O mundo em rede mostra sua cara: uma epidemia de histeria. Não posso deixar de achar engraçado grupos culturais à esquerda ficarem histéricos com a também histeria de grupos "defensores" dos bons costumes, provavelmente mais à direita, acerca de algumas manifestações artísticas nos últimos tempos no Brasil.
Ouvir alguém à esquerda falar em "defesa da liberdade de expressão" na arte só pode ser má fé ou falha de memória depois da invenção do politicamente correto. O que há de "novo" nesse debate histérico acerca de nudez, "Jesus transexual", e "Queermuseu" é o fato de que, agora, quem se levanta contra a liberdade de expressão são grupos à direita do espectro político.
A direita aprendeu a usar o Ministério Público pra suas manifestações de autoritarismo. A esquerda tem espancado a liberdade de expressão há anos com suas intervenções em nome de um mundo melhor. Não tem nenhuma moral pra reclamar da "nova censura" praticada pela direita, depois dela, esquerda, ter exercido tanto sua "velha censura" politicamente correta.
Os eventos iluminam muitos aspectos, para além do que dominou o debate na maior parte do tempo: a censura moralista x a arte "libertária". Para quem olhar pra nossa época com as lentes do ridículo, vivemos num mundo rico em fenômenos antropológicos.
Com a história do pelado do MAM, logo passamos a debater o comportamento dos pais: seria a mãe a "culpada" da história? Caberia a suspensão por tempo limitado do seu poder familiar? Entregaríamos a criança ao "lindo" Estado? O que é esse "lindo" Estado? Burocratas teóricos babando pra exercer seu poder moral sobre os cidadãos indefesos.
Com relação aos pais, suspeito que nunca caminharam sobre a Terra adultos menos capazes de lidar com crianças. Ao mesmo tempo em que educam seus filhos para um mundo irreal em que nunca haveria guerras, ódios (bastando aprender a abraçar árvores nas escolas e a ver no "outro" sempre gente legal disposta ao "diálogo"), entram em pânico com tudo, filmando cada centímetro de ar respirado pelo filho.
Projetam neste infeliz a pessoa evoluída que eles, os pais, acreditam que são no fundo das suas almas. Consultam especialistas e a internet pra saber o que significa cada ruído emitido pela criança.
Fôssemos nós, sapiens contemporâneos, no alto paleolítico, os neandertais teriam levado a melhor.
Não é à toa que grande parte dos mais jovens dizem não querer ter filhos. Estamos, passo a passo, assumindo nossa incapacidade para cuidar dos mais jovens, apesar da histeria toda e da falação sobre crianças.
Aliás, essa falação é indício já da nossa decisão silenciosa: se as crianças nos cansam tanto, melhor não tê-las.
Outro detalhe "colateral" desses fatos é o horror que causa a manifestação do "povo" sempre que aparece. Os inteligentinhos, em seu mundinho feito de pessoas bacanas como eles, detestam o moralismo barato do povo comum.
A maioria das pessoas não entendem a razão de um cara adulto ficar pelado em público. E, quando alguém vai tentar explicar, se enrola todo em conceitos superabstratos que se afastam do português dos mortais.
Aliás, ficar pelado em público é coisa ultrapassada mesmo. Só choca quem quer fazer tipo. Erotismo não é, mesmo. Erotismo tem mais a ver com o corpo coberto do que nu. Os idiotas ocidentais se esqueceram disso.
Toda vez que "o povo" fala, ficamos chocados com sua moral "tacanha". O povo acha que criança não deve ver gente pelada, que Jesus é homem mesmo, e coisas afins.
Sobre o "Jesus transexual", teria uma coisinha a acrescentar. Lembro-me que, na época do massacre na Charlie Hebdo, muitos inteligentinhos, que agora ficaram horrorizados com os cristãos que gritaram contra seu herói ser representado por um transexual, afirmarem que devíamos respeitar os sentimentos dos muçulmanos.
Pois então. Que tal montarem uma peça com um Maomé transexual? Teriam eles coragem de fazer isso? Como reagiria a comunidade islâmica brasileira e a mundial?
Minha aposta é que não teriam coragem. O traço marcante do inteligentinho é a "coragem de salão".
Perfeita a colocação, fica o desafio aos globaletes defensores da liberdade de expressão, uma peça com essa temática E sem a Lei Rouanet....
ResponderExcluirA arte representa e sempre representou aspectos de um povo em particular. Não há comédia ou drama grego de aspectos relacionados à cultura indiana; assim como não há registro de arte persa de qualquer elemento de povos que não sejam dos próprios persas.
ResponderExcluirA grande verdade é; que a arte analisa, critica, expõe e reinterpreta elementos de uma cultura para a mesma cultura.
No Brasil há algo chamado bancada evangélica, é aqui que se chuta imagem de Santa católica e se hostiliza filho de umbanfista nas escolas por parte de pastor neopetencostal. É aqui que se justificam ódio, racismo e homofobia como sendo algo atribuído
à mandamento divino do Deus que é dito brasileiro. Por tanto, é daqui que parte e é direcionada essa crítica artística.
Lembro que não faz muito tempo na França, surgiram charges de Maomé.
Isso se deu pelo fato de a França hoje, como à época, verem os ideais de igualdade, fraternidade e liberdade indo de encontro com mulheres submissas, que por lavagem cerebral, são condicionadas a esconderam-se dos cabelos, até a planta dos pés.
O islã não é criticado no Brasil por que não é um problema nem pro Brasil nem pros brasileiros; como é na Europa e Estados Unidos, só pra citar algures de onde o fundamentalismo islâmico é criticado.
Boa análise.
ResponderExcluir
ResponderExcluirÉ UMA GRANDE VERDADE, PORQUE NÃO PRATICAM ESTA "ARTE DO TIPO QUEERMUSEU", COM AS FIGURAS DE MAOMÉ E O DEUS DOS ISLÂMICOS "ALAH", SÓ PARA VER A REAÇÃO DO POVO ISLÂMICO NÃO SÓ NO BRASIL, MAS NO MUNDO AFORA !!!