terça-feira, janeiro 11, 2011

ALON FEUERWERKER

A tentação tucana
Alon Feuerwerker
Correio Braziliense - 11/01/2011
 
A posição crítica do PSDB diante dos caminhos da aliança PT-PMDB pode permitir também outra leitura. É possível especular que o PSDB — ou parte dele — esteja a mandar certo recado para o governo e para o PT
 Ficaram comuns nos últimos dias as cobranças sobre a oposição, que em público parece ter tirado férias. Esta coluna já tratou o assunto. Deve-se dar um desconto pelas circunstâncias?
Sim. Comecinho de governo não é época para criar graves dificuldades a quem acabou de ganhar a eleição e mal agarrou o manche. Mas é realmente curioso que a oposição esteja alheia a temas tão sensíveis como o salário mínimo e a (não) correção da tabela do Imposto de Renda.
O Democratas anda mergulhado na luta interna pelo controle da legenda, enquanto o PSDB se limitou até agora a uma única nota oficial, para criticar o método da distribuição de cargos no governo Dilma Rousseff.
A nota tucana soa algo extravagante, pois não cabe ao PSDB supervisionar o modo como PT e PMDB se relacionam. Se os tucanos têm críticas específicas e fundamentadas a alguma nomeação, digam. Se têm acusações a fazer, façam.
A crítica genérica ao “fisiologismo” costuma ser confortável e esperta. Garante ao crítico a simpatia em certos círculos da opinião pública, sem o ônus do desgaste com ninguém em particular. E só. No ambiente político real ninguém leva a sério.
Até por não haver meio diferente de formar governo. Se você precisa de apoio político-parlamentar, deve oferecer espaço e poder a quem tem força conquistada na urna. É democrático. É o que fazem também governadores e prefeitos dos partidos de oposição a Dilma.
Aliás, funciona assim em todo canto. E funciona bem. O estranhamento aqui no Brasil deve ter a ver com nossa imaturidade democrática. Basta folhear jornais dos países com democracia mais antiga para notar que a partilha de cargos e de poder orçamentário é a regra, a rotina.
Outra coisa, bem diferente, são os malfeitos, a incompetência, o descaso com o interesse público. Mas esses são eventos que precisam ser tratados concretamente. Se não, fica estranho. Por que uma indicação do PMDB é fisiológica e condenável a priori e uma do PT, ou do PSB, não é? Às vezes a coisa soa algo preconceituosa.
Mas a posição crítica do PSDB diante dos caminhos da aliança PT-PMDB pode permitir também outra leitura. É possível especular que o PSDB — ou parte dele — esteja a mandar certo recado para o governo e para o PT.
Que recado? Em tese, esse PSDB estaria disposto a garantir alguma governabilidade, não sendo portanto necessário que o PT ceda tanto às pressões peemedebistas — e de partidos menores — por espaço na máquina.
O PSDB é quem tem mais governadores, oito, a maioria deles em estados muito dependentes do governo federal. E tem também bancadas expressivas, cuja sobrevivência eleitoral depende em grau razoável da execução orçamentária da União.
Assim, haveria um terreno potencialmente comum a tatear. Cada um faria o teatro de praxe, disparar-se-iam os discursos protocolares, mas haveria um acordo fundamental para “deixar o governo governar”. Em troca, no que interessa, os exércitos da oposição não seriam tratados como inimigos.
Seria uma tentação e tanto para o governo petista, ou para o petismo governamental, mas esbarra no medo que o gato escaldado sente da água fria. O antecessor de Dilma sonhou com algo assim no comecinho do governo, tendo colhido mais adiante instabilidade política.
Daí o esforço hercúleo em 2010 para dar a Dilma uma maioria aritmética e política confortável. Na aritmética deu certo; na política, nem tanto.
Pois a ocupação maciça de espaços pelo PT desperta nos aliados o temor diante da ameaça à reprodução dos mandatos na esfera local. O quadro petista numa posição local de poder é ameaça direta ao aliado que garante a Dilma o voto na Câmara dos Deputados.

Desafio

A The Economist traz esta semana reportagem de capa sobre a nova versão da luta de classes na Europa.
Não mais entre capitalistas privados e operários livres, mas entre governos e seus funcionários.
Um desafio europeu é injetar produtividade em um setor público perenemente faminto de recursos.
Se é um desafio lá, mais ainda aqui. 

JANIO DE FREITAS

A resposta
JANIO DE FREITAS
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11


DE IMPORTÂNCIA sem igual nas intenções jornalísticas assumidas pela internet, a revelação de documentos secretos dos Estados Unidos pelo WikiLeaks vale, também, por outra contribuição não menos significativa. E de alcance ainda mais geral, embora própria da área doméstica do jornalismo.
A invasão e o avanço da internet nos domínios do jornalismo impresso estão fora de discussão. Quer dizer, postas fora de discussão. Não pela internet. Pelos jornais impressos. Intimidados, sentindo-se humilhados e vencidos como se atirados no corredor da morte, sem que à internet -será sempre justo repetir- deva-se o propósito de levá-los a essa indisfarçada desistência de viver.
Você já reparou em uns pequeninos registros, colocados ao pé de textos, com os dizeres "Se quiser ler mais sobre este assunto, veja" (segue-se o endereço do jornal na internet)? Quase nenhum espaço ocupado com isso. Mas diz muito.
É o jornalismo impresso abrindo mão da sua função e transferindo-a à internet que tanto o atemoriza, e que nada lhe pediu. O leitor, que pagou pelo jornal, deve se virar como puder, para ter o complemento de informação pela qual entregou seu dinheirinho. A sonegação de tantas partes em variados assuntos, claro, não terá a correspondência de corte algum no preço do exemplar.
O leitor que integralize a leitura no computador do trabalho, em lugar do trabalho; leia o complemento à noite, contra a atração da TV já atualizada, ou -esqueça e não chateie, basta que compre o jornal amanhã outra vez.
Ainda não a ouvi, mas seria fácil a explicação de que vai para a internet o complemento de pouco interesse. Mas já ouvi, e aceito há mais de meia vida, a maior conveniência, para o leitor desejoso de estar bem informado, de um noticiário bem selecionado e cada assunto tão completo quanto necessário (o que não quer dizer forçosamente extenso, mas bem elaborado).
Isso, em lugar do noticiário variado, ou nem tanto, e comprimido quase à maneira radiofônica. Ainda há isto: se o transferido à internet é dispensável, por que temer a internet que seria (e não é) um repositório de dispensáveis?
Estávamos por aí, quando vem o WikiLeaks com seus documentos. Ou melhor, não vem. Apesar de todas as suas boas condições.
Para que os documentos alcancem a dimensão informativa e política merecida, passa-os a cinco publicações do jornalismo impresso: "Der Spiegel", na Alemanha; "The Guardian", no Reino Unido; "The New York Times", nos Estados Unidos; "El País", na Espanha, e "Le Monde", na França, com Folha e "O Globo" tendo acesso antecipado, no Brasil, ao material liberado.
Diante da internet, seria mesmo o caso de recuo do jornalismo impresso, aos berros para o leitor não deixar de perceber e seguir a sugestão? Ou de estar em ofensiva, remodelando-se para as novas realidades, como seria próprio do jornalismo diário pelo tempos afora? Não sei as respostas.
O WikiLeaks sabe.

ILIMAR FRANCO

Batendo cabeça
Ilimar Franco
O Globo - 11/01/2011
Começa mal, do ponto de vista político, o governo Dilma Rousseff. Na semana passada, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que a presidente vetaria um aumento do salário mínimo maior do que os R$540 proposto pelo Executivo. Ontem, o ministro Carlos Lupi (Trabalho) disse o contrário, que o Congresso é soberano e que o que ele decidir o governo terá de aceitar. A base aliada já está desorientada para essa importante votação.

Solidariedade em alta

O Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome) atingiu a marca de 2 milhões de voluntários, tornando o cadastro brasileiro o terceiro maior do mundo. Nos últimos 11 anos, o Redome cresceu 16.000%, aumentando as chances de encontrar doadores compatíveis. Esse tipo de transplante cresceu 57% no Brasil, nos últimos sete anos. "Em 2010, 67% dos transplantes foram realizados com material encontrado no Redome", disse Luís Bouzas, diretor do Centro de Medula Óssea do Instituto Nacional de Câncer.

Interrogação

Os governistas estão inquietos. A última grande articulação em que o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) esteve envolvido foi para fazer o petista Cândido Vaccarezza (SP) candidato a presidente da Câmara. Ele saiu derrotado. 
Intrigante

Quando assumiu o Conselho de Administração da Vale, Ricardo Flores disse que vinha para apaziguar. Desde então, a situação degringolou. Os políticos avaliam que a maior empresa da América Latina vive em clima de conspiração.

Itália se recusa a extraditar Troccoli

O governo italiano, tão empenhado na extradição de Cesare Battisti, adota postura diferente no caso do uruguaio Jorge Troccoli. Ele foi capitão dos Fuzileiros Navais do Uruguai e contribuiu para o desaparecimento de muitos oposicionistas da ditadura uruguaia. Troccoli foi um dos agentes da Operação Condor, que atuou na repressão a militantes de esquerda nos países do Cone Sul durante as ditaduras militares nos anos 70 e 80. O editor do site "Gramsci e o Brasil", Luiz Sérgio Henriques, relata em artigo que "o curioso é que o governo de Berlusconi negou a extradição de Troccoli para o Uruguai, alegando dupla cidadania".

A coordenação não muda

Há resistência, no núcleo petista do Planalto, para atender ao pleito do PMDB de incluir um de seus ministros na coordenação do governo. O argumento é de que os demais partidos aliados reivindicariam o mesmo. Esse encaminhamento foi delineado ontem, em reunião da qual participaram a presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer, e os ministros Antonio Palocci (Casa Civil) e Luiz Sérgio (Relações Institucionais). 


CURSINHO TIRIRICA. O deputado federal e humorista Tiririca (PR-SP) elegeu-se com o bordão: "Você sabe o que faz um deputado federal? Eu também não! Vote em mim que eu te conto!". Pois é, a Câmara decidiu criar um programa especial voltado para os deputados federais de primeiro mandato que terá aulinhas sobre o que faz um parlamentar. O cursinho começa em fevereiro e será aberto a assessores novatos e ao público.

Não há vazio em política. A presidente não falou até agora" - um aliado sênior do governo, apreensivo com a falta de pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff


DOUTORES. Diante das críticas em relação a indicações políticas, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) diz que sua equipe tem dois pós-doutores, três doutores, uma doutoranda e um especialista em saúde do trabalho.

O PSDB vai propor um salário mínimo de R$600, diz seu coordenador na Comissão de Orçamento, Rogério Marinho (RN). Essa postura é uma contradição com o discurso tucano de redução dos gastos públicos.
APERTO, AQUI? 
MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11

Apesar de o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) ter anunciado o contingenciamento de R$ 1,5 bilhão no Orçamento do Estado, a secretária Linamara Rizzo Battistella, da Pessoa com Deficiência, diz que sua pasta não será afetada. "Tenho carta branca para gastar." A prioridade serão projetos de "inclusão pela educação". A secretaria não está na lista do governo de pastas -Educação, Saúde, Segurança e Desenvolvimento Social- que ficariam de fora da contenção. 

TÔ CHEGANDO 
Bruno Covas, secretário do Meio Ambiente, diz que "ainda é cedo" para dizer como a pasta será afetada pelo contingenciamento. O da Agricultura, João Sampaio, diz que a definição sobre cortes "está concentrada na Secretaria do Planejamento". Andrea Matarazzo, secretário da Cultura, considera as medidas "normais para todo começo de governo". 

CAIXA POSTAL 
Uma ex-franqueada da CVC entrou com uma ação por danos morais e materiais contra a operadora e o gerente-geral da empresa no Rio, Antonio Carlos Alves de Mello. A acusação é de invasão de privacidade. Adriana Haydt alega que Mello deu ordens para a violação do seu e-mail corporativo e pessoal. 
A assessoria da CVC diz que a empresa tem acesso apenas aos e-mails corporativos, monitorados conforme a legislação. A operadora informa que, por problemas de gestão da franqueada, o contrato entre eles foi encerrado. 

SOB NOVA DIREÇÃO 
Mario Luiz Sarrubbo dirigirá a Escola Superior do Ministério Público no lugar de Eloisa de Souza Arruda, que se tornou secretária de Justiça de SP. Ele é o primeiro promotor a assumir o cargo, tradicionalmente exercido por procuradores de Justiça. 

MAR À VISTA 
Cauã Reymond sai de férias por dez dias após o fim de "Passione". O ator viajará com a mulher, Grazi Massafera, para o Nordeste. 

COISA DE TOP 
A top brasileira Martha Streck, radicada nos EUA, havia sido reservada para mais de 20 desfiles no Fashion Rio. Teve que cancelar a agenda na semana de moda, que começa hoje. Tudo porque a Gucci a contratou com exclusividade para uma campanha em Milão. 

MAU HUMOR E DRINQUES NO DESCANSO DE AMY 

Eram 19h de domingo quando Amy Winehouse saiu da piscina do hotel onde está hospedada no bairro Santa Teresa, no Rio, para comer no restaurante do local. Ela, que no dia anterior havia feito o primeiro show no Brasil, em Florianópolis, passou a tarde descansando à beira da piscina com integrantes da banda e da produção. 


"Amy!!! Hello, Amy!!", gritavam fãs numa ruazinha de onde se avista o jardim. Os jovens ignoravam o mau humor da inglesa. Cansada do barulho, ela gritou:"Fuck off" [algo como "sai daqui, po..."] e desceu para o restaurante Téreze, de mãos dadas com um segurança. Lá, Amy e equipe ficaram num salão reservado. Alguns dos músicos, tomando caipirinhas, iam fumar na área externa. Um dos músicos pede informação sobre praia. A sugerida: "Praia da Barra", repete com sotaque. Amy come salada niçoise, com folhas e atum grelhado, "redução de saquê balsâmico e pipocas de alcaparras". Às 20h30, volta ao jardim para curtir a vista da Baía de Guanabara. 
Nas espreguiçadeiras em que ela e equipe passaram a tarde, restavam um balde cheio de garrafinhas de água, um maço de cigarros, latas de energético e dois copos com restos de caipirinha. 
Não demora muito e Amy retorna ao restaurante. A porta do reservado fica aberta por segundos. Amy grita: "Get out! [sai daqui]." Um garçom corre para fechar a porta.(LM, do Rio) 
CURTO-CIRCUITO

A ESPM promove hoje, às 17h30, a palestra "A Internacionalização do Vinho Fino Argentino", com José Alberto Zuccardi, diretor da vinícola Familia Zuccardi. 

A embaixada dos EUA no Brasil inicia hoje o workshop "Access Camp", no qual 40 jovens e cinco empresas desenvolverão projetos sociais. 

A peça "O Mentiroso" estreia na sexta, no teatro Commune. Classificação: 12 anos. 

A chef Renata Braune assina temporada de carpaccios no bar São Pedro São Paulo. 

O site Saúde & Trabalho Online (www.saudeetrabalhoonline.com.br) alcançou 20 mil acessos. 

com ELIANE TRINDADE (interina), DIÓGENES CAMPANHALÍGIA MESQUITA e THAIS BILENKY

MÍRIAM LEITÃO

 Portas da fábrica 
Míriam Leitão

O GLOBO - 11/1/11

A indústria cresce a dois dígitos, há números fortes de importação de máquinas e equipamentos, o Nuci, índice que mede quanto da capacidade de produção está sendo utilizada, está alto. Mesmo assim, fala-se que o Brasil estaria passando por um período de desindustrialização. Difícil acreditar. Imagina se não houvesse importação, o que estaria acontecendo com a inflação?

O ponto máximo do Nuci da Fundação Getúlio Vargas foi nos anos 70, na época do milagre econômico, quando, por alguns meses, ele atingiu a marca dos 90%. Em fevereiro de 2009, estava em 77,6%; em dezembro passado, chegou a 84,9%. Isso, para esse indicador, o de utilização da capacidade instalada, é muito alto. E o número reflete uma média, porque há setores onde há taxas mais baixas, como siderurgia. Os segmentos de bens de consumo duráveis e não duráveis estão acima da média. O que está mais fraco é o de bens intermediários. A série longa da FGV não deixa dúvidas de que a indústria brasileira está produzindo fortemente para atender à demanda crescente.

- Só se poderia falar de desindustrialização se tivesse ocorrendo uma alta ociosidade da indústria em meio a uma economia aquecida - diz o economia Marcelo de Paiva Abreu, da PUC-Rio.

Marcelo diz que está claro que existe um problema no câmbio, mas que o Brasil tem atacado o país errado:

- O problema é o câmbio chinês, mas nos últimos tempos o Brasil tem criticado apenas os Estados Unidos. O país deveria ser um aliado caloroso do mundo na crítica à política cambial chinesa, que faz com que seus produtos concorram deslealmente.

O risco agora é repetir algumas velhas fórmulas que o Brasil já tentou no passado sem sucesso, ou pior, com resultados desastrosos, como o fechamento econômico. Brinquedo já teve sua tarifa elevada para o máximo permitido pelos nossos compromissos na Organização Mundial do Comércio. Outros setores que já têm tarifas altas, como a indústria automobilística, começam a fazer queixas mesmo quando batem recorde de produção.

Sempre quando o câmbio se aprecia, e alguns setores pedem proteção ou protestam contra a taxa de câmbio, uma parte do país se lembra que há uma agenda eternamente perdida que é a do Custo Brasil. Repete-se isso, porque na verdade os problemas nunca são enfrentados. Nem só de câmbio vive a competitividade de uma indústria, evidentemente. O país precisa tornar mais eficiente a logística. As estradas, portos e aeroportos congestionados e ineficientes fazem mais mal às exportações do que a valorização do real. A burocracia precisa ser menos hostil às exportações. Essa é uma parte da moeda.

A outra é aquela de sempre: o país precisa criar condições fiscais para a queda das taxas de juros.

- Precisamos fazer um reexame sério da questão fiscal brasileira e o déficit público não vai ser resolvido pelo lado da receita. Temos que examinar as despesas seriamente - diz Marcelo de Paiva Abreu.

Quando o dólar está baixo, há sempre pressões da indústria, principalmente paulista, de que se resolva o problema via elevação das tarifas de importação ou barreiras às compras externas. Mas onde é exatamente que um movimento assim nos levaria? Se desse certo, e o país conseguisse impedir as compras externas, certamente haveria mais pressão inflacionária. O argumento como o que está novamente sendo defendido pela Fiesp, como mostrou o "Estadão" de ontem, é que as importações estariam desestimulando a produção local. Há de fato casos de empresas que fecham suas unidades no Brasil e passam a produzir em outros países. Ontem, o jornal paulista falou da Vulcabras Azaleia e da Philips.

Por outro lado, o Nuci mostra que a indústria está produzindo a todo vapor. Nesse nível, ou ela investe para aumentar a oferta ou a demanda terá que ser mesmo atendida por produtos importados, do contrário, haverá inflação.

É inescapável reduzir os custos das empresas através de mais investimento em infraestrutura, redução de custos sobre a folha salarial, diminuição da burocracia e queda forte dos juros. Isso independentemente do nível da taxa de câmbio. O problema é que o país só olha para esta questão quando a moeda nacional está valorizada, como agora. Quando ela se deprecia, o ganho extra do exportador funciona como uma anestesia e o debate é deixado de lado.

O problema é sentido diferentemente: alguns produtos estão com dificuldade de exportação, outros, que tiveram alta no mercado internacional, como as commodities, não estão tendo dificuldade. Como em uma moeda, o problema aqui tem dois lados: o real apreciado e o Custo Brasil nunca enfrentado.

JAIR BOLSONARO

Comissão da inverdade
JAIR BOLSONARO
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11

É notório que a esquerda quer passar para a história como a grande vítima que lutou pelo Estado democrático atual, invertendo o papel de militares


Os militares só conseguem manter a hierarquia e a disciplina porque a verdade está para eles como a fé está para os cristãos. A mentira e a traição fazem parte da vida política brasileira, em que os vitoriosos se intitulam espertos, pois, afinal, dessa forma estarão sempre no poder. A esquerda no Brasil chegou ao poder pelo voto, graças aos militares que impediram em 1964 a implantação de uma ditadura do proletariado. Os perdedores, nos anos subsequentes, financiados pelo ditador Fidel Castro, partiram para a luta armada, aterrorizando a todos com suas ações, que ainda fazem inveja ao crime dito organizado dos dias atuais.

Foram 20 anos de ordem e de progresso. Os guerrilheiros do Araguaia foram vencidos, evitando-se que hoje, a exemplo da Colômbia, tivéssemos organizações como as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) atuando no coração do Brasil. O nosso povo vivenciou sequestros de autoridades estrangeiras e de avião, dezenas de justiçamentos, tortura, execuções como a do adido inglês e a do tenente da Força Pública de São Paulo no Vale do Ribeira, bombas no aeroporto de Recife e carro-bomba no QG do 1º Exército, respectivamente com mortes de um almirante e de um recruta, latrocínios, roubos etc. O regime, dito de força, negociou e foi além das expectativas dos derrotados ao propor anistia até mesmo para crimes de terrorismo praticados pela esquerda. Agora, no poder, eles querem escrever a história sob sua ótica, de olhos vendados para a verdade.

Projeto do Executivo, ora em tramitação na Câmara, cria a dita Comissão da Verdade, composta por sete membros, todos a serem indicados pela presidente da República, logo ela, uma das atrizes principais dos grupos armados daquele período, que inclusive foi saudada pelo então demissionário ministro José Dirceu como "companheira em armas". Ninguém pode acreditar na imparcialidade dessa comissão, que não admite a participação de integrantes dos Clubes Naval, Militar e da Aeronáutica. Essa é a democracia dos "companheiros". Ainda pelo projeto, apurar-se-iam apenas crimes de tortura, mortes, desaparecimentos forçados e ocultação de cadáveres, não tratando de sequestros, atentados a bomba, latrocínios, recebimento de moeda estrangeira de Cuba, sequestro de avião e justiçamentos.

É notório que a esquerda quer passar para a história como a grande vítima que lutou pelo Estado democrático atual, invertendo completamente o papel dos militares, que, em 1964, por exigência da imprensa, da Igreja Católica, de empresários, de agricultores e de mulheres nas ruas intervieram para que nosso país não se transformasse, à época, em mais um satélite da União Soviética. Os militares sempre estiveram prontos para quaisquer chamamentos da nação, quando ameaçada, e, se a verdade real é o que eles querem, as Forças Armadas não se furtarão, mais uma vez, a apoiar a democracia. Se hoje nos acusam de graves violações de direitos humanos no passado, por que não começarmos a apurar os fatos que levaram ao sequestro, à tortura e à execução do então prefeito Celso Daniel em Santo André? Ou será que, pela causa, tudo continua sendo válido, até mesmo não extraditar o assassino italiano Cesare Battisti por temer o que ele possa revelar sobre seu passado com terroristas brasileiros hoje no poder?

MERVAL PEREIRA

Marcando posição
MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 11/1/11


O desentendimento aberto de ministros não é um bom sinal para o público externo, muito mais quando o presidente da República, a quem cabe a mediação desses conflitos, não assume uma posição, não dá um rumo. E, nesses casos, a orientação presidencial deve ser explicitada, para que os cidadãos saibam exatamente o que pensa a presidente, para que lado vai seu governo.

A divergência sobre o salário mínimo entre os ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Carlos Lupi, do Trabalho, é mais uma situação em que ministros de pensamentos diferentes fazem questão de marcar sua posição publicamente, num governo em que a característica não será a harmonia de posições devido à fragmentação da base partidária no Congresso.

O primeiro caso com peso político relevante ocorreu logo no primeiro dia de governo. Na sua posse, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general José Elito Siqueira, já se colocara de maneira a se contrapor ao discurso de véspera da própria presidente Dilma, que prestou homenagem "aos companheiros que tombaram" na luta contra a ditadura militar.

Segundo declarações do General, "os desaparecidos são um "fato histórico", do qual não temos que nos envergonhar ou nos vangloriar".

A nova ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos (SDH), a deputada federal petista gaúcha Maria do Rosário Nunes, por sua vez, se contrapôs ao general afirmando que "é mais do que chegada a hora" de o país prestar esclarecimentos sobre violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar.

Nesse caso, embora não tenha tomado nenhuma atitude mais radical - houve quem defendesse a pura e simples demissão do general - a presidente fez vazar a informação de que o repreendera em uma audiência fora da agenda, e que ele pedira desculpas pela frase, alegando que fora mal-interpretado.

Temos agora outro entrevero, desta vez na área econômica. Há exemplos históricos sobre divergências na área econômica que acabaram com a demissão de um dos ministros envolvidos.

O general Ernesto Geisel, por exemplo, demitiu o ministro da Indústria e Comércio, Severo Gomes, um empresário nacionalista que discordava da política econômica do então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, aproveitando uma ocasião social em que Severo bebera uns uísques a mais e fizera críticas públicas à política adotada e, em geral, aos militares.

Outra situação crítica foi a vivida pelo ex-presidente Fernando Henrique, que demitiu um amigo seu até hoje, o ministro do Desenvolvimento, Clóvis Carvalho, que discordou publicamente do então ministro da Fazenda, Pedro Malan.

Pois agora temos uma divergência pública com o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, colocando-se a favor do Congresso e contra o ministro da Fazenda, Guido Mantega, na discussão sobre o novo salário mínimo.

Mantega havia anunciado que qualquer quantia acima dos R$540 aprovados pelo governo seria vetada pelo Palácio do Planalto, falando em nome da presidente. Disse com todas as letras: "Nós vetaremos".

A presidente Dilma já havia chamado sua atenção em privado, mas com direito a vazamento nos jornais, mostrando a Mantega que sua afirmação poderia colocar a base aliada em oposição ao Planalto.

De fato, vem de partidos aliados, especialmente o PMDB, a tentativa de aumentar o salário mínimo para o mais próximo possível dos R$600 que a oposição prometera na campanha presidencial de José Serra.

A oposição, na verdade, não move uma palha para defender os R$600 para o salário mínimo, seja por que considera que é irresponsável aumentar o salário mínimo acima do que a Fazenda aprovou, ou porque as lideranças do PSDB no Congresso não estão interessadas em dar força a uma promessa de Serra.

O máximo que os oposicionistas fazem é se comparar aos governistas que forçam um aumento maior, o que não dará à oposição nenhum ganho político relevante. Qualquer aumento do salário mínimo será atribuído aos governistas rebelados, e não à oposição.

Se, ao contrário, PSDB e DEM fechassem questão por um salário mínimo de R$600, qualquer aumento além dos R$540 pareceria pequeno.

O fato é que, além do PMDB, também a Força Sindical trabalha para aumentar a proposta do governo, e já há indicações de que é possível ir além do teto imposto pelas declarações de Guido Mantega.

O ministro do Trabalho, do PDT, partido a que Paulinho da Força Sindical é filiado, afirmou ontem que cabe ao Congresso definir o valor do salário mínimo, e o governo "acatará a decisão" que for adotada.

Ora, o salário mínimo foi fixado em R$540 de acordo com uma política acertada com os sindicatos quase quatro anos atrás, em 2007, com validade até 2023, baseada na combinação da reposição da inflação com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois anos anteriores.

Como o crescimento do PIB em 2009 foi negativo, por causa da crise econômica mundial que começou em setembro de 2008, o reajuste do mínimo será menor este ano. Mas como a economia se recuperou em 2010, e terá crescimento próximo a 7%, em 2012 o mínimo terá um reajuste maior.

Não há, portanto, razão para mudanças de critérios, e o PMDB só está testando a capacidade do governo de aumentar sua proposta porque pretende mostrar sua força no Congresso, no momento em que a disputa pelos cargos do segundo escalão está acirrada entre PT e PMDB.

Também o PDT, outro partido da base aliada, quer fazer bonito para os trabalhadores, o que demonstra mais uma vez que os problemas que o governo Dilma enfrentará estão mais concentrados em sua base aliada do que na oposição.

JOSÉ SIMÃO

BBB11! Abriram o açougue! 
José Simão
FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11

BUEMBA! BUEMBA! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
E mais um predestinado. Um amigo teve cólica de rim, foi pro Hospital do Rim em São Paulo e adivinha o nome do urologista? PENISVALDO Divino da Rocha!
E um leitor me disse que o Ronaldinho Gaúcho não vai nem pro Grêmio nem pro Palmeiras e nem pro Flamengo, vai pra PQP! Rarará!
E vocês vão pro show da Amy? Pro show da Heleninha Roitman? Rarará!
E socuerro! Cuidado! Todos para o abrigo! Vai começar o BBB11! Abriram o açougue! Adorei o casting do "Big Bagaça Brasil": uma operada, duas bichas, três quengas e quatro rinocerontes de sunga!
A operada é uma transexual que já teve site na Espanha mostrando o ex-pingolim. Cortou o pingolim! Eliminou o membro. O "Big Brodi" já começa com um membro eliminado. Rarará!
Um mister Paraná que mandou foto de cueca, uma que faz strip em site pornô e uma que ganhou concurso da marca de desodorante Axe! Desta eu quero ver o sovaco! LEVANTA OS BRAÇOS! Vencedora de desodorante mostra o sovaco!
E um rinoceronte de sunga que posou pelado pra revista gay, uma dançarina do Latino e uma produtora que posou de peito de fora com máscara de Darth Vader. Rarará! Eles tiraram a roupa ANTES do programa. Ô gente ansiosa! Rarará! Não precisam mais nem tirar a roupa! Esse "Big Brother" tá bizarro! Um leitor disse que o "Big Brodi" é o mundo cão dos retardados mentais.
E toda vez que começa o "Big Bródi" uma amiga grita: "Simão, corre que abriram o açougue!". Rarará!
E por falar em açougue, tem um açougue aqui em Sampa chamado Casa de Carnes Volta Pra Mim. Açougueiro abandonado!
O Brasileiro é Cordial! Penúltima placa do Gervásio na empresa em São Bernardo: "Isso aqui não é casa da sogra pra ficar pendurando roupa molhada, se eu pegar o cabrunco que pendura esses trapos nojentos vou amarrar o orelha seca no poste no dia do Judas. Conto com todos. Assinado: Gervásio".
E o Alckmin aderiu ao Gervásio. Olha quem ele nomeou pra Secretaria da Casa Militar: coronel Admir GERVÁSIO. Rarará!
Já imaginou: "Se eu pegar o cabrunco que tá comandando rebelião de dentro do presídio, vou fazer ele virar namoradinha dum cano de 38". Nóis sofre, mas nóis goza.
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

SONIA RACY - DIRETO DA FONTE

Na contramão 
Sonia Racy 

O Estado de S.Paulo - 11/01/2011

A nova Lei da Filantropia, que redefine o peso de procedimentos hospitalares para que instituições sejam consideradas filantrópicas, tem recebido críticas de peso.

Ricardo Brentani, presidente do Conselho da Fapesp e diretor do hospital A.C. Camargo, é um dos que a questionam. Ele diz que a nova lei, regulamentada no apagar das luzes do governo Lula, "privilegia a internação e despreza o tratamento ambulatorial, gerando custos muito maiores ao sistema".

Assim, segundo ele, a quimio e a radioterapia passam a valer quase nada no cálculo do volume de atendimentos feitos para o SUS. "É um bom caminho para a desorganização do atendimento de pacientes com câncer", explica.

Na contramão 2
Instituições filantrópicas têm, de acordo com a legislação, isenção de alguns impostos.

Queda de braço
O ano nem começou e a movimentação para 2012 já é intensa. Até o pequeno PSOL já vive uma disputa interna para saber quem será o candidato a prefeito da capital. Favorito, Ivan Valente, deputado federal, já conta com adversário interno: Carlos Giannazi, estadual.

Nanicos unidos
Como se já não bastasse a disputa contra o PMDB, a turma do PT na Câmara dos Deputados tem outro abacaxi. Levy Fidelix articula minibloco dos nanicos na Casa. Por suas contas, conseguiria 24 deputados. A ideia é reivindicar uma cadeira na mesa diretora.

Upgrade
Em sua primeira viagem internacional como ministro à Argentina, Antonio Patriota também estreou novo estilo gastronômico. Saiu o tradicional jantar de chá de camomila e torradas, menu típico de Celso Amorim. E entrou bife de chorizo com vinhos.

Passista
Ronnie Wood largou o rock para cair no sambão da mangueira no fim de semana. O Rolling Stone quer voltar ao Brasil no carnaval.

Pluma
O corpo de funcionários da Embraer em São Paulo está leve como um planador.

Depois que o Vigilantes do Peso se instalou na empresa, empregados emagrecerem juntos quase... uma tonelada em 2010.

Loura quente
Paris Hilton confirmou rasante na SPFW, que começa no fim do mês. Acaba de assinar contrato e vai desfilar para a Triton.

Fanhouse
O fã-clube Trouble, de Amy Winehouse, está com agenda intensa em três capitais -Rio, São Paulo e Recife- para trocar "vivências".

O curioso é que o grupo se identifica com um pedaço de papel onde se lê: "I"m trouble".

No, no, no
Miranda Kassin, cover de Amy, e seu marido, André Frateschi, decidiram: não tocarão nada do repertório dela no show de sábado. "Nada a ver, né? Vamos dividir o mesmo palco!", conta Frateschi, que vai centrar fogo na música negra dos anos 60.

Escândalo
Debora Duboc, a Olga de Passione, vai encarar Nelson Rodrigues. A atriz prepara-se para atuar em A Mulher Sem Pecado, projeto que marca o início das comemorações dos cem anos de nascimentos do autor pernambucano. Direção de Alexandre Reinecke.

Estrela
Cher reestreia show em Las Vegas hoje com casa lotada. Ecos da reaparição nos cinemas, em Burlesque.


Na frente
A Shell informa que foi feito acordo com a Cosan para criação de uma joint venture entre as duas empresas, cada uma com participação de 50%. A ideia é que produzam, distribuam e exportem etanol.

Otto sobe ao palco do SESC Vila Mariana. Sábado.

Cultura do Perfume _ Essência e Ciência é o novo curso de pós-graduação da Faculdade Santa Marcelina.
A partir do mês que vem.

DORA KRAMER

O avesso do avesso 
 Dora Kramer 

O Estado de S.Paulo - 11/01/2011 

Atenta aos códigos, no dia seguinte à eleição de Dilma Rousseff a capital federal já sabia que Antonio Palocci seria, depois da presidente, o poderoso de plantão.

A indicação para a chefia da Casa Civil apenas confirmou o entendimento anterior, mas o que consolidou a certeza de que Palocci é o eixo sobre o qual funcionará o governo foi o discurso dele de posse sinalizando discrição e comedimento no exercício do poder.

Quando ouviu Palocci dizer que não caberá a ele emitir "opinião sobre todas as coisas" nem dar muitas entrevistas muito menos fazer pronunciamentos, afirmando ser "apenas mais um" no time da presidente, Brasília logo entendeu que em torno dele gravitariam as questões mais importantes, os assuntos estratégicos, as soluções para crises, os temas mais delicados.

Um auxiliar de Dilma que na campanha até nem se deu muito bem com ele, mas agora é todo referências positivas, dá um exemplo sobre o tipo de função que exercerá sem dizer que exerce.

Se em algum momento mais à frente a crise com o PMDB se agravar ao ponto de pôr em risco algum interesse do governo, será Palocci o encarregado de advertir os companheiros de aliança sobre a conveniência de recuar. Lembrando-lhes que o partido pode não ter tido tudo o que quis, mas tem muito a perder, se for o caso.

Nada explícito nem rude de modo a demonstrar "quem manda". Este era o modelo de José Dirceu, que não só pretendeu ser o homem forte da administração e da política, como fazia absoluta questão de deixar isso muito claro.

Já derrubado pelo escândalo do mensalão, Dirceu saiu da Casa Civil anunciando que voltava à Câmara para, de lá, comandar o governo. Como deputado não conseguiu concluir o discurso de posse e foi cassado meses depois.

Desse tipo de conduta, que no governo é tido como o erro fatal de Dirceu, Palocci deve manter distância. Por uma questão de personalidade, de conveniência, mas também de necessidade.

Passou "raspando" pelo STF, que numa votação dividida não aceitou incluí-lo entre os réus do caso da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa e não pôde concorrer ao governo de São Paulo porque as pesquisas indicavam que politicamente essa conta ainda estava em aberto ao juízo do eleitor.

Portanto, Palocci precisa de tempo, condições objetivas e de um período para lustrar a imagem a fim de se credenciar a candidaturas futuras. Para isso é essencial que se mantenha longe de tiroteios e seja o mais discreto possível, a despeito da importância real de suas atribuições.

Na forma, será a antítese do poderoso de plantão, como convém a quem de fato tem a força.

Guerra de imagem. O PT está fazendo com o PMDB agora o que Lula tentou, sem sucesso, em 2003: joga com a má fama do partido para impedir o avanço dos pemedebistas no governo, certo de que ganha a batalha da comunicação junto à opinião pública.

Para todos os efeitos, a confusão em torno dos cargos seria um "bom combate" que o governo estaria fazendo em prol da melhoria de critérios de ocupação de espaços, contra o fisiologismo.

O plano é evidente e obviamente já detectado pelo PMDB, que, por isso, fez um recuo estratégico.

Seria uma boa jogada, não fosse um "pormaior": a falta de credibilidade do PT nessa área. Além de seguir aliado aos setores mais atrasados da política, o partido teve durante os oito anos de governo Lula tempo suficiente para se insurgir contra os desmandos que agora usa como justificativa para tirar postos estratégicos do parceiro, e não o fez.

Ao contrário. Quando teve oportunidade de enfraquecer politicamente o PMDB - por conta de escândalos envolvendo próceres como José Sarney e Renan Calheiros - preferiu reforçar o partido de olho na conveniência eleitoral de 2010.

A confiança demonstrada pelo PT ao entregar o lugar de vice na chapa presidencial não combina com as alegações desabonadoras que o próprio PT faz agora a respeito do PMDB.

Os petistas têm razão, mas não só avalizaram a conduta do parceiro ao aprovar a aliança em convenção nacional, como nada fazem de diferente que os autorize à crítica no quesito ético.

RENATA LO PRETE - PAINEL DA FOLHA

Segundo round 
 Renata Lo Prete 
Folha de S.Paulo - 11/01/2011

Kit contra a homofobia em gestação no Ministério da Educação está mobilizando lideranças evangélicas que, passados dez dias da posse de Dilma Rousseff, agem nos bastidores para barrar o envio do material às escolas do ensino médio. Integra o pacote, que será finalizado este ano, vídeo intitulado "Encontrando Bianca", sobre um adolescente homossexual.
O grupo evangélico que encabeça a reação afirma que desempenhou papel decisivo na eleição de Dilma e agora cobra nova fatura. Na reta final da disputa presidencial, eles pressionaram a petista a assumir compromisso de que não formularia políticas públicas sobre temas como casamento gay e aborto.

Propósito O Ministério afirma que o kit tem caráter didático e o objetivo de assegurar os direitos humanos de todas as pessoas no ambiente escolar. Além disso, diz que combater a homofobia é atribuição da pasta.

Curto circuito Cid Gomes (CE) e Eduardo Campos (PE) fecharam acordo informal segundo o qual o primeiro indicaria o secretário executivo da Integração Nacional, e o segundo, de Portos, os dois ministérios do PSB. Agora, o grupo de Cid acusa Campos de atropelar o pacto, com a nomeação de Alexandre Navarro na subchefia da Integração. O clima pesou.

Passarinho Dilma usou cerca de duas horas de seu domingo para fazer a sua foto oficial, que irá daqui em diante para as paredes das repartições públicas. A sessão de fotos ocorreu no Palácio da Alvorada, cenário da imagem oficial de Lula.

#psdbfeelings O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), usou ontem o Twitter para se defender das críticas de aliados sobre sua viagem para a Disney no início do governo Dilma. "Quem me conhece sabe a dedicação e o tempo que eu empenho para o desenvolvimento do PSDB. Estou usando 15 dias do meu recesso parlamentar para ficar com a família."

Encarnado Até a noite de ontem, quem tentava acessar o site pessoal do ex-governador Alberto Goldman (www.albertogoldman.com.br) era automaticamente direcionado para a página oficial do governo paulista, com a foto e a biografia do novo titular do Bandeirantes, Geraldo Alckmin.

Remendo O site da Câmara destacava ontem que tramitam na Casa dois projetos para impedir que suplentes assumam o "mandato de verão" na vaga dos que optaram pelo Executivo. Autor de uma delas, Flávio Dino (PC do B-MA) disse ao site considerar "desnecessária e inútil" a regra de dar aos suplentes o mandato de um mês -e em plenas férias legislativas.

Alô deputado Além do roteiro de viagens para pedir votos nos Estados, o petista Marco Maia (RS), candidato à Presidência da Câmara na eleição do dia 1º, começou a telefonar para os 218 deputados novatos.

SAC Assíduo no Twitter, o ministro Paulo Bernardo (Comunicações) recebeu o seguinte apelo ontem: "Meu BlackBerry está com problema na tela e eles não atendem minha reclamação. HELP!" Resposta: "Sinto, não é comigo!"

Defesa Após o Ministério Público pedir ao Supremo a inclusão no processo do mensalão da denúncia contra Roberto Jefferson relativa ao caso Maurício Marinho -seu indicado para a diretoria dos Correios, que foi filmado recebendo propina-, o advogado Luiz Francisco Barbosa pediu que fosse anexada a resposta do petebista, que argumenta não ser crime fazer indicação partidária.

tiroteio

"A Anac alardeou que esperava uma média de atrasos e cancelamentos nos níveis de 2009. É a "política Tiririca": "Pior do que tá num fica". Mas nem isso deu certo."

DO DEPUTADO FEDERAL LUIZ PAULO VELLOZO LUCAS (PSDB-ES), presidente do Instituto Teotonio Vilela, sobre os atrasos registrados nos aeroportos do país.

contraponto

Na escuta


O líder da bancada do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), anunciou no Twitter que começará a escrever no microblog sem a ajuda da assessoria:
- Treinando ainda. Como canta Martinho [da Vila]: "Devagar... devagarinho."
Ao responder à saudação de Eduardo Cunha (RJ), ponderou que seria bom avisar o "nosso governo".
Cunha brincou:
- O nosso governo vai saber rapidinho e ainda vai poder economizar muita fita (leia-se: grampo)!

CELSO MING

Guerra é guerra
Celso Ming 

O Estado de S.Paulo - 11/1/11

Ontem, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, e o ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, falaram do mesmo animal e, no entanto, cada um tem dele um entendimento diferente.

O animal, no caso, é o forte afluxo de moeda estrangeira nos países emergentes, que outra coisa não é senão a manifestação do fenômeno que o ministro Mantega vem chamando, com enorme repercussão internacional, de guerra cambial.

Trichet advertiu ontem na Basileia, no encontro de presidentes de bancos centrais, para o problema da excessiva entrada de capitais nos países emergentes, como se os bancos centrais dos países ricos, inclusive o que ele próprio dirige, não tivessem nada a ver com essa aterrissagem de dólares e de euros. Ela só está acontecendo porque os bancos centrais dos Estados Unidos e da área do euro estão despejando quantidades recordes de moeda no mercado, alegadamente para irrigar economias estagnadas, ignorando que o resultado disso é a desestabilização denunciada pelo próprio Trichet.

E Mantega denunciou em entrevista ao Financial Times, de Londres, a forte entrada de capitais e o estrago que provoca na competitividade das empresas brasileiras, como se a política que ele próprio põe em prática não tivesse nada a ver com isso. O ministro ignora o fato de que boa parte dessa enxurrada só acontece porque o governo federal gasta demais, despeja recursos no mercado, cria renda e consumo acima da capacidade de oferta da economia. E esquece também o fato de que, por não cumprir sua parte na austeridade das finanças públicas, o Banco Central do Brasil não tem outra saída senão puxar a alavanca dos juros. E, assim, os capitais chegam (ou deixam de sair) para tirar proveito dos juros mais altos aqui dentro.

Mantega foi além. Avisou que vai denunciar no Grupo dos 20 (G-20) a manipulação cambial. E quer que a Organização Mundial do Comércio (OMC) defina manipulação cambial como forma velada de subsídio comercial o que, portanto, caracteriza jogo inadmissível no comércio exterior.

Não dá para saber o que o ministro Mantega define exatamente como "manipulação cambial". Ele provavelmente não está pensando apenas na política adotada pela China, que mantém o yuan, a moeda nacional, atrelado ao dólar. Está pensando também na operação de afrouxamento monetário quantitativo do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que está despejando US$ 75 bilhões por mês em moeda emitida na recompra de títulos do Tesouro americano.

Mantega está reforçando suas próprias denúncias sobre a tal guerra cambial. Só que fica muito difícil sustentar o argumento da manipulação cambial quando o Banco Central do Brasil e agora o Tesouro Nacional não param de intervir no câmbio e anunciam ainda mais medidas.

Ninguém está dizendo que o jogo do Brasil está errado. O que está sendo relembrado é que quem cospe para cima na cara lhe cai, como diz o ditado, a menos que a manipulação cambial defensiva seja aceitável enquanto a ativa, não.

Como em toda a guerra, nessa guerra cambial a primeira vítima é a verdade. No mais, nesse imenso diálogo de surdos, cada um fala o que lhe convém.

CONFIRA

Esquizofrenia
A política cambial do Brasil está ficando esquizofrênica. O Banco Central continua dizendo que não tem meta de câmbio. Reafirma que apenas atua no mercado com o objetivo de reduzir volatilidades.

Meta cambial
Ontem, o ministro Guido Mantega divulgou as novas atribuições do Fundo Soberano do Brasil. Ele agora vai atuar no mercado de derivativos (mercado futuro de moeda estrangeira) com o objetivo declarado de impedir nova valorização do real. E quem vai atuar em nome do Fundo é o Banco Central.

Contradição
Já estava difícil entender que o Ministério da Fazenda atue no câmbio com objetivos diferentes do Banco Central. Mas agora fica mais difícil entender que o Banco Central possa atuar de maneira contraditória. Vai continuar nas compras de dólares no mercado à vista apenas para impedir volatilidades. Mas, em nome do Fundo, vai atuar nos derivativos para defender um piso cambial.

RUBENS BARBOSA


Mais profissionalismo na política externa


Rubens Barbosa 

O Estado de S.Paulo - 11/1/11

Pronunciamentos da presidente Dilma Rousseff e do ministro Antonio Patriota reafirmaram que o Itamaraty deverá dar continuidade à política do governo anterior, mas prenunciam mudanças importantes de estilo e de ênfases. O tom dos discursos de posse foi positivo e indica que as ações brasileiras no exterior serão mais pragmáticas e menos ideológicas, menos protagônicas e mais cautelosas.

Tanto a presidente Dilma quanto o ministro Patriota têm perfil mais técnico. Patriota deve ser menos voluntarioso do que seu antecessor. Os compromissos externos continuarão a demandar tempo e esforço, mas a prioridade da política externa deverá ser menor diante da importância e da urgência da agenda interna social e econômica (combate à inflação, apreciação do câmbio e redução do custo Brasil para aumentar a competitividade dos produtos brasileiros, entre muitos outros, como as reformas política e tributária prometidas pela presidente).

A defesa da soberania nacional e a crescente presença do Brasil no mundo continuam a estar na raiz da formulação e execução da política externa do novo governo. As principais prioridades nos próximos quatro anos permanecem sendo:

Respaldo dos processos de integração sul-americana e latino-americana (Mercosul, Unasul e Celac);

cooperação com os países do Sul (África, Oriente Médio e Ásia e acordos Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) e Brics;

solidariedade aos países pobres e em desenvolvimento;

assento permanente no Conselho de Segurança da ONU.

O Brasil continuará defendendo a construção de um mundo multilateral e a democratização de organismos internacionais, como a ONU, o FMI e o Banco Mundial. Com o G-20, em coordenação com os Brics, será buscado um ambiente propício à sustentabilidade, à recuperação econômica e infenso à pressões protecionistas. A OMC não foi mencionada, em mudança significativa de ênfase, havendo apenas referência ao trabalho por resultados ambiciosos e equilibrados na Rodada Doha.

O novo chanceler, depois de ressaltar a preservação das conquistas dos últimos oito anos, fez referência expressa a quatro mudanças importantes na política externa:

Gestão inclusiva e integradora - A menção tem duplo significado: para o público interno é a revalorização da experiência da geração anterior de diplomatas, desprezada pelo governo passado, explicitada pela escolha do embaixador Ruy Nogueira como secretário-geral; sinaliza, por outro lado, uma influência menor de considerações ideológicas ao enfatizar o compromisso com os interesses permanentes do Estado brasileiro, e não com a plataforma de um partido político.

Busca de adaptações e reconsideração de certas ênfases, em função de desdobramentos internos e externos - Certamente por inspiração da presidente Dilma Rousseff, o ministro reconhece que excessos retóricos e ativismo pirotécnico são página virada. Sem tornar explícitas as mudanças, tudo indica que não serão repetidos os equívocos em relação ao apoio ao governo teocrático do Irã, à sua política nuclear e ao bloqueante silêncio no tocante à defesa dos direito humanos. Deverão ser reconsideradas as políticas em relação a Honduras e aos países desenvolvidos, em especial os EUA. A política externa, profissional, retorna ao seu leito natural em busca de um consenso, quebrado nos últimos oito anos.

Desaceleração do ritmo de crescimento da abertura de embaixadas - Reconhecimento de que a crescente projeção externa brasileira não depende de gestos em busca de prestígio e de que os objetivos da política externa não serão perseguidos a qualquer custo.

Parcerias tradicionais serão preservadas e ampliadas - A prioridade continuará a ser o Sul (a expressão Sul-Sul não foi mencionada em nenhum pronunciamento, nuance que deve ser notada), mas os países desenvolvidos, sobretudo os EUA e os da Europa, não serão tratados de maneira preconceituosa.

De forma pragmática, no discurso de Patriota foram mencionados apenas três países: a Argentina (pela parceria estratégica), a China e os EUA, sintomaticamente escolhidos para as primeiras viagens externas da presidente Dilma Rousseff.

Em relação aos EUA, não mais escutaremos ataques gratuitos ao país e a seu presidente e a visita a Washington, nos próximos meses, deverá abrir uma nova fase de entendimentos, baseados no respeito mútuo e na cooperação.

No tocante à China, dado o desequilíbrio nas relações bilaterais, espera-se que se abra um novo capítulo com a ampliação da cooperação, mas também com manifestações claras de descontentamento quanto à política cambial, à política de direitos humanos e às crescentes restrições comerciais.

Pela experiência profissional do novo ministro em organismos multilaterais, é possível antecipar uma ênfase maior da atuação do Itamaraty nos temas globais, como mudança de clima, meio ambiente e energia, direitos humanos e comércio exterior.

Tendo Marco Aurélio Garcia sido mantido, seria surpreendente se o fio condutor da política externa fosse alterado de forma pronunciada. Resta saber qual o grau de visibilidade e de influência na formulação e execução da política externa terá o assessor internacional da Presidência da República. Segundo se noticia, Marco Aurélio está ampliando o número de seus funcionários e suas áreas de atuação. A indicação do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães como a alta autoridade do Mercosul provavelmente terá tido a inspiração e o apoio do assessor internacional.

O aceno ao diálogo aberto e honesto feito pelo ministro Patriota deve ser aceito pelos que criticaram a política anterior. Democraticamente, contudo, a sociedade e a oposição deverão cobrar as prometidas adaptação e reconsideração dos excessos e equívocos cometidos pelo governo anterior.

EX-EMBAIXADOR EM WASHINGTON E EM LONDRES

XICO GRAZIANO

Segunda natureza
Xico Graziano 
O Estado de S.Paulo - 11/1/11

Boa notícia: animais silvestres, pássaros incluídos, estão reaparecendo por aí afora. Nestes tempos de crise ambiental, alegra a alma saber que a vida selvagem consegue se acomodar no mundo humano. Mostra que nem tudo está perdido.

Aos mais atentos surpreende verificar papagaios voando e fazendo algazarras na capital paulista. Sem sotaque interiorano. O verde de sua plumagem garante que os psitacídeos, incluindo os barulhentos periquitos, encontram alimento, e locais de reprodução, entre o asfalto da metrópole. No interior, maritaca começa a virar praga, danificando a fiação nos telhados domésticos.

O Centro de Estudos Ornitológicos indica existirem 462 espécies de aves habitando a selva paulistana de concreto. Ao contrário do que se imaginava, passarinhos nativos de todos os tipos, como rolinhas, sabiás, sanhaços, bentevis, sebinhos - também conhecidos pelo feio nome de "caga-sebo" -, trocam de vida e adotam a cidade, nidificando nas árvores das praças e nas frestas dos edifícios como se estivessem no mato que abrigou seus antepassados. Enxotam os exóticos, e chatos, pardais e se firmam na paisagem urbana. É fantástico.

Observadores de pássaros se encantam. E já perceberam o outro lado da moeda: pressentindo comida fácil, surgem os terríveis predadores. Gaviões carcarás, aqueles grandes, passaram a dominar certos edifícios de onde, qual no topo da montanha, capturam suas presas com voos certeiros no final da tarde. Aula de ecologia ao vivo nos céus poluídos da capital!

Além dos pássaros, quem virou notícia, mesmo, foi a onça parda. O felino amarronzado acaba de virar símbolo da biodiversidade paulistana, em concurso realizado via internet pela Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente. Também conhecida como suçuarana, ela caiu nas graças dos internautas, que a elegeram, à frente de outros 14 bichos candidatos à láurea, superando o simpático bentevi e o famoso sabiá-laranjeira, cantores da natureza.

Ao contrário dos pássaros, porém, que repovoam há tempos a paisagem urbana, nenhuma onça parda foi vista ainda andando pelas praças da cidade de São Paulo. Mas lá no interior, cuidado, pois crescentemente ela tem sido percebida nos capões de mato, nas pradarias ou entre laranjais e canaviais próximos de remanescentes de vegetação nativa, especialmente nas encostas de serra. Toca garantida.

Antigamente, a suçuarana desdobrava-se para abocanhar quatis, pacas, catetos, tatus, filhotes de capivara, entre outras guloseimas preferidas, fazendo funcionar a cadeia produtiva. Mas agora, na modernidade da agricultura entremeada com a preservação ambiental, ficou moleza se alimentar. Volta e meia, lá se vai uma galinha caipira ou um manso bezerro recém-nascido, virando comida, nas garras inusitadas que ressurgem. Azar do sitiante, sorte do meio ambiente.

Presente em todos os biomas brasileiros, dos mais quentes aos mais frios, a grande vantagem da onça parda reside em sua capacidade de adaptação aos diferentes ecossistemas e ambientes. Por isso é encontrada desde os pampas gaúchos até a caatinga nordestina. Fenômeno semelhante de ambientação ocorre com as aves, há tempo descrito por Dalgas Frisch, ornitólogo e escritor que primeiro estudou e divulgou o retorno dos pássaros a São Paulo.

É sabido que a devastação da natureza causa muitas tragédias, ameaçando de extinção os animais silvestres. Duas são as razões básicas: primeiro, a influência deletéria dos agentes contaminantes trazidos pela poluição, incluindo os agrotóxicos; segundo, a notória supressão dos hábitats naturais, que representam a moradia, e o almoço, da bicharada. O resultado aparece na lista dos animais ameaçados de extinção no Estado de São Paulo, que contém 436 espécies e subespécies, cerca de 17% do total de vertebrados conhecidos por aqui.

Atualizada em 2008, a listagem - elaborada sob a coordenação da Fundação Parque Zoológico de São Paulo - trazia uma boa menção que, entretanto, permaneceu obscura na mídia. Tratava-se da preservação do mico-leão-preto, espécie de macaquinho existente apenas nos remanescentes paulistas da floresta atlântica entranhada lá no oeste, próximo do Rio Paraná. O encantador símio deixou de estar "criticamente em perigo" e, graças aos esforços de conservação, melhorou sua condição de sobrevivência para a categoria "em perigo". Quem quiser pode conferir lá no Parque Estadual Morro do Diabo, que, a despeito do nome feio, parece uma dádiva divina.

Outro dia, aguardando o embarque na balsa que leva à Ilhabela, fui saudado por um canário da terra, bem amarelinho, que, pousado na fiação elétrica, trinava alto seu canto. Desde minha meninice, vivenciada na Fazenda Santa Clementina, em Araras, eu me apaixono pelos passarinhos, com quem busco conversar em minha intimidade. Com eles primeiro aprendi que a natureza precisa e gosta de ser ajudada.

Muitas ações conservacionistas, bem executadas, reconstroem uma espécie de "segunda natureza", que, embora modificada, conduz a razoável harmonia entre a civilização e o meio ambiente. Os pássaros atestam isso. Pena que algumas espécies, mais delicadas, a exemplo do pintassilgo ou do curió, não sobrevivam nos jardins da Paulistânia. Que pena.

Manter espaços com florestas nativas ajuda a entender nossa origem. Soa impensável, porém, ao ser humano viver como no tempo das cavernas. Por outro lado, é insano imaginar que a supremacia, para não dizer arrogância, humana leve ao aniquilamento da biodiversidade. Há caminhos de convivência mútua.

Preste atenção ao canto dos pássaros. Misturados ao barulho urbano, eles rogam por simples gestos de generosidade. Quando, infelizmente, não disfarçam a sua tristeza aprisionados numa gaiola.

AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO.

VINICIUS TORRES FREIRE

As guerras de Mantega e o G20
VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11


Franceses têm posições semelhantes às do ministro a respeito de "coordenação" econômica mundial


OS FRANCESES parecem acreditar a sério que podem fazer alguma coisa em relação à confusão monetária e financeira mundial, velha de quase 40 anos, mas que se tornou mais intensa na década passada, chegou ao ponto da catástrofe em 2008 e desde então anda crítica.
A França agora ocupa a presidência do G20. Funcionários franceses falam a sério de "reforma do sistema monetário internacional", de um "acordo mundial a respeito de fluxos de capitais desestabilizadores" e na "regulamentação" dos mercados de commodities, que flutuam loucamente não apenas devido a ciclos de demanda "real" mas de manias financeiras também.
Comparado aos funcionários franceses, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, deixa de parecer, digamos, um otimista incorrigível ou voluntarista fantasioso, a depender do gosto do freguês.
Tal como Mantega, os franceses dizem que é necessário "reformar ou criar instituições" capazes de coordenar políticas econômicas e "limitar a desordem financeira" (fluxos de capitais alucinados e flutuações extremas das taxas de câmbio). Mas instituições que reflitam a "nova divisão do poder econômico" entre mundo desenvolvido e "emergentes". Dizem que esse é um acordo mais do que tácito entre União Europeia, Brasil, China e Índia.
Não haveria "guerra cambial" ou risco de "guerra comercial", como diz Mantega, nem a necessidade de acúmulos brutais de reservas em países emergentes se houvesse um acordo mundial que limitasse as variações excessivas de fluxos de capital, dizem os franceses.
Ainda neste mês, o governo francês deve anunciar as diretrizes de sua "proposta de acordo" global, para "relançar o G20". Na prática, o G20 teve alguma importância quando a crise de 2008 pegava fogo e todos os países, dos EUA à China, passando pelo Brasil, dispuseram-se a abafar diferenças em nome de um apelo publicitário à calma nas finanças do mundo. Desde então, o grupo e suas reuniões de cúpulas, como de hábito, são apenas um fórum no qual os países reafirmam civilizadamente suas diferenças e, no mais, EUA e China dão bananas diplomáticas aos apelos do resto do planeta.
No curto prazo, é certo que a "confusão monetária" mundial vai continuar. Ainda vai haver dinheiro "sobrando" no mundo até 2012, pelo menos, resultado de políticas monetárias frouxas nos EUA e Europa, além de deficit públicos ainda elevados nesses países. O dinheiro que sobra nesses lugares quase não encontra uso e/ou rentabilidade. Flui para os "emergentes", o que ajuda a provocar valorizações cambiais e/ ou excesso no crédito e na atividade econômica e, por fim, alguma inflação.
Americanos e europeus temem acabar com tais estímulos fiscais e monetários, pois tal atitude poderia provocar mais lentidão econômica ou mais estouros financeiros (como quebras de governos locais nos EUA, mais quebras de bancos e países na periferia europeia). Mas, em algum momento, os "mercados" vão se cansar do excesso. Os juros subirão. Haverá ainda confusão, mas então de sinal trocado: aperto monetário.
Enquanto isso, EUA e China aceitam as conversas sobre "coordenação econômica mundial" sem mexer um dedo nas suas políticas econômicas, que causam a descoordenação problemática e a confusão monetária mundial.

MARCO ANTONIO VILLA

Procura-se a oposição
MARCO ANTONIO VILLA

O GLOBO - 11/1/11

É rotineiro dizer que a propaganda é a alma do negócio. Na política, ela é ainda mais importante. No Brasil, a presidência Lula foi aquela que melhor compreendeu a necessidade de transformar qualquer ato do governo em propaganda. E mais: através da Secretaria de Comunicação Social, pagando entre mil e três mil reais mensais, obteve de 4.200 veículos de comunicação, quase todos no interior do país, apoio irrestrito ao governo. A veiculação da propaganda oficial foi o pretexto para a transferência dos recursos. Para os grandes centros, o caminho foi o "apoio cultural" a centenas de artistas através do Ministério da Cultura e, principalmente, dos bancos e empresas estatais (especialmente a Petrobras). Juntamente com os milhares de assessores incrustados na máquina estatal, a estrutura partidária do PT e, secundariamente, com o apoio dos outros partidos da base no Congresso Nacional, foi construída uma máquina de propaganda nunca vista no Brasil.

No passado tivemos o Departamento de Imprensa e Propaganda, durante o Estado Novo (1937-1945), ou a Assessoria Especial de Relações Públicas, notabilizada durante o governo Médici (1969-1974). Mesmo assim, havia uma oposição, tolerada ou não. Mas a Secom superou amplamente seus antecessores. Foi tão eficaz que até convenceu os opositores, que ficaram surpreendidos quando, no primeiro turno, 54% dos eleitores votaram contra o governo na eleição presidencial. Ou seja, a oposição estava mais convencida dos êxitos do governo do que os eleitores.

A euforia construída artificialmente pela propaganda dá a entender que vivemos uma expansão econômica em ritmo chinês. Entretanto, na média dos últimos 8 anos, o Brasil cresceu aproximadamente 1/3 do que a China, bem menos do que no quinquênio juscelinista (1956-1961) e menos ainda do que no "milagre econômico" (1968-1973). Se houve uma melhor distribuição de renda e enorme expansão do crédito, os indicadores sociais continuam muito ruins, e isto é o que mais importa.

Habilmente - mas extremamente nocivo para o futuro do país -, o governo fez uma opção preferencial: deixou de lado o enfrentamento dos graves problemas nacionais (que nem sempre redunda imediatamente em votos) e escolheu o distributivismo primitivo, das migalhas, para os setores mais pobres, deixando para o grande capital lucros nunca obtidos na história. Eleitoralmente foi um sucesso. Elegeu Dilma, uma desconhecida para a maioria dos seus eleitores 3 anos atrás.

Contudo, esta política não poderá ter vida longa. É produto de uma conjuntura econômica internacional favorável, da eficiência do setor primário (mas que em alguns setores já atingiu seu limite) e do aprofundamento de um modelo exportador que está desindustrializando o país. Destas combinações - e do oportunismo eleitoral do distributivismo primitivo - os grandes prejudicados serão o país e os mais pobres - que continuarão pobres ad aeternum. Sem a rápida melhora dos indicadores sociais, a situação de pobreza não vai ser alterada simplesmente pelos programas assistenciais. Somente políticas públicas que efetivamente enfrentem os péssimos indicadores de saúde, educação, habitação e saneamento básico é que poderão retirar milhões de brasileiros da miséria. Para isso é necessário haver ousadia, esforço, competência administrativa e um plano estratégico para o país, tudo que em oito anos Lula não fez - e que dificilmente Dilma fará.

O novo governo já nasceu velho. Administra o varejo. Faz a pequena política. Reforça o conservadorismo. Tem uma fórmula nefasta para vencer eleições. Deseja manter tudo como está. O importante é o poder. É através dele que é possível atender às burocracias partidárias, sindicais e das empresas estatais. Além de estabelecer uma aliança com o grande capital parasitário, lucrativa para ambos.

A oposição assiste a tudo calada. Nem sequer protesta. Está mais preocupada com possíveis candidatos para 2014, mas esqueceu de fazer política em 2011. Ela tem um compromisso histórico com o país. Deve romper com a inércia e não ficar assustada com a propaganda oficial. Deixar de lado - ao menos neste momento - os projetos personalistas. Não faltam bons quadros políticos. Pode elaborar um programa mínimo. Tem todas as condições para acompanhar as atividades do governo, denunciar e propor alternativas. Com uma base governamental ampla e sedenta de cargos, não faltarão oportunidades para explorar as contradições. A eleição do presidente da Câmara pode ser uma primeira oportunidade para a oposição começar a fazer política.

MARCO ANTONIO VILLA é historiador.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

Preço de energia no mercado livre recua após chuvas
MARIA CRISTINA FRIAS

FOLHA DE SÃO PAULO - 11/1/11

O excesso de chuvas que marcou a última semana pressionou para baixo o preço da energia vendida no curto prazo entre grandes consumidores no mercado livre.
O PLD (Preço de Liquidação das Diferenças), que baliza todo o sistema, fechou em R$ 18,59/MWh na semana passada, segundo a CCEE (câmara de comercialização). A queda é de quase 70% ante a semana anterior.
O preço chega perto do piso estipulado para o ano pela CCEE, de R$ 12,08/MWh.
O mercado livre é formado por grandes indústrias que representam cerca de 25% do consumo no país.
A volatilidade que marcou o mercado no ano passado deve ser mantida em 2011, segundo Marcelo Parodi, da comercializadora Compass.
Ao longo de 2010, o PLD variou de cerca de R$ 12/ MWh a R$ 285/MWh em alguns submercados.
No fim do ano, recuou para baixo de R$ 100/MWh.
Como os reservatórios abriram o ano em níveis baixos, de cerca de 45%, uma única semana de chuvas copiosas impacta intensamente o PLD. Há um ano, os reservatórios tinham 70% de sua capacidade, diz Lúcio Reis, da Anace (associação de consumidores de energia).
"As incertezas se concentram mais no segundo semestre, pela dificuldade de prever as condições dos oceanos e seus efeitos atmosféricos", diz Parodi.
Com novas obras pelo país e o atual nível de chuvas, não há, porém, tendência de explosão no preço, afirma Paulo Pedrosa, presidente-executivo da Abrace (que reúne grandes consumidores).
"Mas a previsibilidade é baixa, pois o valor é muito vulnerável a variações", diz.

COQUETEL DE CAMARÃO
A Nutrimar, empresa cearense de frutos do mar e pescados, investe no aumento da produção e na distribuição dos produtos.
A companhia vai inaugurar até março dois centros de distribuição, um no Rio, que vai atender os Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, e outro em Santa Catarina, para cobrir o Paraná e o Rio Grande do Sul.
"Vamos investir em tecnologia, em máquinas novas de embalagens e em frota especial própria para viabilizar a distribuição e a logística", diz Fabrício Ribeiro, sócio da Nutrimar.
Com investimentos que devem chegar a R$ 40 milhões neste ano, que incluem recursos próprios e financiamento do Banco do Nordeste, a empresa vai ampliar a produção de camarões, em 200 hectares de viveiros, para um total de 800 hectares.
"A produção vai aumentar em 40%, para 7.000 toneladas de camarões ao ano", diz Ribeiro.
A empresa acaba de lançar a rastreabilidade do camarão. "Com o código na etiqueta, é possível, no site da empresa, obter informações sobre a fazenda produtora, o técnico responsável, para quem foi vendido, qual foi a alimentação do animal, entre outras."
Até março, a Nutrimar vai lançar no mercado brasileiro o camarão orgânico, até então apenas exportado para Alemanha e Dubai. O orgânico não recebe ração, só alimentação natural, como algas e minicrustáceos.

Vinícolas e importadoras recebem 41 mi de selos de controle

A Receita Federal já entregou 40,9 milhões de unidades do selo de controle fiscal para as vinícolas brasileiras e empresas engarrafadoras e importadoras de vinho.
"Desde o dia 1º deste mês, todos os vinhos que saírem das vinícolas ou das importadoras precisam estar selados", diz o presidente da Uvibra (União Brasileira de Viticultura), Henrique Benedetti, membro do conselho deliberativo do Ibravin (Instituto Brasileiro do Vinho).
O objetivo da medida, determinada pela Receita, é aumentar o controle no comércio, para evitar o contrabando e o descaminho.
O volume de selos distribuídos deve alcançar cerca de 250 milhões de unidades neste ano, segundo estimativa de Benedetti. Os atacadistas e varejistas têm prazo até 1º de janeiro de 2012 para comercializar, obrigatoriamente, vinhos com selos.
"Antes, ninguém sabia como identificar os vinhos contrabandeados, que somam mais de 15 milhões de litros ao ano no país. Agora, os produtos serão reconhecidos."
A implementação do selo não justifica aumento de preços, segundo Benedetti.
O valor da confecção do selo pode ser creditado do pagamento devido pelas empresas de PIS e Cofins.
O custo para as empresas é o da colocação, calculado em R$ 0,01 por garrafa.
"Não há justificativa plausível para o aumento de preço", diz Benedetti.

Comércio... A carteira de crédito do Banco do Brasil para micro e pequenas empresas do Estado de São Paulo cresceu 85% no ano passado. Os financiamentos são voltados para exportação e importação.

...exterior As principais linhas utilizadas pelas companhias paulistas foram o ACC (Adiantamento sobre Contratos de Câmbio), o ACE (Adiantamento sobre Cambiais Entregues) e o Finimp (Financiamentos à Importação). Telona As cidades de São Caetano, Mauá e Cajamar, além de 34 comunidades carentes de São Paulo, receberão a partir de fevereiro o projeto "Cine na Rua". A iniciativa, do grupo H. Melillo, contará com o investimento de R$ 1,2 milhão da AES Eletropaulo.

Lotação máxima Os 3,5 milhões de pessoas que vão para o litoral paulista na alta temporada equivalem à ida à praia de todos os uruguaios ao mesmo tempo, afirma Gesner Oliveira, ex-presidente da Sabesp.

Pincel... Todos os segmentos da indústria de tintas devem registrar crescimento em 2011, segundo a Abrafati (Associação Brasileira dos Fabricantes de Tintas). A expectativa é que o setor registre alta da 6,7%, atingindo 1,45 bilhão de litros vendidos.

...e tinta O segmento imobiliário deve subir 7%. O automotivo original e o de repintura, 4% cada um. Em 2010, o crescimento das vendas foi de 10,3% e o volume vendido ficou em 1,359 bilhão de litros.

COMBUSTÍVEL ECONÔMICO EM SP
O preço do álcool e da gasolina vendidos no Estado de São Paulo durante o mês de dezembro foi o mais baixo do Brasil, de acordo com pesquisa do Ticket Car.
Os consumidores paulistas pagaram R$ 2,557 por litro de gasolina, ou R$ 0,21 abaixo da média nacional.
No caso do álcool, a diferença é ainda maior: R$ 0,37 por litro. O preço médio pago em São Paulo foi de R$ 1,641.
O Estado com o combustível mais caro foi o Acre, tanto a gasolina (R$ 3,054) como o álcool (R$ 2,363).
Mato Grosso foi o único local onde a gasolina ultrapassou a marca de R$ 3,00 por litro, além do Acre.
Em apenas oito Estados o álcool era mais econômico que a gasolina para o consumidor. Desses, só Bahia e Tocantins estão localizados nas regiões Norte e Nordeste.

Ponteiro... Após 22 anos em Miami, o presidente da LVMH Watch and Jewelery para Caribe e América Latina, Philippe Alluard, será o primeiro executivo na divisão Mediterrâneo e África.

...acertado O posto foi recém-criado em Madri. O sucessor de Alluard será Christian Weissbach, na TAG Heuer há 20 anos, com passagens pelas presidências da empresa na Europa e no Leste Asiático.


com JOANA CUNHA, ALESSANDRA KIANEK e VITOR SION