segunda-feira, agosto 27, 2012

Biodiesel fluminense - GEORGE VIDOR


O GLOBO - 27/08

A primeira fábrica em território do Estado do Rio poderá usar microalgas como matéria-prima, uma inovação no setor

Grande parte do biodiesel consumido na região Sudeste vem do Centro-Oeste. Pelas regras atuais, as distribuidoras buscam o biodiesel diretamente nas fábricas, para depois misturá-lo ao óleo derivado do petróleo, em uma proporção máxima de 5%. Esse passeio cria dificuldades logísticas e ainda provoca queima considerável de combustível, pois o biodiesel é transportado por centenas de quilômetros (ou até milhares), em caminhões. Um investidor de Duque de Caxias, com experiência no ramo, identificou na substituição desse "passeio" uma oportunidade de negócio, e resolveu apostar numa fábrica no Rio de Janeiro. Recebeu apoio da Secretaria de Ciência e Tecnologia do Estado e da UFRJ, e com recursos próprios investiu R$ 32 milhões na montagem de uma indústria, no município de Porto Real, que começará a funcionar em outubro, assim que obter as licenças da Agência Nacional de Petróleo (ANP).

A fábrica sozinha terá condições de abastecer todo o consumo de biodiesel no Estado do Rio, pois sua capacidade será de 100 milhões de litros por ano. Em um primeiro estágio usará diferentes tipos de óleo como matéria-prima, exceto o de mamona, cuja viscosidade não é considerada a mais adequada. A alma tecnológica dessa primeira indústria fluminense de biodiesel é a automação. Um software poderoso, patenteado no Brasil, fará o ajuste das viscosidades para se chegar ao produto final. Capitaneado por Nelson Furtado, PhD que coordena o programa de biodiesel da Secretaria, e que há anos anos participa na UFRJ de pesquisas ligadas a esse tipo de combustível, o projeto foi inovador em todas suas etapas, desde a escolha do local (aproveitando instalações de outra fábrica que não fora adiante) até a reutilização de equipamentos adquiridos por empreendedores que desistiram no meio do caminho. Com isso, o investimento diminuiu. Tem empresa conceituada, grande, que investiu três vezes mais e produz menos que o previsto para a indústria de Porto Real.

O pulo do gato será a utilização de microalgas como matéria-prima em futuro próximo. A tecnologia já foi testada em laboratório e pequena escala pela Coppe e a Escola de Química, da UFRJ. Como subproduto do óleo retirado das microalgas (que capturam também CO2 da atmosfera), haverá uma ração líquida ótima para alimentar peixes em cativeiro. Nelson Furtado estima que com esse programa de biodiesel deixarão de ser lançados na atmosfera 250 mil toneladas de gases causadores do efeito estufa, habilitando o estado a receber US$ 1,5 milhão em créditos de carbono.

Mais um megaprojeto

O que tem a ver a Festa do Peão Boiadeiro, em Barretos, com a produção de celulose no Mato Grosso do Sul? Aparentemente nada, a não ser o fato de que os últimos grandes equipamentos (turbogeradores) para uma nova fábrica em Três Lagoas estão sendo transportados por estradas que passam por essa região do interior de São Paulo. Por via das dúvidas, as autoridades policiais pediram que o transporte fosse interrompido durante a Festa, para evitar acidentes. Mas é um pequeno atraso que não impedirá o funcionamento, até o fim do ano, da enorme fábrica de celulose da Eldorado, em Três Lagoas. De uma única linha de produção, que será a maior do país, sairá cerca de 1,5 milhão de toneladas de celulose por ano. O projeto envolve o plantio de eucaliptos em 150 mil hectares de fazendas antes ocupadas pela criação de gado. Do investimento total de R$ 6,2 bilhões, R$ 800 milhões se destinaram à construção de um centro logístico e à compra de locomotivas, vagões e barcaças que transportarão os fardos de celulose por hidrovia e duas linhas de trem (ALL e MRS) até o porto de Santos, onde a Eldorado tem um terminal marítimo próprio. Cerca de 95% da produção da celulose de fibra curta serão destinados à exportação, de modo que a Eldorado já nascerá faturando mais de US$ 1 bilhão por ano, além de ser autossuficiente - na verdade, superavitária - em energia elétrica, pelo aproveitamento de biomassa.

Três Lagoas hoje é um canteiro de obras. É provável que a maioria dos dez mil trabalhadores ocupados hoje no projeto da Eldorado siga empregada, na implantação da futura fábrica de fertilizantes (ureia e amônia) da Petrobras. O investimento da Eldorado na parte florestal (orçado em R$ 900 milhões) terá de continuar, pois já no ano que vem a empresa terá de iniciar o plantio de mais 150 mil hectares se quiser cumprir a meta de dobrar a produção de celulose em cinco anos. Uma terceira etapa está projetada para 2021. Se concluído todo esse cronograma, o investimento total chegará a R$ 21 bilhões, e tornará a empresa a segunda maior produtora de celulose no país, atrás apenas da Fibria. A Eldorado é uma sociedade do grupo agropecuário J&F com os fundos de pensão Petros e Funcef. O principal executivo é José Carlos Grubisich, ex-Braskem e ex-ETH.

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