segunda-feira, outubro 23, 2017

Reação no investimento - EDITORIAL O ESTADÃO

ESTADÃO - 23/10

Sem justificar, por enquanto, o lançamento de rojões, sinais positivos se acumulam pouco a pouco


Crucial para a expansão econômica e para o aumento do poder de competição do Brasil, o investimento produtivo continua recuperando-se lentamente, depois de anos de queda. Para aumentar seu potencial de crescimento e tornar a produção mais eficiente o País precisa de muito mais capital aplicado em máquinas, equipamentos e construções. Neste segmento, têm especial importância as obras de ampliação e de modernização da infraestrutura – itens como rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e instalações de geração e distribuição de energia. Sem justificar, por enquanto, o lançamento de rojões, sinais positivos se acumulam pouco a pouco. Último exemplo: em agosto, o total investido foi 0,8% maior que o de igual mês do ano passado, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O mesmo tipo de comparação havia mostrado recuo nos 14 meses anteriores.

Também segundo a nota do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, nos 42 meses a partir de março de 2014 esse indicador só foi positivo em junho de 2016, com alta de 0,1%, e em agosto deste ano. Portanto, desde antes da recessão e ainda por algum tempo depois do início da reativação dos negócios, as comparações interanuais quase invariavelmente apontaram recuo do investimento, medido como formação bruta de capital fixo.

Em outras palavras: mesmo antes de afundar na recessão a economia brasileira já havia perdido boa parte de sua capacidade produtiva. Já estava condenada a um baixo ritmo de crescimento e a perder mais posições na corrida do crescimento. Quando se tornou evidente a pior crise recessiva registrada nas contas nacionais, o desempenho do Brasil já era bem inferior ao de vários países sul-americanos. A desvantagem diante da China e de outras economias dinâmicas da Ásia já era notória havia muito tempo.

Mas a modesta melhora apontada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – e já indicada parcialmente por outras fontes – tem-se concentrado nos bens de capital. As variações positivas têm sido observadas no consumo aparente de máquinas e equipamentos. Para se obter esse indicador se somam a produção interna e a importação de bens de capital e desconta-se a exportação. O valor encontrado para o mês de agosto foi 1,8% maior que o de julho deste ano e 11% superior ao de agosto de 2016. A construção diminuiu 2,3% em relação ao nível de julho e 4,5% na comparação com o valor de agosto do ano passado.

A fabricação de bens de capital tem sido, surpreendentemente, um dos destaques da produção industrial. O segmento de bens de capital produziu em agosto 0,5% mais que em julho e 9,1% mais que um ano antes. A produção cresceu 3,1% em 12 meses e o total produzido no ano foi 4,4% maior que o de janeiro a agosto do ano passado. Mas essa recuperação ocorre depois de várias quedas. A fabricação de bens de capital diminuiu 9,3% em 2014, 25,3% em 2015 e 10,6% em 2016. O aumento de 4,4% nos 12 meses até agosto está longe de compensar as perdas acumuladas. Mas é mais um sinal animador.

Mesmo antes dessa queda o investimento brasileiro era inferior ao de países emergentes mais dinâmicos, incluídos alguns sul-americanos. A meta oficial dos governos tem sido, há muito tempo, uma formação bruta de capital equivalente a uns 24% ou 25% do Produto Interno Bruto (PIB). Desde o ano 2000, essa proporção, nos melhores momentos, ficou pouco acima de 21%. Na maior parte do tempo esteve abaixo de 20%. Nos quatro trimestres até junho deste ano ficou em 15,5%, depois de uma longa queda. Taxas iguais ou superiores a 24% têm sido encontradas em alguns países latino-americanos, mas emergentes da Ásia exibem taxas maiores.

Não há alternativa. Consumo privado e custeio público podem puxar o crescimento a curto prazo, quando há muita capacidade ociosa, mas crescimento sustentável só é possível com o aumento do estoque de máquinas, equipamentos e construções de vários tipos.

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