quinta-feira, outubro 25, 2012

O andor e o santo - DENISE ROTHENBURG


Correio Braziliense - 25/10


Os reflexos de todo esse acirramento político por causa das eleições e do julgamento da Ação Penal 470 ainda estão longe do fim e vão desaguar na pauta do Congresso Nacional



Em política, sempre que as desproporções de parte a parte tomam conta, quem sofre são os terceiros que tangenciam a história. E, nesse momento, não é diferente. O PT, irritado com as condenações de seus antigos dirigentes no Supremo Tribunal Federal (STF), usa tudo o que pode para desacreditar a imprensa e os políticos da oposição. Os oposicionistas, por sua vez, exageram tratando todos os petistas como se fossem réus no processo e incluem o ex-presidente Lula — o maior líder partidário —, que não está em julgamento no STF. OK, em eleição, os ânimos se acirram, mas há de ter limites.

Para sorte de todos, governo e oposição, o povo é sábio. Separou o julgamento do STF das rusgas decorrentes das eleições municipais. Assim, escolhe sem se deixar influenciar pelo clima ruim que toma conta do país nesse desfecho do julgamento. O problema, no entanto, é que o clima acirrado não se dissipará do dia para a noite, tão logo seja conhecido o resultado das urnas ou encerrado o julgamento no STF. Há quem preveja um futuro próximo com as relações políticas cada vez mais esgarçadas.

O problema é que, com um país, estados e prefeituras ávidos por desenvolvimento em meio a esse jogo — e são as administrações que fazem o papel de terceiros que tangenciam essa história — é preciso que a classe política arrefeça seus ânimos. Da parte do PT, ainda que se sentindo ferido — não sem lá a sua dose de razão —, resta fazer a reflexão a respeito de seus próprios erros. O principal deles, ao longo dos últimos sete anos, foi não ter enfrentado a discussão do episódio do mensalão. Internamente, há quem diga, coberto de razão, que se o partido estivesse parado e enfrentado esse debate em 2006, logo depois da reeleição de Lula, talvez a história hoje fosse diferente. Aquele seria o momento perfeito para o PT, grande vitorioso — Geraldo Alckmin obteve, inclusive, menos votos no segundo turno do que no primeiro —, ter cuidado de si e dos seus e fazer valer a sua versão do que realmente ocorreu naquele processo. Esse debate jamais foi feito e o resto da história é conhecido.

Mas, vejamos a oposição: até o momento, o que se vê é o exagero de querer penalizar todo um partido. E, nessa onda, chama a atenção os aliados do PT se mostrarem incapazes de reverberar um “alto lá”. Isso porque, no fundo, também sonham em ocupar o espaço que os petistas conquistaram perante os eleitores. Entre os petistas, a impressão que se tem é a de que o PSB, por exemplo, não defende o partido de Lula porque adoraria estar no seu lugar.

Por falar em lugar…
Os reflexos de todo esse acirramento por causa das eleições e do julgamento do mensalão ainda estão longe do fim. Na semana que vem, a Câmara dos Deputados pretende deflagrar a votação do projeto que redistribui os royalties do petróleo. Tem ainda em debate o marco regulatório do setor elétrico, temas que precisam de uma normalidade relativa em ambas as Casas para poderem ser debatidos. Ainda vem por aí o marco regulatório de concessões de portos e aeroportos, objeto de intermináveis reuniões na Casa Civil ao longo dos últimos dias.

Diante dessa agenda, se as confusões políticas do momento invadirem as discussões congressuais, os projetos correm o risco de ficar à deriva e, com eles, o tão sonhado Produto Interno Bruto (PIB) mais alto. E não será fácil retomar. Ontem, por exemplo, o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), sempre atento à pauta de votações do Senado, me dizia não acreditar numa agenda de reformas para 2013. “Isso se dá quando tem uma eleição presidencial. Depois de uma eleição municipal, retoma-se de onde parou.”

Esse “onde parou”, mencionado por Agripino, inclui ainda a necessidade de se criar uma outra regra de distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE). O mais provável é que o Senado termine por prorrogar as atuais regras a fim de deixar a discussão desse tema, com mais detalhes, para 2013, depois de votados os projetos relativos ao redesenho do setor elétrico e as demais propostas que estão em pauta, caso dos royalties e do Orçamento de 2013. Afinal, com tantas propostas em pauta, a CPI do Cachoeira e, ainda, os movimentos para eleição dos presidentes da Câmara e do Senado, os políticos consideram que esta reta final de 2012 pode ser tudo, menos tranquila.

Por falar em reta final…
A disputa entre PSB e PT em Campinas deu à cidade status de capital neste segundo turno. O município recebeu Dilma e Lula, em defesa do petista Márcio Pochman; e Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB), por Jonas Donizete. Até Marina Silva, ex-candidata a presidente da República que está sem partido, passou por lá ontem, num gesto de reaproximação com o PT. O ex-jogador, hoje deputado, Romário (PSB-RJ) também deu o ar da graça por seu partido. É mais um sinal de que PT e PSB estão em vias de seguir caminhos opostos num futuro não muito distante. Em outros tempos, os socialistas não fariam tanta carga numa disputa com os petistas.

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