quinta-feira, novembro 06, 2014

O Brasil sentado no fundão - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 06/12

País sofre mais na América Latina porque governo também não soube lidar com a crise mundial


O BRASIL NÃO será o pior aluno da classe de economia latino-americana neste ano porque há Argen- tina e Venezuela. No quadriênio 2011-2014, ficará na lanterna entre as economias mais relevantes da região.

Como tediosamente se sabe, o governo alega que a economia se arrasta por causa da "crise mundial". A oposição argumenta que a desculpa não para em pé porque países da região crescem bem.

Sob Dilma Rousseff, teremos crescido em média cerca de 1,6% ao ano, ante mais de 4% do Chile, mais de 5% de Colômbia, Peru e Uruguai. Mesmo o México, um dos piores desempenhos da região nos últimos 20 anos, terá avançado 2,8%.

Posto nesses termos, o debate é ruim. Do lado da oposição, pressupõe-se que a economia brasileira possa ser comparada, sem mais, às dos demais países latino-americanos. Não pode, dadas as diferenças de tamanho, nível médio de renda, variedade produtiva e relevância do setor industrial, para citar o mais óbvio. O país mais assemelhado ou comparável ao Brasil seria o México, que, no entanto, é uma economia atrelada à dos Estados Unidos.

Para começo de conversa, a explicação governista condena o Brasil à dependência passiva dos humores mundiais, e as políticas brasileiras, à quase irrelevância. Nesse nível de banalidade, o argumento valida a tese de que o Brasil teria crescido nos anos Lula porque especialmente favorecido pelo crescimento mundial da década passada.

A crise e também as mudanças da economia mundial depois de 2008 podem ter tido impacto específico maior no Brasil industrializado do que na vizinhança.

O país foi afetado pela grande sobra de mundial de manufaturados baratos. Pelo contínuo avanço chinês sobre nossos mercados de manufaturados. Pelo dólar barateado pela sobra mundial de capital, pelos juros mundiais a quase zero, pelo saldo comercial propiciado pela alta do preço das commodities de exportação. Passamos a importar mais e exportar menos produtos industriais. A indústria está na mesma desde 2008.

Isto posto, porém, o governo ignorou tais problemas ou procurou corrigi-los com remendos que, agora se nota, danificaram o conjunto da economia pelo menos até 2016 ou 2017.

O governo tolerou a alta de custos (inflação), o que piorou o efeito do dólar barato na indústria (o Brasil ficou ainda mais caro). Tentou compensar a indústria com auxílios fiscais diversos (subsídios, empréstimos oficiais baratos, redução de impostos mal projetadas, tentativa fracassada de reduzir o custo da energia). Provocou assim uma calamidade nas contas públicas, des- crédito, mais valorização do real, inflação persistente e alta de juros, para nem mencionar várias ineficiências criadas por intervenções equivocadas. Os problemas da indústria continuam pelo menos os mesmos, mas provocou-se descalabro macroeconômico.

Corrigir os excessos do fim do governo Lula e enfrentar o ambiente externo adverso provavelmente custariam o crescimento de curto prazo, haveria Pibinhos. Mas ao menos a economia não estaria em desordem e poderiam ter sido tentadas inovações para lidar com os problemas de uma economia de renda média e industrializada nesse novo ambiente mundial.

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