domingo, agosto 16, 2009

MERVAL PEREIRA

Plano de poder

O GLOBO - 16/08/09

Os escândalos envolvendo os líderes da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), com a manipulação de dinheiro dos fiéis para fortalecer o império de comunicação que o chamado bispo Macedo construiu com base na Rede Record de televisão, têm um terceiro componente que é fundamental no projeto de poder montado pelo grupo: o plano político, onde a Universal atua através do Partido Republicano Brasileiro (PRB). Essa combinação de igreja com meios de comunicação e política é uma mistura explosiva que alimenta um projeto maior, que o próprio bispo Macedo explicitou em um livro com o cândido nome de “Plano de Poder — Deus, os cristãos e a política”.

Escrito em parceria com Carlos Oliveira, diretordo jornal “ Hoje em Dia”, de Belo Horizonte — um dos jornais da rede midiática da Universal, que tem também várias rádios pelo país — o livro parte do princípio de que Deus tem “um projeto de poder político de nação” para o seu povo, que tem sido negligenciado.

“Lamentavelmente, esse senso de percepção tem faltado a muitos cristãos, que hoje já somam no Brasil 40 milhões de pessoas, que vem crescendo a cada dia”, afirma Macedo.

Esse “ enorme potencial” tem que ser aproveitado para a conclusão do “ projeto de nação ” de Deus. “Quando se trata dos votos dos evangélicos, estamos diante de dois interesses”, afirmam os autores: “O interesse dos próprios cristãos em ter representantes genuínos e o interesse de Deus de que Seu projeto de nação se conclua”.

No meio de toda essa doutrinação, onde não faltam conselhos como “é extremamente necessário que haja um projeto visando primeiramente a conscientização e o amadurecimento e esclarecimento de um povo, ou de uma classe, para que então seja construída a estratégia e alcançados os objetivos intencionados”, o livro constata que não existe uma fórmula infalível para a chegada ao poder, o que quer dizer que “o campo em que ocorrem tais disputas está aberto. (...) Os procedimentos estratégicos não podem ser, de forma alguma, ignorados. Lembre-se de que o próprio Deus não os ignorou”.

Os tais “procedimentos estratégicos” não têm sido ignorados pelos seguidores do bispo Macedo, que ao sentir que a primeira legenda assumida pelo grupo, o PL, havia sido atingida mortalmente pelo escândalo do mensalão, tratou de criar uma nova sigla política.

O vice-presidente da República, José Alencar, rompeu com o PL e aderiu a mais uma aventura partidária do bispo Macedo, que já havia sido seu parceiro no PL. O Partido Municipalista Renovador, criado em 16 de dezembro de 2003, com apoio de mais de 457.702 eleitores, transformou-se em 25 de outubro de 2005 em Partido Republicano Brasileiro — o PRB.

Em poucos dias conseguiram recolher nas igrejas espalhadas pelo país milhares de assinaturas para constituir um partido político, meta que o PSOL levou quase um ano para atingir pelos métodos tradicionais.

A opção pelo empresário José Alencar na eleição de 2002 tinha uma intenção política específica: convencer o eleitorado não-petista de que a candidatura Lula não representava perigo e era capaz de unir capital e trabalho na busca do desenvolvimento.

Agora, não. A escolha do partido do bispo Edir Macedo foi uma jogada política com outro alcance, tentativa explícita de ampliar os tentáculos do governo a uma área popular que atrai muitos votos de cabresto.

No estudo “Religião e sociedade em capitais brasileiras”, coordenado pelo professor da PUC do Rio Cesar Romero Jacob, foram examinadas pela primeira vez estatísticas detalhadas sobre a opção religiosa dos moradores de 19 capitais brasileiras.

Uma das conclusões mais importantes é que as três décadas de estagnação da economia brasileira, aliadas ao modelo urbano perverso — que segrega nas áreas distantes os mais carentes — produziram nos últimos anos um fenômeno recorrente em todas as principais capitais brasileiras: a formação de anéis evangélicos nas periferias, onde se concentram sobretudo os fiéis pentecostais, em número crescente.

Nas áreas centrais, mais abaladas , permanece predominante a população católica, que, no entanto, tem diminuído sistematicamente em todas as principais capitais: em 13 das 19 metrópoles estudadas, esse declínio ultrapassou os 10 pontos percentuais entre os censos de 1991 e 2000.

As duas principais denominações pentecostais são a Assembleia de Deus e a Universal do Reino de Deus (Iurd). Entre elas, no entanto, há diferença de comportamento, segundo os estudiosos.

Enquanto a Assembleia de Deus concentra-se nas áreas mais pobres, principalmente na Baixada Fluminense, a Iurd está mais presente nos subúrbios de classe média, onde a pregação da teologia da prosperidade faz mais eco entre fiéis ávidos pela terra prometida do emprego e da perspectiva de empreendimentos econômicos que, uma vez bem-sucedidos, reverterão em maior volume de doações.

Além do PRB, a Igreja Universal usa a tática de espalhar adeptos em vários outros par tidos, o que faz com que tenha uma bancada diversificada no Congresso. O que há de diferente entre a Universal e as outras igrejas evangélicas é que ela é um instrumento de enriquecimento de pessoas e um meio para acumular poder político

PARA....HIHIHIHI


PORTUGA

Um dia seu Manuel acordou com o testículo esquerdo inchado e dolorido. Sua mulher lhe aconselho:
- Manuel vá até uma faculdade. Lá os estudantes darão um jeito para você.
Chegando à faculdade, Manuel viu um estudante passar e relatou do seu problema a ele. O estudante então respondeu:
- Mas meu senhor, esta faculdade é de Direito.
E o português Manuel:
- Ora pois, e eu ia lá saber que para cada bago tinha uma faculdade.

JANIO DE FREITAS

A imprevista

folha de são paulo - 16/08/09


Uma boa resposta, se confirmada pela candidatura Marina, a um presidente sem interesse pelo ambiente


A RECEPÇÃO INICIAL à ideia de candidatura da ex-ministra Marina Silva à sucessão presidencial, não pelo PT mas pelo PV, sugere a possibilidade de algo ainda mais novo, na política brasileira, do que foi a vitória de Lula sobre José Serra. Apesar de pouco menos do que sigilosa, tão escassas e discretas são as referências nos meios de comunicação mais presentes, a ideia recebe expressões de simpatia, quando não de provável adesão, pode-se dizer que onde quer que seja citada. Inclusive em territórios petistas. E, no entanto, ainda estão na reserva originalidades com grande potencial para impulsionar a candidatura, se efetivada. E, claro, no caso de superar algumas adversidades muito fortes.
A identificação de Marina Silva com os temas de meio ambiente, postos em conexão com objetivos de ordem social, são um trunfo extraordinário no eleitorado, exceto entre os proprietários de terras e o grande empresariado. E um fator seguro de ativismo entusiasta na multidão dos eleitores moços. Fernando Gabeira, Carlos Minc, Fábio Feldman e vários outros testemunham o poder eleitoral da identificação com a defesa do meio ambiente.
Ao cometer o ato atrabiliário de afastar a silenciosa e retraída Marina Silva do governo, por seus cuidados ambientais em projetos do PAC, Lula entregou o Ministério do Meio Ambiente a um substituto que tem a ansiedade e a habilidade de estar sempre em evidência, projetando-se e projetando a sua área. Com isso, o próprio Lula provocou, à revelia, a maior projeção do tema que é o principal patrimônio político de Marina Silva. Uma boa resposta, se confirmada pela candidatura, a uma injustiça e a um presidente que não tem o menor interesse pelo meio ambiente nacional, como demonstram as concepções para a Amazônia que absorveu de Mangabeira Unger, Nelson Jobim e de grandes proprietários e grandes grileiros. O tema só lhe interessa para reuniões e entrevistas internacionais, ocasiões em que se põe como uma contrafação masculina de Marina Silva.
A origem humilde, de pessoa só alfabetizada aos 16 anos, facilitaria a penetração de Marina Silva em parte substancial do eleitorado urbano pobre e no Nordeste. Mas duas outras características se aliam nela com influência especial: a cor da pele e ser mulher. Pela cor e seus simbolismos, as comparações de Marina Silva a Barack Obama seriam inevitáveis e produtivas. Os dois até se parecem um pouco, Marina Silva, também esguia, fisionomia de traços nítidos e mais caucasianos do que afros, até passaria muito bem por irmã de Obama. E a época é favorável às presenças sem precedentes.
A garra necessária para enfrentar as adversidades é uma interrogação no caso de Marina Silva. Mas as adversidades, não. A começar dos recursos financeiros. Os financiadores habituais de candidatos a presidente por certo estarão apegados a outros candidatos. A campanha de Obama, com problema equivalente, teve criatividade extraordinária e, entre outros feitos, foi buscar doações pela internet. Mas nos Estados Unidos a população negra, grande doadora, tem recursos, e a internet tem penetração muito maior que no Brasil. A campanha de Marina Silva precisaria de muita e própria criatividade.
Além disso, seu tempo de propaganda eleitoral gratuita seria insignificante. E, aceita alguma generalização, pode-se dizer que os meios de comunicação, no Brasil, são uma forma de partido(s) político(s), com a tv e as revistas semanais mais que os outros. Marina Silva não tem nada, até onde se saiba, que possa seduzi-las.
Adversidades, porém, não são impedimentos. Como fatores positivos não são, por si, senão promessas.

BRASÍLIA - DF

Ciro na berlinda

CORREIO BRASILIENSE - 16/08/09

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convenceu o deputado Ciro Gomes (CE) a transferir o título de eleitor para São Paulo, como também queriam o PT, o PDT e o PCdoB, mas isso não significa que o ex-ministro da Integração Nacional tenha desistido de disputar a Presidência da República. Muito pelo contrário. Na reunião com a cúpula do PSB que antecedeu o encontro com Lula, Ciro disse ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos, presidente da legenda, que considera o quadro sucessório embaralhado demais para abrir mão de seu nome na disputa.

Na avaliação dos líderes do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), e na Câmara, Rodrigo Rollemberg (DF), Ciro tem razão: Dilma Rousseff ainda não conseguiu se viabilizar como candidata única da base governista. Campos é favorável a um acordo com Dilma, mas concorda com a análise. Seria muito cedo para desistir, pois Ciro tem potencial para chegar ao segundo turno das eleições. Sobretudo se Marina Silva (AC), de saída do PT, mantiver sua candidatura pelo PV. Ciro mudou o domicílio eleitoral por desencargo de consciência, pois não sente firmeza no apoio dos petistas de São Paulo e a candidatura ao Palácio dos Bandeirantes é sua última opção.

Vice

Preocupado com o comportamento do PMDB, o presidente Lula desistiu do nome de Michel Temer (SP) para vice de Dilma. E corre o risco de não contar com o ministro das Comunicações, Hélio Costa (foto), que é candidato ao governo de Minas e está em rota de colisão com o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT). Se o PMDB não fechar a coligação nacional com o PT, a melhor opção para vice seria Ciro Gomes (PSB), cuja candidatura a presidente da República é considerada por Lula um empecilho à vitória de Dilma. Maior do que Marina Silva.

Desconstrução

A cúpula petista já escolheu o discurso para esvaziar a candidatura de Marina Silva. A senha foi dada nos blogs do jornalista Ricardo Kotscho e do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. Da cúpula do Partido Verde, o maranhense Zequinha Sarney (foto), o carioca Fernando Gabeira e o paulista Marcelo Ortiz são desqualificados como líderes de esquerda, assim como o desempenho da ex-seringueira no Ministério do Meio Ambiente, pasta hoje comandada pelo petista Carlos Minc (RJ).

Tom

O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), subiu o tom das críticas ao governo Lula e ao papel do PMDB na crise ética do Congresso, em Pernambuco. Disse que o PMDB impôs uma "ditadura" no Congresso, que tutela o governo Lula. Pré-candidato a presidente da República, Aécio se prepara para disputar as prévias do PSDB com o governador de São Paulo, José Serra, em dezembro.

NO CAFEZINHO

Tradução/ Dois ministros - um do STJ e outro do TST - e um presidente de Tribunal Regional Federal nasceram no exterior, vieram para o Brasil, se naturalizaram e cursaram a faculdade de direito, na melhor tradição do caldeirão étnico do Brasil. No STJ, o ministro Felix Fischer é alemão de Hamburgo, enquanto a ministra do TST Cristina Peduzzi nasceu em Melo, no Uruguai. Já o presidente do TRF da 1ª Região (com sede em Brasília), Jirair Meguerian, é natural do Cairo (Egito). Todos são "traduzidos", como dizem os antropólogos.

Escolha de Sofia/ Falta Tamiflu e sobra gente gripada nos hospitais privados do Distrito Federal, assim como em outros estados atingidos pela epidemia de gripe suína. É que o Ministério da Saúde não consegue produzir as cápsulas do remédio na escala necessária e está repassando a tarefa para os estados com laboratórios próprios. O medicamento precisa ser tomado nas primeiras 48 horas da gripe. Depois, já não tem eficácia contra as complicações letais. Mas só é fornecido aos infectados pelo vírus A (H1N1) dos grupos de risco nos hospitais públicos de referência, que estão congestionados.

Rebote/ O deputado Otávio Leite (PSDB-RJ) apresentará pedido ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para a convocação de uma sessão do Congresso para apreciar os 28 vetos presidenciais à Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Governadores pressionam os parlamentares a reverter a derrubada dos artigos que garantiam repasses do Fundo de Participação dos Estados e R$ 1,3 bilhão extra para compensações da Lei Kandir.

Processos/ A segunda etapa do mutirão carcerário de Goiás, coordenado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), será iniciada amanhã. Juízes, promotores, defensores e servidores farão dois mutirões, um nas comarcas de Formosa, Planaltina e Cristalina e outro nas de Caldas Novas, Catalão e Morrinhos. De acordo com o juiz corregedor Carlos Magno Rocha da Silva, serão analisados 3 mil processos.

ELIO GASPARI

Marina e Lina viraram feras, ótimo

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/09


Duas mulheres mostraram à máquina do poder que as servidoras não devem levar desaforo para casa


MARINA SILVA E LINA VIEIRA são duas mulheres que decidiram servir ao público, uma na militância política, outra nos quadros do Estado. Uma saiu da floresta onde viveu analfabeta até a adolescência. A outra, oriunda de família mais afortunada, teve a educação dos privilegiados. Em apenas uma semana tornaram-se personagens relevantes da vida nacional, lançando um pouco de luz sobre um fenômeno antigo, mas pouco reconhecido: a singularidade do gênero feminino no serviço público.
As mulheres viveram em posição secundária durante cinco séculos. A primeira médica brasileira, Maria Augusta Generoso Estrela, formou-se nos Estados Unidos em 1887. A primeira advogada diplomou-se em 1925 e só em 1982 Esther de Figueiredo Ferraz chegou ao Ministério da Educação. De lá pra cá esse jogo mudou. Centenas de milhares de brasileiras buscam o serviço público como caminho para a independência e o reconhecimento profissional. Todas as generalizações são perigosas, inclusive esta, mas as mulheres independentes precisam do rigor, das normas e do respeito ao interesse público para proteger suas qualificações pessoais.
Marina Silva e Lina Vieira saíram daquele pedaço da sociedade brasileira que os poderosos consideram irrelevante para o grande jogo do poder. Uma senadora do Acre, de fala mansa, não pode ter importância num assunto como a sucessão presidencial. Quando ela abandonou o Ministério do Meio Ambiente, tentou-se resolver o problema com uma substituição cenográfica, atribuindo-se seu desencanto a uma excentricidade amazônica. Deu errado e ela já avisara: "Perco o pescoço, mas não perco o juízo". Da mesma forma, uma secretária da Receita Federal pode ser dispensada como lenço de papel, sem explicação respeitável. Bastaria murmurar que era incompetente e a senhora saberia seu lugar. Deu errado.
Os dois casos deixam uma lição para os sábios do poder nacional: o Brasil melhora quando uma mulher vira fera a serviço do Estado e elas sabem que, a certa altura de suas vidas, ou viram fera ou são tratadas com o respeito e admiração que se dá aos lenços da casa Hermès.

O STF SALVOU A VIÚVA E MATOU A BOLSA IPI

O Supremo Tribunal Federal decidiu, por unanimidade, que o crédito tributário de IPI reivindicado pelos exportadores está extinto desde 1990. (Faz tanto tempo, que não custa lembrar: Nelson Mandela foi solto em fevereiro daquele ano.) Com o patrocínio da Fiesp, os empresários sustentavam que era necessário evitar um julgamento que poderia obrigar o governo a indenizar os exportadores. Contrabandearam a Bolsa IPI numa medida provisória de casas populares e habilitaram-se a receber um prêmio de 15% sobre o valor de seus negócios até o final de 2002. Segundo a Procuradoria da Fazenda Nacional, a Viúva morreria em pelo menos R$ 144 bilhões. Numa unanimidade típica de sua época, o Senado aprovou a malandragem. A MP passou pela Câmara com votos de todos os grandes partidos e o apoio decisivo do PSDB.
Expressando os argumentos dos interessados, o empresário Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Funcex, disse o seguinte: "Não se trata mais de saber quem tem ou não razão, mas de procurar encerrar essa disputa tributária com muito equilíbrio e bom senso".
Ao contrário: tratava-se de saber quem tinha razão e o Supremo Tribunal Federal estava lá para isso. A Viúva estava certa.
A cavalgada da MP revelou-se um esforço desesperado para driblar o Supremo. O contrabando da MP está na mesa de Nosso Guia e o ministro Guido Mantega pediu formalmente que a astúcia seja vetada.

SEM REMÉDIO
Ficou mal na foto o ministro José Gomes Temporão. Foi a uma reunião na Câmara e o deputado Miro Teixeira perguntou-lhe quantas pessoas morreram de gripe suína depois de terem recebido a devida medicação até 48 horas depois do aparecimento dos sintomas. O ministro falou, falou, mas não respondeu. Cobrado, informou: "Não sei, e ninguém sabe".

RECORDAR É VIVER
O governo americano salgou suas relações com a América Latina expandindo sua presença militar na Colômbia. Depois de perder a base de Manta, no Equador, e de desistir de outra, em Marechal Estigarribia, no Paraguai, o Pentágono reescreveu as normas de sua presença. A operação colombiana não instalará bases, mas permitirá que militares americanos, comandados por oficiais americanos, operem em quartéis colombianos.
Guardadas as diferenças logísticas, em 1956 os Estados Unidos tentaram obter de Juscelino Kubitschek um acordo que lhes permitia instalar postos de rastreamento de mísseis em Maceió, Natal, Fortaleza, Belém e Fernando de Noronha. JK cedeu Noronha e, pelo acordo, brasileiros não podiam ter acesso a algumas das dependências do posto de observação. A base foi desativada em 1965 e no seu prédio funciona hoje um hotel.

TEMER NA VICE
Pelo andar da carruagem, o deputado Michel Temer é o favorito para a posição de candidato a vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff. Seus maiores adversários são os esqueletos e dragões guardados nos armários da contabilidade da Câmara.

SENADO
Os poetas sabem de tudo. No seu "Mafuá do Malungo", Manuel Bandeira incluiu um retrato do "Sapo-Cururu":
"Sapo-cururu
da beira do rio.
oh que sapo gordo!
oh que sapo feio!
Sapo-cururu
da beira do rio.
Quando o sapo coaxa,
povoléu tem frio.
(...)
Sapo-cururu
da barriga inchada.
Vôte! brinca com ele...
Sapo-cururu é senador da República."
(Segundo Eugênio Nascimento, "vôte" é uma interjeição que manifesta repugnância a alguma coisa. Por exemplo: "Ele come até cobra assada. Vôte.")

NO PULMÃO
Uma ilustração para os delírios da banca antes do estouro de 2008: o Banco Lehman Brothers, como alguns cassinos de Las Vegas, injetava oxigênio nos seus dutos de ar refrigerado para aumentar o pique de seus operadores.

COISAS NO LUGAR
Nosso Guia reconheceu que tem uma dívida de gratidão com o doutor Henrique Meirelles, que devolveu uma cadeira de deputado federal para ocupar a presidência do Banco Central. Por mais grato que estivesse, em abril do ano passado, antes da crise mundial, Lula decidiu defenestrar o doutor e convidou para o seu lugar o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que felizmente foi presidir o Palmeiras. (No dia 1º de maio Meirelles já tinha subido no patíbulo, mas a economia brasileira conquistou a posição de "investment grade" e Lula achou melhor segurar a lâmina.)

CLÓVIS ROSSI

Qual é a lógica do medo?

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/09


SÃO PAULO - Não entendo bem o quase pânico que tomou conta de setores do PT ante a possibilidade de a senadora Marina Silva deixar o partido e candidatar-se à Presidência pelo PV.
Vejamos as razões do espanto: 1 - O único ativo eleitoral de Dilma Rousseff, a candidata declarada de Lula, é a eventual transferência (maciça) de votos do presidente para a ministra.
Digo o único ativo porque Dilma é virgem em disputas eleitorais, o que impede saber de outros.
2 - A transferência do prestígio de um para a outra independe do quadro de candidaturas, certo?
Sejam dois ou 30 os candidatos, Lula transferirá (ou não) sua cota de prestígio para a sua candidata e só para ela.
A menos que algum petista debiloide -e os há em boa quantidade- seja capaz de imaginar que o presidente é tão sacana que transferirá votos também para Marina.
Posto de outra forma: a candidatura Marina não altera o jogo Lula/ Dilma, a menos que ele não esteja assentado unicamente na transferência de prestígio.
Ou então os petistas assustados não confiam muito na capacidade de Lula de transformar prestígio pessoal em votos para uma indicada sua. Esta segunda hipótese tem mais lógica: Lula mergulhou na campanha municipal de Marta Suplicy e, não obstante, ela sofreu sua terceira derrota em quatro campanhas majoritárias. A única lógica para o pânico é o medo de que uma candidatura Marina quebre o caráter plebiscitário (Lula/Dilma x Serra) que muitos dizem que o lulo-petismo deseja para 2010. Aí faz sentido, algum sentido pelo menos.
Em votações plebiscitárias, vota-se não apenas na simpatia de um mas também (às vezes principalmente) na antipatia do outro. Uma mesa com três (ou mais) jogadores tende sempre a diluir simpatias e antipatias.


PAINEL DA FOLHA

Lei da selva

RENATA LO PRETE

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/09

Dirigentes nacionais do PT que conversaram com Marina Silva sobre sua iminente ida para o PV, partido pelo qual planeja se candidatar à Presidência, saíram convencidas de que, à parte gestos protocolares, os irmãos Jorge e Tião Viana não se esforçaram muito para dissuadir a senadora. Além de contingências locais, como a manutenção da hegemonia no Acre para o clã, antigas e novas mágoas com Lula e sua candidata, Dilma Rousseff, teriam ditado o deixa-sair.
Tião não esconde a decepção com o apoio da dupla a José Sarney na atual quadra e a ambiguidade com que se portaram na disputa pela presidência do Senado. Já Jorge tem dito a aliados que Dilma por mais de uma vez jogou contra seu ingresso no ministério.




Retrô. A onda no governo é qualificar Marina como "roda presa". Auxiliares do presidente apostam em carimbar na senadora o perfil de quem "faz as obras pararem", que lhe seria prejudicial na comparação com os "desenvolvimentistas" Serra e Dilma.

Fumaça. Quando alguém pergunta a Ciro Gomes como seria fazer campanha em São Paulo sem poder fumar, hábito arraigado do deputado, ele responde com crítica à draconiana legislação local. "É errado punir o dono do estabelecimento por falha do cliente", diz, já entrando no debate.

Parada técnica 1. Está com o petista gaúcho Marco Maia o requerimento de Ronaldo Caiado (DEM-GO) para ter acesso às fitas de vídeo e à lista de placas de carros que circularam no Planalto. Caiado busca evidências em favor da ex-secretária da Receita Lina Vieira, que afirma ter recebido de Dilma Rousseff, no palácio, um pedido para "agilizar" investigação sobre empresas da família Sarney.

Parada técnica 2. Como primeiro vice da Câmara, cabe a Maia encaminhar os requerimentos. Outros membros da Mesa apostam que ele vai esperar baixar a poeira para endereçar o pedido.

Ficha. Rodrigo Grassi, 30, estudante de pedagogia e líder do movimento "Fora Sarney" em Brasília, ocupa cargo de assessor parlamentar no gabinete da deputada distrital pelo PT Erika Kokay.

Bomba-relógio. A prioridade um do PC do B na CPI da Petrobras é postergar ao máximo e se possível impedir o depoimento de Victor Martins, diretor da ANP e irmão do ministro Franklin Martins (Comunicação Social).

Buraco do tatu. Técnicos da oposição se debruçam sobre os primeiros documentos enviados à CPI pelo Ministério da Fazenda e pelo Tribunal de Contas da União.

Estranho... José Antônio de Freitas, secretário de Finanças de Celso Pitta, tem prestado serviços informais à administração de Gilberto Kassab (DEM) -também ele com passagem pela gestão Pitta, na pasta do Planejamento. Há quem aposte num futuro posto para Freitas no primeiro escalão de Kassab.

...no ninho. A presença de Freitas é mais um fator a estressar o núcleo tucano da gestão Kassab, menos influente que no primeiro mandato. Em 1997, José Serra estava no Senado e bateu pesado no então secretário de Pitta na CPI dos Precatórios.

Fidelidade. Presidente do PTB de São Paulo, o deputado estadual Campos Machado aguarda resposta de consulta feita ao TRE sobre a possibilidade de lançamento de um cartão de crédito com a bandeira petebista. Uma parte das taxas recolhidas seria destinada ao caixa do partido.

Nunca é tarde. Os governadores de Estados onde estão os campos do pré-sal ainda não desistiram de negociar uma compensação para a ideia de não repartir os royalties nas áreas ainda por licitar. Querem arrancar de Lula uma solução mista.

com VERA MAGALHÃES e SILVIO NAVARRO

Tiroteio

"Lula sempre tratou o Orçamento como peça política. Agora, quer tirar recursos de áreas essenciais para manter no ar a novela Dilma."

Do deputado RONALDO CAIADO , líder do DEM na Câmara, sobre o veto presidencial a artigo da Lei de Diretrizes Orçamentárias que limitava gastos com publicidade e diárias governo no ano eleitoral de 2010.

Contraponto

Café pequeno

Ao final de um jantar entre amigos, terça-feira passada no bairro paulistano dos Jardins, o garçom se aproximou da mesa para abrir o lacre que prendia à cadeira a bolsa de uma das comensais, procedimento de segurança adotado em muitos restaurantes da cidade.
O zelo com os pertences da clientela levou uma outra pessoa do grupo a brincar:
-Vai que tem algum senador por perto...
O garçom captou a alusão à série de escândalos em Brasília e procurou tranquilizar o cliente:
-Que nada, doutor! Carteira é pouco pra esse pessoal!


CARLOS EDUARDO NOVAES

Quarta-feira

JORNAL DO BRASIL - 16/08/09

A máquina caça-níquel Evilásio, aquele que não entende nada de futebol, apareceu lá em casa para uma partidinha de xadrez e me encontrou assistindo a Brasil x Estônia. Sentou-se no sofá, olhou para a telinha e, ignorando que a Seleção jogava, criticou-me por desperdiçar a tarde vendo uma pelada entre Profute e Aperibeense (não sei de onde ele tirou esses times).

Seu equivoco fazia o maior sentido. Nem o mais desinteressado torcedor imaginaria a poderosa seleção pentacampeã jogando em um estadiozinho menor do que o do Madureira (que nem estava cheio!). Evilásio justificou seu comentário pelas placas de publicidade que via ao redor do campo. Em jogos importantes, os anunciantes são sempre os mesmos – Nokia, Sony, Visa, grandes multinacionais que tornam todos os estádios parecidos.

No estadiozinho de Tallinn o que luzia eram anúncios brasileiros de colchão, relógios, cola-tudo, cursos de idiomas e Guaraviton. Intrigou-me uma placa que exibia apenas os nomes “Maria Cecília e Rodolfo” que não sei se anunciava uma sociedade ou um casal de namorados fazendo as pazes.

O comentarista do SporTV repetiu umas 50 vezes que os jogadores brasileiros estavam retornando das férias, sem considerar uma única vez que os botinudos estonianos também estavam postos em descanso.

Para mim, no entanto, jogar contra a Estônia ainda fazia parte das férias dos nossos atletas.

Não se pode considerar uma volta ao trabalho um jogo contra um país que perdeu de 7 a 0 da Bósnia-Herzegovina, ocupa a 112º colocação no ranking da FIFA e tem em seu time semiprofissional sapateiros, bombeiros e frentistas.

Tratou-se de um autêntico caça-níquel e ponho a me perguntar se a Seleção com todo seu prestigio internacional não estaria em condições de encontrar um adversário mais capacitado do que esta antiga república soviética? Contei 72 países no planeta que, de bom grado, pagariam à CBF o cachê de dois milhões de dólares por uma exibição da Seleção Brasileira.

Desconfio porém que, como o brasileiro deixa tudo para a última hora, não sobraram muitas escolhas para a CBF.

Parece que estou vendo o correcorre na entidade para agendar a partida do Brasil na data Fifa (12 de agosto).

– Como é? Já arranjou um adversário? – perguntou Teixeira.

– Estamos procurando, chefe.

Está difícil. Todas as grandes seleções já acertaram seus compromissos.

– Liga aí para a Federação do Azerbaijão que o presidente é meu amigo.

– O Azerbaijão joga nesse dia com a Alemanha pelas Eliminatórias da Copa. Estamos tentando um contato com a Federação de Bangladesh.

– O quê??? Bangladesh é um dos países mais pobres do mundo. O que vamos fazer lá? – Eles ofereceram um milhão e meio para ver a Seleção.

– Nada mal. Se não aparecer nada melhor. Tenta Cingapura. Lá corre muito dinheiro.

– Acabamos de receber um e-mail da Estônia. Eles pagam dois milhões! – Então fecha! Fecha rápido! – Mas chefe na Estônia só tem perna de pau. Ninguém sabe jogar futebol.

– E quem está preocupado com futebol? Fecha logo esse contrato, pô!

PAULO ROBERTO FALCÃO

Ausências

ZERO HORA - 16/08/09

O jogo deste domingo entre Grêmio e Flamengo está sendo considerado muito mais pelas ausências do que pelas presenças. O time da casa está sem Souza, Tcheco e Maxi López. O visitante não tem Kléberson, Leonardo Moura e Toró. Paulo Autuori terá que improvisar Réver no meio-campo para compensar a ausência de seus meias. Sem o seu principal armador, Andrade optou por confirmar o jovem Lenon, de 19 anos, como titular.

Mas a curiosidade maior do jogo talvez seja o duelo de centroavantes. O Grêmio está sem o seu, Maxi López, lesionado e na iminência de sair pela janela de transferências. O Flamengo tem o seu, o prestigiado Adriano, artilheiro do Brasileirão e imperador das esperanças dos torcedores rubro-negros. Ele é a maior preocupação da defesa gremista. Em contrapartida, o Grêmio terá na frente um candidato à camisa 9, que ainda não conseguiu se afirmar: o colombiano Perea.

Grêmio e Flamengo tentam terminar o turno com vitória, na esperança de uma reaproximação com o grupo da Libertadores. Se vencer em casa, o Grêmio passa na frente de seu adversário de hoje.

Respiro

Centroavantes e goleiros são os únicos jogadores que têm algum tempo para respirar no futebol de hoje. Os goleiros pela razão óbvia de que ficam parados dentro do gol, não precisam correr para o desarme quando o adversário está com a bola. Já os centroavantes quase sempre têm orientação de dar o primeiro combate aos zagueiros, de evitar a saída de bola. A partir daí, não é mais com eles. Os treinadores nunca pedem ao centroavante para voltar até a defesa e ajudar no desarme. Alguns jogadores até fazem isso, em lances isolados. Mas o normal é que tenham tempo para respirar enquanto os demais correm quase o tempo todo.

Visão

A visão desses jogadores também é diferente. O goleiro tem a visão do campo todo, mas tem pouca mobilidade para orientar os companheiros. Os centroavantes jogam de costas para o time. Como têm função específica, não lhes cabe correr longas distâncias. Muitos ficam completamente isolados na frente. Se quiserem conversar com alguém, tem que ser com os próprios marcadores. Mas, dependendo do estilo, alguns saem bastante da área, voltam até o meio, procuram participar. Domingo, no Olímpico, teremos centroavantes de estilos diferentes.

Desafio

A ligação entre meio e ataque será o desafio dos técnicos no domingo. O Flamengo está sem seus melhores articuladores, Kléberson e Leo Moura. O Grêmio entra sem Souza e Tcheco.

FERNANDO CALAZANS

Adriano e a seleção

O GLOBO - 16/08/09

Adriano quer voltar à seleção brasileira. O desejo é legítimo, mas ele mesmo deve saber que ainda é cedo para ser convocado (se é que um dia será). Desde que retomou os treinos no Flamengo, já emagreceu, seu corpo está mais parecido com o de um jogador de futebol, mas ele mesmo diz que precisa emagrecer mais um quilo, o que não é difícil. Precisa melhorar também a forma técnica.
Esta, a forma técnica, talvez mais até do que a física. Adriano tem decidido partidas para o Flamengo, no dia em que escrevo (sexta-feira) é o artilheiro do Campeonato Brasileiro, mas isso, na prática, não quer dizer tanta coisa assim.
O time do Flamengo concentra seu poder de decisão nos pés de Adriano, até por não ter tantos jogadores qualificados para disputar essa condição com ele. E, ser artilheiro de Campeonato Brasileiro (ainda mais deste Campeonato Brasileiro), ou de outro campeonato qualquer, tampouco é credencial suficiente.

Basta lembrar que Dimba, Souza, Josiel, entre outros, já foram maiores goleadores da competição.
Não custa lembrar também que até Obina é um dos primeiros — e Obina (pelo menos espero) não está pensando na seleção. Aliás, espero mais ainda que o técnico da seleção não esteja pensando em Obina.

Ao contrário, acho que Dunga pode pensar em Adriano. Não necessariamente neste Adriano de hoje, mas num Adriano mais adiante — se ele continuar melhorando a forma física e técnica.
O Adriano que decidiu o jogo do Flamengo com o Corinthians não é suficiente para chegar a uma seleção brasileira. Fez o gol da vitória, mas só depois de perder uma enxurrada de oportunidades — o que não aconteceria se estivesse em seu melhor momento.

Depende muito dele, Adriano, quer dizer, depende muito dela, a cabeça de Adriano. Se continuar imbuído do espírito de jogar futebol, de ser jogador de futebol, de se firmar no clube, e de voltar mesmo à seleção — pode até fazê-lo.
Mas ainda não é hora. Quem sabe até o fim do Campeonato Brasileiro? Já há quem garanta que o ataque do Fluminense deixou de ser problema para Renato Gaúcho. Será?

Penso que, assim como no caso de Adriano na seleção, ainda é cedo para fazer afirmação tão categórica. Ah, o Fluminense marcou sete gols nos dois últimos jogos.
Mas contra quem mesmo foram os jogos? Contra o Sport, último colocado (5 a 1) e contra o Vitória, que vem despencando (2 a 2). Hoje, o jogo é contra o Coritiba, outro que está na zona de rebaixamento.

O ataque melhorou, sim, com a dupla Roni e Kieza, mas teste mesmo vai ser no jogo da próxima rodada — contra o São Paulo, no Morumbi.

Segundo uma pesquisa feita pelo Comitê Olímpico Internacional, pelo menos 70 por cento dos brasileiros apoiam a realização das Olimpíadas de 2016 no Rio.
O prefeito Eduardo Paes, que está em Berlim com uma delegação brasileira, disse que a “população do Rio sabe o que as Olimpíadas podem significar para a cidade, para a melhoria das condições de vida”.

Não sabe não, prefeito. Se tivesse havido alguma melhoria na cidade com a realização do Pan-Americano de 2006 (quando o senhor ainda não era prefeito), eu tenho certeza de que a população saberia. Mas, como não houve, ela não
sabe.

Não quero dizer, absolutamente, que não pode haver benefícios com a realização das Olimpíadas em 2016. Pode haver, sim. Se houver, a população ficará sabendo. Mas, por enquanto, ela não sabe de nada.

TOSTÃO

Ordeiros e desordeiros

JORNAL DO BRASIL - 16/08/09

Na quarta-feira, escrevi que o meio de campo da seleção é torto, desequilibrado. Há dois volantes pelo meio (Gilberto Silva e Felipe Melo), um armador pela direita (Elano, Ramires ou Kléberson), e não existe o armador pela esquerda para fazer dupla com o lateral na marcação e no apoio. Isso ficou evidente até na violenta pelada contra a Estônia.

Se Maicon ou Daniel Alves ti vessem o mesmo nível técnico e jogassem na lateral esquerda da seleção, não seriam tão bons como são pela direita.

O esquema tático mais utilizado no mundo, desde a Copa de 1966, introduzido pelos ingleses, é o com dois zagueiros, dois laterais, dois volantes, dois meias (um de cada lado) e dois atacantes. Tudo certinho, simé tri co e equilibrado.

Equilíbrio é a palavra chave dos técnicos. Adoram ter um zagueiro mais viril e outro mais clássico, um volante mais pegador e outro mais habilidoso, um meia de cada lado e um atacante mais fixo, finalizador, e outro mais preparador, que se movimenta bastante. Tudo certinho, simétrico e equilibrado.

A busca da ordem e do equilíbrio é importante para se fazer bem alguma coisa e para se formar um bom conjunto, no futebol e em qualquer atividade. Mas, quando a busca é obsessiva, tira a improvisação, a espontaneidade e a beleza das coisas.

A busca da ordem é também uma maneira de o ser humano controlar o acaso e de conviver melhor com sua finitude.

O perfeito equilíbrio é impossível, já que homens e mulheres são imperfeitos e desequilibrados. Os homens, um pouco mais.

Os craques são os que desequilibram, transgridem e deformam. Para vencer uma equilibrada marcação, existe o drible desconcertante, o elástico, o da vaca, o lençol, e também o passe, de curva, de efeito, de rosca, de trivela e o vesgo, quando o jogador olha para um lado e toca para o outro.

Os grandes talentos, até os gênios como Van Gogh, precisam ter também um aprendizado técnico. Pelé, Maradona e outros só foram fenomenais porque tinham muita técnica e sabiam fazer bem o básico.

Muitos ótimos jogadores, extremamente técnicos, como Beckham, não se tornam craques porque são excessivamente repetitivos e previsíveis. Nunca vi Beckham sair do lado direito do campo, a não ser para bater faltas e escanteios.

Não esqueço um filme sobre o pintor americano Jackson Pollock. Ele passou a vida pintando, insatisfeito, pois sabia que faltava algo em seu trabalho. Não sabia o que era. De repente, brincando, ele, em vez de passar o pincel, jogou a tinta na tela (técnica do gotejamento). Aí, nasceu um craque.

É o que fazem as crianças mais novas. Brincam sem ordem. São desordeiras. As escolinhas de futebol, com seus chatos professores, com apitos e regras, inibem a criatividade dos meninos.

Uma das coisas mais interessantes é ver um menino descobrir os vários sentidos de uma palavra e brincar de misturar seus significados. Deve ser o que fazem os grandes escritores.

Todo ser humano sonha com 15 minutos de fama e de loucura. Nascemos loucos. A sociedade, e/ou um gene da ordem, nos tornam equilibrados.

MARIO VARGAS LLOSA

A riqueza do casal Kirchner

O ESTADO DE SÃO PAULO - 16/08/09

Crise do capitalismo? Sim, nos últimos anos, o poderoso sistema capitalista, ao mesmo tempo tão injuriado e difundido, de aparência indestrutível, deu sinais de desmoronamento em escala planetária. Não por ação de seus velhos inimigos, os comunistas e socialistas radicais, mas por causa do que o profeta Karl Marx chamou de "contradições internas", ou seja, a corrupção e a irresponsabilidade dos seus banqueiros, financiadores, empresários, especuladores, fraudadores, piratas, que cegos pela febre do lucro e da ganância pecuniária empurraram o capitalismo para o abismo, onde ele acabou caindo e se despedaçando - ou melhor, quase.

As consequências foram catastróficas: bancos faliram, bolsas despencaram, milhões de empregos desapareceram, o nível de vida de três quartos da população do globo desabou, empresários famosos foram para a prisão porque a crise revelou suas safadezas e trapaças, enfim, os ricos deixaram de ser tão ricos, a classe média empobreceu e os pobres ficaram miseráveis.

Claro, felizmente, houve algumas exceções à regra, o que dá uma esperança de sobrevivência ao sistema, isto é, uma recuperação alicerçada em bases mais firmes e bem sucedidas. Citemos como exemplo o caso de capitalistas que não só conseguiram escapar da crise, mas que, em um período de tragédia e ruína, conseguiram multiplicar seu capital.

A quem me refiro? Ao casal Néstor e Cristina Kirchner, é claro. O ex-presidente da Argentina e sua sucessora, a atual presidente do país, possuíam, em 2003, um patrimônio de US$ 1,7 milhão, fortuna apresentada em sua declaração de renda e avaliada pelo Departamento Anticorrupção do Ministério da Justiça.

Em 2007, quando Cristina chegou à Casa Rosada, esse capital tinha triplicado, chegando a US$ 4,5 milhões. Em dezembro de 2008, no auge da crise, havia dado um salto espetacular e, em apenas 12 meses, atingiu US$ 12,1 milhões.

Aprendam, capitalistas de meia-tigela, medíocres e grosseiros, tipo Bernard Madoff, que mereciam passar o resto de suas vidas na prisão por incompetência. Capitalistas de verdade são os Kirchners, audazes, engenhosos, criativos. Quando todos a sua volta perdiam o que tinham e não tinham, eles conseguiram fazer disparar suas receitas, demonstrando que o sistema tem recursos e atalhos para escapar das piores calamidades - e até prosperar com elas.

Como Néstor e Cristina conseguiram esse milagre? Quem trouxe a questão à tona em Buenos Aires foi a deputada oposicionista Patricia Bullrich, do Acordo Cívico e Social. Os dois, ambos advogados, já eram muito ricos quando ele assumiu a presidência da Argentina, em 2003. Possuíam 23 imóveis alugados.

Sem que isso os desviasse de suas responsabilidades políticas - Cristina era senadora e colaborava com o presidente em suas tarefas de governo -, esse patrimônio foi aumentando, por meio da compra, recuperação e venda de imóveis, e sagazes investimentos financeiros.

INTERESSES

Além de alugar algumas de suas propriedades para serem usadas como hotéis, eles fundaram, em sociedade com um de seus filhos, uma consultoria para assessorar seus clientes em "economia, finanças, direito, ciências sociais, educação, administração e outras especialidades". Como uma empresa de serviços como essa não teria um grande sucesso? Quem não gostaria de ser assessorado em seus negócios por esse casal de presidentes tão informado e próspero?

As operações tiveram como cenário a bela localidade de Calafate, na Patagônia. Uma paisagem divina, ar puríssimo e glaciares - o mais belo deles batizado de Perito Moreno, que nos remete às histórias de Jack London.

Pois bem, graças à generosidade do prefeito local, Néstor Méndez, os Kirchners compraram, em 2005, um terreno de 60 mil metros quadrados, pagando US$ 0,98 por metro quadrado. No ano seguinte, o revenderam por US$ 71 o metro quadrado. Assim, financiaram o belo hotel El Calafate.

Nesse mesmo ano, adquiriram outros 129 mil metros quadrados (também a US$ 0,98 o metro quadrado), que alguns meses depois revenderam por até US$ 81 o metro quadrado.

Em artigo publicado pelo jornal espanhol El Pais, Alejandro Rebossio cita uma declaração de Aníbal Fernández, chefe de gabinete da presidência, respondendo aos maliciosos que achavam que havia alguma coisa errada nessas formidáveis operações empresariais. "Ninguém que exerce o poder está impedido de ter um patrimônio pessoal, afinal essa é a essência do capitalismo."

Concordo plenamente com isso, é claro, e estou certo de que a ineficiente máfia russa - ineficiente porque, diferentemente dos Kirchners, parece ter perdido a metade dos incontáveis bilhões que possuía por causa da crise - deveria adotar essa filosofia e enfrentar o mundo sem complexos de inferioridade, proclamando que, fazendo o que fazem, não roubam, não contrabandeiam, não pirateiam, mas simplesmente mantêm viva a essência metafísica do capitalismo.

O mérito dos Kirchners é ainda maior se levarmos em conta o fato de que, a julgar pelos discursos com que costumam hipnotizar os eleitores, eles não apreciam o capitalismo. Mais ainda, são seus ferozes adversários.

Eles abominam o capitalismo porque o consideram explorador, egoísta, abusivo e corruptor. Seus verdadeiros amigos são pessoas como o presidente venezuelano, Hugo Chávez, ou seu colega nicaraguense, Daniel Ortega, com quem se confraternizam e prognosticam a próxima derrota do imperialismo.

Seus corações são de esquerda (somente seus bolsos e os vestidos de Cristina são de direita) e, por isso, durante seus dois governos, além de difamar os capitalistas, eles os obrigaram a passar por maus pedaços, nacionalizando empresas, oprimindo-os com novos impostos, a tal ponto que a fuga de capitais da Argentina, só no primeiro semestre deste ano, foi de US$ 11,2 bilhões.

Essas cifras foram fornecidas pelo Banco Central da Argentina, que também informou que, desde o início da crise, cerca de US$ 43,2 bilhões da poupança do país escaparam para o exterior ou foram escondidos em cofres de segurança ou embaixo do colchão.

RUÍNA

Ou seja, enquanto a empresa Kirchner fazia negócios lucrativos, o capitalismo desmoronava na Argentina e ganhava espaço essa peculiar filosofia do casal, segundo a qual não existe contradição alguma em exercer e se aproveitar de um sistema odioso e, ao mesmo tempo, trabalhar dentro do governo para sua extinção.

Talvez, essa seja a explicação da trama: o benemérito casal não enriqueceu por ganância, tampouco para dar uma lição ideológica a seu povo. Sua conduta respondeu a um propósito intrincado, semelhante a essas deslumbrantes e sutis construções intelectuais dos contos do seu compatriota Jorge Luis Borges.

Um propósito altruísta e pedagógico para mostrar, ao vivo, tudo o que de sujo e pestilento tem o sistema capitalista, que permite que um casal de políticos fique milionário em um prazo curtíssimo, apesar dos rigores e inseguranças por que passa seu país, quando milhões de argentinos empobrecem, os agricultores veem-se ameaçados, as empresas vão à falência e aqueles que procuraram poupar alguma coisa veem evaporar suas economias.

Heróis e mártires do capitalismo. Que belo casal!

JOÃO UBALDO RIBEIRO

Ainda há muito terreno pela frente


O GLOBO - 16/08/09

Hesitei antes de falar sobre as proibições de fumar que se avolumam a cada dia, mobilizando, como no caso de São Paulo, esquadrões de funcionários públicos, em operações cinematográficas de repressão aos infratores. O sujeito que faz algum reparo às leis antifumo é imediatamente qualificado de vendido à facinorosa indústria do tabaco. Como, pelo menos no meu caso, nunca recebi um tostão de nenhum fabricante de cigarros ou plantador de tabaco, devo ser ainda pior, ou seja, inocente útil, análogo aos do tempo do comunismo, que nem ao menos botavam a mão no celebrado ouro de Moscou.

Mas também não vou defender o cigarro. Do ponto de vista da saúde, não há nada de bom que possa ser dito do cigarro, nem mesmo do efeito ansiolítico que tem sobre os viciados. Certamente é melhor que ele se receite com um especialista do que se envenenar fumando. É também inegável que para muitos cigarro cheira mal, empesteia o ambiente e causa diversos transtornos, alguns de grande monta, como incêndios ou explosões. E, evidentemente, o não-fumante tem o direito de exigir não ser vítima dos efeitos de algo que ele evita.

Mas as leis vão bem além disso. Protegem também o fumante que não quer ser protegido e que não tem intenção de largar o cigarro. Lembro de uma piada velha, cujo protagonista é um beberrão, mas podia ser um tabagista. O amigo do fumante diz que ele deve parar porque o fumo é uma morte lenta. Ao que o fumante, como vocês sabem, responde que tudo bem, ele não está com pressa. O fumante também sabe disso e a relação do homem com a morte e a saúde é complicada demais para ser legislada. A trajetória individual do ser pensante é rica demais, irracional demais, para ser presa a esse “dever-ser” incorporado pelo Estado.

A lógica por trás da proteção é perigosa porque leva a situações cujos limites ainda não podem ser traçados e são demasiadamente vagos. Já li que, em algum lugar do famoso Primeiro Mundo, serão proibidas peças em que os atores fumam e, se não me engano, já apareceu um problema em São Paulo, pois um personagem fuma e não se pode fumar em teatros. Se as peças suspeitas de induzir ao tabagismo são proibidas, por que não proibir logo romances ou matérias jornalísticas que de alguma forma apresentem o fumo sob uma luz neutra ou favorável?

A proteção também tem falhas, que podem ser sanadas por novas investidas desses engenheiros sociais. Não é possível que não se tenha notado que um setor da população particularmente vulnerável não foi contemplado pela legislação. As crianças de pais fumantes continuam a ser expostas aos efeitos da fumaça, o que pode vir a justificar que, no futuro, se apliquem sanções severas a quem tem filhos e fuma. Imagino que um dos mecanismos para isso seria interrogar as crianças todos os dias, nas escolas, sobre os pais fumantes. Os dedos-duros infantis receberiam, é claro, diversos reforços, talvez até nas notas. E acredito que, para os mais exaltados, tirar dos pais fumantes a guarda dos filhos não seria uma medida de todo incogitável.

Alega-se também, com base em afirmações estatísticas discutíveis, que os custos impostos pelos fumantes à saúde pública são muito grandes. Se a moda pegar, vamos com certeza testemunhar outros esforços nesse sentido, todos eles envolvendo o controle do comportamento individual. Além disso, a burrice e a falta de ter o que fazer às vezes dominam o cenário e não acho inteiramente descabido imaginar um legislador que pretenda, por exemplo, banir as motos da circulação em grandes cidades, por causa das despesas públicas com o socorro e assistência aos acidentados.

Para muitas pessoas, há um prazer mórbido em proibir, em uniformizar o comportamento alheio. Muita gente também não fica satisfeita apenas em ver a proibição estabelecida, como agora, porque o fato de existir alguém que fume, mesmo socado dentro de casa, irrita e exaspera, a ponto de dar vontade de prender o infeliz ou degredá-lo numa ilha deserta sem nada que ele possa fumar. É disso que tenho medo, porque me acostumei a um pouquinho de privacidade e vejo que ela vai gradualmente para a cucuia. Segundo me contam, por exemplo, a Microsoft está experimentando um programa para proteger trabalhadores, monitorando permanentemente dados como pressão arterial, batimentos cardíacos, respiração etc. Ótimos para prevenir, por exemplo, um infarto, mas também bons para pegar a hora em que um e-mail irritou seu destinatário ou um cochilo curto interrompeu o trabalho. Algumas empresas já testam regularmente seus empregados, para verificar se, mesmo em casa e sem incomodar ninguém, usam alguma substância nociva ou proibida. Não sei se monitoram quem fuma em casa, mas deve haver algumas que o façam e não duvido nada que algum empresário brasileiro não esteja sonhando com isso.

Bem, tem que goste. O mundo, com essas medidas, não fica tão inquietante, tão desarrumado, tão imprevisível. Vamos ser cada vez mais como as abelhas, as formigas ou os cupins, tudo organizado, tudo uniforme, nenhuma atividade inútil, todo mundo se comportando em função do bem comum, ninguém fazendo nada que não possa ser racionalmente justificado. Eu sei que haverá quem ache que nisso vai um certo exagero e eu concordo: exagero nas previsões moderadas, porque suspeito que a verdade vai ser muito pior e fico bastante grato por, se der sorte, não estar mais aqui para ver. Quanto aos anti-tabagistas militantes ou religiosos, que tenham sucesso nas próximas batalhas para varrer o feio vício da face da terra. Mais cedo ou mais tarde, todos comemorarão na área de não-fumantes do cemitério.

LUÍS FERNANDO VERÍSSIMO

Novo gênero

O GLOBO - 16/08/09

Nesse novo gênero literário que invadiu a imprensa brasileira de uns anos para cá, a transcrição de conversas telefônicas gravadas em investigações de corrupção, o que mais impressiona não é a quantidade de corruptos mas a sua falta de articulação verbal. Ninguém completa uma frase, os erros de concordância se sucedem e a lógica gramatical é constantemente assassinada sem dó. Fora o fato de que, muitas vezes, recorrem a códigos e linguagem cifrada para driblar o presumido grampo, o que só aumenta a confusão:
– Olha, mandei o embrulho, é, viu? As linguiças...
– As linguiças? (Risos)
– As linguiças pra vocês...
– Hein?
– (Risos nervosos) Repartirem aí.
– E o pacote é... Vem como? Alô.
– Vai pelo Magrão...
– O Magrão que você diz é o...
– É o Magrão.
– Ah. Sei (risos histéricos)
Não invejo os técnicos da Polícia Federal e do ministério público obrigados a decifrar diálogos e achar sentido nas falas truncadas, hesitações e barbaridades inconscientes que constituem um diálogo normal. Porque a verdade é que nós todos falamos assim. Basta ouvir a gravação de uma conversa nossa ao telefone para nos darmos conta: somos todos culpados, dependendo de como nos interpretarem. E os poucos que falam corretamente, colocam os pronomes onde devem e fazem sentido são os maiores suspeitos, pois obviamente ensaiaram sua fala para enganar os grampeadores.
Descontado tudo isso, o novo gênero não deixa de ter seu encanto. Conheci uma pessoa que folheava rapidamente um livro antes de comprá-lo ou não. Dizia que não interessava o autor ou o tema do livro, só interessava se tinha bastante diálogo. Nossos jornais e revistas andam cheios de diálogos realistas que são fascinantes mesmo quando ininteligíveis.
Como o Al Capone, que escapou da punição por todos os seus crimes e foi enquadrado por sonegação de impostos, alguns dos nossos corruptos que escaparem da punição por suas falcatruas (o que no Brasil não é difícil), poderiam ser enquadrados, com base nas suas conversas gravadas, por crimes contra o idioma.

ELIANE CANTANHÊDE

Bem-vindo ao time

FOLHA DE SÃO PAULO - 16/08/09

BRASÍLIA - Barack Obama está enrolando, mas, na verdade, não dá a menor bola para a América Latina. E está na hora de dar.
Venezuela, Bolívia e Equador recuperam a retórica antiamericanista sob o impulso (seja ele só pretexto ou não) da ampliação do acordo militar EUA-Colômbia.
Brasil, Argentina e Chile, que ocupam a posição de centro, de equilíbrio e moderação, já chamam Obama "para uma conversa", como disse Lula, num tom que qualquer brasileiro compreende bem.
E Colômbia e Peru, os tradicionais aliados de Washington, parecem cada vez mais ilhados nesse oceano de ataques, por uns, ou de queixas, por outros.
É nesse contexto que o presidente do México, Felipe Calderón, visita o Brasil, onde terá encontros com Lula hoje à noite e amanhã.
Megapaís, com uma rica história e mais de 110 milhões de habitantes, o México foi um dos países mais atingidos pela crise econômica, ou por crises variadas.
A economia tremeu, as remessas dos nacionais que vivem nos EUA minguaram, o narcotráfico chegou com tudo, a criminalidade urbana disparou. O país finalmente acordou para o óbvio: pendurar a economia e a energia política num único país é arriscado. E custa caro.
O México é, assim, um caso exemplar do que a América do Sul não quer ser. Mas, de outro lado, de que adianta o México sair da órbita de uma potência em crise para se aproximar de uma Unasul dividida, belicosa e, ainda por cima, pobre?
A resposta pode esperar. Por ora, Brasil e México querem ampliar as relações bilaterais, e nem será surpresa um acordo de livre comércio entre os dois. É do interesse estratégico dos governos, que defendem maior integração, e do interesse comercial de seus empresários, ávidos por aumentar os negócios.
O Brasil, sem inimigos e sem estridência, é a porta de entrada para o México voltar para de onde ele nunca deveria ter saído. À América Latina o que é da América Latina.

CLÁUDIO HUMBERTO

“Não vejo nenhum sentido em discutir a Marina perder o mandato”
ALOIZIO MERCADANTE (PT-SP), DEFENDENDO A SENADORA MARINA SILVA, QUE TROCARÁ O PT PELO PV

REBELO: MP EXORBITA E AGE COMO EXECUTIVO
O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que presidiu a Câmara, está decidido a meter a mão em um vespeiro: liderar um movimento no Congresso para promover o fim das intervenções – que considera abusivas – do Ministério Público em atribuições que são próprias do Poder Executivo, em todos os níveis, do municipal ao federal. Para Rebelo, a lei deve ser mais explícita na definição do papel do MP.
DESVIO DE FINALIDADE
Aldo Rebelo cita os “termos de ajustamento de conduta” como um dos casos em que o MP exorbita e usurpa funções dos gestores públicos.
PRIVILEGIADOS
Com a vida dedicada a combater privilégios, Aldo Rebelo não esperava que procuradores e promotores virassem categorias de privilegiados.
FORÇA À AGU
O ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo também defende fortalecer a Advocacia Geral da União (AGU), com uma nova lei orgânica.
DILMA PATINA
Pesquisas do Ibope no Mato Grosso do Sul e no Paraná indicam queda da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) na corrida presidencial.
NA CGU, AGORA, MENOS GELO E MAIS LUPA
Dias contados para o trabalho de enxugar gelo da Controladoria-Geral da União, auditando municípios com menos de dez mil habitantes, ralas parcerias com o governo federal, e muitos deles governados pela oposição. O Tribunal de Contas da União pediu uma mudança radical no foco da CGU: quer mais lupa nos órgãos do governo federal. Talvez – só talvez – chegue a hora da Petrobras, Caixa, Banco do Brasil, etc.
GRIPE BOA
O pânico criado pela gripe suína reduziu em 35% os pacotes turísticos internacionais, mas aumentou a venda de pacotes nacionais em 25%.
FIAT LUX
Justifica-se o interesse do governo brasileiro de aproximar-se do Peru. A Eletrobrás quer “exportar” para lá um projeto de eletrificação rural.
CARAS NOVAS
Entre as caras novas do PT-SP, como deputados federais, devem estar os ex-prefeitos José de Filippi (Diadema) e Newton Lima (São Carlos).
TROCA-TROCA
Dois pesos-pesados petistas, os deputados Antonio Palocci e José Eduardo Cardozo (SP) cogitam não disputar a reeleição. Porque, como esta coluna já antecipou, o primeiro assumiria o Ministério das Relações Institucionais e o segundo, o Ministério da Justiça.
É UM LIXO
O Tribunal de Contas de Pernambuco examina com atenção o contrato da prefeitura petista de Recife com a Vital Engenharia Ambiental, da Queiróz Galvão, por suposto superfaturamento na limpeza urbana.
É MARMELADA
Alguns parlamentares, da base aliada do governo e da oposição, acreditam que o Partido Verde “inflacionou” os números da senadora Marina Silva (AC) na pesquisa que a estimulou a deixar o PT.
ELEMENTAR, MEU CARO
É muito fácil explicar o suposto encontro da ministra Dilma com a ex-secretária da Receita Federal. A ministra pediu que sua assessora procurasse “ali na receita” como se faz um bolo de rolo.
JÁ VAI TARDE
A droga de ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) deixa o cargo só em março, para tentar se eleger alguma coisa, no Rio. Com os votos, claro, dos colegas da marcha de apologia ao consumo de maconha. O problema é os dementes se lembrarem da participação dele.
GREVE ALIADA
Parte da base aliada governista na Câmara (PMDB, PTB e PR) ameaça boicotar a votação de matérias de interesse do governo, em represália à retenção das verbas das emendas parlamentares.
CRENÇA SOLITÁRIA
A governadora Yeda Crusius avisou à cúpula tucana que não abre mão da candidatura à reeleição, em 2010. Com denúncias de corrupção pipocando de todos os lados, ela acha que tem chances. Só ela.
GEDDEL GANHA MUSCULATURA
Sentindo cheiro de naufrágio, o PR baiano, comandado pelo senador César Borges, está desembarcando do governo de Jaques Wagner. Deve apoiar a candidatura do ministro Geddel Vieira Lima, em 2010.
VOANDO, COMO SEMPRE
Lula mandou polir o Aerolula para visita oficial ao Peru, dia 11 de dezembro. Podia aproveitar e matar o bicho de véspera, para o Natal.

PODER SEM PUDOR
IRONIA FINA NÃO SE VÊ
Ao visitar Belo Horizonte, em 2003, o então ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) teve uma conversa secreta de vinte minutos com o governador mineiro, Aécio Neves, e outra, curiosa, com o presidente da Federação das Indústrias do Estado, Robson Braga de Andrade, que reivindicou a inclusão do oeste mineiro na área da Sudene. Ciente de que aquela região é tão próxima do Nordeste quanto o oeste paulista, Ciro resolveu partir para a ironia:
– Não seria melhor pedir a inclusão também na Sudam?
Andrade nem desconfiou da gozação: prometeu formalizar o pedido.