quarta-feira, janeiro 27, 2016

Saldo revelador - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 27/01
Ninguém deve se iludir. As contas externas do país fecharam 2015 menos ruins do que as de 2014, mas não há o que comemorar. Pelo contrário, a melhora se resume à redução do deficit. Apesar das razões que levaram nossas contas com o resto do mundo a aparentar avanço, elas são, na verdade, mais uma coleção de reflexos do naufrágio no qual a economia brasileira se debate.
Conforme o Banco Central (BC) divulgou ontem, o rombo nas contas externas em 2015 somou US$ 58,942 bilhões, o mais baixo em seis anos. Um alívio: foi possível cobrir contabilmente o deficit com a entrada de Investimentos Diretos no País (IDP), de US$ 75 bilhões - antes conhecido como Investimento Direto Estrangeiro (IDE), que, em nova metodologia, passou a considerar o intercâmbio de recursos entre empresas brasileiras e suas filiais no exterior. Não quer dizer que o IDP tenha sido grande sucesso, já que foi o menor valor desde 2013.
É fato que o deficit veio menor do que esperava o próprio BC, que trabalhava com estimativa de US$ 62 bilhões para 2015. Também é verdade que o rombo deixou longe o recorde registrado em 2014, de US$ 104 bilhões. Mas continua muito acima do que especialistas consideram tecnicamente saudável. Como proporção do Produto Interno do Bruto (PIB) do país, o deficit em contas externas do Brasil em 2015 correspondeu a 3,32%, mas não deveria ultrapassar os 2,5%.
Um dos fatores que contribuíram para reduzir o tamanho do deficit externo do ano passado foi o saldo da balança comercial. Ou seja, a soma de tudo que o país exportou menos o quanto pagou pelo que importou ficou positiva em US$ 17,670 bilhões. Também aí sobram motivos para governo e agentes econômicos se preocuparem. É que a balança comercial melhorou por motivos tortos. Não houve aumento das exportações, como seria desejável.
Em vez disso, as vendas externas do país tiveram importante queda de 15,2% em relação a 2014. O saldo positivo foi possível porque as importações brasileiras, antes vigorosas para atender à expansão da produção e ao consumo das pessoas, despencaram, registrando queda ainda maior que a das exportações: recuo de 25,3% ante 2014, pelos critérios do BC, que incluem operações como a compra de energia de Itaipu.
A queda expressiva nas importações não pode ser atribuída apenas à desvalorização do real ante o dólar. Estão em queda preocupante as importações de insumos e de equipamentos para a expansão e modernização da produção, especialmente por parte da indústria. Além disso, revela o recuo na aquisição de bens de consumo e gastos com viagens ao exterior em razão da perda de emprego e renda da população.
Não menos preocupante é a constatação de que, apesar do câmbio favorável, as exportações não ganharam fôlego suficiente para ajudar o país a sair da recessão. Portanto, em vez de festa, o que as contas externas sugerem é que o Brasil não pode mais esperar para reagir com reformas que reduzam a burocracia e o custo de produzir no país com mais competitividade. O Brasil precisa se organizar para ocupar o lugar que merece na economia mundial. Se não o fizermos, a concorrência o fará.

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