sexta-feira, julho 18, 2014

Queda do ritmo - MIRIAM LEITÃO

O GLOBO - 18/07


O índice de atividade do Banco Central trouxe mais um dado mostrando o crescimento do ano murchando. Número após número, o que está sendo revelado é que o país está em estagflação. Crescimento próximo de zero e inflação acima do teto. O governo inventará pacotes para alguns setores, neste período pré-eleitoral, mas não há tempo para virar o jogo.

0IBC-Br não é exatamente uma prévia do PIB, tem outra lógica e nem sempre os dados coincidem. A tendência, contudo, é parecida com o indicador que é calculado pelo IBGE. Nos últimos 12 meses, teve 5 retrações.

O bom dado de janeiro trouxe esperança de um ano mais forte, mas entre fevereiro e maio, houve duas quedas e duas pequenas altas. Para junho e julho, os temores são de que a redução da atividade econômica tenha sido afetada pelos sucessivos feriados. O lado bom da Copa, que é a presença de turistas, beneficiou apenas alguns setores. Com o número de maio divulgado ontem, a projeção mais comum passou a ser de queda do PIB no segundo trimestre.

A grande questão é como chegamos à estagflação. O ano teve a Copa e tem a eleição, que deveriam impulsionar um pouco o PIB. O Banco Central elevou a taxa de juros durante um ano e isso deveria ter derrubado a taxa de inflação, mas ela está acima do teto da meta.

Os equívocos foram cometidos antes. A equipe econômica cometeu os erros de aumentar gasto público, manipular indicador fiscal, adotar políticas dirigidas a apenas alguns setores. Achou aceitável um pouco mais de inflação e fez uma intervenção desastrosa na energia. Era para reduzir a conta de luz, mas desorganizou o setor, aumentou incertezas e vai crescer ainda mais o preço da energia nos próximos anos. Não é a crise externa o que nos leva a esse desempenho melancólico. É o próprio governo.

Em março de 2013, a presidente Dilma, na quinta cúpula dos Brics, em Durban, disse que não sacrificaria o crescimento para combater a inflação. Segundo ela, “as vozes de sempre” pediam redução da inflação com medidas que derrubam crescimento, “um receituário que quer matar o doente em vez de curá-lo”. Depois, acusou “agentes de mercado” de terem manipulado sua fala. Repetiu com outras palavras a mesma ideia.

Um grande erro da política econômica, exibido em várias declarações, foi apostar que o controle mais frouxo da inflação levaria a um PIB maior. É o oposto. Inflação mina o crescimento. Os preços altos tiram renda e aumentam a incerteza para empresas e famílias. O BC tem alertado sobre isso em seus relatórios. O problema é que o BC nunca teve autonomia de fato nesta administração. A política monetária não pode fazer todo o trabalho.

A inflação alta e a perspectiva de mais inflação no futuro, por causa dos preços reprimidos e a bagunça do setor elétrico, reduzem o ânimo do consumidor, a oferta de crédito e o investimento das empresas.

O país não chegou à estagnação por acaso. Foi o resultado de escolhas erradas. No blog, postei texto do repórter Marcelo Loureiro informando que dados da Receita Federal registram que a renúncia fiscal para o setor automobilístico, desde 2009, foi de R$16,1 bilhões. No mesmo período, a remessa de lucros para as matrizes foi de US$ 18 bilhões, segundo dados do Banco Central. A renúncia fiscal foi feita para manter o ritmo de crescimento. Não deu resultado. Agora, o governo quer se reunir com outros setores e distribuir novas vantagens setoriais para reverter o pessimismo. As expectativas só vão melhorar diante de fatos concretos.

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