sexta-feira, julho 18, 2014

Dilemas em excesso - JOSÉ PAULO KUPFER

O GLOBO - 18/07


A política monetária caiu numa armadilha da qual sairá com custos maiores do que os necessários, se for administrada pelos manuais ortodoxos



Um ortodoxo radical em economia poderia criticar a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) que, nesta quarta-feira, manteve a taxa básica de juros em 11% ao ano. Os diretores do Banco Central, que formam o comitê, repetiram agora em julho a taxa definida em maio, bem como os termos do comunicado público então emitido, mesmo com a inflação acima do teto da meta e com tendência de alta pelo menos até o último trimestre do ano.

Ainda que, pela ótica mais ortodoxa, a decisão não pareça lógica — a lógica, nessa visão, seria derrubar a inflação para o centro da meta em qualquer circunstância —, ela foi adotada por unanimidade dos integrantes do Copom, assim como era unânime a expectativa dos analistas de que a taxa de juros não seria alterada. Envolvida num excesso de dilemas, a política monetária não tem mesmo muito espaço como se mover, neste momento complicado.

São pelo menos dois os limites estreitos em que as políticas de juros e de câmbio podem circular, nos dias de hoje. O primeiro é o do crescimento econômico, que está baixo e com tendência a enfraquecer ainda mais. Elevar a taxa de juros é a ação mais tradicional para atacar pressões inflacionárias, mas um dos seus efeitos colaterais opera justamente como freio do nível de atividades. Se a economia já parece rodar em ritmo inferior a 1% ao ano, subir juros agora embutiria o risco de colocar mais gelo na geladeira.

Um outro limite vem do setor externo da economia. Em regimes de câmbio flutuante — limpos ou sujos —, movimentos nas taxas de juros costumam repercutir nas taxas de câmbio, e aumentos nos juros colaboram para valorizar a moeda local ante as estrangeiras. O real valorizado barateia importações e encarece exportações, agindo no sentindo de alargar o déficit em transaçöes correntes. Como o déficit já se encontra nas desconfortáveis alturas de 3,6% do PIB, uma alta dos juros tenderia a estressar ainda mais o lado externo.

A política monetária, em resumo, caiu numa armadilha da qual talvez sairá com custos maiores do que os necessários, se for administrada pelos manuais ortodoxos. Um exemplo relativamente recente dos efeitos tumultuadores da aplicação deste manual pode ser encontrado na ação do Banco Central, em setembro de 2008, às vésperas da quebra do banco Lehman Brothers, marco histórico da maior crise econômica global desde a Grande Depressão dos anos 30.

Dois dias úteis antes do evento, o Copom, numa decisão dividida, elevou os juros básicos em 0,75 ponto percentual, levando-os a 13,75% ao ano. A economia, naquele momento, crescia nas vizinhanças de 5% e a inflação acumulada em 12 meses rodava perto do teto da meta, na perigosa faixa de 6%.

Formado na época por uma maioria de economistas ortodoxos, oriundos do mercado financeiro, o comitê preocupou-se apenas com a tendência ascendente dos índices inflacionários. Não considerou as nuvens negras visíveis que já se formavam há algum tempo no horizonte globa e não previu — ou não deu importância — a tempestade que desabou em seguida. Mais: mesmo depois do colapso, manteve os juros altos por mais duas reuniões, em outubro e dezembro. Só começou a cortá-los, em janeiro.

O que ocorreu daí em diante não tem paralelo no histórico dos juros básicos. Só no primeiro semestre de 2009, a taxa Selic recuou cinco pontos percentuais, em pancadas de um ponto percentual por reunião do Copom. A inflação, que já começara a recuar em dezembro, antes da corrida para ajustar a taxa de juros à realidade dos novos e turbulentos tempos, fechou aquele ano em 4,3%, abaixo do centro da meta. E a economia, em 2009, encolheu 0,3%

A pergunta que fica é a seguinte: era preciso subir juros na véspera da hecatombe para evitar um incerto descontrole da inflação?

O emprego fraqueja - CELSO MING

O ESTADÃO - 18/07


Ontem saíram mais três dados sobre o desempenho da economia. Dois deles continuaram apontando fraqueza. O terceiro ficou perto do desastre.

Os dados fracos vieram do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) e da Pesquisa Mensal de Serviços. O quase desastre apareceu no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

O IBC-Br foi montado pelo Banco Central em 2010 para antecipar o comportamento do PIB, que só é divulgado trimestralmente, quatro meses depois de fechado o trimestre. E o que o IBC-Br mostrou ontem a respeito do que ocorreu em maio foi até um pouco melhor do que se esperava: queda de 0,18% em relação à situação de abril (veja o gráfico). Mesmo mais atenuados, os números de maio podem não refletir corretamente o que passou a acontecer, porque outras informações sobre o comportamento da produção mostraram problemas mais graves em junho, que se repetem nas primeiras semanas de julho.

O setor de serviços, que vinha bombando há alguns meses, também mostrou perda de vitalidade. Os dados do IBGE apontaram avanço nominal de 6,6% em maio de 2014, quando comparado com maio de 2013. Como a inflação do período ficou em 6,3%, fica claro que, em termos reais, o faturamento do setor de serviços está enfrentando uma fase próxima da paradeira, de acordo com o que já vem ocorrendo na indústria.

Os dados lastimáveis vieram com a criação de empregos formais (com carteira de trabalho assinada). Em junho, só foram criadas 25,4 mil vagas, o pior mês de junho desde 1998 (veja o Confira). Ainda ontem, a Fiesp apontou novos dados coerentes com esse: queda de 0,64% no nível de emprego na indústria paulista também em junho, em comparação com o mês de maio. É o pior mês de junho desde 2006.

Até agora, a única área macroeconômica que vinha mostrando força era o mercado de trabalho. Mês após mês, o IBGE indicava redução no nível de desocupação e as avaliações mostravam situação de pleno-emprego. No entanto, os dados do Caged mostraram ontem que até o mercado de trabalho começa a fraquejar, mesmo num mês de Copa do Mundo, quando se imaginava que tivessem sido criados muitos empregos, ainda que temporários.

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, já não alardeia que a economia vai criar 1,5 milhão de empregos neste ano. Contenta-se se for 1 milhão. Para que essa meta se cumpra, será preciso que nos seis meses seguintes se criem 69 mil vagas mensais, o que parece difícil. O ministro Dias não consegue esconder que junho é o terceiro mês seguido de desaquecimento e que julho e agosto não prometem retomada sustentável.

Toda essa salada de estatísticas não teria grandes consequências não fosse este o início de um quentíssimo momento político, o da campanha eleitoral. E não há nenhuma indicação de que o governo saiba como enfrentar essa situação inegavelmente adversa para seus objetivos.

Política da economia está no detalhe - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 18/07


Saldo de empregos formais novos equivale a 40% de Lula 2, mas ainda cresce; inflação da comida cai



O ESTOURO DA INFLAÇÃO da comida coincidiu com a piora do humor econômico e, mais tarde, com a piora aguda dos humores sociais, entre meados de 2012 e de 2013. Mas, para quem pretende fazer prognósticos eleitorais baseado em dados econômicos, note-se que o pior da carestia da comida passou.

Decerto os preços altos contribuíram para a deterioração do sentimento de segurança econômica, o que por tabela ajudou a avariar uma economia que definhava ainda por outros motivos. Difícil vai ser deduzir qual o saldo de melhoras e pioras e qual o sentido que o grosso do eleitorado vai dar isso, dadas as suas opções de voto.

A inflação da comida e da bebida teve um ciclo de alta ruim entre junho de 2012 e fevereiro de 2014, com um pico em abril de 2013, quando chegou a 14% ano, acumulada em 12 meses (foi a época do sarcasmo com a "inflação do tomate").

Entre março e maio de 2013, os preços de alimentos e bebidas subiam ao dobro do ritmo da inflação média, exorbitância vista apenas entre 2007 e 2008, com a inflação mundial da comida e de matérias-primas em geral. O preço médio de comida e bebida chegou a crescer 15,8%, em junho de 2008.

Até 2008, porém, havia euforia no Brasil, com melhoras rápidas em emprego, renda, desigualdade social. Convém lembrar que, apesar da piora ou desmelhora dos anos sob Dilma Rousseff, a "economia da vida cotidiana" não é desastrosa.

Ontem saíram, por exemplo, os números do desempenho do mercado formal de trabalho referentes a junho. O aumento do número de empregos com carteira assinada no mês passado foi, muito de longe, o menor em década e meia.

Qual o efeito prático?

Os números mostram o esfriamento da economia e, em parte menor, a um ritmo inevitavelmente menor de formalização do emprego. Nos últimos 12 meses, foram criados ainda 763.499 empregos, alta de 1,8%, maior que a da população economicamente ativa.

Sim, o saldo de empregos novos equivale a 50% da média dos três primeiros anos de Dilma Rousseff e a 40% do da média do segundo governo Lula. Mas houve crescimento; associado ao fato de que o desemprego permanece baixo, é difícil deduzir daí que a crise chegou decisivamente às ruas.

O cenário varia, decerto, de acordo com setores da economia e regiões. Nas grandes metrópoles, o nível de emprego parou de crescer, ao contrário, no entanto, do conjunto do país (logo, a situação no "interior" ainda anda melhor do que a a da média nacional).

Na indústria, o nível de emprego, a quantidade de gente empregada, decresce, com redução do salário médio, de resto. Talvez esteja aí um fator do baixo prestígio do governo federal em algumas metrópoles, embora o clima na grande cidade esteja ruim por outros motivos, vide a explosão de 2013.

Está mais difícil arrumar emprego, o consumo cresce mais devagar, a inflação marcou o eleitorado, mas ainda há algum progresso na "economia cotidiana" e melhoras sociais (a situação macroeconômica, claro, indica anos medíocres à frente, mas seu péssimo estado não tem efeitos muito tangíveis). Fazer uma limonada político-eleitoral com o limão da política econômica vai ser ainda menos simples nesta eleição.

Nova etapa na guerra fiscal - ANTONIO CARLOS SALLA

GAZETA DO POVO - PR - 18/07


O Supremo Tribunal Federal (STF) publicou a proposta de Súmula Vinculante n.º 69, que prevê como inconstitucional qualquer tipo de isenção do Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e sobre Prestações de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação (ICMS) concedida sem autorização do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz). A publicação iniciou uma nova etapa nas intensas discussões em torno da chamada guerra fiscal -- a concessão unilateral de incentivos fiscais de ICMS por parte dos estados e do Distrito Federal.

A Constituição Federal e a Lei Complementar n.º 24/75 já determinam que a concessão de qualquer espécie de benefício fiscal de ICMS depende de aprovação unânime no Confaz. Porém, diversos estados concederam e vêm concedendo, sem a necessária deliberação e aprovação pela autarquia, incentivos fiscais voltados à redução da carga tributária do ICMS a novos empreendimentos em seus territórios ou mesmo à ampliação daqueles já existentes.

Inicialmente, a concessão desses incentivos fiscais era objeto de contestação judicial pelos estados que se sentiam prejudicados, e o STF acabava declarando a inconstitucionalidade de vários desses atos. Após alguns anos, os estados que concediam benefícios fiscais desse gênero alteraram sua linha de ação e, ao se deparar com medidas judiciais tendentes a contestar tais incentivos, revogavam a legislação objeto da demanda judicial e promulgavam outras leis e decretos que concedessem benefícios idênticos.

Essa estratégia implicava na perda do objeto da ação original, exigindo que outra fosse impetrada, e permitia a continuidade das concessões dos incentivos. Em reação, os estados prejudicados deixaram de questionar os benefícios fiscais e passaram a exigir dos contribuintes de seus próprios territórios o pagamento do imposto não recolhido pelos beneficiários dos incentivos estabelecidos em outros estados, mediante glosa dos créditos por eles apropriados.

Em vez de questionar os benefícios considerados inconstitucionais e compelir os próprios beneficiários dos incentivos ao recolhimento do ICMS não pago, passou-se a exigir do comprador das mercadorias a anulação dos créditos de ICMS apropriado, na proporção dos incentivos concedidos na operação. Essa forma de retaliação piora ainda mais a guerra fiscal entre os estados, porque não invalida as leis concessoras de benefícios unilaterais e não coíbe a fruição pelos beneficiários de outros locais, exige o pagamento de imposto e pune com multa pecuniária pessoa diversa da beneficiária.

Ao apreciar a glosa de créditos pelos estados destinatários de mercadorias objeto de incentivos unilaterais, o STF posicionou-se, na maioria das decisões que proferiu, favoravelmente aos adquirentes, dentre outros fundamentos, porque os estados não podem, ao se sentir prejudicados pela concessão unilateral de benefícios, praticar nova inconstitucionalidade, limitando a apropriação de crédito constitucionalmente garantida. Nessa linha de raciocínio, tais decisões destacam que “inconstitucionalidades não se compensam”.

Porém, a aprovação da proposta da Súmula Vinculante n.º 69 pode alterar o entendimento dessa matéria pelo STF, já que o reconhecimento prévio da inconstitucionalidade dos incentivos fiscais concedidos unilateralmente poderia legitimar a glosa desses créditos. Nessa hipótese, a atual situação caótica seria profundamente agravada, por afetar as relações comerciais entre pessoas jurídicas estabelecidas em estados diferentes.

O contribuinte adquirente de mercadorias oriundas de outros estados não tem como certificar-se se o respectivo fornecedor é ou não beneficiário de alguma espécie de incentivo, tampouco pode impedi-lo de tirar proveito do benefício, caso tenha conhecimento desse fato e, pior ainda, o adquirente não necessariamente tem alguma vantagem na aquisição do produto, já que seu fornecedor pode utilizar os incentivos recebidos para aumentar seus ganhos na atividade comercial que desempenha.

Todavia, apesar de tudo isso, será ele – o adquirente – obrigado ao pagamento do ICMS em favor do estado de seu domicílio, além de ser punido com pesada multa por creditar-se do ICMS destacado na nota fiscal de aquisição da mercadoria. Os prejuízos da já combalida economia brasileira serão irreparáveis, porque a manutenção da exigência de estorno desses créditos poderá resultar no encerramento das atividades de empresas idôneas.

Ademais, o risco fiscal decorrente da aquisição de mercadorias de outros estados pode ser refletido nos preços de revenda, tornando os produtos pouco competitivos e concorrendo para a substituição por produtos importados.

Nesse cenário, é imperativo que o Poder Legislativo regule as relações jurídicas que envolvem incentivos fiscais unilateralmente concedidos, visando mitigar os efeitos nocivos imediatos e potenciais causados pela guerra fiscal.

Queda do ritmo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/07


O índice de atividade do Banco Central trouxe mais um dado mostrando o crescimento do ano murchando. Número após número, o que está sendo revelado é que o país está em estagflação. Crescimento próximo de zero e inflação acima do teto. O governo inventará pacotes para alguns setores, neste período pré-eleitoral, mas não há tempo para virar o jogo.

0IBC-Br não é exatamente uma prévia do PIB, tem outra lógica e nem sempre os dados coincidem. A tendência, contudo, é parecida com o indicador que é calculado pelo IBGE. Nos últimos 12 meses, teve 5 retrações.

O bom dado de janeiro trouxe esperança de um ano mais forte, mas entre fevereiro e maio, houve duas quedas e duas pequenas altas. Para junho e julho, os temores são de que a redução da atividade econômica tenha sido afetada pelos sucessivos feriados. O lado bom da Copa, que é a presença de turistas, beneficiou apenas alguns setores. Com o número de maio divulgado ontem, a projeção mais comum passou a ser de queda do PIB no segundo trimestre.

A grande questão é como chegamos à estagflação. O ano teve a Copa e tem a eleição, que deveriam impulsionar um pouco o PIB. O Banco Central elevou a taxa de juros durante um ano e isso deveria ter derrubado a taxa de inflação, mas ela está acima do teto da meta.

Os equívocos foram cometidos antes. A equipe econômica cometeu os erros de aumentar gasto público, manipular indicador fiscal, adotar políticas dirigidas a apenas alguns setores. Achou aceitável um pouco mais de inflação e fez uma intervenção desastrosa na energia. Era para reduzir a conta de luz, mas desorganizou o setor, aumentou incertezas e vai crescer ainda mais o preço da energia nos próximos anos. Não é a crise externa o que nos leva a esse desempenho melancólico. É o próprio governo.

Em março de 2013, a presidente Dilma, na quinta cúpula dos Brics, em Durban, disse que não sacrificaria o crescimento para combater a inflação. Segundo ela, “as vozes de sempre” pediam redução da inflação com medidas que derrubam crescimento, “um receituário que quer matar o doente em vez de curá-lo”. Depois, acusou “agentes de mercado” de terem manipulado sua fala. Repetiu com outras palavras a mesma ideia.

Um grande erro da política econômica, exibido em várias declarações, foi apostar que o controle mais frouxo da inflação levaria a um PIB maior. É o oposto. Inflação mina o crescimento. Os preços altos tiram renda e aumentam a incerteza para empresas e famílias. O BC tem alertado sobre isso em seus relatórios. O problema é que o BC nunca teve autonomia de fato nesta administração. A política monetária não pode fazer todo o trabalho.

A inflação alta e a perspectiva de mais inflação no futuro, por causa dos preços reprimidos e a bagunça do setor elétrico, reduzem o ânimo do consumidor, a oferta de crédito e o investimento das empresas.

O país não chegou à estagnação por acaso. Foi o resultado de escolhas erradas. No blog, postei texto do repórter Marcelo Loureiro informando que dados da Receita Federal registram que a renúncia fiscal para o setor automobilístico, desde 2009, foi de R$16,1 bilhões. No mesmo período, a remessa de lucros para as matrizes foi de US$ 18 bilhões, segundo dados do Banco Central. A renúncia fiscal foi feita para manter o ritmo de crescimento. Não deu resultado. Agora, o governo quer se reunir com outros setores e distribuir novas vantagens setoriais para reverter o pessimismo. As expectativas só vão melhorar diante de fatos concretos.

Dinheiro sobre a mesa - PEDRO LUIZ PASSOS

FOLHA DE SP - 18/07


Com R$ 250 bilhões de desonerações, é descabido cogitar mais renúncia fiscal ou aumento de impostos


OS RESULTADOS orçamentários do governo federal, com a arrecadação em queda e os gastos em alta, não recomendam maiores desonerações fiscais, por mais justas e necessárias que elas sejam. Não fossem os problemas do Orçamento federal, uma parada técnica tanto de novos gastos como de desonerações já seria aconselhável para que a sociedade avaliasse a eficácia de tais decisões. Historicamente, o orçamento tem sido sempre deficitário. Deficit são financiados com a emissão de papéis do Tesouro, implicando aumento de sua dívida pública.

E não é só. Um ponto crucial, ao qual não se dá a devida importância, é o estoque de desonerações, também chamadas de incentivos fiscais. Não é possível que uma profunda revisão no inventário desses incentivos, empilhados durante décadas de ajuda oficial a diversos setores para atender diferentes finalidades, não encontre itens que possam ser repensados ou simplesmente eliminados.

O Orçamento federal abriga dezenas de renúncias de arrecadação. Muitas delas certamente já caducaram e, assim, perderam razão de existir. Ou o percentual de renúncia devesse ser revisto, tal como faxina para abrir espaço nos armários de casa. O que há a liberar é dinheiro grosso para outros fins, o suficiente, aliás, para evitar novos aumentos de impostos, como tem se ventilado, ou quiçá até reduzir a carga tributária.

O valor do que a Receita Federal chama de gasto tributário foi estimado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2014 em enormes R$ 249,7 bilhões, correspondendo a 20,6% da arrecadação prevista para todo o ano --ou 4,76% do Produto Interno Bruto (PIB). Equivale a 85% do Imposto de Renda recolhido por empresas, bancos e pessoas no ano passado. Ou a dez vezes o gasto anual do Bolsa Família, que atende 14,1 milhões de famílias (cerca de 50 milhões de pessoas).

Não se faz, a priori, juízo de valor sobre tais renúncias fiscais. O que se discute é o acúmulo silencioso da miríade de "isenções, anistias, remissões, subsídios e benefícios de natureza tributária, financeira e creditícia", como a Receita define tais desonerações.

Com 19 funções orçamentárias listadas entre os benefícios, envolvendo 147 subitens, cobrindo itens variados, de transporte escolar a insumos processados na Zona Franca de Manaus, quase nada se sabe sobre o resultado desses incentivos (vários deles longevos, embora nenhum tenha validade permanente) nem sobre a sua eficácia.

Os benefícios fiscais têm prazo para expirar, mas na prática raramente é assim. O desconto do IPI sobre a venda de carros, por exemplo, existe desde 2009, embora venha sendo renovado sucessivamente. Neste ano, antes de o governo se decidir por mais uma prorrogação, a perda de arrecadação estava estimada pela Receita em R$ 1,3 bilhão. Cabe a dúvida sobre a pertinência desse subsídio, depois de seis anos de desoneração.

A situação do Simples Nacional é diferente. Essa modalidade deve representar uma renúncia tributária de R$ 12,3 bilhões neste ano, 5% do total da arrecadação desonerada. O que cabe indagar é se seria correto tratar como incentivo fiscal o que, de fato, requer um corte permanente da carga tributária sobre as pequenas e médias empresas.

Há casos em que a desoneração é um simples exercício de bom senso tributário; noutros, a persistência do benefício se deve à força de lobbies; e há situações ainda em que o confronto entre o resultado do incentivo fiscal vis-à-vis o custo-oportunidade da receita perdida deve deixar os governantes vexados.

Com carga tributária de 36% do PIB, a maior do mundo para países com renda per capita assemelhada, deficit orçamentário de 4% do PIB e a dificuldade do governo em entregar a sua meta de superavit primário, tudo o que não se espera é que haja dinheiro de impostos deixado sobre a mesa, no mais das vezes, devido à falta de controle sobre o resultado pretendido em cada desoneração.

Se há 5% do PIB distribuídos à revelia do sistema de freios e contrapesos da sociedade, vamos combinar o seguinte: é impróprio cogitarem-se mais subsídios e, sobretudo, novos aumentos de impostos. É imperativa uma revisão urgente dessa montanha de benefícios tributários, porque, em minha opinião, parece evidente que existem muitos recursos a recuperar.

Lula, Boulos e as fantasias burguesas - REINALDO AZEVEDO

FOLHA DE SP - 18/07


O MTST resgata certa pureza e certa crueza proudhonianas, distantes do legalismo petista


O MTST, os ditos "trabalhadores sem teto", está descontente com os serviços de telefonia. Na quarta, seus militantes protestaram na Anatel e nas respectivas sedes da TIM, Claro e Oi. Não deu tempo de ir à da Vivo. A turma agencia também essa causa. Um comunicado parece inaugurar a fase holístico-roqueira do socialismo: "Se acham que a gente vai se contentar só com nossa casa, estão enganados. Queremos moradia, transporte público de qualidade, telefonia e internet, e a gente não aceita pagar caro, não". É o "aggiornamento" dos Titãs --"A gente não quer só iPhone..."-- e o embrião de um novo partido.

Guilherme Boulos, um dos comandantes do MTST e colunista desta Folha, traz consigo o charme irresistível da renúncia. Oriundo da classe média-alta, com formação intelectual, prefere dedicar-se à categoria dos "Sem" --até dos "Sem-Sinal" de telefonia. Lembro-me do fascínio que tive ao ler, aos 15 anos, "Minha Vida", a autobiografia de Trótski. Largou as benesses do pai abastado para morar no quintal do jardineiro Shvigovski, o revolucionário "do pomar". Um encanto!

A coisa meio chata para mim é que eu lia o livro com um fio de lâmpada sobre a cabeça, na cozinha de modestíssimos dois cômodos, à beira de um córrego fétido. Não demorei a entender que certa renúncia é um privilégio de classe, não uma superioridade moral. Dispensar a riqueza abre a vereda para a terra da santidade. A trajetória contrária é coisa de um parvenu. Muita gente com dificuldades de acreditar em Deus crê nos profetas.

Não falo de Boulos, mas do que ele representaria: o anunciador de uma nova era, quem sabe uma Idade de Ouro da real igualdade, uma espécie de celebração do encontro de Virgílio com Marx. "Ecce homo." Lula sempre constrangeu as esquerdas com suas grosserias. Em 1979, por exemplo, concedeu uma entrevista à revista "Playboy" (is.gd/g948iR) em que barbarizou.

Confessou, de modo oblíquo, que sua iniciação sexual se dera com animais. Pegava as viuvinhas que iam ao sindicato resolver problemas relacionados à Previdência. Conhecia o sogro de Marisa, sua atual mulher --então viúva--, e pensava: "Ainda vou papar a nora desse velho". Filosofou: "O problema de mulher é você conseguir pegar na mão. Pegou na mão"¦". Admirava pessoas "que estiveram ao lado dos menos favorecidos". Entre os mortos, Tiradentes, Gandhi, Che Guevara, Mao Tse-tung e Hitler ("mesmo errado" --ufa!!!). Entre os então vivos, Khomeini e Fidel Castro. Mas a semente estava lá. Pensou alto: "É preciso fazer alguma coisa para ganhar mais adeptos, não se preocupar com a minoria descontente, mas se importar com a maioria dos contentes". Poderia ser a divisa de um fascismo. Deu no petismo.

Poucos, ou ninguém, teriam sobrevivido àquela entrevista. As circunstâncias históricas --primeiro ano da "ditadura esculhambada", de Figueiredo-- o salvaram. Era a suposta realização de um projeto acalentado por parte da esquerda: o "intelectual orgânico" da classe operária, que não mais distinguia o pensar do fazer. Em 1982, candidato ao governo de São Paulo, foi inquirido por Rogê Ferreira, do PDT: "Você é socialista, comunista ou trabalhista?". Lula mandou ver: "Sou torneiro mecânico". Marilena Chaui aplaudiu como se fosse Spinoza. Ela encontrava, finalmente, a "nervura do real".

Mas Lula também já é um parvenu. Há quem não goste dele não por aquilo que pensa, mas por ter traído supostos emblemas de sua "classe natural". O MTST, atuando como partido, resgata, por intermédio de sua principal liderança, certa pureza e certa crueza proudhonianas, distantes do legalismo petista. Ao movimento, tudo é permitido --violar leis ou furar a fila das pessoas que aguardam, pacificamente, por uma casa. Se preciso, a turma cerca o Poder Legislativo e sobrepõe a vontade de uns poucos milhares aos votos de muitos milhões. É a "democracia direta" reduzindo o grupo decisório para ganhar eficiência, compreendem?

Lula foi a encarnação do delírio das esquerdas à espera do "intelectual orgânico" da classe operária. Mas ele se aburguesou sem nunca ter buscado a altitude das ideias. Boulos, não! Ele nos devolve ao refinado Iluminismo francês. Os seus sem-teto são os "sans-cullotes" das fantasias jacobinas --que são, desde sempre, fantasias... burguesas!

Água morna - DORA KRAMER

O ESTADÃO - 18/07


O eleitorado já fez a parte que lhe cabe nessa altura: posicionou-se quanto ao que espera de quem venha a comandar o país nos próximos quatro anos, dizendo que deseja mudanças; um Brasil melhor, portanto.

Emprego, renda, devolução dos impostos na forma de bons serviços, oportunidades, representação política com um mínimo de qualidade, estabilidade nos preços, segurança e a elevação do grau de maturidade no diálogo entre Estado e sociedade.

Os candidatos a presidente da República, contudo, ainda estão devendo uma resposta à altura desses anseios. E que não peçam para cada cidadão ler atentamente os programas de governo registrados na Justiça Eleitoral.

A conquista da emoção e da razão do público se dá no ambiente da interlocução que consigam construir mostrando que estão identificados com os desejos e sabem exatamente como realizá-los. De preferência, pensando em algo que ainda não tenha ocorrido ao eleitor, mas que uma vez dito desperte o inconsciente coletivo.

Isso quer dizer ir além do óbvio, fazer a diferença e ousar com vontade de acertar. Hoje os principais concorrentes parecem todos na defensiva, com muito mais medo de errar.

O governo tentando se equilibrar na sua zona de conforto das realizações passadas e promessas vagas de “fazer mais” e a oposição igualmente genérica, não raro demagógica e temerosa de se confrontar com programas governamentais de resultado inócuo.

Um exemplo? Aécio Neves prometendo reformular o programa Mais Médicos. Segundo ele, vai rever as regras de contratação com o governo cubano. Conversa de mineiro, pois sabe perfeitamente bem que a questão da saúde pública não se resolve com a importação de profissionais.

Podemos citar também a proposta do candidato Eduardo Campos sobre o passe livre para estudantes do transporte público. Isso lá é assunto para pretendente à Presidência de uma República complexa como a do Brasil?

A ideia aí é atrair a juventude. Sacada boa, porém óbvia demais e pequena ante a intenção de quem se propõe a dar um choque de renovação na política.

Esse poderia ser um bom tema para todos eles. Mas nenhum deles se atreve (no sentido original do termo, clarear as trevas) a propor algo de realmente inovador: a mudança do modelo das relações entre Executivo e Legislativo.

Eduardo Campos, em tese, propõe. Na prática, faz todo tipo de aliança na eleição e diz que isso é tática para tentar se eleger. Por que não seria para, se eleito, governar? Sobre a reforma política, nenhum dos três sai do lugar.

Dilma quer plebiscito e financiamento público, ambas as sugestões inexequíveis; Aécio defende um voto distrital que sozinho não faz verão; Campos fala sobre o misto de financiamento público e privado junto com lista fechada e limitação de mandatos legislativos.

O eleitor só fica olhando enquanto nenhum deles dá uma palavra sobre voto obrigatório ou facultativo, porque não lhes interessa a quebra dessa reserva de mercado.

Carochinha. Uma graça a justificativa de suas excelências para a suspensão dos trabalhos legislativos até as eleições: livrar o contribuinte do risco da aprovação de propostas demagógicas que resultem em aumento de gastos públicos.

Quanto a obrigar o contribuinte a pagar-lhes os salários enquanto cuidam das respectivas vidas políticas no lugar de exercer o mandato, os congressistas já não têm restrições.

Ademais, se a preocupação com o populismo é assim tão séria, bastaria que os líderes partidários usassem o mesmo poder que tiveram de suspender as sessões deliberativas para derrubar por votação simbólica as tais propostas demagógicas.

Vitamina. Quanto mais se noticia o afastamento entre a presidente Dilma e o coordenador de internet da campanha, Franklin Martins, mais os dois se reaproximam.

Quadro preocupante - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 18/07

Apesar de ter variado para menos na margem de erro e de seus competidores mais próximos não terem saído do lugar, a presidente Dilma tem na pesquisa do Datafolha/TV Globo divulgada ontem um quadro prospectivo preocupante. No mais longo prazo, a redução da diferença que a separa de Aécio Neves, do PSDB, no segundo turno leva a um empate técnico pela primeira vez, com a tendência de queda de Dilma se confirmando, enquanto o candidato tucano cresce.

Também para o candidato do PSB, Eduardo Campos, a diferença num hipotético segundo turno foi reduzida para sete pontos percentuais apenas, de 45% para 38%. Isso quer dizer que, quando a presidente Dilma é confrontada diretamente com seus principais opositores, a possibilidade de que ela perca aumenta a cada pesquisa, embora os dois sejam bem menos conhecidos do que ela.

Há outros dados preocupantes para a candidatura oficial. Ela continua sendo a mais rejeitada de todos os candidatos, com 35% de índice, o dobro da rejeição de Aécio e o triplo da de Campos. Em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, a rejeição de Dilma atinge nada menos do que 47%.

A presidente Dilma, no entanto, continua vencendo em praticamente todas as regiões do país, com exceção do Sudeste, onde está em empate técnico com o candidato tucano Aécio Neves. O Nordeste continua sendo sua fortaleza, embora a pesquisa Datafolha tenha detectado uma queda de sua popularidade na região. Ela vence Aécio de 49% a 10%, mas tinha 55% na pesquisa anterior. O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos aparece com apenas 12% na região em que é mais conhecido politicamente.

O que deve estar preocupando a campanha da presidente Dilma é o ânimo do eleitorado, que não está nada otimista. A maioria acha que a inflação e o desemprego vão aumentar, que o poder de compra vai ser reduzido, embora 70% dos entrevistados tenham dito que não temem perder o emprego, e a maioria, embora considere que a perspectiva econômica é ruim para o país, considera que sua vida pessoal vai melhorar ou continuar como está.

A Copa do Mundo não teve nenhuma influência na aprovação dos candidatos, tanto que Aécio, com 20%, e Campos com 8% (tinha 9% no levantamento anterior) mantiveram-se no mesmo lugar e a própria presidente Dilma caiu na margem de erro, de 38% para 36%. Apesar disso, a maioria acha que a presidente Dilma foi a mais beneficiada pela realização do campeonato mundial de futebol, o que pode ser um indício ruim para ela, pois mesmo assim ela perdeu pontos.

Outro índice muito analisado nas pesquisas eleitorais, o que mede a avaliação do eleitor sobre o governo do candidato(a) à reeleição, está, há alguns meses, dentro da margem que indica dificuldade para a eleição do(a) incumbente. Dilma caiu de 35% para 32% entre aqueles que consideram seu governo ótimo ou bom, e a marca de 35% já é o início do ponto negativo nessa avaliação.

Somente os governantes que estão acima de 35% de ótimo ou bom entram na faixa de reeleição mais provável. Nesta mesma época, quando tentaram a reeleição, os ex-presidentes Lula e Fernando Henrique Cardoso tinham 38% de ótimo e bom.

Todos esses dados ficam piores quando se sabe que a presidente Dilma é conhecida por 99% dos eleitores, sendo que 53% dizem que a conhecem muito bem . Já o candidato Aécio Neves é conhecido por 81% dos eleitores, mas somente 17% dizem que o conhecem bem . O candidato do PSB, Eduardo Campos, tem ainda mais espaço para crescer: apenas 59% dos eleitores dizem conhecê-lo, mas somente 7% consideram que o conhecem muito bem .

Todos no mesmo bote de fibra óptica - FERNANDO GABEIRA

O ESTADÃO  - 18/07


Na Copa das Confederações torcemos para o Taiti. Mesmo quando perdia de 10 a 0, ainda vibrávamos com as raras oportunidades de um gol de honra. O Taiti não é aqui. É um país do surfe de ondas gigantes, com suas águas azuis e a temível Praia de Teahupoo, conhecida como Quebra Crânio. Já o Brasil é, ou era, o país do futebol. Gastamos R$ 40 bilhões para sediar a Copa do Mundo e fomos os únicos a perder de 7 a 1.

A presidente Dilma declarou no Paraná que o Exército usaria, para resgatar as vítimas do temporal, um bote de fibra óptica. No início fiquei em dúvida. Tinha visto na TV um programa sobre como o GPS orienta a agricultura americana, aumentando sua produtividade e traçando com rigor a trajetória ideal dos tratores. Será que haviam inventado um bote de fibra óptica para explorar as riquezas do mar, quem sabe até do pré-sal? Mas o bote de fibra óptica não existe nem será inventado. Ele é, para mim, o sinônimo de uma canoa furada em que todos navegamos no momento.

Dilma também chamou de urubu quem não acreditava nas maravilhas da Copa. Caiu um pequeno viaduto, mas isso não é problema, porque não havia ninguém do governo embaixo dele no instante da queda. Já escrevi sobre ser chamado de urubu pela artilharia eletrônica petista. Urubu é o símbolo da torcida do Flamengo. É o preto da camisa rubro-negra, cores do Íbis, o pior time do mundo, ou da Alemanha, que nos serviu o chocolate da Copa das Copas, portanto, o chocolate dos chocolates.

Não sei o que a presidente tem contra os urubus. Tom Jobim amava-os e discorria longamente sobre a elegância de seu voo, nas mesas do Degrau, no Leblon da sua época. Fez uma linda melodia para traduzir em sons a beleza de seus movimentos. Não creio que seja pela cor, porque esse tipo de preconceito, teoricamente, o PT não tem. Ou porque come bichos mortos, algo que a maioria da humanidade faz. Pode-se dizer em defesa dos seres humanos que não comem um animal cru. Mas isso era antes da chegada dos restaurantes japoneses, de vez que os bifes tártaros eram exclusividade de uma minoria.

Dilma estava rígida na final da Copa. Nem se levantou para aplaudir o gol da Alemanha. E quem não aplaudiu aquele gol de Götze ou não gosta de futebol ou é argentino, pois os hermanos sentiram ali que perdiam o título. Compreendo esse medo, já que estamos no mesmo bote de fibra óptica, na mesma canoa furada. Durante os primeiros dias após os 7 a 1 fiquei com medo de abrir as gavetas e encontrar mais um gol da Alemanha. Se Dilma deixasse sua cadeira, poderiam encontrar mais um gol da Alemanha embaixo dela.

Continuo defendendo o direito ao delírio e, claro, as opiniões. Lula disse na África do Sul que os outros países viriam disputar o segundo lugar, porque a Copa era nossa. Parreira disse que estávamos com a mão na taça. Felipão elogiou o próprio trabalho e o da geração tóis, que se define com um movimento de braços que faz um T, o mesmo com que Dilma posou na internet quando as coisas iam bem. A geração tóis, que se descreve com os braços, na verdade, deu uma banana para os que esperavam, ao menos, a garra dos argelinos.

Livre do furor patriótico, estimulado pelo governo e por grandes empresas envolvidas, é possível agora pensar com calma.

Como encarar com otimismo uma seleção que toma a família como modelo? Nada contra a família, respeito a opinião do herói da torcida, David Luiz: sexo só depois do casamento. Mas a família não é a forma adequada para desenvolver um trabalho desse tipo. Entre crises de choro e rezas, os jogadores se desmanchavam. E os psicólogos diziam que era o peso de tanta expectativa nacional. Somos o único país do mundo onde torcida a favor é vista como um fator negativo.

A torcida foi ótima. Não podia ser a mesma do Taiti, porque levamos o Brasil a sério no quesito futebol. Os inúmeros canais de TV nos puseram, nos últimos anos, em contato com o futebol de quase todo o mundo. Campeonatos espanhol, inglês, alemão. Era possível ver uma evolução maior que a brasileira. Mas isso era uma evidência para os que gostam e acompanham o futebol, embora muitos cronistas se tenham deixado levar pela emoção patriótica.

A cúpula do futebol está apodrecida. Talvez venha agora uma mudança, já que o foco está na análise da catastrófica participação brasileira na Copa. Mas quantas coisas não estão decadentes no Brasil e ainda estão camufladas? A indústria está em decadência e seu movimento para baixo ainda não desperta o interesse nacional. A política está decadente, num nível de putrefação que os franceses definem como faisandé, o qual repugna até meu estômago de urubu.

Somos um povo alegre e comunicativo. Mas isso não supera uma lacuna em nossa educação: um esmagador número de monoglotas. Em 2008 tentei transformar isso num grande tema político. Avançamos muito pouco desde então e não há sinais de termos tomado consciência dessa fragilidade. Seria injusto com o marxismo atribuir a indiferença ao inglês a uma resistência ideológica. Os chineses não pensam assim e tratam de dar passos mais largos.

Sei que é difícil apontar essas lacunas. No Brasil vivemos num mundo tão extraordinário que temos de imitar o célebre urubu de Stanislaw Ponte Preta e voar de costas. Sobrevoar um país onde os jornais diziam que o zagueiro Dante iria ser um trunfo porque, jogando no Bayern, conhece os alemães. E nem uma vivalma para lembrar as fortíssimas evidências de que os alemães podiam também conhecer Dante.

Nos morros do Rio, estimulados por traficantes, alguns moradores chamam os adversários de alemães. Está na hora de nos abrirmos um pouco para algumas qualidades dos alemães.

Podemos ser um país melhor. Antes teremos de perder esse espírito de fodões de que com tóis ninguém pode, vem quente que estou fervendo. Ele favorece os apagões, nas semifinais da Copa ou na noite de núpcias. Foi-se o tempo em que pensávamos que os alemães eram limitados porque eram apenas organizados e bem treinados. São tudo isso e têm talento. É a única combinação que leva à vitória ou, ao menos, a uma derrota honrosa.


A cor do recesso - LUIZ GARCIA

O GLOBO - 18/07


Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham



Tudo bem — ou, melhor dizendo, tudo mal —, a Copa acabou e está na hora de o Brasil voltar ao batente. Na área dos poderes da República, isso significa tocar para frente este país que todos acreditamos ser maravilhoso e promissor; ou seja, ele tem ao mesmo tempo um belo futuro pela frente e não está ainda, digamos assim, inteiramente pronto.

É óbvio e indispensável que a decisão de arregaçar as mangas e mergulhar no tal batente seja visível e, digamos assim, realmente honesta. Assim deve ser — mas, lamentavelmente, não é o que nos contam as notícias de Brasília. Acabamos de ficar sabendo que as duas Casas do Congresso — pelo visto exaustas com os dias de patriótico esforço na torcida pela vitória que não tivemos no gramado — decidiram entrar num tal de recesso branco. A expressão, para quem ainda não sabe, tem lamentável significado: não se trabalha, mas, para efeito público, finge-se que há trabalho.

Talvez fosse mais honesto rotular o recesso branco com outra cor: talvez, chamá-lo de vermelho, que é a cor da vergonha. Está decidido que, até o fim do primeiro turno das eleições deste ano, Senado e Câmara dos Deputados simplesmente fingirão que trabalham. Fica a triste impressão de que os nossos ilustres representantes estão convencidos que este nosso país já está, digamos assim, pronto e descansado.

Só isso justificaria o que foi decidido: nos 80 dias que nos separam das eleições, os senadores trabalharão exaustivos dois, em agosto. Os deputados terão maior sacrifício, com dois dias em agosto e mais dois em setembro. Mas os eleitores não precisam se preocupar com o bem-estar daqueles em quem votaram: seus representantes não perderão um só tostão de seus vencimentos. Para quem não sabe, são R$ 26.700 por mês pelos seus patrióticos esforços.

O tal recesso branco seria aceitável, pelas normas do Legislativo, caso senadores e deputados tivessem votado a indispensável Lei de Diretrizes Orçamentárias do ano que vem. Mas nem isso aconteceu. Em defesa do que foi decidido pelos nossos exaustos parlamentares, o presidente do Senado e do Congresso, Renan Calheiros (do PMDB de Alagoas) teve uma admirável explicação: não se trata de recesso branco, mas de “compatibilização entre as atividades do Legislativo e as eleições”. Ele reconheceu que não haverá ordem do dia, mas “sessões de discussão”. Ou seja, uma oportunidade para discursos de eminentes representantes do chamado baixo clero, que não perdem a oportunidade de soltar o verbo para plenários vazios ou, simplesmente, desinteressados.

Um avião no caminho - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 18/07


BRASÍLIA - Caiu um Boeing-777, com 298 pessoas a bordo, sobre a semana internacional estrelada por Dilma Rousseff em Brasília.

A única certeza era que não foi um acidente e sim um ataque. De quem? É improvável, não impossível, que os rebeldes ucranianos tenham armamento capaz de atingir um avião a 10 km de altitude. Mas as primeiras suspeitas recaíram sobre governos regulares ou, mais precisamente, os da Rússia e da Ucrânia.

Apontar um dos três não é simples, até porque a Ucrânia integrou a antiga União Soviética e seu armamento, ao menos a base da sua tecnologia de defesa, é de origem russa. Ou seja, os dois países e os separatistas têm equipamentos similares.

Um dado considerado relevante por analistas de Brasília é que nem os rebeldes, nem a Rússia, que acaba de sofrer novas sanções dos EUA e da UE, nem a Ucrânia, que já perdeu a Crimeia e enfrenta forças separatistas, teriam interesse numa ação temerária como derrubar o avião de um terceiro país, cheio de civis de diferentes nacionalidades.

Logo, o ataque não foi, obrigatoriamente, intencional. Parece inacreditável, mas erros acontecem e, de qualquer forma, o episódio aumenta a tensão entre Rússia e Ucrânia e a desconfiança sobre Vladimir Putin.

E por que a tragédia caiu sobre a semana de Dilma? Por dois motivos. O primeiro é que o acidente relegou ao segundo plano a visita do presidente da China, Xi Jinping, importante e com resultados concretos (a venda de 60 jatos da Embraer, por exemplo). O segundo é que, com derrubada do Boeing, ataque de Israel a Gaza, sanções à Rússia, queda das Bolsas..., o ambiente internacional se deteriora num momento de fragilidade da economia brasileira.

Nesta quinta (17) mesmo, duas notícias negativas: retração econômica em maio e a pior geração de empregos de junho em 16 anos. Como a desculpa de Dilma para a economia medíocre é o ambiente internacional, não deve melhorar tão cedo.

O mundo preocupa-se com a saúde. E nós? - WASHINGTON NOVAES

O ESTADÃO - 18/07


É inquietante verificar que, fora este jornal (12/7), raros órgãos da comunicação brasileira informaram que a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul confirmou duas mortes no Estado por gripe suína, de duas mulheres não vacinadas. Além delas, outras 43 pessoas morreram em 2013 no Estado, vitimadas pela gripe.

É preciso dar muita atenção aos surtos de doença em massa, ainda presentes sob muitas formas. O Brasil relatou 1,4 milhão de casos de dengue em 2013 (New Scientist, 24/5). Estudo publicado na revista científica The Lancet (10/7) indica que uma vacina reduziu em 88,5% os casos de dengue hemorrágica em três países asiáticos (Agência Estado, 11/7). E dengue não é o único problema. A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu (4/7) a ministros da Saúde africanos medidas drásticas para conter epidemia de Ebola na Guiné, em Serra Leoa e na Libéria. Desde março, 759 casos foram confirmados, com 467 mortos nos três países - e não há vacinas nem tratado. Alta porcentagem de infectados morre. E não foi essa a única preocupação da OMS na reunião: tratou-se ali também do temor do possível ressurgimento do vírus da varíola, epidemia considerada extinta há mais de três décadas. E a razão está em que vírus da doença continuam a circular pelo mundo em estudos científicos, com risco de evasão.

Na mesma reunião da OMS em Genebra, a Comissão do Código Alimentar pediu que todos os países adotem recomendações sobre uso de medicamentos em animais que serão usados na produção de alimentos, sobre níveis máximos de chumbo em produtos para mulheres que amamentam, assim como de arsênico no arroz e certas toxinas no milho. Outras recomendações: limites máximos de resíduos em praguicidas, alimentos e medicamentos, assim como no uso de aditivos em alimentos. São temas que preocupam no mundo todo.

Outro capítulo está no uso excessivo de antibióticos, que está favorecendo "pragas modernas", como diz um livro de Martin J. Blaser, microbiologista da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, pela Editora Macmillan (New Scientist, 24/5). Segundo a revista, os relatos de bactérias resistentes a antibióticos estão "crescendo de ano para ano". E os antibióticos estariam contribuindo também para a obesidade, ao perturbarem bactérias intestinais que têm papel importante no processo da nutrição. Criadores usam esses medicamentos para engordar o rebanho - e isso aconteceria também com seres humanos. Mas problemas podem sobrevir nas áreas de diabetes, alergias e certos tipos de câncer.

Diz o cientista que "estamos perturbando" o equilíbrio entre células e bactérias (que existem em número dez vezes maior), já que a cada dose de antibiótico eliminamos também "massas de inocentes bactérias" e essa ausência implicaria perdas no campo das imunidades, na asma, na diabetes tipo 1, em infecções gastrointestinais e em outras doenças. Precisamos, por isso, criar medicamentos que eliminem apenas os organismos nocivos. E formatos para enfrentar a resistência a antibióticos. Mas para tudo isso, diz a OMS, será preciso desenvolver soluções que sejam consideradas um "bem público", não "um jogo comercial". E exigirão um acordo com a indústria farmacêutica: esta precisará ser paga, por meio de fundos, pela pesquisa, e não por vendas. Não seria tão difícil, pois o mercado já não lhe proporciona altos rendimentos nessa área.

São temas importantes para o Brasil, onde os problemas na área da saúde pública, embora venham caindo, ainda são muito preocupantes - com a agravante de que 54% das despesas com saúde vêm sendo, na média, financiadas por gastos privados (Comitê de Estudos Médicos do Estado de Goiás, julho de 2014, citando estudo da OMS), e não por verbas públicas, necessárias para a imensa maioria da população. É um panorama bem diferente do que ocorre em países até mais ricos, como a Noruega, onde o poder público financia 86% dos gastos. Ou na Turquia (75%), na Colômbia (75%) e no Uruguai (68%). Em 2013, de nossos investimentos federais de R$ 47,3 bilhões, a área de saúde ficou com apenas 8,2%, menos até que a média africana, de 10,6%. Estudo do British American Journal, citado pela Folha de S.Paulo (5/7), mostra que temos 350 mil mortes anuais no País por doenças cardíacas, embora elas tenham diminuído 21% em uma década nos municípios atendidos por programas de saúde da família. Nas doenças cerebrovasculares a redução foi de 18%.

Um avanço maior nas áreas de saúde será decisivo. De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz (7/7), um estudo paralelo evidencia que 14,4% dos brasileiros já perderam todos os dentes - com as consequências que isso tem. Entre as mulheres de baixa renda, mais de 55% já os perderam. E 30 milhões de crianças nunca foram a um dentista. Apenas 55% dos brasileiros com mais de 18 anos de idade têm todos os dentes - e isso varia de 39,1% na Região Norte a 66,5% no Sudeste e no Sul.

Portanto, não nos faltam razões para nos inquietarmos - elas vão das ameaças (ou concretizações) de surtos epidêmicos como a dengue a problemas na escala mundial ou à precariedade de certas condições internas de saúde. E até mesmo ao surgimento, em Goiânia, de um caso suspeito da "febre chicungunya", uma infecção viral transmitida pelo Aedes aegypti, parecida com a dengue, e que teria sido contraída por uma mulher durante viagem à República Dominicana. Conforme infectólogos, "a Organização Mundial da Saúde considera o Brasil vulnerável à febre" (O Popular, 3/7).

Grande parte do problema está em que a maioria dos nossos administradores continua a achar que desenvolvimento é só crescimento do produto interno bruto - e por isso eles concedem tantas isenções de impostos e perdão de dívidas a empresas, sem se lembrarem de avançar nas condições de vida da população.

Obs.: No artigo da semana passada, escrevi "Oslo, Suécia", o correto é "Oslo, Noruega". Peço desculpas.

De jegue e tolerância - RENATO FERRAZ

CORREIO BRAZILIENSE - 18/07
Um colega postou esta semana numa rede social uma foto mostrando criancinhas (com, no máximo, 5 anos) levadas à escola em carroça puxada por um jumento. Sim, é claro que ainda há coisas absurdas assim - e essa, especificamente, foi registrada no interior pernambucano. Recentemente, fiz um tour nostálgico pelo Recife e me assustei com as palafitas à beira do Capibaribe. Achei que nem existissem mais... Porém, o que os olhos não veem o coração não sente, não é?
Quanto ao jegue como transporte escolar, não houve surpresa, mas a indignação voltou. Explico: programa criado no início da década de 1990 para garantir locomoção estudantil foi ganhando corpo e hoje atende a 2 milhões de alunos. Só nos últimos 10 anos, foram comprados 17 mil ônibus - e mais de 100 mil bicicletas e mil lanchas. Até o fim deste ano, quase R$ 1 bilhão serão gastos no Programa Caminho da Escola. Fora os outros tantos milhões gastos com prefeituras para a "terceirização" do serviço.

No geral, pelo menos 9 a 10 milhões de alunos usam o serviço público escolar (específico) para chegar aonde estudam. Obviamente que, num país do nosso tamanho, tanto físico quanto populacional, ainda há muitos adolescentes e crianças que não são atendidos. Mas essa cena, pelo amor de Deus, não pode mais se repetir - e em zona urbana! Essa é a prova de quanto somos estupidamente tolerantes com nossos prefeitos, vereadores, governadores...

Um amigo viu, há poucos dias, um daqueles ônibus amarelinhos (com placa de município a 450km do litoral) estacionado numa praia em Fortaleza. Numa cidadezinha perto de Garanhuns, vi dois veículos transportando feirantes - os demais ônibus, por sinal, estavam quebrados. Na Paraíba, o Ministério Público e o Detran realizaram uma fiscalização no início do ano e constataram: dos 1.289 ônibus vistoriados, 1.171 foram reprovados - 92% do total. No Maranhão, no começo de abril, oito jovens de 11 a 17 anos morreram num acidente. Estavam, com outros 20 coleguinhas, em cima de velha caminhonete - e o padre, o promotor e, principalmente, o prefeito, sabiam disso. Até a Controladoria-Geral da União tinha conhecimento. Em 2012, denunciou o fato. A Polícia Rodoviária Federal sabe dessas coisas. As demais polícias idem. Eu e você também. E não fazemos nada?

Escapismo, estádio e voto - ROGÉRIO FURQUIM WERNECK

O GLOBO - 18/07


O vexame da seleção brasileira na Copa do Mundo poderá afetar as avaliações do eleitor



Em que medida o desastroso desempenho da seleção na Copa poderá afetar a eleição presidencial? O que se pode dizer sobre essa questão complexa que vem dividindo analistas do quadro eleitoral?

O governo sempre sonhou com a possibilidade de extrair fartos benefícios eleitorais da Copa. É claro que muitos dos seus devaneios iniciais foram superados pela realidade dos fatos. E, há alguns meses, diante das dificuldades encontradas na complexa organização do evento e do risco de que os jogos pudessem ser empanados por distúrbios violentos, o governo chegou a cruzar os dedos e simplesmente rezar para que as coisas dessem certo.

Receando que não dessem, o Planalto, de início, procurou guardar distância prudente do evento, especialmente após os lamentáveis insultos à presidente Dilma na cerimônia de abertura. Mas, aos poucos, ao constatar que, apesar dos temores, a organização do evento vinha sendo bem avaliada e que a seleção avançara até as semifinais, o Planalto decidiu voltar a se envolver mais de perto com o evento.

Ganhara força a esperança de que uma vitória do Brasil na Copa pudesse, afinal, dissipar o clima de desalento que tanto vem preocupando o governo. Ao discutir como reverter o “mau humor” de segmentos importantes do eleitorado em relação à presidente Dilma, no fim de junho, o ex-presidente Lula foi muito claro sobre a importância que vinha atribuindo a uma vitória da seleção na Copa. “Nós vamos ganhar esse caneco porque o Brasil está precisando.” (“O Estado de S. Paulo”, 25 de junho)

Tivesse a seleção sido simplesmente desclassificada, a frustração dessa expectativa de reversão do “mau humor” teria tido pouco impacto sobre o projeto da reeleição. Mas o que se viu no fatídico jogo de 8 de julho, no Mineirão, não foi uma mera desclassificação e, sim, uma traumática e humilhante derrota por 7 a 1 para a Alemanha. Que diferença isso pode ter feito?

Os mais propensos ao cartesianismo clamam pelo bom senso. Gente, foi só um jogo... Mas a verdade é que foi bem mais do que isso. Respaldado por longa reflexão sobre a antropologia do futebol, Roberto DaMatta nos lembra (“O Estado de S. Paulo”, 12 de julho) que, “numa Copa do Mundo, os times não são clubes, mas símbolos vivos de estados nacionais que, obviamente, vão além do futebol”.

País afora, o 7 a 1 deflagrou um processo generalizado do que os anglo-saxões chamam de soul searching. Cada um à sua maneira, perplexos, indignados e revoltados, estamos todos remoendo o desastre na Copa, em busca das razões profundas para desempenho tão lamentável, compelidos a aceitar fatos que nos recusávamos a enxergar. É um processo que promete ser prolongado e penoso. E que, longe de estar restrito à introspecção, deverá ser marcado por muita interação, troca de ideias e desabafos.

É bem possível que esse turbilhão de reflexão coletiva redunde em sério agravamento do que o governo rotula de “mau humor”. E que esse estado de espírito deixe o eleitorado bem mais refratário à campanha eleitoral etérea e escapista que o Planalto vem ensaiando, para tentar passar ao largo do outro espinhoso 7 a 1 com que o governo terá de lidar neste fim de mandato.

Não bastasse o risco de que a inflação ultrapasse 7% em 2015, quando o represamento eleitoreiro de preços administrados for afinal rompido, o PIB mal deverá crescer 1% em 2014. Por absurdo que possa parecer, a intenção do governo era passar batido por esse desastre, acenar com a vaga promessa marqueteira de “um novo ciclo histórico de prosperidade” e só falar da política econômica de 2015 depois das eleições.

Esse discurso escapista ficou agora bem mais difícil. Com o país inteiro engajado em intensa troca de impressões sobre os resultados desastrosos que podem advir da improvisação, do voluntarismo e da arrogância, as inevitáveis analogias entre o futebol e a economia vão se tornar cada vez mais frequentes.

O Planalto tem boas razões para estar preocupado. E não pode reclamar das analogias fáceis. Foi a presidente quem primeiro sugeriu que seu governo era “padrão Felipão”.

O país das pequenas desobediências - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR

GAZETA DO POVO - PR - 18/07


Nossa tolerância às pequenas corrupções do dia a dia leva à tolerância com as grandes corrupções do mundo político



Já disse o professor Belmiro Valverde – por anos colunista da Gazeta do Povo, e recentemente falecido – que o Brasil “não é para amadores”. Aliás, deu este nome ao seu mais antológico e referencial livro, traduzido em várias línguas e frequentemente citado em estudos acadêmicos mundo afora. Ele tinha razão em dar no emblemático subtítulo a pista para nos tornarmos tão incompreensíveis diante dos olhos civilizados: somos “a terra do jeitinho”, dizia Belmiro.

De fato, é preciso ser “profissional” para entender a razão de, um ano depois de inúmeros brasileiros terem tomado conta das ruas do país para exigir das autoridades mais respeito às leis e aos direitos sociais, uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas nos mostra que o brasileiro médio está, agora, mais disposto a infringir leis do que no passado ainda tão recente.

Segundo o estudo, desobedecer a regras de conduta é uma opção natural e adotada pela grande maioria da população. De acordo com a segunda edição do Índice de Percepção do Cumprimento da Lei (IPCL), elaborado pela Escola de Direito da FGV, entre 2013 e os primeiros meses de 2014 aumentou a quantidade de pessoas que admitem cometer pequenas ilegalidades e infrações. Numa escala de zero a dez (em que zero representa o desrespeito completo às leis e dez representa a honestidade total), o índice de 2014 recuou para 6,8 em relação aos 7,3 aferidos em 2013. A pesquisa entrevistou 3,3 mil pessoas em sete estados e no Distrito Federal.

Os entrevistados nem mesmo se sentem culpados pelas infrações que cometem. Os comportamentos abordados vão desde posturas mais “inofensivas”, como atravessar a rua fora da faixa de pedestres, até outras que podem ter graves consequências, como dirigir após ingerir bebida alcoólica; comprar produtos piratas, subornar agentes públicos para evitar multas, jogar lixo fora do local indicado e atrapalhar vizinhos com barulho também figuraram na pesquisa. A culpa, dizem os entrevistados, é das próprias leis, no seu entendimento “falhas”, e das autoridades constituídas – as primeiras a desrespeitá-las e não serem punidas pelas transgressões.

Embora as leis de trânsito sejam as mais citadas como objeto de mais frequente desobediência, inúmeras outras situações são resolvidas por meio de modos aparentemente inocentes e admissíveis de burlar regras previstas na legislação. Na interpretação dos autores da pesquisa, dá-se, neste caso, um fenômeno inusitado: as pessoas que cometem delitos se amedrontam menos com a possibilidade de virem a ser punidas do que com a imagem social negativa que suas transgressões possam lhes causar. Mais cruel e inibidora é a opinião alheia – dos vizinhos incomodados com o som alto fora do horário, por exemplo – do que a eventual intervenção dos agentes da lei encarregados do seu cumprimento.

Comportamentos como estes simbolizam o grau de desrespeito a que os brasileiros chegaram em relação às instituições e aos seus mandatários. Se representantes encastelados nos palácios e tribunais podem burlar os mandamentos legais (que, aliás, juraram obedecer) e nada ou muito pouco lhes acontece, por que o cidadão comum estaria obrigado à sua fiel observância?, raciocinam.

Trata-se de um círculo vicioso que a pesquisa da FGV escancara: nossa tolerância às pequenas corrupções do dia a dia leva à tolerância com as grandes corrupções do mundo político, que por sua vez desanimam o cidadão que tenta levar a vida de forma honesta, e assim sucessivamente. Os eleitos são reflexo dos eleitores, e vice-versa.

Este ciclo precisa ser rompido. Claro que, para isso, se exigem mudanças culturais e comportamentais profundas e que não se dão do dia para a noite. Mas é preciso começar, e espalhar essa noção de cidadania àqueles que nos são mais próximos. E, além disso, há passos que podem ser cumpridos no curto prazo e com datas marcadas: dos bons cidadãos, chamados às urnas a cada dois anos, se espera que escolham como nossos representantes políticos pessoas realmente comprometidas com a ética e com o respeito às leis.

Governo ainda não fez sua parte contra inflação - EDITORIAL O GLOBO

O GLOBO - 18/07

Há expressiva desaceleração no ritmo da atividade econômica, que já se reflete na geração de empregos formais, e por isso nova alta nas taxas de juros foi desconsiderada



O Comitê de Política Monetária decidiu na quarta-feira manter as taxas básicas de juros em 11% ao ano, embora a trajetória da inflação ainda desperte preocupações. Os alimentos deram uma trégua, mas há outros segmentos que não param de encarecer, como é o caso dos serviços, que, em média, estão custando mais 9% em relação a um ano atrás, enquanto o índice de inflação registra uma variação de 6,52% acumulada nos últimos doze meses, 0,02 acima do limite máximo da meta de 4,5%.

O receituário de combate à inflação recomendaria nova elevação das taxas básicas de juros, mas, quando se observam os demais indicadores da economia, há uma conjuntura de expressiva desaceleração que pode até desembocar em recessão. O número de empregos formais gerados em junho, em preparação final e início da Copa, se resumiu a 25.3636, com queda de 79,5% em relação a igual mês de 2013. Essa retração se deve especialmente ao desempenho da indústria. Segundo levantamento da Fiesp, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, 16 mil trabalhadores perderam os empregos no setor no ente federativo mais industrializado do país. Com essa queda no ritmo da atividade econômica, a terapia dos juros altos poderia agravar a situação da indústria e do comércio, pois o consumo de bens duráveis depende basicamente do crédito. No entanto, o patamar perigoso em que se encontra a inflação não permite que as autoridades cruzem os braços.

O recado do Banco Central é que a política monetária já faz sua parte, mas o recuo da inflação, sem que a economia caia em um quadro recessivo, depende também de outros instrumentos de que o governo dispõe. E o mais contundente de todos é a política fiscal. Em maio, o setor público apresentou um estrondoso déficit primário, uma temeridade nas condições econômicas atuais. Não é de agora que a equipe econômica do governo vem anunciando uma maior contribuição da política fiscal para o combate à inflação, que, na prática, não se materializa.

Há torneiras abertas nos gastos públicos que não se justificam tecnicamente, como, por exemplo, a que arca com o chamado seguro-desemprego. A economia brasileira já não tem gerado tantos empregos formais, mas, mesmo que houvesse uma demanda maior por mão de obra, não haveria pessoas disponíveis em número suficiente para ocupar esses novos postos. Está claro que há um desemprego voluntário; não são poucos os que preferem permanecer na informalidade enquanto usufruem do benefício, na certeza que terão quem os contrate quando se encerrar o prazo de seis meses em que podem permanecer desempregados. Neste período, gozam de um benefício indexado ao salário mínimo, reajustado acima da evolução da produtividade. Tais regras já deveriam ter sido ajustadas para a realidade do mercado brasileiro de trabalho. Mas isso não ocorre por temor do impacto negativo que a iniciativa poderia ter junto a um potencial eleitorado do governo de Dilma. Empurra-se o problema para a frente.

O Brasil na armadilha - EDITORIAL O ESTADÃO

O ESTADO DE S. PAULO - 18/07


Doze horas depois de anunciar a nova decisão sobre os juros, mantidos em 11%, apesar da inflação elevada e resistente, o Banco Central (BC) publicou o complemento da história: a produção continua estagnada e o País, na melhor hipótese, está pouco acima de uma recessão. Confirmou-se, mais uma vez, a armadilha apontada por vários analistas - uma combinação de fortes pressões inflacionárias com grave enfraquecimento da economia. A manutenção da taxa básica de juros, a Selic, foi sacramentada, sem surpresa, na quarta-feira à noite. Na quinta de manhã foi divulgado o índice mensal de atividade econômica (IBC-Br) produzido pela instituição e considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB). Em maio, o indicador ficou 0,18% abaixo do nível de abril e apenas 0,38% acima do apurado um ano antes, na série livre de efeitos sazonais. No trimestre encerrado em maio o resultado foi 0,33% mais alto que o dos três meses até abril.

Mesmo sem conhecer esses dados - uma hipótese improvável - os membros do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC dispunham de informação suficiente, acumulada no último mês e meio, para saber do estado precário da economia. A produção industrial caiu 0,6% de abril para maio e ficou 3,2% abaixo do nível de um ano antes. De janeiro a maio o setor produziu 1,6% menos que no mesmo período de 2013. O emprego industrial continuou em queda. Caiu 0,7% de abril para maio, ficou 2,6% abaixo do registrado um ano antes e recuou 1,7% em 12 meses. O número de horas pagas diminuiu, mas, apesar disso, a folha de pagamento, descontada a inflação, ainda custou 14% mais que em abril de 2013 - mais um sinal do desajuste, apontado várias vezes pelo BC, no mercado de trabalho.

O mau desempenho da indústria já se reflete no setor de serviços. A receita nominal do setor, em maio, foi 6,696 maior que a do mês correspondente do ano passado. Descontada a inflação, restou um crescimento muito próximo de zero. As únicas boas notícias do setor produtivo são as da agropecuária, com perspectiva de mais uma safra recorde de grãos e oleaginosas. No setor externo, só o agronegócio, com superávit comercial de US$ 40,78 bilhões no primeiro semestre e de US$ 8243 bilhões em 12 meses, tem evitado um desastre completo.

A evolução do IBC-Br nos 12 meses terminados em maio - 1,95% -ainda é melhor que o crescimento previsto para o PIB entre janeiro e dezembro deste ano, de 1,6% nas con- tas do BC e de 1,05% nas do mercado. Todas as medidas de estímulo anunciadas nos últimos quatro ou cinco anos fracassaram. Foram insuficientes para reforçar o potencial de produção e de crescimento da indústria e, de modo geral, da economia brasileira. Os poucos segmentos dinâmicos e competitivos, como a agropecuária e a indústria aeronáutica, mantiveram seus padrões e continuaram avançando, apesar da baixa qualidade geral da política econômica e da ineficiência geral da economia. O último pacote anunciado pelo Executivo dificilmente produzirá resultados melhores, porque, com poucas mudanças, é uma reedição de medidas já fracassadas.

Quanto à inflação, nem os dirigentes e técnicos do BC parecem levar muito a sério o recuo das taxas nos últimos dois meses. Oficialmente, eles ainda esperam efeitos dos nove aumentos de juros entre abril do ano passado e abril deste ano. Evitam novos aumentos e provavelmente continuarão evitando até o fim do ano, ou, no mínimo, até a apuração das eleições.

Mas continuam descartando a hipótese de redução significativa da inflação anual até o fim de 2015. Mantêm, oficialmente, a perspectiva de uma convergência gradual para o centro da meta (4,5%), mas sem fixar com clareza um prazo, mesmo aproximado. Se houver novidade quanto a isso na ata da reunião do Copom, com divulgação prevista para a próxima quinta-feira, será uma surpresa.

A melhora dos indicadores de crescimento econômico e de inflação depende, em grande parte, do Executivo. Mas a presidente Dilma Rousseff teria de buscar a austeridade orçamentária e de mudar amplamente a estratégia de crescimento - hipóteses quase inimagináveis.

Dimensões chinesas - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 18/07


O líder máximo da China, Xi Jinping, pinçou uma frase de Confúcio para comentar os 40 anos de relações bilaterais entre seu país e o Brasil. Nessa idade, segundo disse o sábio chinês, "a pessoa se livra da perplexidade". É difícil sustentar, contudo, que o enunciado se aplique igualmente às duas nações.

A visita de Xi Jinping a Brasília ontem deixou como legado a assinatura de 32 acordos, entre os quais se destacam a retirada do embargo à carne bovina brasileira e a compra de 60 jatos da Embraer, numa transação de US$ 2,9 bilhões (para comparação, o Brasil demorou 15 anos para adquirir 36 caças suecos por US$ 4,5 bilhões).

Brasil e China, no entanto, nem sempre conviveram em meio a cifras suntuosas. Em 1978, quatro anos após a formalização dos laços diplomáticos (ocorrida em 15 de agosto de 1974), o saldo da balança comercial era de US$ 133 milhões.

No ano passado, esse montante era alcançado em cerca de 15 horas; a soma das exportações e importações entre os dois países atingiu US$ 83,3 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento.

Esse crescimento se deu sobretudo neste século, graças à disparada da economia chinesa. A partir de 2009, a China superou os EUA para se tornar nosso primeiro parceiro comercial; o Brasil está em nono lugar na lista de Pequim.

Por baixo dos números grandiosos, porém, há um aspecto preocupante: até o início dos anos 1990, o Brasil exportava principalmente manufaturados; hoje, predomina a venda de matéria-prima, e vários setores da indústria perdem mercado para os chineses.

No campo político, divergências ideológicas jamais se converteram em obstáculo intransponível nesses 40 anos. Primeiro como ditadura militar alinhada aos EUA, depois como democracia, o Brasil foi se aproximando cada vez mais do país dirigido com mão de ferro sempre pelo Partido Comunista.

O pragmatismo de ambos os lados e a ausência de pendências históricas fizeram com que prevalecessem as afinidades de países continentais em desenvolvimento.

São continentais, contudo, também as diferenças econômicas e demográficas. Enquanto a China ostentou, no ano passado, PIB de US$ 9,2 trilhões e mais de 1,3 bilhão de habitantes, o Brasil apresentou PIB de US$ 2,3 trilhões e 201 milhões de habitantes.

Com crescimento pífio nos últimos anos e tendo sua indústria estagnada, o Brasil se acomoda como coadjuvante e assiste, decerto com perplexidade, ao avanço do gigante asiático, cada vez mais confortável no papel de potência global.

Recesso mais que branco - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 18/07

A Constituição fixa o período de recesso do Congresso Nacional. Deputados e senadores suspendem as atividades legislativas duas vezes ao ano. A primeira, de 18 a 31 de julho. A segunda, de 23 de dezembro a 1º de fevereiro. Para os parlamentares gozarem a folga do primeiro semestre, a Carta Magna impõe uma condição: que seja aprovada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).
Ela define, entre outras condições, as prioridades e as metas a serem observadas na proposta do Orçamento Geral da União (OGU), que o Executivo deve encaminhar ao Congresso até o fim de agosto. Apesar da urgência e da importância da tarefa, o Legislativo foge da obrigação. Vai entrar em recesso branco sem ter cumprido a tarefa inadiável.

Alega, para driblar a lei, a falta de quórum para o exame do relatório preliminar elaborado pelo senador peemedebista Vital do Rêgo. Seria manobra da oposição para manter a CPI da Petrobras em funcionamento. A resposta: oficialmente, o Congresso mantém-se em funcionamento. Mas não haverá sessões de votação nem a presença será obrigatória em comissões.

Deputados e senadores ficam, assim, liberados para tirar férias ou incrementar a campanha eleitoral na unidade da Federação a que pertencem. A falta de compromisso com o país não para aí. Ano de eleições, 2014 enseja oportunidade de ampliar a gazeta. O presidente do Congresso anunciou que haverá apenas duas sessões deliberativas até a ida às urnas - 5 e 6 de agosto.

Antecipa, assim, o recesso branco. O adjetivo dá caráter eufemístico à prática de paralisar os trabalhos fora do calendário legal. Pode-se alegar que sempre se fez isso. Mas, este ano, a folga ficou muito elástica - ultrapassa dois meses. Unindo eleições e Copa do Mundo, o Congresso deixa de cumprir a obrigação que lhe deu origem.

Ao ser criado, o Legislativo tinha uma função - tirar das mãos do rei o poder de definir o destino dos impostos. É essa nobre missão que deputados e senadores negligenciam sem levar em conta as urgências do país. Adiam para depois de outubro (talvez novembro, se houver segundo turno) decisões que dependem do aval do Congresso.

O embaixador Roberto Campos costumava repetir uma frase de efeito para destacar a inelutável tendência nacional de deixar passar o trem da história. "O Brasil", dizia ele, "não perde oportunidade de perder oportunidade." A ironia parece feita para o Legislativo. Com a imagem arranhada perante a opinião pública, deputados e senadores nada fazem para recuperar a confiança do eleitor. O descaso custa caro: desgasta um dos tripés da democracia.

COLUNA DE CLAUDIO HUMBERTO

“Tivemos um primeiro semestre muito produtivo, pela qualidade dos projetos”
Presidente Renan Calheiros, fazendo um balanço dos trabalhos no Senado, que ficou às moscas durante a Copa


TEMER E RENAN APAZIGUAM BRAGA APÓS TRAIÇÃO DO PT

O vice-presidente da República, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), entraram em campo para apaziguar os ânimos do líder do governo, Eduardo Braga (AM), que não se conforma com a ordem da presidente Dilma para retirar Francisco Praciano da disputa ao Senado em sua chapa. A intervenção do PT favorece o adversário Omar Aziz (PSD), que é candidato a senador na chapa de José Melo (PROS).

SEGURA E AMARRA

Caciques do PMDB dizem que Renan agiu feito malabarista para impedir Braga de sair da liderança. Ele nega: “quem diz isso não gosta de mim”.

PRIORIDADE SOU EU

A presidente Dilma mandou intervir de última hora no PT-AM após fechar acordo com o governador Cid Gomes (PROS) e Gilberto Kassab (PSD).

JOGO DUPLO

Responsável por costurar a vaga a Praciano, o ex-presidente Lula tem se mostrado indignado com intervenção do PT nacional, o qual ele comanda.

AGORA É TARDE

O deputado Francisco Praciano afirmou que sua candidatura foi decidida em convenção, e que vai lutar até o fim na Justiça eleitoral para mantê-la.

ENTIDADES MÉDICAS ABREM GUERRA CONTRA DILMA

A Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e a Associação Médica Brasileira (AMB) comunicaram ao presidenciável Aécio Neves (PSDB-MG) que apoiarão a oposição na disputa pela Presidência contra Dilma Rousseff. Em reunião na quarta (16), o presidente da Fenam, Geraldo Ferreira, garantiu ao tucano que a maior parte dos médicos trabalhará por sua eleição. Outra parcela menor apoiará Eduardo Campos (PSB-PE).

CONTRAPARTIDA

Segundo Ferreira, o programa de Aécio para saúde ‘ainda é vago’, mas cria carreira nacional e refuta cubanos em situação análoga à escravidão

BANDEIRA ANTIGA

As entidades médicas consideraram “ousada” a proposta de Aécio de destinar 10% da Receita Corrente Bruta da União para a Saúde.

EIS A QUESTÃO

O conselho deliberativo da AMB se reúne hoje em Fortaleza para decidir sobre apoiar Aécio ou, de forma mais ampla, os candidatos de oposição.

OLHO NO NORDESTE

Aspirante ao Planalto, Aécio Neves (PSDB-MG) combinou com o governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin presença em ato, no sábado (19), no Centro de Tradições Nordestinas, em SP.

BATEU A CABEÇA

O ministro do Trabalho, Manoel Dias, surpreendeu a todos que ouviram a explicação para a queda de 33% na meta de criação de empregos no Brasil em 2014. Segundo ele, não há “trabalhadores para empregar”.

MISSÃO IMPOSSÍVEL

Criado pelos Brics para financiar projetos de infraestrutura na América do Sul, o Novo Banco de Desenvolvimento vai suar para fiscalizar o uso da grana no Peru, onde 92% dos prefeitos são investigados por corrupção.

PRECAVIDOS

O aparato de segurança e de imprensa que acompanhou o presidente da China, Xi Jinping, em visita ao Congresso impressionou parlamentares. O grupo trouxe até gerador de energia para se prevenir de incidentes.

TORRE DE BABEL

Descendente de japonês, Akira Otsubo (PMDB-MS) ouviu o discurso de Xi Jinping sem fone para tradução. Surpreso com palmas, perguntou o que o chinês tinha dito: “Que o Brasil mereceu levar sete gols”, brincou colega.

CIRURGIA DE RORIZ...

O ex-governador do DF Joaquim Roriz (PRTB) será submetido a um transplante de rim na semana que vem. A doadora será a sua filha mais velha, Jaqueline Roriz, que descobriu a compatibilidade na quarta (16).

... É DE URGÊNCIA

Fontes próximas dizem que o ex-governador “está bem, com toda estrutura hospitalar”, mas ainda precisa de sessões diárias de hemodiálise e se desloca com cadeira de rodas para evitar cansaço.

NOITE FELIZ

Mais relaxado após o fim da Copa, Aldo Rebelo (Esporte) comemorou o sucesso do Mundial em jantar com a bancada do PCdoB, na residência da senadora Vanessa Grazziotin (AM).

PENSANDO BEM

... a vasta cabeleira, recém-adquirida, de Renan fez inveja até ao mais capilarizado chefe de Estado dos Brics, o chinês Xi Jinping.


PODER SEM PUDOR

LUGAR GARANTIDO

Era a nomeação mais óbvia da História. Depois de coordenar a campanha de Jânio Quadros para presidente, todos davam como certa a nomeação do coronel Virgílio Távora para o ministério. Principalmente ele.

Mas os dias foram passando e o convite, que era bom, nada.

Távora foi direto ao assunto:

- E então, presidente, qual é o meu lugar no governo?

Jânio o abraçou, como tamanduá, e liquidou sua esperança:

- Meu velho amigo, o teu lugar é no meu coração...