quarta-feira, agosto 19, 2009

MERVAL PEREIRA

Ideli salva oposição

O GLOBO - 19/08/09

A oposição deve à ânsia da senadora Ideli Salvatti em mostrar serviço ao governo o salvamento do depoimento da ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira, que, até o momento da intervenção da líder do governo no Senado, caminhava para ser um tremendo fiasco do ponto de vista da estratégia oposicionista. A ex-secretária, embora tivesse desde o primeiro momento confirmado que tivera um encontro reservado e a sós com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e dado detalhes de seu trajeto pelos corredores do 4º andar do Palácio do Planalto até chegar à antessala da ministra, onde mais duas pessoas aguardavam para serem recebidas, não conseguiu se lembrar da data do encontro, nem tinha qualquer outra evidência de que ele realmente acontecera.

Mais que isso, minimizara a intenção da ministra Dilma Rousseff ao pedir para “agilizar” o processo sobre o filho do senador Sarney, recusandose a ir mais adiante nas especulações.

Disse até que não se sentira “pressionada”, embora tenha considerado o pedido “incabível”.

Tudo parecia resolvido para o governo, tanto que o líder Romero Jucá se deu por satisfeito e ameaçou retirar-se do plenário da Comissão de Constituição e Justiça, quando entrou em cena a vibrante líder governista.
Com uma agressividade que o momento já não pedia, Ideli Salvatti — talvez para compensar sua indecisão em apoiar o senador José Sarney no Conselho de Ética, assim como o senador Aloizio Mercadante, que também foi estranhamente agressivo — partiu para um ataque feroz, relendo a entrevista que Lina Vieira dera à “Folha de S. Paulo”, na qual ela se deixou levar por especulações, afirmando que entendera a interferência da ministra Dilma como um pedido para que encerrasse o processo contra o filho de Sarney, acrescentando que o motivo deveria ser que o governo não queria confusão com o Sarney (que àquela altura era candidato à presidência do Senado).

Conclusão da sábia Ideli Salvatti: “Ou a senhora mentiu hoje, ou mentiu para o jornal”.

Pressentindo o desastre, o senador Renan Calheiros tentou interferir para acalmar a petista, que estava reacendendo uma fogueira que quase se apagara por falta de informações adicionais e a extrema cautela com que Lina Vieira tentava andar sobre aquela areia movediça.

Chegou a ser engraçado ver Calheiros enviando sinais de paz para a senadora Ideli Salvatti, que absolutamente não entendia que estava colocando tudo a perder para a base governista.

Ao ser chamada de mentirosa, a ex-secretária da Receita se encheu de brios e, pela primeira vez em seu depoimento, foi além do que a cautela inicial lhe permitia, reafirmando tudo o que dissera à “Folha”: “Não estou mentindo não, reafirmo que a ministra quis parar com a investigação, foi o que eu disse aqui desde o início”.

Não exatamente com essas palavras, que só teve coragem de pronunciar quando provocada pela intrépida líder petista, que jogou novamente a bola para os oposicionistas.
O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, conseguiu ser o mais explícito dos arguidores da oposição, deixando claro que a única razão para a ministra da Casa Civil pedir à chefe da Receita Federal para “agilizar” o processo do filho de Sarney seria para favorecê-lo, pois não tinha cabimento uma ministra, que nada tinha com a área, subordinada à Fazenda, se imiscuir num assunto desses.

Nesse caso, ficou claro que o pedido da Justiça para que o processo fosse “agilizado e aprofundado” tinha o objetivo oposto do da ministra, que queria mesmo é que o processo fosse encerrado.

A ex-secretária da Receita Federal pecou quando disse que se espantava com o desmentido da ministra Dilma Rousseff, pois não via nada de mais no pedido.

Ora, não é possível que uma servidora pública com mais de 30 anos de serviço não reconheça quando está diante de uma pressão ilegítima.

Toda a situação criada, com encontro sigiloso fora da agenda com a ministra mais poderosa do governo e potencial candidata à Presidência da República, não poderia ter acontecido por nada. E a ministra Dilma Rousseff desmente porque não pode admitir nenhuma conversa com a chefe da Receita sobre esse assunto.

O mais espantoso é como os senadores da oposição não se prepararam para a sessão, possivelmente porque consideravam que o depoimento de Lina Vieira seria devastador para o governo por si só.

Não apareceu um senador para perguntar a Lina Vieira se ela achava normal uma interferência desse tipo, ou para estranhar que ela não tenha se sentido pressionada pelo pedido da ministra.

O que é estranhável no depoimento de Lina Vieira — que considero verdadeiro — é que uma funcionária pública com a experiência dela, diante de uma conversa dessas, nem faz o que a ministra toda-poderosa sugeriu, nem comunica o fato inusitado a seu superior. Continua impávida, como se nada tivesse acontecido.

A única explicação razoável, mas a oposição não conseguiu extrair isso dela, é que considerava inútil se queixar ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, pois sabe perfeitamente quem manda no governo.

O fato de não se recordar do dia exato da reunião é perfeitamente natural, mas seria mais lógico que tivesse anotado em sua agenda particular, que anda perdida na mudança.

Talvez um dia apareça.

Mas o governo teria todas as condições de desmascarála, bastando que analisasse os filmes com as entradas e saídas da garagem do Palácio do Planalto nos meses do fim do ano ou, mais simples ainda, que verificasse nas fichas que Lina Vieira disse que estavam em uma mesinha na entrada da garagem, onde um funcionário checava se a pessoa podia entrar.

Ficar na posição de que quem tem que provar é a acusadora é não querer, ou não ter condições, de se livrar dessa suspeita.

JAMIR DE SOUSA LIMA

O PT não é mais aquele


Rapaz, o PT se igualou aos demais. Não pode mais falar do PSDB, PR e DEMO (nome infeliz do antigo PFL ). Quem viu o Mercadante, ontem, aos gritos, bufando tal qual Collor, mal-educado, truculento, querendo desqualificar a depoente Lina, foi demais! Para não ficar diferente, o senador paulista contou com o precioso reforço do intragável Almeida Lima. O PT até que não precisa de reforço, dada a performance de Ideli Salvatti, outra que faz questão de estar à altura dos demais componentes da horripilenta "tropa de choque" doSarney. A ex-secretária só não foi humilhada ao extremo, porque apresentou excelente jogo de cintura e, provavelmente, foi alertada quanto ao comportamento vexaminoso do Senado. Para este Senado chegar ao fundo do poço, como dizem por aí, vai ter que melhorar muito. Já ultrapassou o nível do razoável há muito tempo. O pior de tudo é que o único trabalho daquela casa legislativa é debater o sai-não sai do maior de todos eles, o Sarney, que se tinha biografia respeitável, as denúncias que se acumulam e surgem todo dia, já a arremessaram para o lixo.
O que faz o Senado agir desse jeito é o foro privilegiado, o poder sem conta de manipular verbas,direcioná-las ao seu bel prazer, promover tráfico de influência sem conta, legislar em causa própria, formar capitanias hereditárias nos Estados. É por aí. E não há qualquer disposição dos congressitas de alterar este estado de coisas, que, hoje, lhes assegura um montão de mordomias, cargos e privilégios.
O que deixa a gente um pouco desolado e desesperançado é o fato de que, no ano que vem, a maioria deles vai ser reeleita e zombando, se lixando para a opinião pública e a quem os reelegeu, e rindo gostosamente na nossa cara, e todos nós, sem, que me perdoem o palavrão, vamos ficar com cara de bundão. É o nosso destino e a nossa sina ficar dependente dos eleitores do bolsa-família, bolsa-ditadura, bolsa-escola, bolsa-cultura, bolsa-aliada. Enquanto houver estes tipos de bolsa nada vai mudar, ao contrário, a tendência é piorar cada vez mais.

MÍRIAM LEITÃO

Lina & Lula


O Globo - 19/08/2009

Sem agenda e sem data na memória, a ex-secretária Lina Vieira foi inabalável no Senado. Não provou o que disse, não retirou o que disse, não piscou. A base aliada usou métodos de interrogatório; a oposição quis tirar dela mais munição contra a ministra Dilma.

E ela, impassível. Deu uma lição quando explicou o que é carreira de Estado: “Os governos passam e nós ficamos e servimos ao país.”

Assim deveria ser sempre; nem sempre é assim. Mas por um minuto, enquanto a exsecretária explicava, com voz calma e segura, por que achara incabível o pedido da ministra Dilma — ou suposto pedido —, deu uma lição valiosa e já esquecida: — Incabível porque a Receita usa critérios objetivos e impessoais.

Era um caso pequeno e virou um grande caso pelas paixões eleitorais que floresceram precocemente. O México, quando o PRI era o único partido com chances de ganhar a Presidência, tinha o grotesco hábito do “dedaço”.

Com seu dedo poderoso, o presidente em exercício apontava quem seria o candidato do partido à Presidência.

Ninguém discutia. A escolha da ministra Dilma como candidata foi assim: um dedo apontado e bastou.

Talvez por esta aposta pessoal, o presidente Lula tenha dito o que disse na segundafeira.

Presidentes não desafiam ex-chefes de órgão de terceiro escalão. Porque quem está investido do cargo de presidente encarna o poder da Presidência. E esse poder não pode ser usado para constranger ou desafiar quem quer que seja. Fica um duelo desequilibrado, intimida.

O presidente Lula, no caso Lina Vieira & Dilma Rousseff, teve um comportamento institucional inadequado.

A ministra Dilma Rousseff disse que nada disso aconteceu.

A ex-secretária Lina Vieira disse que tudo isso aconteceu. Lina disse que a secretária-executiva da ministra, Erenice Guerra, foi ao seu gabinete e agendou um encontro no palácio com Dilma. Ela foi, encontrou a ministra enrolada num xale, falaram alguns minutos de amenidades, e Dilma teria dito para Lina “agilizar a investigação do filho do Sarney”. Pontos fracos de Lina: na sua agenda não consta esse encontro, nem ela se lembra o dia.

Fortalece a sua versão o fato de não ter nada a ganhar se chateando com uma sessão repetitiva, como a de ontem no Senado, em que foi alvo de um agressivo interrogatório e ficou no meio de um terreno minado por uma campanha eleitoral extemporânea.

Já a ministra Dilma tem muito a perder. Ela é candidata ao cargo mais importante da República. Ela garante que nunca pediu à chefe da Receita coisa alguma, nunca houve a tal reunião.

Mas se houve, a situação se complica. Dilma nunca tratou de questões específicas com Lina, nunca pediu por nenhum outro contribuinte, teria pedido apenas pelo processo do “filho do Sarney”.

Se isso aconteceu, a ministra estaria dando tratamento diferenciado a um específico contribuinte. Ponto forte de Dilma, a ser verdade a versão de Lina: ela pediu para “agilizar”, nada mais. Aliás, a Justiça tinha determinado a mesma coisa. Depois da conversa, segundo a própria Lina, Dilma nunca cobrou, nunca ligou para a secretária para saber o cumprimento do pedido.

É um caso simples e complexo.

Do lado da Dilma, porque se houve a reunião, é “uma tentativa de uso do poder para quebrar o principio da impessoalidade”, como disse o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE). Do lado de Lina, porque se ela achou que o pedido era uma tentativa de resolver o problema antes da eleição do Senado, como foi sua ilação à “Folha de S.Paulo”, ela deveria ter “representado contra a ministra Dilma e comunicado aos superiores, do contrário seria prevaricação”, como disse o senador Mercadante (PT-SP).

Na guerra entre o rochedo e o mar, na luta eleitoral antecipada, a ex-secretária da Receita poderia ter escapado por uma das várias portas que se abriram. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) concluiu que era tudo então um grande mal entendido.

Ela poderia dizer que sim, e recolher-se. Mas ela pediu a palavra para responder: — Não foi um mal entendido.

O encontro houve e o pedido aconteceu.

A oposição quis usá-la, mas ela não caminhou um passo além. Os governistas atacaram furiosos, como Ideli Salvatti (PT-SC), que a acusou de mentir, e Aloizio Mercadante, de prevaricar. Mercadante perguntou quantas vezes ela tinha se encontrado com a ministra Dilma.

Duas ou três, ela disse. Ele então apresentou várias datas em que ela teria ido ao Planalto. Era uma forma de dizer que sua memória não era confiável. Ela, firme, separou o joio do trigo: naquelas datas ela fora para eventos públicos, com o presidente, junto com seu chefe.

O senador implicou com o fato de que ela se lembrava apenas do xale. “Achei o xale diferente.” Quis insinuar que ela sai dos governos criticando e disse que ela saiu do governo Garibaldi Alves criticando os incentivos fiscais.

“Eu sempre critiquei os incentivos fiscais.” Enfim, o que restou mesmo depois de tantas cascas de banana é a dúvida inicial: como ela não se lembra do dia, nem registrou na agenda um encontro que havia sido pedido dessa forma tão especial? A favor, fica o fato de ela repetir tão serenamente a sua história, mesmo diante do nervosismo do governo e do desafio do presidente da República.

ROBERTO DAMATTA

Obragem de coluna


O Globo - 19/08/2009

Graças a Fernando Collor, os jornais foram forçados a retornar ao português castiço no intuito explicar às pessoas sem biografia — o cidadão comum que não tem dinheiro, sofisticação ou cargo elevado — o sentido do insulto (citado acima) que o fero aliado do governo Lula (não tanto do PT, eu ainda presumo), dirigiu ao jornalista da revista “Veja” Roberto Pompeu de Toledo.


Obrar, na língua com a qual nos comunicamos e, sem saber, construímos o mundo, é o resultado de uma ação ou trabalho. Os dicionários registram vários sentidos para o ato de agir sobre nós mesmos, as pessoas e os objetos que nos cercam enquanto seres vivos; pois os mortos estão mortos precisamente porque deixam de obrar e, se continuam realizando alguma coisa, é por meio simbólico: através da obra e da memória que deixaram.

A “obra” é o resultado de nossas vidas: de tudo o que fazemos (inclusive do não fazer que é um importantíssimo fazer) enquanto sujeitos dotados de vontade, autonomia e discernimento — todos relativos. Mas, além destes significados abrangentes e contemporâneos, obrar significa também defecar, sujar, borrar e cagar. Ou seja, na língua portuguesa, há uma relação intestina entre obrar como produzir, trabalhar, operar, agir, surtir efeito, causar e realizar; e o aparentemente humilde (mas imperativo e velho) ato de cagar.

O primeiro, dependendo da obragem, distingue; o segundo, compassivamente, por meio de um corpo que não deixa mentir, iguala o trivial imbecil ao sábio mais sofisticado.

Graças ao senador e ex-presidente Collor, temos na magnífica paisagem de nossa vida politica contemporânea essa edificante redescoberta do “obrar” como “cagar”.

Quer dizer, ao lado deste belo panorama que vai do apoio fraterno a caudilhos, passa pela falsificação grosseira de biografias, chega aos decretos secretos de um parlamento parlapatão que legisla secretamente em causa própria; passa por agressões verbais que desonram prostíbulos; reafirmam um narcisismo digno dos maiores neuróticos de Freud; e atingem seu ponto culminante no eterno retorno à tranquilidade do Senado como um velho clube campestre ou como um incrível jogo de futebol onde o gol contra é aplaudido porque nossos representantes odeiam as regra que valem para todos, há também a equação entre bosta e obra.

Ouvi de velhos nordestinos, nortistas e de sertanejos do esse obrar como sinônimo de defecar. No atual momento, penso que não há maior contribuição para a democracia liberal e para a autoestima cidadã dos obreiros comuns, gente de obra regular e normal, pagadores compulsórios e honestos dos impostos sem biografia ou dona das 400 gravatas e dos 200 ternos comprados com o nosso dinheiro, ou que têm financiamento da Petrobras e quejandos, do que ser forçado a redescobrir que — grosso modo — obrar é mesmo a maior característica da elite politica nacional.

Nada mais gratificante do que desvendar a relação culta, intestina e profunda entre o ato de defecar e o de produzir, esse verbo inscrito nos anais da modernidade. Estilo de vida baseado justamente no obrar, agir, fabricar, executar e urdir, sobretudo quando isso nos chega por meio de um ataque a um jornalista probo e é dito pela boca de um dos membros de uma ilustre galeria de “supremos magistrados da nação”, de ex-mandatários da administração federal; de supostos orientadores da moralidade do país como ex-presidentes da República. Super-pessoas que, pelo cargo exclusivo e singular que ocuparam, merecem respeito e admiração.

Agora, porém, não temos mais nenhuma desculpa. Sabemos bem como a nossa língua realiza o elo entre a merda e a obra.

Caberia aos weberianos (se é que ainda exista quem leia Weber no Brasil), aprofundar esse elo entre obrar e defecar contido nesse verbo que vem (como afirma o Aurélio) do operare latino; e (como indica o Houaiss) foi dicionarizado no século XIII. Haveria um laço profundo entre bostar e fabricar; e o velho e conhecido par trabalho e castigo? Poder-se-ia arguir que o fazer latrinal significa que ainda não realizamos a transição para a tal modernidade que tanto buscamos, como nos ensina com agressiva propriedade e arguta sabedoria o expresidente Collor? Se o moderno é construído pelo obrar como um incessante fabricar; bem como pelo trabalho como chamado e vocação e não como castigo (que seria coisa para gente comum e escravos); como ficamos quando somos forçados a descobrir que na nossa construção de mundo a merda tem tudo a ver com o fabricar e o trabalho está ligado ao tripalium (um instrumento de tortura) e assim ao castigo condizente com a escravidão que mal acabamos de acabar? Eis aí, em péssima sociologia, algo que faz parte de nossa visão de mundo que o senador Collor contribuiu para esclarecer, do mesmo modo que dois dos seus colegas, nesses tempos ricos de vocabulário e teórica politica de lavatório, lembraram.

Refiro-me ao coronel (de merda) e ao cangaceiro (de terceira) que — quem ainda não tinha certeza mais absoluta — permeiam, muito mais do que povoam, o sistema político nacional.

PANORAMA POLÍTICO

O candidato

Ilimar Franco
O Globo - 19/08/2009

Vários partidos estão procurando o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, mas sua preferência é pela filiação ao PMDB. Seus planos não incluem concorrer a um cargo parlamentar. Ele quer o Executivo e tem pesquisa na qual 48% dos entrevistados responderam que poderiam votar nele para governador de São Paulo. Skaf acredita que pode constituir uma terceira via na eleição paulista e pretende anunciar sua filiação até o fim deste mês.

Crise do Senado: a ressaca

A oposição esperava mais do depoimento da ex-secretária da Receita Lina Vieira. Ela reafirmou o que dissera, mas não apresentou provas nem maiores detalhes. Os governistas não gostaram da agressividade do líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), e da senadora Ideli Salvatti (PT-SC).

Como Lina havia recuado de sua afirmação inicial, sobre o suposto pedido para encerrar uma investigação contra o empresário Fernando Sarney, não era necessário tentar tripudiar.

Mas a sessão da Comissão de Constituição e Justiça serviu para a oposição colocar um tijolinho na imagem que está tentando moldar para a ministra: a de mentirosa.

Nós estamos destruindo a imagem do presidente José Sarney, e nós estamos nos destruindo também.

Estamos nos afundando progressivamente” — Sérgio Guerra, senador e presidente do PSDB (PE)

ECONOMIA CARIMBADA. O ministro Fernando Haddad (Educação) vai receber um presente hoje da Câmara dos Deputados. Num ato no gabinete do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), receberá uma doação de R$ 80 milhões para serem investidos em educação básica. Esse foi o montante economizado até agora com as medidas de racionalização de gastos adotadas no início do ano pela gestão de Temer.

Saturação

Desencantado com o Conselho de Ética, o líder do DEM, José Agripino (RN), defende: “Denúncias ou acusações contra parlamentares não podem continuar sendo apreciadas por parlamentares; têm que ser apreciadas pela Justiça”.

Abreu e Lima

A próxima etapa da CPI da Petrobras é investigar os indícios de superfaturamento das obras da refinaria Abreu e Lima (PE). O relator, senador Romero Jucá (PMDB-RR), vai ouvir na semana que vem técnicos da refinaria e do TCU.

O PV conversa com o PSC

Na investida para aumentar seu tempo de TV, o PV está conversando com o PSC. O primeiro tem dois minutos e o segundo, um minuto e meio. Quem está conduzindo as negociações é o deputado Edson Duarte (PV-BA). O vicepresidente do partido, vereador Alfredo Sirkis (RJ), reage ao deputado Chico Alencar (PSOL-RJ): “Ao difamar o PV, Chico se rebaixa, pois o PSOL coligou-se conosco em Porto Alegre. Então tudo não passou de uma mera locação?”

As tropas do Congresso

Ontem no Senado, Flecha Lima (PSDB-PA) criou as Fard (Forças Armadas da Dilma).

Aloizio Mercadante (PT-SP) inventou o GAS (Grupo de Assalto do Serra). Almeida Lima (PMDB-SE), dizendo-se da tropa de choque do governo, acusou a oposição de ser “trombadinha do poder”. À tarde, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) marchou para a CPI da Petrobras, onde estava depondo o presidente da Agência Nacional do Petróleo, Haroldo Lima.

Mas negou ser da tropa de choque do partido. Aldo respondeu: “Sou tropa de elite”.

O LÍDER do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN) , conversa com o presidente Lula sobre 2010 na quintafeira.

Eles viajam juntos para o Rio Grande do Norte.

ENQUANTO Marina Silva (PT-AC) está de mudança para o PV, o presidente Lula passará pelo Acre a caminho da Bolívia, na sexta-feira. Quer agradar ao governador Binho Marques e ao senador Tião Viana (PT-AC).

SOBRE O DEPOIMENTO da ex-secretária da Receita Lina Vieira no Senado, fala o presidente do PTB, Roberto Jefferson: “Sem nenhuma prova (...) A exleoa até agora não rugiu, e não acredito que o faça”.

BRASÍLIA - DF

Acordo fechado


Correio Braziliense - 19/08/2009


O presidente Luiz Lula da Silva bateu o martelo em relação à polêmica compra de 41 helicópteros de transporte para o Exército e quatro submarinos Scorpène, de tecnologia francesa. Os veículos serão fabricados no Brasil, respectivamente, pela Helibras e um estaleiro a ser construído pela Odebrecht, com uma nova base naval na baía de Mangaratiba (RJ). O pacote prevê a construção de um submarino nuclear pela Marinha, com tecnologia de propulsão nacional e os demais equipamentos franceses. O acordo militar do Brasil com a França será assinado no próximo 7 de setembro, por Lula e pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy.

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, confirmou a compra ontem, durante gravação de entrevista para a TV Brasil, que vai ao ar hoje, às 22h. A compra de 36 caças Rafale, que o governo francês queria incluir no pacote, está fora do acordo. Segundo Jobim, o governo ainda analisa a oferta francesa, ao lado das propostas dos caças norte-americanos F/A18 e dos suecos Gripen. “A melhor opção será em função da transferência de tecnologia. Queremos construir os aviões no Brasil”, garante Jobim.

Escorregões// Petistas começam a questionar a falta de um estado-maior para a candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que começa a escorregar em cascas de bananas. Como o presidente Lula centraliza todas as decisões, a ministra comete erros típicos de quem nunca disputou eleições.

Mudança

Na sexta-feira, em reunião com os comandantes militares, Lula baterá o martelo em relação à proposta de reestruturação das Forças Armadas. Segundo Jobim, haverá alteração na estrutura militar de guerra que, segundo ele, está intocada desde 1980; na organização, no preparo e no emprego das Forças; na estrutura do Ministério da Defesa; e na articulação e equipamento das Forças Armadas. Há divergências entre Jobim e os comandantes das Forças quanto ao status de seu chefe de estado-maior, que hoje tem papel secundário, e o papel da Comissão de Compras do Ministério da Defesa a ser criada.

Carangos

A venda de carros caiu 11,82% na primeira quinzena de agosto, o que mostra as dificuldades de recuperação da indústria, mesmo com a isenção de IPI. Foram emplacados 116.262 automóveis.

Precursora

O governador Sérgio Cabral (PMDB) foi mesmo vaiado ontem, em Nova Iguaçu (RJ), como temia, durante a cerimônia de inauguração das obras do PAC, para constrangimento do presidente Lula. O prefeito Lindberg Farias (PT), responsabilizado pelo incidente, também levou uma vaia dos correligionários de Cabral. Quem se divertiu foi Anthony Garotinho (PR), que não estava no palanque, mas armou a arapuca. A aliança entre o PMDB e o PT no Rio de Janeiro está em frangalhos.

Fita/ O DEM ameaçou jogar o regimento sobre o primeiro vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), caso ele encaminhasse o pedido de acesso às fitas do circuito de segurança do Palácio do Planalto, tarefa cumprida ontem. O líder Ronaldo Caiado (DEM-GO) quer obter provas do suposto encontro entre a ex-secretária da Receita Federal Lina Maria Vieira e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.


Cabresto/ Na contramão da garantia dada pelo presidente licenciado do PMDB, deputado Michel Temer (SP), diretórios estaduais do partido têm ameaçado quadros infiéis com a perda do mandato caso deixem a legenda. O recado foi dado ao senador Mão Santa (PMDB-PI) e a outros quatro deputados que tentam negociar a saída pacífica da atual legenda.

Barraco/ Durante o lançamento da carteira de identidade digital, no Instituto de Identificação da DPE, o deputado federal Laerte Bessa (PMDB-DF), muito nervoso, quebrou o protocolo e criticou o Correio por publicar reportagem que o deixou contrariado. Levou um puxão de orelhas do cerimonial do governador José Roberto Arruda (DEM), que ficou constrangido e lamentou a atitude do ex-chefe da Polícia Civil do GDF.

Retorno/ Petistas da Construindo uma Nova Brasília, ala vinculada à corrente nacional Construindo um Novo Brasil (CNB), lançaram o ex-presidente da legenda Wilmar Lacerda para disputar o controle do diretório regional do PT, em novembro. O deputado distrital Cabo Patrício é o fiador da candidatura, que tem outros três pretendentes inscritos.

Pessoal!



Com forte sotaque nordestino, começavam assim os discursos de Vladimir Palmeira (foto), que liderou as manifestações estudantis de 1968 no Rio de Janeiro — como a famosa Passeata dos 100 Mil —, ao lado do ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, e do vice-prefeito do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Muniz. Vladimir é protagonista de documentário dirigido por Roberto Stefanelli, que a TV Câmara lança hoje, às 20h, no seu auditório. Será exibido nos dias 22 (sábado), às 21h, e 23 (domingo), às 8h, 13h30 e 20h.





Palanque



A cúpula dos partidos de oposição — PSDB, DEM e PPS — aumenta a pressão para que o senador Jarbas Vasconcelos (foto), do PMDB, se candidate ao governo de Pernambuco. Se o ex-governador ficar fora da disputa, teme um desastre eleitoral sem precedentes, que pode inviabilizar a reeleição dos senadores Sérgio Guerra (PSDB) e Marco Maciel (DEM) e ainda reduzir pela metade a bancada de oposição na Câmara. Candidato à reeleição, o governador Eduardo Campos (PSB) costura uma coligação com o ex-prefeito de Recife João Paulo (PT) e o deputado Armando Monteiro (PTB), presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

FERNANDO RODRIGUES

A mentira como imagem


Folha de S. Paulo - 19/08/2009

Continua sendo corrosiva para a imagem da ministra Dilma Rousseff a acusação feita por Lina Vieira. Ontem, o depoimento da ex-secretária da Receita Federal serviu mais aos propósitos da oposição do que aos do governo.
Lina não apresentou provas definitivas sobre o suposto encontro reservado mantido com Dilma no final do ano passado -no qual a ministra teria sugerido "agilizar" o processo de investigação tributária contra Fernando Sarney, filho do atual presidente do Senado.
Mas a ex-secretária foi cruel. Descreveu o episódio em minúcias. Carregou sua história de verossimilhança. Agora, sabe-se o nome do motorista que a levou ao Planalto.
Na garagem, Lina diz ter se identificado aos seguranças. Na antessala da ministra, prossegue o relato, duas pessoas também esperavam para ser atendidas. Depois do encontro, um funcionário do alto escalão do fisco foi chamado por ela para detalhar o andamento do processo sobre a família Sarney.
Por que Lina Vieira daria um depoimento quase bizantino nos detalhes se estivesse mentindo? Com todos esses elementos, o governo poderia facilmente dinamitar uma eventual mentira. Um exemplo: a administração Lula pode checar como o funcionário chamado a dar detalhes do processo obteve os dados. A regra geral é haver registro digital dos acessos a informações fiscais no sistema da Receita.
Os lulistas argumentam com alguma razão sobre o ônus da prova caber ao acusador, não ao acusado.
É verdade. Mas quem acusa é Lina Vieira, integrante dos quadros do próprio governo. Não se trata de alguém da oposição, um de fora. Há formas de o Planalto debelar essa crise Dilma-Lina. Basta desmontar pelo menos um dos detalhes oferecidos pela ex-secretária.
Negar o encontro, para Dilma, não basta. A não ser que prefira conviver com o espectro da mentira rondando sua imagem.

CLÓVIS ROSSI

Previsões, o balão e a Apolo 11


Folha de S. Paulo - 19/08/2009

Por fim aparece um economista com coragem e sinceridade suficiente para dizer que previsões sobre desempenho econômico são tão científicas quanto jogar búzios ou ler a mão.
O economista em questão, Aquiles Mosca, estrategista de investimentos pessoais do Santander Asset Management, prefere escrever que "há uma nítida assimetria entre nossa habilidade de explicar o passado e nossa capacidade de prever o futuro" (artigo para o "Valor Econômico", ontem publicado).
Mosca vai muito além dessa frase comedida: conta que as projeções de mercado, reproduzidas no boletim "Focus" do Banco Central, erram feio sistematicamente.
Escreve Mosca: "Uma rápida olhada na diferença entre as previsões feitas 12 meses atrás e os valores efetivamente observados para essas variáveis [PIB, inflação, juros reais e nominais e câmbio] revelam erros significativos, entre 40% e 12%. Além disso, para juros nominais e reais, a média das expectativas dos especialistas foi incapaz sequer de prever a direção em que elas iriam se deslocar" (os juros caíram, em vez de subir).
Atenção, não se trata de erro por incompetência ou impossibilidade real de adivinhar o futuro, adverte o economista do Santander. Diz: "A oportunidade de ganhos está em antecipar o que os demais ainda não veem (...) e em traduzir isso em posicionamentos nos ativos certos, na "ponta" certa (comprado ou vendido) antes que os demais o façam".
Traduzindo: apostam numa direção e fazem previsões para ajudar a aposta a dar certo.
Sempre segundo Mosca: "Se a Nasa precisasse contar com a precisão das previsões do boletim "Focus", o voo da Apolo 11 provavelmente não teria alcançado a altura de um balão de festa junina".
Pois é. E nós, jornalistas, vamos continuar a dizer, acriticamente, que o balão de festa junina é uma Apolo 11?

VINÍCIUS TORRES FREIRE

Uma boa notícia e uma dúvida


Folha de S. Paulo - 19/08/2009

Crise do emprego resiste na indústria, mas passa de modo rápido e inesperado; maioria dos setores entra no azul



A CRISE DO EMPREGO passou muito mais rápido e de modo mais inesperado do que estudiosos e outros interessados no assunto esperavam, este colunista inclusive. É o que parece, a julgar pelo balanço do emprego formal de julho. As piores expectativas eram baseadas principalmente em duas hipóteses:
1) A queda do emprego ocorre com mais força depois de alguns meses do início do tombo na produção;
2) As demissões, que a princípio explodem na indústria de transformação ("fábricas"), tendem a se espalhar feito uma mancha de óleo no mar da economia. Não foi assim.
Houve um pânico quase generalizado pelos setores da economia entre dezembro e janeiro. A indústria teve um primeiro trimestre desastroso e um segundo "apenas" horrível. Ainda vai mal. O comércio foi mais contaminado pelas fábricas, mas nos demais setores a reação começou cedo, após o "grande medo" da virada do ano. Fábricas e certos grandes exportadores foram, como se sabe, tragados pelo colapso do comércio mundial. A "ampliação do mercado interno", para recorrer ao velho blablablá desenvolvimentista, sustentou a atividade.
Entre 87 setores de atividade econômica, os que apresentavam a maior redução do estoque de empregos em relação a julho de 2008 estavam o de produção florestal, metalurgia, informática e eletrônicos, montadoras, máquinas e equipamentos, madeira, couro e calçados, produtos de metal, borracha e plástico, máquinas e aparelhos elétricos, todos com quedas de 5% a 21%. Mas, agora, 52 setores empregam mais gente do que há um ano, embora os salários tenham caído.
Em suma, o grosso do emprego sumiu devido à crise das montadoras e do investimento (máquinas, metalurgia e metal), de exportadores de alimentos e de alguns recursos naturais e das cronicamente complicadas manufaturas de têxteis, calçados e madeira.
Construção civil, infraestrutura, serviços públicos, educação, varejo doméstico e as miríades de serviços, tudo isso ajudou a evitar que a peteca do emprego caísse no fundo do poço.
A ação dos bancos estatais evitou o colapso do crédito. O crescimento forte e contínuo do gasto público, bom ou ruim, no curto prazo sustentou o mercado doméstico. Solvência nas contas externas e uma política macroeconômica mais ou menos conservadora vacinaram o país contra uma contaminação virulenta na área financeira e permitiram, coisa inédita, que o país baixasse os juros durante uma crise feia.
A ação estatal mostrou-se um instrumento muito útil para evitar o alastramento do pânico. Os gastos ditos "sociais" expandiram os "estabilizadores automáticos" (seguro- -desemprego, benefícios sociais vários). Mesmo a parte pior (a maior) do gasto do governo no curto prazo ajudou a evitar recessão feia.
Mas é também parte de nossos problemas crônicos: dívida pública ainda alta, gasto excessivo com juros, impostos demais e, ao mesmo tempo, investimento público limitado. O sucesso profilático da ação estatal ajuda a desmoralizar alguns mitos mercadistas. Pode, porém, criar mais ilusões e hábitos inerciais: excesso de gasto ruim, em ritmo de alta inviável, e economia regulada e estatizada demais onde não é necessário.

TODA MÍDIA

A escolha

NELSON DE SÁ

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/08/09

Ecoa a reportagem do "New York Times" com o presidente da Petrobras, ontem, sobre o plano para maior controle nacional do pré-sal. No "Financial Times", Kate Mackenzie destacou o temor americano de que, sem a "cooperação próxima" das companhias estrangeiras, a produção demore mais.
Mas para o "FT" a produção mais lenta "pode ser boa decisão estratégica" para evitar o que ocorreu no México, que "queimou seu petróleo" para atender aos EUA e hoje "caminha para o zero". O jornal remete ao analista de petróleo Gregor Macdonald, que postou ontem no site financeiro Seeking Alpha o artigo "Brasil faz a escolha mais sábia de todas".

Por outro lado, o site da "Foreign Policy" saiu a campo contra o "nacionalismo" do plano. Diz que "companhias nacionais bem geridas são exceção" e questiona os "controles anticorrupção". Cita o vínculo da estatal com Dilma Roussef, "a escolhida de Lula". Em post à noite, o próprio editor-chefe da "FP", o venezuelano Moisés Naím, falou em "maldição do petróleo" no Brasil, dizendo que o modelo de exploração de recursos naturais deveria ser o Chile.

"E O NOSSO TUPI?"
Após o "Investor's Business Daily", o "Wall Street Journal" deu longo editorial sobre o crédito oferecido pelos EUA à Petrobras, para o pré-sal. O jornal acha estranho, "odd", diante da "sede de dinheiro do Tesouro americano" e do fato de que "a Petrobras é uma das maiores corporações nas Américas". Mas sugere "olhar pelo lado bom". Como se trata de Obama investindo em exploração no mar, ele poderia fazer o mesmo nos EUA, onde a prospecção é nas costas Leste e Oeste, "que poderiam ser os nossos equivalentes do campo de Tupi".

QUINTA POTÊNCIA
Manchete do UOL, meio do dia, "Lina diz que não se sentiu pressionada por Dilma". Fim do dia, "Dilma pediu rapidez, não engavetamento, diz Lina". Na escalada do "Jornal Nacional", por outro lado, Lina "reafirma que Dilma pediu para apressar a investigação de denúncias contra o filho de José Sarney".
Ao fundo, o portal da revista "Exame" trazia ontem a manchete "O plano econômico de Dilma Rousseff". Segundo o post, o programa prevê "o aumento do Estado" em três áreas, energia, mineração e telecomunicações, com Eletrobrás, Vale e Telebrás. Já haveria até slogan, "Brasil, Quinta Potência Mundial".

POR TODO LADO
Em sua coluna em mais de cem jornais, ontem, Lula saudou o anúncio pela Vale da "criação de um polo siderúrgico" no Pará. "A iniciativa privada tem que acompanhar essa nova visão de desenvolvimento." Segundo o UOL, ele estreia hoje o Blog do Planalto, "para os jovens"

DE IC PARA BIC
Do "WSJ" à "Business Week", os sites de economia destacaram que a IBM "aposta na inovação brasileira" e iniciou "missão para ampliar suas parcerias no Brasil, em resposta ao crescente mercado de tecnologia da informação do país". A inovação nos emergentes antes se restringia ao "IC", Índia e China, mas agora virou "BIC".

MOTORES NOVOS
No "Washington Post", o colunista Robert J. Samuelson escreveu ontem que os americanos "gastadores" não vão mais comprar como antes, atuando como "motores" globais. E avalia como boas as perspectivas de consumo de chineses, indianos e brasileiros. Suas economias estariam deixando para trás a dependência exportadora.

O RETORNO
Em série iniciada ontem, com longas reportagens, o "FT" acompanha o efeito da crise econômica sobre comunidades de imigrantes em todo o mundo, que estariam retornando aos países de origem. Nos primeiros relatos, a redução do número de mexicanos que se mudam para os EUA. Agora, até voltam. E as remessas de dinheiro diminuíram.
Também na série, já postada em página multimídia, a volta de brasileiros de Osaka, no Japão.

O PRÍNCIPE DAS TREVAS
Morreu Robert Novak, célebre colunista engajado dos EUA. Nas páginas iniciais de "NYT", "WP" e Politico, foi descrito criticamente como "prince of darkness", por suas ligações com o poder. "Criticar morto recente é rude, mas..." escreveu o colunista de mídia Jon Friedman.

ELIO GASPARI

Os 'caras' do companheiro Obama

O GLOBO - 19/08/09

A jornalista americana Michelle Malkin botou na rua o livro “Cultura da corrupção — Obama e seu time de pilantras, sonegadores e cupinchas” e em apenas uma semana ele ocupou o primeiro lugar da lista de mais vendidos do “The New York Times”. No chute, isso significa uma circulação de 50 mil a 100 mil exemplares. Como John McCain teve 60 milhões de votos, esse número ainda não é motivo para se arrancar os cabelos.

Malkin bate pesado, mas cada adjetivo é acompanhado por fatos. Ela lista os maus passos de algo como 50 estrelas do firmamento de Obama.

Pilantras? Bill Richardson, seu secretário do Comércio, desistiu da indicação por conta das investigações a que estava submetido. (Noves fora o pecado venial de maquiar o currículo esportivo, como o vice Joe Biden, que maquiara o acadêmico.) Uma ONG dirigida por Patrick Gaspard, atual diretor da seção de assuntos políticos da Casa Branca, tomou a terceira maior multa já aplicada a malfeitorias eleitorais, US$ 775 mil.

Sonegadores? O senador Tom Daschle desistiu de ser secretário da Saúde por má contabilidade tributária.

Foi substituído por Kathleen Sebelius, que errou as contas com a Receita em três anos sucessivos. Timothy Geithner, secretário do Tesouro, esqueceu de pagar US$ 43 mil dólares ao Imposto de Renda.

Cupinchas? A mulher mais poderosa da Casa Branca, depois de Mme.

Obama, é Valerie Jarrett, amiga e guia do casal na política e na cleptocracia dos democratas de Chicago. Ela é sobrinha do poderoso lobista Vernon Jordan, que arrumou um emprego para Monica Lewinsky, tentando mantê-la de boca fechada.

Todos os episódios e culpas narrados em “Cultura da corrupção” já apareceram na imprensa ou na blogosfera.

Malkin montou o painel, usou tintas fortes e mostrou uma paisagem onde se misturam velhas figuras de Wall Street, companheiros sindicalistas truculentos e vorazes, com ONGs tisnadas por escroques. Isso e mais Chicago, o berço político de Obama, uma espécie de Maranhão rico e industrializado. Malkin demonstra que o discurso antilobista de Obama estava mais para lero-lero. (O procurador-geral Eric Holder é lobista registrado, como o secretário da Agricultura e, de certa forma, o diretor da CIA.) A retórica da transparência, prometida durante a campanha, foi esquecida em poucas semanas.

Na mão da xará, Michelle Obama come o pão que Asmodeu amassou.

Malkin mostra que sua secretária social ganhou US$ 1 milhão trabalhando para duas companhias de gás no ano da graça de 2008, o da eleição. A carreira profissional de Michelle tem duas lombadas. Ela foi contratada pelo Centro Médico da Universidade de Chicago para um cargo que não existia, extinto com sua saída. Mais: quando o marido era um político promissor seu salário ficou em US$ 122 mil anuais. Depois que ele se elegeu senador, subiu para US$ 317 mil.

Com menos de um ano de governo, só a má vontade pode instruir a suspeita de que a qualquer momento surgirá o neologismo Obamagate. Nada aconteceu na Casa Branca que possa lembrar a licenciosidade de John Kennedy, a paranoia de Richard Nixon, a plutofilia do casal Clinton ou o imperialismo irresponsável de George W. Bush. Contudo, se algo parecido acontecer, o livro de Michelle Malkin será lembrado. Ela avisou.

PAINEL DA FOLHA

Vento em popa

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 19/08/09

A Holdenn, cujo proprietário, Rogério Frota de Araújo, bancou apartamentos para a família Sarney em SP, tem como parceira em negócios no setor elétrico a Servtec, que também orbita em torno do grupo político do presidente do Senado. Em 2007, a Servtec se desdobrou na Bons Ventos S.A. Recebeu recursos do Proinfa (Eletrobras) e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) para erguer usinas de energia eólica em Aracati (CE), cidade natal de Frota.
O presidente da Servtec, Lauro Fiuza Jr., comanda a Associação Brasileira de Energia Eólica. A entidade tem como consultor Silas Rondeau, que perdeu o Ministério das Minas e Energia na Operação Navalha e, como o filho de Sarney, está enrolado na Boi Barrica.

Tranca - A Polícia Legislativa, que tem sido chamada a debelar sucessivos protestos ‘Fora Sarney’, está autorizada, desde sexta-feira passada, a algemar manifestantes.

Todo cuidado... - Presente ao depoimento de ontem, o marido de Lina Vieira explicou a um senador que a ex-secretária da Receita queria evitar qualquer afirmação que permitisse aos governistas acusá-la de prevaricação: ‘Vamos pelas reticências’, disse.

...é pouco - Sobre o fato de Lina não ter revelado a data da reunião que afirma ter mantido com Dilma Rousseff, ele disse: ‘Ela não tem certeza. Não quer se confundir’.

Vespeiro - Sarney assinou circular anteontem, véspera da apresentação da proposta da FGV para reforma administrativa do Senado, na qual promete que ‘cada categoria’ dos funcionários será ouvida na elaboração do novo plano de cargos e salários.

Choque - O litígio entre Renan Calheiros e Aloizio Mercadante se reproduziu no depoimento. O líder do PMDB ficou irritado com a linha de questionamento do petista a Lina, a seu ver ineficiente.

YouTube - Renan tentou aplicar uma vacina contra a principal arma a que a oposição tenta recorrer: disse que, se Lina foi várias vezes ao Planalto, o eventual aparecimento de imagens da ex-secretária ‘não prova nada’.

Manada - Depois de comandar a ofensiva contra Lina na CCJ, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), retirou-se, mas não sem antes orientar um assessor: ‘Vigie a base e não deixe ninguém sair, senão alguém aprova acareação aqui’.

Demarcação - Lula irá ao Acre na sexta visitar projeto habitacional de Binho Marques (PT). Marina Silva, que está para anunciar o ingresso no PV, declinou de convite feito pelo governador para estar no palanque do presidente. Alegou compromisso previamente assumido no Pará.

Encolheu - Ao deixar a sede da Fazenda, Guido Mantega afirmou que o país fechará o ano gerando 700 mil novos empregos com carteira. Cinco minutos e poucos quilômetros depois, em evento pelos 30 anos da ANJ, prometeu ‘de 500 a 600 mil’.

Tratamento - Projeto de Rui Falcão, líder do PT na Assembleia paulista, dispensa o uso do adjetivo ‘nobre’ antes de ‘deputada ou deputado’. Também propõe descartar o ‘excelência’. ‘Não é a obrigatoriedade de seu uso que vai garantir a urbanidade entre os membros do Legislativo.’ O Senado que o diga.

Tiroteio

Isso não tem pé nem cabeça. A documentação relativa ao mestrado obtido pelo Serra na Universidade do Chile e ao doutorado em Cornell está na Unicamp para quem quiser ver. E Mercadante sabe disso porque foi nosso aluno.
Do economista LUIZ GONZAGA BELLUZZO, que considera um ‘desatino’ a acusação, feita ontem pelo senador petista, de que o governador tucano teria fraudado seu currículo acadêmico.

Contraponto

Perna curta

Na primeira eleição 100% eletrônica na Bahia, em 2002, o PSDB montou um QG para acompanhar a apuração. Computadas as primeiras urnas, o deputado estadual Marcelo Nilo começou a ficar preocupado.
- Acho que meu número deu pau...
Para tirar a prova, certificou-se com um correligionário, Edmar Chaves, que havia lhe prometido apoio, se aquela era a sua seção eleitoral. Como não obteve teve nenhum voto ali, começou a vociferar contra a urna eletrônica.
- Marcelo, a urna não falha.._ atalhou Jutahy Júnior.
Diante da perplexidade do amigo, Jutahy abriu o jogo:
- Quem falhou foi Edmar. Como eu sabia que você estava eleito, pedi a ele para votar em outro...

FERNANDO CALAZANS

De carne e osso

O GLOBO - 19/08/09

O garotinho alemão, lourinho, lourinho, estava no Estádio Olímpico de Berlim desde as provas eliminatórias dos 100m, com o rosto pintado com as cores da Jamaica. Não é qualquer equipe de qualquer modalidade esportiva, não é qualquer atleta, não é qualquer jogador, não é mesmo qualquer campeão e qualquer ídolo estrangeiro que consegue cativar um garotinho alemão.
Ou muitos e muitos garotinhos alemães. Ainda mais a ponto de levá-los ao estádio pintados com as cores de um país que não é o deles. Por sinal que nem os garotinhos alemães nem os garotinhos de qualquer país. O autor da proeza, o homem que encarnava as cores da Jamaica na pista, só podia mesmo ser Usain Bolt.
Essa manifestação de admiração começou muito antes da prova final. Agora vocês imaginem depois que Bolt deixou pra trás dois ilustres campeões como o americano Tyson Gay e o outro craque jamaicano, Asafa Powell.

Usain Bolt é um ser especial. Dizem os mais próximos que ele é marrento e que ele ao mesmo tempo é simpático. Assim de longe, não posso calcular a que ponto vai a marra do campeão, mas posso constatar ao menos que sua simpatia é contagiante. Contagia não só milhares de pessoas no estádio, como a garotada alemã, mas milhões de telespectadores ao redor do mundo. Não há quem se mantenha indiferente. Ele é especial fazendo (fingindo) cara séria, é especial sorrindo, dançando, gesticulando para a platéia. Além de grandíssimo atleta, é grande artista.
Seus gestos também falam. Nos últimos metros da prova, nas derradeiras passadas para estabelecer o recorde mundial, Usain Bolt deu uma rapidíssima olhadinha de esguelha para a direita, para ver a que distância andava Tyson Gay. Ciente de que a prova estava ganha — como ele sempre previu e jamais escondeu — Bolt deu outra olhadela, esta mais tranquila e demorada, para a esquerda, onde estava o placar eletrônico que cronometrava a prova. E assim cruzou a fita: olhando e saboreando o próprio recorde.
Mais tarde, nas entrevistas, Tyson Gay, com fisionomia bastante fechada, antipática até, disse que Bolt não é imbatível. E Tyson Gay está mais do que certo. Não existem seres humanos imbatíveis. Nenhum, nem Bolt. Seres humanos imbatíveis, só no plano da ficção, como... por exemplo... Bond, James Bond.
Bolt, Usain Bolt, não parece mas é real. É de carne e osso. Tão real, tão humano que, numa de suas inúmeras entrevistas depois de mais uma glória conquistada para ele e para a Jamaica, tentando esconder a emoção, mas não conseguindo, ele disse: — Estou orgulhoso de mim mesmo.
O garotinho de cara pintada e o mundo todo também estão orgulhosos de Usain Bolt.

Domingo, depois da derrota para o Coritiba, o técnico Renato Gaúcho usou mais de 10 vezes a palavra “atitude”. Na segunda-feira, nas Laranjeiras, o coordenador de futebol, Branco, e outros dirigentes usaram mil vezes a palavra “atitude”. Como se “atitude” é que estivesse faltando ao Fluminense e, por que não?, ao Flamengo, ao Botafogo...
Dá a entender que dirigentes, coordenadores e técnicos nada entendem de futebol. O que está faltando ao Fluminense (como a Flamengo, Botafogo...) não é atitude, o que está faltando é exatamente futebol.
E futebol não se pede ao jogador. Ele tem ou não tem. A vergonha do futebol do Rio não está nos jogadores, que são ruins. Está em quem os escolhe, quem os treina, quem os emprega.

TOSTÃO

O pior dos piores

JORNAL DO BRASIL - 19/08/09


Uma boa notícia do fim de semana foi o América-MG ter garantido um lugar na Série B do Brasileirão. Se meu querido pai estivesse vivo, estaria muito feliz. Antes do Mineirão, o grande jogo em Minas era entre Atlético e América, chamado de clássico das multidões.

Terminou e ainda não acabou o primeiro turno da Série A. Faltam três jogos. É hora de fazer promessas, contas e pactos para a vitória. Todos fazem o mesmo. Na bolsa de palpites, só apostam, para campeão, em Palmeiras, São Paulo e Inter. O Goiás é o segundo colocado e possui bom time e elenco. Outras equipes têm chances.

Falta um ótimo atacante ao Palmeiras. Se Vágner Love chegar, o time, de forte candidato, passa a ser o grande favorito ao título.

A defesa do Palmeiras é a me lhor do campeonato. Sofreu apenas 17 gols em 19 jogos. A do Fla­mengo levou 31, menos apenas que as de Coritiba, Náutico, Flu minense e Sport, que lutam para não cair. Com a atual defesa, o Fla mengo não chega à frente nem se Adriano, artilheiro do campeonato, passar a chutar a bola no canto, por cima, e não no corpo do goleiro. Mesmo se quisesse, Victor não conseguiria fugir da bola.

Isso não diminui a bela atuação do excelente goleiro do Grê mio. Réver também chutou no corpo de Bruno, e a bola en trou. O grande goleiro não é o que defende algumas bolas impossíveis, e sim o que defende quase todas as possíveis.

Paulo César de Oliveira errou na marcação do primeiro pênalti, a favor do Grêmio. O segundo foi duvidoso. Para marcar pênaltis, Paulo César, entre os árbitros, é o pior dos piores. Há anos que erra e não aprende. Jogo que apita tem quase sempre um pênalti.

O Grêmio é o melhor time em casa e o pior fora. Só conseguiu dois pontos. Já surgiram milhares de explicações. Nenhuma convence, isoladamente. “As coisas não têm explicação; têm existência” (Fernando Pessoa). No futebol, mais ainda. A explicação, quando existe, é posterior ao fato.

Para a maioria dos comentaristas, os técnicos continuam ga nhando e perdendo as partidas. A atuação dos jogadores e a imprevisibilidade do futebol são detalhes menos importantes.

William, bom zagueiro do Co rinthians, disse no programa Are na SporTV que, quase sempre, a imprensa vê as partidas diferentemente dos jogadores e treinadores. A razão deve estar dos dois la dos. Há jogadores e treinadores que só enxergam o que querem, e parte da imprensa entende pouco de futebol. Além disso, várias pessoas podem ver corretamente e de diferentes maneiras. É essencial a diversidade de opiniões.

O primeiro turno teve muita emoção e, algumas vezes, bom fu tebol. No segundo haverá mais. O que não se pode é confundir qualidade técnica com disciplina tática e correria. A moda é dizer que o jogo teve muita intensidade. Para fraseando José Simão, tucanaram a correria.

A cada dia, mais pessoas desaprendem o que é um bom jogo de futebol. Outros sabem, mas fingem que não sabem, para não cair a audiência. Qualquer pelada é um grande jogo, de muita intensidade. Ainda bem que existem críticos exigentes, como Fernando Calazans (O Globo e ESPN Brasil).