sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Em busca da credibilidade perdida - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 21/02
Depois do quase vexame de 2013, quando só não fechou o ano fiscal no vermelho graças a receitas extraordinárias, o governo emitiu, ontem, o mais esperado sinal de que estaria empenhado em recuperar a confiança perdida no mercado financeiro internacional. No discurso que fez no Fórum Econômico Mundial, em Davos, a presidente deu sua palavra de que o Brasil não só não havia abandonado os fundamentos de política econômica que alçaram a nossa economia à condição de confiável para investimentos, como se preparava para adotar medidas de austeridade fiscal.
Foi preciso que as mais importantes agências internacionais de classificação de riscos soberanos, como a Standard & Poors, Moody"s e Fitch, colocassem o Brasil na lista dos países em observação, com risco de rebaixamento, para que a perda passasse a ser encarada com seriedade. Elas não descobriram ou disseram nada que a maioria dos economistas não engajados no governo já tivessem avisado. Foram acusados de fazer guerra psicológica. Além da demora em rever o afrouxamento da política monetária, permitindo que a inflação fugisse do centro da meta pelo terceiro ano consecutivo, o governo tem abusado de soluções criativas para dourar o mau desempenho da política fiscal em 2012 e 2013.

A geração de superavit primário para o pagamento do principal da dívida de um país é um dos indicadores mais observados pelo mercado financeiro. Ele mede o comprometimento e a capacidade técnica do governo de administrar as contas e, como resultado disso, honrar os compromissos com os credores. Para tornar esse desempenho transparente, os governos fixam as metas a serem perseguidas em cada exercício. Para 2012, a meta era gerar superavit primário de 3,1%. Fechou o ano com apenas 2,28%. Em 2013, a meta de 3,1% sofreu reduções e ajustes, fechando em 1,9%, abaixo dos 2% de 2009, no auge da crise internacional.

É desempenho que não transmite segurança ao investidor que aplicou ou pretende aplicar milhões de dólares num país emergente, que apenas recentemente abandonou o voluntarismo e a demagogia do desenvolvimento a qualquer custo. O Brasil, estável politicamente, ainda tem bons indicadores macroeconômicos, mas a dívida pública bruta tem crescido - já equivale a 57% do PIB.

Para acalmar os mercados e, principalmente, para devolver ao país gestão fiscal mais saudável, o governo anunciou ontem que pretende cortar R$ 44 bilhões no orçamento e gerar superavit primário de R$ 99 bilhões, correspondente a 1,9% do PIB. Mas a proporção é a mesma do ano passado, a pior da série histórica iniciada em 2001, e o governo ainda reviu para baixo o crescimento da economia (de 4% para 2,5%). Ou seja, passou para si mesmo um dever de casa bem mais leve do que se esperava. Corre o risco de ser entendido como falta de coragem política. Pior, muito pior, será se nem isso for cumprido.

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