segunda-feira, outubro 17, 2011

ANTONIO PENTEADO MENDONÇA - Serviços 24 horas


Serviços 24 horas
ANTONIO PENTEADO MENDONÇA
O ESTADÃO - 17/10/11

Criados como estratégia para atrair o consumidor, os serviços acoplados às apólices são considerados hoje tão importantes quanto o próprio seguro

Quando os seguros de veículos começaram a se tornar importantes para as seguradoras, na segunda metade dos anos 1980, as apólices ofereciam apenas as garantias básicas, que, essencialmente, são as mesmas oferecidas até os dias de hoje.

Até aquela época os seguros realmente importantes para as seguradoras eram os seguros de incêndio, transportes, lucros cessantes por incêndio e vida em grupo. A atividade como um todo representava menos de 0,7% do PIB brasileiro, ou seja, era praticamente insignificante dentro da economia nacional.

Como se não bastasse, o Brasil entrava no seu processo inflacionário mais agudo, o que desmotivava qualquer tentativa de investir no setor, já que não há poupança que resista a inflação alta. As companhias de seguro em operação no país se aguentavam do jeito que dava, em certa medida protegidas pelas tarifas únicas impostas pelo IRB (Instituto de Resseguros do Brasil) e por um começo de concorrência mais franca, consequente de uma medida básica para o desenvolvimento do setor, que ficou conhecida como "Circular 22" e que, pela primeira vez desde a criação do IRB, autorizou que as seguradoras concedessem descontos comerciais nos prêmios dos seguros de incêndio e lucros cessantes.

Início. Nessa época, a Porto Seguro Seguros era uma empresa dando seus primeiros passos, o que praticamente a deixava fora da concorrência pelas contas tidas como o "filé" do mercado. Sabendo que não teria chance contra as companhias mais tradicionais, ela decidiu investir num ramo de seguro que até ali sempre fora olhado como um seguro ruim e que, por isso, jamais interessara às grandes seguradoras da época.

Foi neste momento que o setor começou a mudar. Com a Porto Seguro focando o seguro de automóveis e desencadeando uma série de medidas agressivas para conquistar uma parcela do segmento, pela primeira vez na história do seguro brasileiro um produto de massa se converteu no grande seguro, capaz de redesenhar o quadro.

No primeiro momento, a ação da Porto Seguro foi no sentido de oferecer as apólices com as garantias tradicionais, mas de forma descomplicada e levando em conta, inclusive para preço, as diferenças entre os modelos.

Quando as demais seguradoras perceberam o potencial do segmento, a competitividade fez com que as ações de marketing se sofisticassem.

O primeiro benefício foi o guincho. Um belo dia, lá estava ele, primeiro apenas para atender os casos em que o veículo segurado se envolvesse em acidentes que o impossibilitassem de continuar rodando, depois o benefício foi ampliado para os casos de defeitos mecânicos. Em seguida, alguém lembrou de incluir um lanche e um suco para o motorista do veículo a ser atendido, outro alguém lembrou de outra vantagem a ser acrescentada, e a coisa tomou forma.

Diversificação. Os serviços 24 horas foram incorporados aos seguros de automóveis, oferecendo cada vez mais vantagens para o segurado. Dado o sucesso da sua adoção como complemento das garantias, eles foram estendidos para outros tipos de apólices, como os seguros residenciais, os seguros de vida e os planos de saúde.

Atualmente, estes serviços se tornaram quase tão importantes quanto o próprio seguro. Aliás, dependendo do tipo da apólice, os serviços 24 horas são percebidos pelos consumidores como a justificativa para a contratação do seguro, e não o contrário, como seria lógico, já que eles não são o produto final da seguradora.

Boa parte dos titulares dos seguros residenciais considera os serviços acoplados à sua apólice, como encanador,chaveiro, eletricista, limpeza de caixa d"água e outros que vão sendo incorporados, mais importantes do que a garantia contra queda de raio ou explosão de gás de cozinha.

E é lógico que seja assim, afinal, é mais fácil um cano entupir ou uma torneira vazar do que um botijão de gás explodir ou um raio cair no imóvel. Como cada vez mais serviços são incorporados aos seguros, eles se tornaram moeda de troca, justificando inclusive algumas apólices custarem mais caro e terem demanda.

SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA ADVOCACIA, PRESIDENTE DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS E COMENTARISTA DA RÁDIO "ESTADÃO ESPN

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