quarta-feira, abril 15, 2009

CLÓVIS ROSSI

O celular envenenado

FOLHA DE SÃO PAULO

MIAMI - Espertinho esse Barack Obama. Introduziu no pacote de bondades para Cuba um dardo envenenado na forma de celulares e computadores.
Explico para quem não acompanhou: na segunda-feira, o governo Obama eliminou as restrições para viagens de cubano-americanos a Cuba, assim como os limites para remessa de dinheiro para a ilha. Até aí, é o que todo o mundo sabia que iria acontecer.
Mas a suavização veio acompanhada da liberação para que as companhias norte-americanas de telecomunicações possam entrar no mercado cubano e, em conjunto com as autoridades locais, trabalhar para ampliar a rede de cobertura de celulares. Mais: os cubano-americanos poderão pagar as contas telefônicas de seus parentes residentes na ilha e também enviar-lhes celulares e computadores.
Qual é a esperteza? Simples: informação é poder. Quem tem o controle total da informação, como ocorre em países totalitários como Cuba, tem mais facilidade para controlar o poder e prolongar o controle por mais tempo.
Hoje, no entanto, celular também é informação -e a cada dia se torna ainda mais com o avanço espetacular das comunicações por esse aparelhinho que alguns já chamam de "extensão da mão". É claro que o governo cubano poderá vetar a entrada das companhias e bens norte-americanos e, por extensão, a ampliação da rede.
Mas é difícil justificar que se negue a uma sociedade os benefícios da modernidade.
Se, e quando, o pacote Obama para Cuba for plenamente implementado, o cubano médio receberá uma dose cavalar de informação, parte dela de viva voz pelo previsível aumento de visitantes vindos dos Estados Unidos (hoje são 130 mil por ano), parte via celulares/computadores/internet. Não vai ser nada fácil segurar o arcaísmo do regime.

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