terça-feira, janeiro 05, 2016

Foi apenas um sonho... - RODRIGO CONSTANTINO

O GLOBO - 05/01

Mais empregos foram gerados, mais impostos foram recolhidos, pois mais lucro havia sido produzido



O ano de 2016 começou muito bem, após o impeachment da presidente Dilma. O novo presidente Michel Temer fechou um acordo com o PSDB, e Arminio Fraga assumiu a Fazenda, com Gustavo Franco no comando do Banco Central. Na mesma linha da Argentina de Macri, o Brasil começou a desfazer algumas das imensas trapalhadas socialistas, colocando o país novamente na rota do crescimento.

Bastou o choque de credibilidade perante os investidores e empresários para que os indicadores começassem a melhorar. Empresas retiraram os projetos de investimento da gaveta, sacudiram a poeira e foram ao trabalho, apesar de o ambiente ainda ser muito hostil aos negócios no Brasil. Estavam apostando no futuro, nas mudanças anunciadas, na qualidade dos novos técnicos.

O Ibovespa, após perder mais de dois terços de valor real na era Dilma, recuperou-se com uma alta de 70% no ano. Eram os ativos nacionais se valorizando, permitindo maior captação de recursos para investimentos produtivos. A inflação regressou para o centro da meta, de 4,5% ao ano. A atividade econômica, que caíra quase 4% em 2015 e estava prevista para cair mais uns 3% em 2016, caso Dilma continuasse no poder, acabou zerada no ano, com o terreno pronto para um crescimento razoável já em 2017.

Longe do ideal liberal e agindo mais por necessidade do que convicção, como foi no Plano Real, a nova coalização de centro partiu para reformas importantes, como a previdenciária, e retomou o plano de privatizações. A mais importante foi, sem dúvida, a Petrobras, o que acabou com a farra do “petrolão” e salvou a empresa de uma iminente falência.

O resultado foi incrível, como tinha sido antes na Vale, na Embraer, na Telebras. Mais empregos foram gerados, mais impostos foram recolhidos, pois mais lucro havia sido produzido por sócios interessados na sobrevivência da empresa sem muletas estatais. Os trabalhadores eficientes foram recompensados, e os que viviam apenas encostados na era estatal foram demitidos. Meritocracia era o novo lema. O Brasil deixaria de ter a gasolina mais cara do mundo em poucos anos.

A Operação Lava-Jato seguiu seu curso, e houve uma grande festa nacional quando o ex-presidente Lula foi preso. Milhões de pessoas saíram pacificamente às ruas para celebrar, famílias lotavam as principais avenidas, e o “exército de Stédile” nada pôde fazer. Os militantes da CUT, da UNE e do MST, sem mortadela e sem tetas estatais para mamar, abandonaram o PT. O clima era de união, não de intolerância, como aquele fomentado pela esquerda radical.

A derrota do PT tinha reacendido a chama da esperança nos brasileiros. O governo tampão não era perfeito, estava longe do ideal, de algo realmente novo. Mas era infinitamente melhor do que o lulopetismo, o que não é difícil. Não havia aquele DNA totalitário, a incompetência somada à arrogância, o fator ideológico dominando cada decisão. O Mercosul finalmente expulsou a Venezuela por não atender à cláusula democrática, e o foco passou a ser em acordos bilaterais de livre comércio.

A entrada da Fox News Brasil mexeu com a imprensa, pois os liberais e conservadores tinham mais voz agora, e o viés de esquerda da grande mídia ficava mais evidente para o público, antes refém de uma hegemonia “progressista”. Chico Buarque, defensor da ditadura cubana e do PT, descobriu não ser uma unanimidade, e vários pensadores cantaram “Cálice” para o sambista, terminando com um “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. A festa era contagiante e bem-humorada, sem espaço para o típico rancor socialista.

Ia tudo muito bem, quando uma dor de cabeça bateu forte. Ressaca? Talvez, mas o consumo de álcool não fora tão grande assim. Levei automaticamente a mão à cabeça, contraindo os músculos faciais. E abri os olhos, dando de cara com a claridade. Era dia 1º, e horror dos horrores: Dilma ainda era a presidente do Brasil. O duro choque de realidade chegou a machucar, a doer.

A economia ainda estava nas mãos da turma inflacionista da Unicamp, e Nelson Barbosa era o ministro. A destruição do Brasil continuaria em alta velocidade. A segregação do povo em “nós contra eles” continuaria com força total. A hipocrisia dos artistas e “intelectuais” que pregam mais “tolerância” enquanto aplaudem as ditaduras venezuelana e cubana, que perseguem seus opositores, continuaria impune.

Pobre país, ainda tomado por essa gente inescrupulosa, incompetente e corrupta. Acordar do sonho foi o verdadeiro pesadelo. Caberá a nós, brasileiros decentes, lutar para transformar o sonho em realidade...

Rodrigo Constantino é economista e presidente do Instituto Liberal

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