sexta-feira, junho 24, 2011

RODOLFO LANDIM - Uma boa oportunidade


Uma boa oportunidade
RODOLFO LANDIM
FOLHA DE SÃO PAULO - 24/06/11

Investimento em empresas de capital fechado ou em fundos "private equity" parece ser uma boa opção
O BRASIL está bem, parece não haver muitas dúvidas sobre isso. A economia vem sendo dirigida segundo bons fundamentos, algo que continuamente tem proporcionado a redução do risco de crédito do país de acordo com as agências internacionais, como recentemente ocorreu mais uma vez no caso da Moody's.
O real forte e as taxas de juros ainda são desafios, mas sem dúvida existem boas perspectivas de crescimento da economia para os próximos anos. O nível de emprego é bastante elevado, o poder de compra da população vem crescendo, o crédito se expandiu e o quadro geral parece não estar sofrendo grandes ameaças de mudança no curto prazo.
No entanto, a Bolsa não tem refletido isso, nem está com perspectiva de fazê-lo em breve. As razões para isso parecem ser mais externas do que internas. As ações estão sob pressão de um ambiente financeiro internacional apreensivo, que impede que elas reflitam as boas perspectivas da economia real.
O Brasil assumiu uma posição de destaque mesmo entre os badalados Brics, países vistos como os maiores responsáveis pelo crescimento global nos próximos anos. A Rússia perdeu o glamour que tinha no início da década passada e hoje é vista como um país com práticas comerciais pouco ortodoxas, onde a propriedade privada não tem segurança e o equilíbrio econômico é totalmente dependente da exportação de petróleo.
A Índia, apesar das importantes reformas ocorridas nos últimos anos, precisa se desburocratizar. O país ainda não apresenta um ambiente atrativo para o empreendedor privado.
Reconhecida como a maior promessa de contínuo desenvolvimento do mundo, a China é um país onde as empresas são caras. Durante a crise de 2008, houve grande perda de valor, mas que, em grande parte, já foi recuperado.
Os Estados Unidos registraram deficit enormes nos últimos anos e o crescimento de sua dívida pública amedronta os investidores. As famílias americanas também possuem um elevado nível de endividamento e hoje estão mais inseguras quanto ao futuro. Tendem a ficar mais cautelosas e menos dispostas a gastar.
Sendo uma sociedade rica e com baixas necessidades emergenciais, é possível que os Estados Unidos passem os próximos anos procurando reduzir seu endividamento. Isso nos leva a acreditar que o crescimento econômico norte-americano deve ser baixo nos próximos anos.
Mas o maior temor que vem afetando os mercados de capitais em todo o mundo é proveniente da Europa. Os ventos que sopram da Irlanda, de Portugal e principalmente da Grécia não são nada bons, principalmente desta última, cuja dívida pode ser considerada impagável.
Somadas, as dívidas desses três países não são tão assustadoras quando analisadas sob o contexto de toda a economia europeia, mas a preocupação maior é que um efeito cascata de perda de credibilidade possa afetar a Espanha e a Itália, podendo causar outro período de grande recessão no mundo.
Mesmo que a situação da Grécia e de outros países menores se arraste sem um desfecho trágico, ela cria um ambiente de precaução nos mercados, o que também tende a conter o crescimento na Europa.
Vivemos, portanto, uma situação incomum no Brasil: boa perspectiva econômica, com mercados de ações deprimidos e de tendência incerta. Muitos dos tradicionais investidores ou já estão investidos ou têm preocupações quanto ao desempenho de curto prazo dos ativos e se mantêm retraídos neste momento.
Mas sempre que há ameaças podem também estar escondidas boas oportunidades. Para aqueles que têm disponibilidade de recursos para aplicação por período prolongado e buscam rentabilidade maior do que a de renda fixa, investimentos diretos em companhias de capital fechado ou em fundos "private equity" parecem ser uma excelente opção no momento.
Os preços de entrada são comparativamente mais baixos do que os das companhias de capital aberto e do que aqueles normalmente oferecidos em IPOs nos períodos de otimismo de mercado. Os ganhos médios esperados são maiores. É uma aposta na economia real, sem as incertezas das oscilações da Bolsa.

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