Lá fora, todos correm,se assustam, arregaçam as mangas e enfrentam a recessão. Cortam juros, investem centenas de bilhões de dólares na produção, anunciam cortes de impostos para estimular a demanda e criar empregos. Estão com medo. Paulson fala em retração “dramática” da economia. Obama pede a Bush e ao Congresso, imediatamente, um pacote de estímulo fiscal, sinônimo de juro menor, para elevar a renda. Não há como esperar dois meses, até a posse. Pode ser tarde e o preço a pagar, inaceitável. O mundo lá fora se agita. Nunca se viu nada igual há mais de 60 anos.
NÓS NÃO TEMOS PRESSA
Aqui, reina a lentidão dos atrasados que não têm pressa. Estamos bem, diz o ministro da Fazenda, nos preparamos. Sim, mas para esta crise com proporções que ninguém previu?
“A crise é deles, não nossa, repete Lula, sempre que aparece um microfone à sua frente. “Eles, os ricos, é que são os culpados!” Sim, mas e daí? O que muda com o esse diagnóstico de estranha lucidez? Nós, o países emergentes, vamos sair mais fortes, proclama o presidente. Lula confunde “menos fracos” com “mais fortes”. E a diferença é grande. Vamos sair mais fracos, sim, e pouco ajuda saber que seja menos que eles. É uma espécie de “vamos que vamos nós que aqui nós seguramos.”
O governo continua iludido com os resultados de outubro, projetando-os para novembro e dezembro, como se nada tivesse mudado. Acho que não lêem as agências noticiosas, os jornais, desligaram a CNN, que só dá notícia ruim.
Ele esquece que a crise de crédito leva algum tempo para chegar à economia real. Não aquela do mercado financeiro, virtual, onde o dinheiro entra e sai sem ninguém o ver, mas a que investe em produção, cria empregos, demanda, atende ao mercado interno e exporta. Essa somente agora começa - sim, apenas começa - a sentir o choque.
As empresas já adiam investimentos e o consumidor, cauteloso, prefere poupar. Segue a onda mundial, onde, agora, se compra menos e guarda mais, um processo prudente, sim, mas, se generalizado, é o caminho mais curto para a recessão.
A sensação de insegurança precisa ser superada e isso não se faz só com palavras. Elas pretendem acalmar, mas só criam incertezas. A sociedade quer fatos e os poucos que vieram eram importantes, mas insuficientes porque o impacto externo é maior do que se previa.
VEJAM O QUE ELES FAZEM
As manchetes das agências e dos jornais americanos e ingleses de ontem mostram um cenário cada vez mais sombrio: “China faz o maior corte de juros em 10 anos e anuncia mais investimentos”; “União Européia propõe US$ 259 bilhões para estimular a demanda”; “Fed acrescenta US$ 800 bilhões para estimular o crédito”; “Economia americana recuou 0,5% e não 0,3% no trimestre”.
E vai aí por adiante, no Wall Street Journal, no Financial Times, na Reuters, na Economist, na Bloomberg. É o reflexo de uma crise que assusta porque ninguém conseguiu avaliar, ainda, a dimensão.
Quanto vai custar? US$ 3 trilhões, US$ 5 trilhões? Ninguém sabe. E muito menos nós. É certo apenas que o sistema financeiro ainda não está equilibrado. Vejam o City pedindo socorro e vendendo um pedaço para o governo.
Agora, é salvar o sistema e evitar que a economia também afunde. Estão todos convencidos de que a crise é séria, muito séria. Mas nós, não. Financiamos o sistema financeiro e pronto, está tudo resolvido.
E A REUNIÃO FOI SÓ ISSO
Sim, apenas mais uma reunião ministerial. Dizem até, em Brasília, que será a última dos 38 ministros neste ano; afinal, a crise já passou. O presidente mandou os ministros investirem o que resta de suas verbas ociosas.
Ora, senhores, estamos em dezembro! Já devia ter sido tudo investido! Falta apenas um mês para terminar o ano! Lula, Mantega e a sempre otimista Dilma afirmaram, depois dessa reunião de esperanças perdidas, que “o PAC, por antecipação, é o programa anticíclico da crise, veio antes dela.”
PAC É POUCO E PAROU
Só que até agora o Plano de Ação Acelerada parou. Está provado que os recursos não foram totalmente aplicados. Querem ver? Do orçamento de R$ 17,9 bilhões do plano, foram empenhados R$ 10,8 bilhões, ou seja, 60,2%. Ora, não é tão ruim, podem dizer. É, sim, porque a maior parte dos desembolsos, de R$ 6,8 bilhões, corresponde a “restos a pagar”, isto é, dinheiro empenhado em 2007 (sim, do ano passado) e pagos só neste ano. E é com com pouco mais de R$ 5 bilhões do PAC anticíclico que vamos enfrentar a crise que assusta lá fora e ajudar a evitar a recessão, aquela ameaça que era “deles”.
MAS HÁ MAIS DINHEIRO!
Sei que o governo federal havia destinado, ao todo, para este ano, investimentos da ordem de RS$ 42,3 bilhões; o PAC era apenas uma parte. Mas, aí, o cenário é o mesmo.Vejam: desse total, até o dia 7, só haviam sido empenhados R$ 20,7 bilhões, um pouco menos da metade e, atentem, desembolsado,liberado, investido, pago - escolham o verbo que quiserem que dá no mesmo - R$4,75 bilhões, ou seja, 11,24%.
Sei também que atrasar o PAC em dias calmos é até uma rotina - afinal, há tantos papéis a assinar! -, mas depender dele para sustentar o crescimento e evitar a recessão é um risco que não podemos aceitar.
PARA, EU QUERO DESCER!
Senhores de Brasília, o mundo está inquieto, assustado, corre celeremente para sair da crise, salvar a economia. Está provado que a recessão se alastra rapidamente e já nos ameaça. Podemos impedi-la.O mundo tem medo, está com pressa. E não podemos pedir para ele parar que queremos descer.
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