terça-feira, abril 03, 2012
A dependência de Cuba - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 03/04/12
O fracasso do planejamento econômico central em Cuba parece ter sido, afinal, reconhecido até pelos chefes da ditadura. Pragmático, Raúl Castro dá curso a uma abertura à iniciativa privada e aos investimentos externos.
O objetivo é dar algum dinamismo à economia cubana, ao mesmo tempo em que se preserva inalterada a ordem política. É improvável, porém, que essa reforma "chinesa" encontre ali sucesso similar ao obtido, por exemplo, pelo Vietnã.
O país do Sudeste Asiático, ainda sob domínio do Partido Comunista, foi citado como exemplo bem-sucedido de abertura para o mercado por Pavel Alejandro Vidal, da Universidade de Havana, em entrevista a esta Folha.
Desde meados dos anos 1980, dirigentes vietnamitas têm estimulado a instalação de empresas manufatureiras. A partir da década de 1990, o produto do país cresceu, em vários anos, a velocidades comparáveis às da China.
O economista cubano aponta, no entanto, o limite imposto às expectativas dos irmãos Castro.
Há uma questão de geografia econômica: o Vietnã está na Ásia; Cuba, na América Latina. A economia vietnamita se insere na divisão da produção de manufaturas do leste asiático. Sua mão de obra barata estimula investimentos em indústrias baseadas no uso intensivo do trabalho, que se deslocam para lá desde a China, onde o salário dos operários tem crescido. Os principais parceiros comerciais do Vietnã são a própria China, o Japão e a Coreia do Sul.
Cuba, de sua parte, está isolada, entre outras razões, por força do injustificável embargo imposto pelos EUA. Depende agudamente da Venezuela de Hugo Chávez.
O petróleo, comprado em condições facilitadas do parceiro sul-americano, ressalta Vidal, representa metade das importações cubanas. Em contrapartida, a ilha exporta o serviço de mais de 30 mil médicos para socorrer a "revolução bolivariana" de Chávez.
Se o caudilho venezuelano deixar o poder, por qualquer razão, Cuba perderia seu favor e receita anual de US$ 6 bilhões -o triplo do que lhe traz o turismo. O impacto seria catastrófico, como o da decadência do comunismo, que extinguiu a ajuda da União Soviética.
Apesar da retórica reformista, Cuba reincide num erro. Raúl e Fidel Castro se mostraram lentos até aqui na reação à derrocada soviética e, em lugar de acelerar a volta da economia de mercado, atrelaram o destino do país ao de um líder estrangeiro de futuro incerto.
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