O GLOBO - 25/10
De abril de 2010 a abril deste ano, aumentou 50% o número de estrangeiros residentes no Brasil.
A legião é formada, na maioria, por jovens europeus que, acredite, estão vindo morar nas favelas pacificadas do Rio, atraídos por moradia barata. Os dados foram levantados pelo "The Christian Science Monitor” renomado jornal com sede em Boston, EUA.
Segue...
Segundo o jornal, há uns 50 jovens europeus só no Vidigal, entre ingleses, franceses, alemães, portugueses...
O êxodo, diz o "Christian Science’,’ deve-se ao "contínuo crescimento da economia brasileira, ainda que lento” e, claro, à crise na Europa. "Há alguns anos, essas favelas eram perigosas’,’ afirma o jornal, que enaltece as UPPs.
‘Que m...’
Evanise Santos, a mulher de Zé Dirceu, declara no Facebook que "tem tido noites insones”
Veja só: "A revolta não tem me deixado dormir, que m...’.
Aliás...
A condenação de Zé Dirceu foi festejada pelo PSTU, partido trotskista, para o qual "o mensalão foi o desfecho da direitização do PT’.
Em seu jornal, o partido diz que a corrente foi expulsa do PT por defender o "Fora Collor” em 1991, numa ação comandada por Dirceu, que, depois, apoiou o impeachment.
Reforma ministerial
Segunda, encerradas as eleições municipais, o tema no mundo político voltará a ser reforma ministerial.
Mas Dilma disse a um ministro que vai se limitar a uma ou duas trocas.
Ministro do Kassab...
A única coisa certa, diz quem sabe das coisas, é que o PSD do prefeito Kassab deve indicar um ministro.
A QUEM INTERESSAR POSSA
Ele não tem perfil em rede social, conta que mora numa cobertura dúplex na Barra e é visto em alguns dos restaurantes mais caros do Rio. Em tempos de amor na internet, pagou R$ 15 mil por um anúncio em jornal, com o seguinte texto: “Empresário, posição social elevada, separado, procura moça de ótima aparência, de 30 a 40 anos, para relacionamento sério. Carta com foto de corpo inteiro.” Em outras palavras, José Carlos (nome fictício), que atua no ramo imobiliário, procura uma mulher para chamar de sua. Em entrevista ao nosso Jorge Antonio Barros, editor do site da coluna, ele disse que recorreu ao anúncio porque foi como conheceu, há dez anos, a primeira mulher. Além disso, não tem paciência para internet. Garante que não é ciumento, mas faz uma exigência: a candidata não pode ser... gorda. ““Para os negócios, sou arrojado, mas, para a questão sentimental, sou meio tímido”, confessa o senhor que não revela a idade, mas pinta os cabelos de preto. O que oferece à pretendente: “Todo conforto, muito carinho e atenção.” Tem recebido uma carta por dia.
Sophia Loren lulou
Sophia Loren, 77 anos, eterna musa do cinema italiano, vem ao Rio, dia 27 de novembro, lançar o Calendário Pirelli 2013, que terá o Brasil como tema.
Quem fotografou Sônia Braga, Isabeli Fontana, Adriana Lima, Marisa Monte e outras foi o americano Steve McCurry, que fez a famosa foto "Menina afegã’.
Em tempo...
Sophia Loren manifestou o desejo de, em sua viagem ao Brasil, trocar dois dedos de prosa com... Lula.
Pixinguinha, o filme
O roteirista e dramaturgo José Carvalho já entregou à diretora Denise Saraceni o roteiro do filme "Pixinguinha’.’ Será o primeiro longa dirigido por Denise e terá versão em minissérie para a TV Globo.
Vinho do Brasil
Parceira da coluna jantou ontem no badalado restaurante Maze, do chef Gordon Ramsay, em Londres, e ficou surpresa ao ver, na primeira página do cardápio, a sugestão de um vinho brasileiro: Quinta do Seival, da Miolo.
Descanso dos heróis
A Guarda Municipal do Rio aposenta amanhã Hulk, seu cão mais famoso, uma das estrelas do "Showdog” da corporação e do projeto que usa cachorros em terapias com crianças especiais e idosos. É que Hulk completou sete anos dia 16.
O labrador será adotado.
CD de JesusJesus Luz, o ex de Madonna, assinou contrato ontem com a Universal Music para lançar seu primeiro CD como DJ de música eletrônica.
O disco, que vai sair em novembro, terá a música inédita "Feel love noW,’ com a americana Miss Palmer no vocal.
Desce mais uma
Nelson Sargento, o grande mangueirense, participa hoje, às 20h, no Solar de Botafogo, de um debate sobre a história... da cerveja no Brasil.
Faz sentido.
Carnaval 2013
Fabiana Rodrigues, a atriz que está em "Salve Jorge’, será destaque no carnaval da Grande Rio.
Bond, Márcio Bond
Márcio Fortes, que tem a BMW 750 do 007 de 1997, "O amanhã nunca morre” adora a série de filmes de James Bond.
Possui também um Malibu com a placa 007.
Calma, santa
Ontem, por volta de 13h, na orla de Ipanema, o sinal abriu, mas um carro da primeira fila, com dois barbudos a bordo, não partiu. Todos buzinavam, e nada, nem era com eles. Os dois estavam... namorando.
O amor é lindo. Mas no sinal aberto não pode, né?
quinta-feira, outubro 25, 2012
O vinagre que foi para o vinagre - DIAS LOPES
O Estado de S.Paulo - 25/10
As regras sobre a fabricação do vinagre no Brasil, em vigor desde o início do mês, por determinação do Ministério da Agricultura, confirmaram: mais de 50% do condimento produzido no País recebia nome errado e, pior, tinha pouca qualidade. Depois, os fabricantes se queixam da concorrência estrangeira...
O Ministério da Agricultura proibiu a venda do vinagre escuro, à base de álcool de cana, que levava caramelo para imitar o produto original, à base de vinho tinto, e representava 45% de um mercado que movimenta R$ 240 milhões por ano. "A partir de agora, vinagre escuro será só o feito com vinho tinto", diz Darci Dani, diretor executivo da Associação Gaúcha de Vinicultores (Agavi), cobiçando o novo canal para escoamento do vinho brasileiro.
O Ministério da Agricultura também interditou a fabricação do agrin, composto de fermentados de álcool (90%) e vinho (10%). Não que o vinagre de álcool de cana tenha sido banido. Mas a composição deverá estar no rótulo.
Obtém-se o vinagre, um líquido solúvel em água, escuro ou claro, com sabor acre, mediante a transformação do álcool de certas bebidas em ácido acético. O mais nobre deriva do vinho. Não por acaso, o nome vem do latim vinum acre (vinho acre, ácido). Mas também pode resultar de outros fermentados alcoólicos - de cevada, maçã e outras frutas, arroz ou milho. Teria surgido em torno de 6000 a.C., nos atuais territórios da Geórgia e Irã, os mesmos onde apareceu o vinho. Os egípcios, inventores da cerveja, criaram vinagre de malte; os gregos, de figo; os japoneses, de arroz; os americanos amam o de sidra.
Alain Ducasse, o estrelado chef francês, em verbete de quase três páginas do livro Ducasse de A a Z - Um Dicionário Amoroso da Cozinha Francesa (Ediouro, 2005), referenda a importância do vinagre: "Hoje em dia (...) intervém em quase todas as etapas da elaboração de uma refeição, combina com o azeite para temperar saladas e legumes crus, fornece um molho perfumado e untuoso junto ao sumo que ficou na panela, impregna as marinadas de carne ou os caldos de peixe, acentua até mesmo, com algumas gotas, uma salada de frutas ou uma geleia". No Brasil, também o colocamos em conservas, mostardas, vinagretes.
Já foi remédio, arma e bebida. No ano 400 a.C., Hipócrates, o pai da medicina, intuiu suas propriedades antissépticas. Em 218 a.C., o general cartaginês Aníbal, ao transpor os Alpes para derrotar os romanos, amoleceu a rocha com vinagre fervendo, permitindo a passagem dos seus soldados. Os legionários de Roma tomavam posca, vinagre com água, temperada ou não com ervas aromáticas. Quando Jesus estava na cruz, um deles ofereceu-lhe para beber o vinagre que embebia a esponja na ponta de um caule de hissopo.
Alguns vinagres ficaram célebres. O de Orleans, na França, foi por algum tempo o número um do mundo. Em sua elaboração, enchia-se um barril de vinho e se inoculava uma madre (bactérias do ácido acético). Cada vez que se tirava dali um pouco de vinagre, repunha-se a mesma quantidade de vinho. Ficaram igualmente célebres o francês de Champagne, o espanhol de Jerez, o italiano de Barolo e o português de Porto. O vinagre brasileiro não precisa alcançar tal plenitude. Basta fazer jus ao nome.
Feio, mas ainda na moda - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 25/10
Mas empresas estrangeiras compram as brasileiras em baciadas, e o investimento estrangeiro direto ("na produção") até setembro está em US$ 47,6 bilhões, no caminho de ser o segundo maior da história.
"Sou feia, mas tô na moda", dizia a obra lírica de Tati Quebra-Barraco em 2005.
A Amazon namora a Saraiva. Donald Trump pensa em fazer hotéis no Brasil. O número de aquisições é maior que o do ano passado. O valor, em dólares, é menor. Mas o real se desvalorizou: a diferença, pois, não é tão grande. Enfim, o movimento na feira está intenso, ainda mais se a gente considera que 2012 tem sido mais problemático do que 2011 na economia mundial.
O que está havendo?
As empresas brasileiras (sediadas aqui) estão com receio de investir devido aos fatores listados no primeiro parágrafo. Um dos motivos do crescimento pífio do primeiro biênio de Dilma Rousseff é a lerdeza do investimento.
Lá fora, porém, o dinheiro está barato e sobra. Muita empresa põe dinheiro no Brasil porque a perspectiva de crescimento na matriz é pior.
É o caso dos investimentos grandes das europeias Volks e Fiat no Brasil (até a BMW está entrando no país), Brasil cada vez mais superpovoado de montadoras (quem vai comprar tanto carro, e por onde eles vão rodar?). Claro que as montadoras têm incentivos especiais, digamos: Imposto de Importação enorme, isenções de impostos, direito de interferir ou mesmo controlar acordos comerciais do país, um pouco mais de câmbio agora etc.
Mas há de tudo na baciada de empresas brasileiras vendidas para companhias de fora. Os negócios de maior impacto são no setor de serviços, comércio. Claro. Tais setores crescem mais; o governo em geral interfere menos.
Considerem os últimos seis meses. A americana UnitedHealth comprou a Amil. A Experian (serviço de proteção ao crédito) comprou o resto da Serasa. A FedEx comprou o Rapidão Cometa (logística).
O fundo de investimento em empresas Carlyle, que já levara a Ri Happy, comprou a PB Kids (varejo de brinquedos) e a Tok & Stok (de móveis). A Cel Lep, escola de línguas, foi vendida também.
Mas os negócios vão além dos serviços. A General Mills (EUA) levou a Yoki, a múlti de bebidas britânica Diageo, a Ypióca, e a chinesa Lenovo comprou a CCE (computadores).
Dezenas de outras empresas são vendidas na área de tecnologia de informação, laboratórios e equipamentos médicos. Ou na de fabricação de de rejuntes e argamassas.
Não se trata de dizer que empresas estrangeiras descobriram minas de ouro debaixo do nosso nariz. Menos ainda de insinuar que tais investimentos vão fazer a economia andar mais rápido. Mas apenas de ressaltar uma perspectiva muito diferente daquela trombeteada pelos rapazes do mercado financeiro.
O ser humano se diverte olhando! - TUTTY VASQUES
O Estado de S.Paulo - 25/10
A cada edição do Salão do Automóvel, o ser humano como ele é - bobo, deslumbrado e invejoso - se revela mais sem disfarces, pena que ninguém tire os olhos das máquinas para espiar as pessoas ao redor.
Junto com os 500 carrões da mostra internacional inaugurada ontem em São Paulo, estima-se que nos próximos dez dias 750 mil visitantes estarão em completa exposição, pra cima e pra baixo, no mega Pavilhão de Exposições do Anhembi!
Vem gente até de ônibus, de todos os cantos do País, sonhar com o que não pode consumir, aí incluídas aquelas moças de silicone contratadas pelas montadoras para mexer com o imaginário e o desejo por borracha nova de toda classe média em formação.
Gente que, como definia o poeta Torquato Neto observando sua aldeia, "não precisa fazer o mundo, diverte-se apenas olhando para ele!"
Tem coisa melhor? Se você não consegue atingir este grau de satisfação - quem manda ser intelectual e/ou metido a besta! -, taí mais um bom motivo para dar um pulinho até o dia 4 de novembro no Salão do Automóvel:
O ser humano feliz, não importa o motivo, é digno de admiração e, cá pra nós, de inveja!
Junto com os 500 carrões da mostra internacional inaugurada ontem em São Paulo, estima-se que nos próximos dez dias 750 mil visitantes estarão em completa exposição, pra cima e pra baixo, no mega Pavilhão de Exposições do Anhembi!
Vem gente até de ônibus, de todos os cantos do País, sonhar com o que não pode consumir, aí incluídas aquelas moças de silicone contratadas pelas montadoras para mexer com o imaginário e o desejo por borracha nova de toda classe média em formação.
Gente que, como definia o poeta Torquato Neto observando sua aldeia, "não precisa fazer o mundo, diverte-se apenas olhando para ele!"
Tem coisa melhor? Se você não consegue atingir este grau de satisfação - quem manda ser intelectual e/ou metido a besta! -, taí mais um bom motivo para dar um pulinho até o dia 4 de novembro no Salão do Automóvel:
O ser humano feliz, não importa o motivo, é digno de admiração e, cá pra nós, de inveja!
Que fase!
Só falta Cuba negar visto de entrada a José Dirceu!
Mal comparando
Com lucro de mais ou menos R$ 3 bilhões no trimestre, a rentabilidade dos dois maiores bancos privados do Brasil, Itaú e Bradesco, é a pior desde a década de 1990. É de uma crise dessas que os bancos da Grécia estão precisando!
Impedimento claro
Se dependesse do ministro Joaquim Barbosa, o juiz de Borussia Dortmund x Real Madrid pela Liga dos Campeões da Europa anularia o gol de Lewandowski, atacante polonês do time alemão!
Conta outra
São tantos os rumores desfeitos sobre o estado de saúde de Fidel Castro que, se um dia ele morrer, ninguém vai acreditar!
Mensalão news
A tese agora majoritária no STF considerando desnecessário o uso de armas na formação de quadrilha abriu nova crise no crime organizado. "Vai acabar virando bagunça!" - comenta-se nos presídios de segurança máxima!
Sobrinho do banqueiro
O que estão prendendo de Índio da Costa por aí, francamente, vai acabar sobrando para o deputado da família! Sorte do Serra que o seu
vice, dessa vez, é outro!
Pai é Pai
Deus não liga quando certos políticos americanos evocam sua vontade em casos de gravidez que porventura decorram de estupro à mulher, mas é bom o republicano Richard Mourdock, candidato ao Senado nos EUA, não tentar o mesmo com Maomé!
Adauto vênia
Momento de descontração: comenta-se entre os ministros do STF nos intervalos do julgamento do mensalão que o apelido de Dias Toffoli na faculdade de Direito era 'Chupetinha'.
Nicole e os sodomitas - IVAN MARTINS
REVISTA ÉPOCA
A gente nunca sabe se as declarações das celebridades são sinceras ou se têm apenas o objetivo de atrair atenção e causar reboliço na imprensa. Feita essa ressalva gigante, fiquei impressionado ao ler na internet a entrevista da modelo Nicole Bahls, na semana passada. Com franqueza incomum, ela explicou a um repórter que seus namorados a trocam por outras mulheres porque – em suas próprias palavras – ela não gosta de “dar o bumbum”. “Tem um monte de mulher por aí fazendo isso”, ela disse. “Como eu não gosto de dor, perco o namorado.”
Bonita e famosa como é, suspeito que Nicole não tenha dificuldade em substituir os malvados sodomitas que de maneira tão insensível a deixam na fila. Acho, também, que embora seja inevitável rir desse assunto, ele é sério. Constitui um problema de relacionamento que incomoda milhões de mulheres brasileiras. Nunca vi uma estatística, mas pressinto que boa parte das amantes, namoradas e esposas deste país precisam driblar, diariamente, a mesmíssima insistência vivenciada por Nicole: homens lascivos querendo fazer sexo anal. Nelas. Diante da pressão, as moças recusam ou ganham tempo. De vez em quando, um fetichista impaciente vai embora. Acho que essa forma de pecado dolorosa deve ser a segunda principal questão na vida dos nossos casais. A primeira, claro, é quem lava a droga da louça.
No passado, mulheres como Nicole poderiam proteger seu patrimônio invocando a lei. Por inspiração do império britânico, onde reinava a chatíssima rainha Vitória, a sodomia foi proibida em quase toda parte no século XIX, junto com outras formas de perversão como bestialismo e... o sexo oral. Conhecidas como Leis da Sodomia, essas proibições tinham a intenção principal de impedir homens gays de fazerem sexo entre si, mas se aplicavam também a casais heterossexuais. No mundo anglo-saxão, que influenciava o comportamento oficial da elite no resto do planeta (sempre houve o comportamento paralelo), qualquer forma de sexo que não fosse reprodutivo era considerada antinatural. Os últimos 15 estados americanos a abolir as Leis da Sodomia o fizeram em 2003. Isso é ontem em termos de história.
Como agora não existem mais proibições legais, tudo o que acontece no mundo do sexo pode ser livremente negociado no interior dos casais. E aí é que a coisa aperta. A cultura masculina brasileira é profundamente fetichista. Não basta olhar a bunda da mulher, é preciso tomar posse dela. Quanto mais linda a paisagem, maior a exigência de corrompê-la. Essa lógica de posseiro é tão centrada no desejo masculino que ignora a anatomia e a cabeça das mulheres. Algumas simplesmente não têm condição física de acomodar o prazer masculino. O esfíncter não é igual em todas elas, assim como os homens brasileiros, beneficiados pela miscigenação, são enormemente desiguais entre si. Tamanhos, neste caso, são os documentos essenciais da negociação.
Há também a questão psicológica. Muitas mulheres não sentem prazer anal. Outras não suportam nem a ideia de sexo nesse compartimento. Têm nojo, repulsa, sei lá. Sendo homens, tendo a resistência que temos a ser tocados no local em que a mamãe passou talquinho, não deveríamos estranhar essa objeção. Mas estranhamos. Crescemos ouvindo na sala de casa, daquele tio simpático e depravado, que não há nada mais gostoso que submeter uma mulher à retidão da nossa fantasia – e que ela, embora chore como se estivesse sendo machucada, adora. Movidos pela nossa luxúria, nos recusamos a acreditar que as mulheres realmente não gostam ou não querem “dar o bumbum”. Tendemos a achar, lá no fundo, que a resistência delas é uma espécie de trava emocional, uma neurose, um defeito de software que um dia, com muita persistência, será consertado na conversa. Ou na marra.
É preciso admitir que a fabulosa lenda do sexo anal tem dois pés na realidade. Um são as mulheres que realmente gostam dessa modalidade de prazer. Elas existem e nem são tão poucas. Movem-se com discrição entre os homens e entre as próprias mulheres porque a nossa moral sexual condena tudo aquilo que secretamente exalta. As moças sodomitas têm vergonha e sabem que podem ser discriminadas por moralistas e por feministas. Quando um homem esbarra numa delas, às vezes de forma totalmente inesperada, descobre logo de cara que aquele tio pervertido era um idiota – quando elas gostam, a dor não é parte importante do processo. O prazer se faz com jeito e delicadeza masculinas.
O outro pé da lenda é dado pelas mulheres que cedem, embora não gostem. Elas também são muitas. O marido insiste há tanto tempo, a relação anda meio morna, então vai lá – qualquer coisa para ver os olhos do sujeito brilhando de novo. Com o tempo elas se acostumam. Ou então há o medo de perder, medo de que o cara – como diz Nicole Bahls – vá buscar por aí o que não tem em casa. Neste caso, elas tomam um pilequinho, ou acendem um cigarrinho, e meio anestesiadas torcem para que o sujeito termine logo.
As feministas dirão que isso é um horror, mas a verdade é que as pessoas fazem muita coisa desprazerosa pelo outro. Elas suportam nove meses de gravidez, por exemplo. Ou cozinham e fazem faxina quando gostariam de se atirar no sofá. Os homens trabalham em empregos horrendos por anos a fio, 10, 12, 13 horas por dia, para manter a casa e a família. Quando alguém cai doente, o outro cuida, embora seja chato. Todas essas coisas são feitas, ao menos em parte, por amor. Muito na nossa vida envolve sacrifício. Eu não quero sugerir com isso que as mulheres tenham de ceder ao desejo dos seus homens e virar de costas apenas porque gostam dele. Mas acredito que se elas decidirem fazer isso terão suas razões. Assim como estarão inteiramente corretas se disserem não. É o corpo delas. É o bumbum delas. Talvez não exista nada mais íntimo e pessoal.
Para que serve uma crônica? - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 24/10
Como trabalho em casa, não costumo trocar ideias com meus colegas de jornal a respeito da nossa atividade, mas desconfio de que nossos pensamentos sejam parecidos. Talvez eles também se perguntem “por que logo eu tenho um espaço para escrever o que me dá na telha, enquanto tantas outras pessoas que escrevem bem e teriam algo a dizer se expressam apenas nas redes sociais e olhe lá?”. Por reconhecer que é um privilégio ter conquistado esta coluna, busco dar-lhe alguma utilidade pública de vez em quando. Mas adianta?
Respondendo à pergunta do título: para que serve uma crônica? Serve para estimular o gosto pela leitura, já que é um texto rápido e cotidiano, que atrai os que têm pouco ânimo para ensaios mais complexos. Serve para conhecer pontos de vista diferentes e assim sentir-se convocado a refletir sobre o assunto proposto. Serve para divertir, já que muitos cronistas aproveitam sua liberdade autoral para olhar o mundo com alguma graça.
Serve para estabelecer um contato mais estreito com os leitores, que acabam vendo o cronista não como um jornalista distante, mas como um amigo de bar, tal o coloquialismo do gênero. Serve para emocionar, dependendo do tema e do tom. Mas não serve para mudar o que está errado. Essa é a pretensiosa utilidade pública que eu, vez que outra, gostaria de alcançar.
Sobre o que escrever nesta quarta-feira? Cogitei questionar o número incrível de mortes no trânsito que são contabilizadas a cada final de semana, quase todas por imprudência dos motoristas, que seguem bebendo e correndo, a despeito de todas as crônicas, matérias na imprensa e campanhas de esclarecimento que buscam despertar consciências.
Cogitei escrever sobre a absurda violência urbana, que faz com que um homem roube carros na companhia dos filhos pequenos, que uma garota de 15 anos seja assassinada na saída de uma festa ou que delinquentes sejam presos e soltos no mesmo dia, como bem relatou ontem em ZH a médica que foi atacada perto da Redenção, mas crônica alguma consegue fazer com que as autoridades coloquem mais policiais nas ruas, essa medida tão vergonhosamente adiada.
Cogitei chamar a atenção sobre a negligência do nosso sistema de saúde, que possibilita que doentes recebam injeções de sopa, injeções de café com leite, um escândalo que deixa o país de calças arriadas, nossa incompetência é indecente e risível. Mas uma simples crônica muda alguma coisa?
De vez em quando, um leitor confidencia que minhas palavras o ajudaram a destravar um sentimento, outra me escreve dizendo que consegui estimular seu filho a ler um livro pela primeira vez, alguém me conta que finalmente agendou uma mamografia depois de ler o que escrevi, e me gratifico: crônicas não precisam servir para nada, mas às vezes servem, individualmente. Só resta seguir confiando em que fazer diferença para uns possa significar a diferença para muitos.
Como trabalho em casa, não costumo trocar ideias com meus colegas de jornal a respeito da nossa atividade, mas desconfio de que nossos pensamentos sejam parecidos. Talvez eles também se perguntem “por que logo eu tenho um espaço para escrever o que me dá na telha, enquanto tantas outras pessoas que escrevem bem e teriam algo a dizer se expressam apenas nas redes sociais e olhe lá?”. Por reconhecer que é um privilégio ter conquistado esta coluna, busco dar-lhe alguma utilidade pública de vez em quando. Mas adianta?
Respondendo à pergunta do título: para que serve uma crônica? Serve para estimular o gosto pela leitura, já que é um texto rápido e cotidiano, que atrai os que têm pouco ânimo para ensaios mais complexos. Serve para conhecer pontos de vista diferentes e assim sentir-se convocado a refletir sobre o assunto proposto. Serve para divertir, já que muitos cronistas aproveitam sua liberdade autoral para olhar o mundo com alguma graça.
Serve para estabelecer um contato mais estreito com os leitores, que acabam vendo o cronista não como um jornalista distante, mas como um amigo de bar, tal o coloquialismo do gênero. Serve para emocionar, dependendo do tema e do tom. Mas não serve para mudar o que está errado. Essa é a pretensiosa utilidade pública que eu, vez que outra, gostaria de alcançar.
Sobre o que escrever nesta quarta-feira? Cogitei questionar o número incrível de mortes no trânsito que são contabilizadas a cada final de semana, quase todas por imprudência dos motoristas, que seguem bebendo e correndo, a despeito de todas as crônicas, matérias na imprensa e campanhas de esclarecimento que buscam despertar consciências.
Cogitei escrever sobre a absurda violência urbana, que faz com que um homem roube carros na companhia dos filhos pequenos, que uma garota de 15 anos seja assassinada na saída de uma festa ou que delinquentes sejam presos e soltos no mesmo dia, como bem relatou ontem em ZH a médica que foi atacada perto da Redenção, mas crônica alguma consegue fazer com que as autoridades coloquem mais policiais nas ruas, essa medida tão vergonhosamente adiada.
Cogitei chamar a atenção sobre a negligência do nosso sistema de saúde, que possibilita que doentes recebam injeções de sopa, injeções de café com leite, um escândalo que deixa o país de calças arriadas, nossa incompetência é indecente e risível. Mas uma simples crônica muda alguma coisa?
De vez em quando, um leitor confidencia que minhas palavras o ajudaram a destravar um sentimento, outra me escreve dizendo que consegui estimular seu filho a ler um livro pela primeira vez, alguém me conta que finalmente agendou uma mamografia depois de ler o que escrevi, e me gratifico: crônicas não precisam servir para nada, mas às vezes servem, individualmente. Só resta seguir confiando em que fazer diferença para uns possa significar a diferença para muitos.
Índios: a simplista visão do 'bem contra o mal' - EDUARDO CORRÊA RIEDEL
Folha de S. Paulo - 25/10
O problema indígena não é só terra. Há aldeias muito pobres com áreas gigantescas, é preciso avaliar se vale ampliá-las. E não é justo prejudicar o agricultor
O problema indígena não é só terra. Há aldeias muito pobres com áreas gigantescas, é preciso avaliar se vale ampliá-las. E não é justo prejudicar o agricultor
A visão maniqueísta não é uma forma eficiente de retratar a realidade. Dividir problemas a partir da dualidade "bem contra o mal" é uma simplificação que atende à necessidade imediatista de se nominar culpados, mas de longe não contempla a sua complexidade e tampouco abre caminhos para uma solução justa e definitiva.
Assim é com a questão indígena no Brasil, um impasse que já passou da hora do país atender com a seriedade que merece.
Fazemos esta análise a partir do artigo de Marina Silva publicado na edição do último dia 19, com o título "Sobre todos nós".
A ex-senadora chama atenção para a condição dos guarani-kaiowá. Os indígenas reclamam falta de assistência e se negam a deixar propriedade ocupada em Naviraí (MS), mesmo depois de a Justiça ter determinado sua retirada.
Concordamos que é impossível não se sensibilizar com a desagregação social encontrada nas aldeias. Mas a realidade é bem mais complexa e a solução para a falta de estrutura e perspectiva dessas populações não se resume à concessão de território.
Atribuir os graves problemas enfrentados por essas etnias unicamente à falta de terra é tirar o foco do problema e justificar a inoperância do poder público.
Mais chão não dá ao indígena a dignidade que a falta de estrutura sanitária, de atendimento em saúde, de capacitação técnica e até mesmo de investimentos necessários para o cultivo dessas áreas lhes tira.
Os exemplos que temos no Estado evidenciam que a sobrevivência digna dessas culturas requer mais do que a ampliação das aldeias. A reserva Kadwéu é um exemplo. Situada em Corumbá (MS), em uma vasta área de 350 mil hectares, abriga 2.000 indígenas que vivem em condições precárias.
Entendemos como adequado o envolvimento do poder público e de toda a sociedade para a devolução da dignidade dos povos indígenas do Estado. Se a análise técnica apontar a necessidade de ampliar áreas indígenas, não é justo que o preço financeiro e moral seja depositado na conta do produtor rural que detém a certificação legal de origem da sua propriedade. A responsabilidade pela mudança na condição das populações indígenas é do poder público.
Marina também faz referência aos índices de assassinatos dos guarani-kaiowá. Porém, os dados sobre o número de homicídios de indígenas em Mato Grosso do Sul -constantemente repassados à mídia como estatísticas oficiais, atribuindo a violência aos litígios de terras- são oficiosos e tendenciosos.
Levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública mostra que, dos 27 boletins de ocorrência registrados no ano de 2011 nos quais figuram índios como vítimas de homicídio doloso, em 25 a autoria foi atribuída a outros indígenas, não existindo nenhum registro de violência motivada por disputa de terra.
A divulgação desses dados alimenta o maniqueísmo que tira o foco do problema real, em busca de atribuir uma responsabilidade imediata. Embora sejam com frequência colocados em lados opostos, índios e não índios estão na mesma posição. Os dois grupos querem apenas viver com dignidade e ter seus direitos respeitados.
Não se pode garantir essa condição apenas para um grupo, subtraindo os direitos do outro.
Assim é com a questão indígena no Brasil, um impasse que já passou da hora do país atender com a seriedade que merece.
Fazemos esta análise a partir do artigo de Marina Silva publicado na edição do último dia 19, com o título "Sobre todos nós".
A ex-senadora chama atenção para a condição dos guarani-kaiowá. Os indígenas reclamam falta de assistência e se negam a deixar propriedade ocupada em Naviraí (MS), mesmo depois de a Justiça ter determinado sua retirada.
Concordamos que é impossível não se sensibilizar com a desagregação social encontrada nas aldeias. Mas a realidade é bem mais complexa e a solução para a falta de estrutura e perspectiva dessas populações não se resume à concessão de território.
Atribuir os graves problemas enfrentados por essas etnias unicamente à falta de terra é tirar o foco do problema e justificar a inoperância do poder público.
Mais chão não dá ao indígena a dignidade que a falta de estrutura sanitária, de atendimento em saúde, de capacitação técnica e até mesmo de investimentos necessários para o cultivo dessas áreas lhes tira.
Os exemplos que temos no Estado evidenciam que a sobrevivência digna dessas culturas requer mais do que a ampliação das aldeias. A reserva Kadwéu é um exemplo. Situada em Corumbá (MS), em uma vasta área de 350 mil hectares, abriga 2.000 indígenas que vivem em condições precárias.
Entendemos como adequado o envolvimento do poder público e de toda a sociedade para a devolução da dignidade dos povos indígenas do Estado. Se a análise técnica apontar a necessidade de ampliar áreas indígenas, não é justo que o preço financeiro e moral seja depositado na conta do produtor rural que detém a certificação legal de origem da sua propriedade. A responsabilidade pela mudança na condição das populações indígenas é do poder público.
Marina também faz referência aos índices de assassinatos dos guarani-kaiowá. Porém, os dados sobre o número de homicídios de indígenas em Mato Grosso do Sul -constantemente repassados à mídia como estatísticas oficiais, atribuindo a violência aos litígios de terras- são oficiosos e tendenciosos.
Levantamento da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública mostra que, dos 27 boletins de ocorrência registrados no ano de 2011 nos quais figuram índios como vítimas de homicídio doloso, em 25 a autoria foi atribuída a outros indígenas, não existindo nenhum registro de violência motivada por disputa de terra.
A divulgação desses dados alimenta o maniqueísmo que tira o foco do problema real, em busca de atribuir uma responsabilidade imediata. Embora sejam com frequência colocados em lados opostos, índios e não índios estão na mesma posição. Os dois grupos querem apenas viver com dignidade e ter seus direitos respeitados.
Não se pode garantir essa condição apenas para um grupo, subtraindo os direitos do outro.
Veados não surfam a onda verde - FERNANDO REINACH
O Estado de S.Paulo - 25/10
Desde que a Terra é Terra, as estações se sucedem ao longo do ano e com elas aumenta e diminui a disponibilidade de alimentos, a temperatura e a quantidade de luz. Para escapar do inverno no Hemisfério Norte, muitos pássaros migram para o Sul, "acreditando" que vão encontrar clima ameno e alimentos abundantes (até agora não foram enganados pelo clima de nosso planeta). Quando chega o inverno no Sul, voltam ao Norte.
Mas não são todos os seres que podem se dar ao luxo dessas longas migrações. As plantas perdem as folhas e aguentam firmes no mesmo local. Os ursos hibernam e muitos carnívoros se viram como podem quando seu hábitat está coberto de neve.
Caso interessante é o dos veados (Cervus elapus) que habitam a Noruega. Todos os anos, com a chegada do inverno, eles migram para o extremo sul de seus territórios. Quando chega a primavera, as plantas germinam e os brotos, ricos em nutrientes e pobres em lignina e fibra, são o alimento preferido dos veados.
Ao longo dos meses a temperatura aumenta; primeiro no extremo sul, depois o calor se espalha gradativamente para o norte. Esse aumento de temperatura e luminosidade provoca uma onda de aparecimento de novas folhagens que se espalha do sul para o norte e é chamada pelos biólogos de onda verde. São os apetitosos e nutritivos brotos que duram poucos dias e se movimentam em direção ao norte do país.
Mas a movimentação dessa onda verde é complexa. Ela depende não somente da latitude (direção norte-sul), mas também da altitude. Em uma mesma latitude, os brotos surgem primeiro nos vales, geralmente mais quentes, e depois sobem montanha acima. Se um veado deseja acompanhar a onda verde, a estratégia ideal seria devorar os brotos do vale e migrar um pouco para o norte ou para cima de uma montanha, devorando os brotos assim que surgem. Há muito, cientistas observaram que de maneira geral esses veados migram para o norte durante a primavera, acompanhando o espalhamento da estação. Mas será que eles acompanham rigorosamente a onda verde em direção ao norte?
Antecipação. Agora um estudo minucioso demonstrou que os veados da Noruega não surfam a onda verde. Na verdade, eles pulam na sua frente. Um total de 294 veados foi capturado e em cada um foi instalado um sistema de rádio e GPS que informa continuamente aos cientistas a localização do animal. O deslocamento desses animais foi monitorado por nove anos. Com esses dados, as caminhadas de cada animal puderam ser traçadas em um mapa.
Para determinar, durante esse período, onde as plantas estavam brotando (a posição da onda verde), os cientistas utilizaram fotos tiradas duas vezes por semana, durante nove anos, por um satélite artificial. Essas fotos, que registram a cor da luz refletida pela vegetação, podem ser tratadas matematicamente de modo a indicar onde está brotando a vegetação, a cada semana, durante o desenrolar das ondas verdes. Com esses dois conjuntos de dados, os cientistas puderam correlacionar a posição de cada animal em relação à onda verde que se espalhava pela Noruega.
Os cientistas imaginaram três possibilidades. No primeiro caso, os animais acompanhariam rigorosamente a onda verde. A posição da onda, medida pelo satélite, deveria coincidir com a posição dos veados. A segunda possibilidade é que os veados andavam atrás da onda verde, com um atraso que poderia ser de dias ou semanas. No terceiro caso, os veados andariam na frente da onda verde, esperando sua chegada, comeriam os brotos e depois se movimentariam mais rapidamente que a onda, chegando novamente antes dela a outro local.
Os resultados obtidos demonstram que ocorre a terceira hipótese. O interessante é que a estratégia adotada pelos veados não propicia a ingestão da maior quantidade possível de alimentos nutritivos (os brotos), mas ela permite que eles não precisem se deslocar continuamente. Eles se deslocam bastante por uns dias e depois esperam a chegada da onda.
Como quase todas as descobertas científicas, esse estudo resolve uma questão e provoca outras. O que levaria os veados a adotar essa estratégia, seria a dificuldade de locomoção dos filhotes que acompanham o bando? Como eles determinam em que local devem parar e esperar pela chegada da onda verde?
Agora sabemos que os veados da Noruega não surfam a onda verde que se espalha pelo país todos os anos. Mas o que poderíamos esperar naquele clima, veados que gostam de surfar?
Elefante branco - EDITORIAL O ESTADÃO
O Estado de S.Paulo - 23/10
As obras do maior e mais caro canal da transposição das águas do Rio São Francisco, no Eixo Norte do projeto, estão paralisadas desde julho, quando a Controladoria-Geral da União (CGU) constatou um sobrepreço de R$ 76 milhões no orçamento do trecho 6, a cargo da Delta Construções, empresa considerada inidônea e proibida por dois anos de firmar contratos com o governo federal. A empreiteira recorreu ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e, enquanto não se resolve a pendência ou se realiza nova licitação, o que já foi construído está em rápido processo de deterioração. Evidentemente, se e quando as obras forem retomadas, o ônus para o Tesouro será mais pesado.
Como apurou a CGU, as planilhas de custo, que deveriam ser elaboradas pelo Ministério da Integração Nacional, responsável pelo gerenciamento e fiscalização da obra, eram preenchidas pela própria empreiteira, numa chocante inversão de papéis, antes de ser encaminhadas para aprovação. Em vista desses fatos, a CGU determinou a abertura de sindicância para apurar a responsabilidade de servidores públicos, além de revisão dos projetos e encontro de contas para cálculo dos valores pagos a mais e que deverão ser devolvidos ao Tesouro.
Na realidade, esta é uma das tantas outras obras incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que não vão para a frente, por irregularidades ou incompetência gerencial. Exaltado pelo governo do ex-presidente Lula como um projeto de redenção do semiárido nordestino, a transposição do São Francisco tornou-se um sorvedouro de recursos, sem apresentar, até agora, resultado algum. Em 2007, quando o projeto foi iniciado, prevendo a construção de dois canais, numa extensão total de 713 quilômetros - um no Eixo Leste, com 293 km, em direção a Pernambuco e à Paraíba, e outro no Eixo Norte, com 420 km, voltado para o Ceará e o Rio Grande do Norte -, as obras foram orçadas em R$ 4,5 bilhões. Hoje, o custo é estimado em R$ 8,2 bilhões e pode ser mais elevado depois de novas licitações, levando-se em conta o crescimento dos preços de mercado.
Quanto aos prazos, nunca foram realmente para valer. O Eixo Leste deveria ser entregue este ano, segundo o cronograma, mas agora o Ministério da Integração Nacional prevê a conclusão no final de 2014, ainda no mandato da presidente Dilma Rousseff, se tudo der certo. Quanto ao Eixo Norte, além de uma barragem no início da obra, o único trecho pronto é de 2 km, construídos pelo Departamento de Engenharia e Construção do Exército. Dos 14 lotes entregues a empreiteiras, as obras a cargo da Delta eram as únicas ativas até julho. A princípio, a inauguração desse Eixo mais extenso deveria ocorrer em 2015, mas os técnicos estimam que, se houver uma disposição do governo de tocar as obras, com dotações orçamentárias adequadas, as obras podem ser concluídas em 2020, com cinco anos de atraso.
Pode não ser politicamente realista uma decisão do governo de suspender a construção do Eixo Norte, por razões de economia. Mas se resolver retomá-lo, isso deverá levar tempo. Como observou a CGU, há graves deficiências nos projetos básico e executivo das obras de transposição, que terão de ser praticamente refeitos, além de falhas de fiscalização por parte do Ministério da Integração Nacional. O planejamento traçado pelo Ministério não correspondia à realidade de custo das obras, o que levou a sucessivos aditivos para alteração de preços.
Se se efetivar a transposição do Rio São Francisco, a tão longas distâncias dos pontos de consumo, os técnicos calculam que o preço da água para os lavradores ou para residentes será um dos mais altos do mundo, levando em conta os custos de operação e manutenção do sistema. Como os consumidores não terão meios para pagar uma conta mais salgada, o poder público terá de conceder subsídios, que acabarão saindo do bolso do contribuinte.
Sem exagero, a transposição de águas do Rio São Francisco tem todos os contornos de um elefante branco.
Para quem precisa - EDITORIAL FOLHA DE SP
Folha de S. Paulo - 25/10
Penas de prisão deveriam, em tese, caber a criminosos violentos; para os demais, como no mensalão, conviriam severas penas alternativas
Os crimes são cometidos mediante violência ou fraude. No primeiro caso, só resta à sociedade prender os infratores -são perigosos demais para continuar à solta. Será adequado tratar todos os demais do mesmo modo?
Esta Folha tem argumentado que não. Há mais de dez anos, portanto muito antes do mensalão, sustenta-se aqui que a pena de prisão deveria ser destinada, em tese, aos que recorrem a violência física ou grave ameaça na consecução do delito de que são culpados.
As condições na maioria das cadeias brasileiras são abjetas. Mas a sociedade continua a abarrotá-las de indivíduos, condenados por juízes que fecham os olhos, como a efígie da Justiça, para a norma constitucional que proíbe "penas cruéis" e "tratamento degradante".
São mais de 514 mil presos no país, num sistema que comporta 306 mil. Ao mesmo tempo, 153 mil mandados de prisão aguardam ser cumpridos, conforme o eufemismo judicial. Celerados estão livres, enquanto uma parcela de criminosos que não oferece o mesmo risco está detida.
Dizer que a prisão deveria reeducar é outra falácia. Claro que é preciso aumentar o número de vagas nos presídios, torná-los compatíveis com um país civilizado e compelir os detentos a trabalhar. Mesmo na Suécia, porém, os cárceres fazem jus ao clichê de que toda prisão é uma universidade do crime.
Constatá-lo não implica complacência. Delinquentes violentos devem ser submetidos a longuíssima privação de liberdade, e a progressão dessas penas deveria ser até mais difícil do que é.
Quanto aos outros, não faltam medidas duras à disposição do juiz: impedimento duradouro de exercer cargo público ou determinada profissão, restituição dos valores subtraídos e prestação de serviços à comunidade, que podem se tornar encargos severos quando prolongados -e são verificáveis pelos recursos da tecnologia eletrônica.
A indignação pública perante o escândalo do mensalão se expressa, contudo, no legítimo anseio de ver os culpados atrás das grades.
Sempre houve corrupção política, mas o governo Lula a praticou em escala sistêmica, sob o comando da camarilha então incrustada no ápice do Executivo e do partido que o controla. As punições hão de ser drásticas, e seu efeito, exemplar, mas sem a predisposição vingadora que parece governar certas decisões (e equívocos) do ministro Joaquim Barbosa.
Tendo arrostado um partido que continua no poder e cujo chefe desfruta de imensa popularidade, seria decerto pedir demais ao Supremo Tribunal Federal que fosse ainda além, condenando nosso sistema prisional ao evitar que esses réus sejam despachados, sem motivo inarredável que não a letra da lei, para o inferno das cadeias.
Tal desfecho estaria sujeito a interpretações perniciosas. Ignorou-se a lei, tudo termina em pizza, diriam muitos. Evitou-se que os mensaleiros se façam de mártires encarcerados, diriam outros. Nem por isso a prisão desses criminosos terá sido necessária.
Esta Folha tem argumentado que não. Há mais de dez anos, portanto muito antes do mensalão, sustenta-se aqui que a pena de prisão deveria ser destinada, em tese, aos que recorrem a violência física ou grave ameaça na consecução do delito de que são culpados.
As condições na maioria das cadeias brasileiras são abjetas. Mas a sociedade continua a abarrotá-las de indivíduos, condenados por juízes que fecham os olhos, como a efígie da Justiça, para a norma constitucional que proíbe "penas cruéis" e "tratamento degradante".
São mais de 514 mil presos no país, num sistema que comporta 306 mil. Ao mesmo tempo, 153 mil mandados de prisão aguardam ser cumpridos, conforme o eufemismo judicial. Celerados estão livres, enquanto uma parcela de criminosos que não oferece o mesmo risco está detida.
Dizer que a prisão deveria reeducar é outra falácia. Claro que é preciso aumentar o número de vagas nos presídios, torná-los compatíveis com um país civilizado e compelir os detentos a trabalhar. Mesmo na Suécia, porém, os cárceres fazem jus ao clichê de que toda prisão é uma universidade do crime.
Constatá-lo não implica complacência. Delinquentes violentos devem ser submetidos a longuíssima privação de liberdade, e a progressão dessas penas deveria ser até mais difícil do que é.
Quanto aos outros, não faltam medidas duras à disposição do juiz: impedimento duradouro de exercer cargo público ou determinada profissão, restituição dos valores subtraídos e prestação de serviços à comunidade, que podem se tornar encargos severos quando prolongados -e são verificáveis pelos recursos da tecnologia eletrônica.
A indignação pública perante o escândalo do mensalão se expressa, contudo, no legítimo anseio de ver os culpados atrás das grades.
Sempre houve corrupção política, mas o governo Lula a praticou em escala sistêmica, sob o comando da camarilha então incrustada no ápice do Executivo e do partido que o controla. As punições hão de ser drásticas, e seu efeito, exemplar, mas sem a predisposição vingadora que parece governar certas decisões (e equívocos) do ministro Joaquim Barbosa.
Tendo arrostado um partido que continua no poder e cujo chefe desfruta de imensa popularidade, seria decerto pedir demais ao Supremo Tribunal Federal que fosse ainda além, condenando nosso sistema prisional ao evitar que esses réus sejam despachados, sem motivo inarredável que não a letra da lei, para o inferno das cadeias.
Tal desfecho estaria sujeito a interpretações perniciosas. Ignorou-se a lei, tudo termina em pizza, diriam muitos. Evitou-se que os mensaleiros se façam de mártires encarcerados, diriam outros. Nem por isso a prisão desses criminosos terá sido necessária.
Vira-latas e mascarados - CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O Globo - 25/10
Qual é o oposto do complexo de vira-lata que Nelson Rodrigues encontrou nos brasileiros? É a máscara, com duas variáveis. O brasileiro mascarado que vive achando por aqui o/a melhor do mundo; e aquele que despreza a sabedoria, digamos, universal e a troca pelas "nossas" soluções.
Normal, se poderia dizer. Se cada um de nós alterna momentos de depressão e euforia, por que isso não poderia ocorrer com um povo inteiro? E não apenas com o brasileiro. Pesquisas mostram que todas as populações oscilam entre confiança e baixo-astral, isso dependendo, em grande parte, da situação real em que se encontram.
Os americanos, por exemplo, estão no "maior baixo-astral".
Compreende-se. Já são quatro anos de uma crise que chegou, devastadora, depois de um período que parecia o melhor de todos.
Já os brasileiros estão mais animados. O país cresce pouco, mas ainda preserva os benefícios das mudanças estruturais dos últimos 20 anos.
De todo modo, é preciso admitir que há povos mais espertos do que outros. Há países cujas sociedades resolvem melhor as situações e, assim, tornam-se mais prósperas e ricas. Sim, há nações abençoadas com riquezas naturais, mas isso não é a variável determinante.
O Japão tem escassas fontes naturais de energia, mas construiu uma indústria poderosa. Israel não tem uma gota de petróleo, nem de água, aliás, mas é a sociedade mais desenvolvida, de maior renda per capita e a única democracia estável de uma região onde jorra petróleo e sobram ditaduras e pobreza.
Cingapura e Jamaica eram colônias britânicas até 1960, igualmente pobres. Hoje, a nação asiática é rica, desenvolvida e moderna. A Jamaica tem quase nada além de Usain Bolt e seus colegas velocistas. Todo mundo celebra o bicampeão olímpico, mas as pessoas vivem melhor em Cingapura.
E, para chegar do nosso lado, nos anos 60 a Coreia do Sul era muito mais pobre que o Brasil. Hoje, nem dá para comparar.
Portanto, a alternância tristeza/alegria e mesmo a depressão/euforia pode ser normal, desde que leve e rara. Do contrário, a doença aparece. E talvez a pior seja mascarar a realidade de um extremo a outro. O complexo de vira-lata só mostra coisa ruim. O mascarado dança nas ruas e tira sarro dos outros. Isso tem atrapalhado o Brasil.
Nos últimos tempos, temos sido mais mascarados do que vira-latas. É uma característica da era Lula. Na verdade, ele começou, em 2003, mais complexado e com medo da reação mundial à sua eleição. Tanto que adotou a política econômica que ele e seu partido haviam condenado e deixou de lado as propostas de "soluções próprias, não as do FMI".
Depois, quando o mundo ajudou e as políticas ortodoxas finalmente funcionaram, Lula transformou tudo em coisa própria, incluindo a bonança global (os fantásticos preços das comodities e alimentos).
Como diz mesmo um amigo do governo petista, a maré subiu para todo mundo, mas o ex-presidente acha que ele puxou a maré. E um monte de gente concordou.
Assim, tudo virou solução brasileira para problemas que o mundo e gerações nacionais anteriores não sabiam resolver. Exemplo, o Bolsa Família.
Será? Sugiro uma pesquisa no site do Banco Mundial, item "Conditional Cash Transfer", "Transferência de Renda com Condicionalidades". Pois é, o programa, dinheiro em troca de colocar a criança na escola, é uma ideia desenvolvida por tecnocratas do Banco Mundial nos anos 90. Entre nós, Cristovam Buarque estudou e aplicou. Nos anos 2000, cerca de 30 países já aplicavam o programa (México Oportunidades, Chile Solidário, por exemplo).
Aqui, por sinal, o Bolsa Família foi criado pelo decreto 5.209, de 17/09/04, especificamente com a unificação dos programas Bolsa Escola, Vale Gás e Bolsa Alimentação, que vinham do governo FHC.
É verdade que, no mundo, se fala com mais entusiasmo do Bolsa Família brasileiro e de Lula. E por quê? Porque é o maior e porque o Brasil tem mais pobres....
Todos os principais países emergentes, latino-americanos incluídos, se deram muito bem neste século 21: crescimento forte, inflação controlada, surgimento das novas classes médias e acumulação de reservas.
Pelo complexo de vira-lata, diríamos que o Brasil só pegou a onda e copiou o que todo mundo fez. Na outra ponta, mascarados, diríamos que o mundo todo copia e inveja o Brasil.
Nos dois casos, não estamos vendo a história real. Não foi pouca coisa pegar a onda certa. Mas ainda levamos uns bons tombos na areia. Voltaremos ao assunto.
O andor e o santo - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 25/10
Os reflexos de todo esse acirramento político por causa das eleições e do julgamento da Ação Penal 470 ainda estão longe do fim e vão desaguar na pauta do Congresso Nacional
Em política, sempre que as desproporções de parte a parte tomam conta, quem sofre são os terceiros que tangenciam a história. E, nesse momento, não é diferente. O PT, irritado com as condenações de seus antigos dirigentes no Supremo Tribunal Federal (STF), usa tudo o que pode para desacreditar a imprensa e os políticos da oposição. Os oposicionistas, por sua vez, exageram tratando todos os petistas como se fossem réus no processo e incluem o ex-presidente Lula — o maior líder partidário —, que não está em julgamento no STF. OK, em eleição, os ânimos se acirram, mas há de ter limites.
Para sorte de todos, governo e oposição, o povo é sábio. Separou o julgamento do STF das rusgas decorrentes das eleições municipais. Assim, escolhe sem se deixar influenciar pelo clima ruim que toma conta do país nesse desfecho do julgamento. O problema, no entanto, é que o clima acirrado não se dissipará do dia para a noite, tão logo seja conhecido o resultado das urnas ou encerrado o julgamento no STF. Há quem preveja um futuro próximo com as relações políticas cada vez mais esgarçadas.
O problema é que, com um país, estados e prefeituras ávidos por desenvolvimento em meio a esse jogo — e são as administrações que fazem o papel de terceiros que tangenciam essa história — é preciso que a classe política arrefeça seus ânimos. Da parte do PT, ainda que se sentindo ferido — não sem lá a sua dose de razão —, resta fazer a reflexão a respeito de seus próprios erros. O principal deles, ao longo dos últimos sete anos, foi não ter enfrentado a discussão do episódio do mensalão. Internamente, há quem diga, coberto de razão, que se o partido estivesse parado e enfrentado esse debate em 2006, logo depois da reeleição de Lula, talvez a história hoje fosse diferente. Aquele seria o momento perfeito para o PT, grande vitorioso — Geraldo Alckmin obteve, inclusive, menos votos no segundo turno do que no primeiro —, ter cuidado de si e dos seus e fazer valer a sua versão do que realmente ocorreu naquele processo. Esse debate jamais foi feito e o resto da história é conhecido.
Mas, vejamos a oposição: até o momento, o que se vê é o exagero de querer penalizar todo um partido. E, nessa onda, chama a atenção os aliados do PT se mostrarem incapazes de reverberar um “alto lá”. Isso porque, no fundo, também sonham em ocupar o espaço que os petistas conquistaram perante os eleitores. Entre os petistas, a impressão que se tem é a de que o PSB, por exemplo, não defende o partido de Lula porque adoraria estar no seu lugar.
Por falar em lugar…
Os reflexos de todo esse acirramento por causa das eleições e do julgamento do mensalão ainda estão longe do fim. Na semana que vem, a Câmara dos Deputados pretende deflagrar a votação do projeto que redistribui os royalties do petróleo. Tem ainda em debate o marco regulatório do setor elétrico, temas que precisam de uma normalidade relativa em ambas as Casas para poderem ser debatidos. Ainda vem por aí o marco regulatório de concessões de portos e aeroportos, objeto de intermináveis reuniões na Casa Civil ao longo dos últimos dias.
Diante dessa agenda, se as confusões políticas do momento invadirem as discussões congressuais, os projetos correm o risco de ficar à deriva e, com eles, o tão sonhado Produto Interno Bruto (PIB) mais alto. E não será fácil retomar. Ontem, por exemplo, o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), sempre atento à pauta de votações do Senado, me dizia não acreditar numa agenda de reformas para 2013. “Isso se dá quando tem uma eleição presidencial. Depois de uma eleição municipal, retoma-se de onde parou.”
Esse “onde parou”, mencionado por Agripino, inclui ainda a necessidade de se criar uma outra regra de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE). O mais provável é que o Senado termine por prorrogar as atuais regras a fim de deixar a discussão desse tema, com mais detalhes, para 2013, depois de votados os projetos relativos ao redesenho do setor elétrico e as demais propostas que estão em pauta, caso dos royalties e do Orçamento de 2013. Afinal, com tantas propostas em pauta, a CPI do Cachoeira e, ainda, os movimentos para eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, os políticos consideram que esta reta final de 2012 pode ser tudo, menos tranquila.
Por falar em reta final…
A disputa entre PSB e PT em Campinas deu à cidade status de capital neste segundo turno. O município recebeu Dilma e Lula, em defesa do petista Márcio Pochman; e Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), por Jonas Donizete. Até Marina Silva, ex-candidata a presidente da República que está sem partido, passou por lá ontem, num gesto de reaproximação com o PT. O ex-jogador, hoje deputado, Romário (PSB-RJ) também deu o ar da graça por seu partido. É mais um sinal de que PT e PSB estão em vias de seguir caminhos opostos num futuro não muito distante. Em outros tempos, os socialistas não fariam tanta carga numa disputa com os petistas.
Mais ousadia - ROGERIO GENTILE
FOLHA DE SP - 25/10
Temas como pedágio urbano, ampliação da área do rodízio e restrição à circulação de motos em certas vias não foram nem mesmo discutidos, embora, a médio prazo, medidas desse gênero terão de ser adotadas para atenuar o trânsito caótico e favorecer o transporte público.
Outro ponto que mereceria consideração por parte dos candidatos é o absurdo direito de as construtoras erguerem grandes empreendimentos em qualquer lugar, sem que a prefeitura possa vetá-los se considerar que os seus endereços não têm condições de receber mais automóveis.
Hoje, se estiver de acordo com a lei de zoneamento e os limites de construção, qualquer projeto está liberado. O departamento de trânsito pode, no máximo, exigir medidas mitigadoras -implantação de sinalização, alargamento de via etc. Proibir, como em vários países, jamais.
O caso da Paulista é emblemático. A avenida recebe no pico cerca de 6.900 veículos por hora. A partir de 2015, com a abertura de uma torre comercial e um shopping no antigo terreno dos Matarazzo, atrairá outros 1.090 por hora -15,8% a mais. Ou seja, o trânsito exasperante ficará pior.
E a Paulista é só um exemplo. Desde 2005, 677 projetos de polos geradores de tráfego, como são chamados os empreendimentos com grande afluxo de pessoas, foram aprovados. Em nenhum caso, o trânsito foi obstáculo para o endereço.
Medidas como essas não vão transformar o trânsito de São Paulo num passeio tranquilo e ligeiro -não há solução para um lugar que tem 7,3 milhões de veículos e que licencia 500 novos por dia. Mas, se nada disso for feito, a situação só vai piorar.
Bolso gordo? - SONIA RACY
O ESTADÃO - 25/10
Aumento de… mais de 50%.
Bolso 2
Rodrigo Capez, juiz auxiliar da presidência do TJ, explica: o “salto” ocorreu por causa do pagamento de benefícios em atraso. “Isso é apenas uma parte do que estamos devendo e nosso presidente Ivan Sartori mandou pagar.”
Somente de férias e licença-prêmio devidas aos magistrados são cerca de R$ 150 milhões. “E ainda há o auxílio-alimentação”, informou Capez.
E, em novembro, pode sair uma nova fornada.
De palavra
A pelo menos um amigo, José Dirceu teria dito que, se for condenado a regime fechado, não ficará no País. “Isso não tem pé nem cabeça. Minha vida é aqui. E vou respeitar a decisão judicial”, reagiu o ex-ministro condenado pelo STF.
Tanto bate até…
Em novembro, Dilma pretende chamar, mais uma vez, 30 dos maiores empresários para falar sobre sua atual obsessão: crescimento econômico.
Na mesa
A presidente, aliás, recebeu cópia do documentário Elena, de Petra Costa, vencedor do premio de melhor direção no Festival de Brasília.
Com elogios de Walter Salles.
Um raio na noite
MARCOS DE PAULA/ESTADAO
A festa da Puma estava marcada para 21h58 – alusão ao recorde mundial de Usain Bolt nos 100 metros rasos, de 9,58 segundos, obtido em Berlim, em 2009. Mas o homem mais rápido do planeta chegou à boate 00, na Gávea, com duas horas de atraso. Não quis falar com a imprensa e posou para foto com Artur, filho do publicitário Flávio Vaz e única criança na noite. “Você devia estar na cama”, disse. O menino, de 9 anos, é tão fã do velocista, que deu o nome de Bolt a seu cachorro (“um supercorredor”).
As primeiras a chegar foram Rosângela Santos, recordista sul-americana dos 100 metros, e Evelyn dos Santos, do revezamento 4×100, que estiveram em Londres. Rosângela queria ver o jamaicano atacar de DJ: “Ele discotecou depois da festa de encerramento dos Jogos. É muito bom”.
Os cerca de 200 convidados concordavam com ela. Até a chegada do mito, a pista ficou vazia. Só lotou quando Bolt se dirigiu às carrapetas – ao lado do rapper Dughettu e dos DJs Nepal e Nani. Entre um passo e outro, os VIPs sacavam seus smartphones para fotografar o bicampeão olímpico – que preferiu deixar os pick ups e agitar dançando e cantando alguns refrões. “I’m sexy and I know it”, arriscou Bolt, microfone em uma mão, espumante na outra.
Entre os convidados, Maurício Assumpção, presidente do Botafogo, Petkovic, ídolo do Flamengo, e Aldemir Gomes, que fez sua estreia nos 200 metros em Londres, ao lado de Bolt. “Foi incrível correr com o melhor do mundo”, revelou.
Vitor Fasano foi dos poucos a conseguir foto ao lado da lenda. Aliás, foto, abraço e frase ao pé do ouvido. “Falei ‘parabéns, Bolt.” Cansado das atividades do dia – visitou pontos turísticos e a Vila Olímpica do Mato Alto, onde apostou corrida com Eduardo Paes –, o jamaicano não estava muito disposto a atender os fãs. Mas se mostrou solícito com as garotas.
O campeão se divertia sob os olhares do assessor, uma representante da embaixada da Jamaica e um casal de amigos europeus. Planos de voltar ao Brasil antes dos Jogos de 2016? “Deve acontecer, sim, mas ainda não há nada definido”, disse à coluna a amiga alemã.
Entretido mesmo Bolt estava com seu Blackberry e seu iPhone, que receberam atenção especial durante toda a noite.
/HELOISA ARUTH STURM
Devagar e sempre
Sob orientação de Temer, o PMDB decidiu não expulsar seus integrantes, liderados pela viúva de Orestes Quércia, Alaíde, que, na terça, fizeram ato de apoio a Serra. Espera-se que peçam para sair.
Para terminar de desalojar os quercistas do partido, mais 25 diretórios zonais de SP passarão por intervenção. O próximo a deixar o PMDB será Gilberto Nucci, ex-secretário adjunto de Bebetto Haddad.
Na ilha
Nos finalmentes da edição de seu Flores Raras (que pode mudar de nome), Bruno Barreto planeja projeção-teste ainda este mês. Para “sentir a temperatura”.
Afinal, somente na promoção de filmes mais caros, cineastas vêm desembolsando entre R$ 3 e R$ 4 milhões.
Na frente
Rosana Camargo de Arruda Botelho e Ben Janssens pilotam abertura de prévia da Tefaf, que vai acontecer em Maastricht. Hoje, na Casa Petra, com renda revertida para a Childhood Brasil.
A Bolsa de Arte do Rio arma leilão, hoje aqui. Nos Jardins.
A ArteSol participa, na Coreia do Sul, do ICCN World Intangible Cultural Festival. Representando o Brasil, leva exposição de artesanato de raiz, apresentação de bumba-meu-boi e professores.
A família JBS entra em concorrência. Tanto Joesley como Wesley Batista estão dando festas… gigantes.
Silêncio e barulho das emoções - CONTARDO CALLIGARIS
FOLHA DE SP - 25/10
Qual é o transtorno? A falta de emoções dos filhos? Ou o excesso das emoções dos pais "baby boomers"?
AS ELEIÇÕES esquentam os ânimos. As promessas duvidosas de tal ou tal outro candidato me irritam, assim como as propostas que são perigosas para minha liberdade ou repugnantes para meu sentimento de justiça.
Mas o que me indigna mais é a paixão partidária em si, seja qual for seu conteúdo -mesmo quando ela promove ideias com as quais concordo. Tanto faz que eu prefira melhorar o transporte em São Paulo ampliando o metrô ou a rede de ônibus, de qualquer forma, se alguém ficar na esquina pulando e gritando "Serra!" ou "Haddad!", aquilo vai me deixar perplexo (isso, a não ser que ele seja pago para mostrar seu entusiasmo -nesse caso, entendo, sem problema).
Na verdade, todas as emoções -da paixão partidária ao espírito torcedor, passando pelo amor, a saudade, o ciúme, o ódio etc.-, aos meus olhos, são quase sempre excessivas: transportes descontrolados ou atuações caricatas. Longe de serem reações adequadas a circunstâncias externas, elas me parecem ser teatralizadas (se não produzidas) por nós mesmos. Teatralizadas por quê?
Oscar Wilde disse um dia que as aquarelas de Turner inventaram o pôr do sol -pois, se não fosse pela pintura de Turner, nem pararíamos para contemplar as cores do crepúsculo. Algo análogo poderia valer para emoções e sentimentos.
Alguém ama do jeito sofrido do jovem Werther com Charlotte? Ou ele imita a paixão de Werther para convencer aos outros e a si mesmo de que ele ama? Alguém enlouquece de ciúme como Otelo ou ele imita a loucura de Otelo para convencer a si mesmo e aos outros de que ele está com ciúme?
Além disso, desde os anos 1960, assistimos a uma valorização das emoções, como se sua livre expressão fosse a marca da autenticidade.
Sem suspeitar que talvez estejamos expressando emoções muito além do que realmente sentimos, consideramos a ausência de emoções como um defeito, num arco que vai da frieza (considerada dissimuladora) até verdadeiros transtornos, como atimia (falta de emoções) ou alexitimia (incapacidade de expressar emoções).
Sem dúvida, há indivíduos que não sentem, não reconhecem nos outros e não expressam emoções. Eles não se confundem com os psicopatas, que precisam reconhecer perfeitamente as emoções dos outros, para manipulá-los. Quem são, então, os atímicos?
Estou assistindo a um extraordinário seriado sueco da BBC Four, "The Bridge" (http://www.bbc.co.uk/programmes/b01gxlxj). A policial da história é um exemplo perfeito de atimia e alexitimia.
Ela interroga por telefone um homem que está preso dentro de um carro-armadilha, que vai explodir em dois minutos. O homem, desesperado, não consegue pensar nem responder. Nossa policial não entende: qual é o problema? O fim do homem vai ser imediato, sua vida vai parar sem sofrimento. Para que o desespero?
Uma noite, a policial está a fim de sexo. Ela vai para uma boate e troca um olhar com um moço, o qual pergunta se ele pode oferecer um drinque. A policial responde "Não". O moço se afasta. A policial o segue e lhe pergunta por que ele foi embora. "Porque você disse não", responde o homem. E a policial explica que ela não queria um drinque, queria sexo.
A atimia (que estaria aumentando) é provavelmente uma falha de comunicação entre os hemisférios do cérebro. Alguns dizem que seria causada por pais frios e distantes, que desejam e encorajam muito a autonomia dos filhos. Subtexto: os pais que prezam os valores da modernidade estariam produzindo crianças alexitímicas.
Tendo a pensar o contrário. E constato que há adolescentes que fogem para a aparente "frieza" da alexitimia porque, de fato, eles não aguentam o excesso de emoções teatralizadas pelos pais.
Nesse caso, qual é o transtorno? A falta de emoções dos filhos? Ou o excesso das emoções dos pais "baby boomers"?
"Alexithymia" é uma música de Anberlin, um grupo de rock que aprecio. As letras dizem : "So very hard to breathe. My mask is growing heavy but I've forgotten who's beneath" (difícil respirar, minha máscara se tornou pesada, mas eu me esqueci de quem é que está debaixo dela). O título sugere que a letra é menos óbvia do que parece.
A máscara que pesa e nos sufoca talvez não seja (no estilo 1960) a cara impassível que esconderia nossas emoções reprimidas. As máscaras que pesam e nos sufocam talvez sejam as que vestimos para expressar e teatralizar emoções excessivas e obrigatórias, que todos esperam de nós.
Qual é o transtorno? A falta de emoções dos filhos? Ou o excesso das emoções dos pais "baby boomers"?
AS ELEIÇÕES esquentam os ânimos. As promessas duvidosas de tal ou tal outro candidato me irritam, assim como as propostas que são perigosas para minha liberdade ou repugnantes para meu sentimento de justiça.
Mas o que me indigna mais é a paixão partidária em si, seja qual for seu conteúdo -mesmo quando ela promove ideias com as quais concordo. Tanto faz que eu prefira melhorar o transporte em São Paulo ampliando o metrô ou a rede de ônibus, de qualquer forma, se alguém ficar na esquina pulando e gritando "Serra!" ou "Haddad!", aquilo vai me deixar perplexo (isso, a não ser que ele seja pago para mostrar seu entusiasmo -nesse caso, entendo, sem problema).
Na verdade, todas as emoções -da paixão partidária ao espírito torcedor, passando pelo amor, a saudade, o ciúme, o ódio etc.-, aos meus olhos, são quase sempre excessivas: transportes descontrolados ou atuações caricatas. Longe de serem reações adequadas a circunstâncias externas, elas me parecem ser teatralizadas (se não produzidas) por nós mesmos. Teatralizadas por quê?
Oscar Wilde disse um dia que as aquarelas de Turner inventaram o pôr do sol -pois, se não fosse pela pintura de Turner, nem pararíamos para contemplar as cores do crepúsculo. Algo análogo poderia valer para emoções e sentimentos.
Alguém ama do jeito sofrido do jovem Werther com Charlotte? Ou ele imita a paixão de Werther para convencer aos outros e a si mesmo de que ele ama? Alguém enlouquece de ciúme como Otelo ou ele imita a loucura de Otelo para convencer a si mesmo e aos outros de que ele está com ciúme?
Além disso, desde os anos 1960, assistimos a uma valorização das emoções, como se sua livre expressão fosse a marca da autenticidade.
Sem suspeitar que talvez estejamos expressando emoções muito além do que realmente sentimos, consideramos a ausência de emoções como um defeito, num arco que vai da frieza (considerada dissimuladora) até verdadeiros transtornos, como atimia (falta de emoções) ou alexitimia (incapacidade de expressar emoções).
Sem dúvida, há indivíduos que não sentem, não reconhecem nos outros e não expressam emoções. Eles não se confundem com os psicopatas, que precisam reconhecer perfeitamente as emoções dos outros, para manipulá-los. Quem são, então, os atímicos?
Estou assistindo a um extraordinário seriado sueco da BBC Four, "The Bridge" (http://www.bbc.co.uk/programmes/b01gxlxj). A policial da história é um exemplo perfeito de atimia e alexitimia.
Ela interroga por telefone um homem que está preso dentro de um carro-armadilha, que vai explodir em dois minutos. O homem, desesperado, não consegue pensar nem responder. Nossa policial não entende: qual é o problema? O fim do homem vai ser imediato, sua vida vai parar sem sofrimento. Para que o desespero?
Uma noite, a policial está a fim de sexo. Ela vai para uma boate e troca um olhar com um moço, o qual pergunta se ele pode oferecer um drinque. A policial responde "Não". O moço se afasta. A policial o segue e lhe pergunta por que ele foi embora. "Porque você disse não", responde o homem. E a policial explica que ela não queria um drinque, queria sexo.
A atimia (que estaria aumentando) é provavelmente uma falha de comunicação entre os hemisférios do cérebro. Alguns dizem que seria causada por pais frios e distantes, que desejam e encorajam muito a autonomia dos filhos. Subtexto: os pais que prezam os valores da modernidade estariam produzindo crianças alexitímicas.
Tendo a pensar o contrário. E constato que há adolescentes que fogem para a aparente "frieza" da alexitimia porque, de fato, eles não aguentam o excesso de emoções teatralizadas pelos pais.
Nesse caso, qual é o transtorno? A falta de emoções dos filhos? Ou o excesso das emoções dos pais "baby boomers"?
"Alexithymia" é uma música de Anberlin, um grupo de rock que aprecio. As letras dizem : "So very hard to breathe. My mask is growing heavy but I've forgotten who's beneath" (difícil respirar, minha máscara se tornou pesada, mas eu me esqueci de quem é que está debaixo dela). O título sugere que a letra é menos óbvia do que parece.
A máscara que pesa e nos sufoca talvez não seja (no estilo 1960) a cara impassível que esconderia nossas emoções reprimidas. As máscaras que pesam e nos sufocam talvez sejam as que vestimos para expressar e teatralizar emoções excessivas e obrigatórias, que todos esperam de nós.
Brasil, adeus à ilusão - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 25/10
O país e os Brics começam a ser vistos sob nova ótica, mais realista e menos deslumbrada
A repórter Mariana Carneiro quase destruiu minhas já tênues ilusões de, antes de morrer, ver o Brasil ser realmente um grande país, em vez de um mero emergente.
Mariana capturou um estudo do HSBC que diz que, em 2050, o Brasil ainda será país de renda média, embora média alta, tal como já o é hoje (http://folha.com/no1173521).
Em 2050 (ou antes, mais provavelmente), já estarei morto.
É verdade que não levo muito a sério os oráculos, menos ainda os do setor financeiro. Se essa gente foi incapaz de enxergar nos primeiros meses de 2008 a crise que, em setembro, viraria tsunami, como se anima a dar a classificação do campeonato mundial de economia dentro de 38 anos?
Feita a ressalva, o estudo tem o mérito de coincidir com uma nítida mudança de humor em torno dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que se tornaram quase sinônimo de emergentes.
O estudo do banco, por si só, já traz números que convidam à cautela em relação ao real peso dos Brics. Mesmo o maior e mais forte deles, a China, está muito longe, dos EUA -e continuará longe em 2050.
Terá, então, uma renda per capita (US$ 17.759) que é menos da metade da renda de cada norte-americano em 2010 (US$ 36.354). Ou seja, a China vai continuar crescendo mais que os Estados Unidos, mas, assim mesmo, levará 40 anos para chegar à metade do que cada norte-americano ganha hoje.
O caso do Brasil é ainda pior: sua renda per capita, em 2010, era superior à de todos os parceiros Brics.Em 2050, será inferior à da Rússia e da China. Ou seja, o Brasil é um emergente que emerge menos que seus sócios na aventura.
Pulemos agora para artigo de Ruchir Sharma, chefe de Mercados Emergentes da Morgan Stanley, publicado pela "Foreign Affairs", com o significativo título "Broken Brics" (Brics quebrados, um exagero).
Sharma começa lembrando que nem remotamente se cumpriram as previsões dos anos 80 de que o Japão logo passaria a ser o número 1 do mundo, economicamente.
Quanto aos Brics, "com a economia mundial caminhando para seu pior ano desde 2009, o crescimento chinês está desacelerando agudamente, de dois dígitos para 7% ou menos. E o resto dos Brics está derrapando também: desde 2008, o crescimento anual do Brasil caiu de 4,5% para 2%: o da Rússia, de 7% para 3,5%; e o da Índia, de 9% para 6%".
Sharma é impiedoso: "A noção de uma abrangente convergência entre os mundos desenvolvido e em desenvolvimento é um mito". Acrescenta: "Dos cerca de 180 países acompanhados pelo FMI, só 35 são desenvolvidos. O resto são emergentes -e muitos deles têm sido emergentes por muitas décadas e continuarão a sê-lo por muitas mais".
Reforça Antoine van Agtmael, autor do "Século dos Mercados Emergentes": "Assim como as economias em expansão [dos Brics] surpreenderam o mundo na década passada, o grande choque para a próxima década pode ser que eles cresçam menos rapidamente do que se presumia".
Adeus, ilusões.
O país e os Brics começam a ser vistos sob nova ótica, mais realista e menos deslumbrada
A repórter Mariana Carneiro quase destruiu minhas já tênues ilusões de, antes de morrer, ver o Brasil ser realmente um grande país, em vez de um mero emergente.
Mariana capturou um estudo do HSBC que diz que, em 2050, o Brasil ainda será país de renda média, embora média alta, tal como já o é hoje (http://folha.com/no1173521).
Em 2050 (ou antes, mais provavelmente), já estarei morto.
É verdade que não levo muito a sério os oráculos, menos ainda os do setor financeiro. Se essa gente foi incapaz de enxergar nos primeiros meses de 2008 a crise que, em setembro, viraria tsunami, como se anima a dar a classificação do campeonato mundial de economia dentro de 38 anos?
Feita a ressalva, o estudo tem o mérito de coincidir com uma nítida mudança de humor em torno dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que se tornaram quase sinônimo de emergentes.
O estudo do banco, por si só, já traz números que convidam à cautela em relação ao real peso dos Brics. Mesmo o maior e mais forte deles, a China, está muito longe, dos EUA -e continuará longe em 2050.
Terá, então, uma renda per capita (US$ 17.759) que é menos da metade da renda de cada norte-americano em 2010 (US$ 36.354). Ou seja, a China vai continuar crescendo mais que os Estados Unidos, mas, assim mesmo, levará 40 anos para chegar à metade do que cada norte-americano ganha hoje.
O caso do Brasil é ainda pior: sua renda per capita, em 2010, era superior à de todos os parceiros Brics.Em 2050, será inferior à da Rússia e da China. Ou seja, o Brasil é um emergente que emerge menos que seus sócios na aventura.
Pulemos agora para artigo de Ruchir Sharma, chefe de Mercados Emergentes da Morgan Stanley, publicado pela "Foreign Affairs", com o significativo título "Broken Brics" (Brics quebrados, um exagero).
Sharma começa lembrando que nem remotamente se cumpriram as previsões dos anos 80 de que o Japão logo passaria a ser o número 1 do mundo, economicamente.
Quanto aos Brics, "com a economia mundial caminhando para seu pior ano desde 2009, o crescimento chinês está desacelerando agudamente, de dois dígitos para 7% ou menos. E o resto dos Brics está derrapando também: desde 2008, o crescimento anual do Brasil caiu de 4,5% para 2%: o da Rússia, de 7% para 3,5%; e o da Índia, de 9% para 6%".
Sharma é impiedoso: "A noção de uma abrangente convergência entre os mundos desenvolvido e em desenvolvimento é um mito". Acrescenta: "Dos cerca de 180 países acompanhados pelo FMI, só 35 são desenvolvidos. O resto são emergentes -e muitos deles têm sido emergentes por muitas décadas e continuarão a sê-lo por muitas mais".
Reforça Antoine van Agtmael, autor do "Século dos Mercados Emergentes": "Assim como as economias em expansão [dos Brics] surpreenderam o mundo na década passada, o grande choque para a próxima década pode ser que eles cresçam menos rapidamente do que se presumia".
Adeus, ilusões.
O desserviço argentino ao Mercosul - EDITORIAL O GLOBO
O GLOBO - 25/10
A constituição do Mercosul, no aspecto econômico, se justificava pela criação de um espaço para comércio em que cada uma das economias dos países-membros se integrasse, não apenas para aumentar seu peso conjunto nas trocas internacionais, mas que também, nos ciclos de crise, servisse de desafogo para todos. Se do ponto de vista geopolítico a criação do bloco atingiu todos os objetivos, com a distensão no historicamente difícil relacionamento entre Brasil e Argentina, pelo lado econômico o Mercosul, pior do que estagnar, andou para trás. E a causa dos problemas do bloco tem nome e sobrenome: Cristina Elisabet Fernández de Kirchner.
Por radicalizar heterodoxias na política econômica adotada no governo do marido, Néstor, Cristina isola ainda mais o país no mundo. Ao não conseguir - ou não querer - encontrar uma saída negociada com credores caloteados remanescentes da moratória de 2001/2002, a presidente mantém a Argentina como pária no sistema financeiro globalizado. Soma a isso intervenções descabidas no mundo dos negócios. E, assim, afasta investidores, internos e, principalmente, externos. Um dos exemplos mais estrondosos da forma delirante com que a Casa Rosada kirchnerista governa é a intervenção feita, ainda no governo Néstor, no Idec, responsável pelo cálculo oficial da inflação, para maquiar os índices e deixá-los abaixo dos 10% ao ano - enquanto cálculos de firmas de consultoria privadas apontam para mais que o dobro disso.
Mesmo com um alerta do FMI de que poderá punir o país devido à absoluta falta de confiança nos indicadores oficiais, Cristina Kirchner insiste e até permite a Guilhermo Moreno, secretário de Comércio Exterior, braço direito para intervenções autoritárias - inclusive contra a liberdade de imprensa -, processar esses consultores, a fim de que parem de divulgar os levantamentos independentes da inflação. Não satisfeitos em adulterar o termômetro oficial, querem quebrar os privados, algo típico de uma "republiqueta de banana". Não surpreende que a Argentina passe por uma crise cambial. E para combatê-la o governo de Cristina se torna cada vez mais protecionista. Com isso, rasga acordos do Mercosul. Como o Brasil é forte exportador para o país vizinho, paga alto preço neste fechamento de portas ao comércio. De janeiro a setembro, as exportações para a Argentina caíram de US$ 16,8 bilhões, em 2011, para US$ 13,4 bilhões, este ano. Entenda-se que, sem qualquer reação visível do Itamaraty, o Brasil cede bilhões de dólares para reduzir a crise argentina de falta de divisas. O resultado é que exportadores brasileiros pagam o preço. Talvez quando o protecionismo de Cristina gerar desemprego no lado de cá da fronteira a magnânima diplomacia do governo Dilma dê algum sinal de vida na defesa de interesses nacionais.
Os aliados de Cristina K. em Brasília não admitem, mas o que era uma solução no Cone Sul passou a ser um problema.
A constituição do Mercosul, no aspecto econômico, se justificava pela criação de um espaço para comércio em que cada uma das economias dos países-membros se integrasse, não apenas para aumentar seu peso conjunto nas trocas internacionais, mas que também, nos ciclos de crise, servisse de desafogo para todos. Se do ponto de vista geopolítico a criação do bloco atingiu todos os objetivos, com a distensão no historicamente difícil relacionamento entre Brasil e Argentina, pelo lado econômico o Mercosul, pior do que estagnar, andou para trás. E a causa dos problemas do bloco tem nome e sobrenome: Cristina Elisabet Fernández de Kirchner.
Por radicalizar heterodoxias na política econômica adotada no governo do marido, Néstor, Cristina isola ainda mais o país no mundo. Ao não conseguir - ou não querer - encontrar uma saída negociada com credores caloteados remanescentes da moratória de 2001/2002, a presidente mantém a Argentina como pária no sistema financeiro globalizado. Soma a isso intervenções descabidas no mundo dos negócios. E, assim, afasta investidores, internos e, principalmente, externos. Um dos exemplos mais estrondosos da forma delirante com que a Casa Rosada kirchnerista governa é a intervenção feita, ainda no governo Néstor, no Idec, responsável pelo cálculo oficial da inflação, para maquiar os índices e deixá-los abaixo dos 10% ao ano - enquanto cálculos de firmas de consultoria privadas apontam para mais que o dobro disso.
Mesmo com um alerta do FMI de que poderá punir o país devido à absoluta falta de confiança nos indicadores oficiais, Cristina Kirchner insiste e até permite a Guilhermo Moreno, secretário de Comércio Exterior, braço direito para intervenções autoritárias - inclusive contra a liberdade de imprensa -, processar esses consultores, a fim de que parem de divulgar os levantamentos independentes da inflação. Não satisfeitos em adulterar o termômetro oficial, querem quebrar os privados, algo típico de uma "republiqueta de banana". Não surpreende que a Argentina passe por uma crise cambial. E para combatê-la o governo de Cristina se torna cada vez mais protecionista. Com isso, rasga acordos do Mercosul. Como o Brasil é forte exportador para o país vizinho, paga alto preço neste fechamento de portas ao comércio. De janeiro a setembro, as exportações para a Argentina caíram de US$ 16,8 bilhões, em 2011, para US$ 13,4 bilhões, este ano. Entenda-se que, sem qualquer reação visível do Itamaraty, o Brasil cede bilhões de dólares para reduzir a crise argentina de falta de divisas. O resultado é que exportadores brasileiros pagam o preço. Talvez quando o protecionismo de Cristina gerar desemprego no lado de cá da fronteira a magnânima diplomacia do governo Dilma dê algum sinal de vida na defesa de interesses nacionais.
Os aliados de Cristina K. em Brasília não admitem, mas o que era uma solução no Cone Sul passou a ser um problema.
De volta para o passado? - JOSEF BARAT
O Estado de S.Paulo - 25/10
Após 17 anos de estabilidade monetária, surgem sinais que apontam para eventual retrocesso nas conquistas alcançadas. A preservação da moeda baseou-se no tripé metas de inflação, superávit fiscal e câmbio flutuante. Em sentido mais amplo, a estabilidade econômica e o ambiente de negócios mais favorável se deveram às mudanças institucionais voltadas à redução da presença estatal - por meio das privatizações e concessões de serviços públicos, com ação reguladora -, além da responsabilidade fiscal.
O problema, hoje, é atribuir a essas importantes mudanças o baixo ritmo de crescimento da economia, trazendo de volta a tentação do intervencionismo estatal. Volta-se a velhos argumentos do passado, pelos quais "um pouco" de inflação pode propiciar crescimento, a desvalorização do real recompõe a competitividade e o relaxamento do superávit primário aumenta a capacidade de investimento público. Portanto, por esses argumentos, afrouxar o tripé da estabilidade pode resultar em taxas mais altas de crescimento.
Afrouxar, porém, as regras da estabilidade, além de grave erro, desvia das verdadeiras causas do baixo crescimento, que são: 1) reduzida taxa de investimento; 2) baixos níveis de produtividade do trabalho, por falta de escolaridade e qualificação; 3) carga tributária extorsiva e irracional, que inibe e contamina o ambiente de negócios; 4) gargalos e ineficiências das infraestruturas de transporte, energia e comunicação; e 5) exacerbação do consumo das famílias, com reflexos na capacidade de investimento. Assim, em vez de enfrentar as causas estruturais do baixo crescimento, opta-se pelo retorno meio torto do velho discurso contra o "modelo neoliberal". Não custa lembrar que este modelo foi mantido no governo do presidente Lula, com o mérito dos desdobramentos mais amplos da distribuição de renda e ampliação de oportunidades.
Portanto, se, em vez de reinventar a roda, o governo atacar as verdadeiras causas do baixo crescimento e da perda de competitividade, o País poderá aprofundar a sua inserção na economia mundial, preservando o respeito alcançado pela forma madura como conduziu a política econômica. Trata-se de afastar preconceitos e aprofundar o processo de concessões e parcerias público-privadas nas infraestruturas, ou seja, capital privado e supervisão pública, com agências reguladoras fortalecidas. Com isso, reanima-se o investimento - diante da baixa margem que o governo tem para investir -, desde que se disponha de uma carteira de projetos consistente e haja pré-qualificação dos participantes nas concessões e parcerias.
O que dificulta hoje este roteiro é a preocupação dos investidores com a tendência intervencionista do governo. Basta relembrar, por exemplo, o que vem ocorrendo com a Petrobrás (contenção dos preços dos combustíveis, política industrial protecionista e indefinição nos royalties), o setor elétrico (revisão das concessões e redução forçada das tarifas) e o novo modelo adotado para as ferrovias (que transfere os riscos do negócio para o governo). Preocupante, ainda, é a insistente tendência de reduzir as taxas de retorno do capital nas concessões, o que tende a afastar bons investidores e ampliar o assédio de aventureiros.
Estamos assistindo, mais uma vez, ao confronto entre o velho e o novo. Por artes da dissimulação, o velho se apresenta como partidário do progresso, induzindo mudanças que levam ao retrocesso. Aflora o conflito entre os setores econômicos altamente competitivos, que querem e precisam da maior inserção do País no mundo globalizado - portanto, de maior liberdade de comércio, fluxos de investimentos e protagonismo econômico. Estão sendo confrontados, todavia, pelos setores tradicionais, que querem se tornar competitivos por meio de medidas protecionistas, quando se sabe que a conta do "custo Brasil" é nutrida pelas graves deficiências nas infraestruturas e pela carga tributária. Um conflito subterrâneo de bom tamanho, que poderá (ou não) determinar novas alianças políticas e um patamar mais elevado de credibilidade do País.
Ueba! Dirceu fatiado e moído! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 25/10
Eu insisto na minha teoria: Marcos Valério é inocente. Já viu mineiro distribuir dinheiro? Nem dos outros!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Manchete do Sensacionalista: "José Dirceu diz que nunca comprou deputados! Alugar sai mais barato". E eu insisto na minha teoria: Marcos Valério é inocente. Já viu mineiro distribuir dinheiro? Nem dos outros! Rarará!
E tá acabando o Mensonão! Última fatia do Mensalame!
O Joaquim Barbosa comeu o salame inteiro. E o Zé Dirceu fatiado bem fininho e moído na hora. Na vista do freguês!
E o estado daquelas poltronas velhas do Supremo? Couro velho com capa preta e os tiozinhos suando o dia inteiro. Pena pro Zé Dirceu: lavar a cadeira do Lewandowski!
E esta: "Japonês vence leilão de virgindade da brasileira". Vai continuar virgem! Pode leiloar de novo! Rarará!
E o Salão do Automóvel? Programa típico de paulista: pagar R$ 50 de pedágio pra ver um monte de carro parado!
E a Dilma no Salão do Automóvel? Trator não entra! Rarará! "Maaaaantega! Reduz o IPI da porra desse Porsche que eu quero comprar." Rarará!
E só tem carro e gostosa. E um amigo vai pro Salão do Automóvel por dois motivos: "sentir cheiro de couro novo e lembrar de como a minha mulher é feia". E um outro vai por dois motivos: "ver os carros que nunca terei e as mulheres que nunca comerei".
Todo mundo se apertando pra ver carro que não pode comprar. E um outro foi pro Salão, viu aquele monte de carrão e mulher gostosa e concluiu: "eu tô a pé tanto de carro quanto de mulher". Rarará!
E eu já disse que quem mais gosta do Salão do Automóvel é motoboy! Pra ver os novos modelos de retrovisor que vão quebrar. "Ô mano, olha aquele ali prateado, irado!" É mole? É mole, mas sobe!
E a Maria gasolina no estacionamento do Salão ao lado duma Ferrari, com o cartaz: "eu vou dar o fiofó pro dono desse carro".
E atenção frequentadores e babadores do Salão do Automóvel: ter carrão não é tudo na vida.
Tem uma foto na internet de uma clínica com três Ferraris e quatro Porsches estacionados na frente. E de que é a clínica? Clínica de aumento de pênis. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Eu insisto na minha teoria: Marcos Valério é inocente. Já viu mineiro distribuir dinheiro? Nem dos outros!
BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Manchete do Sensacionalista: "José Dirceu diz que nunca comprou deputados! Alugar sai mais barato". E eu insisto na minha teoria: Marcos Valério é inocente. Já viu mineiro distribuir dinheiro? Nem dos outros! Rarará!
E tá acabando o Mensonão! Última fatia do Mensalame!
O Joaquim Barbosa comeu o salame inteiro. E o Zé Dirceu fatiado bem fininho e moído na hora. Na vista do freguês!
E o estado daquelas poltronas velhas do Supremo? Couro velho com capa preta e os tiozinhos suando o dia inteiro. Pena pro Zé Dirceu: lavar a cadeira do Lewandowski!
E esta: "Japonês vence leilão de virgindade da brasileira". Vai continuar virgem! Pode leiloar de novo! Rarará!
E o Salão do Automóvel? Programa típico de paulista: pagar R$ 50 de pedágio pra ver um monte de carro parado!
E a Dilma no Salão do Automóvel? Trator não entra! Rarará! "Maaaaantega! Reduz o IPI da porra desse Porsche que eu quero comprar." Rarará!
E só tem carro e gostosa. E um amigo vai pro Salão do Automóvel por dois motivos: "sentir cheiro de couro novo e lembrar de como a minha mulher é feia". E um outro vai por dois motivos: "ver os carros que nunca terei e as mulheres que nunca comerei".
Todo mundo se apertando pra ver carro que não pode comprar. E um outro foi pro Salão, viu aquele monte de carrão e mulher gostosa e concluiu: "eu tô a pé tanto de carro quanto de mulher". Rarará!
E eu já disse que quem mais gosta do Salão do Automóvel é motoboy! Pra ver os novos modelos de retrovisor que vão quebrar. "Ô mano, olha aquele ali prateado, irado!" É mole? É mole, mas sobe!
E a Maria gasolina no estacionamento do Salão ao lado duma Ferrari, com o cartaz: "eu vou dar o fiofó pro dono desse carro".
E atenção frequentadores e babadores do Salão do Automóvel: ter carrão não é tudo na vida.
Tem uma foto na internet de uma clínica com três Ferraris e quatro Porsches estacionados na frente. E de que é a clínica? Clínica de aumento de pênis. Rarará! Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Definições - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 25/10
O Supremo estabeleceu ontem os parâmetros básicos para a condenação do ex-ministro José Dirceu, considerado o "chefe da quadrilha" do mensalão. A maioria, à exceção costumeira dos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffolli, votou pela condenação do publicitário Marcos Valério proposta pelo relator Joaquim Barbosa a sete anos e oito meses pelo crime de corrupção ativa em regime de continuidade delitiva.
Anteriormente, Valério já havia sido condenado a dois anos e 11 meses por crime de quadrilha, os mesmos crimes de que é acusado Dirceu. A soma dos dois dá uma pena de dez anos e sete meses, suficiente para que a condenação seja cumprida em regime fechado pelo menos por um ano e sete meses. No entanto, a pena de Dirceu para os crimes de corrupção ativa deve ser maior, pois ele, além de chefiar todo o esquema, era o principal ministro do governo na ocasião dos crimes, o que só agrava sua situação.
De todo modo, Dirceu pegará pena bem menor que a de Valério, que ultrapassou o máximo permitido pela legislação brasileira que é de 30 anos.
A condenação de Valério a uma pena agravada pelos nove crimes de corrupção ativa foi possível graças a uma sugestão do ministro Celso de Mello, que induziu Barbosa a refazer seu voto dentro de novas bases que haviam sido suscitadas pelo revisor Lewandowski. Como que confirmando a acusação renovada de Barbosa de que o revisor "barateava" o crime com penas mais leves - afirmação pela qual o relator depois se desculpou -, Lewandowski chamou atenção corretamente sobre a existência da súmula 711 do STF, segundo a qual, nos crimes continuados, quando eles ocorrem além da data da promulgação de nova lei penal, deve ser utilizada a legislação que tem pena mais grave. Mesmo utilizando o método correto, que não havia sido utilizado pelo relator, Lewandowski propôs três anos de reclusão, pena mais branda que aquela que Barbosa propusera com base em legislação menos severa.
O julgamento de ontem teve novo bate-boca entre Barbosa e Lewandowski, e, a despeito de ter resvalado para clima de baixaria, acabou sendo útil para a definição de parâmetros da dosimetria. Saiu-se da discussão com a decisão de haver rigor nas penas, mas obedecendo estritamente à individualização e ao critério de benignidade quando cabível. Barbosa perdeu o controle a certa altura e acusou Lewandowski de estar advogando para o réu, o que provocou intervenção do próprio presidente do STF, Ayres Britto, que, alteando a voz como raramente sucede, afirmou: "Aqui ninguém advoga para ninguém, aqui somos todos juízes".
Barbosa queixava-se dos critérios do revisor, os quais considerou muito brandos para os crimes cometidos por Valério, e insinuou que Lewandowski estaria "plantando para colher mais adiante", uma indicação de que pretendia preparar o terreno para reduzir a pena de outros réus, provavelmente referindo-se a José Dirceu.
Declarando-se desgostoso, Barbosa chegou a citar um artigo recente do "New York Times" - "um jornal que costumo ler" - que classificava o sistema judicial brasileiro de "risível", com o que ele concordou. No ápice da discussão, Barbosa declarou que não concordava "com o sistema brasileiro", o que provocou reação da maioria do plenário. Na verdade, o que o relator está querendo, e perdeu-se em acusações graves que teve de retirar mais adiante, é reduzir a possibilidade de as condenações tornarem-se inúteis pela possibilidade de progressão das penas prevista na legislação brasileira.
Ele analisava cada crime individualmente, enquanto Lewandowski insistia em que o conjunto das penas deveria ser levado em conta. No caso de Valério, mesmo que em um dos itens o revisor tenha conseguido reduzir a pena sugerida pelo relator, a somatória das condenações ficará bem acima do máximo permitido pela legislação. Mas no caso de outros, Dirceu e José Genoino, que são acusados de apenas dois crimes - corrupção ativa e quadrilha - o critério terá de ser outro. Genoino poderá até mesmo contar com a condescendência de alguns juízes, pois até Ayres Britto já o citou como sendo menos importante no esquema que Dirceu.
Só Delúbio Soares deve ter pena correspondente à de Valério, pois está condenado em vários crimes.
Jim deu um jeito - KENNETH MAXWELL
FOLHA DE SP - 25/10
É um escândalo peculiarmente britânico. Jimmy Savile, com seus cabelos longos, charutos e excentricidades, foi um extravagante astro de TV por 40 anos, o primeiro apresentador do "Top of the Pops", programa que divulgou o rock para o público britânico mais amplo.
Uma vez por semana, no horário nobre, Savile apresentava um programa de meia hora com sucessos recentes da música, diante de uma audiência formada por adolescentes que não paravam de dançar. Depois, ele se tornou apresentador do "Jim'll Fix it" [Jim dá um jeito], no qual recebia e atendia aos pedidos de pessoas comuns, sobretudo crianças. A audiência chegava a 20 milhões de telespectadores.
Jimmy Savile se tornou famoso por seu trabalho assistencial. Foi sagrado cavaleiro pela rainha. Ao morrer, no ano passado aos 84 anos, deixou o país inteiro de luto.
A BBC é outra instituição muito britânica. Até que o Reino Unido permitisse a operação de estações comerciais de TV, a BBC detinha monopólio sobre a televisão no país. A companhia continua a ser bancada por uma taxa que todos os domicílios britânicos são obrigados a pagar. Por muitos anos, a BBC manteve o tom moralista imposto pelo lorde Reith, o soturno escocês que foi seu primeiro diretor-geral. O apelido carinhoso da companhia era "Titia".
O problema de Jimmy Savile é que ele era um pedófilo serial. É espantoso que isso não tenha sido percebido durante quatro décadas, especialmente pela BBC. Mas Savile era católico fervoroso. Foi recebido pelo papa. Desfrutava do apoio do príncipe de Gales.
Ele tinha acesso aos jovens mais vulneráveis em instituições psiquiátricas e hospitais nos quais fazia trabalho voluntário, e usou esse acesso a jovens meninas (e meninos) para praticar abusos contra eles, alguns dos quais nos estúdios da BBC.
Enquanto ele era vivo, nenhuma de suas vítimas -e foram centenas- ousou se pronunciar. "Newsnight", um programa jornalístico da BBC, planejava denunciar os crimes de Savile no ano passado. Mas o projeto foi abandonado.
Em lugar disso, a BBC exibiu dois especiais natalinos homenageando o apresentador. Coube à ITV, uma rede comercial, contar a história do verdadeiro Jimmy Savile. "Panorama", um programa da BBC que concorre com "Newsnight", em seguida veiculou uma devastadora revisão do caso Savile, nesta semana.
George Entwistle, diretor-geral da BBC, sofreu pesadas críticas ao depor diante do comitê de cultura da Câmara dos Comuns. A verdade, porém, é que Jimmy Savile era um desastre esperando para ocorrer.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
É um escândalo peculiarmente britânico. Jimmy Savile, com seus cabelos longos, charutos e excentricidades, foi um extravagante astro de TV por 40 anos, o primeiro apresentador do "Top of the Pops", programa que divulgou o rock para o público britânico mais amplo.
Uma vez por semana, no horário nobre, Savile apresentava um programa de meia hora com sucessos recentes da música, diante de uma audiência formada por adolescentes que não paravam de dançar. Depois, ele se tornou apresentador do "Jim'll Fix it" [Jim dá um jeito], no qual recebia e atendia aos pedidos de pessoas comuns, sobretudo crianças. A audiência chegava a 20 milhões de telespectadores.
Jimmy Savile se tornou famoso por seu trabalho assistencial. Foi sagrado cavaleiro pela rainha. Ao morrer, no ano passado aos 84 anos, deixou o país inteiro de luto.
A BBC é outra instituição muito britânica. Até que o Reino Unido permitisse a operação de estações comerciais de TV, a BBC detinha monopólio sobre a televisão no país. A companhia continua a ser bancada por uma taxa que todos os domicílios britânicos são obrigados a pagar. Por muitos anos, a BBC manteve o tom moralista imposto pelo lorde Reith, o soturno escocês que foi seu primeiro diretor-geral. O apelido carinhoso da companhia era "Titia".
O problema de Jimmy Savile é que ele era um pedófilo serial. É espantoso que isso não tenha sido percebido durante quatro décadas, especialmente pela BBC. Mas Savile era católico fervoroso. Foi recebido pelo papa. Desfrutava do apoio do príncipe de Gales.
Ele tinha acesso aos jovens mais vulneráveis em instituições psiquiátricas e hospitais nos quais fazia trabalho voluntário, e usou esse acesso a jovens meninas (e meninos) para praticar abusos contra eles, alguns dos quais nos estúdios da BBC.
Enquanto ele era vivo, nenhuma de suas vítimas -e foram centenas- ousou se pronunciar. "Newsnight", um programa jornalístico da BBC, planejava denunciar os crimes de Savile no ano passado. Mas o projeto foi abandonado.
Em lugar disso, a BBC exibiu dois especiais natalinos homenageando o apresentador. Coube à ITV, uma rede comercial, contar a história do verdadeiro Jimmy Savile. "Panorama", um programa da BBC que concorre com "Newsnight", em seguida veiculou uma devastadora revisão do caso Savile, nesta semana.
George Entwistle, diretor-geral da BBC, sofreu pesadas críticas ao depor diante do comitê de cultura da Câmara dos Comuns. A verdade, porém, é que Jimmy Savile era um desastre esperando para ocorrer.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
TE VI NA TV - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 25/10
Advogados de réus do mensalão estudam apresentar à Corte Interamericana de Direitos Humanos o argumento de que a "publicidade opressiva" da mídia sobre o caso teria dificultado um julgamento isento no STF (Supremo Tribunal Federal). A intensa cobertura funcionaria como pressão sobre os magistrados.
DOIS POLOS
A tese de que a mídia pode influenciar julgamentos já foi abordada pelo decano do tribunal, Celso de Mello, em outras ocasiões. Leitor de diferentes trabalhos acadêmicos sobre o tema, ele já ponderou que, se por um lado isso pode ocorrer, ferindo o direito do réu a um julgamento justo, por outro a Constituição garante ampla liberdade à imprensa.
DE GRAÇA
O foco dos advogados que estudam o argumento seria a cobertura das emissoras abertas de TV, que são concessões públicas. E não jornais e revistas nem TVs a cabo, produtos pagos por espectadores e leitores.
RODÍZIO
O ministro Marco Aurélio Mello, que assumirá a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em 2014, não comandará o pleito daquele ano, em que Dilma Rousseff tentará a reeleição. Com quatro anos de corte, terá que deixar o cargo em maio. A presidência passará a ser exercida pelo ministro José Antonio Dias Toffoli.
RODÍZIO 2
E Guiomar Mendes, mulher do ministro Gilmar Mendes, já decidiu que deixará de advogar no TSE em 2014. É que o magistrado, hoje juiz substituto da corte eleitoral, passará a ser titular naquele ano. Embora a lei só impeça ministros de julgarem os casos em que familiares estão envolvidos, ela prefere parar de atuar no tribunal, como já faz em relação ao STF.
SOPHIA & MARISA
A atriz Sophia Loren, 78, desembarca no Rio no próximo mês. Ela comandará a noite de lançamento do Calendário Pirelli 2013 em uma festa no dia 27, no píer Mauá. Marisa Monte, que foi clicada para o anuário, cantará para 700 convidados. As fotos do calendário foram feitas por Steve McCurry no Rio.
VEZ DA UMBANDA
Único vereador eleito do PHS, Laércio Benko oficializa hoje apoio a Fernando Haddad (PT). Umbandista, ele defende a criação de pontos de oferenda em parques e a liberação de cultos em cemitérios. "O povo do santo tem que se assumir. Hoje menos de 2% se declaram, mas em festa de pomba-gira tá tudo lotado. No fim do ano, todo mundo pula sete ondas."
LADY DO POVO
Fã-clubes de Lady Gaga em SP estão combinando na internet ações coletivas para o show da cantora, em novembro. Compraram óculos escuros como os que Gaga usa no clipe "Just Dance". E coroas de princesa para a música "Princess".
MODA CULTURETE
A Osklen, pela primeira vez, não desfilará sua coleção no local oficial da SP Fashion Week. A marca trocou o parque Villa-Lobos pela galeria Zipper, nos Jardins. E não fará desfile, mas sim apresentação das peças a 70 convidados, no dia 29.
ROOM DE EMPREGADA
O Centro de Cultura Judaica promoveu na segunda-feira passada um leilão beneficente de apartamentos em Miami, com lances mínimos de até R$ 6,4 milhões. Nenhum imóvel foi vendido. Mas não faltaram argumentos: "É um dos poucos prédios dos EUA que tem habitação de serviço", disse Monica Venegas, da incorporadora do prédio.
"Vulgo quartinho de empregada", explicou Yael Steiner, diretora do CCJ.
FESTA DA FEIST
A cantora canadense Feist se apresentou anteontem no Cine Joia. A maquiadora Vanessa Rozan, o músico Tatá Aeroplano e a produtora cultural Roberta Youssef viram o show.
DIVIDIR É SOMAR
A apresentadora Luisa Mell e o ator Felipe Folgosi foram ao teatro do shopping Frei Caneca na segunda para a estreia de "A Partilha", peça com Susana Vieira e Arlete Salles no elenco e direção de Miguel Falabella.
CURTO-CIRCUITO
O painel "azul violeta amarelo fogo #5", no hall do MAM, vai a leilão hoje, na Bolsa de Arte, às 21h.
O concurso Faap Moda acontece às 21h na Faap.
A Chandon lança coleção no Consulado de Portugal. Hoje, a partir das 11h.