sexta-feira, junho 24, 2011

MERVAL PEREIRA - Disputa tecnológica


Disputa tecnológica
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 24/06/11 

Uma disputa interna na base aliada do governo, que volta e meia tem consequências externas, é a do PSB com o PT por espaços políticos. Ter perdido para o PT o Ministério da Ciência e Tecnologia, que era seu feudo partidário desde o início do governo Lula em 2003, é uma ferida que não está cicatrizada, e tem reflexos políticos.

A polêmica em que se viu envolvido o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, ex-ministro da Ciência e Tecnologia que recebeu R$280 mil reais como "indenização por demissão sem justa causa" mesmo tendo pedido para deixar o cargo de diretor-geral da Alcântara Cyclone Space-ACS, uma empresa binacional Brasil-Ucrânia para lançamentos de foguetes, tem a ver com uma polêmica maior envolvendo o programa espacial brasileiro, que ele havia criticado dias antes da denúncia em uma comissão da Câmara em Brasília.

A principal crítica que fez, a de que o programa espacial não está sendo tratado como questão estratégica, nem como política de Estado, já estava explícita em um documento que preparou ao deixar o cargo, intitulado "Programa espacial brasileiro: impasses e alternativas".

Roberto Amaral foi o primeiro ministro da Ciência e Tecnologia da fase pessebista, que teve depois o próprio presidente do partido, o hoje governador de Pernambuco Eduardo Campos, e Sérgio Rezende, um técnico ligado a ele, que já fora secretário do seu avô, Miguel Arraes.

Nacionalista convicto da velha guarda, Amaral ficou conhecido pela declaração polêmica de que o Brasil deveria pesquisar todo o ciclo atômico para dominar a técnica da bomba atômica.

Suas críticas à falta de prioridade que o governo vem dando ao programa espacial parecem refletir o pensamento de parte da oficialidade envolvida nesses projetos, cujos representantes também fizeram críticas à atuação do petista Aloizio Mercadante no Ministério da Ciência e Tecnologia.

A chegada de Mercadante para ocupar o ministério quebrou a tradição do PSB, e criou antagonismos.

No documento que deixou como sua contribuição ao novo governo de Dilma Rousseff, o ex-ministro defende que "qualquer política de ciência e tecnologia deve compreender o desenvolvimento da atividade espacial como plataforma indispensável para que o país (...) desempenhe sua projeção na comunidade internacional".

Amaral diz que o Brasil "é uma teimosa exceção" num mundo em que "todas as grandes potências e aquelas que têm justificadas expectativas de se tornar potência nos próximos 50 anos", dispõem de programa espacial avançado.

Ele adverte que o Brasil apresenta problemas que dificultam a incorporação de novas tecnologias, sendo o mais grave "a fragilidade do nosso sistema de administração do programa espacial (...) distribuído em vários órgãos, sem coordenação, agindo de forma dispersa, com ações e projetos superpostos e, em muitos casos, até, conflitantes".

Para ele, a questão crucial é "a inexistência de uma Agência Central, coordenadora e reguladora, como por exemplo a NASA, nos EUA, ou o CNES na França, ou o ISRO da Índia".

Roberto Amaral elogia o fato de a Estratégia Nacional de Defesa elevar o programa espacial à categoria de política estratégica, mas lamenta que a criação de uma secretaria diretamente subordinada à Presidência, coordenando os programas cibernético, nuclear e espacial, não tenha sido concretizada.

Mas, ressalta Amaral em seu documento, "independentemente do organograma que integre o PEB não pode ficar à mercê do voluntarismo burocrático, tocado por políticas erráticas, dependentes de recursos escassos e intermitentes, ausente de um planejamento governamental de longo prazo".

Investir na área espacial é desafio que tem de ser assumido pelo Estado, defende o ex-ministro da Ciência e Tecnologia. "Sem essa decisão fortemente instituída, os esforços ficarão desconexos; os resultados, desalinhados; a eficiência, altamente comprometida".

Não é acaso, diz ele, que os projetos estratégicos nacionais como as políticas espacial, nuclear e a cibernética padeçam solução de continuidade, "enquanto somos superados tecnologicamente por parceiros como os indianos, os chineses e os sul-coreanos. E pelos iranianos e os coreanos do Norte".

Ele sugere no documento que seja criado um grupo de trabalho interministerial com a incumbência de propor a execução de um planejamento estratégico de Estado.

"Com credibilidade interna e externa, os recursos poderão ser mobilizados: os governos poderão tomar as medidas em sua esfera de competência; a indústria poderá investir; os jovens buscarão as carreiras de C,T&I, porque nela enxergarão a possibilidade de realizar sonhos sem abdicar do atendimento às necessidades básicas da vida".

O fato objetivo, diz Roberto Amaral em seu texto, é que na segunda década do século XXI não dispomos de satélites completamente brasileiros (à exceção dos pioneiros SCD-1 e 2), nem de veículos lançadores.

Nossos satélites são construídos em cooperação com a China, lançados de Centro Espacial chinês, com foguete chinês, o Longa-marcha. "A questão não se reduz ao uso unicamente comercial de nossos lançadores, nem à produção de satélites meteorológicos ou de sensoriamento, mas, sim, que já somos objeto da espionagem via-satélite, e, neste contexto, depender de satélites de terceiros é renunciar à garantia de seus serviços".

Se não tivermos capacidade de lançar, de solo brasileiro, com foguete brasileiro, nossos satélites, sejam eles quais forem, não teremos condições de garantir a soberania de nosso país, adverte.

ROGÉRIO FURQUIM WERNECK - O grande momento de FH


O grande momento de FH
ROGÉRIO FURQUIM WERNECK 
O Globo - 24/06/2011

Exibindo invejável vitalidade física e intelectual, Fernando Henrique Cardoso chega aos 80 anos festejado Brasil afora, até mesmo por seus mais aguerridos adversários, pelo muito que fez pelo país. Acima das mesquinharias partidárias, seus méritos vêm sendo, afinal, amplamente reconhecidos. Já não se contesta a enorme importância que seus dois mandatos tiveram na consolidação da estabilização, na modernização da economia e na criação de condições propícias para um projeto mais ambicioso de crescimento e desenvolvimento social no país.

Nos oito anos em que ocupou o Palácio do Planalto, FH enfrentou longa sequência de grandes desafios. E não faltam bons exemplos de situações com que se defrontou entre 1995 e 2002, em que seus muitos talentos lhe foram de grande valia. Mas o melhor momento da admirável carreira política de FH se deu, na verdade, antes de ter sido eleito presidente. Foi como ministro da Fazenda do problemático governo Itamar Franco, em circunstâncias extremamente adversas, que FH mostrou a verdadeira extensão do variado leque de talentos que, com o sucesso do Plano Real, o conduziria à Presidência.

Defrontando-se com um quadro econômico delicado, com incertezas exacerbadas pelo impeachment de Collor, Itamar Franco deu-se ao luxo de nomear nada menos que quatro ministros da Fazenda diferentes nos seus sete primeiros meses de governo. Sua última escolha, em maio de 1993, recaiu sobre FH.

A taxa de inflação voltara a superar 30% ao mês e, mais uma vez, o Planalto se via pressionado a agir. Mas havia grande ceticismo sobre as reais possibilidades do governo Itamar Franco. Seu desempenho inicial havia sido deplorável. Faltavam-lhe apenas 19 meses de mandato e em menos de um ano o Congresso estaria totalmente mobilizado com as eleições de outubro de 1994. Parecia pouco provável que tivesse condições, tempo e espaço de manobra para conceber e implementar uma política econômica de mais fôlego.

A montagem de uma equipe econômica competente havia se tornado tarefa quase impossível. O tempo médio de permanência no cargo dos três primeiros ministros da Fazenda de Itamar Franco havia sido de 75 dias. Não é surpreendente que, nessas circunstâncias, tivesse ficado muito difícil encontrar nomes respeitáveis que se dispusessem a integrar a equipe econômica do governo. É notável, portanto, que, não obstante todo o desalento quanto às possibilidades do governo Itamar Franco, FH tenha conseguido quebrar esse círculo vicioso e montar uma equipe econômica de alto nível. Contribuíram para o êxito com que enfrentou esse primeiro desafio a estatura política do novo ministro, sua ascendência sobre o grupo de economistas que afinal compôs o núcleo de sua equipe econômica e a percepção de que FH teria melhores condições que seus antecessores de estabelecer uma relação mais estável com o Planalto.

O grupo levaria meses para desenvolver um plano completo e bem acabado. FH logo percebeu a importância de assegurar condições de trabalho adequadas, que facilitassem esse desenvolvimento. Evitou interferências indevidas nas discussões técnicas e aceitou que prevalecessem regras não hierárquicas, que conferissem mais legitimidade à depuração do livre fluxo de ideias no âmbito do grupo.

Mas, para conseguir que o Plano Real fosse lançado com sucesso, FH teria de mostrar seus talentos como negociador e sua capacidade de liderança e persuasão em várias outras esferas, bem além dos limites estreitos de sua relação com a equipe econômica: dentro do governo Itamar Franco, no seu próprio partido, na busca de apoio no Congresso e, sobretudo, no esforço de convencer a opinião pública de que o novo plano seria completamente diferente dos anteriores e teria boa chance de ser bem-sucedido.

Ter enfrentado com sucesso, em tão pouco tempo, todos esses desafios e assegurado condições adequadas para levar adiante uma operação da complexidade do Plano Real, foi, sem dúvida, o melhor momento de Fernando Henrique Cardoso, por mais notável que tenha sido seu desempenho posterior como presidente da República.

NELSON MOTTA - A luta do século


A luta do século
NELSON MOTTA
 O Estado de S.Paulo - 24/06/11

Poucos brasileiros chegaram aos 80 anos com o prestígio, o reconhecimento e as homenagens que recebeu o professor Fernando Henrique Cardoso. Nem adversários políticos, nem mesmo Lula, ousaram dizer que ele não os merece. Sem botox nem cabelos pintados, sem falsa modéstia, o homem está com a bola cheia, em excelente forma física e intelectual, ao contrário do companheiro Raúl Castro, que fez 80 e se diz com corpinho de 70, mas diante de FHC está uma ruína.

Nenhum político da oposição sequer se aproxima do peso e da altura de Fernando Henrique, nem da lucidez e clareza de suas ideias, amadurecidas pela vivência da realidade, geralmente estúpida e mesquinha, da política e do poder.

Ninguém tem mais autoridade do que ele na oposição, nem merece tanto respeito, e até temor, da atual base governista. Além disso, continua elegante, articulado e agudo em seu discurso, sem perder o humor e a (auto) ironia. Está mais simpático e relaxado, e até se permite generosidades e tolerâncias da maturidade. Hoje não haveria melhor candidato da oposição à Presidência da República.

Em 2014 ele terá 83 anos. Mas, com os avanços da ciência, a expectativa e a qualidade de vida crescem em proporção geométrica, há cada vez mais homens e mulheres lúcidos, vigorosos e produtivos nessa faixa etária, além de naturalmente mais sabidos, pela experiência adquirida.

Deng Xiao Ping, que viveu até os 95, governou até os 86 e deixou como legado as grandes transformações que resultaram na China moderna. Konrad Adenauer foi chanceler da Alemanha do pós-guerra até encerrar o seu histórico mandato com 87 anos. O marechal Tito governou a Iugoslávia com mão de ferro até os 88.

No Brasil há exemplos como o centenário Oscar Niemeyer, que nos seus oitentas estava em pleno vigor e criatividade. João Havelange,95, presidiu a FIFA até os 82, e, pela forma em que está, poderia estar lá até hoje. O presidente Venceslau Braz (1914-18) viveu até os 98.

Se o governo Dilma se arrastar até 2014, que espetáculo seria ver Fernando Henrique e Lula se enfrentando cara a cara em debates sensacionais. A eleição é só um pretexto.

LUIZ GARCIA - Nó no pescoço



Nó no pescoço
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 24/06/11

Sou velho o bastante para me lembrar do tempo em que o uso de terno e gravata era um indicador de posição na pirâmide social — um símbolo de status. Era assim no Hemisfério Norte, logo teria de ser do mesmo jeito do Equador para baixo. E a primeira gravata, na classe média em que eu morava, anunciava que se aproximava o começo da vida adulta.

Não esqueço a minha estreia no mundo das gravatas, ainda acompanhadas das calças curtas — de laço feito, claro, já que a habilidade de dar o laço no pescoço só vinha com o ingresso na adolescência, dos 15 anos em diante. Para os mais velhos, era indício de status e elegância usar o laço Windsor (tenho quase certeza de que tinha alguma coisa a ver com o duque de Windsor, sabidamente o homem mais elegante do Hemisfério Ocidental).

Meu primeiro emprego foi na falecida “Tribuna da Imprensa”. O jornal ficava na Rua do Lavradio. Era quase um pardieiro, quente até no inverno (ar-condicionado, só na sala do patrão), mas todo mundo trabalhava engravatado — exceto, naturalmente, as duas ou três mulheres que eram a quota costumeira nas redações daquele tempo: as bonitinhas que faziam a página feminina e as feiosas que cobriam alguma repartição pública. Era assim em todos os jornais, e ninguém perdia tempo reclamando do calor. “Aquecimento global” era uma expressão que só seria inventada muito depois. Ele já tinha começado, mas ninguém sabia disso.

Hoje, as gravatas são minoria nas redações e em quase toda parte. Aos poucos, sem que o assunto merecesse qualquer discussão, os cariocas descobriram duas coisas: que habitam uma cidade tropical e que um pedaço de pano preso ao pescoço não é parte obrigatória da roupa que se usa no trabalho. Em quase todas as profissões, usa gravata quem quer, e ninguém dá importância a isso.
Perdão: quase ninguém. Em Brasília, o Conselho Nacional de Justiçaacaba de recusar permissão à Ordem dos Advogados do Rio de Janeiro para que seus membros possam dispensar paletó e gravata nos tribunais do estado durante o verão. Para os conselheiros, cabe aos próprios tribunais decidir a questão e, pelo visto, os juízes não abrem mão de paletó e gravata para quem tiver causas a defender em sua presença. Há dois anos, a OAB dispensou seus membros do nó no pescoço durante o verão, mas os tribunais mantiveram a exigência, agora com apoio doCNJ.

É direito, e até obrigação, dos juízes exigir que pessoas se vistam decentemente para merecer entrada nos tribunais. Não seria concebível, por exemplo, aceitar bermudão e sandália de dedo em quem pretende ser levado a sério pela Justiça. Mas ninguém precisa de terno e gravata para, por exemplo, ir a uma igreja. Num tribunal, qualquer cidadão deve se vestir e se comportar com absoluto respeito pela instituição. Não é o tal nó no pescoço que garante isso.

DORA KRAMER - Antes da queda


Antes da queda
DORA KRAMER
O ESTADÃO - 24/06/11

No fim do ano passado, o então presidente Luiz Inácio da Silva vetou o novo sistema de distribuição de royalties do petróleo aprovado pelo Congresso, que tira receita dos Estados produtores e redistribui o dinheiro, descontada a parte da União, para todos os Estados do País.

O veto está na gaveta do presidente do Senado, José Sarney, aguardando um acordo que impeça uma votação que hoje seria derrota certa para o Palácio do Planalto, pois a posição da maioria é pela derrubada que teria como consequência, já anunciada pelo governo federal, a transferência da decisão para o Supremo Tribunal Federal.

A expectativa é que a situação seja definida antes do próximo dia 13, quando o Congresso entra em recesso. Para evitar o exame e a consequente derrubada do veto, os governadores Eduardo Campos, de Pernambuco, e Marcelo Déda, de Sergipe, vão buscar um acordo com os governadores dos Estados produtores (Rio de Janeiro, Espírito Santo e São Paulo) em reunião na quinta-feira que vem em Brasília.

A eliminação do veto recuperaria o texto original da chamada emenda Ibsen que representa pesadas perdas aos estados produtores, notadamente o Rio de Janeiro.

Em tese, os outros Estados teriam tudo para apoiar a derrubada: imporiam uma derrota aos governadores Sérgio Cabral, Renato Casagrande e Geraldo Alckmin e teriam a garantia da participação na distribuição dos royalties segundo as regras do Fundo de Participação dos Municípios.

O problema é que isso significa, de um lado, um revés político para a presidente Dilma Rousseff e, de outro, leva o tema à incerteza de uma decisão do Judiciário.
Ou seja, a vitória numérica de hoje pode não ser a vitória judicial de amanhã e acabar resultando numa “bomba política”, na expressão de um governador do Nordeste, para todos.

A ideia é produzir uma solução intermediária: convencer os governadores dos Estados produtores a apoiarem uma proposta em que percam menos, mas percam alguma coisa em relação à situação atual, deixando uma parcela dos royalties para ser rateada entre todos os outros Estados e municípios.

Com isso, Sarney não poria o veto em votação, o governo não se exporia ao malogro diante da própria base parlamentar, o assunto não iria ao Supremo e tudo se resolveria na base do entendimento em torno de um projeto de lei já em tramitação na Câmara.

Resta saber se quem hoje tem a vantagem, os Estados produtores e a maioria favorável ao veto, aceita trocar um ganho certo agora pela ainda duvidosa hipótese de uma perda adiante.

Depois do vendaval
Primeiro foi a Caixa Econômica Federal que apontou Antonio Palocci como responsável pela quebra do sigilo do caseiro Francenildo Costa, depois de o STF recusar denúncia contra o ex-ministro por falta de provas.

Agora é o ex-diretor do Banco do Brasil e atual funcionário do governo petista de Brasília, Expedito Veloso, quem aponta o ministro Aloizio Mercadante como mentor do dossiê engendrado para prejudicar a candidatura do tucano José Serra ao governo de São Paulo em 2006.

Isso depois de o STF ter arquivado ação contra Mercadante por falta de inícios que indicassem a participação do então senador candidato do PT ao governo paulista.
Se o propósito era lícito – o esclarecimento dos fatos – as acusações deveriam ter sido apresentadas quando poderiam gerar consequências.

Feitas depois de assegurada a impunidade, sugerem a mera intenção de criar constrangimento político, considerando a dificuldade de os casos serem reabertos e a possibilidade de os acusados alegarem que foram absolvidos pela instância máxima da Justiça.

A isso é que se dá o nome de politização (no mau sentido) de escândalos sem solução.

Desacato
Virou moda: toda hora aparece uma figura de destaque se recusando a fazer o teste do bafômetro. Total falta de responsabilidade social. No lugar de contribuir para a consolidação da Lei Seca, são os primeiros a tentar desmoralizá-la.

MÔNICA BERGAMO - PANELA CHEIA

PANELA CHEIA
MÔNICA BERGAMO
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/06/11

A Receita Federal já apreendeu R$ 11,4 bilhões nas 2.584 ações de fiscalização deste ano só no Estado de SP. Isso representa um aumento de 36% no valor e de 7% no número de operações. O fisco diz que o resultado reflete o fato de maiores contribuintes passarem pelo pente-fino.

EM PEDAÇOS
A maior parte das ações de fiscalização (1.542) cercou pessoas jurídicas, sobretudo do setor financeiro e de prestação de serviços. As outras 1.042 fiscalizações em pessoas físicas se concentraram em proprietários e dirigentes de empresas, diz a Receita.

BANCO ESCOLAR

O governo de SP abriu licitação para tornar permanente o projeto Poupatempo em Movimento, que teve uma versão piloto realizada em 2009. O projeto prevê levar serviços como emissão de RG e carteira profissional a escolas. A ideia é alcançar os alunos que precisam dos papéis, por exemplo, para prestar vestibular ou se inscrever em faculdades.

CONVITE-SURPRESA

O ministro do Esporte, Orlando Silva Jr., diz que foi "surpreendido" ao ser indicado como testemunha de defesa pelo prefeito de Campinas, dr. Hélio (PDT-SP), no processo sobre um suposto esquema de fraudes em licitações na administração local. Afirma que, quando convocado, irá falar sobre as parcerias de sua pasta e da União com a prefeitura, "em solidariedade" ao político.

TELA VERDE

O publicitário Eduardo Fischer, criador do festival de música SWU, está fazendo um documentário sobre sustentabilidade. A provável roteirista do filme trabalhou na produção de "Uma Verdade Inconveniente", de Al Gore. Outros membros da equipe vêm de Hollywood para o projeto. No dia a dia da produção, Fischer não esconde que sonha até com o Oscar.

PEDRA FUNDAMENTAL

O ponto de vendas do novo hotel Ca d'Oro, que também terá apartamentos e escritórios, será montado entre os escombros do antigo prédio, que foi demolido. A arquiteta Patricia Anastassiadis assinará os decorados -e o futuro empreendimento-, com espelhos e poltronas que remetem à história do local.

PIQUE

Carlinhos Brown tocará em seis festivais da Europa e da África em apenas 15 dias. Começa no dia 7 de julho no Festival de Ljubljana, na Eslovênia, onde Gilberto Gil também se apresentará. Na sequência, vai para Milão, Nice, Madri, Marrocos e Galícia, na Espanha. Acabada a turnê, ele se apresenta com o Olodum no Black na Cena Music Festival, em SP.

PIPOCA

Os atores Rodrigo Santoro e Cauã Reymond confirmaram presença no Festival de Paulínia, entre 7 e 14 de julho. Eles vão conferir a primeira exibição do filme que protagonizam, "Meu País", de André Ristum. E participarão de um debate.

ARTE ENGAJADA
Vik Muniz, Juarez Machado, Carlinhos Brown, Oskar Metsavaht e Mauricio Azeredo cederam obras de arte para leilão beneficente promovido no Jockey Club de SP. Foram ao evento os designers Sérgio Rodrigues, Zanini de Zanine e Marta Micheli.

O BISNETO DE FRANCISCO

A cantora Wanessa na última quarta, posando grávida pela primeira vez

Wanessa Camargo confirma: está grávida de 12 semanas. A boa surpresa veio acompanhada de um episódio desagradável. Há alguns dias, ela foi assaltada na avenida Faria Lima, em SP. Um ladrão se apoiou no pneu do carro blindado da cantora e entrou pelo teto solar. Wanessa, 28, falou à coluna. Abaixo, um resumo:

Folha -Teve medo de perder o bebê no assalto?
Wanessa - A primeira coisa em que eu pensei foi: "Será que me assustei demais?" Fiquei muito elétrica. Mas em nenhum momento desfaleci. Fui muito espirituosa, por incrível que pareça. Tentei acalmar o ladrão. Uma amiga estava comigo, era a quinta vez em que era assaltada. Para mim, foi a primeira. Dei o celular e a minha carteira, pedi a identidade e ele devolveu. Depois, você fica petrificada e com um bom medo de São Paulo. Não achei nenhuma viatura para fazer a ocorrência. E depois nem fiz.

Como descobriu a gravidez?

Toda mulher descobre com aquele atraso básico. Fiz exames e o médico foi acompanhando. No começo é complicado, né? Tivemos que manter o sigilo. Avisamos nossos pais. Meus irmãos eu demorei um pouco. Eles têm namorados e amigos, e eu queria que ficassem quietinhos. Até a 12ª semana tem risco de aborto. Isso me apavorava: falar essa alegria e depois... Deus me livre!

Como reagiu quando soube?
Você fala: "Verdade?". Aquela surpresa, aquela euforia de coisa boa, uma notícia "uaaau". Veio num momento de estabilidade. Eu e o Marcus [Buaiz] estamos casados há quatro anos, e agora conseguimos ter um amadurecimento na relação, na casa, nos trabalhos.

E as mudanças no corpo?
Estou gostando bastante. Pelo menos nessa fase, estou me sentindo mais volupto.. volupsi... ai, meu Deus! Voluptuosa, né? Eu era muito pequenininha, então a coxa está ficando mais interessante, os seios. E a barriga vai ficando bonitinha.

Como está se cuidando?

Não posso ficar saltitando. Pratico ioga e posso continuar fazendo abdominal. Eu não era de passar cremes e continuo não sendo, mas vou precisar de algo para as estrias. Já comia muita fruta e estou dando um "upgrade" nisso. Carne eu não comia, mas agora como. Tenho que dar um "up" no ferro.

Menino ou menina?

O primeiro é o que vier. Meus pais falam para fazermos surpresa e não saber antes o sexo, mas não sei se vamos aguentar. Não tenho ainda um nome que eu fale "uau!". Eu tinha, mas foram todos "roubados". Os dos meus avós, Francisco e Helena, que são lindos, foram tomados por dois primos. Vou ter que pensar em outros.

CURTO-CIRCUITO

O Samba da Vela comemora 11 anos, no Sesc Pompeia, às 21h30. 18 anos.

Os arquitetos Fernando Forte, Lourenço Gimenes e Rodrigo Marcondes Ferraz, do escritório FGMF, recebem hoje em Vicenza, na Itália, o prêmio Dedalo Minosse.

A estilista Fábia Bercsek vende seu acervo pessoal no no brechó Juisi by Licquor, nos Jardins, até quinta.

Fernanda Takai e Maki Nomiya tocam hoje e amanhã às 21h e no domingo às 18h. No Sesc Pinheiros. Classificação etária: 10 anos.

O cover do cantor Raul Seixas, Roberto Seixas, apresenta "O Sonho Não Acabou -de Raul a Roberto Seixas, 25 Anos de Carreira". Amanhã, às 2h, no Café Aurora. 18 anos.

com DIÓGENES CAMPANHA, LÍGIA MESQUITA, THAIS BILENKY e CHICO FELITTI

VINICIUS TORRES FREIRE - O Supremo e o custo do emprego

O Supremo e o custo do emprego
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/06/11



Decisão do STF sobre o aviso prévio deve reavivar debate ainda ruim sobre o mercado de trabalho no país


O SUPREMO Tribunal Federal decidiu que o valor referente ao aviso prévio de demissão deverá ser proporcional ao tempo de serviço, como determina a Constituição. As empresas deverão um mês de salário, mais um adicional, que poderia chegar a um mês de salário para cada três anos no emprego, caso fosse adotada a fórmula sugerida pelo ministro Marco Aurélio Mello.
Como o Supremo ainda não determinou a fórmula da proporcionalidade, não se sabe ainda quando entra em vigor a decisão. Qualquer que seja a fórmula, haverá barulho.
Obviamente vai haver imediato aumento de custo para empresas formais, que já reclamam, com razão, de taxação alta e incerta. Reclamam, de modo mais controverso, do alto custo legal de contratar e demitir trabalhadores de modo legal ("formal"). Alguns economistas ainda dirão que a decisão do Supremo tornaria o mercado de trabalho brasileiro ainda mais "inflexível".
Num mercado inflexível, a "realocação" de postos de trabalho e de trabalhadores são dificultadas por fatores como leis, custos legais ou econômicos de demitir, criar e fechar postos de trabalho ou de pressões sindicais. Quanto mais inflexível um mercado, menor a "eficiência alocativa" (os recursos não se dirigem desimpedidamente para onde renderiam mais).
Os (raros) estudos menos política ou teoricamente enviesados sobre o mercado de trabalho no Brasil indicam que tanto a rotatividade de trabalhadores como de postos de trabalho é das mais altas do mundo. A proteção à demissão individual ou coletiva é uma das menores entre 40 países relevantes (segundo estudo da liberal OCDE).
O país convive pois com taxação (direta ou indireta) alta dos custos com trabalho, alta rotatividade, enorme mercado "informal" e salários baixos. Como de praxe, nota-se, o Brasil é complexo. Clichês sobre "inflexibilidade" e ideias simplistas ou confusas sobre a "taxa geral de rotatividade" nada dizem para o debate dos problemas do trabalho.
A rapidez com que a indústria demitiu e contratou durante e depois da crise de 2008, aos centenas milhares, diz algo sobre a inflexibilidade e o custo de contratar e demitir. Pode ser "alto", mas parece repassado adiante por meio de redução de salários médios ou preços regularmente maiores (mais improvável, dada a competição "globalizada). O aumento da formalização na década passada indica que o custo trabalhista legal é um impedimento menor que o imaginado na melhoria da oferta de trabalho legal.
Estudos mostram que a rotatividade de trabalhadores ocorre mais em postos de trabalho que exigem baixa qualificação, pagam pouco e são ocupados por pouco tempo. Falência e criação de novas empresas respondem por parte importante da rotatividade de postos de trabalho. A lei não impõe custos relevantes para empresas que descuram de criar postos de trabalho qualificados ocupados por trabalhadores experientes e mais bem treinados.
Pode-se imaginar que empresas melhores (inovadoras, produtivas e que investem na formação e fixação do trabalhador) padeçam mais no momento de se adaptar a flutuações de demanda (tenham de demitir).
Em suma, sabemos muito pouco de custos do trabalho, causas da rotatividade e a influência dos dispositivos legais no mercado de trabalho.

RENATA LO PRETE - PAINEL


Simples assim
RENATA LO PRETE
O GLOBO - 24/06/11

A Câmara prepara nova mordida nos cofres do governo. Trata-se do aumento, da ordem de 50%, dos limites para ingresso no Supersimples, lei que unifica e barateia a taxação de empresas com faturamento anual de até R$ 2,4 milhões. No cálculo da Fazenda, a medida geraria impacto de R$ 3,5 bilhões.
A frente parlamentar -258 deputados e 26 senadores- engajada na matéria avisou ao Planalto que a votação será na próxima quarta. Interessado em promover uma "agenda positiva", o governo não desaprova de todo a ideia, mas quer negociar percentual mais modesto. Ideli Salvatti (Relações Institucionais) disse à cúpula do PMDB que o secretário-executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, finaliza contraproposta.

Veja bem 
O deputado Pepe Vargas (PT-RS) argumenta que o aumento da formalização vai superar eventual queda na receita: "O histórico mostra que a receita nunca caiu, só aumentou".

Plataforma 
No encontro que promoveram em Brasília, os autodenominados blogueiros progressistas reivindicaram ser transformados em microempresários. O governo acha difícil atender.

Às claras 
O Senado discute ajuste na MP criadora do Regime Diferenciado de Contratações para obras da Copa, de modo a deixar claro que, finda a licitação, todos os valores serão divulgados, e que os órgão de fiscalização terão acesso irrestrito aos dados em qualquer etapa do processo. Há quem defenda que, por acordo, a mudança seja feita na Câmara.

O essencial 

Aflito com a mobilização do Planalto para definir o regramento das obras da Copa, um deputado aliado desabafa: "Quero saber do outro RDC: o Regime de Distribuição de Cargos".

Pois é 
Destinatário de contundente "carta aberta" do vereador Arthur Orsi (PSDB) sobre o escândalo em Campinas, José Dirceu conta a amigos que, não faz muito tempo, foi procurado pelo tucano para tratar da próxima eleição na cidade.

Efeito Dilma 

O PSDB convida governistas para homenagem aos 80 anos de FHC na quinta em Brasília. Já foram chamados, entre outros, o governador Eduardo Campos (PSB-PE), os senadores Delcídio Amaral (PT-MS) e Romero Jucá (PMDB-RR) e o ministro Alfredo Nascimento (Transportes).

Vassourinha 

Os tucanos preparam ainda um vídeo com jingles de campanhas de Fernando Henrique. Ainda há dúvida sobre a inclusão de uma adaptação do samba "Vai Passar", de Chico Buarque, usada na disputa pela Prefeitura de São Paulo, em 1985 -eleição que o então peemedebista perdeu para Jânio Quadros.

Ontem e hoje 
Naquele ano, FHC despediu-se do horário eleitoral rebatendo acusações do adversário: "Disseram que eu fumo maconha e que poria maconha na merenda das crianças. Eu, que fui professor a vida inteira e que nem fumo cigarro!". A descriminalização da droga é hoje bandeira do tucano.

Lupa 
O Ministério da Saúde vai abrir procedimento administrativo para apurar as denúncias envolvendo Jorge Pagura, afastado da secretaria de Esporte de São Paulo depois de ser citado em investigação sobre fraudes em hospital de Sorocaba.

Queimada 
A deputada estadual Aspásia Camargo (PV-RJ) reforça o coro dos que, na contramão do discurso do presidente do PV, José Luiz Penna, apontam perseguição contra a ala de Marina Silva: "Há um clima de expurgo. Pessoas simpáticas a ela estão sendo alijadas dos cargos de direção".

com LETÍCIA SANDER e RANIER BRAGON

tiroteio


"Nada como uma reunião palaciana com saborosos cargos para fazer o Sarney recuar na defesa da transparência nas licitações."
DO DEPUTADO IVAN VALENTE (PSOL-SP), sobre a mudança de opinião do peemedebista, após reunião com a ministra Ideli Salvatti, em relação ao projeto de regime diferenciado de contratação para obras da Copa e da Olimpíada.

contraponto

Conta outra

Momentos antes do início do jogo em que o Santos conquistou sua terceira Libertadores, Gabriel Chalita (PMDB-SP) postou no Twitter:
-Sou corintiano de pai e mãe, convicto! Mas hoje o Santos é Brasil, vamos torcer para os meninos da Vila!
Lembrando que o deputado é pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), também no microblog, não perdeu a deixa:
-Chalita, pare de fazer campanha! Essa de que é corintiano mas está torcendo pelo Santos não cola!

MIRIAM LEITÃO - De pacto em pacto


De pacto em pacto
MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 24/06/11

O crime se infiltra na Amazônia, mesmo nas instituições criadas pra combatê-lo. Os elos se misturam e fortalecem a corrente que abate diariamente a floresta. A cada reportagem, um flagrante; a cada estudo, uma nova prova do velho problema: a mistura do legal com o ilegal na cadeia produtiva vai lavando os crimes. O Brasil avança no combate, mas é mais lento que o crime.

O Observatório Social divulgou esta semana outro estudo que começou num local emblemático: Nova Ipixuna, Pará. Lá, desembarcaram em março dois repórteres, Marques Casara e Sergio Vignes. Lá, em maio, foram assassinados dois ambientalistas, José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. Os jornalistas investigavam o crime de uso de carvão ilegal na cadeia produtiva do aço, encontraram fornos ilegais e constataram, pelo cruzamento de dados, que as siderúrgicas do Polo de Carajás estão usando carvão ilegal. José Cláudio e Maria denunciavam o desmatamento ilegal e foram mortos depois de avisarem que estavam marcados para morrer.

O País avança; aos poucos. O progresso usa a estratégia de construir redes de constrangimento e pressão sobre os criminosos. Mas os elos da cadeia do crime têm sido persistentes e há momentos em que se pensa que eles vencerão no final.

No documento do Observatório Social, como em outros que já foram divulgados com o mesmo objetivo, há motivos para desânimo e alívio. A boa notícia é que outras investigações que mostravam a conexão entre grandes empresas e os crimes trabalhistas e ambientais acabaram provocando pactos que permitiram avanços no combate ao trabalho escravo e degradante e ao desmatamento ilegal. Foi com movimentos assim que empresários, ONGs, governos, OIT, Ministério Público assinaram o pacto contra o trabalho escravo em 2004. Ele diminuiu o número de casos; mas não acabou com o absurdo. Houve denúncia contra a soja brasileira; compradores internacionais pressionaram, foi assinada a moratória da soja. Através dela as grandes empresas do setor se comprometeram a não comprar soja de área de desmatamento recente.

Houve denúncias de que os grandes frigoríficos compram rebanhos que pastam em áreas desmatadas ilegalmente. Os supermercados foram cobrados pelos consumidores. Alguns aderiram ao compromisso contra a carne de desmatamento; outros, não. O Ministério Público iniciou então a campanha da Carne Legal. Impactantes anúncios mostravam a ligação entre o prato do consumidor e a prática ilegal. Tudo isso vai empurrando o país para a legalidade, apesar de todas as forças que se unem para manter o atraso.

Há casos revoltantes de políticos impunes ou cúmplices; de atrasos inaceitáveis em julgamentos; de perseguição a funcionários do Ministério do Trabalho ou do Ibama que apenas querem que a lei seja cumprida; de denúncias do Ministério Público não levadas em conta; de empresas que fazem vista grossa porque assim reduzem o preço dos seus insumos. De vez em quando o Brasil avança.

Um desses passos à frente foi dado quando houve a primeira denúncia contra trabalho escravo e desmatamento ilegal na indústria siderúrgica brasileira. O centro do problema era em Carajás. Ainda é. Foi criado depois da denúncia sobre os Escravos do Aço o Instituto Carvão Cidadão. O objetivo do ICC é exigir que todas as siderúrgicas de Carajás se comprometam a não comprar carvão ilegal, e a verificar se seus fornecedores respeitam as leis trabalhistas, garantem equipamentos de proteção aos operários e usam madeira de extração legal. Houve avanços.

O Observatório Social voltou lá em março e constatou que o crime continua. Marques Casara me disse no programa Espaço Aberto, da Globonews, que algumas das siderúrgicas locais não cumprem o que elas mesmas prometeram e lavam o crime na sua produção. Como? Misturando carvão legal, cascas de babaçu e carvão produzido em fornos ilegais. Tudo misturado faz a liga do ferro-gusa que depois é exportado: 90% dos produtos de siderúrgicas como a Sidepar e Cosipar são comprados por grandes consumidoras e traders de aço como a ThyssenKrupp, NMT e Nucor Corporation. Empresas que fornecem para as grandes montadoras de automóveis americanas.

A diretora de sustentabilidade do Instituto Aço Brasil, Cristina Yuan, me disse que as produtoras de ferro-gusa do Polo de Carajás não fazem parte da associação, que reúne apenas as grandes indústrias siderúrgicas do País. Ela garante que todo o carvão usado pelas empresas do Instituto Aço Brasil vem de florestas plantadas ou de manejo.

E de fato não são elas as acusadas neste estudo. Para se separar das empresas desse grupo é que o antigo Instituto Brasileiro de Siderurgia trocou o nome para Instituto Aço Brasil.

Segundo Casara, a Vale foi procurada antes da divulgação do estudo. Ela é a única fornecedora de minério de ferro para as guseiras do Pará. A empresa disse que vai investigar a denúncia. Em outros momentos a Vale assinou pactos e assumiu compromissos de só fornecer a guseiras que não usam carvão ilegal. Tomara que a Vale investigue logo.

Pelos dados do relatório, se forem cruzados os montantes de ferro-gusa produzido com o total de carvão legal registrado fica claro que grande parte do carvão é ilegal. Só em Nova Ipixuna os dois repórteres encontraram 500 fornos ilegais. Toda vez que uma investigação ilumina a cadeia produtiva lá encontra os elos da cadeia do crime trabalhista e ambiental. A cada empurrão o Brasil avança um pouco. Essa é a esperança.

RODOLFO LANDIM - Uma boa oportunidade


Uma boa oportunidade
RODOLFO LANDIM
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/06/11

Investimento em empresas de capital fechado ou em fundos "private equity" parece ser uma boa opção
O BRASIL está bem, parece não haver muitas dúvidas sobre isso. A economia vem sendo dirigida segundo bons fundamentos, algo que continuamente tem proporcionado a redução do risco de crédito do país de acordo com as agências internacionais, como recentemente ocorreu mais uma vez no caso da Moody's.
O real forte e as taxas de juros ainda são desafios, mas sem dúvida existem boas perspectivas de crescimento da economia para os próximos anos. O nível de emprego é bastante elevado, o poder de compra da população vem crescendo, o crédito se expandiu e o quadro geral parece não estar sofrendo grandes ameaças de mudança no curto prazo.
No entanto, a Bolsa não tem refletido isso, nem está com perspectiva de fazê-lo em breve. As razões para isso parecem ser mais externas do que internas. As ações estão sob pressão de um ambiente financeiro internacional apreensivo, que impede que elas reflitam as boas perspectivas da economia real.
O Brasil assumiu uma posição de destaque mesmo entre os badalados Brics, países vistos como os maiores responsáveis pelo crescimento global nos próximos anos. A Rússia perdeu o glamour que tinha no início da década passada e hoje é vista como um país com práticas comerciais pouco ortodoxas, onde a propriedade privada não tem segurança e o equilíbrio econômico é totalmente dependente da exportação de petróleo.
A Índia, apesar das importantes reformas ocorridas nos últimos anos, precisa se desburocratizar. O país ainda não apresenta um ambiente atrativo para o empreendedor privado.
Reconhecida como a maior promessa de contínuo desenvolvimento do mundo, a China é um país onde as empresas são caras. Durante a crise de 2008, houve grande perda de valor, mas que, em grande parte, já foi recuperado.
Os Estados Unidos registraram deficit enormes nos últimos anos e o crescimento de sua dívida pública amedronta os investidores. As famílias americanas também possuem um elevado nível de endividamento e hoje estão mais inseguras quanto ao futuro. Tendem a ficar mais cautelosas e menos dispostas a gastar.
Sendo uma sociedade rica e com baixas necessidades emergenciais, é possível que os Estados Unidos passem os próximos anos procurando reduzir seu endividamento. Isso nos leva a acreditar que o crescimento econômico norte-americano deve ser baixo nos próximos anos.
Mas o maior temor que vem afetando os mercados de capitais em todo o mundo é proveniente da Europa. Os ventos que sopram da Irlanda, de Portugal e principalmente da Grécia não são nada bons, principalmente desta última, cuja dívida pode ser considerada impagável.
Somadas, as dívidas desses três países não são tão assustadoras quando analisadas sob o contexto de toda a economia europeia, mas a preocupação maior é que um efeito cascata de perda de credibilidade possa afetar a Espanha e a Itália, podendo causar outro período de grande recessão no mundo.
Mesmo que a situação da Grécia e de outros países menores se arraste sem um desfecho trágico, ela cria um ambiente de precaução nos mercados, o que também tende a conter o crescimento na Europa.
Vivemos, portanto, uma situação incomum no Brasil: boa perspectiva econômica, com mercados de ações deprimidos e de tendência incerta. Muitos dos tradicionais investidores ou já estão investidos ou têm preocupações quanto ao desempenho de curto prazo dos ativos e se mantêm retraídos neste momento.
Mas sempre que há ameaças podem também estar escondidas boas oportunidades. Para aqueles que têm disponibilidade de recursos para aplicação por período prolongado e buscam rentabilidade maior do que a de renda fixa, investimentos diretos em companhias de capital fechado ou em fundos "private equity" parecem ser uma excelente opção no momento.
Os preços de entrada são comparativamente mais baixos do que os das companhias de capital aberto e do que aqueles normalmente oferecidos em IPOs nos períodos de otimismo de mercado. Os ganhos médios esperados são maiores. É uma aposta na economia real, sem as incertezas das oscilações da Bolsa.

ELIANE CANTANHÊDE - Saindo das cordas


Saindo das cordas
ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/06/11 

 Parece sina: Dilma vive enroscada com a antipática palavra "sigilo". Primeiro, o sigilo dos negócios do homem forte de seu governo, depois o sigilo eterno dos documentos oficiais, enfim o sigilo nos contratos de obras para a Copa e para a Olimpíada.
Presidentes, porém, têm caneta, recursos e "Diário Oficial". E Dilma aprendeu com o padrinho que é melhor isolar as crises políticas como assunto de minorias e ir tocando o barco, ou melhor, os governos.

Por isso, Dilma foca as faixas de baixa renda, que nem sabem quem é esse tal de Palocci, e as classes médias, que, se ouviram falar em Palocci, Código Florestal e sigilos, não deram tanta bola assim. O importante é o que bate no bolso.

No setor de telecomunicações, Dilma vai anunciar na próxima semana telefone fixo a R$ 9,50 (sem o ICMS) para a baixa, baixa, baixa renda, telefones individuais e orelhões para a área rural e banda larga a R$ 35. Só coisa boa.

No de atendimento médico, a ANS (Agência Nacional de Saúde) deu um chega pra lá nos planos de saúde, definindo prazos para consultas, que eram a perder de vista.

No de educação, a presidente anunciou 75 mil bolsas de estudo para alunos de graduação e de pós-graduação e entregou, toda sorridente, medalhas para campeões da olimpíada de matemática.

No de moradias, a União doou 200 mil m2 em terrenos para projetos de interesse público em Minas Gerais e no Paraná, a maior parte para casas populares.

Então, que Palocci que nada! Crise com a base aliada, o que é isso? Documentos sigilosos, eu, hein?!

É assim que Dilma vai deixando o episódio Palocci para trás, contando com Lula para controlar o PT, jogando as negociações políticas para Ideli Salvatti e se reservando para dar boas notícias a quem interessa de fato -e dá retorno.

Agora, é torcer para não haver outros casos Palocci voando por aí. Senão começa tudo de novo.

CLAUDIO HUMBERTO

“O Brasil virou refúgio para criminosos de todo o mundo”
DEPUTADO RUBENS BUENO (PR), LÍDER DO PPS, E O VISTO AO BANDIDO CESARE BATTISTI

DILMA PRESERVA GALEÃO E CABRAL SE VINGA NO INCA 
Insatisfeito com a exclusão do aeroporto do Galeão da lista inicial de privatização, definida pela presidenta Dilma, o governador do Rio, Sérgio Cabral, promove uma cruel retaliação: segura a cessão da sede do Instituto de Assistência aos Servidores do Estado (Iaserj) ao governo federal, impedindo que o Instituto do Câncer (Inca) realize sua urgente ampliação. A licitação de R$ 500 milhões inclusive já foi aberta.

O PRETEXTO 
Cabral tem uma desculpa na ponta da língua: só cede o Iaserj quando o Instituto de Traumato-ortopedia (Into) ficar pronto, na Av. Brasil.

À BEIRA DE UM ATAQUE 
A oposição atribui o nervosismo de Sérgio Cabral pela não privatização do Galeão a compromissos que teria assumido com grupos privados.

FOGUEIRA AÉREA 
Enquanto passageiros sofrem em seus aeroportos vagabundos, a Infraero deu R$ 90 mil para a festa de São João de Campina Grande.

CAVERNOSO 
Se chegar a 40 o número de ministérios, incluindo Defesa Civil Contra Calamidade, só falta oficializar Ali Babá de “palestrante oficial”. 

RORAIMA: ÍNDIOS FAZEM CHANTAGEM COM ESTRADA 
Não bastam o governador cassado e a maior enchente da história de Roraima, em calamidade pública: os índios da Reserva São Marcos impediram que uma empresa de engenharia recuperasse trecho da BR-174 Norte, em Paracaima. Índio pilantra quer dinheiro: só libera o acesso após “negociar” com o governo estadual. Peitaram o Ministério Público e a Polícia Federal, colocando as famílias diante das máquinas.

O ESTADO SOMOS NÓS 
A reserva São Marcos foi homologada antes da Raposa do Sol. Saía de lá quase toda a carne que abastecia Boa Vista. Hoje produz nada. 

O SABÃO DE PILATOS 
Operação Mãos Limpas: estudo da multinacional Reckitt Benckiser mostra que o Brasil é recordista em lavar as mãos com sabonete. 

FOFOCALHADA 
Começaram a semana chutando a canela de Dilma: contaram-lhe que o presidente da Câmara, deputado Marcos Maia, vive falando mal dela.

FOGO NA EDUCAÇÃO 
Depois dos bombeiros do Rio, é a vez de Santa Catarina: em greve, os professores ganham R$ 609 mensais, abaixo do piso nacional de R$ 1.187 e seis vezes menor que o salário-base de professor no DF.

SAMBA-CANÇÃO 
As fábricas de cuecas deverão prosperar muito nos próximos anos: afinal, o relator da MP da Copa, deputado José Guimarães (PT-CE), se envolveu no escândalo dos dólares na cueca, em 2005. 

CENA BRASILIENSE 
Quarta (22), o valentão Roberto Requião (PMDB-DF) interpelou um rapaz, na fila do cafezinho do aeroporto de Brasília: “Seu pai gostou da arma que dei a ele?”. O rapaz tentou desconversar e os políticos que os adversários chamam de “Maria Louca” insistiu: “Era um revólver Rossi!”.

RENÚNCIA 
Antes de aceitar a Embratur, o ex-deputado Flávio Dino (PCdoB) se demitiu do Instituto do Direito Público, faculdade do ministro Gilmar Mendes, onde tinha belo salário, hotel de luxo e carro com motorista.

ELES INSISTEM 
Deputados republicanos de Ohio mantêm a pressão no Congresso dos EUA para exigir do Brasil a extradição de Cláudia Hoerig, acusada de matar em 2007 o marido, veterano da guerra do Iraque. Procurada pela Interpol, vive em Brasília. Dizem que abriu mão da cidadania brasileira. 

RECEITA ADMITE ERRO 
A Receita admitiu erro na emissão do CNPJ do PSD de Gilberto Kassab antes de o partido vir a ser registrado em cartório. A Receita informa que foi erro de preenchimento do registro, inserindo a data de 13 de abril (convenção) em lugar de 10 de maio (cartório). Ah, bom.

CVM: CARGO ESTRATÉGICO... 
A advogada Gabriela Cordoniz assumiu a estratégica função de chefe de gabinete de Maria Helena Santana, que preside a Comissão de Valores Mobiliários, cujo papel é fiscalizar o mercado de capitais. 

... EM RELAÇÕES PERIGOSAS 
O que poucos sabem é que Gabriela Cordoniz foi ligada à banca de advocacia de Marcelo Trindade, ex-presidente da CVM, que participa de importantes processos em fase de julgamento na autarquia.

PERGUNTA NA FOGUEIRA 
Dilma cancelou o “Arraiá do Torto” por excesso de quadrilhas? 

PODER SEM PUDOR
RATOS GIGANTES 
Deputados conversaram certa vez, na Câmara, e um deles quis saber o que é “gabiru”, em meio às discussões sobre o ex-deputado Paulo Marinho (PL-MA), cassado pela Justiça. Quem esclareceu foi o então vice-presidente da Casa, José Thomaz Nonô (DEM-AL), provocando gargalhadas:
– Gabiru é rato grande, também chamado de cassaco. No Rio Grande do Sul é ratão do banhado. Em Brasília, tem vários nomes: Delúbio, Silvinho...

SEXTA NOS JORNAIS


Globo: Governo desrespeita acordo e amplia gasto com terceirizados

Folha: Maioria dos senadores é contra sigilo de papéis

Estadão: Governo prepara a concessão de 45 portos

Correio: Hackers fazem novo ataque e vazam dados

Valor: Preço de exportação em alta limita déficit externo

Estado de Minas: Vítimas do descaso

Jornal do Commercio: São João engarrafado

Zero Hora: Procergs monitora ataque a sites no RS