segunda-feira, outubro 19, 2015

Pedala, Lulinha - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Enquanto essa imprensa golpista fica tramando o impeachment de Dilma Rousseff, Lula da Silva resolveu explicar o que aconteceu, para acabar com a conspiração: as pedaladas fiscais foram necessárias para que o governo pudesse honrar o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Ou seja: todo esse barulho em torno do TCU, toda essa grita por causa do rombo no Orçamento, toda essa crise político-administrativa não passam de espuma. O único fato real é que o governo popular, mais uma vez, arranjou uma maneira de ajudar os pobres. Aliás, já são quase 13 anos ajudando os pobres (a ficar mais pobres), por maneiras que até Deus duvida.

No dia em que os pobres entenderem quanto seu sofrimento foi usado por Lula para ficar no poder, o ex-presidente precisará se mudar para um triplex no Irã. O PT prostituiu o uso do dinheiro público no Brasil, arrombando as metas fiscais e de inflação, tudo embalado numa meticulosa maquiagem contábil, para poder financiar seu banquete fisiológico - do qual o mensalão e o petrolão são os pratos mais visíveis.Lula e os companheiros jogaram o Brasil numa recessão genuinamente nacional, genuinamente petista, empobrecendo democraticamente o país inteiro. Se a moda pega, assaltante apanhado com bolsa roubada vai dizer que é bolsa família.

O delator Fernando Baiano, operador do esquema do petrolão preso na Lava.Jato, afirmou à Justiça que deu R$ 2 milhões a Fabio Luis da Silva, o Lulinha. As investigações esclarecerão os detalhes do maior caso de corrupção da República, mas já está evidente que 'seu dinheiro, caro leitor, foi usado sem parcimônia para irrigar o partido governante e os heróis do povo que o integram. Eles saber disso e estão dobrando a aposta: Dilma acusou os "moralistas sem moral" de tramar sua queda. É preciso sangue-frio para falar em moral no centro de tamanha rapinagem. Ou melhor, sangue de barata - e isso não lhes falta. Depois de depenar um país com -a ajuda de cúmplices que estão presos, causando à sua nação a perda dó selo de confiança perante o mundo, você só consegue olhar nos olhos de um filho se tiver sangue de barata. E moral de barata.

Dilma Rousseff tem de sofrer o impeachment porque é a representante legal de um projeto de assalto ao Estado. Está mais do que evidente que o PT, partido que desmoralizou a bondade, instalou-se no poder para viver dele - rasgando o contrato da democracia e do princípio da representação política. Nada mais fará no Palácio diferente do que já fez, não há como. O que mais é preciso ser demonstrado? A maior empresa do país jogada na lona para, entre outras causas nobres, garantir a reeleição da presidente - como apontam todas as evidências da Lava Jato. O que mais precisa aparecer! Como disse Fernando Gabeira, o Brasil parece ter desacreditado até a imagem popular do batom na cueca: a mancha sempre pode ter vindo da lavanderia. E eles têm diversos especialistas em lavagem para assumir a culpa. São os laranjas de batom. Na cueca, só dólar.

Joaquim Barbosa deu seu pitaco. Disse que o impeachment "é um mecanismo brutal que não pode ser usado de qualquer maneira". Prezado Barbosa: o impeachment não é um mecanismo brutal, é um mecanismo legal. E ninguém com juízo quer fazer nada de qualquer maneira, como juízes que atiram adjetivos ao vento. A única vergonha nacional até o momento é a barreira venezuelana no STF,seu velho conhecido, impedindo a investigação de uma presidente que em qualquer país 100% democrático já estaria sendo investigada.

E a barreira chavista conta com a operativa patrulha dos inocentes úteis (nem sempre inocentes, mas sempre úteis), que alugam suas santas reputações à mulher sapiens para renovar seus crachás de bondade progressista. Esse estranho oba-oba petista é cada vez mais envergonhado, naturalmente, e achou uma saída genial: eleger Eduardo Cunha o inimigo público número um. Cunha é hoje praticamente o único vilão nacional, porque quem rouba com estrelinha no peito é herói.

O pequeno detalhe dessa história é que Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, tem a chave do impeachment nas mãos. E o PT desperta seus instintos mais primitivos. Enquanto o gigante dorme, alguém tem de trabalhar.

Homens impermeáveis - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 19/10

Lembro-me que, nos idos dos anos 1970, na escola jesuíta em que estudava, quatro meninas chegaram à sala. Foram as primeiras na, até então, escola de padres para meninos. Os padres (que na época eram mais sábios, porque menos "progressistas") decidiram por colocar garotas "aos poucos" na escola.

O colégio era um palco de brigas e competições. A monotonia da vida escolar era quebrada apenas quando algum de nós começava a brigar para valer e, às vezes, uma minibatalha campal se instalava no meio do campo de futebol. Esse ritual tinha lá sua graça e diversão.

Quando as meninas surgiram nas salas de aula, tudo mudou. A própria hierarquia entre os meninos sofreu uma alteração gigantesca. Se antes "mandava" quem batia mais e era mais dado às práticas do que hoje se chama "bullying", a partir do momento que as lindinhas entraram na sala, quem "mandava" passaram a ser aqueles por quem as meninas demonstravam interesse.

Hoje, suspeito que naquele momento repetíamos algum tipo de ritual pré-histórico em que a presença feminina implicava alguma forma sofisticada de poder que passava pelo desejo que tínhamos de "possuí-las". Essa forma de organização de poder num bando devia ser ancestral, pela força e delicadeza com a qual se fazia sentir. Quanto mais ancestral é o poder, maior sua sutileza. Deus é um discreto.

Imagino que, hoje em dia, chatinhas e chatinhos chamariam isso tudo de "machismo". Mas essas chatinhas e esses chatinhos não entendem nada de mulher. Eu chamaria isso de permeabilidade ao poder feminino.

Semanas atrás, nesta coluna, fiz referência a que, talvez, um dia, chegaríamos à situação em que os homens ficariam impermeáveis às mulheres. Recebi alguns e-mails de leitoras que afirmavam que isso já está acontecendo, que muitos homens já são impermeáveis às mulheres. Tanto eu quanto minhas leitoras não nos referíamos a gays, que são, por natureza, impermeáveis e inofensivos às mulheres.

E o que seria um homem impermeável a uma mulher? Um cara que sabe (ou acha que sabe, como é comum neste mundo contemporâneo de modinhas de comportamento) que não precisa de uma mulher para "ser feliz".

Ele é autônomo em seu dia a dia, sabe cozinhar se for preciso (melhor do que as meninas, que confundem ignorância na cozinha com liberdade), tem uma casa na medida de suas necessidades, sabe administrar funcionárias de limpeza, sabe que compra sexo fácil com garotas especializadas, inclusive em "ser namoradas light", e que, quando quer uma mulher "amadora", tem sempre alguma emancipada por perto –para quem nem precisa pagar o jantar, porque ela se orgulha em fazê-lo.

Aliás, isso de "gastar dinheiro com mulher" é uma coisa que esses homens emancipados já resolveram. Só homens antigos imaginam que "devem" algo a uma mulher. Pelo contrário, o mercado estando difícil como está, talvez elas é que devam demonstrar felicidade pagando coisas para caras generosos.

O homem emancipado é fruto da queima dos sutiãs. Não se sente obrigado a satisfazer a mulher em nenhum nível que seja. Ainda vamos perceber que todo discurso emancipatório se alimenta da libertação de qualquer vínculo. E do ressentimento com a vida.

O emancipado é um ingrato. É um solitário com grana para gastar e jamais um sujeito que trabalha demais para satisfazer os desejos de alguma mulher, a começar pelos que ela sente de ser mãe.

Num universo como esse, quatro meninas numa sala de aula mal seriam percebidas, porque o que estava em jogo ali era o convívio próximo. A intimidade da conversa sobre a prova de matemática. O medo partilhado do professor terrível. Além, claro, da graça com a qual elas sentavam nas cadeiras, antes ocupadas o tempo todo por jovens chimpanzés.

Toda a ópera da emancipação passa pela destruição da intimidade. A mulher emancipada é uma invisível. O homem emancipado não quer se libertar do que as mulheres carregam entre as pernas, quer se libertar do que as mulheres carregam dentro de si. E isso, só se "vê" numa intimidade compartilhada, jamais num mundo impermeável às neuroses do amor.


O medo que nos tribaliza - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

Gazeta do Povo-PR - 19/10

Entregue à sorte, o homem comum arma-se, protege-se, renuncia ao seu papel no combate à violência

Daqui a algumas décadas – quando esses inícios do século 21 estiverem em definitivo no passado – é provável que nos lembremos deles como um “medievo de medo”. E sobre o medo diremos que corrói as relações sociais – e, com elas, todo o resto, qual cupim na madeira. Ainda não temos a dimensão exata do estrago da chamada sociedade apavorada, mas sabemos o bastante: cidades acuadas pela violência e por seus efeitos são cidades em que o conhecimento não é dividido, porque a convivência foi afetada na jugular. Ela decresce. Um punhado de pessoas que não têm nada em comum – fora dividir o mesmo território – outra coisa não é senão a negação do processo civilizatório.
De modo que o medo se tornou o maior dos nossos problemas. Os americanos de outras datas se deram conta disso. É o país do mundo em que mais se estuda a felicidade – e seus efeitos, inclusive, sobre a economia. E também onde mais investiga os efeitos nefastos do medo, e o atentado diário que esse fenômeno faz à geração de riquezas, com tudo o que demanda dessa palavra. Pensemos em estudos como o de Barry Glassner, autor de Cultura do medo.
É curioso o que acontece no Brasil. As principais cidades estão numa zona endêmica de violência, caso lhe sejam aplicados os critérios internacionais. Nossos dados são superlativos, mas a violência e seu filhote, o medo, estão longe de mobilizar a sociedade. O número de pesquisas é insuficiente. A sociedade organizada tem um discurso a respeito, mas tropeça na hora de agir. A explicação é evidente – lamentamos, protestamos, mas continuamos achando, impotentes, que se trata apenas de uma incumbência do Estado. Muitos diriam que não poderia ser diferente. A violência alcançou tamanho grau que o homem comum só consegue responder com silêncio. É o que qualquer um faz quando se sente impotente. Mas já são horas de romper esse círculo do vício e provocar uma cultura de sociedade da justiça e da paz, como se dizia. Ou reagimos com uma agenda positiva, ou vamos nos empobrecer ao extremo, fazendo apostas torpes na sociedade vigiada. Cabe à sociedade organizada dizer “alto lá”.
A divulgação do 9.º Anuário Brasileiro de Segurança Pública – produzido com a base de dados dos governos estaduais – nos dá elementos para iniciar a conversa. Em um ano, aumentamos os índices de violência em 5%. Em vidas, é bastante. O número de mortos de 2014 foi de 58.559 pessoas – sendo as causas homicídios dolosos, lesões corporais seguidas de morte, latrocínio e ações policiais. O cálculo beira o surreal – uma morte a cada nove minutos e índices alarmantes de 28 mortes a cada 100 mil habitantes.
Vale fazer um recorte na estatística de latrocínio, mesmo não sendo a mais alarmante. Representa menos de 5% das mortes – um total de 2.061 vítimas, seguida de 773 feridos. O efeito de um latrocínio é cruel sobre o imaginário. A violência da rua passa à porta da sala. Na clássica oposição entre casa e rua explorada por Roberto DaMatta, enquanto a “rua” cabe ao Estado, a “casa” está sob nossa custódia. É ali que, nas nossas mais sinceras crenças, fazemos a nossa parte. Esse esforço é desprezado. Violar o espaço doméstico é praticamente permitido. Diz-se por aí que não há solução para esse tipo de infração e ao que acarreta. A dizer: cada furto e roubo é a possibilidade do homicídio e da lesão corporal. Ao saber que esse temor é desprezado pelo poder público, resta ao cidadão leiloar o que lhe sobrava de confiança nas forças de segurança.
Eis o ponto. O mundo da segurança pública se rendeu à sociedade do espetáculo. Está empavonado demais para se ocupar de “miudezas”. Todos os esforços são no sentido de reprimir o crime organizado e de “manchetear” a ideia de um Estado corajoso e providente. É claro que essas ações são urgentes e necessárias, mas há um flagrante descuido com a violência às pessoas comuns. Pura burrice. Essas pessoas poderiam se tornar agentes cidadãos de segurança pública, caso se sentissem assistidas pelas polícias. Ao negligenciar a atmosfera de medo provocada pelo roubo e furto – e como esses delitos sugerem a possibilidade do latrocínio –, o poder público outra coisa não faz senão empurrar parte da população para os braços da informalidade das pequenas milícias e para a indústria de cercas elétricas, câmeras e afins.
A população fica trancafiada, enquanto quem deveria ajudar a lidar com isso defende uma hierarquia na solução dos crimes, partindo da supremacia do crime organizado. Ora, difícil sustentar que não há um alto grau de profissionalização dos assaltos a carros e residências. São sofisticados, e não ladrões de ocasião. Olheiros, pequenas redes de informação, “sociedades anônimas” podem não precisar de helicópteros para que sejam reprimidos, mas sua dissolução é urgente. Só assim para neutralizar as raízes do medo. Há um mal que se infiltra pelas calçadas, com potencial de ser tanto mal quanto o tráfico. Tomara que o futuro não nos conte mais essa verdade.

Xis do problema - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 19/10

RIO DE JANEIRO - O Colégio Pedro 2º deixou de ter alunos e alunas. Tem alunxs e alunxs –é como se escreve lá agora. A ideia não partiu de um grupo de estudantes anarquistas e gozadores, dos quais o Pedro 2º sempre foi pródigo, mas da presente reitoria. É oficial. A intenção, pelo que li no "Globo", é "abolir a diferença de gênero" para tornar a comunicação "mais inclusiva".

Significa que o Pedro 2º praticava uma comunicação "exclusiva" ao chamar os rapazes de alunos e as moças, de alunas? Sim, e isso não era bom, segundo a nova orientação. "É fundamental tratar o assunto da diversidade, seja ela sexual, racial ou cultural", diz o reitor. Perfeito. A maneira de fazer isto, ao que parece, é acabando justamente com a diversidade. E os artigos, também viraram xis? Se o aluno e a aluna se tornam "x alunx" e "x alunx", como vai se saber quem é o quê? Ou a ideia é não saber?

A inspiração para esse surto politicamente correto do Pedro 2º veio das feministas e dos grupos LGBTs. Para derrubar o que consideram uma "ditadura de gênero", esses movimentos já chamam os médicos, enfermeiros e advogados de "médicxs", "enfermeirxs" e "advogadxs". Os jornalistas, pelo menos, não lhes darão trabalho. Jornalista é jornalista, seja homem ou mulher.

"Existem gêneros diferentes, e isto é fato inconteste", constata, com certa contrariedade, um comunicado da reitoria. A descoberta, em pleno século 21, de que o mundo se compõe de meninos e meninas, mas que isso pode ser aperfeiçoado, é notável num colégio que já teve como professores Villa-Lobos, Manuel Bandeira, Antenor Nascentes, José Oiticica, Alvaro Lins, Euclides da Cunha, Paulo Rónai, Mario Pedrosa, Silvio Romero e Capistrano de Abreu.

Barreira ao investimento - ALUIZIO DOS SANTOS JÚNIOR

0 GLOBO - 19/10

Ter a Petrobras como operadora exclusiva das áreas no pré-sal representa um entrave


Mais que um sintoma, o fracasso da 13ª rodada de oferta de áreas para exploração e produção de petróleo, na qual apenas 14% dos blocos foram arrematados, evidencia a grave crise que o setor atravessa atualmente no Brasil. A justificativa para o baixo interesse das empresas no leilão não está apenas na queda dos preços do petróleo nem na crise do mercado internacional. O problema é brasileiro. Nesse caso, a oferta de áreas pouco atrativas e as recentes mudanças regulatórias afastaram grandes companhias da concorrência.

O maior entrave, contudo, está na legislação que orienta a exploração de petróleo na camada de pré-sal. Funciona, na prática, como uma barreira ao investimento privado. Ao estabelecer que a Petrobras tem, obrigatoriamente, que ser a única operadora e ficar com pelo menos 30% dos blocos nessas áreas — as de maiores reservas —, a lei inviabiliza o negócio.

Como a estatal não tem como arcar com os investimentos, o governo não promove os leilões e a riqueza do pré-sal fica ali, submersa, intocada. O resultado é que o Brasil que, em 2007, sonhou em integrar a Opep, o clube dos maiores produtores mundiais de petróleo, engatou a marcha a ré.

A Petrobras reduziu em 44% a meta de produção para os próximos cinco anos, de 4,2 milhões de barris para 2,8 milhões em 2020. A cada ano de atraso no ritmo da produção de petróleo, o Brasil deixaria de arrecadar aproximadamente R$ 53 bilhões, segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). É bem mais do que os R$ 32 bilhões que o governo federal espera angariar, por ano, com a cobrança da CPMF.

A estatal, até há pouco tempo definida como a gigante brasileira, agora só figura no noticiário para anunciar corte de gastos, demissões, redução de investimentos, suspensão de obras e do aluguel de sondas de perfuração.

Na última semana, a FGV apresentou o saldo de 30,5 mil vagas fechadas só no primeiro semestre deste ano na indústria de petróleo e gás natural. Em 2015, os estaleiros já somam 14 mil trabalhadores desempregados. Ou seja, o Brasil está promovendo o naufrágio de um setor que responde por 12% do PIB brasileiro e 30% das riquezas do Estado do Rio de Janeiro.

Prevista na lei, a figura do operador único — que elege a Petrobras como operadora exclusiva das áreas no pré-sal — representa um entrave ao desenvolvimento. Justo no momento em que o país atravessa uma grave crise econômica e o governo apresenta à sociedade, por meio de aumento de impostos, a conta do problema.

Ora, a indústria quer investir, quer trabalhar, quer contratar. Passa da hora de acabar com o operador único e retomar os leilões de blocos na camada de pré-sal. Esta é uma questão de sobrevivência da economia brasileira. Não é de partidos nem de grupos políticos. É de todos.

Aluizio dos Santos Júnior é prefeito de Macaé é presidente da Organização dos Municípios Produtores de Petróleo

Tempo não traz misericórdia - VINICIUS MOTA

Folha de SP - 19/10

É difícil afastar-se da densa neblina em meio à qual se travam as batalhas da crise política. Correspondentes de guerra, que narram os choques à beira do campo, às vezes favorecem avaliações precipitadas da marcha da história.

Um erro recorrente é tomar a baixa de um general como o fortalecimento automático do flanco adversário. O cadafalso de Eduardo Cunha não significa o triunfo do governismo sobre a Câmara, na campanha para evitar o impeachment.

A agonia do deputado carioca, ouviu-se muito na semana passada, acarretou ganho de tempo para o Planalto. O tempo, entretanto, só tem feito trabalhar contra o governo desde o minuto seguinte à reeleição. Esse fato da crise não se alterou.

O tempo passou, e o círculo familiar de Lula foi alvejado em delação. O relógio andou para que o presidente do Senado e o líder do governo na Casa fossem também enredados. O tic tac do ponteiro despeja cada vez mais brasileiros no desemprego e na insegurança financeira.

Se pudesse influenciar a pauta, talvez fosse melhor para o governismo enfrentar logo uma petição de impeachment na Câmara, pois há boas chances de derrotá-la hoje. Daqui a 120 dias, a situação tende a piorar. Em 180 dias, mais ainda.

A verdade, contudo, é que ninguém governa esta crise. Ninguém controla os procuradores, os policiais, os magistrados, os fiscais de contas e os jornalistas que submetem a política nacional e seus grandes financiadores a um processo de responsabilização sem precedentes na nossa história.

Nesse ambiente, acordos por baixo do pano, como os que primeiro a oposição e depois o governo negociaram com Eduardo Cunha cravejado, são ilusões passageiras. O melhor pacto que os dois lados fariam agora seria entre si e à luz do dia, para fulminar depressa a lúgubre figura que ainda ostenta o mandato de presidente da Câmara dos Deputados.

República das bananas? - PAULO GUEDES

O GLOBO - 19/10

E perturbador o desembaraço com que as figuras coroadas da Velha Política dificultam nosso aperfeiçoamento institucional

A delação premiada do lobista Fernando Baiano envolve, entre os beneficiários da roubalheira na Petrobras, o presidente do Senado, Renan Calheiros, os senadores Delcídio do Amaral, do PT, e Jader Barbalho, do PMDB, o ex-ministro de Minas e Energia Silas Rondeau e até mesmo a nora do ex-presidente Lula, por intermédio de um repasse feito por seu amigo íntimo José Carlos Bumlai. Estão expostas de forma cada vez mais nítida as vísceras da Velha Política, com suas degeneradas práticas de fisiologismo no Legislativo, encobertas pela cumplicidade do Judiciário.

O tráfico de influência, o desvio de recursos dos contribuintes e o pagamento de propinas a políticos e partidos revelam o fenômeno da corrupção sistêmica, alimentada pela ininterrupta escalada dos gastos públicos. Aplica-se à nossa classe política o diagnóstico de Barbara Tuchman sobre os papas renascentistas: "Recusam-se a mudar, mantendo em estúpida teimosia o sistema corrupto existente. Não podiam fazer as reformas porque eram parte da corrupção, com ela cresceram e dela dependiam. Ignoraram todos os protestos e os sinais de uma revolta crescente. Colocaram seus interesses privados acima do interesse público, sob a ilusão de um status invulnerável" Por omissão e imprudência de nossa classe política, a dinâmica dos eventos atuais é dirigida agora pelo Ministério Público, pela Política Federal e por um novo Judiciário, que tenta se afirmar como poder independente.

Estamos construindo as instituições de uma Grande Sociedade Aberta.  O choque de poderes independentes dispara um processo de aperfeiçoamento em busca das melhores práticas, desde que as instituições atuem dentro de seus limites constitucionais. Confesso que é perturbador o desembaraço com que as figuras coroadas da Velha Política criam obstáculos ao nosso aperfeiçoamento institucional. Mas o despertar do Poder Judiciário anuncia novos tempos. O Brasil não quer mais ser uma república das bananas. A hipertrofia e o aparelhamento do Estado deturparam valores morais e práticas políticas. Fabricaram escândalos, desmoralizaram partidos e derrubaram nossa taxa de crescimento. Continuamos prisioneiros do fechamento cognitivo e da amoralidade de obsoletas lideranças ante os desafios da estagflação e da corrupção.

Lula, o diversionista - VALDO CRUZ

FOLHA DE SP - 19/10

BRASÍLIA - Lula, acuado, tenta de tudo para fugir de sua agenda negativa. Sentindo o cheiro da Lava Jato chegar perto dos seus –familiares e amigos–, o petista mira no que reúne e anima sua tropa. Bater no ministro Joaquim Levy.

O ex-presidente não se conforma com o estado de ruindade da economia brasileira. Acredita piamente que a vida do PT, da presidente e a sua, apesar de toda lambança do petrolão, não estaria neste miserê todo se o país estivesse crescendo.

Só que, a cada dia, tudo fica pior. Até otimistas de plantão já falam que o cenário econômico só melhora no final do ano que vem. Daí, por instinto de sobrevivência, Lula desce a lenha sem dó na política econômica de Levy e estimula sua turma a fazer o mesmo.

Difícil saber até onde faz isto como estratégia diversionista ou se deseja, de fato, que sua criatura adote uma linha populista de estímulo ao crédito quando todos estão endividados. Ou é desespero mesmo.

Afinal, Lula defende que Henrique Meirelles assuma a cadeira de Levy. Uma troca que não traria nenhuma guinada na política econômica. Pelo contrário, seria uma continuidade em doses mais salgadas.

Enfim, Lula tenta salvar o que pode de seu legado e, para tal, pressiona sem rodeios sua criatura a mudar o que considera equivocado.

Até pouco tempo, reclamava que ela não lhe dava ouvidos. Agora, com a crise em altíssima voltagem, sente que o clima mudou e ela passou a ceder a suas pressões.

Como na troca da Casa Civil. Depois de relutar, trocou Aloizio Mercadante por Jaques Wagner, o nome certo para o posto, mas que deveria ter chegado lá um pouco mais cedo.

A batalha agora parece ser na economia. Neste domingo, ela deu um chega para lá no lulista Rui Falcão, que pediu em público a cabeça de Levy. Foi além. Disse concordar com sua política econômica. Só que tudo pode não passar de puro diversionismo dilmista. A conferir.


Crime continuado - EDITORIAL O ESTADÃO

O Estadão - 19/10

O ministro Raimundo Carreiro, do Tribunal de Contas da União (TCU), determinou que seja feita uma auditoria para confirmar se o governo da presidente Dilma Rousseff continuou a dar suas “pedaladas fiscais” também neste ano. Se for verificado que “continuam a ser praticados pela União no presente exercício financeiro atos de mesma natureza já examinados e reprovados, ou seja, operações de crédito vedadas pela Lei de Responsabilidade Fiscal”, como escreveu Carreiro em seu despacho, ficará claro, definitivamente, que Dilma escolheu escarnecer da lei que, ao tomar posse, jurou respeitar.

No início deste mês, o TCU rejeitou, por unanimidade, as contas do governo de 2014. No parecer que foi aprovado, estavam bastante claras as manobras feitas pela equipe de Dilma para esconder o fato de que, em ano eleitoral, o governo promoveu gastos sem a correspondente cobertura orçamentária e forçou as instituições financeiras públicas a lhe dar crédito para cobrir despesas não previstas e, assim, bancar seu superávit fiscal. A esses truques se convencionou chamar de “pedaladas”, realizadas quando as contas federais já estavam depauperadas graças às lambanças da presidente.

Em lugar de admitir o erro, em respeito ao TCU e à inteligência alheia, Dilma e os petistas preferiram enxergar na sentença do tribunal uma decisão política. Na lógica da presidente, o intuito do TCU foi criminalizar seu governo e o PT, uma vez que outros governos também teriam “pedalado” e, no entanto, não foram punidos. Tal argumento não encontra respaldo nos fatos: nenhum presidente anterior, no período democrático, lesou tão profunda e sistematicamente os cofres públicos para maquiar resultados fiscais – foram cerca de R$ 40 bilhões em atrasos só em 2014.

Já neste ano, o Ministério Público de Contas, que atua junto ao TCU, informou que, “não obstante a forma clara e categórica” com que tal conduta foi reprovada, o governo repetiu as “pedaladas” – e num ritmo muito superior ao do ano passado. Apenas no primeiro semestre, os atrasos somaram mais de R$ 40 bilhões, volume equivalente ao “pedalado” durante todo o ano passado. É a reiteração categórica do malfeito.

Pilhados em flagrante delito, os petistas reagiram conforme um padrão estabelecido desde o mensalão: primeiro, negaram; depois, como não era possível negar, disseram que todos os outros também fizeram; por fim, quando ficou claro que a dimensão do crime cometido no governo petista era inédita, declararam que tudo foi feito por uma boa causa.

Desde a rejeição de suas contas pelo TCU, Dilma e seus assessores vêm dizendo que as manobras foram necessárias para a manutenção dos programas sociais do governo. Tal versão foi amplamente sustentada pelo mentor de Dilma, o ex-presidente Lula, que admitiu o truque contábil, mas disse que “a Dilma fez as pedaladas para pagar o Bolsa Família, fez as pedaladas para pagar o Minha Casa, Minha Vida”.

Não é verdade. Conforme mostra o TCU, a maior parte dos R$ 40 bilhões “pedalados” no ano passado serviu para bancar o subsídio embutido no Programa de Sustentação do Investimento (PSI), do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), voltado para as grandes empresas, e também nos empréstimos do Banco do Brasil para empresas do agronegócio. Já os atrasos do governo à Caixa Econômica Federal para cobrir o pagamento do Bolsa Família e outros programas somaram R$ 6 bilhões. Ou seja, o governo Dilma “pedalou” sua bicicleta fiscal muito mais para bancar os empresários “campeões nacionais” do que para ajudar os pobres.

Enquanto isso, o governo pretende negociar um prazo camarada para colocar em dia tudo o que “pedalou” no primeiro mandato de Dilma. A equipe econômica diz que será impossível fazer essa devolução em menos de três anos. Isso significa não só que Dilma continua a pedalar, como pretende deixar a pesada conta de sua irresponsabilidade fiscal para seu sucessor.


Moralistas sem moral - RICARDO NOBLAT

O GLOBO - 19/10

Há uma semana, a presidente Dilma estava no chão, e a caneta de Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, cheia de tinta para assinar o ato que autorizaria a abertura do processo de impeachment contra ela. Esta semana começa depois de mais um movimento abrupto da gangorra do poder: Agora é Eduardo que está no chão, atingido por novas denúncias de roubalheira. E Dilma posa de vencedora.

AMANHÃ FARÁ uma semana que Dilma perguntou a sindicalistas reunidos por Lula para escutá-la em São Paulo: "Quem tem força, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra? Quem?" Entusiasmada com os aplausos que recebeu, chamou o impeachment de "golpismo escancarado" e seus adversários, de "moralistas sem moral"

DE FATO, são "moralistas sem moral" os políticos que tratam Eduardo com brandura, interessados apenas em que ele ceda às pressões e ponha para tramitar na Câmara o processo de deposição da presidente reeleita há menos de um ano. Mas serão "moralistas com moral" aqueles que igualmente tratam Eduardo com brandura, empenhados apenas em que ele desista de derrubar Dilma?

NA CONDIÇÃO de investigado, Lula desembarcou em Brasília para ser ouvido por procuradores da República. Aproveitou a viagem para negociar com Eduardo o fim do impeachment em troca da salvação do mandato dele, ameaçado de ser cassado pela Câmara. E da boa vontade da Justiça quando fosse obrigada a julgar Eduardo por corrupção, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos.

COMO LULA, sem ser um amoral, poderia garantir a Eduardo que deputados ligados ao governo negarão seus votos para cassá-lo? Como Lula, sem ser um amoral, poderia prometer que o governo empregará toda a sua força para que o Supremo Tribunal Federal absolva Eduardo dos seus crimes? Ou pelo menos para que não lhe aplique duras penas?

DIANTE DA MESMA plateia de sindicalistas que recepcionou Dilma em São Paulo, Lula justificou as "pedaladas fiscais" do governo que resultaram na rejeição de suas contas de 2014 pelo Tribunal de Contas da União. E o que disse? Que o governo foi obrigado a pedalar para não deixar sem dinheiro o Bolsa Família e demais programas de assistência aos mais pobres.

MENTIU - o que não pega bem para um moralista com moral. Para um sem moral não faz diferença. As pedaladas tiveram a ver com despesas feitas pelo governo para além do que o orçamento permitia. Com isso, desrespeitou a lei de responsabilidade fiscal. Quem desrespeita lei incorre em crime. Não vale a desculpa imoral usada por Dilma de que governos anteriores procederam assim também.

QUANTO À PERGUNTA que ela fez aos sindicalistas: "Quem tem força moral, reputação ilibada e biografia limpa suficiente para atacar a minha honra?" Há muita gente que tem, sim. Talvez falte motivo para o ataque. Em compensação, há motivos de sobra para que se ponha a conduta de Dilma em dúvida. É provável que ela não tenha roubado. Mas que sequer tenha visto que roubavam?

SEU SUCESSOR no Ministério das Minas e Energia é suspeito de ter roubado. Sua sucessora na Casa Civil, de tráfico de influência. Como mandachuva na Petrobras, aprovou negócios que envolveram propinas. E viu a empresa submergir em um mar de lama. Dinheiro sujo financiou suas campanhas. Se tudo isso a surpreendeu, por carecer de competência não tinha condições de presidir o país.


COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

PLANALTO TEME PROTESTOS CONTRA BLINDAGEM DE DILMA
O Planalto não ficou inteiramente tranquilo com a decisão do Supremo Tribunal Federal que travou o impeachment, blindando a presidente Dilma do rito fixado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha. No governo há o temor de que a liminar do ministro Teori Zavascki acirre os ânimos, no Congresso, e provoque a retomada de manifestações de rua, em razão da rejeição recorde a Dilma, apurado em pesquisas.

INTERVENÇÃO
O deputado Nilson Leitão (PSDB-MT) não entendeu a decisão do ministro Teori Zavascki. Para ele, “foi uma intervenção” indevida.

TOMA LÁ, DÁ CÁ
Aliados contam que Eduardo Cunha recebeu do Planalto a proposta de ser “salvo” da Lava Jato em troca do arquivamento do impeachment.

NOS OUTROS É REFRESCO
O rito agora barrado pelo STF foi o mesmo adotado no frustrado pedido de impeachment de FHC, em 1999, e no de Fernando Collor, em 1992.

#VEMPRARUA
O Vem pra Rua organiza ato marcado para esta segunda, em São Paulo. É o primeiro protesto oficialmente pelo impeachment de Dilma.

DEPUTADOS JÁ NEGOCIAM SUBSTITUIÇÃO DE CUNHA
Com o envolvimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, na Operação Lava Jato, líderes partidários buscam alternativas de fortalecimento dos partidos no Congresso. Nos bastidores, os deputados Leonardo Picciani (PMDB), Jarbas Vasconcelos (PMDB), Miro Teixeira (Rede) e André Moura (PSC) pedem votos para a presidência da Câmara, prevendo a queda do peemedebista.

DESTILANDO INTRIGA
A antecipação da eleição para presidente da Câmara é incentivada pelo Palácio do Planalto, que busca um nome alinhado ao governo.

SANGRANDO O ADVERSÁRIO
O governo acredita que a medida enfraquecerá Eduardo Cunha e mostrará que ele não tem mais condições de se manter no cargo.

MAIS DO MESMO
Se realmente cair, Eduardo Cunha pretende emplacar um deputado que mantenha o tom beligerante em relação ao governo e ao PT.

LAVANDERIA
A CPI do BNDES acredita que nova rodada de quebra de sigilos de empresas mostrará irregularidades em pagamentos ao marqueteiro de Dilma, João Santana. “Chegamos à lavagem de dinheiro na campanha do PT”, avisou Alexandre Baldy (PSDB-GO), cheio de otimismo.

CASO RARO
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Dias Toffoli, será o observador brasileiro nas eleições gerais canadenses amanhã, terça (20). Para aliviar o Erário, o ministro bancou passagem e hospedagem do próprio bolso. E também rejeitou receber diárias pela viagem.

TRUCO
O clima esquentou entre o ministro Ricardo Berzoini e o deputado Celso Russomanno (PRB-SP). Líder do PRB, ele ameaçou entregar o Ministério do Esporte. Recuou após o ministro aceitar a oferta.

TELHADO DE VIDRO
O líder do PDT na Câmara, Afonso Motta (RS), imposto pelo presidente do partido, Carlos Lupi, está na mira da própria bancada. Ele é personagem no esquema do Carf, investigado em CPI e na PF.

CARA FEIA
Medo é o que experimentam novos e antigos assessores do presidente da Câmara. Dizem que Eduardo Cunha anda com cara, gestos e ações de pouquíssimos amigos. Razões suíças: contas, e não queijos.

CALMA LÁ
O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), discorda da cúpula do partido, que se posicionou contra Eduardo Cunha. Sampaio alega que a oposição “ganhou voz” com o atual presidente da Câmara.

VISTA GROSSA
Nas barbas da Docas do Rio, importante área do porto de Itaguaí, vem sendo ocupada pela comunidade Coroa Grande. Trata-se de medida para beneficiar aliados da família do deputado Leonardo Picciani.

MANTENDO A ESPERANÇA
A ordem na oposição é não se abater com decisões que dificultam o impeachment. “Há esperança, sob pena de o Estado se não prestar seu dever constitucional”, diz Cássio Cunha Lima (PSDB-PB).

PENSANDO BEM...
...impressiona a rapidez com a qual o “inimigo número um” do Brasil muda de semana para semana.