segunda-feira, janeiro 20, 2014

Mais grãos, mais problema - EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE

CORREIO BRAZILIENSE - 20/01
O Brasil pagará caro nos próximos meses, quando colher e começar a despachar mais uma safra recorde de grãos. É a repetição do quadro que, nos últimos anos, atesta a incapacidade do país de avançar na ampliação e modernização da infraestrutura de transportes.
Por mais que o agronegócio tenha salvado as contas nacionais no setor externo, muito pouco ou quase nada tem sido feito para tornar o espetacular desempenho do campo mais proveitoso para a economia brasileira. Em tempos de maus resultados da indústria e de constrangedoras taxas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), ganhos maiores com a agropecuária viriam em boa hora.

É o que poderíamos ter em 2014, pois o campo mais uma vez fez sua parte. A safra 2013-2014 dará ao Brasil 196,67 milhões de toneladas de grãos, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), concluído este mês. São 9,7 milhões de toneladas a mais do que a colheita passada, representando crescimento de 5,2%.
Mas o que deveria ser motivo para festa, no Brasil significa problemas à vista. Especialistas em logística calculam que essa produção de grãos daria para encher 122,6 mil vagões de trem (média de 80 toneladas por carro) ou ser transportada em 306 mil viagens de caminhões, com 32 toneladas cada um.

E como as falhas de logística no Brasil começam cedo, é preciso embarcar tudo o mais rápido possível, pois o espaço de armazenamento é tão insuficiente quanto a qualidade das estradas e a eficiência dos portos. Não passa de 15% a capacidade de guardar grãos nas próprias fazendas, o que não raro obriga os produtores a apelar para condições precárias de abrigo da soja e do milho, em valões forrados com lonas. Só para se ter uma ideia desse atraso, na Argentina, essa capacidade instalada em fazendas é de cerca de 40% da safra; nos Estados Unidos, de até 60% da colheita.

O resultado dessas deficiências, insistentemente mantidas há anos, é que toneladas de grãos de soja e milho vão parar no acostamento das estradas, significando perda calculada em US$ 2,5 bilhões a preços de 2009. E mais: perda de tempo e dinheiro nas quilométricas filas de caminhões nas proximidades dos portos do Sul e do Sudeste, que ainda concentram a maior parte dos despachos, já que os do Norte e do Nordeste aguardam investimentos em ampliação e atualização da capacidade operacional.

Não há um cálculo seguro de quanto dinheiro se perde com despesas e multas por atraso na operação portuária das exportações brasileiras de grãos. Mas não é pouco o que custa ao país não ter ainda vencido o corporativismo e os anacrônicos obstáculos no caminho da modernização dos portos.

Agora que as concessões rodoviárias começaram a deslanchar, urge acelerar a montagem de um novo Brasil logístico, incluindo, no caso do escoamento das safras, modais como o ferroviário e o aproveitamento das vias navegáveis. Premiado pela geografia, o Brasil precisa cumprir logo sua história de protagonista da economia mundial.

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