sábado, outubro 20, 2012

Em direção à paz - HÉLIO SCHWARTSMAN

FOLHA DE SÃO PAULO - 20/10


SÃO PAULO - Sou fã da União Europeia e, por isso, vou-me permitir ser cruel com ela -e com o comitê que lhe conferiu o Nobel da Paz.

Hoje, nem o mais rematado entusiasta do bloco diria que a unificação monetária foi um sucesso. A crise gerada por um sistema pobremente concebido está aí e suas sequelas deverão perdurar por vários anos.

Diante do fiasco econômico, os noruegueses quiseram dar uma injeção de ânimo no bloco outorgando-lhe a láurea. Para justificar a decisão, recorreram à política, afirmando que o resultado mais importante da UE é "o bem-sucedido esforço para a paz e a reconciliação e para a democracia e os direitos humanos".

Receio que tenham tomado um efeito por causa. Longe de mim sugerir que a UE não tenha contribuído em nada para a era de paz, normalidade democrática e respeito aos direitos humanos vivida pela Europa. Penso, porém, que a formação do bloco é mais um sintoma dessa bonança política do que sua origem.

Meu argumento, retirado de "The Better Angels of our Nature", de Steven Pinker, é o de que, se há um fator que, em tempos modernos, serviu para evitar guerras é a democracia. Não porque ela tenha poderes mágicos, mas porque leva em conta a opinião dos cidadãos, que são os que de fato sofrem com conflitos. Entidades supranacionais como a UE ajudam, mas elas próprias só costumam surgir depois que seus membros atingiram alguma segurança institucional.

Como já sugeria Kant, a receita para a paz tem três ingredientes: democracia, comércio e envolvimento com a comunidade internacional. Analisando dados históricos, pesquisadores concluíram que, quando dois países estão entre os 10% superiores na escala dessas variáveis, suas chances de enfrentar-se num conflito militarizado são 83% menores do que as de um par qualquer de nações.

Não sou contra premiar a UE nesta hora difícil, mas o comitê poderia produzir uma justificativa melhor.

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