segunda-feira, outubro 17, 2011

GUILHERME FIUZA - Passeatas de feriado acabam em pizza

Passeatas de feriado acabam em pizza
GUILHERME FIUZA
REVISTA ÉPOCA

O Movimento Brasil Contra a Corrupção saiu de novo às ruas. Depois das manifestações do 7 de setembro, foi a vez do 12 de outubro. De feriado em feriado, os novos ativistas da ética vão fazendo seu chamado pelas redes sociais, varrendo o país com uma nova onda: a rebeldia inofensiva. Em Brasília, os manifestantes levaram uma pizza cenográfica ao Congresso Nacional - simbolizando, segundo um dos organizadores do protesto, "as CPIs que não dão em nada". Os parlamentares poderiam ter devolvido a pizza aos manifestantes, simbolizando "os protestos que não dão em nada".
Poderiam, mas não se deram ao trabalho, até porque era feriado. Mais confortável assistir pela televisão a esse carnaval fora de época. Para os deputados do Conselho de Ética, por exemplo, que inocentaram Valdemar Costa Neto (PR-SP) do escândalo do Dnit e foram esquecidos pelos justiceiros, esses desfiles são diversão garantida. Não pode haver nada mais relaxante do que barrar as investigações do maior caso de corrupção do ano e depois assistir, numa boa, a um protesto genérico "contra os corruptos" (talvez os de Marte).
A esta altura, um dos maiores simpatizantes do Movimento Brasil Contra a Corrupção deve ser o presidente do Senado, JOSÉ SARNEY. Numa entrevista antológica ao jornal Zero Hora, Sarney explicou que seu passeio à Ilha de Curupu num helicóptero do Estado foi uma homenagem à democracia. Eis sua lógica:
- Quando a legislação diz que o presidente do Congresso tem direito a transporte de representação, estamos homenageando a democracia, cumprindo a liturgia das instituições. Por conta das prerrogativas do cargo, tenho direito a transporte de representação. Andei em um helicóptero do governo do Estado, não era particular.
É mesmo uma bela homenagem à democracia. Para presidir o Congresso (em Brasília), o senador precisa que um helicóptero da Polícia Militar (do Maranhão) o leve a sua casa de veraneio, que ninguém é de ferro. Certamente, a doce brisa de Curupu tem sua função no bom funcionamento do legislativo brasileiro. Sombra e água fresca são essenciais na liturgia das instituições. É bem verdade que um pedreiro ferido teve de esperar terminar o passeio de Sarney para ser socorrido pelo helicóptero da PM. Mas os pedreiros precisam aprender que não podem interromper uma homenagem à democracia.
A única imprecisão na explicação do senador está na ressalva de que a aeronave "não era particular". Pura modéstia. Sarney e o Estado brasileiro vivem em comunhão de bens, como todos viram no caso Agaciel Maia. O dublê de diretor do Senado e despachante do presidente zelava pelos interesses da família Sarney e de seus amigos na máquina do Legislativo. Tudo era feito por meio de atos secretos - ou seja, as vantagens e nomeações públicas eram tão particulares quanto o helicóptero do Estado.
Aí o esquema de Agaciel vazou e o Brasil se meteu no que não era de sua conta, invadindo a privacidade dos Sarneys em seu puxadinho estatal. Mas a Justiça, em mais uma homenagem particular à democracia, proibiu o jornal O Estado de S. Paulo de publicar sua série de reportagens sobre o caso. Naturalmente, nenhuma frente carnavalesca contra a corrupção foi às ruas para derrubar a censura. No palco do Rock in Rio, o cantor Dinho Ouro Preto, da banda Capital Inicial, reagiu dedicando a Sarney a música "Que país é esse?".
No final, ficou tudo bem. O Superior Tribunal de Justiça declarou nulas todas as provas contra Fernando Sarney (o filho e operador), e JOSÉ SARNEY respondeu placidamente ao cantor no Zero Hora: disse que Dinho foi injusto, porque seu governo (1985-1989) contribuiu para "a maior liberdade de expressão que já tivemos no país".
Com tantas homenagens à liberdade e à democracia, Sarney não consegue bons sócios apenas nos poderes Legislativo e Judiciário. Assim como o deputado Valdemar Costa Neto, é acionista majoritário do governo Dilma. Está entre os pilares do projeto de divisão do Estado brasileiro em "modernas" capitanias hereditárias, onde os companheiros donatários são cada vez mais criativos na arte de ordenhar os cofres públicos.
Sarney só tem um defeito: é invisível ao movimento das vassouras e pizzas cenográficas.
As redes sociais também devem estar respeitando a liturgia das instituições.

LÚCIA GUIMARÃES - Tamanho é documento


Tamanho é documento 
 LÚCIA GUIMARÃES
O ESTADÃO - 17/10/11

A polícia de Nova York já registra 20 casos de ataques sexuais a mulheres no Brooklyn; num deles o agressor conseguiu estuprar a vítima. A prisão de um homem latino de 26 anos não trouxe tranquilidade ao bairro porque os policiais suspeitam que pelo menos mais três homens possam estar envolvidos nos ataques, desde março.

Há um padrão nos crimes - o homem se aproxima por trás da mulher que sai de uma estação do metrô à noite e aperta sua garganta. Várias mulheres conseguiram evitar o estupro porque gritaram e correram. As delegacias do Brooklyn não registraram nenhum caso de vítima que se rendeu, agradecida porque era considerada feia. Nenhuma deu "graças a Deus" por concluir que não havia sido vítima de um crime e sim de "uma oportunidade", contrariando uma tentativa de fazer humor sobre o estupro, publicada pela revista Rolling Stone brasileira, que bateu num iceberg de crassidade e afundou como o Titanic.

Aqui da capital do humor no continente, onde a pena afiada de um exército incomparável de redatores faz justiça à linhagem que começou com Mark Twain, mal consigo ensaiar um sorriso amarelo diante do que se considera a emergência de um tipo de humor em português. E não consigo entender porque escrever bem, com inteligência, e não humilhar - tanto os humildes quanto os poderosos - é uma expectativa politicamente correta. Alhos com bugalhos, é o que me parece esta discussão que mistura a repressão boba ao comercial da Gisele Bündchen aos limites da civilidade no humor.

Em 1996, perguntei a Woody Allen, que estava na minha frente gripado e, portanto, de mau humor, se havia algum limite para o tema de uma piada. Ele disse que não. "Você pode fazer piada sobre tudo, até câncer." Não entendi tão bem na época quanto entendo hoje. E concordo plenamente com Woody Allen. Mas, além de ser um grande escritor de humor, Allen não tenta humilhar seu público.

Alguém se lembra da cena lamentável em que o alquebrado ator Charlton Heston sofre uma emboscada de Michael Moore em Tiros em Columbine? O diretor precisava recorrer à desonestidade para colocar na tela seu argumento contra as armas de fogo? Para os que discordam, sugiro alugar o DVD de Sob a Névoa da Guerra, de Errol Morris, uma denúncia magistral da guerra que não cede nenhum território à integridade do diretor.

Mas voltemos ao humor. O humor que denuncia hipocrisia ou a malfeitoria política pode ser muito mais do que hilariante. É uma arma poderosa nas mãos de quem conhece a própria língua e não tem a ilusão de que a condição de artista de performance suspende sua humanidade.

Na nossa cultura cartorial, onde o impulso é legislar sobre tudo, criticar vira sinônimo de reprimir. Mediocridade atrevida pode ser confundida com rebelião.

E, como sói acontecer entre nós, êta povo novidadeiro, somos levados de enxurrada por tudo o que está "trending". Não uso a igualmente significativa palavra tendência porque, assim como "moda", um substantivo mais do que eficaz, foi ridiculamente aposentado por "fashion", como se a nossa semântica estivesse bichada, falar em "trending" é o sinal de que você está se referindo ao Twitter ou alguma mídia social. E, desta diferença entre tendência e trending, surge a questão que, ao contrário do "vascularizado" membro cuja descrição não solicitada foi oferecida a uma jornalista brasileira, continua presa no zíper da braguilha: nosso pavor da exclusão. Perder patrocinadores, perder seguidores no Twitter, perder a berlinda disputada no topo do "trending" - são temores que parecem cancelar nosso senso de história, pessoal ou coletiva e, no fim das contas, nossa independência de opinião.

Um falecido humorista brasileiro, que faria a barba, o cabelo e o bigode de qualquer contemporâneo, cunhou um oxímoro delicioso para descrever sua desconfiança de celebridades da palavra. "Basta ler meia página do livro de certos escritores para perceber que eles estão despontando para o anonimato", dizia Stanislaw Ponte Preta, o Sérgio Porto. No neo-elitismo do Brasil, onde tendência virou trending, o anonimato é uma lepra e a celebridade viral uma nova forma de intimidação.

PAULO GUEDES - O Ocidente entre a Grande Pedalada e a Grande Freada

O Ocidente entre a Grande Pedalada e a Grande Freada
PAULO GUEDES
REVISTA ÉPOCA

Há uma nova ordem econômica mundial em formação. O colapso da ordem socialista deserdou 3 bilhões de eurasianos. O mergulho dessa mão de obra e de seus fluxos de poupança nos mercados globais criou simultaneamente uma oportunidade de enriquecimento acelerado e um formidável desafio de integração da economia mundial.
A ampliação dos mercados com a globalização criou um universo econômico em expansão, com a possibilidade de ganhos para todos, mas também trazendo a ilusão de que não haveria dramáticos impactos sobre a antiga ordem ocidental. Os benefícios de um crescimento econômico sincronizado em escala global foram desfrutados no período de 2003 a 2007. A partir da crise de 2008-2009, porém, as modernas democracias liberais passaram a enfrentar uma guerra mundial por empregos. Percebe-se agora, em 2010-2011, que o mundo mudou - e não voltará a ser o mesmo.
A crise contemporânea resulta, de um lado, do afoito mergulho eurasiano nos mercados globais e, de outro, das tentativas de escape dos ocidentais às exigências de adaptação à nova ordem global. Com o Ocidente em transe dos dois lados do Atlântico, prossegue o comovente espetáculo de uma Grande Sociedade Aberta esvaindo-se, numa sangria desatada por seus próprios excessos financeiros.
A quebradeira imobiliária, as crises bancárias, o mergulho das Bolsas, a contração do crédito, a falência de governos nacionais e o colapso das dívidas soberanas são sintomas desses excessos - que foram muitos e cometidos por longo tempo. Foram devastadores os atentados de financistas anglo-saxões e de políticos social-democratas europeus contra o moderno regime de moeda fiduciária e o financiamento sustentável das redes de solidariedade que alicerçam nossa civilização.
Os americanos insistem em pedalar sistemas financeiros como bicicleta. Tentam evitar com dinheiro barato o fim de um longo ciclo de crescimento. Como se os juros baixos de Ben Bernanke pudessem substituir as inovações de Steve Jobs. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, tornou-se um soprador serial de bolhas. Abusa do poder de emitir a moeda reserva da economia mundial. Levanta pontes de papel para a riqueza, inflando e reinflando preços de ativos. As operações de salvamento de instituições financeiras excessivamente endividadas significam que os contribuintes americanos terão de garantir todo tipo de má aplicação de recursos, socializando perdas e transferindo riscos dos financistas para o governo. O excesso de poupança dos asiáticos financiou por décadas o extravagante consumo dos americanos, seus deficits fiscais e comerciais. Chegou a hora de pagar a conta.
Os europeus querem viver do Estado. Ou seja: à custa dos impostos pagos pelo trabalho alheio.
Abusaram de promessas feitas por governos demagógicos, que terão agora de ser bancadas por seus contribuintes. Empreguismo, corporativismo, inchaço burocrático, benefícios e aposentadorias irrealistas engordaram sem limites as despesas orçamentárias no paraíso perdido da social-democracia. E acordam agora trancados na jaula do euro. Os países da Europa descobrem, frustrados, que não dispõem sequer das alavancas keynesianas para a manutenção dos padrões de vida irrealistas prometidos pelos sociais-democratas. Diarreia monetária como os americanos? Nem pensar. Os alemães controlam a moeda e têm a memória das hiperinflações. Desvalorizações cambiais? Não há como. Não há sequer moedas nacionais. E também não há como expandir os gastos públicos, evangelho do brilhante Keynes em seu manual de combate às crises das sociedades em declínio em busca de paliativos de curto prazo. Pois, afinal, o longo prazo chegou... e estamos todos ainda vivos. Em tempos tão conturbados e extraordinários como os de hoje, diagnosticava Keynes, às portas da Grande Depressão: "O mundo enfrenta a maior catástrofe econômica já ocorrida, a maior ameaça à ordem social existente". Naquela época, "discutiu-se francamente a possibilidade de que a civilização ocidental tivesse sofrido colapso terminal", segundo o historiador Arnold Toynbee.
O pavor dos americanos é mergulhar de novo na Grande Depressão. Eles são ainda os mais empreendedores e inovadores representantes da Grande Sociedade Aberta ocidental. Mas são insensatas as doses cavalares de liquidez aplicadas pelo Fed ante a exaustão do mais longo ciclo de crescimento americano. Levaram ao estouro das bolhas, ao colapso das finanças públicas, à descrença nas autoridades pela socialização das perdas, à radicalização entre republicanos e democratas e a uma taxa de desemprego de quase dois dígitos.
Enquanto isso, o Banco Central Europeu (BCE) é criticado por não atuar de forma tão decisiva quanto o Fed para impedir o agravamento de crises de liquidez. A arquitetura de uma moeda supranacional como o euro dificulta operações de "salvamento" no curto prazo. Mas, ao mesmo tempo, impede uma rota de escape inflacionária que drible a disciplina fiscal de longo prazo. Com a austeridade, os alemães desfrutam a mais baixa taxa de desemprego dos últimos 20 anos. A moeda continental sob influência alemã funciona como um regime de metas de inflação e também como uma lei de responsabilidade fiscal entre os países europeus. Não será fácil tributar alemães para financiar gregos.
O sistema monetário americano é o da Grande Pedalada, que infla preços de ativos tentando escapar à insolvência. A inflação mundial perde suas âncoras, e em poucos anos viveremos o pesadelo do baixo crescimento econômico em meio a taxas de inflação crescentes. O sistema monetário europeu é o da Grande Freada, que exige desinflar as dívidas ante a perda de lastro causada pela queda de preço dos ativos. As expectativas inflacionárias permanecem ancoradas, mas as pressões deflacionárias mantêm a sombra das crises bancárias e a ameaça de uma grande recessão no futuro próximo. Os europeus sofrem mais no presente, os americanos sofrerão no futuro.

FELIPE PATURY - A Rio decola nos Correios


A Rio decola nos Correios
FELIPE PATURY
REVISTA ÉPOCA

A rede postal noturna tem novo dono. É a Rio Linhas Aéreas, do piloto de stock car William Starostik Filho e do empresário Leonardo Cordeiro. Os quatro contratos que a Rio já tem com os Correios somam R$ 185 milhões, ou 63% dos recursos destinados ao serviço aéreo noturno. Na semana passada, a Rio ganhou o quinto contrato. Quando ele começar a vigorar, suas vendas para a estatal serão acrescidas em R$ 79 milhões. Fundada há quatro anos no Paraná do ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, a Rio já é a maior empresa do Brasil em aviões de carga. Tem sete Boeings 727-200 e dois 767-200. Procurada, a Rio informou que, por dever contratual, não pode dar informações a respeito de sua relação com os Correios.

Os impostos do PTO PT quer marcar posição no debate da reforma tributária e, atenção, à revelia do governo. A bancada do partido na Câmara apresentará um projeto que inclui a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a cesta básica e vestuário. As alíquotas das contribuições PIS, Pasep e Cofins também caem. Ressuscitando bandeiras petistas esquecidas na Esplanada, o projeto prevê a taxação de ganhos de capital, de investimentos estrangeiros em títulos públicos e a criação de um imposto sobre grandes fortunas.

Ele está dando a cara a tapaA candidatura a prefeito de São Paulo do pagodeiro comunista Netinho de Paula é para inglês ver. Ou melhor, para os outros partidos verem. Sem tempo de TV suficiente para bancar as pretensões de Netinho, o PCdoB o insufla para aumentar seu valor em uma aliança. E atenção: não é certo que fechará acordo com o PT, aliado tradicional. Os comunistas participam da prefeitura de Gilberto Kassab, do PSD, e avaliam a possibilidade de segui-lo em 2012.

De olho na butique deleNada como um inimigo comum poderoso - no caso, o PT do governador baiano, Jaques Wagner - para curar um rancor histórico: o democrata ACM Neto e o peemedebista Geddel Vieira Lima podem marchar juntos na eleição para prefeito de Salvador. Pelo acordo em negociação, Neto apoiaria o candidato do PMDB, o radialista Mario Kertész. Em troca, Geddel endossaria suas pretensões ao governo baiano em 2014.

De fazer inveja ao MSTUm terço da população do Distrito Federal, o equivalente a 800 mil pessoas, mora em áreas invadidas. As ocupações não distinguem classes sociais. Nas terras griladas, se aboletam favelas e condomínios de luxo. A situação é tão exorbitante que a Justiça resolveu criar uma vara própria para essas questões.

Bênção nas urnasO PMDB está seguro de que seu candidato à prefeitura de São Paulo, Gabriel Chalita, arrebanhou um cabo eleitoral dos céus: o padre Marcelo Rossi. O partido está tão convencido de que o sacerdote trabalhará para a vitória de seu amigo que reservou uma cota para indicados do padre em sua lista de candidatos a vereador.

São Paulo é DilmaA presidente Dilma Rousseff começa a invadir a mais forte cidadela tucana. Uma pesquisa quantitativa encomendada pela oposição mostra que a proporção de bom e ótimo da presidente na cidade de São Paulo ultrapassou em 2 pontos porcentuais a do governador Geraldo Alckmin.
O mesmo levantamento mostra que Alckmin precisa do interior paulista para ter uma avaliação melhor que a da presidente em seu Estado.

10 mil bois para entrar na brigaOs separatistas do Pará estão pedindo doações de bezerros para os fazendeiros da região de Carajás, onde pretendem constituir um novo Estado. Seu objetivo é recolher 10 mil novilhos, vendê-los e recolher R$ 10 milhões com um leilão marcado para o fim deste mês. O movimento, cuja face visível é o deputado Giovani Queiroz (PDT), é bancado pelo financista Daniel Dantas e pelo empreiteiro Luís Pires e conta com o marketing de Duda Mendonça. É, ele mesmo.

Tijolo aéreoA empreiteira Queiroz Galvão e o BTG Pactual formaram um consórcio para participar da privatização de aeroportos.

Milagre na Band A Band bateu o martelo: o contrato de aluguel de horário para o missionário RR Soares se encerra no fim do ano e não será renovado. Hoje, ele ocupa o espaço mais nobre da grade. Para reformar a programação, a emissora cogita reforçar sua área artística com a contratação do argentino Diego Guebel. Ele é dono da produtora que criou o CQC e A liga.

Falco voaO executivo Luís Eduardo Falco, que presidiu a Oi até abril passado, resolveu deixar o Brasil. Comunicou aos amigos que quer estudar no exterior.

Mais enxuto e rentávelO HSBC contratou o JP Morgan para vender 600 de suas 865 agências no Brasil. A matriz do banco inglês concluiu que está errando ao disputar o varejo com o Bradesco e o Itaú. Quer reforçar sua presença nas 50 cidades mais ricas do país e se concentrar no atendimento de empresas de pequeno e médio porte.

O preço do PSDA fundação do PSD onerou o orçamento da Câmara em R$ 500 mil mensais. O dinheiro será gasto com os 80 funcionários que a nova legenda tem direito de contratar por ter montado uma bancada com mais de 50 deputados. Estão previstos outros gastos com as reformas nos gabinetes destinados à liderança do partido.

DENISE ROTHENBURG - Relações em chamas



Relações em chamas
DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 17/10/11

A meia-entrada nos jogos da Copa de 2014 será mantida " até para que não pareça mais uma concessão à Fifa de Joseph Blatter. O problema é quem vai pagar essa conta

A aparente tranquilidade que o governo viveu nos últimos dias na área política não durará mais nem uma semana. Passado o feriadão, o estresse toma conta do Planalto e da Esplanada. O estopim dessa nova temporada vem da área de esportes. Além das denúncias do último fim de semana que fazem, mais uma vez, chacoalhar o PCdoB " que alguns consideram um partido pequeno para estar à frente de um setor tão importante ", ganham cada vez mais luz as desavenças do governo com a poderosa e temida Fifa, que dá as cartas da Copa. E, por último, mas não menos importante, aparece a briga interna dos partidos. 
No caso da Fifa, foi emblemática a ausência do presidente da Federação, Joseph Blatter, no encontro de Bruxelas há duas semanas. Pegou mal. Até porque não é comum a presidente de um país se reunir com o secretário-geral de uma instituição " no caso, Jerome Valcke. Essas relações institucionais costumam se dar no velho ditado, cada um com seu cada qual. 
O fato é que Dilma e Blatter não se entenderam. Como definiu dia desses um assessor palaciano, os "santos deles não se cruzam". Houve ainda o episódio da carta que ele enviou à presidente Dilma em tom ameaçador, no mês passado, em que insinuava que poderia tirar a Copa do Brasil. Dilma não respondeu. Apenas enviou a Lei Geral da Copa para o Congresso. 
Blatter, entretanto, não tirou a Copa do Brasil. E na quinta-feira desta semana, a Fifa anunciará o calendário com dia, hora e local de cada jogo do mundial de 2014. Tudo isso em meio às denúncias envolvendo o Ministério do Esporte e a relação praticamente inexistente entre Dilma e o presidente da Fifa. 
Quanto às denúncias de pagamento de propina no esporte, um fato não está claro: se tudo ocorreu em 2005, como diz o denunciante João Dias, por que ele esperou até agora para falar? Tem muita coisa nessa história que não está clara. 

Para completar...No ano que vem, tem eleição no Brasil. E não é difícil calcular que em meio à escolha de candidatos pelos partidos é que se dará a votação final da Lei Geral da Copa no Congresso. E, entre a Fifa e o eleitor brasileiro, há quem aposte que a meia-entrada será mantida e alguém vai pagar essa conta. Quem é o problema. Aposto que seremos nós, contribuintes. Afinal, já estamos pagando tanto que nem sabemos o tamanho da conta da Copa. Essa despesa será mais uma a entrar nesse cálculo. 
Copa à parte, se fosse apenas essa conta que nos restasse, estava de bom tamanho. Mas vem aí a conta dos royalties e a falta de acordo entre estados produtores e não produtores. Tem ainda a conta da regulamentação da emenda 29, e a perspectiva de um novo imposto. De quebra, tem também a briga interna dos partidos. Na oposição, a disputa está a céu aberto pela chance de concorrer à eleição de 2014 e os protagonistas dispensam apresentações. No governo, cada partido tem lá a sua ala tentando derrubar aquela que está no poder. É assim no PR, no PP, e até no PT " que tem a Presidência da República e mais da metade da Esplanada. É muita confusão para um cenário econômico preocupante. 

Por falar em...... cenário econômico, os congressistas elevaram em R$ 29,98 bilhões a receita bruta de 2012 e deixaram o novo valor por conta do aumento da inflação. Depois, os congressistas não sabem por que o governo não libera as emendas. No Planalto, entretanto, a ordem está clara: se o dinheiro for fictício, as emendas também serão obras de ficção. Pelo visto, está aí mais uma lenha para a fogueira das relações políticas. 

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA - Serviços 24 horas


Serviços 24 horas
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
O ESTADÃO - 17/10/11

Criados como estratégia para atrair o consumidor, os serviços acoplados às apólices são considerados hoje tão importantes quanto o próprio seguro

Quando os seguros de veículos começaram a se tornar importantes para as seguradoras, na segunda metade dos anos 1980, as apólices ofereciam apenas as garantias básicas, que, essencialmente, são as mesmas oferecidas até os dias de hoje.

Até aquela época os seguros realmente importantes para as seguradoras eram os seguros de incêndio, transportes, lucros cessantes por incêndio e vida em grupo. A atividade como um todo representava menos de 0,7% do PIB brasileiro, ou seja, era praticamente insignificante dentro da economia nacional.

Como se não bastasse, o Brasil entrava no seu processo inflacionário mais agudo, o que desmotivava qualquer tentativa de investir no setor, já que não há poupança que resista a inflação alta. As companhias de seguro em operação no país se aguentavam do jeito que dava, em certa medida protegidas pelas tarifas únicas impostas pelo IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e por um começo de concorrência mais franca, consequente de uma medida básica para o desenvolvimento do setor, que ficou conhecida como "Circular 22" e que, pela primeira vez desde a criação do IRB, autorizou que as seguradoras concedessem descontos comerciais nos prêmios dos seguros de incêndio e lucros cessantes.

Início. Nessa época, a Porto Seguro Seguros era uma empresa dando seus primeiros passos, o que praticamente a deixava fora da concorrência pelas contas tidas como o "filé" do mercado. Sabendo que não teria chance contra as companhias mais tradicionais, ela decidiu investir num ramo de seguro que até ali sempre fora olhado como um seguro ruim e que, por isso, jamais interessara às grandes seguradoras da época.

Foi neste momento que o setor começou a mudar. Com a Porto Seguro focando o seguro de automóveis e desencadeando uma série de medidas agressivas para conquistar uma parcela do segmento, pela primeira vez na história do seguro brasileiro um produto de massa se converteu no grande seguro, capaz de redesenhar o quadro.

No primeiro momento, a ação da Porto Seguro foi no sentido de oferecer as apólices com as garantias tradicionais, mas de forma descomplicada e levando em conta, inclusive para preço, as diferenças entre os modelos.

Quando as demais seguradoras perceberam o potencial do segmento, a competitividade fez com que as ações de marketing se sofisticassem.

O primeiro benefício foi o guincho. Um belo dia, lá estava ele, primeiro apenas para atender os casos em que o veículo segurado se envolvesse em acidentes que o impossibilitassem de continuar rodando, depois o benefício foi ampliado para os casos de defeitos mecânicos. Em seguida, alguém lembrou de incluir um lanche e um suco para o motorista do veículo a ser atendido, outro alguém lembrou de outra vantagem a ser acrescentada, e a coisa tomou forma.

Diversificação. Os serviços 24 horas foram incorporados aos seguros de automóveis, oferecendo cada vez mais vantagens para o segurado. Dado o sucesso da sua adoção como complemento das garantias, eles foram estendidos para outros tipos de apólices, como os seguros residenciais, os seguros de vida e os planos de saúde.

Atualmente, estes serviços se tornaram quase tão importantes quanto o próprio seguro. Aliás, dependendo do tipo da apólice, os serviços 24 horas são percebidos pelos consumidores como a justificativa para a contratação do seguro, e não o contrário, como seria lógico, já que eles não são o produto final da seguradora.

Boa parte dos titulares dos seguros residenciais considera os serviços acoplados à sua apólice, como encanador,chaveiro, eletricista, limpeza de caixa d"água e outros que vão sendo incorporados, mais importantes do que a garantia contra queda de raio ou explosão de gás de cozinha.

E é lógico que seja assim, afinal, é mais fácil um cano entupir ou uma torneira vazar do que um botijão de gás explodir ou um raio cair no imóvel. Como cada vez mais serviços são incorporados aos seguros, eles se tornaram moeda de troca, justificando inclusive algumas apólices custarem mais caro e terem demanda.

SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS E COMENTARISTA DA RÁDIO "ESTADÃO ESPN

MARCELO DE PAIVA ABREU - Estabilização enjeitada


Estabilização enjeitada
MARCELO DE PAIVA ABREU
O ESTADÃO - 17/10/11

Especulações sobre a sucessão da presidente Dilma Rousseff têm invariavelmente tido como foco o desempenho da economia: a provável evolução do nível de atividade e a possibilidade de manter a inflação sob controle. Afora tragédias pessoais, os fatores políticos que poderiam ter influência importante na sucessão teriam de envolver, em data próxima das eleições, algum episódio de alta corrupção semelhante ao mensalão.

Caso o governo Dilma Rousseff mantenha o ritmo de crescimento em torno de 4,5%, ou até mesmo 3% ao ano, com a inflação sob controle - ou seja, próxima à meta - e sem episódios de corrupção generalizada afetando o cerne do governo, a coalizão governista parece imbatível. A dúvida é se o jogo político interno ao PT redundaria em segundo mandato de Dilma Rousseff ou terceiro mandato de Lula.

As atenções no momento atual, portanto, se concentram na avaliação do governo Dilma Rousseff na esfera econômica.

Embora haja unanimidade a respeito dos prejuízos eleitorais que poderiam advir de um recrudescimento inflacionário, há fortes divergências sobre o risco que seria aceitável incorrer quanto à inflação futura em nome da manutenção do crescimento da economia acima de determinado patamar mínimo. Este é o cerne do debate atual sobre a reorientação da política macroeconômica marcada pelas recentes decisões do Banco Central (BC) quanto à redução da taxa Selic a despeito de a inflação estar acima dos limites definidos com base no regime de metas inflacionárias.

A imprudência do BC - que tem raízes na progressiva deterioração na qualidade da formulação da política econômica já no segundo mandato de Lula - tem sido ressaltada por analistas que sublinham ter o Banco Central se colocado em situação em que precisará desesperadamente de agravamento significativo da situação econômica mundial para justificar a redução da taxa de juros e as promessas de reduções adicionais. Em caso contrário, terá errado redondamente.

Neste quadro, pareceria razoável supor que a oposição tendesse a empunhar a bandeira da estabilização e denunciar a atitude imprudente adotada pelo governo. Mesmo que, no passado, parte importante do PSDB tenha explicitado grande resistência ao Plano Real, adotado postura complacente com a inflação e criticado a política de juros em clara simpatia com a política econômica discricionária adotada pelos vizinhos ao sul (a despeito da antipatia com o Mercosul).

Suposição despropositada: um dos cardeais do PSDB, o ex-governador Alberto Goldman, no quadro das discussões sobre o apoio do partido a candidaturas à Prefeitura de São Paulo, saiu-se com a seguinte afirmação de princípios: "Não me passa pela cabeça a possibilidade de termos o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles como nosso candidato a prefeito. Ele, durante oito anos, representou uma política econômica ortodoxa que combatemos sistematicamente. Eu, em particular, que fui líder do PSDB na Câmara dos Deputados e vice-líder no período do primeiro governo Lula, tanto critiquei aquela política econômica, nãoemmeunome,masem nome do partido, que não teria qualquer possibilidade de apoiálo.

Que fique, desde já, marcada essa posição política. Com ele não dá".

Nunca Henrique Meirelles há de ter pensado que seria tido como formulador de política econômica ortodoxa... Afinal, sempre esteve escoltado por macroeconomistas que, de uma forma ou de outra, asseguraram a continuidade das políticas macroeconômicas, ou pelo menos a política monetária, adotadas desde a implementação do Plano Real.

É difícil imaginar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso endosse a posição de Goldman. Mas seria altamente desejável que fossem claramente explicitadas as diferenças entre o PSDB-FHC, que tem interesse em sublinhar a importância das conquistas entre 1994 e 2002 quanto à estabilização e algumas reformas estruturais, e o PSDB que repudia boa parte da herança do governo FHC e insiste na eficácia eleitoral de uma terceira tentativa de emplacar a candidatura de José Serra à Presidência da República com um programa muito semelhante ao da atual coalizão governista.

De fato, a convergência entre este PSDB que se presume de "esquerda", em reação ao PSDB "neoliberal" - que deu as cartas em termos de política econômica nos dois mandatos de FHC -, e o programa econômico que está sendo implementado pelo atual governo vai além das ideias imprudentes sobre política monetária. Em relação a dois outros temas - papel do Estado e proteção - , o PSDB "de esquerda" também converge com as atuais políticas: tem medo de falar em privatização e gosta de proteção alta, especialmente na indústria automotiva.

Tal como estão as coisas, a oposição está propensa a entregar a eleição de 2014 de bandeja. Se a inflação não acelerar, é céu de brigadeiro e ou eleição de Lula ou reeleição de Dilma. Se a inflação for um problema, terá resultado de políticas imprudentes adotadas pelo Banco Central sob pressão do Ministério da Fazenda e do Planalto com aplausos da oposição. Será que a oposição terá, nesse caso, condições de explorar eleitoralmente a lambança? Ou pretende disputar outra eleição presidencial sem programa?

DOUTOR EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE CAMBRIDGE, É PROFESSOR TITULAR NO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO

GEORGE VIDOR - Menos inseticida


Menos inseticida
GEORGE VIDOR
O Globo - 17/10/2011

Combater inflação só com política monetária equivale a tentar matar elefante com inseticida. O paquiderme pode morrer, mas para tal a dosagem será enorme, contaminando também o ambiente em volta. O autor da metáfora é o economista Chico Lopes. Usei a lição contra ele mesmo quando Chico assumiu a Diretoria de Política Monetária do Banco Central já na era do real.

Naquela fase do plano de estabilização o inseticida podia ser justificado; era difícil fugir dos juros altos para manter a inflação sob controle, pois os demais instrumentos ainda se mostravam muito débeis. Porém, o BC abusou das doses cavalares, sem levar em conta os efeitos colaterais negativos dessa decisão. Por anos ficamos trocando inflação por dívida, optando pelo que parecia menos pior.

O quadro atual é bem diferente. A política fiscal (receitas versus despesas públicas) passou a ter um papel mais relevante desde o último trimestre de 1998, e o Brasil, neste mundo conturbado de hoje é quase uma exceção, voltando a ter como perspectiva a redução gradativa dos déficits governamentais. Diga-se de passagem que a totalidade desse déficit decorre do componente financeiro das despesas. Os juros altos, acionados para neutralizar um desequilíbrio, acabam gerando outro desequilíbrio (déficit) e assim caímos em círculo vicioso.

Por conta dos desvios de rota em 2009 e 2010, o governo federal precisa recuperar a credibilidade da política fiscal. A dúvida sobre os rumos das contas públicas é que tem levado o mercado a acreditar que não temos saída se não a de novamente trocar inflação por dívida.

Do lado das receitas existe também uma situação anormal, com a carga tributária abusiva e baseada em uma estrutura de impostos inadequada. No entanto, hoje a economia brasileira é bem mais aberta que no fim dos anos 90 - mesmo com as medidas recentes que alguns consideram um retrocesso e outros preferem atribuir a iniciativa a uma perda de ingenuidade - e a taxa de câmbio joga mais a favor da estabilidade monetária do que contra.

A inflação ganhou gás com o aumento da massa salarial, pela expansão dos empregos formais e por aumentos reais de salários. Ninguém defende abertamente o caminho de volta, mas é o que acontecerá se o combate à inflação se limitar a uma política monetária tipo inseticida.

O país, após muitos anos de crescimento pífio ou morno, descuidou-se da formação de mão de obra e agora está pagando um preço por isso. Se houvesse mais gente preparada para os desafios do mercado, os salários teriam acompanhado o aumento de produtividade, e os serviços, principalmente, não teriam encarecido tanto.

Mas esse processo já dá sinais claros de acomodação. A economia este ano deve crescer ligeiramente acima de 3,5%, o que é suficiente para manter os níveis de desemprego nos patamares já alcançados

Fará bem para a economia se a dose do inseticida diminuir um pouco. O ambiente em volta melhoraria, ficaria menos contaminado. Provavelmente é o que o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidirá nesta quarta-feira.

A OSX-1 chegou ao Rio como navio e sairá da Baía de Guanabara já como plataforma de petróleo, em direção à Bacia de Campos, onde se interligará a alguns poços de óleo e gás de uma outra companhia do mesmo grupo (Eike Batista), a OGX, a 70 quilômetros da costa. Além de desembaraços aduaneiros e da certificação como plataforma de petróleo, a OSX-1 aguardará no cais da Gamboa (Porto do Rio), por algumas semanas, a conclusão do estaqueamento submarino dos dez pontos que compõem o seu sistema de ancoragem. A sexta estaca foi assentada no fundo do mar. Nesta época do ano as condições do mar em todo o Sudeste (ondas e ventos fortes) dificultam os trabalhos, mas tanto a OSX como a OGX mantêm o cronograma de iniciar a produção na Bacia de Campos ainda em 2011.

A OSX já começou a construir, em Cingapura e na Coreia do Sul, duas outras plataformas encomendadas pela OGX para a produção na Bacia de Campos. A primeira, OSX-1, ficou pronta em apenas 12 meses, porque estava bem adiantada. Havia sido construída por uma empresa que apostara na falta de equipamentos no mercado petrolífero, sem um contrato predefinido, e que acabou surpreendida pela crise mundial de 2008. Sem cliente assegurado, a empresa quebrou e no acerto de contas, já em 2010, um banco vendeu-a para a OSX, que estava interessada apenas no navio.

Instalada na nova sede do Grupo EBX, o antigo edifício Serrador, na Cinelândia, a OSX tem na sua cúpula profissionais experientes que trabalharam na Petrobras, como Luiz Eduardo Carneiro, o presidente, e Carlos Bellot, o diretor de Engenharia, que por mais de dez anos foi superintendente de Produção na Bacia de Campos. Ambos já tinham saído da estatal quando foram para o grupo de Eike Batista (faz parte da política de bom relacionamento com a Petrobras não tirar ninguém de lá). Além das plataformas em construção ou na fase de projeto, a OSX tem outro grande desafio: a implantação do que se propõe a ser o maior estaleiro da América Latina, no futuro complexo industrial do Açu.

Uma draga já começou a abrir o caminho para o canal onde ficarão o estaleiro e uma segunda área do Porto do Açu, em São João da Barra, Norte Fluminense. Simultaneamente, vêm sendo remanejadas a vegetação e a fauna dos locais que serão alagados. Bromélias e até três formigueiros já mudaram de lugar.

O estaleiro da OSX no Açu terá capacidade para processar inicialmente 180 mil toneladas de aço (como comparação, hoje o maior estaleiro brasileiro, o EAS, em Suape, tem capacidade para 100 mil toneladas). Empregará de sete mil a dez mil pessoas a partir de 2013. Quando viu o primeiro desenho do estaleiro, Eike Batista perguntou aos executivos da OSX: onde fica o campo de futebol para o pessoal se divertir nos intervalos do trabalho? Ninguém tinha pensado nisso no grupo.

J. A. PINHEIRO MACHADO - Não digam a mamãe que eu sou jornalista



Não digam a mamãe que eu sou jornalista
 J. A. PINHEIRO MACHADO
ZERO HORA - 17/10/11

Corrupção é a palavra mais citada nos jornais. As denúncias se sucedem. Sobre a mais recente, do fim de semana, uma afirmação do ministro do Esporte: os acusadores têm que provar a veracidade das suspeitas. Há uma certa confusão aí. Se alguém acusa, por exemplo, o colunista interino de um jornal, ou o dono de um mercadinho, por certo tem que provar.

No caso de uma autoridade pública, o ministro tem que provar diariamente não apenas que é inocente, mas que é eficiente e necessário. Se a acusação for falsa, a lei e a Justiça oferecem pesadas punições. Mais do que isso, o jornal ou revista que acusar indevidamente terá pela frente a pior das sentenças: o descrédito dos seus leitores.

Esse é um tribunal implacável. A espada afiada da frágil confiança do público diariamente pende sobre a cabeça dos jornalistas. Nunca esqueço da advertência de um precioso livro de normas de redação do jornalista Carlos Maranhão: num texto de 200 linhas absolutamente corretas, basta um único erro, uma imprecisão na última linha, para que o leitor duvide da exatidão de tudo o que leu antes.

Joseph Pulitzer, o jornalista e empresário que, no início do século passado, fundou o moderno jornalismo nos Estados Unidos, enumerava a seus repórteres três exigências para a publicação de uma matéria: “precisão, precisão e precisão”.

O seu jornal, The World, praticava um jornalismo rigoroso, denunciando e combatendo a corrupção política: orgulhava-se de ser “um defensor do lado das pessoas e um porta-voz da democracia”. Não hesitou em lutar ao lado dos operários por menos horas de trabalho e melhores condições de vida para os pobres, irritando as grandes companhias e monopólios laborais.

Os príncipes se irritam com o conhecimento da verdade, quando ela se opõe aos seus fins ou impede seus propósitos, escreveu o jornalista espanhol Juan Luis Cebrián, autor de um livro sobre o jornalismo e as dificuldades para exercer com correção e eficiência essa profissão: O Pianista no Bordel. O título usa a ironia de um ditado espanhol: “Não digam a minha mãe que sou jornalista, prefiro que continue pensando que toco piano num bordel”.

Cebrián é diretor-fundador do El País, que começou a circular em 1976, durante a transição da Espanha, da ditadura de Franco para a democracia, e um dos administradores do francês Le Monde. Os dois jornais, desde sempre, se tornaram referências na busca da isenção e na despreocupação em desagradar aos personagens de suas notícias e reportagens.

Ninguém escapa, constata o autor com certa amargura: “Literatos, intelectuais e também muitos renomados jornalistas, depois de exaltar as sublimes funções dos jornais, acabaram por abominá-los”. O exemplo do grande Balzac é sugestivo: quando era elogiado, adorava os jornais; mas, quando recebeu críticas, mudou de lado e escreveu: “Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”.

PAULO SANT’ANA - Martins, o barbeiro


Martins, o barbeiro
 PAULO SANT’ANA
ZERO HORA - 17/10/11

O Martins é meu barbeiro. Ele também é cabeleireiro, mas quem faz o meu cabelo há muitos anos é o Pedrinho, do mesmo Salão Dia e Noite, na Rua Andrade Neves, onde trabalham.

Mas o Martins é meu assunto de hoje. Ele trabalha nos sete dias da semana. Trabalha nos sábados e nos domingos.

No salão, a maioria dos cabeleireiros e barbeiros trabalha num só turno, ou pela manhã, ou pela tarde.

O Martins, ao contrário, trabalha pela manhã e pela tarde. Os seus colegas ficam espantados. Ele trabalha nos feriados. Só há dois feriados por ano em que o Martins não trabalha, o Natal e a Sexta-Feira Santa.

O Martins mora em Cachoeirinha, ele vem de ônibus pela manhã pela freeway, começa a trabalhar às nove da manhã e vai até as oito da noite, só interrompe para um lanche ao meio-dia.

Uma capacidade de trabalho notável. Uma entrega ao trabalho estupenda.

Na maior parte da minha vida, fui assim como o Martins, trabalhei como um mouro. Eu chegava ao ponto de fazer o Jornal do Almoço e o Gaúcha Hoje nos sábados, isto é, levantava aos sábados às sete da manhã para falar no rádio.

Acho que é por essa identificação com o Martins que eu o admiro tanto.

Quem trabalha assim como o Martins, e como eu trabalhei quase toda a minha vida, não tem tempo para cuidar da família. Gozado, a gente trabalha assim exaustivamente para sustentar a família, mas não tem tempo para cuidar dela.

Esses barbeiros e cabeleireiros alugam suas cadeiras de trabalho por um valor x por dia.

Eles, então, têm de dar máquina para pagar o aluguel da cadeira e ainda fazer um lucro para seu sustento.

Ninguém sabe onde o Martins bota tanto lucro. Não se sabe se ele tem carro, mas casa própria ele já adquiriu em Cachoeirinha.

Eles não têm patrão nem carteira assinada, formam uma exótica classe de profissionais liberais. Se não descontarem para a aposentadoria como autônomos, estão fritos.

Para os clientes, o Martins é uma bênção, basta telefonar para ele em qualquer dia, domingos e feriados, que ele está pronto para barba, cabelo e bigode.

O Martins é um desses casos de pessoas que vivem só para trabalhar. A vida não lhes ofereceu qualquer outra atração.

São admiráveis, são homens de bem, são sustentáculos da nação.

O Martins é um herói brasileiro e seu exemplo é tão marcante, que eu me dei ao desplante de dedicar esta coluna inteira para esse destacado abnegado no nosso meio social.

MAURILIO BIAGI FILHO - O etanol na hora da verdade


O etanol na hora da verdade
MAURILIO BIAGI FILHO
O ESTADÃO - 17/10/11

Temos de dar a mão à palmatória: infelizmente, não há produção suficiente de etanol para abastecer o mercado interno, muito menos para exportar. Ao contrário, já somos importadores líquidos do combustível reinventado por nós, brasileiros, em 1975.

A verdade é que chegamos ao fim de mais um ciclo. Nossa agroindústria canavieira entrou na era dos grandes grupos capitalistas internacionais, representados por transnacionais agroalimentícias, petroleiras e empreiteiras de capital nacional, que já controlam pelo menos 1/3 da nossa produção de açúcar e etanol. É uma mudança histórica.

Aparentemente, não seria impossível para os novos grupos sucroenergéticos investir para atender imediatamente à demanda adicional anual estimada de 3 bilhões de litros de etanol no mercado brasileiro, caso todos os veículos leves continuem consumindo esse combustível. Ocorre que as big oil companies não dão guinadas nem agem por impulso. Embora tenham grande poder de alavancagem, elas seguem planos de longo prazo elaborados por comitês econômico-financeiros e submetidos a conselhos naturalmente cautelosos. Isso já está ocorrendo. Recentemente, foram anunciados por diversas companhias novos investimentos na produção de etanol - nenhum para o curto prazo. Estamos numa fase de observação e expectativa. E não é para menos.

Relembrando, tivemos a crise de liquidez de 2008, a paralisação de projetos em razão do recuo de investidores, o encarecimento da mão de obra, o cultivo de mudas ruins em solos inadequados, o "abandono" de canaviais, além de secas e geadas. O resultado de tudo isso está refletido na queda da produção.

Embora seja uma lavoura extremamente segura, a cana segue no âmbito da agricultura em que uma quebra de safra pode significar crise de abastecimento. Na mesma área de pouco mais de 8 milhões de hectares, de 2008, estamos tendo este ano 15% menos cana do que o previsto. Considerando a média de 80 toneladas por hectare, a falta é de 120 milhões de toneladas. Se toda essa cana fosse transformada em etanol, teríamos quase 11 bilhões de litros do produto, ou seja, o bastante até para exportar.

Mesmo nas atuais dificuldades de abastecimento, temos um programa altamente vitorioso, cuja sobrevivência se deve ao mutirão que mobilizou uma extraordinária rede de parceiros desde a criação do Proálcool em 1975. As usinas tradicionais construíram destilarias anexas, o governo financiou dezenas de destilarias autônomas, as distribuidoras instalaram bombas de etanol nos postos, organizou-se o esquema da adição do etanol à gasolina e a indústria automobilística chegou ao motor bicombustível (flex).

Se pesarmos os altos e baixos, o Proálcool só foi adiante graças ao açúcar. Ao contrário do que se pensou inicialmente, nenhuma empresa ficou de pé produzindo somente etanol. Quando entraram em perigo, as destilarias autônomas passaram a produzir também açúcar, produto internacional capaz de atrair contratos e financiamentos de longo prazo. Se sobrou alguma destilaria autônoma, é exceção.

Foi assim que o Brasil encontrou a fórmula ideal para produzir um combustível veicular mais limpo que os derivados de petróleo. O modelo das duas pernas (açúcar e etanol) é tão seguro e eficiente que, para aumentar a produção do combustível alternativo, a Petrobrás só investe em usinas desse tipo. Além disso, a cogeração de eletricidade a partir do bagaço de cana foi outra saída encontrada pelas usinas para ampliar a renda do negócio. E logo vai começar o aproveitamento energético da palha da cana. São medidas que contribuem para a sustentabilidade do setor, mas que têm custos.

Resta a pergunta: se o preço do etanol está remunerando os produtores, por que não há uma corrida para produzir mais? A resposta é que, desde a quebra da paridade técnica etanol-gasolina, não são boas as perspectivas de longo prazo para a agroindústria canavieira. A presidente Dilma Rousseff sabe que a indústria do etanol rompeu a barreira técnica que a mantinha amarrada à gasolina. Enquanto o preço da gasolina não se altera há quase uma década, o custo de produção do etanol mais que dobrou no mesmo período. Aí está, na relação etanol-gasolina, o xis da questão. Sem encará-lo não sairemos do atual impasse.

Para despertar o inegável potencial de expansão da agroindústria canavieira, será preciso combinar medidas técnicas com decisões econômicas de longo alcance, o que implica emprego de instrumentos fiscais e creditícios próprios do governo. E este, consciente de que estamos numa encruzilhada, tomou medidas recentes para garantir o abastecimento. Mas já não bastam ações emergenciais, que se esgotam no curto prazo.

É necessário restabelecer a confiança entre a agroindústria canavieira e o governo. Sem um único representante dessa agroindústria neste momento crucial da nossa história econômica, a Agência Nacional do Petróleo esboça medidas ultrapassadas e corre o risco de andar na contramão da história.

Faz cada vez mais falta uma política industrial setorial adequada a uma matriz energética que priorize os combustíveis renováveis, em conformidade com acordos assinados pelo Brasil em organismos internacionais que trabalham pela despoluição da superfície do planeta.

É PRESIDENTE DA MAUBISA.

MARCIA PELTIER - Abraço no BC



Abraço no BC 
MARCIA PELTIER 
JORNAL DO COMMÉRCIO - 17/10/11

Entre os mil participantes que Fiesp, Abimaq, CUT e Força Sindical esperam reunir, amanhã em São Paulo, no Manifesto por um Brasil com Menos Juros, Maior Produção e Mais Emprego, pelo menos três cariocas confirmaram presença. O professor Aloísio Teixeira, reitor da UFRJ, Luiz Alfredo Salomão, diretor do IUPERJ, e a professora Lena Lavinas estão entre os que participarão do lançamento do manifesto às 10h, no teatro do Hotel Renaissance, e depois, a partir do meio-dia, vão dar um abraço simbólico no prédio do Banco Central na Avenida Paulista.

Novo dono 

Foi fechado, na maior discrição, um dos maiores negócios imobiliários na Zona Sul do Rio dos últimos tempos. Mudou de dono a mansão na Gávea situada em terreno de 170 mil metros quadrados.

Junto e misturado 
Com percurso inusitado, a corrida Rio Up Run promete unir atletas do asfalto e dos morros da Babilônia e do Chapéu Mangueira dia 6 de novembro. A largada será na orla de Copacabana e passará pelas ladeiras, escadas, ruelas e becos da duas comunidades pacificadas. Os participantes, que poderão enfrentar trechos de lama, vão percorrer os locais turísticos da região, como os cenários usados no filme Tropa de Elite, e a casa onde morou o compositor de Aquarela do Brasil, Ary Barroso. Os vencedores levam bicicletas e troféus para casa. O evento é patrocinado pela Embratel.

Propaganda médica 
Pelé vai visitar hoje, no Japão, as cidades destruídas pelo tsunami que devastou o país em março deste ano. O ex-craque se reunirá com médicos locais para apresentar as novidades da empresa brasileira Invel, uma camiseta e uma luva para alívio da dor muscular, já aprovadas pela Anvisa. Os produtos foram pesquisados durante quatro anos pelo grupo de dor do Hospital das Clínicas de São Paulo, coordenado pelo médico Manoel Jacobsen. A tecnologia MIG3 melhora a microcirculação sanguínea e promove aceleração do metabolismo.

Unanimidade 

Escolha pessoal de Vinicius de Moraes para interpretar o primeiro Orfeu da Conceição do teatro, o múltiplo Haroldo Costa – que além de ator, já foi bailarino, jornalista, historiador de música popular, escritor, compositor, produtor e diretor de rádio, tv e cinema e comentarista dos desfiles das escolas de samba – será homenageado com uma mostra sobre sua carreira. Promovida pelo Sistema Firjan, Haroldo Costa – Samba & Outras Coisas, abre dia 7 de novembro, no Teatro Sesi do Centro.

Obra rara 

No dia seguinte será exibido o filme Pista de Grama ou Um desconhecido bate à porta, dirigido por Haroldo em 1958. A obra marcou a estreia no cinema de Yoná Magalhães, e conta também com Paulo Goulart e Myrian Pérsia. A trilha, escrita por Tom Jobim, tem uma bonita participação de Elizeth Cardoso, com ninguém menos que João Gilberto ao violão.

Lição positiva 

O período em que a Sala Cecília Meireles ficou fechada, em obras, será indiretamente o tema da palestra do diretor João Guilherme Ripper, hoje em Amsterdam. Único brasileiro no Dutch Classical Music Meeting 2011, ele falará para uma platéia de diretores artísticos e managers de salas de concertos sobre Estender a programação: trazendo a música clássica para locais nada clássicos. Os citados locais, no caso, são o Parque Lage e o Forte de Copacabana.

Darling dos cinéfilos 

Está confirmada a presença da diretora Julie Gravas, filha do cineasta Costa- Gravas, na 35ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a partir do dia 21. Julie vem acompanhar a première nacional de seu mais recente trabalho, Late Bloomers (O amor não tem fim), com Isabella Rossellini e William Hurt. Seu primeiro longa de ficção, A culpa é do Fidel!, arrebatou plateias por aqui.

Emergência 

O I Seminário-Oficina sobre Gestão de Riscos ao Patrimônio Museológico, de hoje a sexta, em Brasília, trará ao país Beatriz Haspo, conservadora-chefe da divisão de coleções da Biblioteca do Congresso americano. Ela vai simular, com a ajuda do Corpo de Bombeiros, uma inundação na UnB, que foi invadida por uma enchente em abril último e teve danificados arquivos de TV da instituição. Beatriz supervisiona várias atividades relativas à integridade física de 13 milhões de livros.

Livre Acesso

No Marcia Peltier entrevista de amanhã o convidado é o cineasta Luiz Carlos Barreto. Considerado o maior produtor cinematográfico do país — com mais de 70 filmes lançados — Barretão relembra sua infância no Ceará e a época de repórter e fotógrafo na revista O Cruzeiro, no Rio. Formado em letras pela Sorbonne, ele fala também sobre sua carreira e família. O programa começa às 23h, na rede CNT.

O Fundo Brasileiro para Biodiversidade recebe até 7 de novembro projetos de conservação, manutenção e restauração das florestas tropicais, que deverão ser aplicados em 36 meses. Serão investidos R$ 16, 5 milhões em projetos de R$ 200 mil a R$ 500 mil.

João Ferraz, ex-gerente geral dos projetos financeiros da Petrobras, comemorou o convite para a presidência da SeteBr reunindo os amigos no restaurante O Hedonista, em Búzios.

Especialistas do Hospital de Clínicas de Niterói promoverão um simpósio satélite, quinta-feira, durante o IX Congresso de Cardiologia Fluminense, em Búzios.

O Projeto Mão na Massa seleciona mulheres para curso profissionalizante gratuito, na área de construção civil. As inscrições devem ser feitas nesta quarta e quinta-feira, na sede da instituição, no Rocha. As vagas existentes são para pedreiras, pintoras e eletricistas. Mais informações pelo telefone 3147- 5100.

Victor Dzenk realiza coquetel, hoje, em sua loja, para arrecadar fundos para a Fundação Laço Rosa, que tem a missão de chamar a atenção sobre a importância da prevenção do câncer de mama. O estilista desenhou as camisetas da campanha, que terá uma caminhada na trilha Claudio Coutinho, na Urca, dia 23.

Com Marcia Bahia, Cristiane Rodrigues, Marcia Arbache e Gabriela Brito

PAULO GUEDES - Tudo depende das expectativas



Tudo depende das expectativas
PAULO GUEDES
O Globo - 17/10/2011

Até meados dos anos 70, havia enorme fé nos poderes discricionários das autoridades econômicas. A ortodoxia keynesiana era hegemônica nas universidades, nas plataformas políticas e nos circuitos financeiros. Pode o Banco Central efetivamente acelerar o crescimento econômico pela drástica redução das taxas de juros? Pode o Ministério da Fazenda estimular a produção e o emprego por meio da ininterrupta expansão dos gastos públicos? Sim, eram as respostas naquela época. Enquanto conseguissem driblar a inflação, as autoridades poderiam manipular quase indefinidamente a economia.

Foi quando a "revolução das expectativas racionais" varreu os meios acadêmicos. A supremacia intelectual dos rebeldes foi esmagadora. Equipamentos analíticos extraordinariamente mais potentes. Perfeição estética. Uma vitória completa, sem prisioneiros. A Universidade de Chicago foi o quartel-general dos "novos clássicos", que aniquilaram rapidamente os keynesianos. Fui surpreendido pela irreversibilidade do movimento. Keynes, Samuelson, Solow, Tobin, Arrow eram minhas principais referências. E eu estava lá, em meio às barricadas.

Milton Friedman (Prêmio Nobel de 1976), até então isolado em suas críticas às pretensões de controle macroeconômico por ações discricionárias das autoridades, recebeu o reforço de Robert Lucas (Prêmio Nobel de 1995), e Thomas Sargent (Prêmio Nobel de 2011) para derrubar o antigo paradigma. A eles se juntou um jovem teórico do desequilíbrio, o ex-keyesiano recém-convertido Robert Barro. Em minha geração, nenhum macroeconomista poderia ter tido maior sorte do que eu, tendo aulas com todos eles. Sargent foi a ponte entre as formulações teóricas de Lucas e as pesquisas empíricas sobre causa e efeito por métodos estatísticos desenvolvidos por Clive Granger (Prêmio Nobel de 2003) e Christopher Sims (Prêmio Nobel de 2011).

As mensagens práticas dos "novos clássicos" eram surpreendentemente despretensiosas. Os políticos e seus assessores econômicos não têm os poderes que alardeiam. Não podem sistematicamente manipular as economias. Os consumidores, as empresas, os trabalhadores e os investidores são átomos que raciocinam. Adaptam seu comportamento às ações discricionárias das autoridades, frustrando suas intenções de manipulação. Tombini e Mantega que se cuidem, pois tudo agora depende das expectativas quanto às regras do jogo: o regime fiscal e as metas de inflação são mais importantes do que esforços voluntaristas.

MARIA INÊS DOLCI - Consumismo jovem



Consumismo jovem
MARIA INÊS DOLCI 
FOLHA DE SP - 17/10/11

Fazer as contas e não assumir compromissos superiores à renda não é caretice, é uma necessidade
Os jovens estão se endividando. Segundo pesquisa da Associação Comercial de São Paulo, 67% dos inadimplentes têm menos de 35 anos e 24% têm entre 26 e 30 anos.
Mais do que um levantamento estatístico ou curiosidade, tais números expressam uma realidade preocupante: a falta de educação para o consumo. Sem isso, o jovem compra acima de suas possibilidades e talvez prossiga nesse desequilíbrio quando for mais velho. Além disso, essas pessoas não estão se endividando para comprar bens tecnológicos como computadores ou aparelhos que aumentem o conforto e a segurança no lar. Nada disso. Torraram dinheiro com roupas e calçados. O terceiro item da lista também é uma advertência, por si só: empréstimo pessoal.
A agiotagem é um dos negócios que mais se desenvolvem nos municípios brasileiros, com a oferta de dinheiro fácil, a juros extorsivos, para ávidos consumidores, principalmente das classes C e D. Dever desde os primeiros anos com carteira de trabalho assinada é uma péssima tendência para o futuro. Hábitos de poupança não são estimulados nem valorizados aqui.
É evidente que todos querem consumir. Não há crime algum nisso, até porque, sem compras, não há produção nem empregos. A economia fica estagnada e o país caminha para trás. Certamente não defendo tal comportamento. Mas o consumismo desenfreado é péssimo para as pessoas e para o ambiente e indica um descontrole que pode, sem trocadilho, custar muito caro.
Há situações que precipitam a inclusão do consumidor em listas de devedores. Desemprego e despesas inesperadas, provocadas por doenças, são totalmente compreensíveis. Planejar as compras, contudo, poderia evitar a maioria dos casos de inadimplência. Prestações que "caibam no bolso", sem verificação do quanto se paga a mais por essa aparente facilidade; crédito rotativo dos cartões; e empréstimos em geral, inclusive os consignados, são alguns dos caminhos mais rápidos para estourar os orçamentos pessoais e familiares.
Falta, também, uma lei que proíba a concessão de crédito sem exigência de garantias. Porque não há milagre em finanças. Se uma empresa não exige comprovação de renda e bens que garantam o empréstimo, só há uma explicação plausível: ela compensa o risco de calote cobrando juros de agiota.
Agiotagem é crime e não deveria ser permitida.
Antes de chegar à faixa etária que tem mais devedores na pesquisa da ACSP, jovens frequentam escolas e universidades. São orientados sobre os riscos do consumo de drogas, do tabagismo e do alcoolismo e para a importância de preservar o ambiente. Muitas vezes, têm aulas sobre cidadania, política e grandes desafios mundiais, como a escassez de água e as guerras religiosas. Por que não recebem mais subsídios sobre consumo consciente, não somente com foco ambiental, mas também em relação à proteção de seus bolsos e à aplicação do Código de Defesa do Consumidor?
Também nessa área é tolice imaginar que as autoridades resolvam tudo. Não solucionam nem problemas gravíssimos como filas nos corredores dos hospitais públicos e transporte coletivo superlotado...
Os pais deveriam ajudar nesse processo educativo, mas, convenhamos, nem os adultos escapam do excesso de compras. Então, não é uma surpresa saber que os mais novos não conseguem pagar suas contas em dia.
Perder o crédito é um desastre para qualquer pessoa. Fecha as portas para a aquisição até de produtos fundamentais, totalmente necessários, como alimentos e medicamentos. Carimba os consumidores como devedores e isso tem repercussões em todos os segmentos da vida, inclusive o profissional.
Isso não pode, então, ser visto como mais uma tendência ou consequência da inclusão social. O papel aceita tudo. Fazer as contas e não assumir compromissos superiores à renda não é caretice. É uma das condições para um futuro melhor, sem sobressaltos, sem cobradores e sem insônia. Não desejamos novas gerações repletas de devedores.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS - Direito à vida


Direito à vida 
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS
O GLOBO - 17/10/11

A ação de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) não poderia ser veículo do pleito que se fez junto à Suprema Corte para garantir o aborto de anencéfalos. Fui um dos coautores do anteprojeto da lei que a instituiu (9.882/99) e, segundo o que nela está disposto, só pode ser utilizada para garantir preceito fundamental descumprido, e não para assegurar o direito de matar crianças no ventre materno, violentando - este sim - o preceito fundamental de direito à inviolabilidade da vida, a mais importante das cláusulas pétreas da lei suprema. Este entendimento, entretanto, mereceu apenas quatro votos na Suprema Corte, que considerou ser a ADPF a via processual legítima.
Ocorre que a Suprema Corte não pode legislar. Está proibida, pelo parágrafo 2º do artigo 103 da Constituição Federal, ao estabelecer que, sempre que o Congresso for omisso em legislar e essa omissão implicar negar efetividade a um preceito constitucional, o STF, provocado pela via da ação direta de inconstitucionalidade por omissão, julgando a ação procedente, só poderá solicitar ao Congresso que faça a lei, sem, contudo, estabelecer prazo para produzir a norma, nem cominar sanção, para o caso de não fazê-lo.
O que se pleiteia na ADPF nº 54 é a criação de uma terceira hipótese de homicídio uterino inimputável, ou seja, o aborto eugênico. O Artigo 128 do Código Penal torna inimputáveis o aborto sentimental (estupro) e o aborto terapêutico (risco de vida para a mãe), mas não hospeda a tese "mengeliana" de permitir o aborto de seres humanos malformados.
A meu ver, tal pretensão fere o artigo 5º, "caput" da Constituição, segundo o qual o direito à vida é inviolável, e o artigo 2º do Código Civil ao estabelecer que todos os direitos do nascituro estão assegurados, desde a concepção. Que fantástica ironia - se esta ação for julgada procedente - poder a lei garantir todos os direitos, menos o direito à vida! Estaria a legislação contrariando ostensivamente o próprio Tratado Internacional de São José da Costa Rica, do qual o Brasil é signatário, que, firmado para assegurar o respeito aos direitos humanos, garante, no seu artigo 4º, o direito à vida, desde a concepção.
Nem se pode alegar que a ação pretende preservar o direito à dignidade humana, ou seja, o direito de eliminar-se um filho no ventre materno, pois o direito do nascituro à vida é o mesmo de seus pais. Raciocínio semelhante fazia Hitler, ao eliminar os deficientes, criando-se, assim, um mundo culto e saudável, na sua doentia visão.
Não há dignidade humana que se obtenha à custa da morte de outrem, principalmente quando, por ser malformado, necessite mais do carinho dos pais, como muitos pais de crianças que nasceram com anencefalia lhes dedicaram até a sua morte.
Enfim, não há civilização que não se alicerce na solidariedade humana, sendo para mim difícil entender que uma das melhores formas de se garantir a dignidade humana é praticar o homicídio de seres humanos no ventre materno, em virtude de sua má-formação. Prefiro continuar defendendo sempre o direito à vida, e não propugnar o direito à morte de seres considerados socialmente inconvenientes.

IVES GANDRA DA SILVA MARTINS, advogado, é presidente honorário do Centro de Extensão Universitária (CEU)/Instituto Internacional de Ciências Sociais (IICS).

AÉCIO NEVES - Escolhas


Escolhas
AÉCIO NEVES
FOLHA DE SP - 17/10/11

Há alguns dias, Marina Silva nos ofereceu texto que estimula a reflexão sobre a dinâmica imprevisível da política do nosso tempo, cheia de transformações e novas escolhas por parte dos cidadãos.
Está clara a busca coletiva por uma nova ordem que permita a superação de modelos que sobreviveram até aqui, entre eles os de políticos que se moldam, por conveniência, ao gosto do eleitorado, ou, mais pretensiosos, que tentam moldar o eleitorado à sua feição.
Para além da seara dos oportunistas e dos autocratas, há os que, como a ex-senadora acreana, enxergam pessoas onde outros só veem eleitores e buscam manter com elas relação leal, sem perder de vista seus próprios princípios. O grande desafio da vida pública é este: não se deixar transformar num personagem condenado a seduzir a plateia. Não se deixar transformar numa caricatura de si mesmo.
Quando insisto em não me tornar prisioneiro das expectativas alheias, o faço por convicção. Acredito que não há nada mais valioso que um homem público possa oferecer que a transparente lealdade aos seus próprios princípios.
Às vezes, leio: "O Aécio devia fazer isso ou aquilo...". Ouço, reflito. Respeito toda opinião e aceito muitas das sugestões que recebo. Mas é com as minhas convicções que sigo em frente.
A representação política é uma vitrine. É compreensível que cada um transfira sua esperança para a figura de seu representante, assim como acabe se frustrando quando a mesma não se concretiza.
O desencanto tem semeado, aqui e ali, manifestações espontâneas, que vão das passeatas contra a corrupção até os levantes da Primavera Árabe, passando pelos "indignados" na Espanha e por eventos como o "Ocupe Wall Street" em Nova York.
Dizem que são manifestações sem bandeira. Penso diferente. As bandeiras são muitas e revelam as múltiplas faces do inconformismo. Como se uma bandeira tocasse a outra, uma inesperada energia começa a pulsar. Novos aprendizados nos esperam. Antigas lições de tolerância talvez possam ser melhor repartidas.
Sempre vi com reservas os que, na política, temem o diálogo, confundindo firmeza com agressividade. E os que se acreditam donos do tempo e das circunstâncias, quando sabemos que somos todos reféns deles. Marina terminou o seu artigo citando Fernando Pessoa. Revisito o mesmo autor, em dois trechos de um poema que fala de escolhas e princípios.
"Claro no pensar, e claro no sentir/ É claro no querer/ Indiferente ao que há em conseguir/ que seja só obter/ Dúplice dono, sem me dividir/ De dever e de ser ... Assim vivi, assim morri a vida/ Calmo sob mudos céus/ Fiel à palavra dada e à ideia tida. / Tudo mais é com Deus".

CARLOS ALBERTO SARDENBERG - Na base do puxadinho



Na base do puxadinho 

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
O ESTADÃO - 17/10/11

SÃO PAULO - O governo da presidente Dilma anda preocupado com as palavras. Algumas devem ser banidas. "Faxina", por exemplo, nunca existiu. A queda de quatro ministros e vários funcionários de primeiro escalão, envolvidos em denúncias de corrupção, foi apenas uma "reestruturação" do governo.

"Privatização" também não existe. O governo vai vender para empresas privadas a operação (e reformas) dos Aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília - mas o nome disso é "concessão".

É tudo para o público interno. A "faxina" é um ataque direto ao governo Lula, já que os demitidos eram todos herança da administração anterior. Já a "privatização" é uma ofensa dupla. De um lado, atropela ideias de petistas e aliados à esquerda. De outro, ataca, de novo, membros do governo anterior, tanto esquerdistas quanto não ideológicos, considerados responsáveis pelo atraso nas reformas dos aeroportos.

Mas se fosse apenas uma questão de nomes, poderia passar perfeitamente. Se a presidente aprofundasse o combate à corrupção e apressasse as obras nos aeroportos, tudo bem, pode chamar como quiser.

O problema é que as coisas não andam. A "faxina" parou e os leilões de privatização já foram transferidos para janeiro de 2012 - isso se der tudo muito certo.

E corre o risco de não dar. Primeiro, pelas dificuldades normais da burocracia, do custo Brasil e da ineficiência do setor público. Segundo, porque parece que está saindo uma privatização envergonhada.

O governo está colocando exigências difíceis e caras para os concessionários. Algo assim: então as empresas privadas querem os aeroportos? Pois vão ter de dançar miudinho.

A necessidade de privatização indica que o governo não tem os recursos nem a capacidade de apresentar aeroportos decentes. Significa, portanto, que é uma óbvia confissão de fracasso do modelo controlado pelo governo. Mas, em vez de os responsáveis saírem de mansinho - "desculpa aí, pessoal, foi mal" -, parece que estão tentando criar exigências para dificultar a vida dos futuros concessionários. Se estes também fracassarem, seria um alívio, não é mesmo?

Enquanto isso, já sabemos que, para a Copa do Mundo, certamente, e para a Olimpíada, provavelmente, ficaremos com os puxadinhos. Qual o problema? São muito decentes, diz o pessoal do governo.

Passei outro dia pelo novo puxadinho de Guarulhos. Estava em ordem - banheiros, lanchonete, telas de avisos, cadeiras, tudo limpinho -, mas reparem na operação. Os passageiros fazem o check-in e passam pela verificação de bagagens nas mesmas instalações lotadas do prédio principal. Feito isso, tomam um ônibus num terminal deste mesmo prédio. O ônibus deixa todos no puxadinho. Chamado o embarque, todos vão caminhando até o avião, sujeitos às variações do tempo. Assim, o puxadinho apenas alivia a lotação nas salas de embarque.

É decente? O.k., mas não é bem o que se imagina quando os governantes brasileiros saem pelo mundo dando lições de governança.

A propósito, o pessoal do governo também tem bronca com essa palavra. Não é puxadinho, trata-se de um "módulo provisório". Mas pelo menos lá, em Guarulhos, todos os funcionários e passageiros chamam a coisa de puxadinho.

Quanto à faxina, o problema é mais complicado. A melhor imagem da presidente Dilma está justamente no combate à corrupção. Mas parece que ela e seus assessores não estão gostando disso. Querem a imagem de realizadora, tocadora de obras.

Que fazer? Copiar o modo Lula. Se algo não está funcionando bem, lance um novo programa. Se o programa não dá resultados, lance outro. Se há problemas complicados em um setor, lance um plano para outra área, uma ideia qualquer que pareça interessante e de fácil visibilidade.

A presidente Dilma já lançou vários programas - como o Brasil Sem Miséria e o conjunto de apoio à indústria nacional -, mas não funcionou, conforme avaliação dos próprios integrantes do governo.

Dirá o leitor que a avaliação não faz sentido. São programas de médio prazo - como se pode dizer que não funcionaram poucos meses depois de lançados?

Mas não está aí a preocupação do governo neste momento. Os planos não pegaram em outro departamento, o do marketing político-eleitoral, onde Lula exibia o máximo de sua capacidade de convencimento. Lançava, prometia e seguia em frente.

Tome-se a transposição do Rio São Francisco. Lula, no lançamento, chamou de maior obra de seu governo (a mais cara certamente é) e prometeu inaugurar tudo até dezembro de 2010, término de seu mandato.

A expectativa mais otimista, hoje, é a conclusão de um primeiro trecho no final do mandato de Dilma. Em resposta à reportagem deste Estadão, o Ministério do Planejamento explicou que a obra não ficou pronta nem ficará tão logo porque foi preciso negociar "aditivos" aos contratos. E, claro, o projeto já está bem mais caro. Ou seja, estava malfeito, não é mesmo?

Como não faz sentido reprometer a mesma coisa - que traria implícita outra confissão de fracasso da gestão anterior -, é preciso lançar outros programas. Podem reparar, toda vez que se vê em dificuldades, o governo anuncia algum plano. O problema de marketing político, e sem solução, é que falta Lula para animar os lançamentos em palanques pelo Brasil.

Poderiam chamá-lo para a festa, mas isso atropelaria a presidente Dilma. Que fazer? Mais programas e tocar na base do puxadinho.

CARLOS ALBERTO DI FRANCO - Jornal, qualidade e rigor



Jornal, qualidade e rigor
CARLOS ALBERTO DI FRANCO
O Estado de S.Paulo - 17/10/11

Televisão e internet são, frequentemente, os bodes expiatórios para justificar a crise dos jornais. Os jovens estão "plugados" horas sem-fim. Já nascem de costas para a palavra impressa. Será? É evidente que a juventude de hoje lê muito menos. Mas não é só a moçada que foge dos jornais. Os representantes das classes A e B também têm aumentado a fileira dos navegantes do espaço virtual.

Os diários de sucesso são aqueles que sabem que o seu público, independentemente da faixa etária, é constituído por uma elite numerosa, mas cada vez mais órfã de jornais de qualidade. Num momento de ênfase no didatismo, na infografia e na prestação de serviços - estratégias convenientes e necessárias -, defendo a urgente necessidade de complicar as pautas. O leitor que devemos conquistar não quer, como é lógico, o que pode conseguir na TV ou na internet. Ele quer informação de qualidade: a matéria aprofundada, a reportagem interessante, a análise que o ajude, de fato, a tomar decisões.

Para sobreviverem os grandes jornais precisam fazer que seja interessante o que é relevante. "O jornalismo impresso deve ser feito para um público de paladar fino e ser importante pelo que conta e pela forma como conta. A narração é cada vez mais importante." É a correta percepção do professor Alfonso Sánchez-Tabernero, vice-reitor da Universidade de Navarra, na Espanha.

Quem tem menos de 30 anos gosta de sensações, mensagens instantâneas. Para isso a internet é imbatível. Mas há quem queira entender o mundo. Para estes deve existir leitura reflexiva, a grande reportagem. Será que estamos dando respostas competentes às demandas do leitor qualificado? A pergunta deve fazer parte do nosso exame de consciência diário.

Antes, os periódicos cumpriam muitas funções. Hoje, não cumprem algumas delas. Não servem mais para nos contar o imediato, o que vimos na TV ou acabamos de acessar na internet. E as empresas jornalísticas precisam assimilar isso e se converter em marcas multiplataformas, com produtos adequados a cada uma delas. Não há outra saída!

Nas experiências que acompanho, no Master em Jornalismo e nos trabalhos de consultoria, ninguém alcançou a perfeição e ninguém se equivocou totalmente. O que se nota é que os jornais estão lentos para entender que o papel é um suporte que permite trabalhar em algo que a internet e a rede social não podem: a seleção de notícias, o jornalismo de alta qualidade narrativa e literária. É isso que o público está disposto a pagar. A fortaleza do jornal não é dar notícia, é se adiantar e investir em análise, interpretação e se valer de sua credibilidade.

Estamos numa época em que informação gráfica é muito valiosa. Mas um diário sem texto é um diário que vai morrer. O suporte melhor para fotos e gráficos não é o papel. Há assuntos que não é possível resumir em poucas linhas. Assistimos a um processo de superficialização dos jornais. Queremos ser light, leves, coloridos, enxutos. O risco é investir na forma, mas perder no conteúdo. Olhemos para o sucesso da revista britânica The Economist. Algo nos deveria dizer. Não é verdade que o público não goste de ler. O público não lê o que não lhe interessa, o que não tem substância, não agrega, não tem qualidade. Um bom texto, para um público que compra a imprensa de qualidade, sempre vai ter interessados.

Daí a premente necessidade de um sólido investimento em treinamento e qualificação dos profissionais. Para mim, o grande desafio do jornalismo é a formação dos jornalistas. Se você for a um médico e ele disser que não estuda há 20 anos, você sai correndo. Mas há jornalistas que não estudam há 20 anos. É preciso criar oportunidades de treinamento. O jornalismo não é rotativa. O valor dele se chama informação de alta qualidade, talento, critério, ética, inovação. Por isso são necessários jornalistas com excelente formação cultural, intelectual e humanística. Gente que leia literatura, seja criativa e motivada.

O conteúdo precisa fugir do previsível. O noticiário de política, por exemplo, tradicionalmente forte nos segmentos qualificados do leitorado, perdeu vigor. Está, frequentemente, dominado pela fofoca e pelo declaratório. Fazemos denúncias (e é importante que as façamos), mas, muitas vezes, faltam consistência, apuração sólida. O resultado é a pauta superada por um novo escândalo. Fica no leitor a sensação de que não aprofundamos, não conseguimos ir até o fim. O marketing político avançou além da conta. Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era do declaratório e da inconsistência.

Políticos e partidos vendem uma bela embalagem, mas fogem da discussão das ideias e das políticas públicas. Nós, jornalistas, somos - ou deveríamos ser - o contraponto a essa tendência. Cabe-nos a missão de rasgar a embalagem e mostrar a realidade. Só nós, estou certo, podemos minorar os efeitos perniciosos do espetáculo audiovisual que, certamente, não contribui para o fortalecimento de uma democracia sólida e amadurecida.

Uma cobertura de qualidade é, antes de mais nada, uma questão de foco. É preciso declarar guerra ao jornalismo declaratório e assumir, efetivamente, a agenda do cidadão. O nosso papel é ouvir as pessoas, conhecer suas queixas, identificar suas carências e cobrar soluções dos governantes. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.

Só um sério investimento em qualidade e rigor garantirá o futuro dos jornais.