políticos, não tinha estômago para a barganha, era uma "gerentona" obcecada por gestão, cobrava resultados. Não é o que parece agora.
SÃO PAULO - Que tal dar um ministério de R$ 8,5 bilhões (Integração Nacional) ao PTB em troca de 39 segundos a mais na propaganda eleitoral de TV? Ou manter a pasta das Cidades (orçamento de R$ 24 bi) com o PP para ganhar um minuto e 18 segundos? O PMDB já tem cinco ministérios, mas quer mais um. Tem dois minutos e 18 segundos para oferecer. E, claro, ainda há o recém-criado Pros com seus importantíssimos 21 segundos no horário eleitoral.
Em essência, esse é o jogo na reforma ministerial que a presidente Dilma negocia com os políticos. Para amarrar o apoio dos partidos a seu projeto de reeleição, ela oferece parte das vagas abertas pelos ministros que vão disputar as eleições.
Tudo para ampliar o número de palanques nos Estados e, principalmente, garantir o maior tempo possível na propaganda eleitoral de rádio e TV. Os partidos, por sua vez, chantageiam porque querem verbas para liberar, usar a máquina pública a seu favor e o contato direto com fornecedores do governo, potenciais financiadores de campanha.
Melhorar a eficiência do governo ou competência para os cargos raramente entram nesse tipo de conversa. Deveriam. Uma das críticas ao trabalho de Dilma é que ela se cercou de gente que tem medo dela, diz "sim, presidenta" a tudo, e a ausência de contraponto teria contribuído para o fraco rendimento em algumas áreas.
Barganha política e loteamento de cargos são valores já arraigados na política brasileira. Apesar das provas de que essa prática explica boa parte da ineficiência e da corrupção no setor público, políticos de todos os partidos usam o toma lá dá cá para se reeleger ou fazer sucessores.
É uma pena, mas parece que pouca gente se espanta com isso. Na última campanha presidencial, vendeu-se a ideia de que Dilma era uma dessas pessoas: não gostava dos políticos, não tinha estômago para a barganha, era uma "gerentona" obcecada por gestão, cobrava resultados. Não é o que parece agora.
Casamento de fachada - DORA KRAMER
O Estado de S.Paulo - 17/01
O PT é um parceiro difícil e, convenhamos, o PMDB também não é fácil. Nunca se deram bem, entre outros motivos porque nada têm em comum: desde a origem, o jeito de agir, os personagens, as identidades; são entes feitos de massas completamente diferentes.
Ainda assim, a partir do segundo governo de Lula da Silva resolveram se casar oficialmente. Nada a ver com amor. A regra do interesse sempre foi clara: o PT entra com os lotes da administração federal e o PMDB, com a força no Congresso, resultantes de grandes bancadas conseguidas a partir da máquina partidária País afora e dos instrumentos recebidos do poder central para "fazer política".
A insatisfação entre os nubentes também sempre foi nítida. Reclamações de parte a parte, mas o reconhecimento de que precisavam um do outro.
Agora, contudo, depois de quase oito anos de convivência forçada, nada mais une um partido ao outro e quase tudo parece desuni-los. A motivação da aliança vai desaparecendo. O PMDB não recebe do PT os mecanismos considerados eficientes para "fazer política" - ministérios com dinheiro, obras e visibilidade - e por isso mesmo o partido está cada vez menos disposto a ceder palanques aos petistas nos Estados.
Teme perder esse espaço que lhe assegura peso congressual, deixando de eleger grandes bancadas. Nas contas para governos estaduais, os pemedebistas por ora vislumbram chance de vitória em Rondônia, Amazonas, Ceará e Bahia. Pouco para uma legenda cuja força é regional e precisa cuidar dessa seara.
O PMDB quer o Rio de Janeiro e em Minas já faz movimentos em direção ao PSB. Como ninguém atende ao interesse de ninguém nessa aliança, é de se perguntar o que ainda os une além do desejo de Michel Temer de ser vice, de Henrique Alves e Renan Calheiros de presidir mais uma vez a Câmara e o Senado.
O partido como um todo anda indisposto a se manter fiel a projetos individuais de expectativas não realizadas. Percebe o risco à sobrevivência do coletivo e chegou à conclusão de que onde houver os chamados palanques duplos Dilma e Lula darão preferência ao PT, deixando o PMDB no ora veja.
Como, aliás, já fizeram em outros carnavais.
Aposta real. Parecia blefe, mas a insistência do PMDB em manter candidatura própria ao governo do Rio de Janeiro é "à vera". Pelo seguinte: o partido tem certeza de que o vice-governador Luiz Fernando Pezão chega ao segundo turno.
Conta com as máquinas no Estado e da Prefeitura e não seria contaminado pelo desgaste do governador Sérgio Cabral exatamente pelos atributos opostos aos que fizeram Cabral ser mal avaliado: deslumbramento, imprudência e arrogância.
Pezão é bem quisto, pé de boi e refratário a excessos sociais. O PMDB acha que, partindo do patamar de 25% de aprovação de Cabral, o vice multiplica o patrimônio assim que o governador se afastar da cena.
Sobre os adversários a avaliação é a seguinte: PSDB e PSB estão fora do páreo. No campo governista, Anthony Garotinho e Marcello Crivella têm boa largada, mas teto insuficiente para uma boa chegada. Lindbergh Farias, do PT, não deslanchou ainda.
Verdade seja dita, em boa medida por ação de Cabral junto a Lula para que o PT não saia do governo e, assim, impeça o petista de fazer oposição contundente ao PMDB.
Mal menor. O PSDB não vê grandes danos na adesão do PPS ao PSB (agora ameaçado pela resistência de Marina Silva em apoiar Geraldo Alckmin em São Paulo).
Significa apenas 15 segundos de acréscimo na propaganda eleitoral, enquanto boa parte das alianças nos Estados está acertada entre os tucanos e Eduardo Campos. Notadamente para o segundo turno, onde houver.
O PT é um parceiro difícil e, convenhamos, o PMDB também não é fácil. Nunca se deram bem, entre outros motivos porque nada têm em comum: desde a origem, o jeito de agir, os personagens, as identidades; são entes feitos de massas completamente diferentes.
Ainda assim, a partir do segundo governo de Lula da Silva resolveram se casar oficialmente. Nada a ver com amor. A regra do interesse sempre foi clara: o PT entra com os lotes da administração federal e o PMDB, com a força no Congresso, resultantes de grandes bancadas conseguidas a partir da máquina partidária País afora e dos instrumentos recebidos do poder central para "fazer política".
A insatisfação entre os nubentes também sempre foi nítida. Reclamações de parte a parte, mas o reconhecimento de que precisavam um do outro.
Agora, contudo, depois de quase oito anos de convivência forçada, nada mais une um partido ao outro e quase tudo parece desuni-los. A motivação da aliança vai desaparecendo. O PMDB não recebe do PT os mecanismos considerados eficientes para "fazer política" - ministérios com dinheiro, obras e visibilidade - e por isso mesmo o partido está cada vez menos disposto a ceder palanques aos petistas nos Estados.
Teme perder esse espaço que lhe assegura peso congressual, deixando de eleger grandes bancadas. Nas contas para governos estaduais, os pemedebistas por ora vislumbram chance de vitória em Rondônia, Amazonas, Ceará e Bahia. Pouco para uma legenda cuja força é regional e precisa cuidar dessa seara.
O PMDB quer o Rio de Janeiro e em Minas já faz movimentos em direção ao PSB. Como ninguém atende ao interesse de ninguém nessa aliança, é de se perguntar o que ainda os une além do desejo de Michel Temer de ser vice, de Henrique Alves e Renan Calheiros de presidir mais uma vez a Câmara e o Senado.
O partido como um todo anda indisposto a se manter fiel a projetos individuais de expectativas não realizadas. Percebe o risco à sobrevivência do coletivo e chegou à conclusão de que onde houver os chamados palanques duplos Dilma e Lula darão preferência ao PT, deixando o PMDB no ora veja.
Como, aliás, já fizeram em outros carnavais.
Aposta real. Parecia blefe, mas a insistência do PMDB em manter candidatura própria ao governo do Rio de Janeiro é "à vera". Pelo seguinte: o partido tem certeza de que o vice-governador Luiz Fernando Pezão chega ao segundo turno.
Conta com as máquinas no Estado e da Prefeitura e não seria contaminado pelo desgaste do governador Sérgio Cabral exatamente pelos atributos opostos aos que fizeram Cabral ser mal avaliado: deslumbramento, imprudência e arrogância.
Pezão é bem quisto, pé de boi e refratário a excessos sociais. O PMDB acha que, partindo do patamar de 25% de aprovação de Cabral, o vice multiplica o patrimônio assim que o governador se afastar da cena.
Sobre os adversários a avaliação é a seguinte: PSDB e PSB estão fora do páreo. No campo governista, Anthony Garotinho e Marcello Crivella têm boa largada, mas teto insuficiente para uma boa chegada. Lindbergh Farias, do PT, não deslanchou ainda.
Verdade seja dita, em boa medida por ação de Cabral junto a Lula para que o PT não saia do governo e, assim, impeça o petista de fazer oposição contundente ao PMDB.
Mal menor. O PSDB não vê grandes danos na adesão do PPS ao PSB (agora ameaçado pela resistência de Marina Silva em apoiar Geraldo Alckmin em São Paulo).
Significa apenas 15 segundos de acréscimo na propaganda eleitoral, enquanto boa parte das alianças nos Estados está acertada entre os tucanos e Eduardo Campos. Notadamente para o segundo turno, onde houver.