O Estado de S. Paulo - 12/03/12
Em setembro de 2009, o Banco Central (BC) colocou a taxa básica de juros em 8,75% ao ano. Até aqui, é o recorde de baixa desde a introdução do regime de metas de inflação no Brasil, a partir de janeiro de 1999, no governo Fernando Henrique Cardoso. Pois parece que o atual Banco Central caminha para pelo menos igualar esse recorde. Na semana passada, reduziu a taxa para 9,75% e indicou que está preparando novas quedas.
No atacado, os argumentos - e a aposta - são parecidos. Crise mundial, crescimento baixo no Brasil, inflação desacelerando.
Neste quadro, a redução dos juros locais fez parte de uma ampla política de estímulo a investimentos e consumo, mais este último, com base em mais gasto do governo, crédito público subsidiado ou não e facilidades para a tomada de crédito - a receita clássica.
Para 2009, não deu para salvar. O Brasil enfrentou uma recessão. E a inflação se comportou um pouco abaixo da meta de 4,5%. Mas 2010, por sinal um ano eleitoral, saiu muito bem: o País cresceu 7,5%, nisso replicando o movimento de forte recuperação na economia mundial. Só que a inflação brasileira foi lá para cima. Terminou 2010 com 5,9%, mas entrou acelerada no ano passado.
Ou seja, o País não comportou, mais uma vez, uma forte aceleração do crescimento. Tanto que, em abril de 2010, o Banco Central já começava a subir os juros, e foi numa escalada até os 12,5%.
É muito provável que a história se repita nesta nova tentativa de colocar os juros lá embaixo. E deve ser um problema maior ainda. Reparem: a crise mundial hoje é muito mais leve que a de 2009, quando se estava no auge dos efeitos recessivos do colapso do crédito. O crescimento brasileiro, hoje, embora tenha desacelerado, é muito mais forte do que o de três anos atrás. E a inflação corrente e as expectativas são mais altas hoje do que naquela época.
O governo pode dizer que os estímulos totais ao crescimento são menos intensos. Verdade. Mas o ambiente econômico geral responde mais rápido hoje.
Como em 2009, o governo está muito assustado com a possibilidade de enfrentar um período de baixa num ano eleitoral. Assim, acaba entrando num vale tudo.
O que se pode concluir disso tudo, para além do dia a dia? Eis uma sugestão: os últimos anos mostraram que a capacidade de crescimento do Brasil melhorou, basicamente a partir da estabilidade macroeconômica e da onda global provocada pela fortíssima expansão chinesa. Mas também tivemos vários momentos para mostrar que o Brasil não cresce mais que 4,5% sem gerar mais inflação. Reparem de novo: em 2009, com uma recessão, queda do produto de 0,6%, ainda tivemos inflação de 4,3%, muito alta para tão pouca atividade.
Já na sequência do forte crescimento de 2010, a inflação em 12 meses simplesmente ultrapassou os 7%. E no ano passado, com a expansão pífia de 2,7%, a inflação bateu nos 6,5%, o teto da margem de tolerância.
Como o governo e o Banco Central dizem hoje, direta ou indiretamente, que privilegiam o crescimento, então vai dar inflação mais alta. Até um certo nível, leva-se, mas logo fica pesado e o Banco Central tem de voltar a subir os juros e cortar estímulos.
Ou seja, nos anos recentes, não se fez mais nada de importante para elevar a capacidade de crescimento do País. Nada que elevasse o nível geral de investimentos e reduzisse o pesado custo Brasil.
O governo Dilma - até aqui, ao menos - indica não ter plano de voo de longo prazo. Vai lidando com o dia a dia. A questão, hoje, é saber quanto de inflação vai topar.
Quanto vale? O vilarejo Nicolas - Courbefy fica a 280 km de Paris, tem apenas 19 casas, todas datadas do século 16, assim como o entorno urbano. Está à venda. Sim, todo o vilarejo.
Ocorre que as famílias foram se mudando para a cidade e não ficou ninguém por lá. Conseguiram, porém, se colocar de acordo para vender a coisa toda. A ideia parece clara. O conjunto pode dar um ótimo resort, um parque ou mesmo a sede de uma grande empresa que funcione por ali. A propósito, tem um aeroporto próximo, o de Limoges, a apenas 32 km.
Quanto vale? Exatos US$ 400 mil. Quer dizer, esse foi o preço pedido no primeiro leilão, por meio de um endereço eletrônico encontrado pela colaboradora desta coluna, Karen Iscafh (*).
E querem saber? Não teve lance, pelo menos até a sexta-feira passada.
Até dá para entender. A França está em recessão, como toda a zona do euro. Houve perda de renda e desemprego alto - não é um bom momento para iniciar um investimento que certamente seria pesado.
Mas, gente, vamos reparar no preço. Dá uns R$ 700 mil, valor que estão pedindo, por exemplo, por um apartamento razoável, usado, de três quartos, em Pinheiros. E sai negócio.
Não tem algo errado aí? Pelo preço de um apartamento médio em São Paulo, compra-se uma vila com 19 casas na França.
Na verdade, são duas coisas erradas. Lá, barato e sem mercado. Aqui, um absurdo com venda.
A França pode estar barata, mas o Brasil está certamente muito caro.
Tem outro exemplo recente: um amigo vendeu um quarto - e sala em Copacabana, mas daqueles apartamentos que só têm vista para as paredes do prédio ao lado, e comprou um dois quartos - sala - cozinha ampla - vaga na garagem, com magnífica vista para o mar.
E ainda colocou um troco no bolso.
Pode?