quinta-feira, outubro 25, 2012

Feio, mas ainda na moda - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 25/10


O BRASIL FICOU feio. Vai perder o lugar de namoradinho da finança para o México ou sei lá quem. Cresce pouco. É dado a voos de galinha. Aparece mal na foto daqueles rankings ineptos sobre ambiente de negócios (péssimo, mas não pior que o de cento e muitos países). O governo fica bulindo demais com o mercado. Os custos estão altos. Etc.

Mas empresas estrangeiras compram as brasileiras em baciadas, e o investimento estrangeiro direto ("na produção") até setembro está em US$ 47,6 bilhões, no caminho de ser o segundo maior da história.

"Sou feia, mas tô na moda", dizia a obra lírica de Tati Quebra-Barraco em 2005.

A Amazon namora a Saraiva. Donald Trump pensa em fazer hotéis no Brasil. O número de aquisições é maior que o do ano passado. O valor, em dólares, é menor. Mas o real se desvalorizou: a diferença, pois, não é tão grande. Enfim, o movimento na feira está intenso, ainda mais se a gente considera que 2012 tem sido mais problemático do que 2011 na economia mundial.

O que está havendo?

As empresas brasileiras (sediadas aqui) estão com receio de investir devido aos fatores listados no primeiro parágrafo. Um dos motivos do crescimento pífio do primeiro biênio de Dilma Rousseff é a lerdeza do investimento.

Lá fora, porém, o dinheiro está barato e sobra. Muita empresa põe dinheiro no Brasil porque a perspectiva de crescimento na matriz é pior.

É o caso dos investimentos grandes das europeias Volks e Fiat no Brasil (até a BMW está entrando no país), Brasil cada vez mais superpovoado de montadoras (quem vai comprar tanto carro, e por onde eles vão rodar?). Claro que as montadoras têm incentivos especiais, digamos: Imposto de Importação enorme, isenções de impostos, direito de interferir ou mesmo controlar acordos comerciais do país, um pouco mais de câmbio agora etc.

Mas há de tudo na baciada de empresas brasileiras vendidas para companhias de fora. Os negócios de maior impacto são no setor de serviços, comércio. Claro. Tais setores crescem mais; o governo em geral interfere menos.

Considerem os últimos seis meses. A americana UnitedHealth comprou a Amil. A Experian (serviço de proteção ao crédito) comprou o resto da Serasa. A FedEx comprou o Rapidão Cometa (logística).

O fundo de investimento em empresas Carlyle, que já levara a Ri Happy, comprou a PB Kids (varejo de brinquedos) e a Tok & Stok (de móveis). A Cel Lep, escola de línguas, foi vendida também.

Mas os negócios vão além dos serviços. A General Mills (EUA) levou a Yoki, a múlti de bebidas britânica Diageo, a Ypióca, e a chinesa Lenovo comprou a CCE (computadores).

Dezenas de outras empresas são vendidas na área de tecnologia de informação, laboratórios e equipamentos médicos. Ou na de fabricação de de rejuntes e argamassas.

Não se trata de dizer que empresas estrangeiras descobriram minas de ouro debaixo do nosso nariz. Menos ainda de insinuar que tais investimentos vão fazer a economia andar mais rápido. Mas apenas de ressaltar uma perspectiva muito diferente daquela trombeteada pelos rapazes do mercado financeiro.

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