FOLHA DE SP - 08/02
Não me lembro de nenhum presidente que, após ser eleito, desapareça da vista da nação, como fez Dilma
Não me lembro de nenhum presidente da República que, após ser eleito e empossado, desapareça da vista da nação, como fez Dilma Rousseff. Em geral, o que ocorre é o contrário: já que, eleito ou reeleito, o presidente conta com a acolhida da maioria da opinião pública, que lhe deu a vitória nas urnas.
Mas a Dilma sumiu. Ela, que esteve em 2014 no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, onde garantiu que a economia brasileira ia às mil maravilhas, desta vez não foi lá: mandou o seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, nomeado por ela para corrigir os erros que ela e Mantega cometeram.
Claro que ela não poderia voltar a Davos para desdizer tudo o que dissera antes. Esse papel coube ao ministro Levy que é, aliás, o único de seus ministros que se atreve a chamá-la de presidente e não de presidenta. Não se sabe até quando.
Pois bem, em vez de ir a Davos, dirigiu-se a La Paz para homenagear Evo Morales, também reeleito presidente da Bolívia. Dá para entender. Lá não seria obrigada a explicar por que mudou tão radicalmente uma política econômica que, segundo ela mesma, era um sucesso.
Enquanto isso, o mago João Santana --capaz de mudar água para vinho-- preparava o discurso que ela pronunciaria na primeira reunião com todos os seus 39 ministros.
Era um discurso difícil, não apenas porque teria que explicar por que mudou a política econômica, como também por que extinguiria direitos dos trabalhadores, que ela prometera preservar, "nem que a vaca tussa".
Uma encrenca, sem dúvida, mas teria de enfrentá-la, mesmo porque a principal característica do lulo-petismo é manter-se, diante do povão, como o salvador da pátria.
É certo que todo partido procura colocar-se, perante o eleitorado, como capaz de resolver os problemas do país e, particularmente, melhorar a vida de cada cidadão. Mas isso não é a mesma coisa que propõe o PT, como partido originário da esquerda revolucionária.
Isso porque, diferentemente dos demais partidos, o partido revolucionário promete mudar radicalmente a sociedade, alijando do poder os exploradores do povo, isto é, os capitalistas. Noutras palavras, o partido de esquerda é essencialmente ideológico, defende a criação de uma nova sociedade, dirigida não pelos patrões e, sim, pelos trabalhadores. Teoria essa que, na prática, mostrou-se inviável, uma vez que, em nenhum dos países onde o comunismo chegou ao poder, o governo foi exercido por trabalhadores.
Esses partidos não existem mais. Os que existem, como o PT, por exemplo, são na verdade partidos populistas, que se apresentam como defensores dos pobres, mas se aliam a setores empresariais, aos quais fazem concessões para se manter no poder.
Porque não podem mostrar-se, diante dos seus eleitores, como realmente são; fazem o jogo dos interesses empresariais, mas discursam como adversários deles.
E, assim, ganham os dois: os capitalistas, que nada têm a temer --consequentemente ganham mais--, e os populistas, que manipulam o descontentamento dos pobres com programas assistencialistas.
Esse foi o discurso do PT, que o manteve desde sempre, enquanto foi possível. Agora, no caso de Dilma Rousseff, a situação encrencou, porque a política governamental adotada, após anos e anos, terminou por levar a economia do país a esta situação crítica, o que a obrigou a chamar alguém para evitar que o barco afunde.
Mas como dizer essa verdade ao país se, até outro dia, durante a campanha eleitoral, afirmava o contrário? E, sobretudo, como dizê-la ao eleitorado petista que, por sua vez, não quer ouvir a verdade? Não pode, claro. Daí o estranho discurso que Dilma fez a seus ministros e a seus eleitores.
É que ela vai fazer, neste novo mandato, tudo o que disse que não faria. E acusava Aécio Neves de desejar fazer, quando, de fato, tratava-se de medidas exigidas pela situação crítica a que ela, Dilma, levara o país.
Por isso mesmo, como não pode dizer que não o fará, tampouco que o fará, pronunciou um discurso de crioulo doido quando garantiu que a mudança radical que sofrerá a sua política econômica é apenas a continuação natural daquela que fracassou. Por que, então, demitiu Guido Mantega, o responsável por ela?
domingo, fevereiro 08, 2015
O mundo manda recado - HENRIQUE MEIRELLES
FOLHA DE SP - 08/02
Com recessão, apagão, seca e petrolão, é normal ficarmos obcecados pelos problemas domésticos. Mas é importante nesse tipo de situação olhar o que ocorre no mundo para ter visão mais clara de como tratar esses emaranhados de crises imediatas.
A Grécia --que, por décadas, manteve políticas protecionistas, regulação restritiva, elevação de gasto público e de endividamento-- mais uma vez entrou em crise e agora pede perdão de dívidas e autorização para gastar mais para aliviar o sofrimento da população.
Enquanto isso, a Índia, gigante emergente, tem expansão acelerada que pode levá-la a ultrapassar a China em crescimento. Isso é resultado da eleição de um primeiro-ministro com políticas modernas que favorecem a competição, a quebra de monopólios, a modernização das estatais e o combate à burocracia indiana.
Já a China paga hoje por exageros passados e atinge os limites do modelo baseado no forte controle estatal pelo Partido Comunista. Enquanto o país tenta aumentar a capacidade de compra da população, equilibrar a economia e corrigir os exageros, promove amplo combate à corrupção, com mais de 50 mil burocratas ou pessoas ligadas ao PC já denunciadas.
Na Europa estagnada, é oportuno observar o sucesso da economia britânica. O Reino Unido cresce a taxas elevadas, cria empregos e serve de contraste ao continente europeu. É um país que, desde a era Thatcher, empreendeu reformas radicais, abriu mercados e quebrou monopólios estatais. O ciclo político seguinte, do novo trabalhismo, procurou conjugar as reformas thatcheristas com políticas sociais. Com a volta dos conservadores ao poder, em 2010, Londres adotou austeridade fiscal e contenção de despesas públicas, liberando recursos na sociedade para investimento e consumo privados.
Importante notar que, ao contrário do que ocorreu em outros países europeus, essa eficiente austeridade foi adotada depois das reformas profundas na economia britânica.
Nos EUA, o crescimento é sólido, apesar dos vaticínios catastrofistas dos que consideravam o aumento do gasto público a única saída para a crise e que falavam em "abismo fiscal" após o corte de gastos imposto pelo Congresso. Com seu dinamismo econômico, empreendedorismo, Banco Central independente, regulamentação pró-mercado e pró-competição, os EUA agora voltam a liderar a economia mundial.
Tudo isso leva a conclusões irrefutáveis: o caminho da prosperidade passa por uma administração profissional de governos e estatais, uma regulação pró-competição que dê condições aos empresários de empreenderem e gerar crescimento e emprego, um bom funcionamento do sistema de preços e a maior transparência possível.
Com recessão, apagão, seca e petrolão, é normal ficarmos obcecados pelos problemas domésticos. Mas é importante nesse tipo de situação olhar o que ocorre no mundo para ter visão mais clara de como tratar esses emaranhados de crises imediatas.
A Grécia --que, por décadas, manteve políticas protecionistas, regulação restritiva, elevação de gasto público e de endividamento-- mais uma vez entrou em crise e agora pede perdão de dívidas e autorização para gastar mais para aliviar o sofrimento da população.
Enquanto isso, a Índia, gigante emergente, tem expansão acelerada que pode levá-la a ultrapassar a China em crescimento. Isso é resultado da eleição de um primeiro-ministro com políticas modernas que favorecem a competição, a quebra de monopólios, a modernização das estatais e o combate à burocracia indiana.
Já a China paga hoje por exageros passados e atinge os limites do modelo baseado no forte controle estatal pelo Partido Comunista. Enquanto o país tenta aumentar a capacidade de compra da população, equilibrar a economia e corrigir os exageros, promove amplo combate à corrupção, com mais de 50 mil burocratas ou pessoas ligadas ao PC já denunciadas.
Na Europa estagnada, é oportuno observar o sucesso da economia britânica. O Reino Unido cresce a taxas elevadas, cria empregos e serve de contraste ao continente europeu. É um país que, desde a era Thatcher, empreendeu reformas radicais, abriu mercados e quebrou monopólios estatais. O ciclo político seguinte, do novo trabalhismo, procurou conjugar as reformas thatcheristas com políticas sociais. Com a volta dos conservadores ao poder, em 2010, Londres adotou austeridade fiscal e contenção de despesas públicas, liberando recursos na sociedade para investimento e consumo privados.
Importante notar que, ao contrário do que ocorreu em outros países europeus, essa eficiente austeridade foi adotada depois das reformas profundas na economia britânica.
Nos EUA, o crescimento é sólido, apesar dos vaticínios catastrofistas dos que consideravam o aumento do gasto público a única saída para a crise e que falavam em "abismo fiscal" após o corte de gastos imposto pelo Congresso. Com seu dinamismo econômico, empreendedorismo, Banco Central independente, regulamentação pró-mercado e pró-competição, os EUA agora voltam a liderar a economia mundial.
Tudo isso leva a conclusões irrefutáveis: o caminho da prosperidade passa por uma administração profissional de governos e estatais, uma regulação pró-competição que dê condições aos empresários de empreenderem e gerar crescimento e emprego, um bom funcionamento do sistema de preços e a maior transparência possível.
Mais promessas - RENATO CRUZ
O Estado de S. Paulo - 08/02
Em sua mensagem ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff tratou, entre outros assuntos, de acesso à internet: "Nosso objetivo será, nos próximos quatro anos, promover a universalização do acesso a um serviço de internet de banda larga barato, rápido e seguro, por meio do apoio à instalação de redes de fibra óptica, conectando 90% dos municípios e 45% dos domicílios com redes de ultrabanda larga".
Durante a campanha, a presidente já havia falado num plano "Banda Larga para Todos". Mas a nova proposta foi lançada sem que o governo tenha conseguido cumprir os objetivos da política anterior, chamada Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A meta era chegar ao fim de 2014 com 35 milhões de residências conectadas à internet rápida. Segundo a mesma mensagem, o número real foi de 23,9 milhões de conexões de banda larga fixa.
Atualmente, existem menos de 1 milhão de conexões de fibra óptica no País. Quando o governo promete conectar 45% dos domicílios com redes ópticas, na realidade fala em ter, em quatro anos, mais residências conectadas com internet ultrarrápida do que o total das casas conectadas atualmente, com qualquer tecnologia, já que as 23,9 milhões de conexões atuais correspondem a uma densidade de 36,5%, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A fibra é uma tecnologia importante para garantir o acesso num ambiente em que o vídeo é cada vez mais presente. Serviços de vídeo sob demanda já fornecem conteúdo com resolução 4K, quatro vezes a alta definição plena oferecida pelos canais HD. Isso exige capacidade de rede.
Mas a proposta está muito distante da realidade. Uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), divulgada no ano passado, mostrou que 10% das residências brasileiras ainda usam acesso discado à internet. Isso mesmo. Aquele barulho chato de conexão com que estávamos acostumados no final da década de 1990 ainda faz parte do cotidiano de 1 em cada 10 usuários brasileiros de internet. E o principal motivo não é falta de renda do consumidor, mas falta de rede.
Onze por cento dos domicílios com internet ainda têm conexões com velocidade de até 256 quilobits por segundo. Quando foi lançado, em 2010, o PNBL foi ridicularizado por oferecer pacotes de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 35. Há cinco anos, 1 Mbps já era pouco, e um em cada 10 usuários brasileiros de internet ainda navegam na rede com até um quarto dessa velocidade.
No fim do ano passado, havia 152,3 milhões de conexões de banda larga móvel, mas somente 5,5 milhões eram na tecnologia de quarta geração (4G). Por que não incentivar também as conexões móveis, que têm potencial de chegar a municípios menores mais rapidamente?
Em sua mensagem ao Congresso, a presidente Dilma Rousseff tratou, entre outros assuntos, de acesso à internet: "Nosso objetivo será, nos próximos quatro anos, promover a universalização do acesso a um serviço de internet de banda larga barato, rápido e seguro, por meio do apoio à instalação de redes de fibra óptica, conectando 90% dos municípios e 45% dos domicílios com redes de ultrabanda larga".
Durante a campanha, a presidente já havia falado num plano "Banda Larga para Todos". Mas a nova proposta foi lançada sem que o governo tenha conseguido cumprir os objetivos da política anterior, chamada Plano Nacional de Banda Larga (PNBL). A meta era chegar ao fim de 2014 com 35 milhões de residências conectadas à internet rápida. Segundo a mesma mensagem, o número real foi de 23,9 milhões de conexões de banda larga fixa.
Atualmente, existem menos de 1 milhão de conexões de fibra óptica no País. Quando o governo promete conectar 45% dos domicílios com redes ópticas, na realidade fala em ter, em quatro anos, mais residências conectadas com internet ultrarrápida do que o total das casas conectadas atualmente, com qualquer tecnologia, já que as 23,9 milhões de conexões atuais correspondem a uma densidade de 36,5%, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A fibra é uma tecnologia importante para garantir o acesso num ambiente em que o vídeo é cada vez mais presente. Serviços de vídeo sob demanda já fornecem conteúdo com resolução 4K, quatro vezes a alta definição plena oferecida pelos canais HD. Isso exige capacidade de rede.
Mas a proposta está muito distante da realidade. Uma pesquisa do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic.br), divulgada no ano passado, mostrou que 10% das residências brasileiras ainda usam acesso discado à internet. Isso mesmo. Aquele barulho chato de conexão com que estávamos acostumados no final da década de 1990 ainda faz parte do cotidiano de 1 em cada 10 usuários brasileiros de internet. E o principal motivo não é falta de renda do consumidor, mas falta de rede.
Onze por cento dos domicílios com internet ainda têm conexões com velocidade de até 256 quilobits por segundo. Quando foi lançado, em 2010, o PNBL foi ridicularizado por oferecer pacotes de 1 megabit por segundo (Mbps) a R$ 35. Há cinco anos, 1 Mbps já era pouco, e um em cada 10 usuários brasileiros de internet ainda navegam na rede com até um quarto dessa velocidade.
No fim do ano passado, havia 152,3 milhões de conexões de banda larga móvel, mas somente 5,5 milhões eram na tecnologia de quarta geração (4G). Por que não incentivar também as conexões móveis, que têm potencial de chegar a municípios menores mais rapidamente?
Suicídio político em voga - MARIO VARGAS LLOSA
O Estado de S. Paulo - 08/02
O haraquiri é uma nobre tradição japonesa em que militares, políticos, empresários e, por vezes, escritores (como Yukio Mishima), envergonhados por fracassos ou ações que, ao seu ver, os desonravam, se destripavam numa cerimônia sangrenta. Hoje, quando a ideia de honra se desvalorizou ao mínimo, os cavalheiros nipônicos já não se suicidam.
Mas o ritual da imolação se mantém no mundo e agora é coletivo: praticam-no os países que, presas de um desvario passageiro ou prolongado, decidem empobrecer-se, barbarizar-se, corromper-se, ou todas essas coisas juntas.
A América Latina é pródiga em exemplos trágicos. O mais notável é o da Argentina, que há três quartos de século era um país do Primeiro Mundo, próspero, culto, aberto, com um sistema educacional modelar e, de repente, presa da febre peronista, decidiu retroceder e arruinar-se.
O país se submeteu a uma prolongada agonia que, amparada por sucessivos golpes militares e uma heroica perseverança no erro de seus eleitores, persiste até hoje. Esperemos que algum dia os deuses ou o acaso devolvam a sensatez e a lucidez à terra de Sarmiento e de Borges.
Outro caso emblemático de haraquiri político é o da Venezuela. Ela tinha uma democracia imperfeita, é verdade, mas real, com imprensa livre, eleições genuínas, partidos políticos diversos, e mal e mal, o país progredia. Infelizmente, grassavam a corrupção e o desperdício, e isso levou uma maioria de venezuelanos a descrer da democracia e confiar sua sorte a um caudilho messiânico: o comandante Hugo Chávez.
Em oito oportunidades eles puderam corrigir seu erro e não o fizeram, votando todas as vezes por um regime que os levava ao precipício. Hoje eles pagam caro sua cegueira. A ditadura é uma realidade asfixiante, fechou estações de televisão, de rádio e jornais, encheu os cárceres de dissidentes, multiplicou a corrupção a extremos vertiginosos - um dos principais dirigentes militares do regime dirige o narcotráfico, a única indústria que floresce num país onde a economia desandou e a pobreza triplicou - e onde as instituições, desde os juízes até o Conselho Nacional Eleitoral, são subservientes ao poder.
Embora haja uma significativa maioria de venezuelanos que quer voltar à liberdade, isso não será fácil: o governo de Nicolás Maduro demonstrou que, embora inepto para tudo o mais, na hora de fraudar eleições e encarcerar, torturar e assassinar opositores; sua mão não treme.
O haraquiri não é uma especialidade terceiro-mundista, porém. Na civilizada Europa ele também é praticada de tempos em tempos: Hitler e Mussolini chegaram ao poder por vias legais e um bom número de países centro-europeus se atiraram aos braços de Stalin sem maiores pudores. O caso mais recente parece ser o da Grécia, que, em eleições livres, acaba de levar ao poder - com 36% dos votos, o Syriza, um partido demagógico e populista de extrema esquerda que se aliou para governar com uma pequeno grupo de direita ultranacionalista e antieuropeu. O Syriza prometeu uma revolução e o paraíso. No estado catastrófico em que se encontra o país que foi berço da democracia e da cultura ocidental talvez seja compreensível essa catarse sombria do eleitorado. Mas, em vez de superar as pragas que os assolam, essas poderiam recrudescer agora se o novo governo se empenhar em cumprir o que prometeu a seus eleitores.
Essas pragas são uma dívida pública vertiginosa de 317 bilhões de euros com a União Europeia e o sistema financeiro internacional, que resgataram a Grécia da quebra. Ela equivale a 175% do Produto Interno Bruto do país. Desde o início da crise, o PIB da Grécia caiu 25% e a taxa de desemprego chegou perto de 26%. Isso significa o colapso dos serviços públicos, uma queda atroz dos níveis de vida e um crescimento canceroso da pobreza. A se ouvir os dirigentes do Syriza e seu inspirado líder - o novo primeiro-ministro Alexis Tsipras -, essa situação não se deve à inépcia e à corrupção desenfreada dos governos gregos ao longo de várias décadas, que, com irresponsabilidade delirante, chegaram a apresentar balaços e informes econômicos fraudados à UE para dissimular seus desmandos, mas às medidas de austeridade impostas pelos organismos internacionais à Grécia para resgatá-la da impotência a que as más políticas a haviam conduzido.
O Syriza propôs acabar com a austeridade e com as privatizações, renegociar o pagamento da dívida com a condição de que houvesse um cancelamento da maior parte dela, e reativar a economia, o emprego e os serviços com investimentos públicos contínuos. Um milagre equivalente ao de curar um doente terminal fazendo-o correr maratonas.
Desse modo, o povo grego recuperaria uma "soberania" que, ao que parece, a Europa em geral, a troica, o governo da senhora Merkel, em particular, lhe haviam arrebatado.
O melhor que poderia ocorrer é que essas bravatas da campanha eleitoral fossem arquivadas agora que o Syriza tem responsabilidades de governo e, como fez François Hollande na França, ele reconheça que prometeu coisas mentirosas e impossíveis e retifique seu programa com espírito pragmático, o que, sem dúvida, provocará uma decepção terrível entre seus ingênuos eleitores. Se não o fizer, a Grécia poderá enfrentar a bancarrota, a saída do euro e da União Europeia, e afundar no subdesenvolvimento. Há sintomas contraditórios e ainda não está claro se o novo governo grego dará marcha à ré. Ele acaba de propor, em vez do cancelamento, uma fórmula picaresca e velhaca que consiste em converter sua dívida em duas classes de bônus, uns reais, que iriam sendo pagos à medida que sua economia crescesse, e outros fantasmas, que iriam se renovando ao longo da eternidade. França e Itália, também vítimas de graves problemas econômicos, manifestaram não ver com maus olhos semelhante proposta. Ela não prosperará, com certeza, porque nem todo país europeu perdeu o senso de realidade.
Em primeiro lugar, e com muita razão, vários membros da União Europeia, além da Alemanha, recordaram a Grécia de que não aceitam "quitações", nem explícitas nem dissimuladas, e os países devem cumprir seus compromissos. Os mais severos a esse respeito foram Portugal, Espanha e Irlanda, que, depois de grandes sacrifícios, estão saindo da crise depois de cumprir com suas obrigações.
A Grécia deve 26 bilhões à Espanha. A recuperação espanhola custou sangue, suor e lágrimas. Por que os espanhóis teriam de pagar de seus bolsos as más políticas dos governos gregos, além de já estar pagando pelas políticas dos seus? A Alemanha não é culpada de um bom número de países da Europa comunitária estar com sua economia arruinada. A Alemanha teve governos prudentes e competentes, austeros e honrados, e, por isso, enquanto outros países se desestabilizavam, ela crescia e se fortalecia. E convém não esquecer que a Alemanha teve de absorver e ressuscitar um cadáver - a Alemanha comunista - também à custa de formidáveis esforços, sem se queixar, sem pedir ajuda a ninguém, só com o empenho e o estoicismo de seus cidadãos.
Por outro lado, o governo alemão da senhora Merkel é europeísta decidido. A melhor prova disso é a maneira generosa e constante com que apoia, com seus recursos e suas iniciativas, a construção europeia. Só a proliferação dos estereótipos e mitos ideológicos explica esse fenômeno de transferência freudiana que leva a Grécia a culpar o país mais eficiente da União Europeia pelos desastres que provocaram os políticos que, durante tantos anos, o povo grego enviou ao governo com seus votos. /TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
O haraquiri é uma nobre tradição japonesa em que militares, políticos, empresários e, por vezes, escritores (como Yukio Mishima), envergonhados por fracassos ou ações que, ao seu ver, os desonravam, se destripavam numa cerimônia sangrenta. Hoje, quando a ideia de honra se desvalorizou ao mínimo, os cavalheiros nipônicos já não se suicidam.
Mas o ritual da imolação se mantém no mundo e agora é coletivo: praticam-no os países que, presas de um desvario passageiro ou prolongado, decidem empobrecer-se, barbarizar-se, corromper-se, ou todas essas coisas juntas.
A América Latina é pródiga em exemplos trágicos. O mais notável é o da Argentina, que há três quartos de século era um país do Primeiro Mundo, próspero, culto, aberto, com um sistema educacional modelar e, de repente, presa da febre peronista, decidiu retroceder e arruinar-se.
O país se submeteu a uma prolongada agonia que, amparada por sucessivos golpes militares e uma heroica perseverança no erro de seus eleitores, persiste até hoje. Esperemos que algum dia os deuses ou o acaso devolvam a sensatez e a lucidez à terra de Sarmiento e de Borges.
Outro caso emblemático de haraquiri político é o da Venezuela. Ela tinha uma democracia imperfeita, é verdade, mas real, com imprensa livre, eleições genuínas, partidos políticos diversos, e mal e mal, o país progredia. Infelizmente, grassavam a corrupção e o desperdício, e isso levou uma maioria de venezuelanos a descrer da democracia e confiar sua sorte a um caudilho messiânico: o comandante Hugo Chávez.
Em oito oportunidades eles puderam corrigir seu erro e não o fizeram, votando todas as vezes por um regime que os levava ao precipício. Hoje eles pagam caro sua cegueira. A ditadura é uma realidade asfixiante, fechou estações de televisão, de rádio e jornais, encheu os cárceres de dissidentes, multiplicou a corrupção a extremos vertiginosos - um dos principais dirigentes militares do regime dirige o narcotráfico, a única indústria que floresce num país onde a economia desandou e a pobreza triplicou - e onde as instituições, desde os juízes até o Conselho Nacional Eleitoral, são subservientes ao poder.
Embora haja uma significativa maioria de venezuelanos que quer voltar à liberdade, isso não será fácil: o governo de Nicolás Maduro demonstrou que, embora inepto para tudo o mais, na hora de fraudar eleições e encarcerar, torturar e assassinar opositores; sua mão não treme.
O haraquiri não é uma especialidade terceiro-mundista, porém. Na civilizada Europa ele também é praticada de tempos em tempos: Hitler e Mussolini chegaram ao poder por vias legais e um bom número de países centro-europeus se atiraram aos braços de Stalin sem maiores pudores. O caso mais recente parece ser o da Grécia, que, em eleições livres, acaba de levar ao poder - com 36% dos votos, o Syriza, um partido demagógico e populista de extrema esquerda que se aliou para governar com uma pequeno grupo de direita ultranacionalista e antieuropeu. O Syriza prometeu uma revolução e o paraíso. No estado catastrófico em que se encontra o país que foi berço da democracia e da cultura ocidental talvez seja compreensível essa catarse sombria do eleitorado. Mas, em vez de superar as pragas que os assolam, essas poderiam recrudescer agora se o novo governo se empenhar em cumprir o que prometeu a seus eleitores.
Essas pragas são uma dívida pública vertiginosa de 317 bilhões de euros com a União Europeia e o sistema financeiro internacional, que resgataram a Grécia da quebra. Ela equivale a 175% do Produto Interno Bruto do país. Desde o início da crise, o PIB da Grécia caiu 25% e a taxa de desemprego chegou perto de 26%. Isso significa o colapso dos serviços públicos, uma queda atroz dos níveis de vida e um crescimento canceroso da pobreza. A se ouvir os dirigentes do Syriza e seu inspirado líder - o novo primeiro-ministro Alexis Tsipras -, essa situação não se deve à inépcia e à corrupção desenfreada dos governos gregos ao longo de várias décadas, que, com irresponsabilidade delirante, chegaram a apresentar balaços e informes econômicos fraudados à UE para dissimular seus desmandos, mas às medidas de austeridade impostas pelos organismos internacionais à Grécia para resgatá-la da impotência a que as más políticas a haviam conduzido.
O Syriza propôs acabar com a austeridade e com as privatizações, renegociar o pagamento da dívida com a condição de que houvesse um cancelamento da maior parte dela, e reativar a economia, o emprego e os serviços com investimentos públicos contínuos. Um milagre equivalente ao de curar um doente terminal fazendo-o correr maratonas.
Desse modo, o povo grego recuperaria uma "soberania" que, ao que parece, a Europa em geral, a troica, o governo da senhora Merkel, em particular, lhe haviam arrebatado.
O melhor que poderia ocorrer é que essas bravatas da campanha eleitoral fossem arquivadas agora que o Syriza tem responsabilidades de governo e, como fez François Hollande na França, ele reconheça que prometeu coisas mentirosas e impossíveis e retifique seu programa com espírito pragmático, o que, sem dúvida, provocará uma decepção terrível entre seus ingênuos eleitores. Se não o fizer, a Grécia poderá enfrentar a bancarrota, a saída do euro e da União Europeia, e afundar no subdesenvolvimento. Há sintomas contraditórios e ainda não está claro se o novo governo grego dará marcha à ré. Ele acaba de propor, em vez do cancelamento, uma fórmula picaresca e velhaca que consiste em converter sua dívida em duas classes de bônus, uns reais, que iriam sendo pagos à medida que sua economia crescesse, e outros fantasmas, que iriam se renovando ao longo da eternidade. França e Itália, também vítimas de graves problemas econômicos, manifestaram não ver com maus olhos semelhante proposta. Ela não prosperará, com certeza, porque nem todo país europeu perdeu o senso de realidade.
Em primeiro lugar, e com muita razão, vários membros da União Europeia, além da Alemanha, recordaram a Grécia de que não aceitam "quitações", nem explícitas nem dissimuladas, e os países devem cumprir seus compromissos. Os mais severos a esse respeito foram Portugal, Espanha e Irlanda, que, depois de grandes sacrifícios, estão saindo da crise depois de cumprir com suas obrigações.
A Grécia deve 26 bilhões à Espanha. A recuperação espanhola custou sangue, suor e lágrimas. Por que os espanhóis teriam de pagar de seus bolsos as más políticas dos governos gregos, além de já estar pagando pelas políticas dos seus? A Alemanha não é culpada de um bom número de países da Europa comunitária estar com sua economia arruinada. A Alemanha teve governos prudentes e competentes, austeros e honrados, e, por isso, enquanto outros países se desestabilizavam, ela crescia e se fortalecia. E convém não esquecer que a Alemanha teve de absorver e ressuscitar um cadáver - a Alemanha comunista - também à custa de formidáveis esforços, sem se queixar, sem pedir ajuda a ninguém, só com o empenho e o estoicismo de seus cidadãos.
Por outro lado, o governo alemão da senhora Merkel é europeísta decidido. A melhor prova disso é a maneira generosa e constante com que apoia, com seus recursos e suas iniciativas, a construção europeia. Só a proliferação dos estereótipos e mitos ideológicos explica esse fenômeno de transferência freudiana que leva a Grécia a culpar o país mais eficiente da União Europeia pelos desastres que provocaram os políticos que, durante tantos anos, o povo grego enviou ao governo com seus votos. /TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Dilma espera o Carnaval chegar - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 08/02
Semana foi uma amostra grátis de desastres que podem se espalhar pelo ano inteiro
DILMA ROUSSEFF deve estar ansiosa pelos dias de amnésia barulhenta ou retiro do Carnaval, pois seu governo samba na frigideira quente de várias crises. Na folga folgazã, talvez a chapa esfrie.
A semana que passou oferece uma amostra grátis de problemas que podem desorientar de vez este governo pelo resto do ano. Caso não se aprume, e tomara que se reoriente, esta administração que mal fez um mês pode se enredar numa espiral de crises políticas e econômicas que se realimentam.
Na semana, houve a debandada da diretoria da Petrobras e o tumulto da nomeação de seu novo presidente, apoteose que provocou um desfile de críticas à presidente da República, entre as quais a de alheamento da realidade.
Ainda nada se sabe do que Aldemir Bendine fará ou poderá fazer da petroleira. Mas sua indicação para o comando da empresa foi interpretada, na melhor das hipóteses, como a continuação das políticas que levaram a Petrobras à quase asfixia financeira e, ainda, das intervenções equivocadas de Dilma 1 na estatal. Dado o tamanho da crise, tal atitude mostraria quão alheada a presidente está do humor do país, ao menos do da elite que se ocupa dessas coisas e dos credores da Petrobras, para não dizer do governo mesmo.
Caso se confirme a hipótese de continuidade, prosseguirá a degradação do crédito da companhia, crise que continuaria a se espalhar por empresas dependentes e contaminaria o restante do ânimo da economia. Nesse caso, para nem falar dos rolos político-policiais, aumentaria a impressão de que o governo perdeu o controle da situação, o que, por sua vez, contribuiria para solapar ainda mais o prestígio político da presidente. Figuras fracas ficam sujeitas a abutres.
O tumulto no setor de petróleo, construção naval, civil e mesmo finanças pode piorar por outros motivos. A nova fase da Lava Jato levanta suspeitas contra mais empresas relevantes, que podem perder crédito e créditos, o que provocaria um dominó de inadimplências.
A nova CPI da Petrobras é em si mesma um nada. Mas trata-se de um exemplo adicional, como se fosse preciso, da animosidade do Congresso em relação à presidente. Isso à beira da denúncia dos políticos com as mãos sujas do Petrolão. O risco aqui é, literalmente, incalculável, e o governo até agora não mostrou que sabe como administrar a crise.
Como se não faltasse tensão, fica mais clara a reação defensiva-agressiva do PT ao novo jorro de acusações contra o partido ou ao menos contra seu tesoureiro. O PT começa a adotar posição de combate ruinoso, um tanto à maneira da época do mensalão: dane-se o teor das denúncias, o negócio é salvar o partido, como se fosse possível fazê-lo sem aceitar uma limpa.
Por fim, o governo Dilma Rousseff começa a pagar a conta da demagogia e de procrastinações eleitoreiras. Para 60% dos brasileiros, a presidente disse mais mentiras do que verdades na campanha. Entre as pessoas com ensino superior, renda maior que dez salários mínimos ou moradores de São Paulo, o descrédito da presidente passa de 70%.
Seu prestígio passou do nível do chão aonde foi no Junho de 2013. Isso quando ainda mal começam a pesar no dia a dia os efeitos da crise: tarifaço, inflação, impostos e desemprego maior.
Semana foi uma amostra grátis de desastres que podem se espalhar pelo ano inteiro
DILMA ROUSSEFF deve estar ansiosa pelos dias de amnésia barulhenta ou retiro do Carnaval, pois seu governo samba na frigideira quente de várias crises. Na folga folgazã, talvez a chapa esfrie.
A semana que passou oferece uma amostra grátis de problemas que podem desorientar de vez este governo pelo resto do ano. Caso não se aprume, e tomara que se reoriente, esta administração que mal fez um mês pode se enredar numa espiral de crises políticas e econômicas que se realimentam.
Na semana, houve a debandada da diretoria da Petrobras e o tumulto da nomeação de seu novo presidente, apoteose que provocou um desfile de críticas à presidente da República, entre as quais a de alheamento da realidade.
Ainda nada se sabe do que Aldemir Bendine fará ou poderá fazer da petroleira. Mas sua indicação para o comando da empresa foi interpretada, na melhor das hipóteses, como a continuação das políticas que levaram a Petrobras à quase asfixia financeira e, ainda, das intervenções equivocadas de Dilma 1 na estatal. Dado o tamanho da crise, tal atitude mostraria quão alheada a presidente está do humor do país, ao menos do da elite que se ocupa dessas coisas e dos credores da Petrobras, para não dizer do governo mesmo.
Caso se confirme a hipótese de continuidade, prosseguirá a degradação do crédito da companhia, crise que continuaria a se espalhar por empresas dependentes e contaminaria o restante do ânimo da economia. Nesse caso, para nem falar dos rolos político-policiais, aumentaria a impressão de que o governo perdeu o controle da situação, o que, por sua vez, contribuiria para solapar ainda mais o prestígio político da presidente. Figuras fracas ficam sujeitas a abutres.
O tumulto no setor de petróleo, construção naval, civil e mesmo finanças pode piorar por outros motivos. A nova fase da Lava Jato levanta suspeitas contra mais empresas relevantes, que podem perder crédito e créditos, o que provocaria um dominó de inadimplências.
A nova CPI da Petrobras é em si mesma um nada. Mas trata-se de um exemplo adicional, como se fosse preciso, da animosidade do Congresso em relação à presidente. Isso à beira da denúncia dos políticos com as mãos sujas do Petrolão. O risco aqui é, literalmente, incalculável, e o governo até agora não mostrou que sabe como administrar a crise.
Como se não faltasse tensão, fica mais clara a reação defensiva-agressiva do PT ao novo jorro de acusações contra o partido ou ao menos contra seu tesoureiro. O PT começa a adotar posição de combate ruinoso, um tanto à maneira da época do mensalão: dane-se o teor das denúncias, o negócio é salvar o partido, como se fosse possível fazê-lo sem aceitar uma limpa.
Por fim, o governo Dilma Rousseff começa a pagar a conta da demagogia e de procrastinações eleitoreiras. Para 60% dos brasileiros, a presidente disse mais mentiras do que verdades na campanha. Entre as pessoas com ensino superior, renda maior que dez salários mínimos ou moradores de São Paulo, o descrédito da presidente passa de 70%.
Seu prestígio passou do nível do chão aonde foi no Junho de 2013. Isso quando ainda mal começam a pesar no dia a dia os efeitos da crise: tarifaço, inflação, impostos e desemprego maior.
O mensalão virou fichinha - BERNARDO MELLO FRANCO
FOLHA DE SP - 08/02
BRASÍLIA - Não é só no volume de dinheiro desviado que o assalto à Petrobras já se tornou maior que o mensalão. Seu impacto sobre a avaliação do governo também ultrapassa de longe o do escândalo de 2005, mostra a nova pesquisa Datafolha.
Quando Lula vivia o pior momento, com seu principal ministro acusado de comprar apoio de políticos no Congresso, 29% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo. Agora são 44% os que reprovam a administração de Dilma Rousseff.
A corrupção encostou na saúde como o problema que mais preocupa as pessoas. E o petrolão começou a contaminar a imagem da presidente, que passou a ser vista como "desonesta" por 47% dos entrevistados.
A indignação com os desvios se soma à apreensão com a economia. O medo do desemprego disparou, e quatro em cada cinco pessoas acreditam que a inflação vai subir mais.
Na sexta-feira, o IBGE informou que a alta de preços em janeiro bateu um recorde de 12 anos. O que está ruim deve piorar em breve, com o reajuste nas contas de luz.
Na campanha, o PT dizia que a comida sumiria da mesa das famílias se a oposição chegasse ao poder. As famílias reelegeram Dilma e agora reagem ao se ver sob a mesma ameaça.
Nem o tucano mais fanático poderia imaginar um quadro como o de hoje: a presidente se reelegeu e, depois de apenas três meses, seu governo parece se desmanchar.
A falta de água, o risco de apagão e um Congresso mais hostil do que nunca completam a equação explosiva. Não é à toa que a hipótese de um processo de impeachment passou a rondar as conversas em Brasília, embora ainda não haja provas de envolvimento da presidente no petrolão.
Em 2005, Lula se disse traído, jogou aliados ao mar e usou seu carisma único para reagir. A economia ajudou, e ele conseguiu se erguer da lona. Mergulhada em uma crise mais grave e sem a força política do padrinho, Dilma aparenta não ter ideia do que fazer para sair do buraco.
BRASÍLIA - Não é só no volume de dinheiro desviado que o assalto à Petrobras já se tornou maior que o mensalão. Seu impacto sobre a avaliação do governo também ultrapassa de longe o do escândalo de 2005, mostra a nova pesquisa Datafolha.
Quando Lula vivia o pior momento, com seu principal ministro acusado de comprar apoio de políticos no Congresso, 29% dos brasileiros consideravam o governo ruim ou péssimo. Agora são 44% os que reprovam a administração de Dilma Rousseff.
A corrupção encostou na saúde como o problema que mais preocupa as pessoas. E o petrolão começou a contaminar a imagem da presidente, que passou a ser vista como "desonesta" por 47% dos entrevistados.
A indignação com os desvios se soma à apreensão com a economia. O medo do desemprego disparou, e quatro em cada cinco pessoas acreditam que a inflação vai subir mais.
Na sexta-feira, o IBGE informou que a alta de preços em janeiro bateu um recorde de 12 anos. O que está ruim deve piorar em breve, com o reajuste nas contas de luz.
Na campanha, o PT dizia que a comida sumiria da mesa das famílias se a oposição chegasse ao poder. As famílias reelegeram Dilma e agora reagem ao se ver sob a mesma ameaça.
Nem o tucano mais fanático poderia imaginar um quadro como o de hoje: a presidente se reelegeu e, depois de apenas três meses, seu governo parece se desmanchar.
A falta de água, o risco de apagão e um Congresso mais hostil do que nunca completam a equação explosiva. Não é à toa que a hipótese de um processo de impeachment passou a rondar as conversas em Brasília, embora ainda não haja provas de envolvimento da presidente no petrolão.
Em 2005, Lula se disse traído, jogou aliados ao mar e usou seu carisma único para reagir. A economia ajudou, e ele conseguiu se erguer da lona. Mergulhada em uma crise mais grave e sem a força política do padrinho, Dilma aparenta não ter ideia do que fazer para sair do buraco.
Disparada - CELSO MING
O Estado de S. Paulo - 08/02
O estouro da inflação e a perspectiva de que continue muito alta ao longo de 2015 é novo indicador da rápida deterioração das condições da economia.
Medida em 12 meses, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia resvalado para abaixo dos 6,5% em dezembro para que o governo pudesse entregá-la, ao fim de 2014, sem o estouro do teto da meta. Mas, em janeiro, voltou a dar grande esticada. Foi para 7,14%, a mais alta desde setembro de 2011.
O principal fator que explica essa nova carga é a aplicação da política que pretende eliminar o represamento dos preços e das tarifas administradas, uma das grandes distorções da economia. Esse segmento, que pesa 25% na cesta de consumo, teve aumento médio de preços de 2,5%.
Em outras palavras, a inflação vai enfrentando a fúria dos tarifaços. Começou a ser descarregada sobre o bolso do consumidor alguma coisa perto de 40% de atraso nas correções das tarifas de energia; o reajuste dos preços dos combustíveis e dos transportes urbanos; e o efeito câmbio, ou seja, o encarecimento dos preços dos produtos importados por causa da alta do dólar.
Apenas identificar esses fatores é pouco; é a reação do cachorro que se limita a morder o pau que lhe é atirado, sem entender que há um agressor por trás. O governo anterior (administração Mantega) teve dificuldades para explicar a disparada da inflação. Para tudo, dizia que a economia global não ajudava. Mas, quando tentava encaixar o efeito da economia internacional sobre a inflação brasileira, rodava em falso, porque nos países de economia madura o risco maior é o contrário, é deflação.
A inflação do Brasil está ligada ao estouro das contas públicas. Em 2014, em vez de o governo entregar um superávit primário (sobra de arrecadação), apresentou um rombo de R$ 32,5 bilhões, o equivalente a 0,63% do PIB. Porque gasta demais, o governo cria renda que, por sua vez, puxa a demanda interna, que não vem acompanhada do aumento da oferta. Daí a disparada.
No caso da energia elétrica, o esticão das tarifas não se deu apenas por falta de chuva, que obrigou o Operador Nacional do Sistema Elétrico a despachar energia bem mais cara, produzida pelas usinas térmicas. Deu-se, principalmente, porque o consumo de energia elétrica está crescendo ao ritmo de 3% a 4% ao ano, substancialmente acima da marcha do PIB que resvala para o negativo.
No momento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai realinhando as tarifas administradas, antes contidas; e vai soltando gradualmente o câmbio. E trata de reequilibrar as contas públicas para evitar a criação artificial de renda.
O Banco Central já avisou que a inflação vai disparar ao longo de 2015. Pretende reconduzi-la ao centro da meta, de 4,5%, só em 2016. Para isso, será preciso mais do que puxar pelos juros.
Novas forças estão prontas para outro puxão da inflação. Se for confirmado o racionamento de energia elétrica e de água tratada, além das pressões de demanda, a inflação enfrentará também o choque de oferta: de queda da produção e do investimento. O governo ainda não tem resposta para isso.
O estouro da inflação e a perspectiva de que continue muito alta ao longo de 2015 é novo indicador da rápida deterioração das condições da economia.
Medida em 12 meses, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia resvalado para abaixo dos 6,5% em dezembro para que o governo pudesse entregá-la, ao fim de 2014, sem o estouro do teto da meta. Mas, em janeiro, voltou a dar grande esticada. Foi para 7,14%, a mais alta desde setembro de 2011.
O principal fator que explica essa nova carga é a aplicação da política que pretende eliminar o represamento dos preços e das tarifas administradas, uma das grandes distorções da economia. Esse segmento, que pesa 25% na cesta de consumo, teve aumento médio de preços de 2,5%.
Em outras palavras, a inflação vai enfrentando a fúria dos tarifaços. Começou a ser descarregada sobre o bolso do consumidor alguma coisa perto de 40% de atraso nas correções das tarifas de energia; o reajuste dos preços dos combustíveis e dos transportes urbanos; e o efeito câmbio, ou seja, o encarecimento dos preços dos produtos importados por causa da alta do dólar.
Apenas identificar esses fatores é pouco; é a reação do cachorro que se limita a morder o pau que lhe é atirado, sem entender que há um agressor por trás. O governo anterior (administração Mantega) teve dificuldades para explicar a disparada da inflação. Para tudo, dizia que a economia global não ajudava. Mas, quando tentava encaixar o efeito da economia internacional sobre a inflação brasileira, rodava em falso, porque nos países de economia madura o risco maior é o contrário, é deflação.
A inflação do Brasil está ligada ao estouro das contas públicas. Em 2014, em vez de o governo entregar um superávit primário (sobra de arrecadação), apresentou um rombo de R$ 32,5 bilhões, o equivalente a 0,63% do PIB. Porque gasta demais, o governo cria renda que, por sua vez, puxa a demanda interna, que não vem acompanhada do aumento da oferta. Daí a disparada.
No caso da energia elétrica, o esticão das tarifas não se deu apenas por falta de chuva, que obrigou o Operador Nacional do Sistema Elétrico a despachar energia bem mais cara, produzida pelas usinas térmicas. Deu-se, principalmente, porque o consumo de energia elétrica está crescendo ao ritmo de 3% a 4% ao ano, substancialmente acima da marcha do PIB que resvala para o negativo.
No momento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai realinhando as tarifas administradas, antes contidas; e vai soltando gradualmente o câmbio. E trata de reequilibrar as contas públicas para evitar a criação artificial de renda.
O Banco Central já avisou que a inflação vai disparar ao longo de 2015. Pretende reconduzi-la ao centro da meta, de 4,5%, só em 2016. Para isso, será preciso mais do que puxar pelos juros.
Novas forças estão prontas para outro puxão da inflação. Se for confirmado o racionamento de energia elétrica e de água tratada, além das pressões de demanda, a inflação enfrentará também o choque de oferta: de queda da produção e do investimento. O governo ainda não tem resposta para isso.
O custo da corrupção - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 08/02
Qual o custo da corrupção? Pergunta difícil de responder em números exatos. Hoje, o Brasil já sabe que o preço é intolerável: a maior empresa do país à beira de um precipício, o custo Brasil subindo, o aprofundamento da recessão, risco de contágio de inúmeras empresas. Apesar disso, o governo decidiu abrir a temporada de loteamento de cargos nas estatais e no segundo escalão.
Naquele terreno fugidio entre a economia e a política, as notícias passam e, às vezes, as pessoas nem somam o que acontece nos dois lados. Na política, a presidente está fraca porque foi derrotada na eleição para a Câmara dos Deputados. Além disso, sua articulação política conseguiu a proeza de não ter nenhum petista na mesa da Casa.
Na economia, a maior empresa do país corre perigo pelo saque comandado pelos indicados políticos. A presidente, então, para se fortalecer na política, manda seus articuladores dizerem que fará a distribuição dos cargos do segundo escalão e das empresas públicas em troca de apoio político. Mas se a maior crise do país vem justamente como efeito colateral do loteamento, como se pode falar em mais distribuição de cargos por esse mesmo critério?
Do ponto de vista contábil, os auditores tentam medir a corrupção e têm tido problemas. No demonstrativo financeiro da Petrobras foi dito que pode ser alguma coisa entre R$ 4,06 bilhões e R$ 88,6 bi. O primeiro número foi encontrado através de uma conta simples: 3% do valor dos contratos que pagaram comissão, segundo depoimento de Paulo Roberto Costa. O outro, a diferença entre o valor justo e o valor contábil de 31 dos 52 ativos analisados. Nem tudo é corrupção. Parte desse sobrepreço pode ser resultado de outras ineficiências. Mesmo assim se sabe que a corrupção leva à ineficiência. Para que um contratante, que teve que pagar propina para ganhar uma concorrência, terá interesse em ser eficiente? E o funcionário corrupto, que interesse terá em que o valor sobre o qual incide seu percentual seja menor? Os preços e custos vão para cima e para o alto sempre, em ambiente corroído pelo veneno da corrupção.
Não é trivial fazer o que a Petrobras está tentando junto com seus auditores e com a orientação técnica da CVM e da SEC: saber exatamente como calcular um custo que, pela sua natureza, foge à contabilidade. Nessa direção é que a Petrobras vinha trabalhando desde novembro do ano passado com a PricewaterhouseCoopers (PwC). Agora, a auditoria vai trabalhar com Aldemir Bendine e seus diretores. Qualquer que seja o compromisso que Bendine assumiu de reduzir o valor do abatimento nos ativos, ele terá que seguir normas técnicas dos órgãos reguladores.
Mas, quando houver o número exato da baixa contábil, ainda assim não será o custo da corrupção. O que impressiona neste caso revelado pela Operação Lava-Jato é que foi montado um conglomerado de corrupção. Havia uma holding e depois centros subsidiários de exploração, extração, refino e distribuição de propina. Portanto, a busca do dinheiro perdido é necessária, mas nunca estará completa.
Se todo o dinheiro fosse recuperado, se fosse possível encontrar um valor exato do que foi subtraído da Petrobras, ainda assim não seria o custo total da corrupção. Ela é muito mais cara. A Petrobras e o Brasil perderam reputação. Tente calcular o custo de reconstrução da imagem do país que permitiu que sua maior empresa fosse assaltada para que fossem instalados dinheirodutos para os partidos governistas. O Brasil precisará lutar contra a convicção de que é um país de corrupção endêmica, porque isso afasta investidores.
Se ainda assim fosse possível quantificar o dinheiro tirado da Petrobras, os sobrepreços causados direta ou indiretamente pelo ambiente de corrupção que se instalou na empresa, a deterioração da imagem da empresa e do país, o custo da piora do risco Brasil, não seria o preço total da corrupção.
Seria preciso contabilizar também o intangível custo da depreciação do ativo maior: a confiança na democracia. Como evitar que os brasileiros comecem a perder a fé na democracia? O que se vê são os intestinos de um esquema que transformou a mais mítica das empresas brasileiras em local de botim do partido que nos governa e seus aliados. Esse ataque à Petrobras nos tem tirado mais do que podemos calcular.
Qual o custo da corrupção? Pergunta difícil de responder em números exatos. Hoje, o Brasil já sabe que o preço é intolerável: a maior empresa do país à beira de um precipício, o custo Brasil subindo, o aprofundamento da recessão, risco de contágio de inúmeras empresas. Apesar disso, o governo decidiu abrir a temporada de loteamento de cargos nas estatais e no segundo escalão.
Naquele terreno fugidio entre a economia e a política, as notícias passam e, às vezes, as pessoas nem somam o que acontece nos dois lados. Na política, a presidente está fraca porque foi derrotada na eleição para a Câmara dos Deputados. Além disso, sua articulação política conseguiu a proeza de não ter nenhum petista na mesa da Casa.
Na economia, a maior empresa do país corre perigo pelo saque comandado pelos indicados políticos. A presidente, então, para se fortalecer na política, manda seus articuladores dizerem que fará a distribuição dos cargos do segundo escalão e das empresas públicas em troca de apoio político. Mas se a maior crise do país vem justamente como efeito colateral do loteamento, como se pode falar em mais distribuição de cargos por esse mesmo critério?
Do ponto de vista contábil, os auditores tentam medir a corrupção e têm tido problemas. No demonstrativo financeiro da Petrobras foi dito que pode ser alguma coisa entre R$ 4,06 bilhões e R$ 88,6 bi. O primeiro número foi encontrado através de uma conta simples: 3% do valor dos contratos que pagaram comissão, segundo depoimento de Paulo Roberto Costa. O outro, a diferença entre o valor justo e o valor contábil de 31 dos 52 ativos analisados. Nem tudo é corrupção. Parte desse sobrepreço pode ser resultado de outras ineficiências. Mesmo assim se sabe que a corrupção leva à ineficiência. Para que um contratante, que teve que pagar propina para ganhar uma concorrência, terá interesse em ser eficiente? E o funcionário corrupto, que interesse terá em que o valor sobre o qual incide seu percentual seja menor? Os preços e custos vão para cima e para o alto sempre, em ambiente corroído pelo veneno da corrupção.
Não é trivial fazer o que a Petrobras está tentando junto com seus auditores e com a orientação técnica da CVM e da SEC: saber exatamente como calcular um custo que, pela sua natureza, foge à contabilidade. Nessa direção é que a Petrobras vinha trabalhando desde novembro do ano passado com a PricewaterhouseCoopers (PwC). Agora, a auditoria vai trabalhar com Aldemir Bendine e seus diretores. Qualquer que seja o compromisso que Bendine assumiu de reduzir o valor do abatimento nos ativos, ele terá que seguir normas técnicas dos órgãos reguladores.
Mas, quando houver o número exato da baixa contábil, ainda assim não será o custo da corrupção. O que impressiona neste caso revelado pela Operação Lava-Jato é que foi montado um conglomerado de corrupção. Havia uma holding e depois centros subsidiários de exploração, extração, refino e distribuição de propina. Portanto, a busca do dinheiro perdido é necessária, mas nunca estará completa.
Se todo o dinheiro fosse recuperado, se fosse possível encontrar um valor exato do que foi subtraído da Petrobras, ainda assim não seria o custo total da corrupção. Ela é muito mais cara. A Petrobras e o Brasil perderam reputação. Tente calcular o custo de reconstrução da imagem do país que permitiu que sua maior empresa fosse assaltada para que fossem instalados dinheirodutos para os partidos governistas. O Brasil precisará lutar contra a convicção de que é um país de corrupção endêmica, porque isso afasta investidores.
Se ainda assim fosse possível quantificar o dinheiro tirado da Petrobras, os sobrepreços causados direta ou indiretamente pelo ambiente de corrupção que se instalou na empresa, a deterioração da imagem da empresa e do país, o custo da piora do risco Brasil, não seria o preço total da corrupção.
Seria preciso contabilizar também o intangível custo da depreciação do ativo maior: a confiança na democracia. Como evitar que os brasileiros comecem a perder a fé na democracia? O que se vê são os intestinos de um esquema que transformou a mais mítica das empresas brasileiras em local de botim do partido que nos governa e seus aliados. Esse ataque à Petrobras nos tem tirado mais do que podemos calcular.
A força da realidade - PEDRO MALAN
O ESTADO DE S.PAULO - 08/02
"Entendo os que são contra, esta é uma posição que já foi minha", disse o então presidente da República Ernesto Geisel, cerca de 40 anos atrás, em cadeia nacional de televisão, ao anunciar, entre outras decisões, a abertura do Brasil a investimentos privados na área do petróleo por meio de contratos de risco. Cartas a um Jovem Petroleiro, do qual extrai a lembrança acima, é um excelente livro de Jorge Camargo, que trabalhou por 27 anos na Petrobrás, onde fez brilhante carreira. Livro para todos os interessados no setor, na Petrobrás e na grande crise que ela ora atravessa.
Esta sugere que há algo mais disfuncional no processo decisório do governo brasileiro, desde a crise de 2008/9, que se vem agravando nos últimos quatro anos. Embora seja sempre possível buscar raízes históricas mais profundas, este artigo procura apenas sugerir que há elementos comuns em áreas em que estamos enredados, como Petrobrás, energia elétrica e concessões ao setor privado em infraestrutura. Para não mencionar o meritório, imperativo e inadiável esforço ora em andamento para recuperar uma credibilidade na área fiscal que havia praticamente desaparecido ao final de 2014.
A propósito, vale lembrar uma observação de Jared Diamond. "Mesmo quando uma sociedade foi capaz de antecipar, perceber e tentar resolver um problema, ela pode ainda fracassar em fazê-lo, por óbvias razões possíveis: o problema pode estar além das suas capacidades; a solução pode existir, mas ser proibitivamente custosa; os esforços podem ser do tipo muito pouco e muito tarde; e algumas soluções tentadas podem agravar o problema." Não nos faltam exemplos de situações como essas.
No caso da Petrobrás, é possível argumentar que, mesmo na ausência da Operação Lava Jato, a empresa teria de rever seus planos de investimentos e seu plano de negócios em função de fatos econômicos e financeiros internos e externos. O preço do barril do petróleo desabou, mas não desabaram os custos de produzi-lo. O programa de investimento da Petrobrás, que contemplava para os próximos cinco anos um investimento médio anual de US$ 44 bilhões, terá de ser revisto. A dívida da empresa, que é quase 80% em dólar, tem seu serviço em reais aumentado com câmbio mais desvalorizado.
A obrigatoriedade de ter a Petrobrás como operadora de todos os campos do pré-sal e com pelo menos 30% de participação passou a representar um ônus excessivo para a empresa, que já tem uma relação dívida/geração de caixa de cerca de 5. A exigência de conteúdo nacional vem causando atrasos e estouro de orçamento. A Sete Brasil é um problema. Em suma, a decisão anunciada em 7 de setembro de 2009 (data escolhida a dedo) de mudar o regime de concessão para partilha vem gerando para a Petrobrás problemas que teria de enfrentar mesmo se não estivesse em curso a Operação Lava Jato. A empresa, com excelentes quadros técnicos, não merecia passar pelo que está passando - preço sendo pago pela indevida aparelhagem política na última década.
Na área de energia elétrica, há certamente o peso negativo da maior escassez hídrica em décadas, mas o inevitável racionamento (ou que nome venha a ter) não se deve apenas a esse fator. A desastrada decisão política anunciada também num 7 de setembro (2012) e consubstanciada na MP 579, de fim daquele ano, teve consequências desastrosas, que os consumidores e contribuintes estão pagando em suas contas desde 2014 - e continuarão a pagar por mais alguns anos. Excesso de voluntarismo, arrogância e pressa eleitoral não costumam ser bons conselheiros. O ganho de curto prazo (a passageira redução de tarifas em 2013) transformou-se para os consumidores em salgada conta por anos à frente e desestruturou o equilíbrio financeiro das empresas do setor. Para quê, mesmo? Jared Diamond teria mais um exemplo para sua coleção de disfuncionalidades de processos decisórios.
Sobre o processo decisório no mais alto dos níveis, vale lembrar algo do que disse o ex-presidente Lula em longa e memorável entrevista ao Valor em 17/9/2009. "Tenho cobrado sistematicamente da Vale a construção de siderúrgicas no País. A Vale não pode se dar ao luxo de exportar apenas minério de ferro. (...) A Petrobrás apresentou estudo mostrando que deveria adiar o cronograma de investimentos dela. Convoquei o conselho da Petrobrás para dizer: olha, este é um momento em que não se pode recuar. (...) Que a Petrobrás construa refinarias, estimule a construção de estaleiros. Leva uma refinaria para o Ceará, um estaleiro para Pernambuco. Este é o papel do governo. (...) Não pense que foi fácil fazer o Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa em São Paulo. (...) Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação. (...) Não conheço ninguém que tenha a capacidade gerencial da Dilma."
É mais fácil enganar os outros que convencê-los de que foram enganados, teria dito Mark Twain. Mas Eduardo Gianetti, em seu magnífico Auto-Engano, argumenta com brilho que ainda mais fácil que enganar os outros é enganar a si mesmo. Nietzsche deu um bom exemplo, em seu estilo inconfundível: "Eu fiz isto, diz minha memória. Eu não posso ter feito isto, diz meu orgulho. E permanece inflexível. A memória cede".
A frase de Geisel que abre este artigo é um bom exemplo de que a realidade por vezes se impõe com força (no caso, a quase quadruplicação dos preços do petróleo e suas consequências para um país como o nosso, que importava mais de 85% do seu consumo doméstico). E isso exigiu, como reconheceu o então presidente, mudanças de antigas e caras posições. Orgulho e memória cederam à realidade.
O processo decisório hoje no Brasil parece, com frequência, ser refém de uma mistura de orgulho, seletiva memória e dificuldades em reconhecer que as consequências das ações e omissões passadas sempre acabam por nos alcançar - não apenas o governo, mas todos os brasileiros.
"Entendo os que são contra, esta é uma posição que já foi minha", disse o então presidente da República Ernesto Geisel, cerca de 40 anos atrás, em cadeia nacional de televisão, ao anunciar, entre outras decisões, a abertura do Brasil a investimentos privados na área do petróleo por meio de contratos de risco. Cartas a um Jovem Petroleiro, do qual extrai a lembrança acima, é um excelente livro de Jorge Camargo, que trabalhou por 27 anos na Petrobrás, onde fez brilhante carreira. Livro para todos os interessados no setor, na Petrobrás e na grande crise que ela ora atravessa.
Esta sugere que há algo mais disfuncional no processo decisório do governo brasileiro, desde a crise de 2008/9, que se vem agravando nos últimos quatro anos. Embora seja sempre possível buscar raízes históricas mais profundas, este artigo procura apenas sugerir que há elementos comuns em áreas em que estamos enredados, como Petrobrás, energia elétrica e concessões ao setor privado em infraestrutura. Para não mencionar o meritório, imperativo e inadiável esforço ora em andamento para recuperar uma credibilidade na área fiscal que havia praticamente desaparecido ao final de 2014.
A propósito, vale lembrar uma observação de Jared Diamond. "Mesmo quando uma sociedade foi capaz de antecipar, perceber e tentar resolver um problema, ela pode ainda fracassar em fazê-lo, por óbvias razões possíveis: o problema pode estar além das suas capacidades; a solução pode existir, mas ser proibitivamente custosa; os esforços podem ser do tipo muito pouco e muito tarde; e algumas soluções tentadas podem agravar o problema." Não nos faltam exemplos de situações como essas.
No caso da Petrobrás, é possível argumentar que, mesmo na ausência da Operação Lava Jato, a empresa teria de rever seus planos de investimentos e seu plano de negócios em função de fatos econômicos e financeiros internos e externos. O preço do barril do petróleo desabou, mas não desabaram os custos de produzi-lo. O programa de investimento da Petrobrás, que contemplava para os próximos cinco anos um investimento médio anual de US$ 44 bilhões, terá de ser revisto. A dívida da empresa, que é quase 80% em dólar, tem seu serviço em reais aumentado com câmbio mais desvalorizado.
A obrigatoriedade de ter a Petrobrás como operadora de todos os campos do pré-sal e com pelo menos 30% de participação passou a representar um ônus excessivo para a empresa, que já tem uma relação dívida/geração de caixa de cerca de 5. A exigência de conteúdo nacional vem causando atrasos e estouro de orçamento. A Sete Brasil é um problema. Em suma, a decisão anunciada em 7 de setembro de 2009 (data escolhida a dedo) de mudar o regime de concessão para partilha vem gerando para a Petrobrás problemas que teria de enfrentar mesmo se não estivesse em curso a Operação Lava Jato. A empresa, com excelentes quadros técnicos, não merecia passar pelo que está passando - preço sendo pago pela indevida aparelhagem política na última década.
Na área de energia elétrica, há certamente o peso negativo da maior escassez hídrica em décadas, mas o inevitável racionamento (ou que nome venha a ter) não se deve apenas a esse fator. A desastrada decisão política anunciada também num 7 de setembro (2012) e consubstanciada na MP 579, de fim daquele ano, teve consequências desastrosas, que os consumidores e contribuintes estão pagando em suas contas desde 2014 - e continuarão a pagar por mais alguns anos. Excesso de voluntarismo, arrogância e pressa eleitoral não costumam ser bons conselheiros. O ganho de curto prazo (a passageira redução de tarifas em 2013) transformou-se para os consumidores em salgada conta por anos à frente e desestruturou o equilíbrio financeiro das empresas do setor. Para quê, mesmo? Jared Diamond teria mais um exemplo para sua coleção de disfuncionalidades de processos decisórios.
Sobre o processo decisório no mais alto dos níveis, vale lembrar algo do que disse o ex-presidente Lula em longa e memorável entrevista ao Valor em 17/9/2009. "Tenho cobrado sistematicamente da Vale a construção de siderúrgicas no País. A Vale não pode se dar ao luxo de exportar apenas minério de ferro. (...) A Petrobrás apresentou estudo mostrando que deveria adiar o cronograma de investimentos dela. Convoquei o conselho da Petrobrás para dizer: olha, este é um momento em que não se pode recuar. (...) Que a Petrobrás construa refinarias, estimule a construção de estaleiros. Leva uma refinaria para o Ceará, um estaleiro para Pernambuco. Este é o papel do governo. (...) Não pense que foi fácil fazer o Banco do Brasil comprar a Nossa Caixa em São Paulo. (...) Quando fui comprar 50% do Votorantim, tive que me lixar para a especulação. (...) Não conheço ninguém que tenha a capacidade gerencial da Dilma."
É mais fácil enganar os outros que convencê-los de que foram enganados, teria dito Mark Twain. Mas Eduardo Gianetti, em seu magnífico Auto-Engano, argumenta com brilho que ainda mais fácil que enganar os outros é enganar a si mesmo. Nietzsche deu um bom exemplo, em seu estilo inconfundível: "Eu fiz isto, diz minha memória. Eu não posso ter feito isto, diz meu orgulho. E permanece inflexível. A memória cede".
A frase de Geisel que abre este artigo é um bom exemplo de que a realidade por vezes se impõe com força (no caso, a quase quadruplicação dos preços do petróleo e suas consequências para um país como o nosso, que importava mais de 85% do seu consumo doméstico). E isso exigiu, como reconheceu o então presidente, mudanças de antigas e caras posições. Orgulho e memória cederam à realidade.
O processo decisório hoje no Brasil parece, com frequência, ser refém de uma mistura de orgulho, seletiva memória e dificuldades em reconhecer que as consequências das ações e omissões passadas sempre acabam por nos alcançar - não apenas o governo, mas todos os brasileiros.
Racionamento - mal necessário? - SUELY CALDAS
O ESTADO DE S.PAULO - 08/02
Brasil, Argentina e Venezuela vivem atualmente preocupante e infeliz cenário comum: para qualquer lugar que se olhe só se veem péssimas notícias. Os venezuelanos enfrentam escassez e longas filas para comprar alimentos, papel higiênico, fraldas e até remédios. Na Argentina, além de inflação alta, descrédito e fuga de investimentos, o governo Cristina Kirchner é suspeito de mandar matar o promotor Alberto Nisman, que apresentaria provas contra a presidente no dia seguinte ao assassinato. E, no Brasil, as manchetes na imprensa se revezam entre racionamento de água e de luz, corrupção e o afundamento da Petrobrás. Não são coincidências políticas ao acaso. O que há de comum entre os três países é o bronco e desastrado viés ideológico que seus governantes tentaram impor à economia nos últimos anos, que levou a uma sucessão de erros de gestão e agora é imposto à população um preço muito alto a pagar.
Como no primeiro mandato, também agora faltam ao governo Dilma prevenção, organização e planejamento para evitar catástrofes. E sobram soluções marqueteiras para falsear a realidade. A premência em adotar o racionamento de energia é uma dessas catástrofes preanunciadas que o governo resiste em reconhecer, deixando a população tensa e insegura com o que está por vir. Afinal, o que vai acontecer se não chover na cabeceira dos rios e os reservatórios das usinas secarem? Hospitais sem cirurgias, escolas sem aulas, comércio sem vendas, indústrias sem produção, bancos e tudo o que depender de redes de computação parados. Impensáveis as consequências de um racionamento de emergência, sem avisos nem planejamento. É o caos.
É óbvio que nenhum governo gosta da ideia - além de impopular, racionar energia penaliza a economia e pode levar à recessão, desemprego, etc. Pior ainda em 2015, quando as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) apontam para uma retração de 0,5%. Mas, se a escassez de chuvas se prolonga e ela se torna inevitável, é obrigação do governo se antecipar e preparar um plano para enfrentar o pior. Que pode nem ser aplicado (se do céu cair água em abundância). A pior alternativa é cruzar os braços, nada fazer e esperar...
Os sinais são crescentemente preocupantes. Na quarta-feira o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico deu alerta: o risco de déficit de energia nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste aumentou de 4,9% para 7,3%, ultrapassando o limite de 5% tolerado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Mesmo colocando em uso a carga total das térmicas, esse porcentual ainda fica acima do limite, vai para 6,1%. Outro alerta veio de especialistas do Instituto de Pós-Graduação da UFRJ: o governo desconhece o volume exato de água que as hidrelétricas usam para gerar energia, a situação pode ser pior e a solução é mesmo recorrer ao racionamento. O diretor do instituto e ex-presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, garante que a água armazenada nos reservatórios do Sudeste dura para apenas um mês, patamar mais baixo do que antes do racionamento de 2001.
A esse quadro o governo tem acenado com paliativos tão fracos quanto inócuos, propondo aos shoppings que usem energia de seus geradores (o que alguns já fazem); às indústrias que economizem - mesmo que implique queda da produção - e vendam a energia própria excedente; às empresas geradoras que invistam em fontes alternativas, como biomassa, eólicas e solar (solução de médio prazo); e importar energia da Argentina em dias de pico de consumo, o que já vem ocorrendo.
Aquele racionamento vigorou entre 1.º/7/2001 a 19/2/2002. Como agora, a seca foi se agravando e o governo FHC postergava a solução. Ministério de Minas e Energia, Aneel e o Operador Nacional do Sistema ensaiaram o jogo do empurra-empurra de responsabilidades até a situação chegar ao limite, em maio. Paliativos foram frustrados, tornando inevitável o racionamento, que fixava a meta de 20% de economia no consumo em cada casa ou empresa, com premiação para quem cumprisse a meta e punição variada aos faltosos, até o corte de luz. Deu certo.
Brasil, Argentina e Venezuela vivem atualmente preocupante e infeliz cenário comum: para qualquer lugar que se olhe só se veem péssimas notícias. Os venezuelanos enfrentam escassez e longas filas para comprar alimentos, papel higiênico, fraldas e até remédios. Na Argentina, além de inflação alta, descrédito e fuga de investimentos, o governo Cristina Kirchner é suspeito de mandar matar o promotor Alberto Nisman, que apresentaria provas contra a presidente no dia seguinte ao assassinato. E, no Brasil, as manchetes na imprensa se revezam entre racionamento de água e de luz, corrupção e o afundamento da Petrobrás. Não são coincidências políticas ao acaso. O que há de comum entre os três países é o bronco e desastrado viés ideológico que seus governantes tentaram impor à economia nos últimos anos, que levou a uma sucessão de erros de gestão e agora é imposto à população um preço muito alto a pagar.
Como no primeiro mandato, também agora faltam ao governo Dilma prevenção, organização e planejamento para evitar catástrofes. E sobram soluções marqueteiras para falsear a realidade. A premência em adotar o racionamento de energia é uma dessas catástrofes preanunciadas que o governo resiste em reconhecer, deixando a população tensa e insegura com o que está por vir. Afinal, o que vai acontecer se não chover na cabeceira dos rios e os reservatórios das usinas secarem? Hospitais sem cirurgias, escolas sem aulas, comércio sem vendas, indústrias sem produção, bancos e tudo o que depender de redes de computação parados. Impensáveis as consequências de um racionamento de emergência, sem avisos nem planejamento. É o caos.
É óbvio que nenhum governo gosta da ideia - além de impopular, racionar energia penaliza a economia e pode levar à recessão, desemprego, etc. Pior ainda em 2015, quando as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) apontam para uma retração de 0,5%. Mas, se a escassez de chuvas se prolonga e ela se torna inevitável, é obrigação do governo se antecipar e preparar um plano para enfrentar o pior. Que pode nem ser aplicado (se do céu cair água em abundância). A pior alternativa é cruzar os braços, nada fazer e esperar...
Os sinais são crescentemente preocupantes. Na quarta-feira o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico deu alerta: o risco de déficit de energia nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste aumentou de 4,9% para 7,3%, ultrapassando o limite de 5% tolerado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE). Mesmo colocando em uso a carga total das térmicas, esse porcentual ainda fica acima do limite, vai para 6,1%. Outro alerta veio de especialistas do Instituto de Pós-Graduação da UFRJ: o governo desconhece o volume exato de água que as hidrelétricas usam para gerar energia, a situação pode ser pior e a solução é mesmo recorrer ao racionamento. O diretor do instituto e ex-presidente da Eletrobrás, Luiz Pinguelli Rosa, garante que a água armazenada nos reservatórios do Sudeste dura para apenas um mês, patamar mais baixo do que antes do racionamento de 2001.
A esse quadro o governo tem acenado com paliativos tão fracos quanto inócuos, propondo aos shoppings que usem energia de seus geradores (o que alguns já fazem); às indústrias que economizem - mesmo que implique queda da produção - e vendam a energia própria excedente; às empresas geradoras que invistam em fontes alternativas, como biomassa, eólicas e solar (solução de médio prazo); e importar energia da Argentina em dias de pico de consumo, o que já vem ocorrendo.
Aquele racionamento vigorou entre 1.º/7/2001 a 19/2/2002. Como agora, a seca foi se agravando e o governo FHC postergava a solução. Ministério de Minas e Energia, Aneel e o Operador Nacional do Sistema ensaiaram o jogo do empurra-empurra de responsabilidades até a situação chegar ao limite, em maio. Paliativos foram frustrados, tornando inevitável o racionamento, que fixava a meta de 20% de economia no consumo em cada casa ou empresa, com premiação para quem cumprisse a meta e punição variada aos faltosos, até o corte de luz. Deu certo.
Por que Dilma erra - ELIANE CANTANHÊDE
O ESTADÃO - 08/02
A escolha de Aldemir Bendine para a Petrobrás é uma síntese dos erros de Dilma Rousseff: teimosia, arrogância, escolhas erradas, incapacidade de olhar ao redor. Resultado? Isolamento.
A queda de Graça Foster abriu uma janela de oportunidades para o governo mostrar que “agora, vai!”. A alternativa era acertar ou acertar, para iniciar uma nova fase e interferir positivamente no rumo das coisas, no tom do noticiário e no humor geral. Dilma jogou fora. Vejamos.
Teimosia: depois de meses respirando artificialmente, Foster caiu quando o seu caráter falou mais alto do que a conveniência e a vaidade e ela decidiu expor publicamente as projeções de perdas bilionárias com a roubalheira na Petrobrás. Dilma ficou uma fera e só por isso fez o que deveria ter feito havia tempos. E fez de mau jeito.
Arrogância: o ex-presidente Lula tinha razão ao sugerir Henrique Meirelles. Com todas suas chatices e idiossincrasias, Meirelles é homem do mercado, experiente, testado, reconhecido internacionalmente. Seria um choque em si, com dois efeitos imediatos: as bolsas disparariam e os ânimos dentro e fora seriam outros – em relação à Petrobrás e ao Brasil. Mas, que pena!, Dilma implica com Meirelles. O resultado foi o oposto.
Escolhas erradas: mulher difícil, de personalidade forte, de poucos amigos – e de poucas equipes –, Dilma costuma se cercar de gente que ela mal conhece, mas que pensa o mundo e o País exatamente como ela e que lhe bate continência. Escolhe de frente para o espelho, ou olhando para baixo. Daí as surpresas, e Erenice Guerra é a mais reluzente.
Não olhar em volta: na política, Dilma perdeu feio na eleição para a presidência da Câmara. Na economia, a sequência de notícias ruins é irritante (a última é que a inflação de janeiro é a maior para o mês desde 2003...). A Operação Lava Jato está a jato mesmo. E temos esses probleminhas aí de luz e água. Mas Dilma age como se esse ambiente pavoroso fosse obra cruel de adversários e da imprensa. Lula diz essas coisas por esperteza. Os eleitores petistas, porque precisam acreditar, alimentar a fé. Mas Dilma, aparentemente, acha mesmo.
E chegamos ao isolamento. Petistas se descolam do governo, deputados e senadores de partidos aliados assinam requerimentos de CPIs, o mundo empresarial, financeiro, sindical, acadêmico vê que algo está errado e, quanto mais errado, mais quer distância. Ilhada, Dilma fica ruminando sua ira e multiplicando inimigos reais e imaginários cercada pela meia dúzia que pensa igual a ela. Conversando com o próprio umbigo.
Aldemir Bendine foi alçado em 2009 à presidência do Banco do Brasil dentro da estratégia de Lula de reagir à crise internacional alargando o crédito e fortalecendo o consumo interno. Cumpriu bem a missão, entrega o BB com bons resultados. Mas seu principal cacife é frequentar o Palácio da Alvorada, ajoelhar, rezar e dizer amém para a chefe.
Bendine não é um grande nome da iniciativa privada, não tem dimensão internacional, não tem a autonomia que o momento da Petrobrás exige. E... as páginas da imprensa estão salpicadas de casos constrangedores envolvendo seu nome, como o tal empréstimo do BB à socialite Val Marchiori. Convenhamos, não chega a ser exatamente o homem certo, na hora certa, para apagar o gigantesco incêndio na nossa Petrobrás.
PS – Para melhorar o humor do domingo, diga-se que não há clima de impeachment, discussão perigosa e circunscrita a um nicho de São Paulo, e que Dilma tem algo poderoso a seu favor: o tempo. A casa está desabando, mas o mandato está bem no início e ela tem quatro anos para reforçar os alicerces, recompor as paredes e trocar o telhado (de vidro?). Só não pode continuar errando uma atrás da outra. Aí, depende só dela.
A escolha de Aldemir Bendine para a Petrobrás é uma síntese dos erros de Dilma Rousseff: teimosia, arrogância, escolhas erradas, incapacidade de olhar ao redor. Resultado? Isolamento.
A queda de Graça Foster abriu uma janela de oportunidades para o governo mostrar que “agora, vai!”. A alternativa era acertar ou acertar, para iniciar uma nova fase e interferir positivamente no rumo das coisas, no tom do noticiário e no humor geral. Dilma jogou fora. Vejamos.
Teimosia: depois de meses respirando artificialmente, Foster caiu quando o seu caráter falou mais alto do que a conveniência e a vaidade e ela decidiu expor publicamente as projeções de perdas bilionárias com a roubalheira na Petrobrás. Dilma ficou uma fera e só por isso fez o que deveria ter feito havia tempos. E fez de mau jeito.
Arrogância: o ex-presidente Lula tinha razão ao sugerir Henrique Meirelles. Com todas suas chatices e idiossincrasias, Meirelles é homem do mercado, experiente, testado, reconhecido internacionalmente. Seria um choque em si, com dois efeitos imediatos: as bolsas disparariam e os ânimos dentro e fora seriam outros – em relação à Petrobrás e ao Brasil. Mas, que pena!, Dilma implica com Meirelles. O resultado foi o oposto.
Escolhas erradas: mulher difícil, de personalidade forte, de poucos amigos – e de poucas equipes –, Dilma costuma se cercar de gente que ela mal conhece, mas que pensa o mundo e o País exatamente como ela e que lhe bate continência. Escolhe de frente para o espelho, ou olhando para baixo. Daí as surpresas, e Erenice Guerra é a mais reluzente.
Não olhar em volta: na política, Dilma perdeu feio na eleição para a presidência da Câmara. Na economia, a sequência de notícias ruins é irritante (a última é que a inflação de janeiro é a maior para o mês desde 2003...). A Operação Lava Jato está a jato mesmo. E temos esses probleminhas aí de luz e água. Mas Dilma age como se esse ambiente pavoroso fosse obra cruel de adversários e da imprensa. Lula diz essas coisas por esperteza. Os eleitores petistas, porque precisam acreditar, alimentar a fé. Mas Dilma, aparentemente, acha mesmo.
E chegamos ao isolamento. Petistas se descolam do governo, deputados e senadores de partidos aliados assinam requerimentos de CPIs, o mundo empresarial, financeiro, sindical, acadêmico vê que algo está errado e, quanto mais errado, mais quer distância. Ilhada, Dilma fica ruminando sua ira e multiplicando inimigos reais e imaginários cercada pela meia dúzia que pensa igual a ela. Conversando com o próprio umbigo.
Aldemir Bendine foi alçado em 2009 à presidência do Banco do Brasil dentro da estratégia de Lula de reagir à crise internacional alargando o crédito e fortalecendo o consumo interno. Cumpriu bem a missão, entrega o BB com bons resultados. Mas seu principal cacife é frequentar o Palácio da Alvorada, ajoelhar, rezar e dizer amém para a chefe.
Bendine não é um grande nome da iniciativa privada, não tem dimensão internacional, não tem a autonomia que o momento da Petrobrás exige. E... as páginas da imprensa estão salpicadas de casos constrangedores envolvendo seu nome, como o tal empréstimo do BB à socialite Val Marchiori. Convenhamos, não chega a ser exatamente o homem certo, na hora certa, para apagar o gigantesco incêndio na nossa Petrobrás.
PS – Para melhorar o humor do domingo, diga-se que não há clima de impeachment, discussão perigosa e circunscrita a um nicho de São Paulo, e que Dilma tem algo poderoso a seu favor: o tempo. A casa está desabando, mas o mandato está bem no início e ela tem quatro anos para reforçar os alicerces, recompor as paredes e trocar o telhado (de vidro?). Só não pode continuar errando uma atrás da outra. Aí, depende só dela.
O poço é mais fundo - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 08/02
No momento em que o impeachment da presidente Dilma tornou-se tema central do debate político brasileiro, com a própria presidente falando em ter forças para "reagir ao golpismo" e o ex-presidente Lula afirmando que os adversários querem impedir que Dilma cumpra seu mandato, uma pesquisa do Datafolha refletindo o sentimento predominante entre os cidadãos brasileiros coloca mais lenha na fogueira.
No momento em que o impeachment da presidente Dilma tornou-se tema central do debate político brasileiro, com a própria presidente falando em ter forças para "reagir ao golpismo" e o ex-presidente Lula afirmando que os adversários querem impedir que Dilma cumpra seu mandato, uma pesquisa do Datafolha, refletindo o sentimento predominante entre os cidadãos brasileiros, coloca mais lenha na fogueira. A presidente Dilma Rousseff, segundo o Datafolha, teve a maior queda de popularidade de um presidente entre uma pesquisa e outra desde o plano econômico do então presidente Fernando Collor, em 1990. Naquela ocasião, entre março, antes da posse, e junho, a queda foi de 35 pontos (71% para 36%).
Em dezembro passado, já reeleita, Dilma tinha 42% de ótimo/bom e 24% de ruim/péssimo. Agora, os números praticamente se inverteram: tem 23% de ótimo e bom e 44% de ruim e péssimo. Após as manifestações em 2013, depois de uma queda espetacular de 57% de bom e ótimo para apenas 30%, parecia que a presidente tinha chegado ao fundo do poço. A pesquisa de hoje mostra que o poço é mais fundo.
Seis de cada dez entrevistados consideram que Dilma mentiu na campanha eleitoral. Para 46%, falou mais mentiras do que verdades, e esse índice é alto (25%) mesmo entre os petistas. Para 14%, Dilma disse só mentiras na campanha presidencial. O Datafolha registra que essas são as piores marcas de seu governo, e a mais baixa avaliação de um presidente da República desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em dezembro de 1999 (46% de ruim/péssimo).
As duas ocasiões históricas guardam semelhança com este momento do país. Collor teve sua popularidade derrubada pelo confisco da poupança, que acusava Lula de pretender fazer na campanha presidencial, e continuou em crise com as denúncias de corrupção no seu governo. E FHC viu sua popularidade despencar devido à desvalorização do real após ter sido reeleito. Ele prometera que não faria a desvalorização. Desde então, não recuperou suas melhores condições políticas.
O PT na ocasião fez uma campanha pelo impeachment de FHC, baseado justamente na acusação de ter cometido um estelionato eleitoral, e José Dirceu, o principal líder do partido então, argumentou contra os que acusavam os petistas de golpistas: "Qualquer deputado pode pedir à Mesa da Câmara a abertura de processo (de impeachment) contra o presidente da República. Dizer que isso é golpe é falta de assunto."
No caso de Collor, foi o ex-presidente Lula quem comentou o impeachment, anos depois, no programa de Sérgio Groisman na Rede Globo. Sua fala está novamente espalhada pela internet, diante da acusação do PT de que quem defende o impeachment de Dilma quer o golpe na democracia.
Disse Lula: "O que foi gratificante é que tudo aquilo que nós denunciávamos se provou verdadeiro. Não apenas nós, mas uma parte da imprensa denunciava, intelectuais denunciavam, artistas denunciavam, todo mundo sabia por que o passado político do Collor era um passado político tenebroso. Foi uma pena que precisou três anos para provar, mas foi uma coisa importante por que o povo brasileiro, pela primeira vez na América Latina, deu a demonstração de que é possível o mesmo povo que elege o político, destituir esse político. Peço a Deus que o povo brasileiro não esqueça essa lição."
A crise econômica misturou-se à crise política e armou-se o quadro propício ao impeachment de Collor. No caso de FHC, não houve condições políticas para o PT viabilizar o impeachment, e não se caracterizou uma crise na economia, apesar de seu baixo crescimento. Em 2005, o escândalo do mensalão só não resultou no impeachment de Lula porque a economia melhorou, e sua popularidade, mesmo abalada, fazia temer embates sociais nas ruas.
Como se vê pelos fatos e comentários de Lula, o impeachment é um processo mais político do que jurídico, portanto, de longa duração. Depende de que condições sejam estabelecidas, tanto no campo político quanto no econômico, para ser utilizado. Mas nunca pode ser tido como um instrumento antidemocrático.
No momento em que o impeachment da presidente Dilma tornou-se tema central do debate político brasileiro, com a própria presidente falando em ter forças para "reagir ao golpismo" e o ex-presidente Lula afirmando que os adversários querem impedir que Dilma cumpra seu mandato, uma pesquisa do Datafolha refletindo o sentimento predominante entre os cidadãos brasileiros coloca mais lenha na fogueira.
No momento em que o impeachment da presidente Dilma tornou-se tema central do debate político brasileiro, com a própria presidente falando em ter forças para "reagir ao golpismo" e o ex-presidente Lula afirmando que os adversários querem impedir que Dilma cumpra seu mandato, uma pesquisa do Datafolha, refletindo o sentimento predominante entre os cidadãos brasileiros, coloca mais lenha na fogueira. A presidente Dilma Rousseff, segundo o Datafolha, teve a maior queda de popularidade de um presidente entre uma pesquisa e outra desde o plano econômico do então presidente Fernando Collor, em 1990. Naquela ocasião, entre março, antes da posse, e junho, a queda foi de 35 pontos (71% para 36%).
Em dezembro passado, já reeleita, Dilma tinha 42% de ótimo/bom e 24% de ruim/péssimo. Agora, os números praticamente se inverteram: tem 23% de ótimo e bom e 44% de ruim e péssimo. Após as manifestações em 2013, depois de uma queda espetacular de 57% de bom e ótimo para apenas 30%, parecia que a presidente tinha chegado ao fundo do poço. A pesquisa de hoje mostra que o poço é mais fundo.
Seis de cada dez entrevistados consideram que Dilma mentiu na campanha eleitoral. Para 46%, falou mais mentiras do que verdades, e esse índice é alto (25%) mesmo entre os petistas. Para 14%, Dilma disse só mentiras na campanha presidencial. O Datafolha registra que essas são as piores marcas de seu governo, e a mais baixa avaliação de um presidente da República desde Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em dezembro de 1999 (46% de ruim/péssimo).
As duas ocasiões históricas guardam semelhança com este momento do país. Collor teve sua popularidade derrubada pelo confisco da poupança, que acusava Lula de pretender fazer na campanha presidencial, e continuou em crise com as denúncias de corrupção no seu governo. E FHC viu sua popularidade despencar devido à desvalorização do real após ter sido reeleito. Ele prometera que não faria a desvalorização. Desde então, não recuperou suas melhores condições políticas.
O PT na ocasião fez uma campanha pelo impeachment de FHC, baseado justamente na acusação de ter cometido um estelionato eleitoral, e José Dirceu, o principal líder do partido então, argumentou contra os que acusavam os petistas de golpistas: "Qualquer deputado pode pedir à Mesa da Câmara a abertura de processo (de impeachment) contra o presidente da República. Dizer que isso é golpe é falta de assunto."
No caso de Collor, foi o ex-presidente Lula quem comentou o impeachment, anos depois, no programa de Sérgio Groisman na Rede Globo. Sua fala está novamente espalhada pela internet, diante da acusação do PT de que quem defende o impeachment de Dilma quer o golpe na democracia.
Disse Lula: "O que foi gratificante é que tudo aquilo que nós denunciávamos se provou verdadeiro. Não apenas nós, mas uma parte da imprensa denunciava, intelectuais denunciavam, artistas denunciavam, todo mundo sabia por que o passado político do Collor era um passado político tenebroso. Foi uma pena que precisou três anos para provar, mas foi uma coisa importante por que o povo brasileiro, pela primeira vez na América Latina, deu a demonstração de que é possível o mesmo povo que elege o político, destituir esse político. Peço a Deus que o povo brasileiro não esqueça essa lição."
A crise econômica misturou-se à crise política e armou-se o quadro propício ao impeachment de Collor. No caso de FHC, não houve condições políticas para o PT viabilizar o impeachment, e não se caracterizou uma crise na economia, apesar de seu baixo crescimento. Em 2005, o escândalo do mensalão só não resultou no impeachment de Lula porque a economia melhorou, e sua popularidade, mesmo abalada, fazia temer embates sociais nas ruas.
Como se vê pelos fatos e comentários de Lula, o impeachment é um processo mais político do que jurídico, portanto, de longa duração. Depende de que condições sejam estabelecidas, tanto no campo político quanto no econômico, para ser utilizado. Mas nunca pode ser tido como um instrumento antidemocrático.
Sebastião Nery e o petrolão - SACHA CALMON
CORREIO BRAZILIENSE - 08/02
Sebastião Nery, no livro Ninguém me contou, eu vi (de Getúlio a Dilma), relata como nasceu o mensalão: "Tarde de sábado no Restaurante Piantella, o melhor de Brasília. Lula havia ganhado a eleição presidencial de 2002 contra o tucano José Serra e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT, discutindo com o PT gaúcho a formação do novo governo. Um grupo de jornalistas estava a um canto, almoçando e conversando sobre o país, eu junto.
De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira Franco, Gedel Vieira Lima, Henrique Alves, da direção nacional do PMDB, começam a discutir baixinho, quase cochichando. Em poucos instantes, chega o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Nem almoçaram. Beberam pouca coisa, deram telefonemas, saíram rápido.
Nada falaram. Acontecera alguma coisa grave. Voltariam logo.
Um deles voltou e contou a bomba política do fim de semana. Antes de viajar para o Rio Grande do Sul, Lula encarregara José Dirceu, coordenador da equipe de transição e já convidado para ser chefe da Casa Civil, de negociar com o PMDB o apoio a seu governo, em troca dos ministérios de Minas e Energia, Justiça e Previdência, que seriam entregues a senadores e deputados indicados pelo partido.
Lula já havia dito ao PT que eles não podiam esquecer a lição da derrubada de Collor pelo impeachment, que o senador Amir Lando, do PMDB de Rondônia, relator da CPI de PC Farias, havia definido como uma quartelada parlamentar. No Brasil, para governar, era preciso ter sempre maioria no Congresso. O PT tinha que fazer as concessões necessárias.
O primeiro a ser chamado era o PMDB, o maior partido da Câmara e do Senado. Lula mandou José Dirceu acertar com o PMDB, combinaram três ministérios e ficaram todos felizes. Em Porto Alegre, na primeira noite, Lula encontrou a gula voraz do PT gaúcho, que exigia os ministérios de Minas e Energia, da Justiça e da Previdência.
Lula cedeu. Chamou Dirceu e deu ordem para desmanchar o acordo com o PMDB. Dirceu perguntou como conseguiriam maioria no Congresso. "Compra os pequenos partidos" - disse Lula. "Fica mais barato." Dilma virou ministra de Minas e Energia; Tarso Genro, da Justiça; e a Previdência ficou para resolver lá na frente. E assim nasceu o mensalão".
Corria o ano de 2002. Em fins de 2003, o mensalão incendiava a nação. Em 2004, Lula teria plantado na Diretoria de Abastecimento da Petrobras o dr. José Roberto, o Paulinho, hoje o corifeu dos delatores, devido à pressão do PP para que se arranjassem novas fontes de financiamento em favor da base aliada.
Sabedor das coisas desde os primórdios, esse "Paulinho", suas declarações e provas entregues (além de outras que estão sendo investigadas) são nitroglicerina pura. Ninguém sabe onde isso tudo vai dar. Mas não há como obstar o processo. Diferentemente do mensalão, o juiz Moro e a Polícia Federal produziram provas robustas e entrelaçamentos entre os protagonistas da "organização criminosa".
Foi justamente para garantir fundos a um projeto de poder que se teria criado o esquema na empresa de petróleo. O mensalão fora arquitetura complicada e pouco rentável, logo descoberta. São ilações de certos analistas políticos. E não são desarrazoadas. O PT, especialmente o paulista (ABC, Campinas, Ribeirão Preto) já tinha alguma experiência nas áreas do jogo, do lixo e das concessões de linhas transporte coletivo.
Ao cabo não foi pelo repasse de comissões cobradas dos concessionários de serviços públicos que o prefeito Celso Daniel, de São Bernardo, fora assassinado (caso até hoje irresolvido)? A Petrobras terá sido um achado valioso que retomou a captura de recursos para as campanhas eleitorais do PT e da base aliada, em todas as disputas pelo comando da República brasileira e das estatais, contratos e obras.
À Justiça cabe agora a palavra final. As dos juízes para os crimes dos réus comuns. A do STF e STJ para os parlamentares e demais autoridades com prorrogativa de foro. Com a saída de Joaquim Barbosa, o povo aguarda o desfecho desse negativo capítulo de nossa história, entre crédulo na justiça e desconfiado do Poder Judiciário.
Dilma e a base aliada devem estar cientes - contados os votos anulados em branco - de que apenas 38% do colégio eleitoral formou o governo atual e que a oposição obteve expressiva votação de apoiadores. O país continua dividido. A quantidade dos que desertaram do voto é preocupante (desilusão política). Eles nos observam atentamente, tanto a situação quanto a oposição.
Atravessamos o momento mais perigoso de nossa história econômica recente. A responsabilidade é inteiramente do PT, herdeiro das próprias gestões. A herança que tiveram foi de grande monta: um país estabilizado pelo fantástico Plano Real, que domou a inflação (antes era de 480% ao ano ou mais). As novas gerações precisam ser informadas do nosso passado desde a redemocratização em 1988.
Sebastião Nery, no livro Ninguém me contou, eu vi (de Getúlio a Dilma), relata como nasceu o mensalão: "Tarde de sábado no Restaurante Piantella, o melhor de Brasília. Lula havia ganhado a eleição presidencial de 2002 contra o tucano José Serra e estava em Porto Alegre, com José Dirceu e a cúpula do PT, discutindo com o PT gaúcho a formação do novo governo. Um grupo de jornalistas estava a um canto, almoçando e conversando sobre o país, eu junto.
De repente, entram nervosos, aflitos, os deputados Moreira Franco, Gedel Vieira Lima, Henrique Alves, da direção nacional do PMDB, começam a discutir baixinho, quase cochichando. Em poucos instantes, chega o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB. Nem almoçaram. Beberam pouca coisa, deram telefonemas, saíram rápido.
Nada falaram. Acontecera alguma coisa grave. Voltariam logo.
Um deles voltou e contou a bomba política do fim de semana. Antes de viajar para o Rio Grande do Sul, Lula encarregara José Dirceu, coordenador da equipe de transição e já convidado para ser chefe da Casa Civil, de negociar com o PMDB o apoio a seu governo, em troca dos ministérios de Minas e Energia, Justiça e Previdência, que seriam entregues a senadores e deputados indicados pelo partido.
Lula já havia dito ao PT que eles não podiam esquecer a lição da derrubada de Collor pelo impeachment, que o senador Amir Lando, do PMDB de Rondônia, relator da CPI de PC Farias, havia definido como uma quartelada parlamentar. No Brasil, para governar, era preciso ter sempre maioria no Congresso. O PT tinha que fazer as concessões necessárias.
O primeiro a ser chamado era o PMDB, o maior partido da Câmara e do Senado. Lula mandou José Dirceu acertar com o PMDB, combinaram três ministérios e ficaram todos felizes. Em Porto Alegre, na primeira noite, Lula encontrou a gula voraz do PT gaúcho, que exigia os ministérios de Minas e Energia, da Justiça e da Previdência.
Lula cedeu. Chamou Dirceu e deu ordem para desmanchar o acordo com o PMDB. Dirceu perguntou como conseguiriam maioria no Congresso. "Compra os pequenos partidos" - disse Lula. "Fica mais barato." Dilma virou ministra de Minas e Energia; Tarso Genro, da Justiça; e a Previdência ficou para resolver lá na frente. E assim nasceu o mensalão".
Corria o ano de 2002. Em fins de 2003, o mensalão incendiava a nação. Em 2004, Lula teria plantado na Diretoria de Abastecimento da Petrobras o dr. José Roberto, o Paulinho, hoje o corifeu dos delatores, devido à pressão do PP para que se arranjassem novas fontes de financiamento em favor da base aliada.
Sabedor das coisas desde os primórdios, esse "Paulinho", suas declarações e provas entregues (além de outras que estão sendo investigadas) são nitroglicerina pura. Ninguém sabe onde isso tudo vai dar. Mas não há como obstar o processo. Diferentemente do mensalão, o juiz Moro e a Polícia Federal produziram provas robustas e entrelaçamentos entre os protagonistas da "organização criminosa".
Foi justamente para garantir fundos a um projeto de poder que se teria criado o esquema na empresa de petróleo. O mensalão fora arquitetura complicada e pouco rentável, logo descoberta. São ilações de certos analistas políticos. E não são desarrazoadas. O PT, especialmente o paulista (ABC, Campinas, Ribeirão Preto) já tinha alguma experiência nas áreas do jogo, do lixo e das concessões de linhas transporte coletivo.
Ao cabo não foi pelo repasse de comissões cobradas dos concessionários de serviços públicos que o prefeito Celso Daniel, de São Bernardo, fora assassinado (caso até hoje irresolvido)? A Petrobras terá sido um achado valioso que retomou a captura de recursos para as campanhas eleitorais do PT e da base aliada, em todas as disputas pelo comando da República brasileira e das estatais, contratos e obras.
À Justiça cabe agora a palavra final. As dos juízes para os crimes dos réus comuns. A do STF e STJ para os parlamentares e demais autoridades com prorrogativa de foro. Com a saída de Joaquim Barbosa, o povo aguarda o desfecho desse negativo capítulo de nossa história, entre crédulo na justiça e desconfiado do Poder Judiciário.
Dilma e a base aliada devem estar cientes - contados os votos anulados em branco - de que apenas 38% do colégio eleitoral formou o governo atual e que a oposição obteve expressiva votação de apoiadores. O país continua dividido. A quantidade dos que desertaram do voto é preocupante (desilusão política). Eles nos observam atentamente, tanto a situação quanto a oposição.
Atravessamos o momento mais perigoso de nossa história econômica recente. A responsabilidade é inteiramente do PT, herdeiro das próprias gestões. A herança que tiveram foi de grande monta: um país estabilizado pelo fantástico Plano Real, que domou a inflação (antes era de 480% ao ano ou mais). As novas gerações precisam ser informadas do nosso passado desde a redemocratização em 1988.
Estado de alerta - DORA KRAMER
O ESTADÃO - 08/02
O PT, Luiz Inácio da Silva à frente, resolveu reeditar o discurso da vítima de perseguição política para tentar se precaver do que vier adiante em decorrência da Operação Lava Jato.
Pura falta de melhor argumento no momento. Quem esteve com o ex-presidente nesta semana no Instituto Lula – precisamente no dia em que o tesoureiro João Vaccari Neto foi levado a depor na Polícia Federal – pode aquilatar que ele tem perfeita noção da gravidade da situação. A luz amarela acendeu no Instituto Lula.
Ao contrário do Palácio do Planalto, onde a presidente Dilma Rousseff não perde a oportunidade de repetir – e agradece a quem puder fazê-lo por ela em público – que não “tem nada a ver” com Vaccari, no escritório do ex-presidente sabe-se perfeitamente que todo mundo no PT “tem a ver” de alguma forma com o tesoureiro do partido.
Na sexta-feira, dia seguinte ao depoimento de Vaccari, ressurgiram os antigos bordões sobre “golpes”, urdiduras para “criminalizar” o PT, alertas para a possibilidade de “julgamentos políticos e não jurídicos” e as inevitáveis comparações com o mensalão, aquele caso que só existiu na mente dos conspiradores.
Soaram especialmente estapafúrdias as suspeitas levantadas a respeito da conduta da PF ao conduzir o tesoureiro de maneira coercitiva para depor, porque contrastam com o esforço feito pela presidente Dilma Rousseff para convencer o País de que o escândalo da Petrobrás só existe porque o governo dela não dá trégua à corrupção.
Ao saber que a polícia queria do tesoureiro informações sobre doações legais e ilegais feitas por empresas que tinham contratos com a Petrobrás, o presidente Rui Falcão foi dos primeiros a atestar que no PT não tem caixa 2, só recursos devidamente contabilizados.
Isso agora que o pessoal dos recursos não contabilizados já está condenado e não precisa mais da tese do crime eleitoral para negar corrupção. Nessa altura pouco importa a coerência ou verossimilhança das alegações.
Nem os petistas acreditam de fato na narrativa do “golpismo” tantos são os fatos que deixam o partido atarantado diante de um governo que comete um erro atrás do outro e, além disso, não se comunica para dentro nem para fora. O PT simplesmente não tem o que dizer no momento além de atribuir culpas a inimigos difusos.
Fosse falar a verdade do que se diz internamente, os responsáveis pelas agruras seriam outros: a presidente e os ministros “da casa”, Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas.
A presidente da República nada diz que guarde relação com a realidade. Sobre as questões importantes Dilma se cala e, com isso, dissemina inquietação no PT. O ex-presidente Lula tem ouvido de correligionários apelos para que comande algum tipo de reação. Na política.
As declarações dele na reunião do diretório nacional do partido em Belo Horizonte obedeceram ao modelo antigo, mas não traduzem o real estado de espírito de Lula sobre os rumos do governo, a administração (ou falta de) das crises e os desdobramentos da Lava Jato. O blazer, a calça e a camisa pretos refletiram melhor.
As bravatas ditas em público sobre a necessidade de o partido “reagir aos ataques” são apenas bravatas. Na realidade nua e crua há noção da gravidade e da imprevisibilidade da situação. Os petistas falam em defender Vaccari como se o alvo fosse a pessoa física. Lula disse que “na dúvida” ficava com o “companheiro”, Rui Falcão externou confiança de que ele “nunca pôs dinheiro no bolso”.
Não é disso que se trata. O que se investiga é o repasse de uma parte de dinheiro de contratos da Petrobrás para partidos políticos. Entre eles o PT do qual Vaccari seria, segundo os delatores, o encarregado de intermediar as operações. Não é ele quem está sendo acusado de receber propina, é o partido.
O PT, Luiz Inácio da Silva à frente, resolveu reeditar o discurso da vítima de perseguição política para tentar se precaver do que vier adiante em decorrência da Operação Lava Jato.
Pura falta de melhor argumento no momento. Quem esteve com o ex-presidente nesta semana no Instituto Lula – precisamente no dia em que o tesoureiro João Vaccari Neto foi levado a depor na Polícia Federal – pode aquilatar que ele tem perfeita noção da gravidade da situação. A luz amarela acendeu no Instituto Lula.
Ao contrário do Palácio do Planalto, onde a presidente Dilma Rousseff não perde a oportunidade de repetir – e agradece a quem puder fazê-lo por ela em público – que não “tem nada a ver” com Vaccari, no escritório do ex-presidente sabe-se perfeitamente que todo mundo no PT “tem a ver” de alguma forma com o tesoureiro do partido.
Na sexta-feira, dia seguinte ao depoimento de Vaccari, ressurgiram os antigos bordões sobre “golpes”, urdiduras para “criminalizar” o PT, alertas para a possibilidade de “julgamentos políticos e não jurídicos” e as inevitáveis comparações com o mensalão, aquele caso que só existiu na mente dos conspiradores.
Soaram especialmente estapafúrdias as suspeitas levantadas a respeito da conduta da PF ao conduzir o tesoureiro de maneira coercitiva para depor, porque contrastam com o esforço feito pela presidente Dilma Rousseff para convencer o País de que o escândalo da Petrobrás só existe porque o governo dela não dá trégua à corrupção.
Ao saber que a polícia queria do tesoureiro informações sobre doações legais e ilegais feitas por empresas que tinham contratos com a Petrobrás, o presidente Rui Falcão foi dos primeiros a atestar que no PT não tem caixa 2, só recursos devidamente contabilizados.
Isso agora que o pessoal dos recursos não contabilizados já está condenado e não precisa mais da tese do crime eleitoral para negar corrupção. Nessa altura pouco importa a coerência ou verossimilhança das alegações.
Nem os petistas acreditam de fato na narrativa do “golpismo” tantos são os fatos que deixam o partido atarantado diante de um governo que comete um erro atrás do outro e, além disso, não se comunica para dentro nem para fora. O PT simplesmente não tem o que dizer no momento além de atribuir culpas a inimigos difusos.
Fosse falar a verdade do que se diz internamente, os responsáveis pelas agruras seriam outros: a presidente e os ministros “da casa”, Aloizio Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas.
A presidente da República nada diz que guarde relação com a realidade. Sobre as questões importantes Dilma se cala e, com isso, dissemina inquietação no PT. O ex-presidente Lula tem ouvido de correligionários apelos para que comande algum tipo de reação. Na política.
As declarações dele na reunião do diretório nacional do partido em Belo Horizonte obedeceram ao modelo antigo, mas não traduzem o real estado de espírito de Lula sobre os rumos do governo, a administração (ou falta de) das crises e os desdobramentos da Lava Jato. O blazer, a calça e a camisa pretos refletiram melhor.
As bravatas ditas em público sobre a necessidade de o partido “reagir aos ataques” são apenas bravatas. Na realidade nua e crua há noção da gravidade e da imprevisibilidade da situação. Os petistas falam em defender Vaccari como se o alvo fosse a pessoa física. Lula disse que “na dúvida” ficava com o “companheiro”, Rui Falcão externou confiança de que ele “nunca pôs dinheiro no bolso”.
Não é disso que se trata. O que se investiga é o repasse de uma parte de dinheiro de contratos da Petrobrás para partidos políticos. Entre eles o PT do qual Vaccari seria, segundo os delatores, o encarregado de intermediar as operações. Não é ele quem está sendo acusado de receber propina, é o partido.
A herança para o segundo mandato - ROLF KUNTZ
O ESTADO DE S.PAULO - 08/02
Devastada, sangrada e sem rumo, a maior empresa brasileira, a Petrobrás, é o componente mais vistoso da herança maldita deixada para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, mas ninguém deve menosprezar o resto do entulho. O inventário, ainda incompleto, é impressionante. A inflação - de 1,24% em janeiro e 7,14% em 12 meses - vai dar muito trabalho antes de ser domada. A correção dos preços contidos politicamente ainda vai longe. Além disso, novos aumentos estão previstos para ajustar a conta de luz ao custo da energia das termoelétricas.
O choque de realismo nos preços da eletricidade seria necessário, de toda forma, por causa da situação do Tesouro. O consumidor terá de ajudar as companhias a pagar, por exemplo, o empréstimo de R$ 17,8 bilhões tomado em 2014. Esse financiamento foi a solução quando o governo se confessou incapaz de continuar aliviando, sozinho, os problemas das distribuidoras.
Todos esses dados são partes da mesma história - a maquiagem da inflação, a irresponsabilidade fiscal, a penosa correção dos preços e os danos causados pelo voluntarismo e pelo populismo, em geral muito propício ao florescimento da corrupção. Venezuela e Argentina são hoje os casos mais vistosos, na América do Sul, de experiências desse tipo. O Brasil, dirão os otimistas, está muito longe de qualquer dos dois exemplos. Mas quem afirma o parentesco e a afinidade é o próprio governo brasileiro, ao definir suas prioridades diplomáticas, a política de comércio e as parcerias estratégicas na região. Para os de memória fraca: com que se aliou o Brasil para suspender o Paraguai do Mercosul e facilitar o ingresso da Venezuela no bloco?
O conserto das contas públicas, outro componente importante do legado populista, vai exigir muito mais que a mudança da política de apoio ao setor elétrico. Mesmo sem essa política a situação fiscal seria muito ruim. A orientação do governo, desde o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi a favor de uma política fiscal expansionista, batizada impropriamente como anticíclica. Os componentes mais notáveis dessa política foram a gastança sem freio, as desonerações seletivas e mal planejadas e uma relação promíscua e dispendiosa do Tesouro com os bancos estatais.
Na transição de governo o então ministro Guido Mantega ainda transferiu mais R$ 30 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), importante canal de financiamento, no período petista, de recursos para empresas selecionadas como campeãs nacionais.
O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu mudar a relação entre o Tesouro e os bancos federais, disciplinar os subsídios e estimular um novo esquema de financiamento às empresas. Seria uma boa ideia reconduzir o BNDES à sua função original, mantida até há alguns anos, de instrumento das políticas de modernização e de fortalecimento do setor produtivo. Mas para isso seria preciso redescobrir o planejamento estratégico, perdido há muito tempo no Brasil e confundido, com assustadora frequência, com o mais tosco intervencionismo. O Ministério do Planejamento abandonou a função original de cuidar do longo prazo. A Secretaria de Assuntos Estratégicos, criada no governo Lula para acomodar o professor Mangabeira Unger, nunca exerceu o papel indicado por seu nome, e assim, tudo indica, deverá continuar por prazo indefinido.
Mas houve muito mais que o abandono de velhas e importantes funções incorporadas há décadas pela administração pública brasileira e associadas ao desenvolvimento nacional. O governo tornou-se incapaz de formular planos e programas e de administrar a execução de projetos. O número de ministérios aumentou para 39, o funcionalismo cresceu, o gasto público aumentou como porcentagem do produto interno bruto (PIB) e o intervencionismo atingiu novos patamares, tendo sido uma das causas do desastre da Petrobrás. Mas o governo jamais foi tão fraco, desde o fim da 2.ª Guerra, como indutor do crescimento e do desenvolvimento.
A ocupação predatória do Estado, o aparelhamento e o loteamento da administração federal - incluída a direção da Petrobrás e de outras empresas estatais -, é uma das causas mais evidentes dessa degradação. Talvez a presidente Dilma Rousseff tenha consciência desses fatos. Nada disso, no entanto, parece preocupá-la seriamente. Os desdobramentos possíveis da Operação Lava Jato são mais inquietantes, assim como a oposição de antigos companheiros, hoje dispostos a aplaudir o seu impeachment.
O fracasso do governo petista como promotor do desenvolvimento é comprovado, fora de qualquer dúvida, pela estagnação econômica dos últimos quatro anos. A produção industrial encolheu 3,2% no ano passado e foi menor que a de 2010. A produção de máquinas e equipamentos foi 9,6% inferior à de 2013 e mais uma vez o investimento caiu. A perda de eficiência e de competitividade tem sido evidenciada pela deterioração da balança comercial.
As contas públicas, com déficit nominal de 6,7% do PIB, mais que o dobro da média da União Europeia (2,6%), completam o cenário de desastre. Nada se fará sem a arrumação dessas contas. A inflação continuará acelerada, os juros permanecerão altos, o investimento será mantido abaixo de 20% do PIB, em nível muito insatisfatório, e a estagnação prosseguirá. Mas para repor o Brasil em movimento será preciso ir além disso. Será preciso redescobrir a noção de estratégia e, de certa forma, reinventar o governo. É difícil de imaginar como a presidente Dilma Rousseff conseguirá realizar essas tarefas (se chegar a entender sua importância) seguindo a orientação de seu partido. Se estiver disposta a agir, terá pouco apoio no Congresso, mesmo dos aliados, para enfrentar as barreiras do fisiologismo. Perto da maldição do legado político, os problemas técnicos do ajuste fiscal e monetário parecem até simples. A destruição foi muito além da economia.
Devastada, sangrada e sem rumo, a maior empresa brasileira, a Petrobrás, é o componente mais vistoso da herança maldita deixada para o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, mas ninguém deve menosprezar o resto do entulho. O inventário, ainda incompleto, é impressionante. A inflação - de 1,24% em janeiro e 7,14% em 12 meses - vai dar muito trabalho antes de ser domada. A correção dos preços contidos politicamente ainda vai longe. Além disso, novos aumentos estão previstos para ajustar a conta de luz ao custo da energia das termoelétricas.
O choque de realismo nos preços da eletricidade seria necessário, de toda forma, por causa da situação do Tesouro. O consumidor terá de ajudar as companhias a pagar, por exemplo, o empréstimo de R$ 17,8 bilhões tomado em 2014. Esse financiamento foi a solução quando o governo se confessou incapaz de continuar aliviando, sozinho, os problemas das distribuidoras.
Todos esses dados são partes da mesma história - a maquiagem da inflação, a irresponsabilidade fiscal, a penosa correção dos preços e os danos causados pelo voluntarismo e pelo populismo, em geral muito propício ao florescimento da corrupção. Venezuela e Argentina são hoje os casos mais vistosos, na América do Sul, de experiências desse tipo. O Brasil, dirão os otimistas, está muito longe de qualquer dos dois exemplos. Mas quem afirma o parentesco e a afinidade é o próprio governo brasileiro, ao definir suas prioridades diplomáticas, a política de comércio e as parcerias estratégicas na região. Para os de memória fraca: com que se aliou o Brasil para suspender o Paraguai do Mercosul e facilitar o ingresso da Venezuela no bloco?
O conserto das contas públicas, outro componente importante do legado populista, vai exigir muito mais que a mudança da política de apoio ao setor elétrico. Mesmo sem essa política a situação fiscal seria muito ruim. A orientação do governo, desde o segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi a favor de uma política fiscal expansionista, batizada impropriamente como anticíclica. Os componentes mais notáveis dessa política foram a gastança sem freio, as desonerações seletivas e mal planejadas e uma relação promíscua e dispendiosa do Tesouro com os bancos estatais.
Na transição de governo o então ministro Guido Mantega ainda transferiu mais R$ 30 bilhões ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), importante canal de financiamento, no período petista, de recursos para empresas selecionadas como campeãs nacionais.
O novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, prometeu mudar a relação entre o Tesouro e os bancos federais, disciplinar os subsídios e estimular um novo esquema de financiamento às empresas. Seria uma boa ideia reconduzir o BNDES à sua função original, mantida até há alguns anos, de instrumento das políticas de modernização e de fortalecimento do setor produtivo. Mas para isso seria preciso redescobrir o planejamento estratégico, perdido há muito tempo no Brasil e confundido, com assustadora frequência, com o mais tosco intervencionismo. O Ministério do Planejamento abandonou a função original de cuidar do longo prazo. A Secretaria de Assuntos Estratégicos, criada no governo Lula para acomodar o professor Mangabeira Unger, nunca exerceu o papel indicado por seu nome, e assim, tudo indica, deverá continuar por prazo indefinido.
Mas houve muito mais que o abandono de velhas e importantes funções incorporadas há décadas pela administração pública brasileira e associadas ao desenvolvimento nacional. O governo tornou-se incapaz de formular planos e programas e de administrar a execução de projetos. O número de ministérios aumentou para 39, o funcionalismo cresceu, o gasto público aumentou como porcentagem do produto interno bruto (PIB) e o intervencionismo atingiu novos patamares, tendo sido uma das causas do desastre da Petrobrás. Mas o governo jamais foi tão fraco, desde o fim da 2.ª Guerra, como indutor do crescimento e do desenvolvimento.
A ocupação predatória do Estado, o aparelhamento e o loteamento da administração federal - incluída a direção da Petrobrás e de outras empresas estatais -, é uma das causas mais evidentes dessa degradação. Talvez a presidente Dilma Rousseff tenha consciência desses fatos. Nada disso, no entanto, parece preocupá-la seriamente. Os desdobramentos possíveis da Operação Lava Jato são mais inquietantes, assim como a oposição de antigos companheiros, hoje dispostos a aplaudir o seu impeachment.
O fracasso do governo petista como promotor do desenvolvimento é comprovado, fora de qualquer dúvida, pela estagnação econômica dos últimos quatro anos. A produção industrial encolheu 3,2% no ano passado e foi menor que a de 2010. A produção de máquinas e equipamentos foi 9,6% inferior à de 2013 e mais uma vez o investimento caiu. A perda de eficiência e de competitividade tem sido evidenciada pela deterioração da balança comercial.
As contas públicas, com déficit nominal de 6,7% do PIB, mais que o dobro da média da União Europeia (2,6%), completam o cenário de desastre. Nada se fará sem a arrumação dessas contas. A inflação continuará acelerada, os juros permanecerão altos, o investimento será mantido abaixo de 20% do PIB, em nível muito insatisfatório, e a estagnação prosseguirá. Mas para repor o Brasil em movimento será preciso ir além disso. Será preciso redescobrir a noção de estratégia e, de certa forma, reinventar o governo. É difícil de imaginar como a presidente Dilma Rousseff conseguirá realizar essas tarefas (se chegar a entender sua importância) seguindo a orientação de seu partido. Se estiver disposta a agir, terá pouco apoio no Congresso, mesmo dos aliados, para enfrentar as barreiras do fisiologismo. Perto da maldição do legado político, os problemas técnicos do ajuste fiscal e monetário parecem até simples. A destruição foi muito além da economia.
Distritão, boa ideia para ser discutida - ELIO GASPARI
FOLHA DE SP - 08/02
O assunto é chato, mas desta vez o debate da reforma política pode começar para valer, sem os truques do PT
Tudo indica que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, destravará o debate da reforma política, obstruído há um ano pelo PT, que sonha com plebiscitos e votos de lista. Tramita na Câmara um projeto que pode ser discutido, emendado e aprovado até agosto deste ano.
É um assunto chato e cheio de detalhes. Um dos seus principais pontos é o sistema eleitoral para a escolha de deputados. Hoje a pessoa vota no seu candidato e são eleitos aqueles que tiveram mais votos na totalização recebida pela chapa do partido ou da cumbuca da coligação. Poucos elegem-se só com votos dados a eles. Disso resultou que já houve gente votando em Delfim Netto e elegendo Michel Temer, ambos do PMDB. Na eleição passada Tiririca teve mais de um milhão de votos, elegeu-se deputado federal por São Paulo e carregou consigo o Capitão Augusto, que tentara fundar o Partido Militar Brasileiro.
Pela proposta da comissão da Câmara, cada Estado seria dividido em distritos. Seriam de quatro a sete, e em cada um deles funcionaria o regime da cumbuca. Assim, o efeito Tiririca ficaria reduzido ao seu distrito. É uma coisa meio girafa.
Renasceu a proposta do distritão, concebida pelo vice-presidente Michel Temer. Ela está na mesa há anos e é simples. Cada Estado passa a ser um distritão. Os partidos apresentam candidatos, os eleitores fazem suas escolhas e votam. Levam as cadeiras aqueles que conseguem mais votos. São Paulo, por exemplo, tem direito a 70 deputados. Elegem-se os 70 candidatos mais votados, e acabou a conversa. Assim, Tiririca pode ter um milhão de votos, mas elege só Tiririca.
O distritão pode ser uma boa ideia. Quem quiser pode também deixar tudo como está. O que parece ter desaparecido da agenda é o sonho petista do voto de lista, no qual simplesmente confisca-se o direito do eleitor escolher seu candidato, transferindo-se essa prerrogativa, total ou parcialmente, para as direções partidárias.
NOMES NA RODA
No ano passado, quando o empreiteiro Ricardo (UTC) Pessoa chegou à carceragem da Polícia Federal, sabia-se que um homem-bomba entrara no elenco da Lava Jato. Para o bem de todos (sobretudo dele), o doutor está colaborando com as autoridades.
Sabe-se agora que o petro-comissário Pedro Barusco botou um novo nome na roda, o de Zwi Skornicki, operador do estaleiro coreano Keppel Fels. Zwi guarda uma memória bem maior que a de Ricardo Pessoa. A Receita Federal conhece-o bem, por conta de uma negociação formal feita há alguns anos.
Engenheiro que trabalha com plataformas de exploração de petróleo desde a época em que elas eram uma novidade no Brasil, sabe tudo do assunto.
É um tipo inesquecível, pelo Rolex de ouro cravejado de brilhantes que carrega no pulso.
O SENADOR NO INFERNO
Quem tiver três minutos para perder em busca de talento e bom humor pode entrar no YouTube em busca do vídeo em que o repentista Maviael Melo recita seu poema "Campanha eleitoral".
Maviael é um pernambucano de 41 anos, poeta da grande tradição dos cordelistas nordestinos.
USP
Um dia essas denúncias de trotes violentos e estupros em universidades, inclusive na USP, cairão nas mãos de um juiz tipo Sergio Moro. Quando os jovens delinquentes e seus pais descobrirem que poderão passar o tempo de duração do curso na cadeia, a festa acabará.
E acabarão também os ilustres professores, sobretudo da Faculdade de Medicina, que, como o petrocomissariado petista, atribuem tudo a exagero da imprensa.
LAVA TUDO
O PSDB sabe que não sairá ileso da Operação Lava Jato. Suas petrofortunas recentes eram conhecidas antes mesmo do surgimento do juiz Moro.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e se deu conta da frequência com que sai do Planalto a informação de que a doutora Dilma ficou "contrariada", "irritada", "aborrecida", "atônita" ou mesmo "furiosa".
O cretino se pergunta: E daí?
NAUFRÁGIO
Terminado o primeiro mês do segundo mandato da doutora Dilma, uma víbora assegura ter ouvido a seguinte história de um sobrevivente da viagem inaugural do navio mais famoso da história, aquele do filme com Leonardo DiCaprio:
-- Uma jovem da tripulação embarcou em Southampton e eu lhe perguntei se estava emocionada com a viagem até Nova York. Ela me disse que achava a ideia boa, mas o que gostava mesmo era de naufrágios.
(Na vida real, a garçonete Violet Jessop já naufragara um ano antes e naufragaria novamente em 1916. Morreu em 1971, em terra firme, aos 84 anos.)
EUREKA
João Carlos Meireles, secretário de Energia do governador Geraldo Alckmin, matou a charada da falta de água que a imprevidência de seu patrão cevou:
"Tem gente que acha 'eu sou rico e pago quanto for por essa água', mas não é assim. É sobretudo espírito de comunidade. Mas parece que tem gente que vive no mundo de Marte e não tem solidariedade nenhuma."
A culpa é do povo.
Bem que ele poderia reunir a imprensa amanhã e exibir as contas de água do secretariado de Alckmin durante os últimos 12 meses.
A POROSIDADE DA CABEÇA PETISTA
Nas manobras para a indicação do novo presidente da Petrobras apareceram perto de dez nomes. Não se sabe de onde eles saíram, pois não incluíam o nome de Ademir Bendine, que acabou escolhido. Nessa roda de fogo, entrou o economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs. Ele teria a simpatia do ministro Joaquim Levy. A menos que tenha sido uma brincadeira, essa simples referência reflete a geleia em que se transformou o centro de decisões do governo.
O PT tenta associar a Operação Lava Jato a um processo de destruição da Petrobras, de forma a permitir sua privatização. Para quem gosta de teoria conspirativa é um bom roteiro.
Leme tem mais de vinte anos de destacada militância no mercado financeiro. Em 1998, quando o real estava indo para o ralo, a Goldman Sachs divulgou uma análise da crise dizendo que eram "necessárias medidas de grande impacto, como a inclusão da Petrobras, da Caixa Econômica e do Banco do Brasil no programa de privatizações". Ele era o diretor da Goldman para a área de mercados emergentes e, segundo a repórter Vera Magalhães, estimou que a estatal pudesse valer entre US$ 20 bilhões e US$ 60 bilhões.
Naquela ocasião o nome do doutor entrou na lista de candidatos de Armínio Fraga para a diretoria de assuntos internacionais do Banco Central. Foi abatido em voo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Repetindo: Fernando Henrique Cardoso, aquele que, segundo o PT, queria vender a Petrobras.
Conta a lenda que um dia o governador Carlos Lacerda foi visitar o prédio da Polícia Central e, subindo as escadas do saguão, disse ao delegado Cecil Borer, que fora chefe da repressão política quando ele militava na esquerda:
-- Quem diria, Borer, que um dia estaríamos aqui nesta situação...
Borer teria respondido:
-- É. Mas quem mudou não fui eu.
O assunto é chato, mas desta vez o debate da reforma política pode começar para valer, sem os truques do PT
Tudo indica que o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, destravará o debate da reforma política, obstruído há um ano pelo PT, que sonha com plebiscitos e votos de lista. Tramita na Câmara um projeto que pode ser discutido, emendado e aprovado até agosto deste ano.
É um assunto chato e cheio de detalhes. Um dos seus principais pontos é o sistema eleitoral para a escolha de deputados. Hoje a pessoa vota no seu candidato e são eleitos aqueles que tiveram mais votos na totalização recebida pela chapa do partido ou da cumbuca da coligação. Poucos elegem-se só com votos dados a eles. Disso resultou que já houve gente votando em Delfim Netto e elegendo Michel Temer, ambos do PMDB. Na eleição passada Tiririca teve mais de um milhão de votos, elegeu-se deputado federal por São Paulo e carregou consigo o Capitão Augusto, que tentara fundar o Partido Militar Brasileiro.
Pela proposta da comissão da Câmara, cada Estado seria dividido em distritos. Seriam de quatro a sete, e em cada um deles funcionaria o regime da cumbuca. Assim, o efeito Tiririca ficaria reduzido ao seu distrito. É uma coisa meio girafa.
Renasceu a proposta do distritão, concebida pelo vice-presidente Michel Temer. Ela está na mesa há anos e é simples. Cada Estado passa a ser um distritão. Os partidos apresentam candidatos, os eleitores fazem suas escolhas e votam. Levam as cadeiras aqueles que conseguem mais votos. São Paulo, por exemplo, tem direito a 70 deputados. Elegem-se os 70 candidatos mais votados, e acabou a conversa. Assim, Tiririca pode ter um milhão de votos, mas elege só Tiririca.
O distritão pode ser uma boa ideia. Quem quiser pode também deixar tudo como está. O que parece ter desaparecido da agenda é o sonho petista do voto de lista, no qual simplesmente confisca-se o direito do eleitor escolher seu candidato, transferindo-se essa prerrogativa, total ou parcialmente, para as direções partidárias.
NOMES NA RODA
No ano passado, quando o empreiteiro Ricardo (UTC) Pessoa chegou à carceragem da Polícia Federal, sabia-se que um homem-bomba entrara no elenco da Lava Jato. Para o bem de todos (sobretudo dele), o doutor está colaborando com as autoridades.
Sabe-se agora que o petro-comissário Pedro Barusco botou um novo nome na roda, o de Zwi Skornicki, operador do estaleiro coreano Keppel Fels. Zwi guarda uma memória bem maior que a de Ricardo Pessoa. A Receita Federal conhece-o bem, por conta de uma negociação formal feita há alguns anos.
Engenheiro que trabalha com plataformas de exploração de petróleo desde a época em que elas eram uma novidade no Brasil, sabe tudo do assunto.
É um tipo inesquecível, pelo Rolex de ouro cravejado de brilhantes que carrega no pulso.
O SENADOR NO INFERNO
Quem tiver três minutos para perder em busca de talento e bom humor pode entrar no YouTube em busca do vídeo em que o repentista Maviael Melo recita seu poema "Campanha eleitoral".
Maviael é um pernambucano de 41 anos, poeta da grande tradição dos cordelistas nordestinos.
USP
Um dia essas denúncias de trotes violentos e estupros em universidades, inclusive na USP, cairão nas mãos de um juiz tipo Sergio Moro. Quando os jovens delinquentes e seus pais descobrirem que poderão passar o tempo de duração do curso na cadeia, a festa acabará.
E acabarão também os ilustres professores, sobretudo da Faculdade de Medicina, que, como o petrocomissariado petista, atribuem tudo a exagero da imprensa.
LAVA TUDO
O PSDB sabe que não sairá ileso da Operação Lava Jato. Suas petrofortunas recentes eram conhecidas antes mesmo do surgimento do juiz Moro.
EREMILDO, O IDIOTA
Eremildo é um idiota e se deu conta da frequência com que sai do Planalto a informação de que a doutora Dilma ficou "contrariada", "irritada", "aborrecida", "atônita" ou mesmo "furiosa".
O cretino se pergunta: E daí?
NAUFRÁGIO
Terminado o primeiro mês do segundo mandato da doutora Dilma, uma víbora assegura ter ouvido a seguinte história de um sobrevivente da viagem inaugural do navio mais famoso da história, aquele do filme com Leonardo DiCaprio:
-- Uma jovem da tripulação embarcou em Southampton e eu lhe perguntei se estava emocionada com a viagem até Nova York. Ela me disse que achava a ideia boa, mas o que gostava mesmo era de naufrágios.
(Na vida real, a garçonete Violet Jessop já naufragara um ano antes e naufragaria novamente em 1916. Morreu em 1971, em terra firme, aos 84 anos.)
EUREKA
João Carlos Meireles, secretário de Energia do governador Geraldo Alckmin, matou a charada da falta de água que a imprevidência de seu patrão cevou:
"Tem gente que acha 'eu sou rico e pago quanto for por essa água', mas não é assim. É sobretudo espírito de comunidade. Mas parece que tem gente que vive no mundo de Marte e não tem solidariedade nenhuma."
A culpa é do povo.
Bem que ele poderia reunir a imprensa amanhã e exibir as contas de água do secretariado de Alckmin durante os últimos 12 meses.
A POROSIDADE DA CABEÇA PETISTA
Nas manobras para a indicação do novo presidente da Petrobras apareceram perto de dez nomes. Não se sabe de onde eles saíram, pois não incluíam o nome de Ademir Bendine, que acabou escolhido. Nessa roda de fogo, entrou o economista Paulo Leme, do banco Goldman Sachs. Ele teria a simpatia do ministro Joaquim Levy. A menos que tenha sido uma brincadeira, essa simples referência reflete a geleia em que se transformou o centro de decisões do governo.
O PT tenta associar a Operação Lava Jato a um processo de destruição da Petrobras, de forma a permitir sua privatização. Para quem gosta de teoria conspirativa é um bom roteiro.
Leme tem mais de vinte anos de destacada militância no mercado financeiro. Em 1998, quando o real estava indo para o ralo, a Goldman Sachs divulgou uma análise da crise dizendo que eram "necessárias medidas de grande impacto, como a inclusão da Petrobras, da Caixa Econômica e do Banco do Brasil no programa de privatizações". Ele era o diretor da Goldman para a área de mercados emergentes e, segundo a repórter Vera Magalhães, estimou que a estatal pudesse valer entre US$ 20 bilhões e US$ 60 bilhões.
Naquela ocasião o nome do doutor entrou na lista de candidatos de Armínio Fraga para a diretoria de assuntos internacionais do Banco Central. Foi abatido em voo pelo presidente Fernando Henrique Cardoso. Repetindo: Fernando Henrique Cardoso, aquele que, segundo o PT, queria vender a Petrobras.
Conta a lenda que um dia o governador Carlos Lacerda foi visitar o prédio da Polícia Central e, subindo as escadas do saguão, disse ao delegado Cecil Borer, que fora chefe da repressão política quando ele militava na esquerda:
-- Quem diria, Borer, que um dia estaríamos aqui nesta situação...
Borer teria respondido:
-- É. Mas quem mudou não fui eu.
E essa agora? - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 08/02
Às voltas com vários focos de crise, Dilma Rousseff pode enfrentar novo revés nesta semana. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), submeterá ao colégio de líderes a inclusão na pauta de votações de terça-feira no plenário da chamada PEC da Bengala. A proposta eleva de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsória de magistrados. Se a medida passar, a presidente pode perder a chance de indicar quatro novos ministros para o Supremo Tribunal Federal.
Desfalque
>> com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
TIROTEIO
"Tive uma grata surpresa: assumi a função de líder da minoria e descobri que esse posto parece, na verdade, o de líder da maioria."
DO DEPUTADO BRUNO ARAÚJO (PSDB-PE), sobre a nova relação de forças na Câmara entre a oposição e a base aliada do governo Dilma Rousseff.
CONTRAPONTO
Agora aguenta
Na segunda-feira passada, dia seguinte à derrota imposta pela Câmara ao PT na disputa pela presidência da Casa, peemedebistas e oposicionistas faziam piada nos corredores do Congresso. Ainda sob o efeito da vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre Arlindo Chinaglia (PT-SP), o tucano Antonio Imbassahy (BA) perguntou a Manoel Junior (PMDB-PB):
-O que é que vocês vão dar ao PT agora que eles ficaram fora da Mesa Diretora?
-Vamos dar muitos dias difíceis! --respondeu o peemedebista, e os dois caíram na risada.
Às voltas com vários focos de crise, Dilma Rousseff pode enfrentar novo revés nesta semana. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), submeterá ao colégio de líderes a inclusão na pauta de votações de terça-feira no plenário da chamada PEC da Bengala. A proposta eleva de 70 para 75 anos a idade de aposentadoria compulsória de magistrados. Se a medida passar, a presidente pode perder a chance de indicar quatro novos ministros para o Supremo Tribunal Federal.
Desfalque
Depois de seis meses praticamente sem tocar no assunto, Dilma começou a ouvir conselheiros sobre o substituto de Joaquim Barbosa no Supremo. Aliados estimam que a decisão pode sair ainda em fevereiro.
Memorabilia 1
Memorabilia 1
Joaquim Levy (Fazenda) pendurou na sala de reuniões de seu gabinete um quadro de 2000, no governo Fernando Henrique Cardoso, que celebrava a Lei de Responsabilidade Fiscal, com os dizeres: "Agora o Brasil só gasta o que arrecada".
Memorabilia 2
Memorabilia 2
O cartaz ficava na sala de Levy quando foi secretário do Tesouro Nacional, de 2003 a 2006. Localizado numa sala no ministério, já desbotado, voltou à parede em lugar de destaque.
Derrota...
Derrota...
A reprovação a Dilma mais que dobrou no Nordeste em comparação ao ponto mais crítico dos protestos de junho de 2013. À época, só 16% dos entrevistados pelo Datafolha disseram que a gestão da presidente era ruim ou péssima. Agora, são 36%.
... em casa
... em casa
A rejeição a Dilma no Nordeste era de 4% até meados de 2012. Lula só tinha 2% de ruim ou péssimo na região quando terminou seu governo, em 2010.
Efeito Petrolão
Efeito Petrolão
O índice de brasileiros que diz que o principal problema do país é a corrupção é maior que em qualquer momento do governo Lula: 21%. Em 2009, após o arrefecimento da crise do mensalão, eram só 9%.
De olho
De olho
Advogados de presos da Lava Jato aguardam com ansiedade a sessão da Segunda Turma do STF, que vai analisar na terça recurso do Ministério Público Federal para que o ex-diretor da Petrobras Renato Duque volte para a prisão.
Vela
Vela
Para os criminalistas, a decisão sobre Duque indicará as chances de libertação de seus clientes.
Canja...
Canja...
A força-tarefa da Lava Jato não pediu a prisão de João Vaccari Neto por entender que não havia risco de fuga ou destruição de provas por parte do tesoureiro do PT.
... de galinha
... de galinha
Policiais e procuradores também acreditavam que a prisão de Vaccari alertaria outros suspeitos e atrapalharia investigações relacionadas ao tesoureiro, como a denúncia de corrupção na Sete Brasil.
Sem Waze
Sem Waze
O juiz Sérgio Moro autorizou a condução coercitiva de Vaccari para depor em 18 de dezembro. A Polícia Federal precisou encontrar os endereços de todos os alvos da operação antes de deflagrá-la, 48 dias depois.
Chuva de tweets
Chuva de tweets
A crise hídrica de São Paulo foi assunto de 896 mil mensagens no Twitter só neste ano. O pico de postagens ocorreu em 27 de janeiro, quando a possibilidade de rodízio de 5 dias sem água por 2 com foi anunciada: 43.690 manifestações.
Reencontro
Reencontro
Geraldo Alckmin marcou para quarta-feira a primeira reunião do comitê da crise de água. Paulo Skaf, da Fiesp, rival do tucano em 2014, participará.
E eu?
E eu?
Jonas Donizette teve de pedir para integrar o grupo. O prefeito de Campinas temia que a cidade, que é abastecida pelo Cantareira, fosse ignorada nas decisões.
>> com BRUNO BOGHOSSIAN e PAULO GAMA
TIROTEIO
"Tive uma grata surpresa: assumi a função de líder da minoria e descobri que esse posto parece, na verdade, o de líder da maioria."
DO DEPUTADO BRUNO ARAÚJO (PSDB-PE), sobre a nova relação de forças na Câmara entre a oposição e a base aliada do governo Dilma Rousseff.
CONTRAPONTO
Agora aguenta
Na segunda-feira passada, dia seguinte à derrota imposta pela Câmara ao PT na disputa pela presidência da Casa, peemedebistas e oposicionistas faziam piada nos corredores do Congresso. Ainda sob o efeito da vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) sobre Arlindo Chinaglia (PT-SP), o tucano Antonio Imbassahy (BA) perguntou a Manoel Junior (PMDB-PB):
-O que é que vocês vão dar ao PT agora que eles ficaram fora da Mesa Diretora?
-Vamos dar muitos dias difíceis! --respondeu o peemedebista, e os dois caíram na risada.
O Leviatã de Dilma Rousseff - LUIZ CARLOS AZEDO
CORREIO BRAZILIENSE - 08/02
Como os velhos jacobinos e os nossos castilhistas, a presidente da República acredita que o Estado pode tudo
No Livro de Jó, do Antigo Testamento, o Leviatã é descrito como um gigantesco monstro aquático. Ninguém poderia afrontá-lo e sair com vida. Deus assim o descreve no diálogo com Jó: "Quando se levanta, tremem as ondas do mar, as vagas do mar se afastam. Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo. O ferro para ele é palha, o bronze, pau podre." A imagem bíblica serviu de inspiração para O Leviatã, de Thomas Hobbes (1587-1666), obra seminal da moderna teoria do Estado, escrita durante a guerra civil na Inglaterra e publicada em 1661.
Hobbes parte do princípio de que os homens são egoístas e que o mundo não satisfaz todas as suas necessidades. No chamado estado natural, sem a existência da sociedade civil, há necessariamente competição entre os homens pela riqueza, segurança e glória. A luta que se segue é a guerra de todos contra todos, não pode haver comércio, indústria ou civilização, e a vida do homem é solitária, pobre, suja, brutal e curta.
A existência de um "contrato social" em que o Estado deteria consigo todo o poder da sociedade é a garantia da paz e da defesa comum dos indivíduos contra o caos e as guerras. Essa é a gênese do Estado absolutista - no qual todos se tornam súditos e o soberano, representante da vontade do povo, detentor da autoridade delegada pelos homens -, que operou a transição do feudalismo para o mercantilismo e a formação dos impérios modernos.
A presidente Dilma Rousseff, como os velhos jacobinos e os nossos castilhistas, acredita que o Estado pode tudo. Na juventude, sonhou que a tomada do poder pelas armas seria o bastante para se chegar ao paraíso. Com a anistia e a redemocratização do país, fez carreira política no poder instalado, primeiro em Porto Alegre, depois em Brasília. Tem todos os motivos para acreditar nisso: assim chegou ao Palácio da Alvorada, onde reside. Venceu duas eleições presidenciais, é bem verdade, mas atalhou o caminho pela força do Estado. Sem ele, de nada adiantaria o prestígio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não seria nem sequer candidata.
Essa concepção, na sua essência, tem uma matriz autoritária; golpista, sim, pois pressupõe uma vontade acima e alheia à opinião pública, cuja importância só é levada em conta nas eleições para ser manipulada pelo marketing. Essa é a única explicação plausível para a decisão de nomear um bancário do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para o comando da Petrobras. Um quadro cascudo da alta burocracia petista, que não tem medo de crises de imagem nem de denúncias, mas sem nenhuma experiência na área de petróleo e gás.
A fortaleza
Não foi uma decisão desprovida de senso lógico, muito pelo contrário. Com o preço do petróleo em baixa, a exploração do pré-sal em grandes profundidades foi para as calendas; com o escândalo da Lava-Jato, os grandes projetos de ampliação da planta instalada de refino estão paralisados. As prioridades são a contabilidade da estatal, cujo balanço precisa ser maquiado, auditado e publicado, e uma negociação complicada com o mercado financeiro, uma vez que os acionistas minoritários estão em pé de guerra. No exterior, já pululam as ações judiciais; suspeita-se que houve uma milionária jogada financeira na Bolsa entre sua escolha e o anúncio dessa decisão porque alguém passou do bizu.
Mas tem também a necessidade de preservar o projeto de poder do PT e o modelo de capitalismo de Estado que entrou em xeque com o fracasso da "nova matriz econômica" e a volta do "mais do mesmo" - câmbio flutuante, meta de inflação e superavit fiscal - do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A opção esperada era o alinhamento da nova diretoria da Petrobras com a nova orientação da economia. Dilma decidiu fazer o contrário: transformar a estatal e todo o arranjo industrial que a cerca numa fortaleza inexpugnável do seu Leviatã contra o mercado.
A imagem do monstro bíblico vem de novo a calhar porque serve de conceito para um estudo dos economistas Aldo Musacchioo, professor da Harvard Business Scholl, e de Sérgio G. Lazzarini, do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa, intitulado Reinventando o capitalismo de Estado (Portgfolio/Penguin). É um estudo comparado, com foco especial no Brasil, no qual são conceituadas três modalidades de Leviatãs ou, digamos, de "matriz econômica": o empreendedor, o acionista majoritário e o acionista minoritário. Temos as três: respectivamente, a Eletrobras, a Petrobras e a Vale.
Mas o "case" de destaque do livro é a JBS, que se tornou a potência global do mercado de carne e frango num passe de mágica, com dinheiro do BNDES. Doou ao todo R$ 352 milhões nestas eleições, segundo oTribunal Superior Eleitoral (TSE), dos quais R$ 69,2 milhões foram destinados à campanha de Dilma à reeleição. Também desembolsou R$ 61,2 milhões aos postulantes a uma vaga na Câmara dos Deputados e R$ 10,7 milhões aos candidatos ao Senado. É ou não é para acreditar no Livro de Jó?
Como os velhos jacobinos e os nossos castilhistas, a presidente da República acredita que o Estado pode tudo
No Livro de Jó, do Antigo Testamento, o Leviatã é descrito como um gigantesco monstro aquático. Ninguém poderia afrontá-lo e sair com vida. Deus assim o descreve no diálogo com Jó: "Quando se levanta, tremem as ondas do mar, as vagas do mar se afastam. Se uma espada o toca, ela não resiste, nem a lança, nem a azagaia, nem o dardo. O ferro para ele é palha, o bronze, pau podre." A imagem bíblica serviu de inspiração para O Leviatã, de Thomas Hobbes (1587-1666), obra seminal da moderna teoria do Estado, escrita durante a guerra civil na Inglaterra e publicada em 1661.
Hobbes parte do princípio de que os homens são egoístas e que o mundo não satisfaz todas as suas necessidades. No chamado estado natural, sem a existência da sociedade civil, há necessariamente competição entre os homens pela riqueza, segurança e glória. A luta que se segue é a guerra de todos contra todos, não pode haver comércio, indústria ou civilização, e a vida do homem é solitária, pobre, suja, brutal e curta.
A existência de um "contrato social" em que o Estado deteria consigo todo o poder da sociedade é a garantia da paz e da defesa comum dos indivíduos contra o caos e as guerras. Essa é a gênese do Estado absolutista - no qual todos se tornam súditos e o soberano, representante da vontade do povo, detentor da autoridade delegada pelos homens -, que operou a transição do feudalismo para o mercantilismo e a formação dos impérios modernos.
A presidente Dilma Rousseff, como os velhos jacobinos e os nossos castilhistas, acredita que o Estado pode tudo. Na juventude, sonhou que a tomada do poder pelas armas seria o bastante para se chegar ao paraíso. Com a anistia e a redemocratização do país, fez carreira política no poder instalado, primeiro em Porto Alegre, depois em Brasília. Tem todos os motivos para acreditar nisso: assim chegou ao Palácio da Alvorada, onde reside. Venceu duas eleições presidenciais, é bem verdade, mas atalhou o caminho pela força do Estado. Sem ele, de nada adiantaria o prestígio eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não seria nem sequer candidata.
Essa concepção, na sua essência, tem uma matriz autoritária; golpista, sim, pois pressupõe uma vontade acima e alheia à opinião pública, cuja importância só é levada em conta nas eleições para ser manipulada pelo marketing. Essa é a única explicação plausível para a decisão de nomear um bancário do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, para o comando da Petrobras. Um quadro cascudo da alta burocracia petista, que não tem medo de crises de imagem nem de denúncias, mas sem nenhuma experiência na área de petróleo e gás.
A fortaleza
Não foi uma decisão desprovida de senso lógico, muito pelo contrário. Com o preço do petróleo em baixa, a exploração do pré-sal em grandes profundidades foi para as calendas; com o escândalo da Lava-Jato, os grandes projetos de ampliação da planta instalada de refino estão paralisados. As prioridades são a contabilidade da estatal, cujo balanço precisa ser maquiado, auditado e publicado, e uma negociação complicada com o mercado financeiro, uma vez que os acionistas minoritários estão em pé de guerra. No exterior, já pululam as ações judiciais; suspeita-se que houve uma milionária jogada financeira na Bolsa entre sua escolha e o anúncio dessa decisão porque alguém passou do bizu.
Mas tem também a necessidade de preservar o projeto de poder do PT e o modelo de capitalismo de Estado que entrou em xeque com o fracasso da "nova matriz econômica" e a volta do "mais do mesmo" - câmbio flutuante, meta de inflação e superavit fiscal - do ministro da Fazenda, Joaquim Levy. A opção esperada era o alinhamento da nova diretoria da Petrobras com a nova orientação da economia. Dilma decidiu fazer o contrário: transformar a estatal e todo o arranjo industrial que a cerca numa fortaleza inexpugnável do seu Leviatã contra o mercado.
A imagem do monstro bíblico vem de novo a calhar porque serve de conceito para um estudo dos economistas Aldo Musacchioo, professor da Harvard Business Scholl, e de Sérgio G. Lazzarini, do Insper - Instituto de Ensino e Pesquisa, intitulado Reinventando o capitalismo de Estado (Portgfolio/Penguin). É um estudo comparado, com foco especial no Brasil, no qual são conceituadas três modalidades de Leviatãs ou, digamos, de "matriz econômica": o empreendedor, o acionista majoritário e o acionista minoritário. Temos as três: respectivamente, a Eletrobras, a Petrobras e a Vale.
Mas o "case" de destaque do livro é a JBS, que se tornou a potência global do mercado de carne e frango num passe de mágica, com dinheiro do BNDES. Doou ao todo R$ 352 milhões nestas eleições, segundo oTribunal Superior Eleitoral (TSE), dos quais R$ 69,2 milhões foram destinados à campanha de Dilma à reeleição. Também desembolsou R$ 61,2 milhões aos postulantes a uma vaga na Câmara dos Deputados e R$ 10,7 milhões aos candidatos ao Senado. É ou não é para acreditar no Livro de Jó?
O risco real de faltar luz - EDITORIAL O ESTADÃO
O ESTADO DE S.PAULO - 08/02
Embora o governo continue tentando esconder a crise, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) - encarregado de acompanhar as condições de abastecimento e atendimento do mercado de energia elétrica no País - reconheceu que o risco de faltar luz passou do limite de tolerância de 5% e alcançou 7,3% nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste.
O risco maior e as previsões de que as chuvas continuarão insuficientes para elevar o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas levaram o governo a liberar o uso pleno da usinas termoelétricas, mais poluentes e de custo operacional mais caro. Isso implicará mais aumento nas contas de luz do que os já previstos. O governo advertiu o consumidor, por meio do sistema de bandeiras adotado no início do ano, de que as contas vão subir - para fevereiro, vigora a bandeira vermelha, que indica acréscimo de R$ 3 por 100 kWh consumidos. Não contente, vai elevar para R$ 5,50 (mais 83%) o valor a ser adicionado à conta com a bandeira vermelha.
Nem assim, porém, estará inteiramente afastada a possibilidade de faltar energia, pois, mesmo com as termoelétricas funcionando a todo vapor, o risco nas regiões mais afetadas pela seca continuará acima do limite de segurança.
Em nota, o CMSE afirmou que o sistema está "estruturalmente equilibrado", citou ampliações ou construção de hidrelétricas, linhas de transmissão e subestações e garantiu que há "sobra estrutural de cerca de 7.300 megawatts médios para atender à carga prevista". Além disso, acrescenta a nota, o Sistema Interligado Nacional, que tem a função de assegurar o fornecimento de energia elétrica em qualquer ponto do território nacional independentemente da localização da usina geradora, "dispõe das condições estruturais para o abastecimento de todo o País".
Ou seja, mesmo tendo reconhecido que o risco de faltar energia ultrapassou o limite de segurança, e tendo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinado o "despacho pleno" (ou o uso da capacidade total) das usinas térmicas, o CMSE afirma que não há problemas no setor. Repete, assim, o comportamento do governo Dilma Rousseff, que não reconhece as crises que se avolumam à sua frente.
Além das evidências físicas da crise - como o baixíssimo nível das represas que abastecem as hidrelétricas e a consequente redução do ritmo de sua produção -, o governo dispunha, desde maio do ano passado, de um instrumento formal para, reconhecendo a existência do problema, tomar providências para pelo menos evitar seu agravamento. Mas, decerto inspirado em cálculos político-eleitorais, nada fez.
Auditoria feita no início de 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) "encontrou fortes indícios de que a capacidade de geração de energia elétrica no País se configura estruturalmente insuficiente para garantir a segurança energética", como afirmam os auditores.
Entre as causas da "insuficiência estrutural", o TCU apontou falhas no planejamento da expansão do sistema, superestimação da capacidade das usinas, indisponibilidade de parte do sistema de geração térmica e atraso de obras.
Por isso, determinou ao Ministério de Minas e Energia que, em 90 dias, encaminhasse um plano de trabalho para a elaboração de estudos sobre as várias modalidades de geração de energia elétrica e os planos para sua utilização de modo a compatibilizar a segurança no abastecimento, o cumprimento da legislação ambiental e a economicidade do sistema.
Como nada disso foi feito, o TCU determinou, na quarta-feira passada, que, no prazo de 10 dias, o Ministério de Minas e Energia "se manifeste sobre o risco de a geração de energia elétrica não atender à demanda durante o exercício de 2015". Além disso, o governo deve enviar uma descrição detalhada das medidas que adotou para a redução do consumo de energia desde o surgimento, em 2012, dos primeiros sinais de problemas de geração.
Ao ignorar a crise no sistema elétrico, a nota do CMSE antecipa a atitude que o governo deverá tomar diante da nova determinação do TCU: ignorá-la.
Embora o governo continue tentando esconder a crise, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) - encarregado de acompanhar as condições de abastecimento e atendimento do mercado de energia elétrica no País - reconheceu que o risco de faltar luz passou do limite de tolerância de 5% e alcançou 7,3% nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste.
O risco maior e as previsões de que as chuvas continuarão insuficientes para elevar o nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas levaram o governo a liberar o uso pleno da usinas termoelétricas, mais poluentes e de custo operacional mais caro. Isso implicará mais aumento nas contas de luz do que os já previstos. O governo advertiu o consumidor, por meio do sistema de bandeiras adotado no início do ano, de que as contas vão subir - para fevereiro, vigora a bandeira vermelha, que indica acréscimo de R$ 3 por 100 kWh consumidos. Não contente, vai elevar para R$ 5,50 (mais 83%) o valor a ser adicionado à conta com a bandeira vermelha.
Nem assim, porém, estará inteiramente afastada a possibilidade de faltar energia, pois, mesmo com as termoelétricas funcionando a todo vapor, o risco nas regiões mais afetadas pela seca continuará acima do limite de segurança.
Em nota, o CMSE afirmou que o sistema está "estruturalmente equilibrado", citou ampliações ou construção de hidrelétricas, linhas de transmissão e subestações e garantiu que há "sobra estrutural de cerca de 7.300 megawatts médios para atender à carga prevista". Além disso, acrescenta a nota, o Sistema Interligado Nacional, que tem a função de assegurar o fornecimento de energia elétrica em qualquer ponto do território nacional independentemente da localização da usina geradora, "dispõe das condições estruturais para o abastecimento de todo o País".
Ou seja, mesmo tendo reconhecido que o risco de faltar energia ultrapassou o limite de segurança, e tendo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinado o "despacho pleno" (ou o uso da capacidade total) das usinas térmicas, o CMSE afirma que não há problemas no setor. Repete, assim, o comportamento do governo Dilma Rousseff, que não reconhece as crises que se avolumam à sua frente.
Além das evidências físicas da crise - como o baixíssimo nível das represas que abastecem as hidrelétricas e a consequente redução do ritmo de sua produção -, o governo dispunha, desde maio do ano passado, de um instrumento formal para, reconhecendo a existência do problema, tomar providências para pelo menos evitar seu agravamento. Mas, decerto inspirado em cálculos político-eleitorais, nada fez.
Auditoria feita no início de 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) "encontrou fortes indícios de que a capacidade de geração de energia elétrica no País se configura estruturalmente insuficiente para garantir a segurança energética", como afirmam os auditores.
Entre as causas da "insuficiência estrutural", o TCU apontou falhas no planejamento da expansão do sistema, superestimação da capacidade das usinas, indisponibilidade de parte do sistema de geração térmica e atraso de obras.
Por isso, determinou ao Ministério de Minas e Energia que, em 90 dias, encaminhasse um plano de trabalho para a elaboração de estudos sobre as várias modalidades de geração de energia elétrica e os planos para sua utilização de modo a compatibilizar a segurança no abastecimento, o cumprimento da legislação ambiental e a economicidade do sistema.
Como nada disso foi feito, o TCU determinou, na quarta-feira passada, que, no prazo de 10 dias, o Ministério de Minas e Energia "se manifeste sobre o risco de a geração de energia elétrica não atender à demanda durante o exercício de 2015". Além disso, o governo deve enviar uma descrição detalhada das medidas que adotou para a redução do consumo de energia desde o surgimento, em 2012, dos primeiros sinais de problemas de geração.
Ao ignorar a crise no sistema elétrico, a nota do CMSE antecipa a atitude que o governo deverá tomar diante da nova determinação do TCU: ignorá-la.
Geral e irrestrito - EDITORIAL FOLHA DE SP
FOLHA DE SP - 08/02
Um surto de irritação degradou a opinião dos brasileiros a respeito de seus governantes a um nível de desprestígio ainda maior que aquele registrado em junho de 2013.
Trata-se, porém, de um junho invisível, de uma crítica que não sobreveio do debate que emanou dos protestos nas ruas, mas da súbita consciência da extensão e das consequências das mentiras da campanha eleitoral. É o que revela pesquisa Datafolha publicada hoje.
O colapso da confiança transparece em particular nas expectativas econômicas, que se deterioraram de modo veloz e inédito em quase 20 anos de registros do instituto.
O sentimento de desesperança e desaprovação vem acompanhado de perigoso descrédito do poder público. A maioria da população afirma que as autoridades mentem a maior parte do tempo ou omitem informações essenciais.
Ao fim da campanha eleitoral do ano passado, os ânimos exaltados desde meados de 2013 pareciam desanuviar-se. O prestígio da presidente Dilma Rousseff (PT), do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), recuperava-se no interregno de otimismo dos dias da votação.
Quando da reeleição, somente 20% dos eleitores tinham o governo Dilma como ruim ou péssimo. Ainda no início de dezembro, não se percebia, pelos dados do Datafolha, deterioração de sua imagem, exaltada no mundo mágico da propaganda política.
Agora, quando a vida real bateu à porta, 44% do eleitorado considera ruim ou péssima a gestão da petista, número que impressiona de duas maneiras. Primeiro, é muito pior, para Dilma, do que o verificado em meados de 2013, quando sua desaprovação saltou para 25%. Talvez mais importante, essa fatia dos entrevistados supera a dos que aprovam seu governo, meros 23% de ótimo e bom.
Em condição bem melhor que a da petista, Geraldo Alckmin viu sua avaliação positiva cair dez pontos (38% de ótimo/bom), numa situação semelhante à registrada em junho de 2013. Também Fernando Haddad sentiu efeito parecido: a parcela que reprova sua administração passou de 28% para 44%.
Dificilmente a imagem dos governantes terá sido arruinada por questões como corrupção na Petrobras, formação de um ministério medíocre, falta de água em São Paulo ou polêmicas urbanísticas paulistanas –a população já se deparava com elas em 2014.
A irritação deriva do fato de que o eleitorado se deu conta do engodo de que foi vítima e do custo social e econômico do embuste.
Eleitos em outubro, Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin não tardaram a desmentir, na prática, o que vinham afirmando enfaticamente.
Vieram as medidas econômicas amargas, represadas pela demagogia irresponsável. Subiram as taxas de juros e anunciaram-se aumentos brutais do preço da eletricidade; houve reajuste na tarifa de metrô, trens e ônibus; despesas sociais foram cortadas, enquanto o governo Dilma encaminhava a elevação da carga tributária.
Tal saraivada traduz incúrias velhas e novas no trato das contas públicas, da infraestrutura de serviços, da inflação. A fatura dos descasos de anos e das manipulações promovidas em períodos eleitorais começou a chegar na vida cotidiana. O cidadão compreendeu o logro e calcula seus efeitos.
Não é de admirar a revolta.
No âmbito estadual, de forma dissimulada e parcial, o governo de São Paulo reconhece a gravidade da crise da água. A frustração das últimas esperanças de que haveria chuvas suficientes em janeiro e um apagão energético insuflaram o sentimento de crise.
Para 60% dos entrevistados pelo Datafolha, Dilma disse mais mentiras do que verdades na campanha eleitoral; no caso de Alckmin, são 44%, embora na capital seu descrédito seja maior: 57%. Além do mais, para 81% da população paulista, o governo divulga apenas as informações sobre a crise da água que são de seu interesse.
Os cidadãos têm visão realista do cenário, ao contrário do que se passa com os governantes. Para 65% dos entrevistados pelo país, é o caso de dar início ao racionamento de energia; entre os que foram ouvidos na região metropolitana de São Paulo, 60% são a favor do rodízio do fornecimento de água.
No que respeita à economia, os brasileiros estão alarmados como nunca nos últimos 20 anos. A inflação vai subir, de acordo com a opinião de 81% dos entrevistados. O medo do aumento do desemprego afeta 62% dos cidadãos –não era tão grande desde junho de 2001, quando a taxa de desemprego era o dobro da atual, pelo menos.
Tais números não traduzem a situação presente do emprego nem representam uma estimativa refletida da inflação, mas mostram que o brasileiro desiludido percebe o efeito que as medidas econômicas e a escassez de energia terão na sua vida e na atividade do país: um choque de desconfiança.
No conjunto, os números da pesquisa Datafolha revelam um cidadão frustrado e irritado, mas ainda assim capaz de perceber com mais clareza e responsabilidade do que os governantes a necessidade de implementar medidas de contenção das diversas crises.
Brasileiros que, na maioria, optam por decisões realistas, se tratados com respeito democrático; isto é, se bem informados, se não são privados do direito de debate das questões públicas. De outro modo, como agora, manifestam sua revolta por terem sido enganados.
A pesquisa traz um alerta claro.
Um surto de irritação degradou a opinião dos brasileiros a respeito de seus governantes a um nível de desprestígio ainda maior que aquele registrado em junho de 2013.
Trata-se, porém, de um junho invisível, de uma crítica que não sobreveio do debate que emanou dos protestos nas ruas, mas da súbita consciência da extensão e das consequências das mentiras da campanha eleitoral. É o que revela pesquisa Datafolha publicada hoje.
O colapso da confiança transparece em particular nas expectativas econômicas, que se deterioraram de modo veloz e inédito em quase 20 anos de registros do instituto.
O sentimento de desesperança e desaprovação vem acompanhado de perigoso descrédito do poder público. A maioria da população afirma que as autoridades mentem a maior parte do tempo ou omitem informações essenciais.
Ao fim da campanha eleitoral do ano passado, os ânimos exaltados desde meados de 2013 pareciam desanuviar-se. O prestígio da presidente Dilma Rousseff (PT), do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do prefeito da capital paulista, Fernando Haddad (PT), recuperava-se no interregno de otimismo dos dias da votação.
Quando da reeleição, somente 20% dos eleitores tinham o governo Dilma como ruim ou péssimo. Ainda no início de dezembro, não se percebia, pelos dados do Datafolha, deterioração de sua imagem, exaltada no mundo mágico da propaganda política.
Agora, quando a vida real bateu à porta, 44% do eleitorado considera ruim ou péssima a gestão da petista, número que impressiona de duas maneiras. Primeiro, é muito pior, para Dilma, do que o verificado em meados de 2013, quando sua desaprovação saltou para 25%. Talvez mais importante, essa fatia dos entrevistados supera a dos que aprovam seu governo, meros 23% de ótimo e bom.
Em condição bem melhor que a da petista, Geraldo Alckmin viu sua avaliação positiva cair dez pontos (38% de ótimo/bom), numa situação semelhante à registrada em junho de 2013. Também Fernando Haddad sentiu efeito parecido: a parcela que reprova sua administração passou de 28% para 44%.
Dificilmente a imagem dos governantes terá sido arruinada por questões como corrupção na Petrobras, formação de um ministério medíocre, falta de água em São Paulo ou polêmicas urbanísticas paulistanas –a população já se deparava com elas em 2014.
A irritação deriva do fato de que o eleitorado se deu conta do engodo de que foi vítima e do custo social e econômico do embuste.
Eleitos em outubro, Dilma Rousseff e Geraldo Alckmin não tardaram a desmentir, na prática, o que vinham afirmando enfaticamente.
Vieram as medidas econômicas amargas, represadas pela demagogia irresponsável. Subiram as taxas de juros e anunciaram-se aumentos brutais do preço da eletricidade; houve reajuste na tarifa de metrô, trens e ônibus; despesas sociais foram cortadas, enquanto o governo Dilma encaminhava a elevação da carga tributária.
Tal saraivada traduz incúrias velhas e novas no trato das contas públicas, da infraestrutura de serviços, da inflação. A fatura dos descasos de anos e das manipulações promovidas em períodos eleitorais começou a chegar na vida cotidiana. O cidadão compreendeu o logro e calcula seus efeitos.
Não é de admirar a revolta.
No âmbito estadual, de forma dissimulada e parcial, o governo de São Paulo reconhece a gravidade da crise da água. A frustração das últimas esperanças de que haveria chuvas suficientes em janeiro e um apagão energético insuflaram o sentimento de crise.
Para 60% dos entrevistados pelo Datafolha, Dilma disse mais mentiras do que verdades na campanha eleitoral; no caso de Alckmin, são 44%, embora na capital seu descrédito seja maior: 57%. Além do mais, para 81% da população paulista, o governo divulga apenas as informações sobre a crise da água que são de seu interesse.
Os cidadãos têm visão realista do cenário, ao contrário do que se passa com os governantes. Para 65% dos entrevistados pelo país, é o caso de dar início ao racionamento de energia; entre os que foram ouvidos na região metropolitana de São Paulo, 60% são a favor do rodízio do fornecimento de água.
No que respeita à economia, os brasileiros estão alarmados como nunca nos últimos 20 anos. A inflação vai subir, de acordo com a opinião de 81% dos entrevistados. O medo do aumento do desemprego afeta 62% dos cidadãos –não era tão grande desde junho de 2001, quando a taxa de desemprego era o dobro da atual, pelo menos.
Tais números não traduzem a situação presente do emprego nem representam uma estimativa refletida da inflação, mas mostram que o brasileiro desiludido percebe o efeito que as medidas econômicas e a escassez de energia terão na sua vida e na atividade do país: um choque de desconfiança.
No conjunto, os números da pesquisa Datafolha revelam um cidadão frustrado e irritado, mas ainda assim capaz de perceber com mais clareza e responsabilidade do que os governantes a necessidade de implementar medidas de contenção das diversas crises.
Brasileiros que, na maioria, optam por decisões realistas, se tratados com respeito democrático; isto é, se bem informados, se não são privados do direito de debate das questões públicas. De outro modo, como agora, manifestam sua revolta por terem sido enganados.
A pesquisa traz um alerta claro.
COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO
“Bendine é um nome sem prestígio para reerguer a [Petrobras]”
Senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), sobre a escolha de Dilma para comandar a estatal
LULA E ALIADOS QUEREM MERCADANTE FORA DO GOVERNO
O ex-presidente Lula, que o acusou de haver “sequestrado” o governo, e líderes de partidos aliados pressionam Dilma a se livrar de Aloizio Mercadante (Casa Civil), que azedou de vez as relações do governo com o Congresso. Trapalhão, ele conseguiu piorar o clima, após a vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao ameaçar distribuir cargos de segundo escalão segundo o grau de obediência dos parlamentares.
NÃO ENTENDEU NADA
Mercadante não percebeu que Eduardo Cunha venceu porque fez os deputados acreditarem que enfim seriam respeitados pelo governo.
REFÉM DE LUXO
Lula e os líderes aliados reconhecem ser difícil levar Dilma a demitir Mercadante. Ele é hoje o único contado dela com a vida “lá fora”.
ISOLAMENTO
Para tornar Dilma dependente, Mercadante afastou do Planalto todos os que tinham acesso a ela, inclusive o velho assessor Gilles Azevedo.
SR. DERROTA
A arrogância de Mercadante derrotou o candidato do PT a presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, segundo acredita a cúpula petista.
TEMER ARTICULA PARA APROVAR DISTRITÃO NO CONGRESSO
Contrariando o PT, que quer implantar voto em lista na próxima eleição, o vice-presidente da República, Michel Temer, articula para aprovar ainda este ano a tese do “distritão”. O PMDB negocia o apoio do PSDB para derrotar a proposta de reforma política do PT. O tucanato já está unido ao PMDB para impedir a criação do Partido Liberal, articulado pelo ministro Gilberto Kassab para esvaziar o PMDB e a oposição.
JUNTOS NA CAUSA
Michel Temer almoçou no dia 4 com deputado Miro Teixeira (PROS-RJ), a quem pediu para articular a aprovação do ‘distritão’ na Câmara.
CONSULTA POPULAR
Fiel escudeiro de Temer, Moreira Franco elaborará até março proposta de reforma com base em enquete da Fundação Ulysses Guimarães.
SEM PUXADORES
O distritão, que se configura na eleição majoritária para deputados e vereadores, acabaria com puxadores de votos como Tiririca, Romário...
BRIGA DE FOICE
Em meio ao escândalo do Petrolão, a Comissão de Minas e Energia da Câmara nunca foi tão cobiçada por deputados, aliados e de oposição. A fila de candidatos a membro titular e até suplente é enorme.
SEM VERGONHA
Apesar de o ministro Pepe Vargas (Rel. Institucionais) dar de ombros para o envolvimento do tesoureiro do PT João Vaccari Neto na operação Lava Jato, que apura o roubou à Petrobras, Vaccari foi um dos assuntos mais comentados (trending topics) no Twitter na semana.
RACHA NO PSOL
Isolado após se aproximar do governo Dilma, o senador Randolfe Rodrigues (AP) está negociando sua saída do PSOL. O deputado reeleito Jean Wyllys (RJ) também anda às turras com o partido.
PEQUENA FORTUNA
A diretoria-geral do Senado publicou portaria na sexta (29) concedendo pensão à Iracy Ramos Marinho, mulher do falecido senador Josaphat Ramos Marinho. A pensão corresponde a 50% dos vencimentos do ex-senador a partir de 31 de março de 2002, data do óbito.
E O RODÍZIO?
Deputados do PSDB ficaram incomodados com a escolha da dupla Carlos Sampaio (SP) e Bruno Araújo (PE) para representar a bancada e o bloco da Minoria. Os dois foram líderes na legislatura passada.
ENTRA NA FILA
Ex-deputado, Edson Giroto (PR) tem coletado assinaturas na bancada do Mato Grosso do Sul para ser indicado à diretoria do DNIT, que tem orçamento de mais de R$ 8 bilhões e é muito cobiçado por autoridades.
FUTURO PMB
Capitão Augusto (PR-SP) causou estranheza ao tomar posse e circular durante toda a semana usando farda de policial no Congresso. O deputado está na linha de frente da criação do Partido Militar Brasileiro.
FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO
O PSDB indicará o tucano Giuseppe Vecci (GO), aliado do governador Marconi Perillo, para presidir a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. O acordo foi feito com o presidente Eduardo Cunha (PMDB).
FIM DA MAMATA
Mal terminou eleição, deputados já descem a lenha no novo presidente da Câmara: eles não querem trabalhar às quintas, como determinou Eduardo Cunha.
Senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), sobre a escolha de Dilma para comandar a estatal
LULA E ALIADOS QUEREM MERCADANTE FORA DO GOVERNO
O ex-presidente Lula, que o acusou de haver “sequestrado” o governo, e líderes de partidos aliados pressionam Dilma a se livrar de Aloizio Mercadante (Casa Civil), que azedou de vez as relações do governo com o Congresso. Trapalhão, ele conseguiu piorar o clima, após a vitória de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao ameaçar distribuir cargos de segundo escalão segundo o grau de obediência dos parlamentares.
NÃO ENTENDEU NADA
Mercadante não percebeu que Eduardo Cunha venceu porque fez os deputados acreditarem que enfim seriam respeitados pelo governo.
REFÉM DE LUXO
Lula e os líderes aliados reconhecem ser difícil levar Dilma a demitir Mercadante. Ele é hoje o único contado dela com a vida “lá fora”.
ISOLAMENTO
Para tornar Dilma dependente, Mercadante afastou do Planalto todos os que tinham acesso a ela, inclusive o velho assessor Gilles Azevedo.
SR. DERROTA
A arrogância de Mercadante derrotou o candidato do PT a presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, segundo acredita a cúpula petista.
TEMER ARTICULA PARA APROVAR DISTRITÃO NO CONGRESSO
Contrariando o PT, que quer implantar voto em lista na próxima eleição, o vice-presidente da República, Michel Temer, articula para aprovar ainda este ano a tese do “distritão”. O PMDB negocia o apoio do PSDB para derrotar a proposta de reforma política do PT. O tucanato já está unido ao PMDB para impedir a criação do Partido Liberal, articulado pelo ministro Gilberto Kassab para esvaziar o PMDB e a oposição.
JUNTOS NA CAUSA
Michel Temer almoçou no dia 4 com deputado Miro Teixeira (PROS-RJ), a quem pediu para articular a aprovação do ‘distritão’ na Câmara.
CONSULTA POPULAR
Fiel escudeiro de Temer, Moreira Franco elaborará até março proposta de reforma com base em enquete da Fundação Ulysses Guimarães.
SEM PUXADORES
O distritão, que se configura na eleição majoritária para deputados e vereadores, acabaria com puxadores de votos como Tiririca, Romário...
BRIGA DE FOICE
Em meio ao escândalo do Petrolão, a Comissão de Minas e Energia da Câmara nunca foi tão cobiçada por deputados, aliados e de oposição. A fila de candidatos a membro titular e até suplente é enorme.
SEM VERGONHA
Apesar de o ministro Pepe Vargas (Rel. Institucionais) dar de ombros para o envolvimento do tesoureiro do PT João Vaccari Neto na operação Lava Jato, que apura o roubou à Petrobras, Vaccari foi um dos assuntos mais comentados (trending topics) no Twitter na semana.
RACHA NO PSOL
Isolado após se aproximar do governo Dilma, o senador Randolfe Rodrigues (AP) está negociando sua saída do PSOL. O deputado reeleito Jean Wyllys (RJ) também anda às turras com o partido.
PEQUENA FORTUNA
A diretoria-geral do Senado publicou portaria na sexta (29) concedendo pensão à Iracy Ramos Marinho, mulher do falecido senador Josaphat Ramos Marinho. A pensão corresponde a 50% dos vencimentos do ex-senador a partir de 31 de março de 2002, data do óbito.
E O RODÍZIO?
Deputados do PSDB ficaram incomodados com a escolha da dupla Carlos Sampaio (SP) e Bruno Araújo (PE) para representar a bancada e o bloco da Minoria. Os dois foram líderes na legislatura passada.
ENTRA NA FILA
Ex-deputado, Edson Giroto (PR) tem coletado assinaturas na bancada do Mato Grosso do Sul para ser indicado à diretoria do DNIT, que tem orçamento de mais de R$ 8 bilhões e é muito cobiçado por autoridades.
FUTURO PMB
Capitão Augusto (PR-SP) causou estranheza ao tomar posse e circular durante toda a semana usando farda de policial no Congresso. O deputado está na linha de frente da criação do Partido Militar Brasileiro.
FINANÇAS E TRIBUTAÇÃO
O PSDB indicará o tucano Giuseppe Vecci (GO), aliado do governador Marconi Perillo, para presidir a Comissão de Finanças e Tributação da Câmara. O acordo foi feito com o presidente Eduardo Cunha (PMDB).
FIM DA MAMATA
Mal terminou eleição, deputados já descem a lenha no novo presidente da Câmara: eles não querem trabalhar às quintas, como determinou Eduardo Cunha.