O GLOBO - 20/10
O carnaval ainda está longe, mas o clima na Portela já esquentou. A diretoria da azul e branco resolveu alterar trechos da letra e da melodia do samba escolhido para 2013, de Wanderley Monteiro, Toninho Nascimento, Luiz Carlos Máximo e André do Posto 7.
O samba, ao lado do hino da Vila Isabel, vinha sendo considerado um dos melhores da safra para o próximo carnaval — como em 2011, quando os mesmos autores venceram na escola.
Entre outras coisas...
Os cartolas da Portela deram, digamos, umas mexidinhas.
A nova versão ficou sem a palavra "Serrinha” por exemplo, referência ao vizinho Império Serrano. Pena.
Dilma perdeu
Dilma viajou a Salvador no fim da tarde de ontem para um comício do petista Nelson Pelegrino.
Pelo programa, coitada, estaria no avião de volta a Brasília na hora do... capítulo final de "Avenida Brasil”
Erro de impressão
Nosso consulado em Nova York suspendeu, temporariamente, a emissão de passaportes. Brasileiros que vivem lá têm passado aperto.
É que as cadernetas produzidas pela Casa da Moeda chegaram com erros. Quem precisa voltar ao Brasil com urgência e está sem o documento tem de embarcar com permissão especial.
Boletim médico
Carmélia Alves, 89 anos, a querida Rainha do Baião, que vive no Retiro dos Artistas, foi internada num hospital de Jacarepaguá, no Rio, em luta contra um câncer.
No mais
Agora, com o fim de "Avenida Brasil” o país poderá voltar a funcionar entre 21h e 22h, ufa...
PORQUE HOJE É SÁBADO...
A coluna volta a render homenagem à natureza com o flagrante deste biguá (Phalacrocorax brasilianus) que se refresca no chafariz da centenária Praça Saenz Pena, na Tijuca. Trata-se de ave que gosta de pescar. Mas o veterinário André Sena Maia acredita que é um biguá novo - porque procura peixe no lugar errado. Que Deus o alimente e a nós não desampare jamais.
Arte paulista
O Ministério da Cultura, de Marta Suplicy, autorizou o Museu de Arte Moderna de São Paulo a captar R$ 16.797.455,81 para seu Plano Anual de Atividades de 2013.
O batom de Clara
Clara Nunes, que teria feito 70 anos em agosto, receberá mais uma homenagem.
A produtora Mafuá prepara o DVD "Samba de batom” com sucessos de Clara na voz de várias cantoras. O MinC autorizou a captação de R$ 1.217.174.
Martinho, vida e obra
Depois do songbook de João Nogueira, vem aí o de Martinho da Vila.
O projeto terá CD duplo, DVD e blu-ray, além de dois shows em São Paulo e dois no Rio. A produtora L21 foi autorizada pelo MinC a captar R$ 1.890.850 pela Lei Rouanet.
Chico e Sombrinha
Chico Buarque volta a estúdio, terça agora, para gravar uma música para o novo CD do sambista Sombrinha.
O disco terá ainda participações de Sombra e Zeca Pagodinho.
Homicídio culposo
O juiz Jorge Luiz Le Cocq d'Oliveira, da 2? Vara Criminal do Rio, negou recursos do MP e do assistente de acusação e manteve como homicídio culposo (sem intenção de matar), em vez de doloso (com intenção), a morte por atropelamento de Rafael Mascarenhas, filho da atriz Cissa Guimarães.
Os recursos contra o atropelador, Rafael Bussamra, serão agora encaminhados para a 1? Câmara Criminal do TJ.
Bebuns adoraram Carminha
Acredite. Pesquisa do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes do Rio mostrou que, na reta final de "Avenida Brasil” os estabelecimentos sem TV perderam 30% de movimento na hora da novela-sensação da TV Globo.
Desembargadores também...
A preocupação de 21 presidentes de TJs que foram visitar Sérgio Cabral, ontem à noite, era saber se no Palácio Guanabara havia uma TV para assistirem... ao final de "Avenida Brasil”
Trem de ferro
A16? Câmara Cível do Rio negou recurso da SuperVia e manteve em R$ 300 mil a multa em caso de "ocorrência danosa” com os passageiros dos trens.
A multa havia sido determinada pela juíza Maria Isabel Gonçalves, da 6? Vara Empresarial, em ação proposta pelo MP.
Cartão vermelho
A desembargadora Cristina Tereza Gaulia, da 5? Câmara Cível do Rio, negou indenização pedida pelo árbitro de futebol Jorge Fernando Rabello em ação contra o jornal "Expresso”
É que o diário, em abril de 2011, apontou Rabello como suposto "praticante de mutretagem”
Inflação da Carminha
Doze mulheres puseram o "megahair da Carminha” no salão Maison Vitalicia, em Ipanema, esta semana.
O cabelão custa perto de... R$ 3 mil!
sábado, outubro 20, 2012
Lugar marcado - MARCELO RUBENS PAIVA
O Estado de S.Paulo - 20/10
No avião é incontestável. Apesar de, em alguns voos, rolarem discussões acaloradas em defesa do direito da janelinha.
Em estádios de futebol brasileiros as federações tentam, mas não parece fácil. Faz parte da cultura do brasileiro duvidar em coro da heterossexualidade do juiz, dos bandeirinhas, apontar a profissão das mães deles, denegrir a torcida adversária e sentar no primeiro lugar vago.
Recentemente, com a modernização das salas de cinema, o espectador se viu desafiado a escolher o lugar para sentar. No início da implantação, muitos olharam com desdém aquela tela apontada pela bilheteira cheia de poltroninhas desenhadas e duvidaram que a marcação seria respeitada, especialmente durante os trailers.
O espectador também não sabia qual o lugar indicado, se existem lugares ideais para filmes de ação, de arte, brasileiros (sem legenda), documentários ou 3D. E descobriu que, em cada plateia, há uma configuração própria. Escolher o lugar passou a ser mais uma chateação do que uma solução.
No entanto, pouco a pouco, aprendemos a olhar o monitor com poltroninhas, fileiras e espaços e apontar: Este!
***
O programa favorito de Álvaro e Neide: ir ao cineminha domingo no shopping em que se respeita vaga de idoso.
Chegam cedo, compram ingresso com lugar marcado, dão uma volta na livraria mega, compram o melhor colocado na lista de mais vendidos, jantam na praça de alimentação, e de sobremesa levam para a sala duas pipocas grandes e dois refrigerantes gigantes. Como não gostam de comerciais, costumam entrar pontualmente no início do filme.
Álvaro, obcecado e excelente estrategista, costuma escolher lugares no corredor, para facilitar a localização da poltrona, as necessidades diuréticas de Neide e a evasão discreta em caso de filme ruim, da fileira "i".
Para Álvaro, a marcação de lugar foi uma das maiores invenções da indústria de exibição cinematográfica, depois do porta-copos.
No último domingo, surpresa, um outro casal, mais jovem, mais mal-educado, bem mais forte e menos sedentário, estava esparramado no lugar escolhido metodicamente por Álvaro.
Enquanto ambos em pé, no meio do corredor, com as pipocas grandes e os refrigerantes que congelavam as mãos, começaram a protestar, perceberam um absoluto descaso dos oponentes, que pouco a pouco ganhavam a patente de inimigos.
"Desculpe, mas escolho este lugar com antecedência e bastante precisão."
"Não precisa ficar tenso, tiozinho. Por que não senta na fileira de baixo?"
"Por que vocês não vão pra lá?"
"Esquece, Álvaro, tem dois lugares logo ali", disse Neide impaciente com o peso da sobremesa.
Álvaro, como sempre ocorria em situações em que a injustiça e a desonestidade de um Brasil anacrônico, subdesenvolvido e prestabilidade da moeda, passou a ter uma taquicardia, que só conseguia ser controlada por um jeito professoral de resolver situações conflituosas:
"Meu jovem, não seria bom para todos se as regras fossem cumpridas, se as filas fossem respeitadas, se obedecêssemos aquilo que nos é indicado? Numa democracia, existem direitos e deveres. Você tem o direito de se sentar num lugar confortável, já que pagou pelo seu ingresso, e assistir ao filme de preferência, com sua digníssima namorada."
"... ficante!", interrompeu a acompanhante.
"No entanto, o senhor tem o dever, como um bom cidadão, de respeitar o lugar que lhe foi indicado, para o caos não se instalar entre nós."
O primeiro pedido de silêncio foi proferido da fileira traseira. Álvaro olhou para a tela e se certificou de que escolhera como sempre o lugar ideal, já que veria a projeção de frente, sem precisar erguer ou abaixar a cabeça.
"Tio, o filme tá começando. Senta em qualquer lugar!", disse o rapaz.
"Este é o nosso lugar!", disse a menina.
"Não, ele é nosso!", respondeu Álvaro, com os tickets na mão.
"Vem, mor, deixa eles", tentou Neide.
"De jeito nenhum! Se alguém tem que se mudar..."
"Os incomodados que se retirem!", interrompeu a jovem arrogante.
Álvaro não só se irritou com a frase totalmente fora de propósito da acompanhante, ou ficante, como decidiu ignorar os apelos de mulher e iniciar um discurso:
"Num país que sediará a Copa do Mundo e a Olimpíada..."
"...Cala a boca, velho!", gritaram lá de trás.
Neide começou a puxar o marido, equilibrando as pipocas e refrigerantes, enquanto Álvaro levantou a mão com os dois ingressos da fileira "i" e proferiu:
"Vocês não querem acreditar, mas vivemos num novo Brasil!" Respirou fundo e, mesmo com a trilha do filme explodindo em Dolby pelos alto-falantes, como se estivesse num palanque, bradou: " Vejam o caso do mensalão, julgado finalmente pelo Supremo, um marco na história da nossa República..."
Então a vaia foi geral. Alguns começaram a atirar pipocas no casal. Queriam ver o filme e que aquele velho louco, que dizia coisas ininteligíveis sob a música dos créditos iniciais, parasse.
Neide, desesperada, puxou o marido, que se segurou na poltrona, agarrado no braço dela, como se fosse o último bote do Titanic.
Finalmente, o jovem casal, assustado com a irracionalidade daquele velho teimoso, se levantou e mudou de lugar. Se sentou duas fileiras abaixo, em que havia dois lugares vagos.
Vitorioso, exultante e sem ar, Álvaro sossegou. Mal conseguiu prestar atenção no filme, já que refletiu sobre cada palavra. Continuou o discurso na cabeça, de como o Brasil precisa superar a fragilidade das regras, das instituições e a impunidade epidêmica, que só atrapalham o nosso desenvolvimento, empecilhos históricos que nos impedem de dar um salto grande ao futuro, que devem ter tido origem na escravidão, ou na vinda da corte portuguesa, ou nos regimes instáveis e totalitários.
A respiração de Álvaro demorou para voltar ao normal. Nem conseguiu comer a pipoca. Muito menos ouvir Neide praguejar contra a teimosia de marido. Ela passou o filme inteiro dizendo que um dia ele teria um derrame se continuasse na sua missão impossível de reeducar os jovens.
Terminada a sessão, ninguém mais se lembrava do ocorrido, nem mesmo o jovem casal. Apenas Álvaro e Neide permaneceram sentados. Esperaram os créditos finais, a sala se esvaziar e as luzes se acenderem para, enfim, se retirarem sem nenhuma retaliação física ou verbal.
Neide irritada, disse: "Vou ao banheiro".
Álvaro respirou fundo, se levantou, recolheu os copos vazios e só então percebeu, graças à iluminação da sala, que na verdade se sentaram na fileira "k".
Jogos de salão - SÉRGIO AUGUSTO
O ESTADÃO - 20/10
Antes dos videogames havia os jogos de salão. Será que alguém com menos de, sei lá, 50, 40 anos, ainda participa de algum deles? Será que alguém com menos de 20 anos faz ideia do que seja brincar de mímica ou forca e jogar War ou batalha naval? Dessas e outras gincanas analógicas e geracionais, minhas preferidas eram as que desafiavam a memória e punham à prova a nossa limitada sapiência. Lembrar de cenas de filmes e nomes de personagens literários, por exemplo. Ou de palavras obscuras, que precisavam ser corroboradas por um dicionário sempre ao alcance dos contendores.
Letras de música também inspiravam animadas competições mnemônicas e até motivaram a criação de um show semanal da TV Record, com Caetano Veloso disputando pau a pau com Chico Buarque quem mais rapidamente se lembrava de uma letra que contivesse a palavra sorteada pelo apresentador do programa. Ainda nos anos 1960, o velho boteco Alvadia, nos arredores da Cinelândia, centro do Rio, serviu de arena a um restrito círculo de cinéfilos versados em trilhas sonoras para o cinema. Quem perdia, pagava o chope. Não dava para blefar, mas certos golpes baixos eram permitidos. De uma feita, pus na berlinda a música de Um Homem e Dez Destinos, um filme de 1954 dirigido por Robert Wise. Branco geral. Pudera: o filme nem música incidental tem. Quebrei a banca. Ou melhor, bebi de graça naquela noite.
Um dos passatempos prediletos da minha turma era aquele jogo de adivinha em muitos lugares chamado de Vinte Perguntas e na Inglaterra vitoriana de Sim e Não, conforme aprendi com Charles Dickens. Um participante pensa num nome e os demais têm 20 chances para decifrar de quem ou de quê se trata. Também pode ser disputado por duas pessoas apenas, como um duelo. Num memorável mano a mano com o futuro cineasta Walter Lima Júnior, cheguei ao abismo da 20.ª pergunta com os seguintes dados disponíveis: mulher, ficcional, pertencente à nobreza europeia e ligada a um personagem muito mais famoso do que ela. Na falta de outra opção, arrisquei a primeira figura com aquele perfil que me passou pela cabeça: Princesa Narda do Mandrake. Bingo!
Folguedo danado de bom é o Jogo do Crime, especialmente se programado para um fim de semana no campo, melhor ainda se estiver frio e a lareira acesa. Lembra Os Dez Negrinhos, de Agatha Christie. Com menos de seis participantes, não tem graça. O sorteado assassino escolhe em segredo sua vítima e a arma do crime. Tão logo sabe, pelo assassino, que foi morta, em tais e quais circunstâncias, a vítima emudece. Cabe ao resto da turma identificar o criminoso e solucionar o caso. Rubem Fonseca já foi, et pour cause, um aficionado dessa brincadeira.
Há 37 anos, no divertido romance ambientado no mundo acadêmico Invertendo os Papéis, David Lodge introduziu um jogo de salão que não sei se acabou adotado em algum campus universitário. O ideal é que somente professores de literatura e críticos literários participem de Humilhação - sim, é esse o nome do jogo, em que cada um dos convivas revela um ou mais clássicos da prosa ou poesia que nunca leu. Perde quem apresentar o maior número de lacunas em seu currículo de leitura. O supremo humilhado de Invertendo os Papéis é um professor que jamais leu Hamlet.
Livros, palavras e personagens continuam praticamente sem rivais no abastecimento de ideias para os jogos de salão que puxam mais pelo cérebro. Na casa do poderoso agente literário americano Andrew Wylie, hóspedes do calibre de Susan Sontag, Ian McEwan, Salman Rushdie, Martin Amis e Christopher Hitchens animavam a noitada imaginando novas aberturas para romances famosos, para os quais também bolavam títulos sem a força e a precisão dos originais, títulos, no máximo, "quase bons". Mademoiselle Bovary, por exemplo.
Toby Dick, Sr. Jivago, Adeus às Armas de Fogo, Por Quem os Sinos Tocam, Dois Dias na Vida de Ivan Denisovitch, O Grandioso Gatsby, O Amor nos Tempos da Gripe, Raspberry Finn foram outros "títulos quase bons" surgidos no salão de Wylie. Cá entre nós, bem pior do que O Grandioso Gatsby era o título que o próprio F. Scott Fitzgerald queria dar ao seu mais prestigiado romance: Trimalchio in West Egg. O escritor sugeriu mais uns três, igualmente horrorosos, que o sábio editor Maxwell Perkins vetou, emplacando o enxuto e consagrador The Great Gatsby.
O Trimalchio que inspirou Fitzgerald é mesmo aquele novo-rico romano inventado por Petrônio, em Satiricon, e evocado em prosa e verso por H.P. Lovecraft, Henry Miller, Octavio Paz e John Barth. Eis aí uma boa dica para um jogo em torno de personagens literários reencarnados em obras de diferentes autores. Mãos à obra, pessoal, pois eu ainda estou ocupado com títulos de qualidade duvidosa. Agora em versão brasileira.
Primeira sugestão (já que esta edição destaca Graciliano Ramos): Reminiscências do Cárcere. Não sei o que mais daria engulhos no velho Graça, se Reminiscências do Cárcere ou Memórias da Enxovia. O que mais aborreceria Clarice Lispector, que mudassem a fruta de Maçã no Escuro ou trocassem o escuro por breu? Avesso a afetações, Lima Barreto saltaria na jugular de quem ousasse dizer que Triste Ocaso de Policarpo Quaresma soaria mais elegante do que Triste Fim de Policarpo Quaresma.
Outras sugestões: Dona Flor e Seus Dois Esposos, O Tempo e o Minuano, A Vaca de Focinho Sutil, Próximo ao Coração Selvagem, A Batalha Corporal, Reflexos do Baile de Gala. Que Jorge Amado, Erico Verissimo, Campos de Carvalho, Clarice, Ferreira Gullar e Antonio Callado me perdoem a troça e, sobretudo, a enxúndia.
Fim do recreio.
Código sem fundamentalismo - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 20/10
É cinismo e mentira afirmar que o novo Código Florestal aumentará o desmatamento e anistiou infratores
O filósofo Arthur Schopenhauer, em sua "Dialética Erística", demonstrou que é possível vencer uma discussão mesmo sem ter razão.
Para tanto, alinhavou uma série de estratagemas que partem do pressuposto de que "ter razão" não é o mesmo que "estar com a verdade". Ter razão, segundo ele, é triunfar perante a plateia, iludindo-a e confundindo o adversário.
A verdade, nesses termos, é um detalhe a ser evitado. É desse pragmatismo, aético e predador, que se nutrem aqueles que atacam o novo Código Florestal e os produtores de alimentos.
Há anos, certa corrente ambientalista busca desconstruir a imagem de quem produz, ensejando torná-lo o vilão do país. Ignora os benefícios econômicos e sociais que a produção rural tem trazido ao Brasil, os anos de superavit da balança comercial e que, em quatro décadas, o gasto do brasileiro com alimentos foi reduzido de 48% para 13%.
São fatos, não opiniões.
Insistir em condenar o novo Código Florestal, sustentando as mesmas afirmações, já exaustivamente refutadas em todos os fóruns nos quais o tema foi abordado, é a estratégia recorrente. É simples -e ocupa pouco espaço- afirmar que o novo código "é um texto que nasceu ruim e só tem piorado". Ou ainda: as mudanças que traz foram "feitas por ruralistas". E, por fim: "Ganhou quem desmata e perdeu a sociedade".
Não é preciso provar nada. Basta erguer a bandeira sagrada da defesa da natureza e afirmar que o código aumentará o desmatamento e anistiou infratores. Duas mentiras, ditas com o maior cinismo.
Em recente artigo, a ex-senadora Marina Silva, que vocaliza esse lobby, exibiu a plenos pulmões a força de sua erística. Mesmo que o Código Florestal tenha sido debatido, emendado e aprovado por ampla maioria no Congresso Nacional, em certos momentos por unanimidade, insiste em que é uma obra dos "ruralistas".
O termo "ruralista" é por ela submetido a tal estigma que sua simples enunciação já traz um conteúdo moral condenatório. Ruralistas são os que vivem no meio rural -e é de lá que vem o alimento indispensável ao ser humano. Combatê-los por esse "mal" de origem é levar o preconceito a um grau irracional.
O novo Código Florestal substitui o de 1965 e uma colcha de retalhos de medidas provisórias, decretos, portarias e regulamentos, impostos, durante anos, sem nenhum debate público, por burocratas do Ministério do Meio Ambiente. Nunca havia sido votado pelo Congresso Nacional.
Novamente, são fatos, não opiniões.
Por isso, considero que os dois maiores ganhos do novo Código Florestal não são de ordem técnica.
O primeiro -e mais importante- é a segurança jurídica para os produtores.
O segundo é acabar com a hegemonia das ONGs ambientalistas sobre o tema do ambiente. Nunca mais a sociedade e seus representantes no Congresso Nacional serão excluídos desse debate.
O Brasil é o único país do mundo que produz o seu alimento em menos de um terço do território -27%. É, também, o único a manter intocados nada menos que 61% dos seus biomas. E os produtores rurais, em nenhum momento, postularam a redução dessa área de vegetação nativa.
É bom lembrar que o termo "reserva legal" só existe na legislação brasileira. O mesmo se dá com as áreas de preservação permanente (APPs), que também não existem nos países que nos pressionam a tê-las.
A propósito, não apenas defendemos como propusemos, na recente Rio+20 e em outros fóruns multilaterais, que as APPs sejam adotadas em todo o mundo. Por que só aqui os rios devem ser defendidos se a questão da água é mundial?
A erística, claro, aconselha os ambientalistas a evitar essa questão, substituindo-a por adjetivações inflamadas.
A FAO tem afirmado, reiteradas vezes, que o mundo precisa aumentar em 40% a produção de alimentos e que o Brasil é um dos países mais qualificados a dar essa contribuição. Se depender do fundamentalismo ambiental que se estabeleceu em torno do novo Código Florestal -que continua sendo o mais rigoroso do mundo-, não poderá fazê-lo.
É um fato, não opinião.
Debatédio! Quero luta no gel! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 20/10
Direto do País da Piada Pronta: "Primeiro time do Garrincha, Pau Grande atrai gringos". Imagina na Copa. Rarará! Outra piada pronta: "Psicólogo que atendia Adriano foi internado numa clínica psiquiátrica". Num guentou o tranco!
E eu tô escrevendo essa coluna sem saber o final de "Avenida Brasil"! Mas a grande cena final seria a Carminha e a Nina se abraçando, fazendo o V da vitória, às gargalhadas, e dando uma banana pra nóis. Ou então, poderiam virar sapatas! Sapataria Brasil! E esse OiOiOi é plágio do Silvio Santos! Rarará! Há cem anos o Silvio Santos canta OiOiOI!
E atenção! Manchete do Piauí Herald: "Jesus se declara neutro na eleição em São Paulo ". E o Haddad: "O único santo deste planeta já me apoia: o Lula". E o Serra irritado, contrariando seu habitual bom humor: "O Filho de Deus está agindo a serviço do Zé Dirceu. Ó Pai, tira o Kennedy Alencar do meu caminho!" Rarará! E quem usar o nome de Jesus vai ser condenado a ouvir todos os CDs do padre Marcelo Rossi!
E por que a Dilma tá sempre de vermelho? Encosto da Mônica! E o debatédio na Band? Eu já falei que debate é ultrapassado, tem que inventar uma coisa mais emocionante: eu sugiro luta no gel! E sabe o que parece debate? Terapia de casal! "Foi você!" "Não, foi você!"
Serra x Haddad. É Urubu Gripado x Boneco de Olinda! Mas o debate parecia Zé Dirceu x Kassab! Serra: "Zé Dirceu!" . Haddad: "Kassab!". A noite inteira!
E roupa de debate parece roupa alugada! O Haddad tava com gola de palhaço. E o Serra tava com a cueca apertada! Aliás, o Serra já foi mais a debate do que o Michel Teló cantou "Ai se Eu te Pego!". E o Serra tá mais ranheta que o Seu Lunga!
E um amigo me disse que o PT é o Partido da Turcaida: Temer, Chalita, Haddad e Maluf. E o PSDB é o Partido da Melhor Idade: Serra, FHC, Alckmin e Aloysio Nunes! E o debate na Bahia ! O ACMeio Metro foi de velotrol e o Pellegrino é petista de época: tem até língua plesa! Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Os mesmo erros - CARLOS MELO
O ESTADO DE S. PAULO - 20/10
Melhor seria que fosse diferente. Mas a história mostra que segundo turno não permite nada mais sofisticado que a força bruta, a passionalidade e a desqualificação do oponente. Quem está atrás força passagem e agride com as armas de que julga dispor; quem está à frente fecha o caminho, administra a vantagem defendendo-se com o ataque.
No foco dos estrategistas, está a imobilização do adversário; impedir que o outro amplie demais os votos de primeiro turno.
A diminuição de alternativas,a paixão nas ruas e a virulência na TV são elementos para que o eleitor entre no jogo emocional, pouco ponderado. A disputa assume ares de uma final de campeonato cheia de fúria, visceral: torcedores manifestam-se de um modo tão rude quanto explosivo. Pingo vira letra! O eleitor observa tudo e fará sua escolha pelo "menos ruim", não exatamente pelo melhor. Perde-se qualidade no já escasso debate programático.
Bom? Ruim? Simplesmente assim! Mas é preciso ter o sentido de medida das coisas: não se pode passar do ponto, confinar a si mesmo, tornar-se refém da ousadia;coragem é uma coisa, temeridade é outra. Indiscutível que segundo turno é batalha que busca aumentar a rejeição do rival.Contudo,mesmo nesse a fã,deve-se cuidar para não aumentar a própria rejeição. Sobretudo, é arriscado investirem temas morais,pois podem despertar reações contrárias e se voltar contra quem os mobilizou.
Ninguém,por exemplo,parece favorável ao aborto-pode-se ser a favor de sua descriminalização, mas não há quem o defenda como desejável. É uma contingência eticamente aceitável ou não; depende de crenças e valores. Colocá-lo sobre a mesa da eleição tangencia obscurantismos e retrocessos, enfraquece sua importância como assunto de saúde pública.Desperta embates cujo oportunismo pode suscitar revolta.
Igualmente,isso serve para questões relacionadas às opções sexuais.Majoritariamente, a sociedade não enxerga o tema como questão pública e, naturalmente, não admite a apologia das escolhas íntimas de cada um. Mas tampouco aprova ou é indiferente à homofobia: a intolerância não condiz com nosso caráter. Ela sempre foi punida pelo eleitor - o PT dos velhos tempos, de outras intolerâncias, por exemplo, confinava-se ao gueto.
Mais razoável, então, é circunscrever questões desse tipo ao campo dos direitos individuais, garantindo a natural diversidade social e a liberdade dos indivíduos. Temáticas assim delicadas exigem uma sofisticadíssima compreensão por parte do eleitor, mas sua percepção não captura nuances, nem considera detalhes. É um risco colocá-las no contexto emocional da disputa política, de modo passional.
A decisão, desde sempre discutível, de fazê-lo exigiria engenho e arte comunicativos; perspicácia política. Expressar com perfeição a crítica que se faz, quando ela de fato existir. Imaginar que não transborde de um público específico a quem se quer atrair - evangélicos, no caso - para outro mais amplo e, desse modo, que não assuma sentido diverso do pretendido é abrir a porta para que a esperteza coma o esperto.
Este parece ser o principal erro de José Serra: assemelhar-se aos equívocos da eleição presidencial - da qual, imaginava-se, tiraria lições. Passou do ponto, e isso o prejudica. Ao sentir o prejuízo, tentou se descolar do enredo mas já era tarde: sua campanha se contaminou, tornando-se presa de uma armadilha que, se não foi tramada por ele, tinha como premissa favorecê-lo.
Em vista disso, deu recibo, perdeu elegância e humor: enfrentou jornalistas e de forma estapafúrdia passou a apontar o vulto de José Dirceu como responsável por tudo de ruim que o cerca. Malha,hoje,o Judas que morreu ontem. Paradoxalmente, favorece o adversário. Em política, explicar se é perder terreno. É extraordinário que, sozinho,candidato tão experiente consiga se complicar assim. Os erros de Serra têm sido os maiores aliados de Fernando Haddad.
Legislação racial sempre tem frutos funestos - YVONNE MAGGIE
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/10
Cotas raciais, em minha opinião, são ilegítimas. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial é uma instituição que desequilibra os princípios democráticos por entronizar a "raça", quando a única maneira de enfrentar o racismo e combatê-lo é destruir a própria ideia de "raça". Continuo advogando que o país é feito de cidadãos com direitos universais sem distinção de "raça", credo, condição social e demais atributos especificados na Constituição de 1988.
Em 2012 o STF decidiu, por unanimidade, a constitucionalidade das cotas raciais. Depois desta resolução, abriu-se a porta para que o país instituísse a "raça" como critério de distribuição de justiça.
O Congresso Nacional aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, com a aquiescência de todos os partidos. Este, ao lado da decisão do STF, foi o passo mais radical no sentido de mudar o estatuto legal da nação. Determinaram-se aí cotas raciais em todas as esferas da vida dos cidadãos, que agora são definidos por sua "raça" com direitos diferenciados. Não somos mais brasileiros, legalmente somos negros, brancos ou indígenas.
Seguindo os ditames do Estatuto Racial, além da obrigatoriedade das cotas no ensino superior para egressos de escolas públicas com renda inferior a um salário mínimo e meio per capita e para pretos, pardos e indígenas, o governo anuncia que instituirá cotas raciais no serviço público federal, inclusive em cargos comissionados.
Quer, ainda, obrigar empresas privadas a adotarem essa política. É absolutamente transparente a intenção de afastar-se dos consagrados princípios universais que regulam a vida das nações.
Se já é triste ver o país caminhar para a racialização das políticas para o ensino superior, mais triste ainda será ver o povo brasileiro ter de lutar por vagas no mercado de trabalho segundo esse critério.
Em nome da luta contra o racismo, estão produzindo uma política de alto risco porque, historicamente, todas as vezes que um Estado legislou com base na "raça", as consequências foram funestas.
O mais estranho de tudo é saber que os EUA -que em muito influenciaram as políticas raciais aqui adotadas- se afastam cada vez mais da preferência racial na adoção de políticas públicas e enfatizam o critério social ou de classe.
Como noticiou o "The New York Times" do dia 13 de outubro, os juízes da Corte Suprema americana estão repensando a constitucionalidade das ações afirmativas.
No caso da estudante Abigail Fisher, que alega ter sido prejudicada no acesso a uma vaga na Universidade do Texas por ser branca, o argumento de seus opositores não é mais a justiça -ou seja, o tratamento desigual para aqueles que tiveram seus direitos negados por tanto tempo (os afro-americanos), pedra fundamental da política de ação afirmativa nos EUA. Passados quase 50 anos da instituição das ações afirmativas, a alegação passou a ser a necessidade de intensificar a diversidade nas salas de aula.
Porém, segundo os juízes da Corte Suprema, a verdade é que as ações afirmativas beneficiaram os mais ricos entre os afro-americanos, em detrimento dos pobres tanto brancos quanto negros. Para os juízes, elas contribuíram para o aprofundamento da separação entre os grupos de diferentes "raças", legalmente definidos em função delas.
Por isso, a Suprema Corte americana caminha para adotar critérios de classe no combate às injustiças, e não critérios raciais.
O Brasil, cego ao debate internacional, marcha célere no sentido inverso, criando leis que dividem os brasileiros. Leis que, em vez de erigir pontes e aproximar as pessoas, trazem no seu bojo o ovo da serpente da discórdia, da luta entre aqueles que se pensavam iguais.
Cotas raciais, em minha opinião, são ilegítimas. A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial é uma instituição que desequilibra os princípios democráticos por entronizar a "raça", quando a única maneira de enfrentar o racismo e combatê-lo é destruir a própria ideia de "raça". Continuo advogando que o país é feito de cidadãos com direitos universais sem distinção de "raça", credo, condição social e demais atributos especificados na Constituição de 1988.
Em 2012 o STF decidiu, por unanimidade, a constitucionalidade das cotas raciais. Depois desta resolução, abriu-se a porta para que o país instituísse a "raça" como critério de distribuição de justiça.
O Congresso Nacional aprovou o Estatuto da Igualdade Racial, com a aquiescência de todos os partidos. Este, ao lado da decisão do STF, foi o passo mais radical no sentido de mudar o estatuto legal da nação. Determinaram-se aí cotas raciais em todas as esferas da vida dos cidadãos, que agora são definidos por sua "raça" com direitos diferenciados. Não somos mais brasileiros, legalmente somos negros, brancos ou indígenas.
Seguindo os ditames do Estatuto Racial, além da obrigatoriedade das cotas no ensino superior para egressos de escolas públicas com renda inferior a um salário mínimo e meio per capita e para pretos, pardos e indígenas, o governo anuncia que instituirá cotas raciais no serviço público federal, inclusive em cargos comissionados.
Quer, ainda, obrigar empresas privadas a adotarem essa política. É absolutamente transparente a intenção de afastar-se dos consagrados princípios universais que regulam a vida das nações.
Se já é triste ver o país caminhar para a racialização das políticas para o ensino superior, mais triste ainda será ver o povo brasileiro ter de lutar por vagas no mercado de trabalho segundo esse critério.
Em nome da luta contra o racismo, estão produzindo uma política de alto risco porque, historicamente, todas as vezes que um Estado legislou com base na "raça", as consequências foram funestas.
O mais estranho de tudo é saber que os EUA -que em muito influenciaram as políticas raciais aqui adotadas- se afastam cada vez mais da preferência racial na adoção de políticas públicas e enfatizam o critério social ou de classe.
Como noticiou o "The New York Times" do dia 13 de outubro, os juízes da Corte Suprema americana estão repensando a constitucionalidade das ações afirmativas.
No caso da estudante Abigail Fisher, que alega ter sido prejudicada no acesso a uma vaga na Universidade do Texas por ser branca, o argumento de seus opositores não é mais a justiça -ou seja, o tratamento desigual para aqueles que tiveram seus direitos negados por tanto tempo (os afro-americanos), pedra fundamental da política de ação afirmativa nos EUA. Passados quase 50 anos da instituição das ações afirmativas, a alegação passou a ser a necessidade de intensificar a diversidade nas salas de aula.
Porém, segundo os juízes da Corte Suprema, a verdade é que as ações afirmativas beneficiaram os mais ricos entre os afro-americanos, em detrimento dos pobres tanto brancos quanto negros. Para os juízes, elas contribuíram para o aprofundamento da separação entre os grupos de diferentes "raças", legalmente definidos em função delas.
Por isso, a Suprema Corte americana caminha para adotar critérios de classe no combate às injustiças, e não critérios raciais.
O Brasil, cego ao debate internacional, marcha célere no sentido inverso, criando leis que dividem os brasileiros. Leis que, em vez de erigir pontes e aproximar as pessoas, trazem no seu bojo o ovo da serpente da discórdia, da luta entre aqueles que se pensavam iguais.
Lista antecipada dos piores de 2012 - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 20/10
Aqui, a antecipação do prêmio aos parlamentares que, em vez de aprovar um projeto importante para a sociedade, como o do fim dos 14º e 15º salários, aumentam dia sim dia não as regalias no Congresso
Deixarei os melhores para outro momento, ainda há tempo. Por ora, fiquemos com os malfeitos, afinal, mesmo a mais de dois meses do fim do ano, é fácil fazer uma lista dos piores de 2012. O prêmio desta coluna é incontestável. E vai para os congressistas com quase 70 dias de antecedência, um período que, como se sabe, os caras trabalharão pouco — para ser generoso, vá lá.
Antes de detalhar os critérios inquestionáveis para chegar aos campeões, algumas considerações para não ser injusto, afinal, a entrega do troféu teria de ser simbólica a 594 parlamentares, mas, a bem da verdade, não são todos que o merecem. Há gente ali de dentro do Congresso que, por exemplo, abriu mão de vantagens indevidas e participa dos trabalhos na Câmara e no Senado.
Mas, como não estamos aqui para fazer concessões, vamos à lista da vergonha, do vexame, do troco. É do que se trata. A relação é uma tentativa de dar o troco naqueles que embolsam dinheiro do contribuinte. Algo simplório, é verdade. Afinal, determinados camaradas se lixam para críticas sobre o trabalho deles — nesse caso, meus caros, para a falta de trabalho. Aos fatos, pois.
Enquanto a farra dos 14º e 15º salários não termina — mais detalhes, a seguir —, os deputados federais agora inventaram mais uma regalia. Ou, pelo menos, oficializaram o hábito de faltar em todas as segundas e sextas-feiras. Resolução a ser publicada no Diário da Câmara dos Deputados prevê a realização de sessões ordinárias apenas entre terça e quinta-feira. Todos precisam de um descanso, pois.
O que os deputados fizeram foi se desobrigar das faltas na segunda e na sexta-feira. Se livraram, assim, de descontos de salários nas sessões deliberativas, as que têm votações de projetos e podem ocorrer em qualquer dia da semana. Com a resolução aprovada em plenário, as sessões ordinárias da Casa passam a ser feitas “apenas uma vez por dia, de terça a quinta-feira, iniciando-se às 14h”.
Mérito
Para reforçar o mérito em ganhar o troféu de piores do ano e tornar a vitória incontestável, os nossos nobres parlamentares estão há quase quatro meses com um projeto moralizador engavetado. O texto sobre fim dos 14º e 15º salários chegou à Câmara em maio deste ano, depois de ter sido aprovado com relativa facilidade no Senado. De lá para cá, o projeto não avançou na Comissão de Finanças e Tributação.
A última notícia sobre o texto contra os 14º e 15º chegou na quarta-feira, quando o líder do PSD na Câmara dos Deputados, Guilherme Campos (SP), derrubou a sessão ao pedir a verificação de quorum. Até aquele momento existia um movimento para o projeto ser aprovado, segundo observou a repórter deste Correio Adriana Caitano. Com a desculpa de que a comissão reprovaria o texto, Campos achou melhor derrubar a sessão.
Calote
O fisiologismo sempre foi a tônica do Legislativo, mas a impressão agora é que tudo está mais escancarado. No último mês de maio, este Correio mostrou que os senadores aplicaram um calote de longos cinco anos na Receita Federal ao não descontar os 14º e 15º salários. Uma campanha do jornal foi iniciada cerca de dois meses antes, na Câmara Legislativa, que, depois das matérias, acabou com a regalias dali. Ocorre, que, de lá para cá, o contribuinte vem sendo prejudicado com decisões como a que prevê o pagamento do calote dos senadores pela União ou mesmo a liberação do ponto nas sessões de segundas e sextas-feiras na Câmara.
Outra coisa
A série de reportagens sobre o fim dos 14º e 15º salários é finalista do Prêmio Esso, um dos mais prestigiados do país. Como ela, mais sete trabalhos deste Correio foram indicados: “A fraude das adoções”, “O laranjal do Inep” (categoria Centro-Oeste); “Educadora ao pé da letra” (Educação); “O mal esquecido” (Informação Científica, Tecnológica e Ambiental); “Adeus, Chico” (Primeira Página); “As aventuras de Tintin” e “Mural — a árvore da vida” (Criação Gráfica). Todas elas são prova do comprometimento deste jornal com o leitor.
Aqui, a antecipação do prêmio aos parlamentares que, em vez de aprovar um projeto importante para a sociedade, como o do fim dos 14º e 15º salários, aumentam dia sim dia não as regalias no Congresso
Deixarei os melhores para outro momento, ainda há tempo. Por ora, fiquemos com os malfeitos, afinal, mesmo a mais de dois meses do fim do ano, é fácil fazer uma lista dos piores de 2012. O prêmio desta coluna é incontestável. E vai para os congressistas com quase 70 dias de antecedência, um período que, como se sabe, os caras trabalharão pouco — para ser generoso, vá lá.
Antes de detalhar os critérios inquestionáveis para chegar aos campeões, algumas considerações para não ser injusto, afinal, a entrega do troféu teria de ser simbólica a 594 parlamentares, mas, a bem da verdade, não são todos que o merecem. Há gente ali de dentro do Congresso que, por exemplo, abriu mão de vantagens indevidas e participa dos trabalhos na Câmara e no Senado.
Mas, como não estamos aqui para fazer concessões, vamos à lista da vergonha, do vexame, do troco. É do que se trata. A relação é uma tentativa de dar o troco naqueles que embolsam dinheiro do contribuinte. Algo simplório, é verdade. Afinal, determinados camaradas se lixam para críticas sobre o trabalho deles — nesse caso, meus caros, para a falta de trabalho. Aos fatos, pois.
Enquanto a farra dos 14º e 15º salários não termina — mais detalhes, a seguir —, os deputados federais agora inventaram mais uma regalia. Ou, pelo menos, oficializaram o hábito de faltar em todas as segundas e sextas-feiras. Resolução a ser publicada no Diário da Câmara dos Deputados prevê a realização de sessões ordinárias apenas entre terça e quinta-feira. Todos precisam de um descanso, pois.
O que os deputados fizeram foi se desobrigar das faltas na segunda e na sexta-feira. Se livraram, assim, de descontos de salários nas sessões deliberativas, as que têm votações de projetos e podem ocorrer em qualquer dia da semana. Com a resolução aprovada em plenário, as sessões ordinárias da Casa passam a ser feitas “apenas uma vez por dia, de terça a quinta-feira, iniciando-se às 14h”.
Mérito
Para reforçar o mérito em ganhar o troféu de piores do ano e tornar a vitória incontestável, os nossos nobres parlamentares estão há quase quatro meses com um projeto moralizador engavetado. O texto sobre fim dos 14º e 15º salários chegou à Câmara em maio deste ano, depois de ter sido aprovado com relativa facilidade no Senado. De lá para cá, o projeto não avançou na Comissão de Finanças e Tributação.
A última notícia sobre o texto contra os 14º e 15º chegou na quarta-feira, quando o líder do PSD na Câmara dos Deputados, Guilherme Campos (SP), derrubou a sessão ao pedir a verificação de quorum. Até aquele momento existia um movimento para o projeto ser aprovado, segundo observou a repórter deste Correio Adriana Caitano. Com a desculpa de que a comissão reprovaria o texto, Campos achou melhor derrubar a sessão.
Calote
O fisiologismo sempre foi a tônica do Legislativo, mas a impressão agora é que tudo está mais escancarado. No último mês de maio, este Correio mostrou que os senadores aplicaram um calote de longos cinco anos na Receita Federal ao não descontar os 14º e 15º salários. Uma campanha do jornal foi iniciada cerca de dois meses antes, na Câmara Legislativa, que, depois das matérias, acabou com a regalias dali. Ocorre, que, de lá para cá, o contribuinte vem sendo prejudicado com decisões como a que prevê o pagamento do calote dos senadores pela União ou mesmo a liberação do ponto nas sessões de segundas e sextas-feiras na Câmara.
Outra coisa
A série de reportagens sobre o fim dos 14º e 15º salários é finalista do Prêmio Esso, um dos mais prestigiados do país. Como ela, mais sete trabalhos deste Correio foram indicados: “A fraude das adoções”, “O laranjal do Inep” (categoria Centro-Oeste); “Educadora ao pé da letra” (Educação); “O mal esquecido” (Informação Científica, Tecnológica e Ambiental); “Adeus, Chico” (Primeira Página); “As aventuras de Tintin” e “Mural — a árvore da vida” (Criação Gráfica). Todas elas são prova do comprometimento deste jornal com o leitor.
LAÇOS DE FAMÍLIA - MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 20/10
LETRAS DOBRADAS
A Justiça determinou suspensão da distribuição do livro "Mentes Ansiosas", que chegou à lista dos dez mais vendidos. Autora do livro, a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva está sendo processada por plágio pelo colega Tito Pais de Barros Neto, que escreveu "Sem Medo de Ter Medo" (Casa do Psicólogo). A decisão é liminar e ainda pode ser revertida.
JÁ LI ISSO
A sentença fala de "enxertos longos com o mesmo conteúdo" nos dois livros. "Meu cliente, doutor Tito, publicou a obra dele em 2010, enquanto o da autora Barbosa Silva só saiu um ano depois", diz o advogado José de Araujo Novaes Neto. A editora Objetiva, que publica o livro suspenso, diz que vai "acatar a decisão até a resolução da questão". Ana Beatriz Barbosa Silva foi procurada pela Folha, mas não respondeu até o fechamento da edição.
MOTIVOS BÍBLICOS
A minissérie bíblica "Rei Davi" foi um dos motivos usados pela Record para não adiantar o horário do debate do dia 22, que acabou cancelado após José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) não concordarem em entrar no ar depois de 23h. Já o debate SBT/UOL, que acontece no dia 24, às 18h, vai derrubar "Chaves" da programação.
DÁ UMA FORÇA?
O presidente do PRB, Marcos Pereira, que apoiou a neutralidade de seu partido no segundo turno em SP após derrota de Celso Russomanno, diz ter pensado "muito" antes de reproduzir, no Facebook, notícia antiga em que Paulinho da Força (PDT) dizia que Serra "nunca gostou de trabalhador".
Hoje Paulinho endossa a candidatura do tucano.
SE MOVE COMO JAGGER
Anne Vyalitsyna, a 11ª no ranking de modelos mais sexy do mundo segundo o site Models.com, desembarca hoje em São Paulo. Vem fazer editoriais de moda para duas revistas.
A russa é ex-namorada do roqueiro americano Adam Levine, do Maroon 5.
QUINTA AVENIDA
Carolina Ferraz irá tirar dois meses de férias agora que "Avenida Brasil" terminou. A atriz vai para a Suíça se encontrar com a filha, que mora lá.
A dupla viaja pela Europa antes de Carolina ir para Nova York, fazer curso de atuação e de culinária.
AMOR SEM PRESSA
O escritor Lourenço Mutarelli, de "O Cheiro do Ralo", vai recomeçar do zero o romance que escreve há cinco anos sobre Nova York, para o projeto Amores Expressos. "Eu tinha terminado e entregado, mas a Companhia das Letras não gostou de algumas coisas e pediu modificações. Decidi refazer tudo", afirma o autor.
E OS MENIRES, HEIN?
O cineasta alemão Werner Herzog preparou um leque de assuntos para a aula que dará no CCBB do Rio, na segunda: "O século 20 foi um erro? Como foram levantados os pré-históricos e colossais menires da Bretanha? Como você moveria um barco a vapor para que ele subisse uma montanha? Por que o turismo é pecado? Por que viajar a pé é uma virtude?".
MOSTRA MAIS
A 36ª edição da Mostra Internacional de Cinema de SP foi aberta anteontem. A diretora do evento, Renata de Almeida, recebeu os produtores Yael Steiner e Daniel Dreifuss e a atriz Carolina Ziskind. Andrei A. Tarkóvski, filho do cineasta russo Andrei Tarkóvski, também foi ao Auditório Ibirapuera.
REGINA, REGINA
A atriz Regina Duarte estreou anteontem a peça "Raimunda, Raimunda". Os atores Adriana Lessa e Daniel Alvim foram ao teatro Raul Cortez para assistir ao espetáculo.
CURTO-CIRCUITO
Estreia hoje o documentário "Francisco Brennand", às 19h, na Cinemateca Brasileira. Livre.
A galeria Emma Thomas abre hoje novo espaço, nos Jardins. Com a exposição do artista Nazareno.
O chef Tsuyoshi Murakami faz performance no MAM, com projeção de Regina Silveira. Hoje, às 14h.
Lolita Zurita Hannud lança nova coleção hoje.
Lulu Librandi comemora aniversário, hoje, com festa no bar do Nelson.
Hegemonia PT 3.0 - FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 20/10
BRASÍLIA - Fernando Haddad protagonizou uma das mais espetaculares recuperações numa campanha para prefeito de São Paulo e deve dar ao PT, dizem as pesquisas, o comando da maior cidade do país.
A eleição paulistana é um passo relevante no projeto de hegemonia política do PT. Nenhum partido cresce de maneira orgânica e consistente como o PT a cada disputa municipal. A sigla sempre se sai melhor.
PMDB, PSDB, DEM (o antigo PFL) e outros já tiveram dias de glória, mas acumulam também vários revezes. O PT, não. Só cresce.
Embora já tenha vencido em São Paulo duas vezes (em 1988, com Luiza Erundina, e em 2000, com Marta Suplicy), agora com Fernando Haddad é uma espécie de PT 3.0 que pode chegar ao poder.
Não há outro partido da safra pós-ditadura militar que tenha conseguido fazer essa transição de gerações. O poderio sólido e real que o PT constrói encontra rival de verdade apenas na velha Aliança Renovadora Nacional (Arena), a agremiação criada pelos generais para comandar o Brasil -com a enorme diferença de hoje o país viver em plena democracia.
Alguns dirão que o PMDB mandou muito no final dos anos 80. Mais ou menos. Tratava-se de um aglomerado de políticos filiados a uma mesma sigla. Não havia orientação central.
O PSDB ganhou em 1994 o Planalto e os governos de São Paulo, Rio e Minas Gerais. Muito poder. Só que os tucanos nunca tiveram um "centralismo democrático" (sic) "à la PT".
No dia 28 de outubro, há indícios de que o PT novamente sairá das urnas como o grande vencedor nas cidades com mais de 200 mil eleitores, podendo levar pela terceira vez a joia da coroa, São Paulo.
Ao votar dessa forma, o eleitor protagoniza duas atitudes -e não faço aqui juízo de valor, só constato. Elege seu prefeito e entrega à sigla de Lula um grande voto de confiança para fazer do PT cada vez mais um partido hegemônico no país.
Esgotamento e inflexão - CRISTOVAM BUARQUE
O GLOBO - 20/10
Nos últimos vinte anos de governos social-democratas, o Brasil melhorou graças à continuidade de quatro pilares: a democracia, a responsabilidade fiscal, a generosidade das bolsas e uma política econômica de crescimento. Estes pilares estão se esgotando.
A democracia se esgota porque não foi capaz de fazer a reforma política; não implantou um sistema ético para o financiamento de campanhas; e não barrou a corrupção.
A responsabilidade fiscal se esgota porque a reforma do Estado não foi feita, não houve controle dos gastos, nem mudança na gestão pública.
A generosidade social começou ainda no governo militar com a aposentadoria rural. Mas foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em seu segundo mandato, que adotou a concepção das bolsas, transferindo renda para quatro milhões de beneficiários. Lula ampliou este número para 12 milhões e elevou o valor do salário-mínimo em taxas superiores às da inflação. A presidente Dilma Rousseff ampliou ainda mais os beneficiários. Mas os programas de pura transferência de renda não estão sendo capazes de induzir a emancipação da população pobre.
O crescimento econômico manteve-se com o mesmo padrão básico: ampliação de produção, exportação de commodities agrícolas ou minerais e produção de bens industriais para o mercado interno, sofrendo, no entanto, uma desindustrialização em função da âncora cambial, da falta de competitividade, do Custo Brasil e da falta de capacidade para inovação. Este modelo não foi capaz de dar o salto para uma economia de alta tecnologia, com respeito ao meio ambiente, estruturalmente distributiva e pelo qual o propósito não seja apenas aumentar o PIB, mas aumentar o bem-estar da população.
Há um esgotamento nos quatro pilares da social-democracia brasileira, sendo necessária uma inflexão que permita completar com uma reforma política, criando mecanismos que tornem a corrupção impossível, eliminando a influência do poder econômico nas eleições. A responsabilidade fiscal precisa ser completada por reformas na gestão, na política fiscal e no controle dos gastos. A generosidade das transferências de renda precisa ser substituída pela emancipação da população para que nenhuma família brasileira precise de ajuda. E a economia precisa incorporar o equilíbrio ecológico, a distribuição de renda, a produção de bens distributivos e o salto para uma sociedade criadora de bens de alta tecnologia, caminhando para aumentar o bem-estar social, não apenas o PIB.
O fim das eleições municipais deveria ser o ponto de partida para o debate. Mas, aparentemente, este radicalismo não entrará nos debates. Vamos continuar discutindo como avançar na mesma direção de um modelo em esgotamento, com a mesma política de satisfazer os interesses imediatos de corporações, sem olhar o longo prazo, sem fazer a necessária inflexão histórica.
Em direção à paz - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SÃO PAULO - 20/10
SÃO PAULO - Sou fã da União Europeia e, por isso, vou-me permitir ser cruel com ela -e com o comitê que lhe conferiu o Nobel da Paz.
Hoje, nem o mais rematado entusiasta do bloco diria que a unificação monetária foi um sucesso. A crise gerada por um sistema pobremente concebido está aí e suas sequelas deverão perdurar por vários anos.
Diante do fiasco econômico, os noruegueses quiseram dar uma injeção de ânimo no bloco outorgando-lhe a láurea. Para justificar a decisão, recorreram à política, afirmando que o resultado mais importante da UE é "o bem-sucedido esforço para a paz e a reconciliação e para a democracia e os direitos humanos".
Receio que tenham tomado um efeito por causa. Longe de mim sugerir que a UE não tenha contribuído em nada para a era de paz, normalidade democrática e respeito aos direitos humanos vivida pela Europa. Penso, porém, que a formação do bloco é mais um sintoma dessa bonança política do que sua origem.
Meu argumento, retirado de "The Better Angels of our Nature", de Steven Pinker, é o de que, se há um fator que, em tempos modernos, serviu para evitar guerras é a democracia. Não porque ela tenha poderes mágicos, mas porque leva em conta a opinião dos cidadãos, que são os que de fato sofrem com conflitos. Entidades supranacionais como a UE ajudam, mas elas próprias só costumam surgir depois que seus membros atingiram alguma segurança institucional.
Como já sugeria Kant, a receita para a paz tem três ingredientes: democracia, comércio e envolvimento com a comunidade internacional. Analisando dados históricos, pesquisadores concluíram que, quando dois países estão entre os 10% superiores na escala dessas variáveis, suas chances de enfrentar-se num conflito militarizado são 83% menores do que as de um par qualquer de nações.
Não sou contra premiar a UE nesta hora difícil, mas o comitê poderia produzir uma justificativa melhor.
SÃO PAULO - Sou fã da União Europeia e, por isso, vou-me permitir ser cruel com ela -e com o comitê que lhe conferiu o Nobel da Paz.
Hoje, nem o mais rematado entusiasta do bloco diria que a unificação monetária foi um sucesso. A crise gerada por um sistema pobremente concebido está aí e suas sequelas deverão perdurar por vários anos.
Diante do fiasco econômico, os noruegueses quiseram dar uma injeção de ânimo no bloco outorgando-lhe a láurea. Para justificar a decisão, recorreram à política, afirmando que o resultado mais importante da UE é "o bem-sucedido esforço para a paz e a reconciliação e para a democracia e os direitos humanos".
Receio que tenham tomado um efeito por causa. Longe de mim sugerir que a UE não tenha contribuído em nada para a era de paz, normalidade democrática e respeito aos direitos humanos vivida pela Europa. Penso, porém, que a formação do bloco é mais um sintoma dessa bonança política do que sua origem.
Meu argumento, retirado de "The Better Angels of our Nature", de Steven Pinker, é o de que, se há um fator que, em tempos modernos, serviu para evitar guerras é a democracia. Não porque ela tenha poderes mágicos, mas porque leva em conta a opinião dos cidadãos, que são os que de fato sofrem com conflitos. Entidades supranacionais como a UE ajudam, mas elas próprias só costumam surgir depois que seus membros atingiram alguma segurança institucional.
Como já sugeria Kant, a receita para a paz tem três ingredientes: democracia, comércio e envolvimento com a comunidade internacional. Analisando dados históricos, pesquisadores concluíram que, quando dois países estão entre os 10% superiores na escala dessas variáveis, suas chances de enfrentar-se num conflito militarizado são 83% menores do que as de um par qualquer de nações.
Não sou contra premiar a UE nesta hora difícil, mas o comitê poderia produzir uma justificativa melhor.
Previsões do PT e do Planalto - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 20/10
De olho na casa do vizinho
O PMDB está irritado com o anúncio feito, esta semana, pela presidente Dilma favorável à execução de um programa para doar às prefeituras de até 50 mil habitantes 3.591 retroescavadeiras. Seus dirigentes dizem que esse é mais um exemplo do papel secundário a que o partido está sendo relegado pelo governo Dilma. O responsável pela implementação do programa é o Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas, como seu objetivo é “melhorar as estradas vicinais para o escoamento da produção”, os peemedebistas avaliam que ele deveria ser executado pelo Ministério da Agricultura. O programa foi criado no ano passado.
“O PP é o quarto em vereadores e o quinto em prefeitos e deputados. Sempre aparece gente querendo vender, comprar ou faturar uma corretagem”
Francisco Dorneles
Senador (RJ) e presidente do PP, sobre eventual fusão com o PSD
O que é isso, companheiro?
A campanha de Durval Ângelo (PT), em Contagem (MG), tenta reverter vantagem, obtida no primeiro turno, de Carlin Moura (PCdoB), acusando-o de ser o deputado das raves (“Carlin = raves. Raves = drogas e álcool”). Uma coisa!
O próximo
O STF ainda não concluiu o julgamento do mensalão do PT no governo Lula.
Mas nas redes sociais já foi deflagrada campanha para colocar na agenda imediata o julgamento do mensalão tucano. Com uma foto do principal réu, o deputado Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), o texto diz: “Vamos pressionar o STF para julgar o mensalão tucano também.”
Quadro de estabilidade
A presidente Dilma e a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) conversaram sobre mudanças no Planalto. Gleisi não quer sair, nem Dilma, substituí-la. Mas, se tal viesse a ocorrer, o favorito à vaga seria o ministro Luís Adams (AGU).
Com ou sem neutralidade?
O marco civil da internet, projeto do Executivo enviado ao Congresso, empacou por divergência entre o Planalto e o relator, deputado Alessandro Molon (PT-RJ). O governo quer a neutralidade da rede (uso igual, sem distinção de usuário), mas com posterior regulamentação. Molon acha que não se pode jogar essa garantia para a frente e que regulamentar pode mudar o conceito.
Tiro no pé
A ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) está surpresa com a ação da WWF contra o decreto da presidente Dilma sobre o Código Florestal. Ela diz: “O que eles querem? A correlação de forças é desfavorável aos ambientalistas no Congresso.”
Crítica verde
A ex-ministra Marina Silva sobre a sanção, com nove vetos, do Código Florestal: “Temos um novo código que parece mas não é. O que este código tem de menos é floresta. Permanecem no texto retrocessos nocivos introduzidos no Senado.”
UMA VEZ DERROTADO EM SÃO PAULO, o prefeito Gilberto
Kassab (PSD) perde terreno político na luta por um ministério no governo da presidente Dilma.
Marginais do poder - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 20/10
A definição do que seja crime de formação de quadrilha é a última discussão teórica do plenário do STF antes da definição dos critérios para desempates e dosimetria das penas. A Corte está dividida entre os ministros que tratam esse crime dentro do estrito texto legal, e por isso não veem a existência de quadrilha no caso em julgamento, e os que, como o decano Celso de Mello, se permitem voos mais altos para chegar à conclusão oposta.
A paz pública, capítulo em que está inserido o crime de quadrilha, é o "bem tutelado", isto é, o objeto que a legislação procura proteger. As ministras Rosa Weber e Cármen Lúcia não viram nos fatos descritos na Ação Penal 470 sinais de que havia uma ação criminosa desse tipo, mas apenas coautores de diversas ilegalidades, em benefício próprio, no primeiro momento em que esse crime foi julgado.
A legislação trata de crimes comuns perpetrados por quadrilhas, como roubos, sequestros etc... Para Rosa Weber, "a indeterminação na prática de crimes é a diferenciação de bandos e agentes pura e simples. (...) Entendo que houve aqui crime de coautoria". Quadrilha, na sua concepção, "causa perigo por si mesma na sociedade".
Quanto à ameaça à paz pública, a ministra considera que ela só se caracteriza na "quebra de sossego e paz, na confiança da continuidade normal da ordem jurídico-formal". E os membros da quadrilha têm a decisão de "sobreviver à base dos produtos auferidos em ações criminosas indistintas".
Cármen Lúcia fez um adendo às ponderações da ministra Rosa que pode ser importante na sua distinção entre o caso já julgado e o que estará em julgamento a partir de segunda-feira. Ela disse que a tese da Procuradoria Geral da União de que havia uma "pequena quadrilha", formada pelos políticos dos partidos aliados, dentro de outra quadrilha, esta a que vai ser julgada, não a convenceu.
Já Luiz Fux se disse convencido de que, demonstrada a "congregação estável entre os integrantes para o cometimento de crime, está caracterizado também o crime de quadrilha". Foi nessa ocasião que o presidente do Supremo, Ayres Britto, fez a observação que já ficou famosa no julgamento: "A pergunta então seria: o réu podia deixar de não saber, nesse contexto?" Marco Aurélio Mello, que inocentou o deputado Valdemar da Costa Neto do crime de quadrilha, assim o fez por questões técnicas: considerou que não estava configurada a reunião "de mais de três pessoas" como manda a lei, pois um dos réus está sendo julgado em outro processo, na primeira instância. No caso do núcleo político do PT, em associação com o núcleo operacional e o financeiro, a situação é outra, e não é certo que o ministro continue absolvendo os réus, inclusive porque já condenou outros pelo mesmo crime.
A definição mais abrangente em relação à ameaça à paz pública foi feita pelo ministro Celso de Mello, num voto histórico em que comparou os réus a "uma quadrilha de bandoleiros de estrada", definindo-os como "verdadeiros assaltantes dos cofres públicos", preenchendo os requisitos legais com uma aula de História.
Citou Cícero, que se referia à paz pública como sendo "a tranquilidade da ordem (...), o sentimento de segurança das pessoas". Para o decano do STF, "são esses os valores juridicamente protegidos ao incriminar o delito de quadrilha".
Celso de Mello identificou um "quadro de anomalia" que revela as "gravíssimas consequências desse gesto infiel e indigno de agentes corruptores, tanto públicos quanto privados, devidamente comprovados, que só fazem desqualificar e desautorizar a atuação desses marginais no poder".
Embora interfira no resultado do julgamento apenas de maneira remota, pois pode aumentar a pena dos condenados, a definição do crime de quadrilha ganha uma dimensão política relevante neste julgamento. Isso porque a interpretação mais ampla de que a paz pública brasileira esteve ameaçada, pondo em risco o estado democrático de Direito - assumida por Celso de Mello e pelo presidente do Supremo, Ayres Britto, que chegou a falar em "golpe na democracia" e depois reinterpretou as próprias palavras para amenizar seu sentido -, traz consigo o entendimento de que o que houve foi uma conspiração institucional.
As penas de cada um - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 20/10
Punições dos condenados no mensalão devem ser dosadas com equilíbrio, pois não se trata de fazer que paguem pela impunidade geral
Diferentemente do que se acredita, não são assim tão leves as penas previstas na legislação brasileira para quem comete os ditos crimes de colarinho-branco.
Pelo menos quanto aos delitos de que são acusados os réus do mensalão, dificilmente se poderiam considerar brandas as punições que o Supremo Tribunal Federal detém a prerrogativa de aplicar.
Confiram-se os principais crimes em julgamento. Os de corrupção ativa ou passiva acarretam de 2 a 12 anos de reclusão (para os casos daqueles cometidos antes de novembro de 2003, porém, a legislação então em vigor previa sanção menor: de 1 a 8 anos).
Como se sabe, no caso do mensalão esses crimes não aconteceram isoladamente; os delitos de lavagem de dinheiro (3 a 10 anos de reclusão) e formação de quadrilha (1 a 3 anos) também pesam sobre vários dos réus.
Menos frequentes, os delitos de peculato (2 a 12 anos), evasão de divisas (2 a 6 anos) e gestão fraudulenta de instituição financeira (3 a 12 anos) sobrepõem-se ainda a outros, no caso de vários acusados.
Vencidos os últimos debates quanto à culpa dos envolvidos, caberá ao Supremo decidir em breve quanto à dosagem das penas a serem aplicadas a cada um.
O único indicativo mais concreto que se tem a respeito foi o voto do ministro Cezar Peluso, que, antes de se aposentar, pronunciou na íntegra a sua decisão.
Incidia apenas sobre os primeiros casos, relativos ao envolvimento do ex-dirigente do Banco do Brasil Henrique Pizzolato e do ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha no esquema de Marcos Valério.
Só nesse item, segundo o voto de Peluso, o publicitário mineiro foi condenado a 16 anos de prisão. Ressalte-se que o grupo de Marcos Valério conheceu, ao longo do julgamento, renovadas condenações por diversos outros crimes.
Evidentemente, não se multiplica o prazo da prisão pelas diversas vezes em que um mesmo crime se repete (nalguns casos, dezenas de vezes), embora isso possa levar ao agravamento das penas. Mesmo assim, e ainda que se aplique a pena mínima, não resultarão brandos os efeitos das condenações que já se configuram.
Há muitos fatores em conta na chamada "dosimetria" das penas. A resposta exemplar a uma situação mais ampla e notória de impunidade justifica o rigor da Justiça.
Penas justas, porém individualizadas e razoáveis, terão de ser sopesadas. Os condenados do mensalão devem, é óbvio, pagar pelo que fizeram. Mas não, numa espécie de expiação simbólica, pelas omissões de todo um sistema jurídico e social.
Letra morta - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 20/10
Proposto por Fernando Haddad a José Serra no debate inaugural do segundo turno, o pacto pelo fim dos ataques na TV divide a campanha petista. Enquanto o candidato tem manifestado, em privado, desconforto com o tom agressivo da sua propaganda, a equipe de marketing considera que a estratégia baseada no lema segundo o qual "a melhor defesa é o ataque" vem se mostrando exitosa. Para os que advogam a tese, uma guinada na reta final seria incompreendida pelo eleitor.
Tabu Para conter a euforia de aliados com as pesquisas recém-divulgadas, o coordenador do QG de Haddad, Antonio Donato, decretou ontem aos membros do estafe petista: "Falar em transição é assunto proibido". Menos ainda sobre eventuais nomes para o secretariado.
Quem diria Ainda assim, especulações já rondam a própria bancada petista. O primeiro a assumir uma cadeira na Câmara se Haddad, caso eleito, nomear um vereador do partido para o primeiro escalão será o ultramalufista Wadih Mutran (PP).
Total flex Chefe de gabinete da estatal de habitação do tucano Geraldo Alckmin na cota de Paulo Maluf, Guilherme Ribeiro viu o debate da Band, anteontem, no setor do PT, com quem o PP está aliado na eleição paulistana.
Mão de ferro Com respaldo de Michel Temer, a cúpula do PMDB intervirá hoje nos 53 diretórios zonais de São Paulo para instalar aliados de Gabriel Chalita. Com a medida, o deputado federal pretende retirar dos cargos dirigentes ainda vinculados ao grupo de Orestes Quércia.
É assim? Peemedebistas afastados da sigla farão ato de apoio a Serra na terça-feira. O evento terá a participação da viúva do ex-governador, Alaíde Quércia.
Na área Já o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, discreto na campanha de Chalita à prefeitura, irá hoje ao comício de Dilma pró-Haddad.
Ontem e hoje Gilberto Kassab vetou, em 2011, projeto do petista Arselino Tatto que instituía programa de auxílio-creche às mães não-atendidas pela rede pública, proposta similar a sugestão do PPS incorporada ao programa de governo de Serra.
Sessão pipoca Gilberto Kassab abriu ontem a Mostra de Cinema de São Paulo pela última vez como prefeito. E avisou: "Volto ano que vem, apenas como espectador". Mas não esperou o fim do primeiro filme e saiu alegando outros compromissos.
Ainda lembro Apesar de elogios a Kátia Abreu, auxiliares de Dilma Rousseff afirmam que a senadora não deverá ser ministra na cota do PSD porque protestou contra a intervenção de Gilberto Kassab para que partido apoiasse Patrus Ananias (PT), derrotado pelo candidato de Aécio Neves, Márcio Lacerda, em Belo Horizonte.
Salto baixo 1 Advogados estão assustados com as idas e vindas dos ministros do Supremo Tribunal Federal em relação aos réus do julgamento do mensalão.
Salto baixo 2 Aconselharam seus clientes a só comentar o resultado e comemorar eventuais absolvições após a corte se manifestar sobre a dosimetria das penas.
Espeto Antes da recomendação, no entanto, Duda Mendonça festejou com a família e com amigos de vaquejada e corridas de cavalos, na churrascaria Boi Preto, em Salvador, sua absolvição. Sua mulher investiu contra frequentadores que filmavam a festança pelo celular.
Visita à Folha O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) visitou ontem a Folha.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
tiroteio
"Lula mantém a coerência: hoje, pede votos para um ex-preso; ontem, pedia votos para os futuros presos no mensalão."
DO DEPUTADO ROBERTO FREIRE (PPS-SP) sobre o ex-presidente apoiar a reeleição de Roberto Góes (PDT-AP), preso em 2010 em operação da PF.
contraponto
Dividida política
Na quarta-feira, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) estava fazendo campanha para a presidência da Câmara com um grupo de deputados no fundo do plenário. O líder do PSD, Guilherme Campos (SP), se juntou ao grupo e disse que estava de relações cortadas com Delgado.
O mineiro levou um susto, achando que o paulista estava descartando votar nele.
-Estou falando do couro que o seu Fluminense aplicou na minha Ponte Preta -, disse o deputado, que é de Campinas, cidade da "Macaca".
O grupo então caiu na gargalhada.
Autônomos ou desunidos? - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 20/10
Foi só para não levar desaforo para casa que reagi ao banqueiro espanhol. Isso foi há muito tempo, e eu perguntava sobre as perspectivas do Brasil, na época endividado e com inflação alta. Em vez de análise objetiva, ele acusou o país de ser "primitivo" em seu nacionalismo. Respondi que primitivo era um país que não tinha consolidado o Estado nacional, como a Espanha.
A Espanha é um grande país, com sua magnífica diversidade regional, mas revisita agora, em época de crise, o fosso das suas divisões. Lembrei dessa conversa e de minha resposta atravessada vendo a Catalunha falar em separatismo.
A Catalunha é 20% do PIB espanhol e se sente injustiçada. Acredita que manda mais receitas para o governo central e recebe de volta menos do que deveria. Aqui, alguns estados também acham injusta a distribuição do bolo federativo, mas ninguém está falando em ser um novo país na América do Sul, como a Catalunha tem dito que será um novo país na Europa.
A fragmentação seria, se ocorresse, um espantoso desdobramento de uma crise que já coleciona uma sucessão de números trágicos, como a maior taxa de desemprego da zona do euro: 25,1%. Um em cada quatro espanhóis em condições de trabalhar não está em atividade. Só no segundo trimestre, o setor de serviços eliminou 500 mil vagas. Ao todo foram eliminadas 885 mil de junho a agosto.
A federação espanhola é bem diferente da nossa. Lá, os estados são chamados de "regiões autônomas", e não por acaso. Têm mais autonomia financeira e administrativa que no Brasil, mas vivem a estranha situação de pedir socorro ao governo central e, ao mesmo tempo, falar em separação. Ontem, mais duas províncias pediram ajuda.
Os dados da agência oficial de estatística da Catalunha, o Idescat, mostram que a perda de vagas na província é mais rápida do que no resto do país. O órgão executivo catalão, Generalitat, sustenta que tem feito mais aportes ao governo central do que deveria e que isso explica o forte déficit. Por falta de dinheiro, o governo chegou a suspender repasses a escolas, hospitais e entidades de assistência social este ano.
Os quatro maiores bancos da Espanha passaram no teste de estresse, mesmo assim a avaliação mais comum é que, querendo ou não, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, vai pedir socorro. O INE (Instituto Nacional de Estatística) informou que no segundo trimestre o PIB encolheu 1,3%, e os investimentos, 9,4%.
governo chegou a suspender repasses a escolas, hospitais e entidades de assistência social este ano.
Os quatro maiores bancos da Espanha passaram no teste de estresse, mesmo assim a avaliação mais comum é que, querendo ou não, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, vai pedir socorro. O INE (Instituto Nacional de Estatística) informou que no segundo trimestre o PIB encolheu 1,3%, e os investimentos, 9,4%.
Em junho, o governo espanhol conseguiu uma linha de crédito na Europa de 100 bilhões para socorrer o sistema financeiro. Já anunciou que gastará ¬ 60 bilhões, mas os economistas acham que novos aportes são necessários.
- Problemas bancários são muito dinâmicos. O governo pode injetar dinheiro e sanear os bancos, mas se a inadimplência se elevar, se os saques continuarem, os buracos aparecem novamente e mais dinheiro terá que ser dado. A corrida bancária na Espanha tem sido lenta, mas contínua - disse a economista Monica de Bolle, da Galanto.
O povo catalão programa fazer um referendum sobre a independência e isso levou o rei Juan Carlos a se manifestar. Em carta, disse que o pior que os espanhóis podem fazer é "dividir forças, incentivar divisões, perseguir quimeras e avivar feridas".
Os economistas ouvidos pelo "El País" dizem que se a Catalunha se separar ela quebra. Primeiro, porque terá que reconhecer a parte da dívida catalã que foi assumida pelo governo central e isso elevaria o endividamento a 80% do PIB. Segundo, porque ela teria dificuldade de se financiar já que sua avaliação de risco é a pior possível. Ou seja, a Espanha precisa manter unido o Estado nacional.
Foi só para não levar desaforo para casa que reagi ao banqueiro espanhol. Isso foi há muito tempo, e eu perguntava sobre as perspectivas do Brasil, na época endividado e com inflação alta. Em vez de análise objetiva, ele acusou o país de ser "primitivo" em seu nacionalismo. Respondi que primitivo era um país que não tinha consolidado o Estado nacional, como a Espanha.
A Espanha é um grande país, com sua magnífica diversidade regional, mas revisita agora, em época de crise, o fosso das suas divisões. Lembrei dessa conversa e de minha resposta atravessada vendo a Catalunha falar em separatismo.
A Catalunha é 20% do PIB espanhol e se sente injustiçada. Acredita que manda mais receitas para o governo central e recebe de volta menos do que deveria. Aqui, alguns estados também acham injusta a distribuição do bolo federativo, mas ninguém está falando em ser um novo país na América do Sul, como a Catalunha tem dito que será um novo país na Europa.
A fragmentação seria, se ocorresse, um espantoso desdobramento de uma crise que já coleciona uma sucessão de números trágicos, como a maior taxa de desemprego da zona do euro: 25,1%. Um em cada quatro espanhóis em condições de trabalhar não está em atividade. Só no segundo trimestre, o setor de serviços eliminou 500 mil vagas. Ao todo foram eliminadas 885 mil de junho a agosto.
A federação espanhola é bem diferente da nossa. Lá, os estados são chamados de "regiões autônomas", e não por acaso. Têm mais autonomia financeira e administrativa que no Brasil, mas vivem a estranha situação de pedir socorro ao governo central e, ao mesmo tempo, falar em separação. Ontem, mais duas províncias pediram ajuda.
Os dados da agência oficial de estatística da Catalunha, o Idescat, mostram que a perda de vagas na província é mais rápida do que no resto do país. O órgão executivo catalão, Generalitat, sustenta que tem feito mais aportes ao governo central do que deveria e que isso explica o forte déficit. Por falta de dinheiro, o governo chegou a suspender repasses a escolas, hospitais e entidades de assistência social este ano.
Os quatro maiores bancos da Espanha passaram no teste de estresse, mesmo assim a avaliação mais comum é que, querendo ou não, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, vai pedir socorro. O INE (Instituto Nacional de Estatística) informou que no segundo trimestre o PIB encolheu 1,3%, e os investimentos, 9,4%.
governo chegou a suspender repasses a escolas, hospitais e entidades de assistência social este ano.
Os quatro maiores bancos da Espanha passaram no teste de estresse, mesmo assim a avaliação mais comum é que, querendo ou não, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, vai pedir socorro. O INE (Instituto Nacional de Estatística) informou que no segundo trimestre o PIB encolheu 1,3%, e os investimentos, 9,4%.
Em junho, o governo espanhol conseguiu uma linha de crédito na Europa de 100 bilhões para socorrer o sistema financeiro. Já anunciou que gastará ¬ 60 bilhões, mas os economistas acham que novos aportes são necessários.
- Problemas bancários são muito dinâmicos. O governo pode injetar dinheiro e sanear os bancos, mas se a inadimplência se elevar, se os saques continuarem, os buracos aparecem novamente e mais dinheiro terá que ser dado. A corrida bancária na Espanha tem sido lenta, mas contínua - disse a economista Monica de Bolle, da Galanto.
O povo catalão programa fazer um referendum sobre a independência e isso levou o rei Juan Carlos a se manifestar. Em carta, disse que o pior que os espanhóis podem fazer é "dividir forças, incentivar divisões, perseguir quimeras e avivar feridas".
Os economistas ouvidos pelo "El País" dizem que se a Catalunha se separar ela quebra. Primeiro, porque terá que reconhecer a parte da dívida catalã que foi assumida pelo governo central e isso elevaria o endividamento a 80% do PIB. Segundo, porque ela teria dificuldade de se financiar já que sua avaliação de risco é a pior possível. Ou seja, a Espanha precisa manter unido o Estado nacional.
Aos trancos, mas vai - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 20/10
A popularidade da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, vai batendo recordes de baixa: chegou a 24,3% em setembro. E a economia dá sinais crescentes de fragilidade.
As cotações do dólar no câmbio negro, depois da repressão às casas de câmbio (cepo cambial), saltaram para 31% acima do piso do oficial. A inflação ronda os 22% a 25% ao ano. A admitida pelo governo não passa dos 9%. Há quatro semanas, o Fundo Monetário Internacional se viu obrigado a "mostrar cartão amarelo" ao governo de Cristina pelas manipulações estatísticas.
Os investimentos não saem, o superávit comercial, embora 8% maior do que em 2011, só se sustenta graças às travas sobre as importações e ao rígido cepo cambial. As despesas públicas, de 22% do PIB, em 2001, saltaram para 38% do PIB, dez anos depois - 0,8% abaixo da arrecadação. Cada vez mais o governo recorre às emissões de moeda para fechar as contas públicas. Enquanto isso, as finanças das províncias estão estranguladas. Há 3 dias, sem ter como obter moeda estrangeira, a província do Chaco pagou em pesos os US$ 250 mil correspondentes aos juros de uma dívida de US$ 23 milhões emitida em dólares, operação tecnicamente considerada calote.
Na área política, os problemas parecem aumentar. O sindicalismo não apoia mais o governo em ordem unida, como antes. É o que apontam desavenças públicas entre a presidente Cristina e o chefão dos caminhoneiros, Hugo Moyano. A demissão de dois comandantes militares após a apreensão por sentença judicial do barco-escola argentino Libertad, em Gana, parece apontar para a existência de rachaduras nas Forças Armadas.
Mas o que significa isso? Quer dizer que o arranjo econômico da Argentina está se desfazendo? "Não", garante Dante Sica, da Consultoria Abeceb.
Um conjunto de ventos favoráveis mantém no alto a pipa do governo de Cristina. O primeiro é climático. A volta do fenômeno El Niño promete chuvas abundantes na Pampa Húmeda. Isso deve produzir safras recordes, com a bênção dos preços altos - efeito da seca no Centro-Oeste dos Estados Unidos. Mais exportações garantirão mais receitas em moeda estrangeira. E mais arrecadação, graças às retenciones (imposto sobre exportações).
O prometido empurrão no PIB do Brasil é visto com ansiedade pela indústria. Deverá assegurar mais encomendas. O banco central terá de emitir 70 bilhões de pesos para cobrir o déficit das contas públicas em 2013, mas não há risco de cavalgada da inflação para além dos níveis atuais. A necessidade de moeda estrangeira para resgate de dívida pública externa será inferior (cerca da metade dos US$ 8,4 bilhões desembolsados em 2012). Não há vencimento previsto dos Boden 12 (principal título) e os controles cambiais seguirão fazendo o resto do serviço, avisa Dante Sica.
O achatamento dos preços da moeda estrangeira (valorização do peso) traz, sim, novas distorções, como redução da competitividade do produto industrializado, mas, em compensação, contribui para impedir descontrole da inflação. Embora aumente o rombo das contas públicas e iniba investimentos, a compressão das tarifas públicas, por sua vez, contribui para conter descontentamentos.
Em outubro de 2013, haverá eleições para renovação do Congresso. Até lá, o governo de Cristina fará de tudo para manter a maioria de que hoje dispõe. Para isso conta com a fragilidade e a pulverização da oposição a seu governo, explica Sica.
CLAUDIO HUMBERTO
“A pauta do povo não é a briga dos políticos”
Eduardo Campos, governador de Pernambuco, cujo PSB derrotou o PT no Recife
DOIS EX-MINISTROS PROCESSADOS POR IMPROBIDADE
Os ex-ministros Eliseu Padilha (Transportes) e Eduardo Jorge Caldas Pereira (Secretaria-Geral da Presidência) serão julgados por improbidade administrativa, acusados de fraude num acordo do extinto DNER e a empresa 3 Irmãos, que culminou no “escândalo dos precatórios”. A Justiça Federal acatou a denúncia, em 2003, do Ministério Público Federal. Ambos foram ministros do governo FHC.
PRECATÓRIOS
Segundo o MPF, lobistas e servidores recebiam propina para pagar indenizações judiciais milionárias, furando a fila dos “mortais”.
BRIGA ANTIGA
Eduardo Jorge, o “EJ”, trava há anos uma briga judicial contra procuradores federais acusados de persegui-lo.
MANJADO PELO MPF
O controvertido Eliseu Padilha, dirigente do PMDB, sempre teve seu nome envolvido em denúncias de irregularidades no governo FHC.
DINHEIRO NO LIXO
O Ministério do Trabalho gastou uma fortuna para “modernizar” seu protocolo online, mas o serviço é ruim, raramente funciona.
EFRAMOVICH LEVARÁ A TAP POR ACEITAR ‘CONTRAPESO’
O empresário colombo-brasileiro German Eframovich, dono da Avianca, poderá adquirir a TAP porque aceitou incluir no negócio a deficitária VEM, antiga empresa de manutenção da Varig adquirida há anos pela companhia aérea portuguesa. Essa condição, imposta pelos controladores da TAP, foi rejeitada pelos nove grupos interessados. Com isso, sobrou apenas Eframovich na disputa pela aquisição.
MICO DA VARIG
A TAP comprou a VEM após o ex-presidente da Vargi Fernando Pinto assumir a presidência da empresa aérea portuguesa. Foi um erro.
HISTÓRIA DE SUCESSO
O arrojado German Eframovich começou a vida vendendo livros. Hoje, entre outros negócios, é dono de empresas aéreas e constroi navios.
MINA DE OURO
A TAP é a empresa estrangeira que mais tem voos para o Brasil. Suas linhas para todo o planeta estão entre os seus principais trunfos.
GAZETA PUNIDA
A turma do presidente demitido do INSS Mauro Hauschild diz que ele foi vítima de “golpe”, para que o ministro Garibaldi Alves (Previdência) nomeasse seu chefe de gabinete para o cargo. Lorota. Ele foi demitido porque se ausentou do trabalho para fazer campanha municipal no Sul.
ESPELHO MEU
Os leitores desta coluna souberam primeiro, terça (16), que Dilma decidira demitir Mauro Hauschild da presidência do INSS. Ela queria Carlos Bagas no cargo, mas acolheu depois a indicação do PMDB.
JUSTA CAUSA
Após o caso do avião com pneu furado que paralisou o aeroporto de Campinas (SP), o diretor de Operações da Infraero, Márcio Jordão, e a cúpula da estatal colocaram as respectivas barbas de molho. É que “madame”, como chamam Dilma, poderá demitir toda a direção.
NO LIMBO
A OAB-MS cobra do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) a regularização do refúgio político de dois bolivianos que pediram asilo há mais de um ano. O Conare culpa a “grande demanda” de haitianos.
AFUNDANDO
O deputado Maurício Trindade (PR-BA) diz que seu partido acabou em Salvador, e culpou o presidente estadual, ex-governador carlista César Borges. O PR pode não ter candidato a deputado estadual em 2014.
O DIABO NO SINDICATO
O Tribunal Superior do Trabalho confirmou a demissão por justa causa de um ex-diretor do Sindicato dos Bancários de Jequié (BA), ligado à CUT, que tratava aos pontapés clientes idosos, grávidas e até chefes.
NOVO GOLPE
Fingindo ser o deputado Joaquim Beltrão (PSDB-AL), alguém mandou mensagem ao deputado Moreira Mendes (PSD-RO) pedindo dinheiro para compra de uma passagem. Desconfiado, Mendes ligou para o colega, que desmentiu o pedido. A Polícia suspeita de presidiários.
ESTRANHO PROJETO
A Câmara Legislativa do DF estranhou projeto do governo negativando “contribuintes com dívidas fiscais de até
R$ 5 mil. Empresas, inclusive do governo, são os maiores devedores, diz a deputada Liliane Roriz.
PENSANDO BEM...
...Ficar sem luz por causa de novela só aconteceria na Idade das Trevas.
PODER SEM PUDOR
UM DEFUNTO DECENTE
O senador gaúcho Pinheiro Machado marcou uma visita ao hotel onde estava o seu colega Bernardo Monteiro, no Rio de Janeiro. O anfitrião o recebeu vestindo ceroulas comuns e ele não conteve a observação:
- Bernardo, você precisa estar preparado para morrer na rua. Vista-se de seda por baixo. Seja um cadáver decente.
Pinheiro Machado seria assassinado alguns anos depois, no Hotel dos Estrangeiros, no Rio. Vestia ceroulas de seda.
Eduardo Campos, governador de Pernambuco, cujo PSB derrotou o PT no Recife
DOIS EX-MINISTROS PROCESSADOS POR IMPROBIDADE
Os ex-ministros Eliseu Padilha (Transportes) e Eduardo Jorge Caldas Pereira (Secretaria-Geral da Presidência) serão julgados por improbidade administrativa, acusados de fraude num acordo do extinto DNER e a empresa 3 Irmãos, que culminou no “escândalo dos precatórios”. A Justiça Federal acatou a denúncia, em 2003, do Ministério Público Federal. Ambos foram ministros do governo FHC.
PRECATÓRIOS
Segundo o MPF, lobistas e servidores recebiam propina para pagar indenizações judiciais milionárias, furando a fila dos “mortais”.
BRIGA ANTIGA
Eduardo Jorge, o “EJ”, trava há anos uma briga judicial contra procuradores federais acusados de persegui-lo.
MANJADO PELO MPF
O controvertido Eliseu Padilha, dirigente do PMDB, sempre teve seu nome envolvido em denúncias de irregularidades no governo FHC.
DINHEIRO NO LIXO
O Ministério do Trabalho gastou uma fortuna para “modernizar” seu protocolo online, mas o serviço é ruim, raramente funciona.
EFRAMOVICH LEVARÁ A TAP POR ACEITAR ‘CONTRAPESO’
O empresário colombo-brasileiro German Eframovich, dono da Avianca, poderá adquirir a TAP porque aceitou incluir no negócio a deficitária VEM, antiga empresa de manutenção da Varig adquirida há anos pela companhia aérea portuguesa. Essa condição, imposta pelos controladores da TAP, foi rejeitada pelos nove grupos interessados. Com isso, sobrou apenas Eframovich na disputa pela aquisição.
MICO DA VARIG
A TAP comprou a VEM após o ex-presidente da Vargi Fernando Pinto assumir a presidência da empresa aérea portuguesa. Foi um erro.
HISTÓRIA DE SUCESSO
O arrojado German Eframovich começou a vida vendendo livros. Hoje, entre outros negócios, é dono de empresas aéreas e constroi navios.
MINA DE OURO
A TAP é a empresa estrangeira que mais tem voos para o Brasil. Suas linhas para todo o planeta estão entre os seus principais trunfos.
GAZETA PUNIDA
A turma do presidente demitido do INSS Mauro Hauschild diz que ele foi vítima de “golpe”, para que o ministro Garibaldi Alves (Previdência) nomeasse seu chefe de gabinete para o cargo. Lorota. Ele foi demitido porque se ausentou do trabalho para fazer campanha municipal no Sul.
ESPELHO MEU
Os leitores desta coluna souberam primeiro, terça (16), que Dilma decidira demitir Mauro Hauschild da presidência do INSS. Ela queria Carlos Bagas no cargo, mas acolheu depois a indicação do PMDB.
JUSTA CAUSA
Após o caso do avião com pneu furado que paralisou o aeroporto de Campinas (SP), o diretor de Operações da Infraero, Márcio Jordão, e a cúpula da estatal colocaram as respectivas barbas de molho. É que “madame”, como chamam Dilma, poderá demitir toda a direção.
NO LIMBO
A OAB-MS cobra do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) a regularização do refúgio político de dois bolivianos que pediram asilo há mais de um ano. O Conare culpa a “grande demanda” de haitianos.
AFUNDANDO
O deputado Maurício Trindade (PR-BA) diz que seu partido acabou em Salvador, e culpou o presidente estadual, ex-governador carlista César Borges. O PR pode não ter candidato a deputado estadual em 2014.
O DIABO NO SINDICATO
O Tribunal Superior do Trabalho confirmou a demissão por justa causa de um ex-diretor do Sindicato dos Bancários de Jequié (BA), ligado à CUT, que tratava aos pontapés clientes idosos, grávidas e até chefes.
NOVO GOLPE
Fingindo ser o deputado Joaquim Beltrão (PSDB-AL), alguém mandou mensagem ao deputado Moreira Mendes (PSD-RO) pedindo dinheiro para compra de uma passagem. Desconfiado, Mendes ligou para o colega, que desmentiu o pedido. A Polícia suspeita de presidiários.
ESTRANHO PROJETO
A Câmara Legislativa do DF estranhou projeto do governo negativando “contribuintes com dívidas fiscais de até
R$ 5 mil. Empresas, inclusive do governo, são os maiores devedores, diz a deputada Liliane Roriz.
PENSANDO BEM...
...Ficar sem luz por causa de novela só aconteceria na Idade das Trevas.
PODER SEM PUDOR
UM DEFUNTO DECENTE
O senador gaúcho Pinheiro Machado marcou uma visita ao hotel onde estava o seu colega Bernardo Monteiro, no Rio de Janeiro. O anfitrião o recebeu vestindo ceroulas comuns e ele não conteve a observação:
- Bernardo, você precisa estar preparado para morrer na rua. Vista-se de seda por baixo. Seja um cadáver decente.
Pinheiro Machado seria assassinado alguns anos depois, no Hotel dos Estrangeiros, no Rio. Vestia ceroulas de seda.