O GLOBO - 05/10
O que causa mesmo inveja a um carioca são a segurança e a ordem nas ruas de Manhattan
Nova York não é meu sonho de cidade, talvez por falta de intimidade com a língua e com a paisagem, que me lembra Tom Jobim implicando com a altura dos prédios: “NY é para ser vista de maca”. Como cantou o grande Cole Porter, “I love Paris” — na primavera, no outono, no inverno, em “qualquer momento” (menos no verão, quando as duas ficam insuportáveis). Mas reconheço que nenhuma outra metrópole dispõe de tanta oferta cultural quanto a capital do mundo (dizem que perde para Londres, que conheço pouco). Atualmente, há cerca de 30 espetáculos em cartaz na Broadway, ou seja, pode-se ver um por noite durante um mês. Na terra do fast-food, mais do que musicais, concertos, peças, óperas e exposições, só mesmo comida. Em cada quarteirão um bar, uma lanchonete, um restaurante.
Come-se dentro, mas também do lado de fora. O nova-iorquino ou está com a boca cheia ou falando ao celular — às vezes as duas coisas ao mesmo tempo. Come-se até sentado na fonte do Lincoln Center, enquanto se espera, por exemplo, a Filarmônica de NY acompanhar Yefim Bronfman ao piano no Concerto nº 1, de Tchaikovsky. Isso, por si só, valeu a viagem. Aliás, em termos de “valeu a viagem”, há também a magnífica mostra de Edward Hopper, sem falar na nova montagem de “Pippin”, cujas riquezas da coreografia e da expressão corporal dispensam o resto. Não é preciso entender, basta ver para se deslumbrar.
Mas o que causa mesmo inveja a um carioca são a segurança e a ordem da cidade. Andando nas últimas semanas pelas ruas de Manhattan, não tive um sobressalto, uma ameaça, não vi um avanço de sinal, não ouvi uma freada brusca, um buzinaço estridente. Isso deve acontecer, claro, mas como exceção. A comparação é tanto mais chocante quando você volta e encontra a Cinelândia, palco de eventos cívicos memoráveis, transformada em campo de batalha. De um lado, a polícia usando todo tipo de truculência contra professores. Uma professora de História repete por e-mail o que ouviu dos policiais: “Vamos acabar com esses filhos da puta (...). O corpo estremecendo, os olhos lacrimejando e os ouvidos zunindo, já surda, deixei o cenário. Cenário de guerra, arapuca de arame.” A vereadora Teresa Bergher (PSDB), indignada com a violência policial, resumiu: “Um dia negro para a democracia.” De outro lado, vândalos depredando e saqueando bens públicos e até bares tradicionais como o Amarelinho e o Vermelhinho. E, se não bastasse, xingando artistas na entrada de um festival de cinema. O próximo ato deve ser queimar livros em praça pública.
De parte a parte, uma marcha de insensatez que, pelo visto, deve continuar.
sábado, outubro 05, 2013
Pra que servem as mulheres - MARCELO RUBENS PAIVA
O Estado de S.Paulo - 05/10
Pra que elas sevem? Foi a segunda pergunta que o moleque fez, quando começou a lista de perguntas essenciais sobre o sentido da vida. A primeira? Pra que serve esta bola?
O primeiro indício de que ele não as entendia nasceu da constatação de que a maioria não devolvia as bolas atiradas contra elas. Começava aí o dilema da divisão de papéis. Não entendia por que meninas conversavam com seres inanimados, designados "bonecas", que nomeavam, vestiam, penteavam, alimentavam com comida de mentira, agasalhavam e colocavam para dormir. Não entendia por que meninas reclamavam quando ele arrancava as cabeças de plástico com cílios e cabelos de náilon para ver o que tinha dentro. Não entendia a obsessão delas por cores cítricas e por pôsteres de meninos que cantam em bandas só deles. Não entendia o funcionamento de presilhas para prender cabelos, nem o sentido de esmaltar as unhas. Como não as entendia, passou a ignorá-las.
Até ser matriculado numa escola. Descobriu que uma mulher pilotava muito bem a van, outra, a lanchonete, outra, a classe barulhenta, outra, a própria escola. Aprendeu a ler livrinhos escritos por mulheres e ouvir musiquinhas compostas por elas. Ouviu dizer que países eram governados por elas. Descobriu que apenas as da sua idade eram desinteressantes.
Mas chegou a adolescência. Começou a desconfiar que garotas tinham alguma atribuição na composição social. Especialmente as que tinham irmãs mais velhas. Ele passou a ter uma ideia fixa quando organizaram o campeonato de vôlei feminino no colegial. E contrataram a nova professora de matemática.
Vítima de uma explosão hormonal que o deixou por anos monotemático, descobriu enfim que as mulheres escondiam uma coisa que ele queria muito. Então, descobriu que, entre o objetivo e a conquista, existia planejamento, método, projeto, a corte, algo que faz parte da espécie como o fogo e a flecha, e que os fins justificam os meios.
Passou a amá-las, idealizá-las, compará-las, desejá-las mais que tudo. A trocar jogos com bolas por fantasias solitárias. A sofrer de amor, escrever poemas, cantar, dançar, oferecer mimos, declarar, xavecar.
O xaveco é milenar. O humano conhecido popularmente como Homo sapiens, do grego homem sábio, achou por bem decorar o cantinho de cavernas com pinturas rupestres, exagerar seus feitos em caçadas, oferecer enfeites à base de marfim de mamute, saias de pele de onça e colares com dentes de sabre manipulados para convencer uma pretendente a visitar o escurinho sobre o qual Platão tanto se dedicou e criou um mito. Até o aperfeiçoamento da fala e a invenção da lira, gastou-se muita mímica para simular que o macho não pensava só naquilo, apesar de só pensar naquilo, e que iria mandar um dente decorativo no dia seguinte de algum animal ainda não extinto por ele mesmo.
Pirâmides foram construídas para impressionar amadas. Guerras foram proclamadas, monumentos com colunas, com abóbadas, com ou sem sentido, foram erguidos. Navios enfrentaram tormentas em busca de um amor pleno. Muito papiro, muita tinta, muito blá-blá-blá foi gasto para se conquistar uma mulher.
O moleque namorou, noivou, assinou um pacto e se casou. Descobriu também pra que elas servem na linha evolutiva, ao observar seu grande amor engravidar. Descobriu enfim que, por trás de tanto desejo, admiração, vontade de compartilhar a rotina, existe o corpo de uma mamífera que dá sentido ao tempo perdido em busca da resposta do pra que elas servem: elas procriam!
A cintura arredondada de uma mulher não é apenas para servir de suporte a um biquíni asa delta. Existe ali espaço para caber mais um. E produzir colo. Os peitinhos aumentam, são na verdade mamas. Olha lá, é um design milimetricamente perfeito para alimentar um, até dois, herdeiros. A protuberância chama a embocadura. A aréola circunda o bico para proteger a maciez e criar a ilusão de ótica de que um bebê que enxerga mal precisa. E, surpresa. De dentro, sai alimento na temperatura ideal. É uma pequena fábrica caseira de laticínio mais rico em nutrientes do que tudo que existe.
O ventre é o receptáculo para o acolhimento de genes. Para receber as qualidades do macho alfa, mais forte e capaz. Tem maciez, lubrificação. Para enfiarmos o veículo testado como num túnel de vento da NASA, que transporta informações genéticas que serão selecionadas dentro e escolhidas. Em bilhões, aceitarão um! Que será armazenado, alimentado e protegido com a placenta quimicamente balanceada, num reservatório com tubo personalizado e individual de alimentação, com isolamento acústico e calefação.
Mas o sujeito se pergunta se as mulheres são então apenas umas chocadeiras? Não! A evolução foi brilhante. Como sempre. Deu o quê? Um clitóris. Uma glande em forma de botão com 8 mil terminações nervosas, o dobro da mangueirinha pendurada aí. Que serve para o quê? Para apenas uma coisa. Dar prazer! Não é para "tirar água do joelho", expelir genes, se gabar. É para apenas e tão somente dar prazer, fazê-las gozar, e não uma vez, como um urro, uhhhh, mas muitas vezes, múltiplos. O homem tem uma espingarda de um tiro, um bacamarte, que sai chumbo pra todos os lados. Elas, um rifle de repetição, uma metralhadora, pá-pá-pá!
Elas têm no corpo um órgão que é só para o prazer. Que, se a evolução não nos tivesse dado, talvez elas nunca visitassem o escurinho da caverna que intrigou Platão. Se não fosse o mágico e hipersensível sininho, não haveria procriação, não haveria espécie humana, não haveria Quéops, Troia, Capela Sistina. Nem o sujeito da primeira pergunta, a bola. Nem perguntas haveria.
Pra que elas sevem? Foi a segunda pergunta que o moleque fez, quando começou a lista de perguntas essenciais sobre o sentido da vida. A primeira? Pra que serve esta bola?
O primeiro indício de que ele não as entendia nasceu da constatação de que a maioria não devolvia as bolas atiradas contra elas. Começava aí o dilema da divisão de papéis. Não entendia por que meninas conversavam com seres inanimados, designados "bonecas", que nomeavam, vestiam, penteavam, alimentavam com comida de mentira, agasalhavam e colocavam para dormir. Não entendia por que meninas reclamavam quando ele arrancava as cabeças de plástico com cílios e cabelos de náilon para ver o que tinha dentro. Não entendia a obsessão delas por cores cítricas e por pôsteres de meninos que cantam em bandas só deles. Não entendia o funcionamento de presilhas para prender cabelos, nem o sentido de esmaltar as unhas. Como não as entendia, passou a ignorá-las.
Até ser matriculado numa escola. Descobriu que uma mulher pilotava muito bem a van, outra, a lanchonete, outra, a classe barulhenta, outra, a própria escola. Aprendeu a ler livrinhos escritos por mulheres e ouvir musiquinhas compostas por elas. Ouviu dizer que países eram governados por elas. Descobriu que apenas as da sua idade eram desinteressantes.
Mas chegou a adolescência. Começou a desconfiar que garotas tinham alguma atribuição na composição social. Especialmente as que tinham irmãs mais velhas. Ele passou a ter uma ideia fixa quando organizaram o campeonato de vôlei feminino no colegial. E contrataram a nova professora de matemática.
Vítima de uma explosão hormonal que o deixou por anos monotemático, descobriu enfim que as mulheres escondiam uma coisa que ele queria muito. Então, descobriu que, entre o objetivo e a conquista, existia planejamento, método, projeto, a corte, algo que faz parte da espécie como o fogo e a flecha, e que os fins justificam os meios.
Passou a amá-las, idealizá-las, compará-las, desejá-las mais que tudo. A trocar jogos com bolas por fantasias solitárias. A sofrer de amor, escrever poemas, cantar, dançar, oferecer mimos, declarar, xavecar.
O xaveco é milenar. O humano conhecido popularmente como Homo sapiens, do grego homem sábio, achou por bem decorar o cantinho de cavernas com pinturas rupestres, exagerar seus feitos em caçadas, oferecer enfeites à base de marfim de mamute, saias de pele de onça e colares com dentes de sabre manipulados para convencer uma pretendente a visitar o escurinho sobre o qual Platão tanto se dedicou e criou um mito. Até o aperfeiçoamento da fala e a invenção da lira, gastou-se muita mímica para simular que o macho não pensava só naquilo, apesar de só pensar naquilo, e que iria mandar um dente decorativo no dia seguinte de algum animal ainda não extinto por ele mesmo.
Pirâmides foram construídas para impressionar amadas. Guerras foram proclamadas, monumentos com colunas, com abóbadas, com ou sem sentido, foram erguidos. Navios enfrentaram tormentas em busca de um amor pleno. Muito papiro, muita tinta, muito blá-blá-blá foi gasto para se conquistar uma mulher.
O moleque namorou, noivou, assinou um pacto e se casou. Descobriu também pra que elas servem na linha evolutiva, ao observar seu grande amor engravidar. Descobriu enfim que, por trás de tanto desejo, admiração, vontade de compartilhar a rotina, existe o corpo de uma mamífera que dá sentido ao tempo perdido em busca da resposta do pra que elas servem: elas procriam!
A cintura arredondada de uma mulher não é apenas para servir de suporte a um biquíni asa delta. Existe ali espaço para caber mais um. E produzir colo. Os peitinhos aumentam, são na verdade mamas. Olha lá, é um design milimetricamente perfeito para alimentar um, até dois, herdeiros. A protuberância chama a embocadura. A aréola circunda o bico para proteger a maciez e criar a ilusão de ótica de que um bebê que enxerga mal precisa. E, surpresa. De dentro, sai alimento na temperatura ideal. É uma pequena fábrica caseira de laticínio mais rico em nutrientes do que tudo que existe.
O ventre é o receptáculo para o acolhimento de genes. Para receber as qualidades do macho alfa, mais forte e capaz. Tem maciez, lubrificação. Para enfiarmos o veículo testado como num túnel de vento da NASA, que transporta informações genéticas que serão selecionadas dentro e escolhidas. Em bilhões, aceitarão um! Que será armazenado, alimentado e protegido com a placenta quimicamente balanceada, num reservatório com tubo personalizado e individual de alimentação, com isolamento acústico e calefação.
Mas o sujeito se pergunta se as mulheres são então apenas umas chocadeiras? Não! A evolução foi brilhante. Como sempre. Deu o quê? Um clitóris. Uma glande em forma de botão com 8 mil terminações nervosas, o dobro da mangueirinha pendurada aí. Que serve para o quê? Para apenas uma coisa. Dar prazer! Não é para "tirar água do joelho", expelir genes, se gabar. É para apenas e tão somente dar prazer, fazê-las gozar, e não uma vez, como um urro, uhhhh, mas muitas vezes, múltiplos. O homem tem uma espingarda de um tiro, um bacamarte, que sai chumbo pra todos os lados. Elas, um rifle de repetição, uma metralhadora, pá-pá-pá!
Elas têm no corpo um órgão que é só para o prazer. Que, se a evolução não nos tivesse dado, talvez elas nunca visitassem o escurinho da caverna que intrigou Platão. Se não fosse o mágico e hipersensível sininho, não haveria procriação, não haveria espécie humana, não haveria Quéops, Troia, Capela Sistina. Nem o sujeito da primeira pergunta, a bola. Nem perguntas haveria.
O homem que quase foi Kubrick - RUY CASTRO
FOLHA DE SP - 05/10
RIO DE JANEIRO - O MIS de São Paulo abrirá no dia 11 uma grande mostra "Stanley Kubrick". Exibirá os 12 filmes oficiais de Kubrick e mais de 500 objetos usados neles ou com que o diretor trabalhou em 48 anos de cinema. Imagine agora se, em vez de "Stanley Kubrick", a mostra se chamasse "Alexander Singer".
Quem? Alexander Singer. Foi um grande amigo de Kubrick. Os dois nasceram no Bronx, em Nova York, a poucos metros um do outro, em 1928 (Alexander, em abril; Stanley, em julho). Conheceram-se no Ginásio Taft, cujas aulas matavam para jogar xadrez, discutir fotografia ou ir ao cinema para ver três sessões seguidas do mesmo filme.
Eles queriam passar à história do cinema como diretores. E decidiu-se que, quando Alexander fizesse seu primeiro filme, Stanley seria o diretor de fotografia. Isso foi em 1945. Mas Stanley tinha pressa. Tornou-se fotógrafo da revista "Look" e levou três anos fazendo grandes fotos. Até que se sentiu pronto para um filme.
Estreou com um curta ambicioso, "Day of the Fight" (1951), sobre boxe, com Alexander como assistente de direção. E a roda nunca mais girou ao contrário. Stanley logo se tornou o maior nome de sua geração. Já Alexander só foi dirigir em 1960: o modesto, mas fascinante "Rajadas de Paixão", de que, hoje, acho que só eu e o Sérgio Augusto nos lembramos --ou seria por sua estrela Lola Albright?
Resignado, Alexander converteu-se à TV e passou a vida dirigindo seriados como "Jornada nas Estrelas", "O Fugitivo" ou "Missão Impossível". Mas como passar à história com isso? Daí que as biografias de Stanley enchem prateleiras; a de Alexander resume-se a algumas linhas. E, também por isso, o MIS mostrará "Stanley Kubrick", não "Alexander Singer". Quando Stanley morreu, em 1999, Alexander estava ao pé do caixão, arrasado. Até o fim, amigo fiel e coadjuvante.
RIO DE JANEIRO - O MIS de São Paulo abrirá no dia 11 uma grande mostra "Stanley Kubrick". Exibirá os 12 filmes oficiais de Kubrick e mais de 500 objetos usados neles ou com que o diretor trabalhou em 48 anos de cinema. Imagine agora se, em vez de "Stanley Kubrick", a mostra se chamasse "Alexander Singer".
Quem? Alexander Singer. Foi um grande amigo de Kubrick. Os dois nasceram no Bronx, em Nova York, a poucos metros um do outro, em 1928 (Alexander, em abril; Stanley, em julho). Conheceram-se no Ginásio Taft, cujas aulas matavam para jogar xadrez, discutir fotografia ou ir ao cinema para ver três sessões seguidas do mesmo filme.
Eles queriam passar à história do cinema como diretores. E decidiu-se que, quando Alexander fizesse seu primeiro filme, Stanley seria o diretor de fotografia. Isso foi em 1945. Mas Stanley tinha pressa. Tornou-se fotógrafo da revista "Look" e levou três anos fazendo grandes fotos. Até que se sentiu pronto para um filme.
Estreou com um curta ambicioso, "Day of the Fight" (1951), sobre boxe, com Alexander como assistente de direção. E a roda nunca mais girou ao contrário. Stanley logo se tornou o maior nome de sua geração. Já Alexander só foi dirigir em 1960: o modesto, mas fascinante "Rajadas de Paixão", de que, hoje, acho que só eu e o Sérgio Augusto nos lembramos --ou seria por sua estrela Lola Albright?
Resignado, Alexander converteu-se à TV e passou a vida dirigindo seriados como "Jornada nas Estrelas", "O Fugitivo" ou "Missão Impossível". Mas como passar à história com isso? Daí que as biografias de Stanley enchem prateleiras; a de Alexander resume-se a algumas linhas. E, também por isso, o MIS mostrará "Stanley Kubrick", não "Alexander Singer". Quando Stanley morreu, em 1999, Alexander estava ao pé do caixão, arrasado. Até o fim, amigo fiel e coadjuvante.
A dor dos outros - CACÁ DIEGUES
O GLOBO - 05/10
Devemos prestar atenção à dor dos outros, para tentarmos atenuar a nossa
Semana passada, andei uns dias por Marechal Deodoro, cidade histórica de Alagoas, antiga capital do estado, acompanhando a IV Flimar (Festa Literária de Marechal Deodoro), organizada pelo prefeito Cristiano Matheus e por seu secretário de cultura Carlito Lima, meu amigo de infância. Dias de reencontro com tanta coisa.
Durante a Flimar, redescobri, graças a Ricardo Ramos Filho, seu neto, a extraordinária carta de Graciliano Ramos a Cândido Portinari, publicada em 1946. Um verdadeiro manifesto que, em nossa juventude de esquerda, líamos como amargo chiste do velho Graça, ao qual não tínhamos que dar tanta atenção. E no entanto devíamos ter levado mais a sério o que nosso escritor dizia ao pintor seu amigo, para o bem de sua geração e das gerações de artistas que os sucederam.
“Caríssimo Portinari”, escreve Graciliano, “(...) receio que esta resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo as deformações e miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. (...) se elas desaparecessem, poderíamos continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças? Dos quadros que você mostrou (...), o que mais me comoveu foi aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que faríamos cromos, anjinhos cor de rosa, e isto me horroriza. Felizmente a dor existirá sempre, a nossa velha amiga, nada a suprimirá. E seríamos ingratos se desejássemos a supressão dela (...).”
Gostaria muito de pensar, e faço sempre um grande esforço para isso, como Bachelard, filósofo francês: “O mundo é belo antes de ser verdadeiro, o mundo é admirado antes de ser verificado.” O que significa que descobrir e se encantar com o que está à nossa volta deve ter primazia sobre ouvir o que se diz sobre o que está à nossa volta. Esse talvez seja o principal conflito da inteligência humana, a disputa eterna entre cultura e conhecimento. Os artistas sofrem com isso.
De que dor e de que mundo devemos falar quando nos deparamos com um desastre como esse de Lampedusa? Mais de 300 imigrantes ilegais, fugindo pelo Mediterrâneo de países africanos em crise, tentam chegar ao sul da Itália e morrem no naufrágio previsível de um barco sem condições de fazer os 350km da viagem, controlado por gerentes da miséria humana que cobravam mais de 1.500 dólares por cada um dos 500 passageiros, número impossível de caber em seus poucos 20 metros de extensão.
Eu sei que isso não é novo, nem raro. Eu sei que já aconteceu com albaneses que tentavam chegar ao norte da Itália, com mexicanos que atravessavam a fronteira para os Estados Unidos, com cubanos que remavam em direção à Flórida. Eu sei que isso não deixará de acontecer enquanto houver fome, miséria, opressão e guerra por aí afora, enquanto houver seres humanos desejando com desespero viver outra vida. Mas não quero me acostumar a isso, não vou me acostumar a isso.
A dor a que Graciliano se refere e não deseja suprimir faz parte da natureza humana, está sempre dentro de nós e no mundo ao nosso redor, temos que contar com ela. Nascemos para parir e parimos com dor. Os animais, as plantas, a terra toda, tudo à nossa volta vive fugindo dela, viver é tentar escapar da dor. Mas a dor de Lampedusa, dos que morreram sem conhecer a felicidade, dos que sobreviveram inutilmente e dos que, como nós, assistem perplexos a esse espetáculo brutal, essa é uma vergonha e pode muito bem ser suprimida. Como disse Francisco, acertando mais uma vez, ela é o resultado da “globalização da indiferença”.
Devemos prestar atenção à dor dos outros, para tentarmos atenuar a nossa. Vejo o desastre de Lampedusa e penso, por exemplo, nessa irracional reação corporativista aos médicos estrangeiros que querem trabalhar no Brasil. Nossas corporações são mais importantes do que o bem-estar e a saúde dos outros, num país miserável como esse? Como penso também em nossos professores em greve. Destruir equipamentos públicos, como estação de metrô, transportes coletivos, pontos de ônibus, placas de sinalização, cabines de telefone, equipamentos que servem ao resto da população, sobretudo aos mais pobres que não têm nada a ver com isso, faz parte de suas reivindicações corporativas?
Nesse e em outros exemplos mais e menos modestos, que se dane o resto, aquele que não sou eu, o outro?
Uma correção relativa ao artigo do outro sábado. O primeiro universitário da PUC-RJ a ser eleito presidente da UNE foi o estudante de direito José Baptista de Oliveira, durante o biênio 1956-57. Arthur Poener, em “O poder jovem” (ed. Civilização Brasileira, 1968), escreveu que a gestão de José Baptista “assinalou a formação da primeira frente única de católicos e comunistas no movimento estudantil, autêntica precursora do pensamento ecumênico em nosso país.”
Devemos prestar atenção à dor dos outros, para tentarmos atenuar a nossa
Semana passada, andei uns dias por Marechal Deodoro, cidade histórica de Alagoas, antiga capital do estado, acompanhando a IV Flimar (Festa Literária de Marechal Deodoro), organizada pelo prefeito Cristiano Matheus e por seu secretário de cultura Carlito Lima, meu amigo de infância. Dias de reencontro com tanta coisa.
Durante a Flimar, redescobri, graças a Ricardo Ramos Filho, seu neto, a extraordinária carta de Graciliano Ramos a Cândido Portinari, publicada em 1946. Um verdadeiro manifesto que, em nossa juventude de esquerda, líamos como amargo chiste do velho Graça, ao qual não tínhamos que dar tanta atenção. E no entanto devíamos ter levado mais a sério o que nosso escritor dizia ao pintor seu amigo, para o bem de sua geração e das gerações de artistas que os sucederam.
“Caríssimo Portinari”, escreve Graciliano, “(...) receio que esta resposta já não o ache fixando na tela a nossa pobre gente da roça. Não há trabalho mais digno, penso eu. Dizem que somos pessimistas e exibimos deformações; contudo as deformações e miséria existem fora da arte e são cultivadas pelos que nos censuram. (...) se elas desaparecessem, poderíamos continuar a trabalhar? Desejamos realmente que elas desapareçam ou seremos também uns exploradores, tão perversos como os outros, quando expomos desgraças? Dos quadros que você mostrou (...), o que mais me comoveu foi aquela mãe com a criança morta. Saí de sua casa com um pensamento horrível: numa sociedade sem classes e sem miséria seria possível fazer-se aquilo? Numa vida tranquila e feliz que espécie de arte surgiria? Chego a pensar que faríamos cromos, anjinhos cor de rosa, e isto me horroriza. Felizmente a dor existirá sempre, a nossa velha amiga, nada a suprimirá. E seríamos ingratos se desejássemos a supressão dela (...).”
Gostaria muito de pensar, e faço sempre um grande esforço para isso, como Bachelard, filósofo francês: “O mundo é belo antes de ser verdadeiro, o mundo é admirado antes de ser verificado.” O que significa que descobrir e se encantar com o que está à nossa volta deve ter primazia sobre ouvir o que se diz sobre o que está à nossa volta. Esse talvez seja o principal conflito da inteligência humana, a disputa eterna entre cultura e conhecimento. Os artistas sofrem com isso.
De que dor e de que mundo devemos falar quando nos deparamos com um desastre como esse de Lampedusa? Mais de 300 imigrantes ilegais, fugindo pelo Mediterrâneo de países africanos em crise, tentam chegar ao sul da Itália e morrem no naufrágio previsível de um barco sem condições de fazer os 350km da viagem, controlado por gerentes da miséria humana que cobravam mais de 1.500 dólares por cada um dos 500 passageiros, número impossível de caber em seus poucos 20 metros de extensão.
Eu sei que isso não é novo, nem raro. Eu sei que já aconteceu com albaneses que tentavam chegar ao norte da Itália, com mexicanos que atravessavam a fronteira para os Estados Unidos, com cubanos que remavam em direção à Flórida. Eu sei que isso não deixará de acontecer enquanto houver fome, miséria, opressão e guerra por aí afora, enquanto houver seres humanos desejando com desespero viver outra vida. Mas não quero me acostumar a isso, não vou me acostumar a isso.
A dor a que Graciliano se refere e não deseja suprimir faz parte da natureza humana, está sempre dentro de nós e no mundo ao nosso redor, temos que contar com ela. Nascemos para parir e parimos com dor. Os animais, as plantas, a terra toda, tudo à nossa volta vive fugindo dela, viver é tentar escapar da dor. Mas a dor de Lampedusa, dos que morreram sem conhecer a felicidade, dos que sobreviveram inutilmente e dos que, como nós, assistem perplexos a esse espetáculo brutal, essa é uma vergonha e pode muito bem ser suprimida. Como disse Francisco, acertando mais uma vez, ela é o resultado da “globalização da indiferença”.
Devemos prestar atenção à dor dos outros, para tentarmos atenuar a nossa. Vejo o desastre de Lampedusa e penso, por exemplo, nessa irracional reação corporativista aos médicos estrangeiros que querem trabalhar no Brasil. Nossas corporações são mais importantes do que o bem-estar e a saúde dos outros, num país miserável como esse? Como penso também em nossos professores em greve. Destruir equipamentos públicos, como estação de metrô, transportes coletivos, pontos de ônibus, placas de sinalização, cabines de telefone, equipamentos que servem ao resto da população, sobretudo aos mais pobres que não têm nada a ver com isso, faz parte de suas reivindicações corporativas?
Nesse e em outros exemplos mais e menos modestos, que se dane o resto, aquele que não sou eu, o outro?
Uma correção relativa ao artigo do outro sábado. O primeiro universitário da PUC-RJ a ser eleito presidente da UNE foi o estudante de direito José Baptista de Oliveira, durante o biênio 1956-57. Arthur Poener, em “O poder jovem” (ed. Civilização Brasileira, 1968), escreveu que a gestão de José Baptista “assinalou a formação da primeira frente única de católicos e comunistas no movimento estudantil, autêntica precursora do pensamento ecumênico em nosso país.”
Ueba! Marina vai virar PENtelha? - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 05/10
Quem é do PEN é pentelho, penetra e pendrive! E a Marina vira pentelha e abre a igreja pentelhocostal
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Avisa a Marina que quem não tem rede pesca com vara!
E uma leitora disse: "Já que a Marina não pode ir pra Rede, que vá pro Pufe! Partido dos Usurpados no Fórum Eleitoral". Rarará.
E a Marina vai pro PEN? Virar pentelha! Ops, continuar pentelha. Rarará!
Quem é do PT é petista, quem é do PMDB é peemedebista e quem é do PEN é pentelho, penetra e pendrive! E a Marina vira pentelha e abre a igreja pentelhocostal. Rarará!
E ela não parece uma tartaruga sem casco? Então pode ir pro Projeto Tamar!
E adoro a plataforma de governo da Marina: xampu de cupuaçu, desodorante de andiroba e camisinha de polpa de buriti. É o catálogo da Natura!
E sabe o que um corintiano falou do meu São Paulo? "Bambi não cai, se agacha". Ou seja, nós vamos nos agachar pra segunda divisão! Rarará!
E continuo adorando a fusão Portugal Telecom com a Oi: a Pois! E já tem logo: aquele logo amarelo da Oi escrito "Pois" e a menina com um bigodão, simples assim!
E torno a repetir que a Portugal Telecom lançou celular no Brasil pro povo parar de usar o telefone da padaria!
E votar na Marina tem um único problema: e se ela ganhar? Rarará. Outro grande problema: diz que se ela ganhar, ela vai SOLTAR O CABELO! E pode ir pro PPS! O partido do Roberto Freire. O Roberto Freire é um Fernando Henrique sem chantilly!
E a biografia da Marinárvore: ela é a mãe do Macunaíma e descende dos tururus bandeira, aquele povo que vive na árvore! E faz pose de Virgem Inca. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! O Brasil é Lúdico! No Brasil todo mundo escreve errado, mas todo mundo se entende. Placa numa lanchonete de chineses na Liberdade: "Precisa de FUCINÁRIO". E essa outra na Bahia: "Fornecemos CONZINHEIRA". E essa faixa aqui: "Aluguel de RETOESCAVADEIRA". Epa! Rarará!
E esse outodoor em Minas: "PINTÓPOLIS tem 100% de energia elétrica". Pinto elétrico! Então avisa o Aécio que acabou a lanterna, agora é iluminar Minas com o pinto. O que não vai ser problema pra ele. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Quem é do PEN é pentelho, penetra e pendrive! E a Marina vira pentelha e abre a igreja pentelhocostal
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! Avisa a Marina que quem não tem rede pesca com vara!
E uma leitora disse: "Já que a Marina não pode ir pra Rede, que vá pro Pufe! Partido dos Usurpados no Fórum Eleitoral". Rarará.
E a Marina vai pro PEN? Virar pentelha! Ops, continuar pentelha. Rarará!
Quem é do PT é petista, quem é do PMDB é peemedebista e quem é do PEN é pentelho, penetra e pendrive! E a Marina vira pentelha e abre a igreja pentelhocostal. Rarará!
E ela não parece uma tartaruga sem casco? Então pode ir pro Projeto Tamar!
E adoro a plataforma de governo da Marina: xampu de cupuaçu, desodorante de andiroba e camisinha de polpa de buriti. É o catálogo da Natura!
E sabe o que um corintiano falou do meu São Paulo? "Bambi não cai, se agacha". Ou seja, nós vamos nos agachar pra segunda divisão! Rarará!
E continuo adorando a fusão Portugal Telecom com a Oi: a Pois! E já tem logo: aquele logo amarelo da Oi escrito "Pois" e a menina com um bigodão, simples assim!
E torno a repetir que a Portugal Telecom lançou celular no Brasil pro povo parar de usar o telefone da padaria!
E votar na Marina tem um único problema: e se ela ganhar? Rarará. Outro grande problema: diz que se ela ganhar, ela vai SOLTAR O CABELO! E pode ir pro PPS! O partido do Roberto Freire. O Roberto Freire é um Fernando Henrique sem chantilly!
E a biografia da Marinárvore: ela é a mãe do Macunaíma e descende dos tururus bandeira, aquele povo que vive na árvore! E faz pose de Virgem Inca. Rarará!
É mole? É mole, mas sobe!
O Brasil é Lúdico! O Brasil é Lúdico! No Brasil todo mundo escreve errado, mas todo mundo se entende. Placa numa lanchonete de chineses na Liberdade: "Precisa de FUCINÁRIO". E essa outra na Bahia: "Fornecemos CONZINHEIRA". E essa faixa aqui: "Aluguel de RETOESCAVADEIRA". Epa! Rarará!
E esse outodoor em Minas: "PINTÓPOLIS tem 100% de energia elétrica". Pinto elétrico! Então avisa o Aécio que acabou a lanterna, agora é iluminar Minas com o pinto. O que não vai ser problema pra ele. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Graças a Deus - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 05/10
Lula contou para um amigo que, graças a Deus, literalmente, segurou Marina Silva em seu ministério por, pelo menos, mais um ano, entre 2003 e 2008.
Foi assim. Acompanhada do seu conselheiro religioso, Marina procurou o então presidente para dizer que “Deus tinha aconselhado ela a sair do governo”.
Ato seguinte...
Lula pediu um tempo para responder. Depois procurou Marina e contou a novidade:
— Falei com Deus e ele pediu para você ficar.
Leilão com Dilma
Dilma decidiu vir ao Rio no dia 21 para acompanhar o leilão do supercampo de Libra, o gigante do pré-sal.
Bruxa solta
Na votação do plano da Educação, na Câmara do Rio, terça, o vereador Leonel Brizola Neto, como se sabe, subiu na mesa para discutir. Foi contido por segurança, caiu e passou mal.
O vereador Jorge Manaia, que é médico, foi socorrê-lo, mas, ao se abaixar para levantar o colega, deu um jeito na coluna. Está de licença.
Mãe e filho
Elba Ramalho vai trabalhar pela primeira vez com seu filho Luã, do casamento com Maurício Mattar.
Luã produzirá o próximo disco da mãe, que entra em estúdio em dezembro. Não é fofo?
TAP na Amazônia
A TAP anuncia hoje em Lisboa que vai incluir Manaus e Belém em suas rotas, a partir de junho do ano que vem. Com isso, a voadora portuguesa passará a ter saídas de 12 cidades brasileiras.
Do que o povo gosta
Entre a noite de quinta e a madrugada de ontem, a Rede Globo emplacou 17 trending topics, como são conhecidas na língua de Obama as frases mais publicadas pelo Twitter, em tempo real. Todas sobre os programas “The Voice” e “Amor e sexo”.
Quatro dos tópicos subiram para a versão internacional do microblog: “#amoresexo”, “Fernanda Lima” (a apresentadora do programa), “Otaviano” (Costa, o ator), que ficou peladão ao final do episódio, e “#thevoicebr”.
Menções...
Os dois programas tiveram 643.997 menções no Twitter, o que representa 6,1% das conversas naquele momento.
O caso confirma que, cada vez mais, as pessoas tuítam o que veem na TV.
Se eu fosse... ‘usted’
O filme “Se eu fosse você”, sucesso do cinema brasileiro com Glória Pires e Tony Ramos, vai ganhar uma versão mexicana.
A produtora Total Entertainment assinou, quinta, um acordo com a produtora mexicana Mónica Lozano. O longa começa a ser rodado em 2014.
Por Amarildo
Caetano Veloso e Marisa Monte vão fazer show juntos no Circo Voador, no dia 20 de novembro, para arrecadar fundos para a campanha “Somos todos Amarildos”.
E na segunda agora, começa a circular na internet um vídeo com depoimentos de familiares do pedreiro, além de juristas que acompanham o caso.
Na terça, acontece o jantar-leilão na casa da empresária Paula Lavigne.
Bate e volta
O coleguinha Alberto Dines embarcou no voo 3912 da TAM, às 9h de ontem, em Congonhas, com destino ao Rio.
Já perto do Santos Dumont, o comandante avisou que, por causa da chuva, o pouso seria no Galeão-Tom Jobim.
Segue...
Dez minutos depois, o comandante voltou ao microfone para informar que “não havia condições de fazer o sequenciamento para descer no Galeão”, e retornou a São Paulo.
Parece que o avião não tinha combustível suficiente para entrar na fila e aguardar a sua vez para descer no Galeão.
Pela causa
Alcione fará o show da festa de abertura da Parada do Orgulho LGBT, dia 8 agora no Club Municipal da Tijuca.
A Marrom não cobrou cachê.
Dia infeliz
O deputado Chico Alencar diz que o dia 1º de outubro de 2013 ficará na história do Rio “como exemplo de autoritarismo e violência de Estado”.
Ele se refere aos confrontos entre a polícia e professores.
Martinho da Portela
Martinho da Vila, da escola de samba Vila Isabel, vai cantar hoje, veja que legal, na feijoada da Velha Guarda da Portela.
Foi assim. Acompanhada do seu conselheiro religioso, Marina procurou o então presidente para dizer que “Deus tinha aconselhado ela a sair do governo”.
Ato seguinte...
Lula pediu um tempo para responder. Depois procurou Marina e contou a novidade:
— Falei com Deus e ele pediu para você ficar.
Leilão com Dilma
Dilma decidiu vir ao Rio no dia 21 para acompanhar o leilão do supercampo de Libra, o gigante do pré-sal.
Bruxa solta
Na votação do plano da Educação, na Câmara do Rio, terça, o vereador Leonel Brizola Neto, como se sabe, subiu na mesa para discutir. Foi contido por segurança, caiu e passou mal.
O vereador Jorge Manaia, que é médico, foi socorrê-lo, mas, ao se abaixar para levantar o colega, deu um jeito na coluna. Está de licença.
Mãe e filho
Elba Ramalho vai trabalhar pela primeira vez com seu filho Luã, do casamento com Maurício Mattar.
Luã produzirá o próximo disco da mãe, que entra em estúdio em dezembro. Não é fofo?
TAP na Amazônia
A TAP anuncia hoje em Lisboa que vai incluir Manaus e Belém em suas rotas, a partir de junho do ano que vem. Com isso, a voadora portuguesa passará a ter saídas de 12 cidades brasileiras.
Do que o povo gosta
Entre a noite de quinta e a madrugada de ontem, a Rede Globo emplacou 17 trending topics, como são conhecidas na língua de Obama as frases mais publicadas pelo Twitter, em tempo real. Todas sobre os programas “The Voice” e “Amor e sexo”.
Quatro dos tópicos subiram para a versão internacional do microblog: “#amoresexo”, “Fernanda Lima” (a apresentadora do programa), “Otaviano” (Costa, o ator), que ficou peladão ao final do episódio, e “#thevoicebr”.
Menções...
Os dois programas tiveram 643.997 menções no Twitter, o que representa 6,1% das conversas naquele momento.
O caso confirma que, cada vez mais, as pessoas tuítam o que veem na TV.
Se eu fosse... ‘usted’
O filme “Se eu fosse você”, sucesso do cinema brasileiro com Glória Pires e Tony Ramos, vai ganhar uma versão mexicana.
A produtora Total Entertainment assinou, quinta, um acordo com a produtora mexicana Mónica Lozano. O longa começa a ser rodado em 2014.
Por Amarildo
Caetano Veloso e Marisa Monte vão fazer show juntos no Circo Voador, no dia 20 de novembro, para arrecadar fundos para a campanha “Somos todos Amarildos”.
E na segunda agora, começa a circular na internet um vídeo com depoimentos de familiares do pedreiro, além de juristas que acompanham o caso.
Na terça, acontece o jantar-leilão na casa da empresária Paula Lavigne.
Bate e volta
O coleguinha Alberto Dines embarcou no voo 3912 da TAM, às 9h de ontem, em Congonhas, com destino ao Rio.
Já perto do Santos Dumont, o comandante avisou que, por causa da chuva, o pouso seria no Galeão-Tom Jobim.
Segue...
Dez minutos depois, o comandante voltou ao microfone para informar que “não havia condições de fazer o sequenciamento para descer no Galeão”, e retornou a São Paulo.
Parece que o avião não tinha combustível suficiente para entrar na fila e aguardar a sua vez para descer no Galeão.
Pela causa
Alcione fará o show da festa de abertura da Parada do Orgulho LGBT, dia 8 agora no Club Municipal da Tijuca.
A Marrom não cobrou cachê.
Dia infeliz
O deputado Chico Alencar diz que o dia 1º de outubro de 2013 ficará na história do Rio “como exemplo de autoritarismo e violência de Estado”.
Ele se refere aos confrontos entre a polícia e professores.
Martinho da Portela
Martinho da Vila, da escola de samba Vila Isabel, vai cantar hoje, veja que legal, na feijoada da Velha Guarda da Portela.
Consenso progressivo - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 05/10
Mesmo os "sonháticos" mais refratários, a princípio, à ida de Marina Silva para outro partido já esgrimiam ontem argumentos favoráveis a que ela dispute a eleição presidencial. As principais razões são a "vontade popular" e a necessidade de reagir à suposta ação "truculenta" do governo e do PT para barrar a candidatura da ex-senadora. Aliados de Marina citavam até enquetes de sites como demonstração de que a maioria dos brasileiros quer que ela seja candidata mesmo sem a Rede.
Sinais... Na quarta-feira, véspera da rejeição da Rede pelo TSE, Miro Teixeira (PDT-RJ) fez um apelo para que Marina discutisse um plano B, para evitar que uma eventual mudança de rumos fosse feita no último minuto.
... trocados Ela recusou e seus aliados passaram a acreditar que ela não seria candidata por outra legenda.
Antigrampo Marina hibernou antes da entrevista de ontem à tarde. Diante do silêncio sepulcral de seus aliados, políticos brincavam que a agência norte-americana NSA terá dificuldade de espionar o governo caso a ex-senadora seja eleita.
Carona Se a ida dos marineiros para o PPS se concretizar, auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) darão peso especial à permanência da sigla no palanque do governador tucano. Acreditam que o partido se fortalecerá nacionalmente e nos Estados.
Novilíngua Petistas entusiastas da ideia de que Maurílio Biagi Filho, recém-filiado ao PR, seja o vice de Alexandre Padilha ao governo paulista o descrevem como um "usineiro progressista", pela ligação histórica com Antonio Palocci e por ter votado em Lula em 2002.
De improviso Na reta final do prazo de filiação partidária, o pagodeiro e ex-presidiário Belo mudou de ideia: de malas prontas para o DEM, aceitou convite e seu filiou ao PTB de Campos Machado.
Passou Após questionamentos jurídicos, o governo de São Paulo publicou nesta semana o resultado da licitação vencida pela Técnica Construções, subsidiária da Delta, de Fernando Cavendish. A empresa deve assinar contratos de R$ 54,6 milhões para realizar obras na SP-304.
Mobilidade 1 Em reunião em Brasília na segunda-feira, Dilma disse a Fernando Haddad (PT) que vai estudar a proposta de repassar aos municípios a Cide, tributo sobre a gasolina, para financiar a redução de tarifas de ônibus. A presidente se convenceu de que a medida não é inflacionária.
Mobilidade 2 Haddad decidiu que vai incluir em sua rotina a ida de ônibus para o trabalho algumas vezes por semana, apesar das restrições impostas pela assessoria militar do município.
Como assim? Advogados se queixam de que um dos inquéritos da Operação Miqueias, da Polícia Federal, foi enviado pela 8ª Vara Criminal de Brasília ao Ministério Público, e não ao Supremo Tribunal Federal, apesar de citar dois deputados, que têm prerrogativa de foro.
Na mira Por conta disso, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, que defende o doleiro Fayed Traboulsi, entrou ontem com uma reclamação no STF. Os parlamentares citados no inquérito são Fernando Torres (PSD-BA) e Taumaturgo Lima (PT-AC). Ninguém foi localizado nos gabinetes para comentar a investigação.
Embargo O ministro do STF Teori Zavascki não conseguiu se reeleger conselheiro do Grêmio no último fim de semana. Os votos em sua chapa não foram suficientes para superar uma "cláusula de barreira" da disputa.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Esse processo mostra que quem não está apto a coletar 500 mil assinaturas válidas para criar uma sigla não pode governar o Brasil."
DO VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA, ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre a derrota da presidenciável Marina Silva no TSE, que não concedeu registro à Rede.
contraponto
Haja maquiagem
Depois de varar a madrugada em reunião com seus apoiadores sobre seu futuro político, Marina Silva marcou para a tarde de ontem a entrevista em que, supostamente, anunciaria sua decisão.
O horário previsto inicialmente foi adiado e, ainda assim, a entrevista começou atrasada.
Quando a ex-senadora tomou lugar à mesa, cinegrafistas e fotógrafos se postaram imediatamente à sua frente.
--Câmeras tão perto é brincadeira! --reagiu Marina, rindo, para em seguida emendar:
--Depois da minha tentativa de disfarçar as olheiras...
Mesmo os "sonháticos" mais refratários, a princípio, à ida de Marina Silva para outro partido já esgrimiam ontem argumentos favoráveis a que ela dispute a eleição presidencial. As principais razões são a "vontade popular" e a necessidade de reagir à suposta ação "truculenta" do governo e do PT para barrar a candidatura da ex-senadora. Aliados de Marina citavam até enquetes de sites como demonstração de que a maioria dos brasileiros quer que ela seja candidata mesmo sem a Rede.
Sinais... Na quarta-feira, véspera da rejeição da Rede pelo TSE, Miro Teixeira (PDT-RJ) fez um apelo para que Marina discutisse um plano B, para evitar que uma eventual mudança de rumos fosse feita no último minuto.
... trocados Ela recusou e seus aliados passaram a acreditar que ela não seria candidata por outra legenda.
Antigrampo Marina hibernou antes da entrevista de ontem à tarde. Diante do silêncio sepulcral de seus aliados, políticos brincavam que a agência norte-americana NSA terá dificuldade de espionar o governo caso a ex-senadora seja eleita.
Carona Se a ida dos marineiros para o PPS se concretizar, auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB) darão peso especial à permanência da sigla no palanque do governador tucano. Acreditam que o partido se fortalecerá nacionalmente e nos Estados.
Novilíngua Petistas entusiastas da ideia de que Maurílio Biagi Filho, recém-filiado ao PR, seja o vice de Alexandre Padilha ao governo paulista o descrevem como um "usineiro progressista", pela ligação histórica com Antonio Palocci e por ter votado em Lula em 2002.
De improviso Na reta final do prazo de filiação partidária, o pagodeiro e ex-presidiário Belo mudou de ideia: de malas prontas para o DEM, aceitou convite e seu filiou ao PTB de Campos Machado.
Passou Após questionamentos jurídicos, o governo de São Paulo publicou nesta semana o resultado da licitação vencida pela Técnica Construções, subsidiária da Delta, de Fernando Cavendish. A empresa deve assinar contratos de R$ 54,6 milhões para realizar obras na SP-304.
Mobilidade 1 Em reunião em Brasília na segunda-feira, Dilma disse a Fernando Haddad (PT) que vai estudar a proposta de repassar aos municípios a Cide, tributo sobre a gasolina, para financiar a redução de tarifas de ônibus. A presidente se convenceu de que a medida não é inflacionária.
Mobilidade 2 Haddad decidiu que vai incluir em sua rotina a ida de ônibus para o trabalho algumas vezes por semana, apesar das restrições impostas pela assessoria militar do município.
Como assim? Advogados se queixam de que um dos inquéritos da Operação Miqueias, da Polícia Federal, foi enviado pela 8ª Vara Criminal de Brasília ao Ministério Público, e não ao Supremo Tribunal Federal, apesar de citar dois deputados, que têm prerrogativa de foro.
Na mira Por conta disso, o advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, que defende o doleiro Fayed Traboulsi, entrou ontem com uma reclamação no STF. Os parlamentares citados no inquérito são Fernando Torres (PSD-BA) e Taumaturgo Lima (PT-AC). Ninguém foi localizado nos gabinetes para comentar a investigação.
Embargo O ministro do STF Teori Zavascki não conseguiu se reeleger conselheiro do Grêmio no último fim de semana. Os votos em sua chapa não foram suficientes para superar uma "cláusula de barreira" da disputa.
com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN
tiroteio
"Esse processo mostra que quem não está apto a coletar 500 mil assinaturas válidas para criar uma sigla não pode governar o Brasil."
DO VICE-PRESIDENTE DA CÂMARA, ANDRÉ VARGAS (PT-PR), sobre a derrota da presidenciável Marina Silva no TSE, que não concedeu registro à Rede.
contraponto
Haja maquiagem
Depois de varar a madrugada em reunião com seus apoiadores sobre seu futuro político, Marina Silva marcou para a tarde de ontem a entrevista em que, supostamente, anunciaria sua decisão.
O horário previsto inicialmente foi adiado e, ainda assim, a entrevista começou atrasada.
Quando a ex-senadora tomou lugar à mesa, cinegrafistas e fotógrafos se postaram imediatamente à sua frente.
--Câmeras tão perto é brincadeira! --reagiu Marina, rindo, para em seguida emendar:
--Depois da minha tentativa de disfarçar as olheiras...
Com o PPS na cabeça - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 05/10
A candidata Marma Silva só vai anunciar seu destino hoje. Mas, ontem à noite, o ambiente no PPS era de euforia. Um dos conselheiros de Marina, Walter Feldman (ex-PSDB), fez sondagens com políticos do PPS. Feldman é a favor da candidatura, mas nega preferência partidária. Superado o constrangimento, Marina parece ganha para a ideia de que ela não tem o direito de frustrar seus eleitores.
Os dez pecados capitais
Aliados de Marina Silva não culpam a Justiça Eleitoral nem a lei pela decisão do TSE. E fazem uma lista dos 10 erros: 1. a formação da Rede começou muito tarde; 2. confiar demais na mobilização das redes sociais; 3. ineficiência dos 12 mil voluntários (75 assinaturas per capita); 4. Marina foi personalista; 5. falta de abertura para sugestões e críticas; 6. desprezo pelos problemas locais de políticos potencialmente aliados; 7. limitação às adesões de políticos tradicionais; 8. Marina fez pouco trabalho braçal em busca de assinaturas; 9. ela se "encastelou" em debates filosóficos; 10. filtrar por conta própria as assinaturas coletadas, ao invés de mandar todas.
"Acho que a eleição de 2014 perde muito sem a Marina. O Brasil perde. O eleitor vai perder. O debate vai perder. A democracia vai perder"
Jorge Viana
Senador (PT-AC)
Lição de moral
A presidente do TSE, Cármen Lúcia, fez uma contundente defesa do cumprimento das leis no julgamento da Rede. "Todos nós, cidadãos, temos que nos submeter à lei, porque senão, teremos o caos" sentenciou. Ela também fez questão de defender a Justiça Eleitoral, dizendo "é considerada uma das melhores do mundo".
Numerologia
A Rede, quando criada, terá o número 18. A preferência de Marina Silva era pelo 99. Mas o pedido foi recusado pelo TSE porque é usado para testes das urnas eletrônicas. A segunda opção era o 77, mas ficou para o Solidariedade.
Sirkis deixa o PV
Depois de tentar e não conseguir se reunir com a direção regional do PV o deputado Alfredo Sirkis encaminhou ontem, às 16h, sua desfiliação ao juiz da 16ª Zona Eleitoral do Rio. O seu futuro partidário será decidido hoje. Sirkis está trabalhando com duas possibilidades: o PPS e o PSB. Fundador do PV, ele sai porque o partido decidiu cassar a sua candidatura em 2014.
A volta de Golbery
O neto do general Golbery do Couto e Silva se filiou ao DEM e vai concorrer a deputado federal em 2014. Ele se chama Golbery do Couto e Silva Neto e tem 40 anos. Ele diz que vem para "retomar os rumos do progresso".
A explicação
A omissão do caso da deputada estadual Janira na rede de TV do PSOL, explica o deputado Chico Alencar (RJ), ocorreu porque o programa era de cinco minutos e em rede nacional. E porque é preciso esperar a investigação do Conselho de Ética.
A luta continua
O trabalho para conseguir as assinaturas para criar a Rede continua. Uma vez criado, mesmo sem candidatos, o partido terá direito a alguns segundos na TV, uns trocados do Fundo Partidário e o direito de se coligar nas eleições.
OS PRINCIPAIS CONSELHEIROS DE MARINA são os ex-assessores na pasta do Meio Ambiente e no Senado Basileo Margarido e Pedro Ivo Batista.
Os dez pecados capitais
Aliados de Marina Silva não culpam a Justiça Eleitoral nem a lei pela decisão do TSE. E fazem uma lista dos 10 erros: 1. a formação da Rede começou muito tarde; 2. confiar demais na mobilização das redes sociais; 3. ineficiência dos 12 mil voluntários (75 assinaturas per capita); 4. Marina foi personalista; 5. falta de abertura para sugestões e críticas; 6. desprezo pelos problemas locais de políticos potencialmente aliados; 7. limitação às adesões de políticos tradicionais; 8. Marina fez pouco trabalho braçal em busca de assinaturas; 9. ela se "encastelou" em debates filosóficos; 10. filtrar por conta própria as assinaturas coletadas, ao invés de mandar todas.
"Acho que a eleição de 2014 perde muito sem a Marina. O Brasil perde. O eleitor vai perder. O debate vai perder. A democracia vai perder"
Jorge Viana
Senador (PT-AC)
Lição de moral
A presidente do TSE, Cármen Lúcia, fez uma contundente defesa do cumprimento das leis no julgamento da Rede. "Todos nós, cidadãos, temos que nos submeter à lei, porque senão, teremos o caos" sentenciou. Ela também fez questão de defender a Justiça Eleitoral, dizendo "é considerada uma das melhores do mundo".
Numerologia
A Rede, quando criada, terá o número 18. A preferência de Marina Silva era pelo 99. Mas o pedido foi recusado pelo TSE porque é usado para testes das urnas eletrônicas. A segunda opção era o 77, mas ficou para o Solidariedade.
Sirkis deixa o PV
Depois de tentar e não conseguir se reunir com a direção regional do PV o deputado Alfredo Sirkis encaminhou ontem, às 16h, sua desfiliação ao juiz da 16ª Zona Eleitoral do Rio. O seu futuro partidário será decidido hoje. Sirkis está trabalhando com duas possibilidades: o PPS e o PSB. Fundador do PV, ele sai porque o partido decidiu cassar a sua candidatura em 2014.
A volta de Golbery
O neto do general Golbery do Couto e Silva se filiou ao DEM e vai concorrer a deputado federal em 2014. Ele se chama Golbery do Couto e Silva Neto e tem 40 anos. Ele diz que vem para "retomar os rumos do progresso".
A explicação
A omissão do caso da deputada estadual Janira na rede de TV do PSOL, explica o deputado Chico Alencar (RJ), ocorreu porque o programa era de cinco minutos e em rede nacional. E porque é preciso esperar a investigação do Conselho de Ética.
A luta continua
O trabalho para conseguir as assinaturas para criar a Rede continua. Uma vez criado, mesmo sem candidatos, o partido terá direito a alguns segundos na TV, uns trocados do Fundo Partidário e o direito de se coligar nas eleições.
OS PRINCIPAIS CONSELHEIROS DE MARINA são os ex-assessores na pasta do Meio Ambiente e no Senado Basileo Margarido e Pedro Ivo Batista.
DOMINGO NO PARQUE - MONICA BERGAMO
FOLHA DE SP - 05/10
A visitação ao Parque Nacional do Iguaçu (PR), que abriga as cataratas, passou de 764 mil para 1,5 milhão de turistas por ano na última década. No Parque Nacional da Tijuca, no Rio, o crescimento foi de 981 mil visitantes, em 2008, para 1,86 milhão no ano passado. Já no Parque Nacional Marinho Fernando de Noronha, com entrada limitada pelo Ibama, o aumento foi de 51.463 para 67.737 turistas, entre 2003 e 2012.
NO PARQUE 2
"O potencial de crescimento é grande, mas é preciso investimento em estrutura e divulgação", diz Celso Florêncio, diretor da Cataratas S/A, empresa que tem a concessão para administrar o receptivo nas três unidades de conservação, em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
FORA FELICIANO
O GADvS (Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual) pediu ao Supremo Tribunal Federal urgência no julgamento de ação que anula a eleição do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos. A ONG de combate à homofobia fez solicitação para atuar no caso como "amicus curiae" (amigo da corte), dando subsídios à decisão.
FORA FELICIANO 2
O processo, movido pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), está com o ministro Luiz Fux desde março. "Pedimos a nulidade da eleição porque ocorreu a portas fechadas, o que contraria o regimento", diz Paulo Iotti, do GADvS.
BIBLIOTECA
Em sua visita ao Planalto, Jeferson Monteiro, autor do perfil Dilma Bolada, presenteou Dilma Rousseff com o livro "Não Conta Lá em Casa", sobre viagens a lugares inusitados. Na dedicatória, o autor, André Fran, escreveu: "Que essas histórias inspirem a presidenta a seguir lutando por um Brasil melhor!".
PELO MUNDO
Wagner Moura foi eleito por um júri americano o melhor ator no Los Angeles Brazilian Film Festival. O prêmio é pelo papel em "A Busca", da O2, escolhido melhor filme.
SANTA AJUDA
O bispo Robson Rodovalho prepara livro sobre saúde, beleza e longevidade, em parceria com o geriatra José Maria de Araújo. "É fácil saber o que é bom para a saúde e para a vida. Difícil é saber viver sem exageros", diz o presidente da igreja Sara Nossa Terra.
EFEITO SANFONA
Após temporada de desfiles em Paris e Milão, onde imperou o estilo esquálido, as tops que vão fazer o casting da Victoria's Secret começam a "operação engorda". Barbara Fialho, por exemplo, vai suspender a dieta para ganhar dois quilos e chegar aos 59 kg. A mineira quer exibir curvas no desfile de lingerie em novembro.
DOCE MATURIDADE
Aos 40 anos, Reynaldo Gianecchini diz que passou a lidar melhor com sua sexualidade. "Com a maturidade aprendi a relaxar e a qualidade do sexo ficou muito melhor", afirma o ator, em entrevista à "Lifestyle Magazine Brasil" deste mês.
Durante a sessão de fotos, Giane, que está em cartaz em São Paulo até dezembro com o espetáculo "A Toca do Coelho", dançou ao som de Daft Punk, jogou doces para o alto e comeu kiwis.
Após o tratamento para se livrar de um linfoma, o ator diz que a experiência com o câncer o fez pensar na possibilidade de ter filhos.
Gianecchini conta que mudou sua rotina. "Tento evitar o estresse, mas muitas vezes não dá. Só que não deixo durar muito." Além de alimentação regrada, pratica esportes. "Se antes eu já tinha cuidado com a saúde, agora, então, chego até a ser um pouco neurótico com o assunto."
TIJOLO E CIMENTO
O diretor Caco Ciocler e os atores Chris Couto e Daniel Infantini receberam convidados na pré-estreia da peça "No Exit - Entre Quatro Paredes" anteontem no Sesc Santo Amaro. A apresentadora e atriz Luisa Micheletti estava na plateia da releitura do texto do francês Jean-Paul Sartre.
HORA MARCADA
O alemão Joerg Hofmann, presidente da Audi, com a mulher, Stefanie, e os designers de tecidos Attilio Baschera e Gregorio Kramer estiveram, anteontem, no lançamento de relógio em comemoração aos 60 anos da Osesp, na Sala São Paulo. O evento também contou com um concerto da orquestra.
CURTO-CIRCUITO
O espetáculo "O Homem Que Fala", com direção de Celso Frateschi e atores do elenco dos Doutores da Alegria, estreia hoje, às 21h, no Ágora Teatro, na Bela Vista. 14 anos.
O Marcos Paiva Trio apresenta repertório de Pixinguinha, hoje, às 22h30, na Casa de Francisca. 18 anos.
O Palmeiras, antigo Palestra Itália, comemora hoje 71 anos da mudança de nome, com rodízio de pizza para convidados e sócios.
A Carbono Galeria inaugura hoje a exposição "Julio Le Parc, Multiples - 1960 ~ 2013", com obras do pioneiro da arte cinética. Às 11h, em Pinheiros.
NO PARQUE 2
"O potencial de crescimento é grande, mas é preciso investimento em estrutura e divulgação", diz Celso Florêncio, diretor da Cataratas S/A, empresa que tem a concessão para administrar o receptivo nas três unidades de conservação, em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
FORA FELICIANO
O GADvS (Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual) pediu ao Supremo Tribunal Federal urgência no julgamento de ação que anula a eleição do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) para a presidência da Comissão de Direitos Humanos. A ONG de combate à homofobia fez solicitação para atuar no caso como "amicus curiae" (amigo da corte), dando subsídios à decisão.
FORA FELICIANO 2
O processo, movido pelo deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), está com o ministro Luiz Fux desde março. "Pedimos a nulidade da eleição porque ocorreu a portas fechadas, o que contraria o regimento", diz Paulo Iotti, do GADvS.
BIBLIOTECA
Em sua visita ao Planalto, Jeferson Monteiro, autor do perfil Dilma Bolada, presenteou Dilma Rousseff com o livro "Não Conta Lá em Casa", sobre viagens a lugares inusitados. Na dedicatória, o autor, André Fran, escreveu: "Que essas histórias inspirem a presidenta a seguir lutando por um Brasil melhor!".
PELO MUNDO
Wagner Moura foi eleito por um júri americano o melhor ator no Los Angeles Brazilian Film Festival. O prêmio é pelo papel em "A Busca", da O2, escolhido melhor filme.
SANTA AJUDA
O bispo Robson Rodovalho prepara livro sobre saúde, beleza e longevidade, em parceria com o geriatra José Maria de Araújo. "É fácil saber o que é bom para a saúde e para a vida. Difícil é saber viver sem exageros", diz o presidente da igreja Sara Nossa Terra.
EFEITO SANFONA
Após temporada de desfiles em Paris e Milão, onde imperou o estilo esquálido, as tops que vão fazer o casting da Victoria's Secret começam a "operação engorda". Barbara Fialho, por exemplo, vai suspender a dieta para ganhar dois quilos e chegar aos 59 kg. A mineira quer exibir curvas no desfile de lingerie em novembro.
DOCE MATURIDADE
Aos 40 anos, Reynaldo Gianecchini diz que passou a lidar melhor com sua sexualidade. "Com a maturidade aprendi a relaxar e a qualidade do sexo ficou muito melhor", afirma o ator, em entrevista à "Lifestyle Magazine Brasil" deste mês.
Durante a sessão de fotos, Giane, que está em cartaz em São Paulo até dezembro com o espetáculo "A Toca do Coelho", dançou ao som de Daft Punk, jogou doces para o alto e comeu kiwis.
Após o tratamento para se livrar de um linfoma, o ator diz que a experiência com o câncer o fez pensar na possibilidade de ter filhos.
Gianecchini conta que mudou sua rotina. "Tento evitar o estresse, mas muitas vezes não dá. Só que não deixo durar muito." Além de alimentação regrada, pratica esportes. "Se antes eu já tinha cuidado com a saúde, agora, então, chego até a ser um pouco neurótico com o assunto."
TIJOLO E CIMENTO
O diretor Caco Ciocler e os atores Chris Couto e Daniel Infantini receberam convidados na pré-estreia da peça "No Exit - Entre Quatro Paredes" anteontem no Sesc Santo Amaro. A apresentadora e atriz Luisa Micheletti estava na plateia da releitura do texto do francês Jean-Paul Sartre.
HORA MARCADA
O alemão Joerg Hofmann, presidente da Audi, com a mulher, Stefanie, e os designers de tecidos Attilio Baschera e Gregorio Kramer estiveram, anteontem, no lançamento de relógio em comemoração aos 60 anos da Osesp, na Sala São Paulo. O evento também contou com um concerto da orquestra.
CURTO-CIRCUITO
O espetáculo "O Homem Que Fala", com direção de Celso Frateschi e atores do elenco dos Doutores da Alegria, estreia hoje, às 21h, no Ágora Teatro, na Bela Vista. 14 anos.
O Marcos Paiva Trio apresenta repertório de Pixinguinha, hoje, às 22h30, na Casa de Francisca. 18 anos.
O Palmeiras, antigo Palestra Itália, comemora hoje 71 anos da mudança de nome, com rodízio de pizza para convidados e sócios.
A Carbono Galeria inaugura hoje a exposição "Julio Le Parc, Multiples - 1960 ~ 2013", com obras do pioneiro da arte cinética. Às 11h, em Pinheiros.
Que vergonha! - GILLES LAPOUGE
O Estado de S.Paulo - 04/10
A pequena ilha italiana de Lampedusa fica a meio caminho entre a Europa e a África. Não é uma posição invejável. Num momento em que a miséria, tormentas políticas e religiosas e lutas tribais sacodem o Oriente Médio, Lampedusa transformou-se na porta de entrada da Europa para os desesperados. Mas essa porta do paraíso europeu por vezes ganha aspecto de cemitério.
Na quinta-feira, chegou a 600 metros de Lampedusa um barco de pesca transportando insanamente 500 africanos da Eritreia, da Etiópia, da Somália. Incêndio a bordo. Naufrágio. Pânico. Estima-se que o número de mortos chegue 300 e há 111 identificados.
"É uma vergonha" declarou o papa Francisco, que já havia escolhido Lampedusa em julho para sua primeira saída de Roma. Ali, ele denunciara "a globalização da indiferença". A pequena ilha cujas praias recebem a cada dia 300 imigrantes semimortos, faz seu dever. Ela mereceria um Nobel da Paz. O primeiro culpado é a Europa. Essa União Europeia que enche a boca com as palavras "solidariedade", "comunidade" e "fraternidade", deixa um de seus membros tragicamente só.
A Europa olha para outro lado, assim como não olhava para a Espanha, alguns anos atrás, quando os africanos a procuravam como porta de entrada da Europa via Ilhas Canárias ou Gibraltar. Ademais, a União Europeia não traz grande ajuda à Ilha de Malta (desde 2004, parte da UE) que, com seus 400 mil habitantes, viu desembarcarem em suas costas, depois do drama da Síria, 12 mil solicitantes de asilo.
O que poderia fazer a Europa para ficar à altura de sua história, de seus messianismos, de sua moral? Ela deveria primeiramente ajudar a Itália a evitar tragédias como a de quinta-feira, caçando os "infames passadores" que cobram fortunas dos candidatos a imigrantes e os espremem em "banheiras" podres e fadadas ao naufrágio. Em segundo lugar, ajudar a pequena cidade de Lampedusa a acolher e curar esses carregamentos de mortos-vivos. A Europa deveria também, como fez brilhantemente a Espanha outrora, criar programas de cooperação com alguns países da África (no caso da Espanha, tratava-se de Mauritânia, Mali e Senegal) para fixar no lugar as populações em perigo, e dissuadi-las de partir.
Ações como essas são pesadas, dispendiosas, complexas e inextricáveis, e muitas vezes fadadas ao fracasso. Bruxelas deveria, ao menos, esboçar soluções, distribuir ajudas e conselhos, mostrar um pouco de calor humano, o que ela só fez até aqui da boca para fora./ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
A pequena ilha italiana de Lampedusa fica a meio caminho entre a Europa e a África. Não é uma posição invejável. Num momento em que a miséria, tormentas políticas e religiosas e lutas tribais sacodem o Oriente Médio, Lampedusa transformou-se na porta de entrada da Europa para os desesperados. Mas essa porta do paraíso europeu por vezes ganha aspecto de cemitério.
Na quinta-feira, chegou a 600 metros de Lampedusa um barco de pesca transportando insanamente 500 africanos da Eritreia, da Etiópia, da Somália. Incêndio a bordo. Naufrágio. Pânico. Estima-se que o número de mortos chegue 300 e há 111 identificados.
"É uma vergonha" declarou o papa Francisco, que já havia escolhido Lampedusa em julho para sua primeira saída de Roma. Ali, ele denunciara "a globalização da indiferença". A pequena ilha cujas praias recebem a cada dia 300 imigrantes semimortos, faz seu dever. Ela mereceria um Nobel da Paz. O primeiro culpado é a Europa. Essa União Europeia que enche a boca com as palavras "solidariedade", "comunidade" e "fraternidade", deixa um de seus membros tragicamente só.
A Europa olha para outro lado, assim como não olhava para a Espanha, alguns anos atrás, quando os africanos a procuravam como porta de entrada da Europa via Ilhas Canárias ou Gibraltar. Ademais, a União Europeia não traz grande ajuda à Ilha de Malta (desde 2004, parte da UE) que, com seus 400 mil habitantes, viu desembarcarem em suas costas, depois do drama da Síria, 12 mil solicitantes de asilo.
O que poderia fazer a Europa para ficar à altura de sua história, de seus messianismos, de sua moral? Ela deveria primeiramente ajudar a Itália a evitar tragédias como a de quinta-feira, caçando os "infames passadores" que cobram fortunas dos candidatos a imigrantes e os espremem em "banheiras" podres e fadadas ao naufrágio. Em segundo lugar, ajudar a pequena cidade de Lampedusa a acolher e curar esses carregamentos de mortos-vivos. A Europa deveria também, como fez brilhantemente a Espanha outrora, criar programas de cooperação com alguns países da África (no caso da Espanha, tratava-se de Mauritânia, Mali e Senegal) para fixar no lugar as populações em perigo, e dissuadi-las de partir.
Ações como essas são pesadas, dispendiosas, complexas e inextricáveis, e muitas vezes fadadas ao fracasso. Bruxelas deveria, ao menos, esboçar soluções, distribuir ajudas e conselhos, mostrar um pouco de calor humano, o que ela só fez até aqui da boca para fora./ TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK
Um país de projetos-piloto - MARCOS CARAMURU DE PAIVA
FOLHA DE SP - 05/10
Na linha da experimentação, a China inaugura uma zona de livre comércio que depois poderá ser replicada no país
A China de hoje é um país de grandes projetos e não de grandes políticas. Os chineses são maus formuladores de normas, bons executores de obras.
Além disso, as mudanças de peso envolvem experiências-piloto. Testam-se propostas, para depois torná-las projetos nacionais.
É mais ou menos como se no Brasil, antes de aprovarmos um novo quadro regulatório para a mineração, por exemplo, tema hoje controverso, pudéssemos levar a cabo experiências inovadoras, num molde não previsto em lei.
Obviamente isso não é possível entre nós, nem em qualquer outro país onde o marco legal antecede e limita as ações do governo e do setor privado.
Mas na China, é sabido, a lei vale menos que a boa prática. Isso ajuda a explicar porque transformar a realidade chinesa parece ser relativamente fácil.
Na linha das experiências-piloto, o governo chinês inaugurou, no último domingo, uma nova ZLC (zona de livre comércio) em Pudong, um distrito de Xangai.
Nela, diferentemente do resto da China continental, não haverá limites às operações cambiais e à entrada e saída de moeda, a tributação será própria, os bancos e seguradoras estrangeiros ingressarão com baixas exigências, poderão se formar joint ventures em diversos setores onde hoje elas são limitadas, e haverá liberdade para experiências inéditas, como, por exemplo, a abertura de bancos formados com recursos de instituições estrangeiras e capitais privados chineses.
Ao todo, foram anunciadas novas janelas de investimento em 18 áreas e uma lista de investimentos que não serão admitidos na ZLC.
Mas são tantas as decisões ainda incompletas que se tem a impressão de que a experiência terá uma dinâmica cambiante.
Ao longo do tempo, definir-se-á o que de diferente será admitido. Fala-se, inclusive, que poderão vir a ser eliminados o firewall existente para certos tipos de comunicação eletrônica e as restrições a redes sociais como o Facebook e o Twitter.
O governo chinês diz que o que acontecerá na nova ZLC será replicado, e a multiplicação de experiências transformará o país. Como ocorreu nos anos 80.
Os analistas e o mercado não esperavam exatamente uma ZLC. Tinham a expectativa de ver aprovadas mudanças substanciais em certas políticas.
É possível, no entanto, que a escolha de realizar uma experiência-piloto em áreas em que a China exibe baixa abertura tenha sido o consenso possível entre reformistas e conservadores no partido, para por em prática algumas transformações que o país requer, mas que são difíceis.
Conclusão: para entender a China que virá, será necessário acompanhar as experiências na nova ZLC.
Em especial, o Brasil deve olhar as oportunidades que poderão se abrir em setores que têm encontrado barreiras no mercado chinês, bem como as novas portas para instituições financeiras.
Nossos bancos, em geral, estão afastados da realidade chinesa. Contudo, cedo ou tarde, terão que se aproximar mais dela.
Na linha da experimentação, a China inaugura uma zona de livre comércio que depois poderá ser replicada no país
A China de hoje é um país de grandes projetos e não de grandes políticas. Os chineses são maus formuladores de normas, bons executores de obras.
Além disso, as mudanças de peso envolvem experiências-piloto. Testam-se propostas, para depois torná-las projetos nacionais.
É mais ou menos como se no Brasil, antes de aprovarmos um novo quadro regulatório para a mineração, por exemplo, tema hoje controverso, pudéssemos levar a cabo experiências inovadoras, num molde não previsto em lei.
Obviamente isso não é possível entre nós, nem em qualquer outro país onde o marco legal antecede e limita as ações do governo e do setor privado.
Mas na China, é sabido, a lei vale menos que a boa prática. Isso ajuda a explicar porque transformar a realidade chinesa parece ser relativamente fácil.
Na linha das experiências-piloto, o governo chinês inaugurou, no último domingo, uma nova ZLC (zona de livre comércio) em Pudong, um distrito de Xangai.
Nela, diferentemente do resto da China continental, não haverá limites às operações cambiais e à entrada e saída de moeda, a tributação será própria, os bancos e seguradoras estrangeiros ingressarão com baixas exigências, poderão se formar joint ventures em diversos setores onde hoje elas são limitadas, e haverá liberdade para experiências inéditas, como, por exemplo, a abertura de bancos formados com recursos de instituições estrangeiras e capitais privados chineses.
Ao todo, foram anunciadas novas janelas de investimento em 18 áreas e uma lista de investimentos que não serão admitidos na ZLC.
Mas são tantas as decisões ainda incompletas que se tem a impressão de que a experiência terá uma dinâmica cambiante.
Ao longo do tempo, definir-se-á o que de diferente será admitido. Fala-se, inclusive, que poderão vir a ser eliminados o firewall existente para certos tipos de comunicação eletrônica e as restrições a redes sociais como o Facebook e o Twitter.
O governo chinês diz que o que acontecerá na nova ZLC será replicado, e a multiplicação de experiências transformará o país. Como ocorreu nos anos 80.
Os analistas e o mercado não esperavam exatamente uma ZLC. Tinham a expectativa de ver aprovadas mudanças substanciais em certas políticas.
É possível, no entanto, que a escolha de realizar uma experiência-piloto em áreas em que a China exibe baixa abertura tenha sido o consenso possível entre reformistas e conservadores no partido, para por em prática algumas transformações que o país requer, mas que são difíceis.
Conclusão: para entender a China que virá, será necessário acompanhar as experiências na nova ZLC.
Em especial, o Brasil deve olhar as oportunidades que poderão se abrir em setores que têm encontrado barreiras no mercado chinês, bem como as novas portas para instituições financeiras.
Nossos bancos, em geral, estão afastados da realidade chinesa. Contudo, cedo ou tarde, terão que se aproximar mais dela.
Cazaquistão à parte, o inferno são os outros - ROLF KUNTZ
O Estado de S.Paulo - 05/10
O Corinthians e o governo brasileiro puderam, enfim, comemorar pelo menos uma vitória na primeira semana de outubro. O Itamaraty conseguiu a adesão da Chancelaria cazaque à campanha pela regulamentação da espionagem. Em visita a Brasília, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Cazaquistão, Erlan Idrissov, foi persuadido a assinar uma declaração contra "as práticas de interceptação ilegal de comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros de governos por governos e empresas estrangeiras". Ele se dispôs também a cooperar em foros multilaterais para o "desenvolvimento de governança internacional apropriada para a segurança cibernética". Esse compromisso aparece no 18.º dos 21 itens da declaração conjunta divulgada na quarta-feira, várias horas antes dos 2 a 0 do Timão contra o Bahia. Na maior parte da semana, no entanto, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe tiveram maior dificuldade nos esforços para conquistar confiança em seus planos e realizações.
Excetuado o Cazaquistão, é preciso dar razão a Sartre. O inferno são os outros, a começar, nos últimos dias, pela agência Moody's de classificação de riscos. Mas, pensando bem, nem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com seus péssimos indicadores de desempenho econômico, tem sido muito cooperativo. Na Argentina, os Kirchners tiveram problema semelhante com o Indec, mas cuidaram do assunto à sua maneira, recauchutando o sistema público de estatísticas e proibindo a divulgação de números menos favoráveis por instituições privadas.
No Brasil, é bem mais simples a vida dos analistas econômicos dos mercados, da imprensa e das agências de classificação de riscos. Os números oficiais são em geral confiáveis e até as lambanças, como a maquiagem das contas públicas, são identificáveis sem muita dor de cabeça. No caso da inflação, também é fácil apontar as tentativas de administrar os índices - práticas sem mistério, como controlar os preços dos combustíveis e reduzir politicamente as tarifas de eletricidade e de transporte público. No fim, os truques e problemas acabam convergindo. O Tesouro foi autorizado a emitir mais títulos da dívida, no valor de R$ 2,3 bilhões, para cobrir os custos do voluntarismo na área da energia elétrica. É mais um acréscimo a um endividamento de escassa utilidade para o fortalecimento e a expansão da economia, como a maior parte do dinheiro transferido pelo Tesouro aos bancos federais desde o começo da crise - estimado em torno de R$ 400 bilhões.
Bem conhecidos, todos esses dados afetam a credibilidade do governo e prejudicam as apostas na economia nacional. Essas e outras informações foram mencionadas, nesta semana, quando a Moody's anunciou a mudança da perspectiva da dívida soberana de positiva para estável - na prática, uma espécie de advertência, embora o vice-presidente da agência, Mauro Leos, tivesse rejeitado essa interpretação. Sem melhora significativa, no entanto, será difícil evitar um rebaixamento, admitiu o economista.
As justificativas divulgadas pela Moody's são um bom resumo das avaliações correntes fora do governo, sustentadas por muitos analistas e classificadas pela presidente Dilma Rousseff na categoria do "pessimismo adversativo". A economia cresce pouco, o governo usa a contabilidade criativa, o investimento é insuficiente, as contas externas pioram e a dívida bruta é muito maior que a encontrada em outras economias emergentes: cerca de 60% do produto interno bruto (PIB) no Brasil, enquanto permanece em torno de 35% em países de desenvolvimento semelhante.
No mesmo dia, em Washington, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, apresentou um panorama da transição da crise para o pós-crise em todos os grandes grupos de economias. Sem mencionar muitos detalhes, chamou a atenção para as pressões inflacionárias no Brasil, na Indonésia e na Rússia e mencionou o pouco espaço para estímulos fiscais em muitos emergentes. Além disso, apontou o Brasil e a Índia como países necessitados de mais investimentos em infraestrutura e maior abertura comercial.
Não adiantaria, diante do noticiário da semana, denunciar essa fala como mais uma prova da perversidade do FMI. Os jornais continuam mostrando as dificuldades e os tropeços da política de infraestrutura, o IBGE informou crescimento nulo da produção industrial em agosto, depois de uma queda de 2,4% em julho, e o Banco Central (BC) cortou de US$ 7 bilhões para US$ 2 bilhões o superávit comercial projetado para o ano. Além disso, as novas projeções indicaram crescimento anual do PIB de apenas 2,5% até o segundo trimestre de 2014 e inflação de 5,5% até o terceiro de 2015. Mas, segundo disse em Londres o presidente do BC, Alexandre Tombini, a inflação está controlada e converge para a meta, 4,5%. Há algum prazo para essa convergência?
Não se pode cobrar do PT, dizia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a correção de problemas acumulados desde o Descobrimento. Em outras ocasiões, sua referência foi a História da República. Gente do governo tem citado, recentemente, a escassez de investimentos em infraestrutura nos últimos 40 anos. Pessoas mais moderadas mencionam três décadas.
Mas o partido está no poder há 11 anos e seu balanço de realizações é abaixo de pífio, quando se trata de reformas complicadas (a tributária, por exemplo), de qualidade da gestão e de medidas para tornar a economia mais eficiente e com maior potencial de crescimento.
Fidelíssima a seu criador, a presidente Dilma Rousseff manteve as piores práticas do período Lula, incluídos o loteamento e o aparelhamento da administração federal e as intervenções voluntaristas. O rebaixamento da classificação da dívida de longo prazo da Petrobrás, outra decisão da Moody's, é uma das consequências. Ninguém, na equipe do Planalto, havia notado esse risco?
O Corinthians e o governo brasileiro puderam, enfim, comemorar pelo menos uma vitória na primeira semana de outubro. O Itamaraty conseguiu a adesão da Chancelaria cazaque à campanha pela regulamentação da espionagem. Em visita a Brasília, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Cazaquistão, Erlan Idrissov, foi persuadido a assinar uma declaração contra "as práticas de interceptação ilegal de comunicações e dados de cidadãos, empresas e membros de governos por governos e empresas estrangeiras". Ele se dispôs também a cooperar em foros multilaterais para o "desenvolvimento de governança internacional apropriada para a segurança cibernética". Esse compromisso aparece no 18.º dos 21 itens da declaração conjunta divulgada na quarta-feira, várias horas antes dos 2 a 0 do Timão contra o Bahia. Na maior parte da semana, no entanto, a presidente Dilma Rousseff e sua equipe tiveram maior dificuldade nos esforços para conquistar confiança em seus planos e realizações.
Excetuado o Cazaquistão, é preciso dar razão a Sartre. O inferno são os outros, a começar, nos últimos dias, pela agência Moody's de classificação de riscos. Mas, pensando bem, nem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com seus péssimos indicadores de desempenho econômico, tem sido muito cooperativo. Na Argentina, os Kirchners tiveram problema semelhante com o Indec, mas cuidaram do assunto à sua maneira, recauchutando o sistema público de estatísticas e proibindo a divulgação de números menos favoráveis por instituições privadas.
No Brasil, é bem mais simples a vida dos analistas econômicos dos mercados, da imprensa e das agências de classificação de riscos. Os números oficiais são em geral confiáveis e até as lambanças, como a maquiagem das contas públicas, são identificáveis sem muita dor de cabeça. No caso da inflação, também é fácil apontar as tentativas de administrar os índices - práticas sem mistério, como controlar os preços dos combustíveis e reduzir politicamente as tarifas de eletricidade e de transporte público. No fim, os truques e problemas acabam convergindo. O Tesouro foi autorizado a emitir mais títulos da dívida, no valor de R$ 2,3 bilhões, para cobrir os custos do voluntarismo na área da energia elétrica. É mais um acréscimo a um endividamento de escassa utilidade para o fortalecimento e a expansão da economia, como a maior parte do dinheiro transferido pelo Tesouro aos bancos federais desde o começo da crise - estimado em torno de R$ 400 bilhões.
Bem conhecidos, todos esses dados afetam a credibilidade do governo e prejudicam as apostas na economia nacional. Essas e outras informações foram mencionadas, nesta semana, quando a Moody's anunciou a mudança da perspectiva da dívida soberana de positiva para estável - na prática, uma espécie de advertência, embora o vice-presidente da agência, Mauro Leos, tivesse rejeitado essa interpretação. Sem melhora significativa, no entanto, será difícil evitar um rebaixamento, admitiu o economista.
As justificativas divulgadas pela Moody's são um bom resumo das avaliações correntes fora do governo, sustentadas por muitos analistas e classificadas pela presidente Dilma Rousseff na categoria do "pessimismo adversativo". A economia cresce pouco, o governo usa a contabilidade criativa, o investimento é insuficiente, as contas externas pioram e a dívida bruta é muito maior que a encontrada em outras economias emergentes: cerca de 60% do produto interno bruto (PIB) no Brasil, enquanto permanece em torno de 35% em países de desenvolvimento semelhante.
No mesmo dia, em Washington, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, apresentou um panorama da transição da crise para o pós-crise em todos os grandes grupos de economias. Sem mencionar muitos detalhes, chamou a atenção para as pressões inflacionárias no Brasil, na Indonésia e na Rússia e mencionou o pouco espaço para estímulos fiscais em muitos emergentes. Além disso, apontou o Brasil e a Índia como países necessitados de mais investimentos em infraestrutura e maior abertura comercial.
Não adiantaria, diante do noticiário da semana, denunciar essa fala como mais uma prova da perversidade do FMI. Os jornais continuam mostrando as dificuldades e os tropeços da política de infraestrutura, o IBGE informou crescimento nulo da produção industrial em agosto, depois de uma queda de 2,4% em julho, e o Banco Central (BC) cortou de US$ 7 bilhões para US$ 2 bilhões o superávit comercial projetado para o ano. Além disso, as novas projeções indicaram crescimento anual do PIB de apenas 2,5% até o segundo trimestre de 2014 e inflação de 5,5% até o terceiro de 2015. Mas, segundo disse em Londres o presidente do BC, Alexandre Tombini, a inflação está controlada e converge para a meta, 4,5%. Há algum prazo para essa convergência?
Não se pode cobrar do PT, dizia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a correção de problemas acumulados desde o Descobrimento. Em outras ocasiões, sua referência foi a História da República. Gente do governo tem citado, recentemente, a escassez de investimentos em infraestrutura nos últimos 40 anos. Pessoas mais moderadas mencionam três décadas.
Mas o partido está no poder há 11 anos e seu balanço de realizações é abaixo de pífio, quando se trata de reformas complicadas (a tributária, por exemplo), de qualidade da gestão e de medidas para tornar a economia mais eficiente e com maior potencial de crescimento.
Fidelíssima a seu criador, a presidente Dilma Rousseff manteve as piores práticas do período Lula, incluídos o loteamento e o aparelhamento da administração federal e as intervenções voluntaristas. O rebaixamento da classificação da dívida de longo prazo da Petrobrás, outra decisão da Moody's, é uma das consequências. Ninguém, na equipe do Planalto, havia notado esse risco?
Doutrinação e demonização - KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 05/10
Nas escolas, produtor rural é explorador do trabalhador que produz para exportar e deixa povo passar fome
O marxismo e suas variações constituem as principais ferramentas conceituais que os alunos brasileiros aprendem nas escolas de todo o país. O domínio cultural é tão expressivo que mesmo os professores não identificados com essa corrente ideológica --e até aqueles que lhe são contrários-- acabam, sem perceber, utilizando interpretações tributárias dela.
Quando o ferramental marxista não dá conta de uma questão, quando dados questionam ou refutam a tese geral, a questão e os dados simplesmente desaparecem. E é por isso que muitos autores são desconhecidos no Brasil.
Nada pode romper a harmoniosa narrativa maniqueísta. Assim, a velha luta do bem contra o mal ganha novas roupagens: o país explorador e o explorado, o patrão e o trabalhador, o rico e o pobre, o agronegócio e a agricultura familiar.
Nessa narrativa, o produtor rural é apresentado fundamentalmente como um latifundiário que explora os trabalhadores --em alguns casos em regime de escravidão-- e que produz alimentos para exportação deixando o povo passar fome.
O pequeno agricultor, chamado de campesino quando visto com bons olhos, é apenas uma vítima em potencial, dizem, pois logo venderá sua propriedade para o cultivo da monocultura.
Com a causa ambiental absorvida pelo marxismo cultural, o inimigo do presente também inviabiliza o futuro. O agricultor é a versão rural da elite urbana.
Essa imagem não aparece de modo claro, direto, mas emerge do emaranhado de afirmações, insinuações e lacunas que devem ser preenchidas pelos alunos.
Se o estudante procurar "MST" no Brasil Escola, um dos mais famosos sites de conteúdo educacional, ele encontrará o seguinte trecho em um artigo: "E o que dizer da bancada ruralista no Congresso, lutando com unhas e dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento antiético e imoral, vindo de que vem?".
O site Brasil Escola figura entre os 300 mais acessados no Brasil, de acordo com a Alexa (serviço de medição de acessos).
A absurda frase do Brasil Escola não é exceção. Na coleção de livros didáticos "Nova História Crítica", a mais vendida do país --só o MEC comprou mais de 10 milhões de livros--, o autor Mario Schmidt escreveu o seguinte: "Desde a colonização, quase todas as terras estão nas mãos de uma minoria de latifundiários, latifúndio-monocultor e escravista... Os latifundiários reagem com brutalidade às invasões. Contratam capangas que em várias ocasiões já perderam o controle e mandaram bala nos sem-terra".
O geógrafo e professor José William Vesentini escreveu que "a produtividade agrícola só aumenta nas culturas de exportação, ocasionando fome". Tal frase contraria fatos e dados elementares, mas é a síntese do autor de "Brasil Sociedade e Espaço", o renomado livro didático de geografia.
Vesentini argumenta que a modernização da agricultura só ocorre em setores exportadores, o que, a seu ver, diminui a produção dos principais itens que compõem a alimentação dos brasileiros como feijão, arroz, milho, batata e mandioca. O autor entende que disso surgiria o seguinte paradoxo: o Brasil vive abundância produtiva e fome quase generalizada. Consequência, segundo o autor, da concentração fundiária.
Infelizmente Vesentini e Schmidt retratam, com precisão, um conjunto de ideias dominante que aparece, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia e direciona os alunas.
Em uma questão do Enem, por exemplo, o estudante deveria interpretar a "fala" de um "ruralista" imaginado pelo proponente: "A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala". Mais claro impossível.
Eis a mentalidade que está sendo gestada no país, inculcando preconceito e ignorância nos nossos jovens. E tudo com dinheiro público, dos contribuintes. É essa a educação que queremos?
Nas escolas, produtor rural é explorador do trabalhador que produz para exportar e deixa povo passar fome
O marxismo e suas variações constituem as principais ferramentas conceituais que os alunos brasileiros aprendem nas escolas de todo o país. O domínio cultural é tão expressivo que mesmo os professores não identificados com essa corrente ideológica --e até aqueles que lhe são contrários-- acabam, sem perceber, utilizando interpretações tributárias dela.
Quando o ferramental marxista não dá conta de uma questão, quando dados questionam ou refutam a tese geral, a questão e os dados simplesmente desaparecem. E é por isso que muitos autores são desconhecidos no Brasil.
Nada pode romper a harmoniosa narrativa maniqueísta. Assim, a velha luta do bem contra o mal ganha novas roupagens: o país explorador e o explorado, o patrão e o trabalhador, o rico e o pobre, o agronegócio e a agricultura familiar.
Nessa narrativa, o produtor rural é apresentado fundamentalmente como um latifundiário que explora os trabalhadores --em alguns casos em regime de escravidão-- e que produz alimentos para exportação deixando o povo passar fome.
O pequeno agricultor, chamado de campesino quando visto com bons olhos, é apenas uma vítima em potencial, dizem, pois logo venderá sua propriedade para o cultivo da monocultura.
Com a causa ambiental absorvida pelo marxismo cultural, o inimigo do presente também inviabiliza o futuro. O agricultor é a versão rural da elite urbana.
Essa imagem não aparece de modo claro, direto, mas emerge do emaranhado de afirmações, insinuações e lacunas que devem ser preenchidas pelos alunos.
Se o estudante procurar "MST" no Brasil Escola, um dos mais famosos sites de conteúdo educacional, ele encontrará o seguinte trecho em um artigo: "E o que dizer da bancada ruralista no Congresso, lutando com unhas e dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento antiético e imoral, vindo de que vem?".
O site Brasil Escola figura entre os 300 mais acessados no Brasil, de acordo com a Alexa (serviço de medição de acessos).
A absurda frase do Brasil Escola não é exceção. Na coleção de livros didáticos "Nova História Crítica", a mais vendida do país --só o MEC comprou mais de 10 milhões de livros--, o autor Mario Schmidt escreveu o seguinte: "Desde a colonização, quase todas as terras estão nas mãos de uma minoria de latifundiários, latifúndio-monocultor e escravista... Os latifundiários reagem com brutalidade às invasões. Contratam capangas que em várias ocasiões já perderam o controle e mandaram bala nos sem-terra".
O geógrafo e professor José William Vesentini escreveu que "a produtividade agrícola só aumenta nas culturas de exportação, ocasionando fome". Tal frase contraria fatos e dados elementares, mas é a síntese do autor de "Brasil Sociedade e Espaço", o renomado livro didático de geografia.
Vesentini argumenta que a modernização da agricultura só ocorre em setores exportadores, o que, a seu ver, diminui a produção dos principais itens que compõem a alimentação dos brasileiros como feijão, arroz, milho, batata e mandioca. O autor entende que disso surgiria o seguinte paradoxo: o Brasil vive abundância produtiva e fome quase generalizada. Consequência, segundo o autor, da concentração fundiária.
Infelizmente Vesentini e Schmidt retratam, com precisão, um conjunto de ideias dominante que aparece, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia e direciona os alunas.
Em uma questão do Enem, por exemplo, o estudante deveria interpretar a "fala" de um "ruralista" imaginado pelo proponente: "A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala". Mais claro impossível.
Eis a mentalidade que está sendo gestada no país, inculcando preconceito e ignorância nos nossos jovens. E tudo com dinheiro público, dos contribuintes. É essa a educação que queremos?
Entenda este impasse - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 05/10
A queda de braço entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso, ou, mais particularmente, as facções mais radicais do Partido Republicano, tem um desfecho ainda imprevisível.
Para autorizar o aumento do teto da dívida o Partido Republicano está exigindo que o governo americano adie por um ano a expansão do seu Plano de Saúde (Obamacare), o que o Partido Democrata considera inaceitável.
Pode-se apostar em que, como das outras vezes, um acordo afinal será alcançado, provavelmente antes da data fatal, 17 de outubro, quando o Tesouro americano não terá os recursos necessários para dar cobertura ao pagamento de todas as suas contas. Mas aposta não é garantia de sucesso. É preciso medir melhor as implicações de que o pior aconteça.
Tudo começa porque o governo dos Estados Unidos gasta mais do que arrecada. O relativamente baixo desempenho da economia por causa da crise é, por si só, fator de arrecadação mais baixa. O rombo orçamentário anual gira em torno dos US$ 760 bilhões. Para não deixar de honrar seus compromissos, o Tesouro dos Estados Unidos precisa emitir títulos (fazer dívidas). O Congresso impôs um teto para essa dívida. Não pode passar dos US$ 16,7 trilhões, limite atingido em maio. De lá para cá, o Tesouro continua pagando suas contas graças a expedientes extraordinários de caixa que se esgotarão em dez dias. A partir daí, contará com apenas US$ 30 bilhões por dia, provenientes da arrecadação, para despesas totais de aproximadamente o dobro disso.
Em parte para pressionar os políticos e também porque é preciso fazer escolhas, desde 1.º de outubro certas atividades do governo americano foram paralisadas por falta de recursos. Se o impasse continuar, segmentos cada vez mais numerosos da despesa geral acabarão por deixar de ser atendidos. A paralisação ainda que parcial dos pagamentos produzirá impactos na economia americana, tanto mais graves quanto maior for essa paralisação, porque serão menos cheques e menos depósitos em conta que chegarão aos fornecedores, aposentados ou funcionários. Portanto, haverá menos dinheiro circulando, mais gente impossibilitada de pagar suas próprias contas e, portanto, certa redução da atividade econômica dos Estados Unidos, com reflexo na economia global.
Na semana passada, o presidente Obama responsabilizou os políticos republicanos por aquele que poderá ser o primeiro calote da principal dívida do mundo. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional advertiu, também, para o desastre que aconteceria no mercado financeiro se os Estados Unidos suspenderem o pagamento dos juros de sua dívida. No dia 31 vencerão US$ 6 bilhões.
Seria o suficiente para puxar os juros da dívida americana para cima, fator que aumentaria as despesas e o déficit público dos Estados Unidos. Ficaria, também, alterada a percepção de risco relativo dos ativos no mundo inteiro.
Alguém já falou que as autoridades norte-americanas se comportam como adolescentes que passam rasteiras e voadoras uns nos outros à beira do precipício. Pode ser isso ou pode ser um jeito extravagante (e perigoso) de encomendar uma pizza.
A queda de braço entre o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e o Congresso, ou, mais particularmente, as facções mais radicais do Partido Republicano, tem um desfecho ainda imprevisível.
Para autorizar o aumento do teto da dívida o Partido Republicano está exigindo que o governo americano adie por um ano a expansão do seu Plano de Saúde (Obamacare), o que o Partido Democrata considera inaceitável.
Pode-se apostar em que, como das outras vezes, um acordo afinal será alcançado, provavelmente antes da data fatal, 17 de outubro, quando o Tesouro americano não terá os recursos necessários para dar cobertura ao pagamento de todas as suas contas. Mas aposta não é garantia de sucesso. É preciso medir melhor as implicações de que o pior aconteça.
Tudo começa porque o governo dos Estados Unidos gasta mais do que arrecada. O relativamente baixo desempenho da economia por causa da crise é, por si só, fator de arrecadação mais baixa. O rombo orçamentário anual gira em torno dos US$ 760 bilhões. Para não deixar de honrar seus compromissos, o Tesouro dos Estados Unidos precisa emitir títulos (fazer dívidas). O Congresso impôs um teto para essa dívida. Não pode passar dos US$ 16,7 trilhões, limite atingido em maio. De lá para cá, o Tesouro continua pagando suas contas graças a expedientes extraordinários de caixa que se esgotarão em dez dias. A partir daí, contará com apenas US$ 30 bilhões por dia, provenientes da arrecadação, para despesas totais de aproximadamente o dobro disso.
Em parte para pressionar os políticos e também porque é preciso fazer escolhas, desde 1.º de outubro certas atividades do governo americano foram paralisadas por falta de recursos. Se o impasse continuar, segmentos cada vez mais numerosos da despesa geral acabarão por deixar de ser atendidos. A paralisação ainda que parcial dos pagamentos produzirá impactos na economia americana, tanto mais graves quanto maior for essa paralisação, porque serão menos cheques e menos depósitos em conta que chegarão aos fornecedores, aposentados ou funcionários. Portanto, haverá menos dinheiro circulando, mais gente impossibilitada de pagar suas próprias contas e, portanto, certa redução da atividade econômica dos Estados Unidos, com reflexo na economia global.
Na semana passada, o presidente Obama responsabilizou os políticos republicanos por aquele que poderá ser o primeiro calote da principal dívida do mundo. A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional advertiu, também, para o desastre que aconteceria no mercado financeiro se os Estados Unidos suspenderem o pagamento dos juros de sua dívida. No dia 31 vencerão US$ 6 bilhões.
Seria o suficiente para puxar os juros da dívida americana para cima, fator que aumentaria as despesas e o déficit público dos Estados Unidos. Ficaria, também, alterada a percepção de risco relativo dos ativos no mundo inteiro.
Alguém já falou que as autoridades norte-americanas se comportam como adolescentes que passam rasteiras e voadoras uns nos outros à beira do precipício. Pode ser isso ou pode ser um jeito extravagante (e perigoso) de encomendar uma pizza.
Ligação errada - MÍRIAM LEITÃO
O GLOBO - 05/10
O governo queria uma grande empresa telefônica de capital privado nacional e terá, na melhor das hipóteses, uma meio estatal luso-brasileira. O mais estratégico não era a origem do capital, mas sim a qualidade das comunicações. O governo perseguiu o primeiro objetivo e não atingiu; deveria ter mirado no outro alvo. No mundo atual, o risco é se atrasar na revolução da conexão.
Central para as autoridades regulatórias deveria ser a criação das condições para os grandes saltos tecnológicos que acontecem de forma vertiginosa. No ano de 2012, houve no mundo mais tráfego de dados do que em todos os anos anteriores. O aumento é exponencial. Para essa demanda que cresce intensamente não ha aqui regulação com agilidade suficiente. Os consumidores têm uma sensação física de que estão andando para trás, com uma telefonia celular em colapso, no meio do salto da internet móvel.
Na época da privatização, o grupo empresarial mais heterogêneo foi o que comprou a então Tele-NorteLeste. O governo Fernando Henrique ajudou com empréstimos, entrada do BNDES como acionista e a participação dos fundos de pensão. O temor era que não houvesse uma empresa de capital genuinamente nacional. O defeito daquela privatização foi haver Estado demais, como escrevi na época.
Ela virou Telemar e no ano de 2008 o govemo Lula injetou mais Estado no processo. Foi feita uma alteração de encomenda na regulação. A lei proibia que uma das grandes empresas regionais comprasse outra, A regra havia sido feita para que houvesse mais empresas no mercado e não se formasse os quase monopólios. A barreira foi retirada por Lula porque a Telemar queria comprar a Brasil Telecom. Embrulhou-se tudo no discurso nacionalista da necessidade da supertele brasileira, que fosse como a Telefônica é para a Espanha ou o grupo Slim para o México. Com esse objetivo explícito surgiu a Oi.
A compra foi financiada em grande parte por empréstimos do governo, e mais capital do BNDES, com essa justificativa de que, no mundo atual, país grande e influente tem que ter uma empresa nacional de telecomunicação. O projeto era j que ela se internado-! nalizasse, comprando outras empresas fora do país. Ela virou grande territorialmente, mas apenas no Brasil.
O excesso de endividamento para a compra fez com que a em; presa investisse pouco nos anos seguintes.
Baixo investimento nesse ramo é o pior erro. Quadro que se agrava quando acontece de o órgão regulador não liderar a busca de soluções regulatórias para as novas tecnologias e não empurrar as empresas para padrões de qualidade mais exigentes.
Fracassou a criação da supertele nacional como ela foi idealizada pelo governo petista. Agora, a Oi passa a ser uma empresa cujo maior acionista é um grupo português, que vai administrá-la. E o BNDES colocará mais capital. Ela se internacionaliza sendo comprada. Haverá um processo de simplificação acionária para reduzir as classes de ações que vai tornar mais explícito esse controle português.
O realmente importante continua fora da linha de preocupações das autoridades regulatórias para essa e outras empresas de comunicação no Brasil: como reduzir a distância que está se ampliando entre a qualidade das comunicações e o que é exigido de um país com ambições de ser primeiro mundo?
Há uma obsolescência natural de padrões e de equipamentos numa tecnologia que se move cada vez com mais rapidez em direção sempre surpreendente. O Brasil tem baixa capacidade de investimento, de uma forma geral, o governo não consegue executar o que está no orçamento, nem remove os obstáculos ao investimento privado. Pelo contrário, cria incertezas. O futuro está chegando e o Brasil sequer se preparou para o presente.
O governo queria uma grande empresa telefônica de capital privado nacional e terá, na melhor das hipóteses, uma meio estatal luso-brasileira. O mais estratégico não era a origem do capital, mas sim a qualidade das comunicações. O governo perseguiu o primeiro objetivo e não atingiu; deveria ter mirado no outro alvo. No mundo atual, o risco é se atrasar na revolução da conexão.
Central para as autoridades regulatórias deveria ser a criação das condições para os grandes saltos tecnológicos que acontecem de forma vertiginosa. No ano de 2012, houve no mundo mais tráfego de dados do que em todos os anos anteriores. O aumento é exponencial. Para essa demanda que cresce intensamente não ha aqui regulação com agilidade suficiente. Os consumidores têm uma sensação física de que estão andando para trás, com uma telefonia celular em colapso, no meio do salto da internet móvel.
Na época da privatização, o grupo empresarial mais heterogêneo foi o que comprou a então Tele-NorteLeste. O governo Fernando Henrique ajudou com empréstimos, entrada do BNDES como acionista e a participação dos fundos de pensão. O temor era que não houvesse uma empresa de capital genuinamente nacional. O defeito daquela privatização foi haver Estado demais, como escrevi na época.
Ela virou Telemar e no ano de 2008 o govemo Lula injetou mais Estado no processo. Foi feita uma alteração de encomenda na regulação. A lei proibia que uma das grandes empresas regionais comprasse outra, A regra havia sido feita para que houvesse mais empresas no mercado e não se formasse os quase monopólios. A barreira foi retirada por Lula porque a Telemar queria comprar a Brasil Telecom. Embrulhou-se tudo no discurso nacionalista da necessidade da supertele brasileira, que fosse como a Telefônica é para a Espanha ou o grupo Slim para o México. Com esse objetivo explícito surgiu a Oi.
A compra foi financiada em grande parte por empréstimos do governo, e mais capital do BNDES, com essa justificativa de que, no mundo atual, país grande e influente tem que ter uma empresa nacional de telecomunicação. O projeto era j que ela se internado-! nalizasse, comprando outras empresas fora do país. Ela virou grande territorialmente, mas apenas no Brasil.
O excesso de endividamento para a compra fez com que a em; presa investisse pouco nos anos seguintes.
Baixo investimento nesse ramo é o pior erro. Quadro que se agrava quando acontece de o órgão regulador não liderar a busca de soluções regulatórias para as novas tecnologias e não empurrar as empresas para padrões de qualidade mais exigentes.
Fracassou a criação da supertele nacional como ela foi idealizada pelo governo petista. Agora, a Oi passa a ser uma empresa cujo maior acionista é um grupo português, que vai administrá-la. E o BNDES colocará mais capital. Ela se internacionaliza sendo comprada. Haverá um processo de simplificação acionária para reduzir as classes de ações que vai tornar mais explícito esse controle português.
O realmente importante continua fora da linha de preocupações das autoridades regulatórias para essa e outras empresas de comunicação no Brasil: como reduzir a distância que está se ampliando entre a qualidade das comunicações e o que é exigido de um país com ambições de ser primeiro mundo?
Há uma obsolescência natural de padrões e de equipamentos numa tecnologia que se move cada vez com mais rapidez em direção sempre surpreendente. O Brasil tem baixa capacidade de investimento, de uma forma geral, o governo não consegue executar o que está no orçamento, nem remove os obstáculos ao investimento privado. Pelo contrário, cria incertezas. O futuro está chegando e o Brasil sequer se preparou para o presente.
Com a 'PEC da música', dança o consumidor - ANTONIO JOSÉ MARISTRELLO
O Estado de S.Paulo - 05/10
Foi adiada para 15 de outubro a promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 123/2011, conhecida como "PEC da música". A aprovação no Senado contou com grande pressão da comunidade musical do País. A emenda introduz na Constituição a imunidade de impostos na produção e venda de CDs e DVDs e até mesmo de arquivos digitais obtidos por meio de downloads.
O primeiro problema diz respeito ao complexo vocabulário da medida, que menciona expressões como "fonogramas e videofonogramas musicais" e "obras literomusicais", o que poderá trazer dúvidas acerca da sua correta aplicação, além de excluir do debate grande parte dos atores interessados. Mas a questão principal diz respeito à discriminação entre produtos nacionais e estrangeiros, já que a imunidade só se aplicaria às obras produzidas no Brasil e criadas ou interpretadas por autores e artistas brasileiros.
Tal discriminação fere o princípio constitucional da isonomia tributária, que proíbe a instituição de tratamento desigual entre contribuintes que estejam em situação equivalente. Do mesmo modo, fere também um dos princípios básicos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e previsto no Gatt: o da não discriminação, que impede o tratamento diferenciado de produtos nacionais e importados, quando o objetivo for discriminar o produto importado desfavorecendo a competição deste com o produto nacional.
Essa discriminação promove, ainda, uma "censura oculta" aos artistas estrangeiros, que, por não usufruírem do mesmo benefício, terão suas obras mais oneradas em relação às nacionais, criando um desincentivo ainda maior ao seu consumo. Se o intuito da PEC era implementar medidas que "fortaleçam a produção musical brasileira, diante da avalanche cruel da pirataria e da realidade inexorável da rede mundial de computadores (internet)", tal fundamento não justifica o tratamento desigual entre artistas brasileiros e estrangeiros, já que estes últimos igualmente são vítimas de pirataria e de reprodução indevida de suas obras.
No mais, parece-nos que uma desoneração tributária completa não é a melhor forma de combater a pirataria. Primeiro, porque uma redução de 25% do preço, como anunciado pelos defensores da emenda, não parece o bastante para fazer com que os consumidores comprem CDs e DVDs originais em detrimento dos piratas. Além disso, nada garante que a indústria fonográfica repassará o total da desoneração ao preço final pago pelos consumidores. Por fim, se se optasse em manter uma tributação reduzida, em vez da completa desoneração, o aumento das vendas poderia elevar ou ao menos manter os níveis de arrecadação do setor.
A medida também fere o princípio da capacidade contributiva e da seletividade, já que tais produtos, apesar da inegável contribuição à difusão e ao acesso à cultura, seriam menos essenciais que outros fortemente tributados, como é o caso de certos alimentos e medicamentos, cuja carga tributária pode chegar a 27,5% e 34%, respectivamente. Por fim, a imunidade tributária também implicará uma queda da arrecadação em todos os níveis de governo, o que trará impactos nas contas públicas e no financiamento de políticas públicas essenciais à população.
Quer nos parecer que, por trás da bandeira do acesso à cultura e difusão de obras musicais, a medida tem por fim, na verdade, garantir a lucratividade da indústria fonográfica, que tem registrado queda nos últimos anos. E, tendo em vista que a imunidade beneficiará prioritariamente a indústria de suportes físicos de obras artísticas, como CDs e DVDs, cumpre indagar se não caminhamos na contramão do avanço da tecnologia, que parece indicar que o futuro da difusão tanto de músicas quanto de vídeos passará a ser cada vez mais por meio de plataformas online ou de downloads. A conclusão, pois, é que deveríamos voltar nossos esforços ao combate à pirataria na sua origem, em vez de promovermos mais caos ao sistema tributário brasileiro.
Foi adiada para 15 de outubro a promulgação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 123/2011, conhecida como "PEC da música". A aprovação no Senado contou com grande pressão da comunidade musical do País. A emenda introduz na Constituição a imunidade de impostos na produção e venda de CDs e DVDs e até mesmo de arquivos digitais obtidos por meio de downloads.
O primeiro problema diz respeito ao complexo vocabulário da medida, que menciona expressões como "fonogramas e videofonogramas musicais" e "obras literomusicais", o que poderá trazer dúvidas acerca da sua correta aplicação, além de excluir do debate grande parte dos atores interessados. Mas a questão principal diz respeito à discriminação entre produtos nacionais e estrangeiros, já que a imunidade só se aplicaria às obras produzidas no Brasil e criadas ou interpretadas por autores e artistas brasileiros.
Tal discriminação fere o princípio constitucional da isonomia tributária, que proíbe a instituição de tratamento desigual entre contribuintes que estejam em situação equivalente. Do mesmo modo, fere também um dos princípios básicos da Organização Mundial do Comércio (OMC) e previsto no Gatt: o da não discriminação, que impede o tratamento diferenciado de produtos nacionais e importados, quando o objetivo for discriminar o produto importado desfavorecendo a competição deste com o produto nacional.
Essa discriminação promove, ainda, uma "censura oculta" aos artistas estrangeiros, que, por não usufruírem do mesmo benefício, terão suas obras mais oneradas em relação às nacionais, criando um desincentivo ainda maior ao seu consumo. Se o intuito da PEC era implementar medidas que "fortaleçam a produção musical brasileira, diante da avalanche cruel da pirataria e da realidade inexorável da rede mundial de computadores (internet)", tal fundamento não justifica o tratamento desigual entre artistas brasileiros e estrangeiros, já que estes últimos igualmente são vítimas de pirataria e de reprodução indevida de suas obras.
No mais, parece-nos que uma desoneração tributária completa não é a melhor forma de combater a pirataria. Primeiro, porque uma redução de 25% do preço, como anunciado pelos defensores da emenda, não parece o bastante para fazer com que os consumidores comprem CDs e DVDs originais em detrimento dos piratas. Além disso, nada garante que a indústria fonográfica repassará o total da desoneração ao preço final pago pelos consumidores. Por fim, se se optasse em manter uma tributação reduzida, em vez da completa desoneração, o aumento das vendas poderia elevar ou ao menos manter os níveis de arrecadação do setor.
A medida também fere o princípio da capacidade contributiva e da seletividade, já que tais produtos, apesar da inegável contribuição à difusão e ao acesso à cultura, seriam menos essenciais que outros fortemente tributados, como é o caso de certos alimentos e medicamentos, cuja carga tributária pode chegar a 27,5% e 34%, respectivamente. Por fim, a imunidade tributária também implicará uma queda da arrecadação em todos os níveis de governo, o que trará impactos nas contas públicas e no financiamento de políticas públicas essenciais à população.
Quer nos parecer que, por trás da bandeira do acesso à cultura e difusão de obras musicais, a medida tem por fim, na verdade, garantir a lucratividade da indústria fonográfica, que tem registrado queda nos últimos anos. E, tendo em vista que a imunidade beneficiará prioritariamente a indústria de suportes físicos de obras artísticas, como CDs e DVDs, cumpre indagar se não caminhamos na contramão do avanço da tecnologia, que parece indicar que o futuro da difusão tanto de músicas quanto de vídeos passará a ser cada vez mais por meio de plataformas online ou de downloads. A conclusão, pois, é que deveríamos voltar nossos esforços ao combate à pirataria na sua origem, em vez de promovermos mais caos ao sistema tributário brasileiro.
Do concubinato à mancebia - WALTER CENEVIVA
FOLHA DE SP - 05/10
Não há como antecipar até onde irão os novos costumes. O direito é mais lento que os fatos
Nesta época de grave transformação social e moral, agravada pelos "mensaleiros", chegamos à notícia de mulheres contratadas para atrair políticos, criando situações prejudiciais para os enganados. Fala-se até de homens públicos ligados a auxiliares em namoros de longa duração, mas isso não é novidade da República. No Rio de Janeiro imperial, circularam fatos e boatos dos quais Pedro I e Pedro II não escaparam.
A Constituição de 1988 foi a primeira a admitir a união de dois seres de sexos diferentes, fora do casamento. A lei só reconhece o concubinato de duas pessoas, mas há casos, na prática, que excedem esse limite.
Hoje, o Código Civil admite (art. 1.727) o concubinato enquanto união estável entre o homem e a mulher (Constituição, art. 226). É aceito como forma legal e igualitária da criação familiar.
Na língua portuguesa, concubina sempre foi a mulher que vive com um homem, sem ser casada com ele e, por isso, conforme se dizia, "mal vista".
Hoje o concubinato é aceito até quando um dos parceiros seja casado, desde que inteiramente apartado do cônjuge.
O tratamento da lei ainda favorece o homem, dadas as formas preconceituosas para a mulher. Uma estatística mostra o preconceito: há mais de trinta vocábulos para a sinonímia de concubina, quando o homem não era referido como concubino.
O art. 1.727, do Código Civil, afastou a limitação. Diz que a vida em comum de pessoas dos dois sexos é concubinato se mantida relação estável, não eventual.
Na bigamia, porém, a lei é equilibradamente severa (Código Penal, art. 235), para aquele que contraia novo casamento, sendo casado --dois a seis anos de reclusão. O solteiro que case com pessoa que sabe ser casada, sofrerá reclusão ou detenção de um a três anos.
Curiosamente a designação de companheiro e companheira, tornou-se comum, na variável da linguagem política.
Nosso direito já reconheceu a existência de relações fora do casamento, entre o homem e a mulher, mesmo em casos nos quais se comprovou o desvio de fundos ilícitos, para o nome da concubina, obtidos como produto ilegal, que recebeu.
Em termos recentes, com a descoberta de enriquecimentos ilícitos, aumentou o número de referências a dinheiros transferidos para o exterior, em nome dos filhos e parentes próximos. E, enfim, para amantes. São relações familiares, legais ou não, para permitir a criminalidade.
Nos primeiros tempos dessa "evolução" da família, os tribunais chegaram a admitir formas de indenização, a benefício da mulher, por serviços domésticos que a companheira havia prestado.
Desconsiderava a mulher ao admitir remuneração por serviço prestado para o amásio, quando o direito dela decorria da participação no esforço do casal, da vida em comum. É etapa superada do direito.
Em tempos tempos antigos, as variações sobre a vida do homem e da mulher chegaram a parecer eternas.
A variável moderna, que o Velho Testamento reprovou, é referente a uniões de seres do mesmo sexo. Hoje, porém, parece definitiva sua acolhida nos costumes e na lei, mas nesse campo, são grandes as diferenças entre o ocidente e o oriente. Não há como antecipar até onde irão os novos costumes. O direito é mais lento que os fatos.
Não há como antecipar até onde irão os novos costumes. O direito é mais lento que os fatos
Nesta época de grave transformação social e moral, agravada pelos "mensaleiros", chegamos à notícia de mulheres contratadas para atrair políticos, criando situações prejudiciais para os enganados. Fala-se até de homens públicos ligados a auxiliares em namoros de longa duração, mas isso não é novidade da República. No Rio de Janeiro imperial, circularam fatos e boatos dos quais Pedro I e Pedro II não escaparam.
A Constituição de 1988 foi a primeira a admitir a união de dois seres de sexos diferentes, fora do casamento. A lei só reconhece o concubinato de duas pessoas, mas há casos, na prática, que excedem esse limite.
Hoje, o Código Civil admite (art. 1.727) o concubinato enquanto união estável entre o homem e a mulher (Constituição, art. 226). É aceito como forma legal e igualitária da criação familiar.
Na língua portuguesa, concubina sempre foi a mulher que vive com um homem, sem ser casada com ele e, por isso, conforme se dizia, "mal vista".
Hoje o concubinato é aceito até quando um dos parceiros seja casado, desde que inteiramente apartado do cônjuge.
O tratamento da lei ainda favorece o homem, dadas as formas preconceituosas para a mulher. Uma estatística mostra o preconceito: há mais de trinta vocábulos para a sinonímia de concubina, quando o homem não era referido como concubino.
O art. 1.727, do Código Civil, afastou a limitação. Diz que a vida em comum de pessoas dos dois sexos é concubinato se mantida relação estável, não eventual.
Na bigamia, porém, a lei é equilibradamente severa (Código Penal, art. 235), para aquele que contraia novo casamento, sendo casado --dois a seis anos de reclusão. O solteiro que case com pessoa que sabe ser casada, sofrerá reclusão ou detenção de um a três anos.
Curiosamente a designação de companheiro e companheira, tornou-se comum, na variável da linguagem política.
Nosso direito já reconheceu a existência de relações fora do casamento, entre o homem e a mulher, mesmo em casos nos quais se comprovou o desvio de fundos ilícitos, para o nome da concubina, obtidos como produto ilegal, que recebeu.
Em termos recentes, com a descoberta de enriquecimentos ilícitos, aumentou o número de referências a dinheiros transferidos para o exterior, em nome dos filhos e parentes próximos. E, enfim, para amantes. São relações familiares, legais ou não, para permitir a criminalidade.
Nos primeiros tempos dessa "evolução" da família, os tribunais chegaram a admitir formas de indenização, a benefício da mulher, por serviços domésticos que a companheira havia prestado.
Desconsiderava a mulher ao admitir remuneração por serviço prestado para o amásio, quando o direito dela decorria da participação no esforço do casal, da vida em comum. É etapa superada do direito.
Em tempos tempos antigos, as variações sobre a vida do homem e da mulher chegaram a parecer eternas.
A variável moderna, que o Velho Testamento reprovou, é referente a uniões de seres do mesmo sexo. Hoje, porém, parece definitiva sua acolhida nos costumes e na lei, mas nesse campo, são grandes as diferenças entre o ocidente e o oriente. Não há como antecipar até onde irão os novos costumes. O direito é mais lento que os fatos.
Punição sem clareza - MARCIO DE ARAÚJO CORIOLANO
O GLOBO - 05/10
Há, atualmente, uma intensa polêmica, já judicializada, envolvendo o modelo adotado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para monitorar o desempenho das operadoras de planos e seguros de saúde e que resulta, trimestralmente, na suspensão de comercialização de contratos, segundo listas amplamente divulgadas nas mídias.
Embora o normativo que lhe deu origem, em 2012, não a caracterize como tal, trata-se de uma verdadeira punição das operadoras privadas. E acaba por punir também a população que quer comprar os planos suspensos, e mesmo os beneficiários dos planos coletivos que tenham sido alcançados pela medida e que desejem ingressar nos contratos após a edição das listas. Criam-se, com isso, cidadãos de classes diferentes dentro da mesma empresa que contratou o benefício, os que permanecem usufruindo das coberturas dos planos e aqueles que ficam impedidos de neles ingressar Além da evidente distorção do modelo, essa punição, de operadoras e de beneficiários, não passa pelo devido processo legal. As várias normas de penalidades da ANS vigentes incluem as necessárias etapas de apuração da suposta infração, com ampla defesa, direito ao contraditório e recurso às instâncias administrativas nelas previstas. Menos essa norma de monitoramento, o que causa insegurança jurídica para as operadoras que foram autorizadas a funcionar pela Agência.
Há alegação de que, com a medida, objetiva -se efeito acautelatório para evitar danos ao consumidor. Entretanto, nada pode ir além do previsto em lei e nas previsões infralegais da ANS. É necessário punir os infratores, porém com obediência ao direito de defesa, dura conquista da democracia.
Mas, o pano de fundo que deu origem a esse estado de coisas é ainda mais complexo, de futuro imprevisível. As supostas infrações ao programa de monitoramento são identificadas, e calculadas, conforme modelo estatístico frágil e de perigosa imprevisibilidade para os agentes do sistema de saúde suplementar. O modelo baseia-se na identificação, através de reclamações de consumidores - as notificações de investigação "preliminar" - de alegados descumprimentos de prazos de atendimento, de coberturas contratuais e outras, que recebem tratamento unilateral, posteriormente classificados segundo "medianas" estatísticas, que terminam por resultar, inexoravelmente, em listas trimestrais de planos suspensos. Conforme esse modelo, ainda que todo o mercado ofertante de planos e seguros de saúde melhore continuamente o seu desempenho, pelas "medianas" sempre haverá operadoras "culpadas" e que serão punidas.
A criação das Agências foi uma evolução formidável da supervisão, pelo Estado, dos mercados setoriais, garantidos a sua independência e o funcionamento eficaz. É evidente que ao órgão regulador setorial cabe zelar pelo bom funcionamento de um mercado responsável pela saúde de 25% dos brasileiros e de mais de 9% deles quando se trata de tratamentos odontológicos. A Federação Nacional de Saúde Suplementar, que congrega 17 grupos de operadoras privadas já consolidadas, tem manifestado apoio irrestrito à regulação governamental, inclusive com intensa participação nas câmaras técnicas que precedem às consultas públicas dos normativos. Infelizmente, o programa de monitoramento não seguiu esse rito salutar.
O mercado de planos e seguros de saúde é importante demais para que sua imagem e seu funcionamento possam ser comprometidos por um modelo insuficiente e que resulta em punição sem clareza do que a originou. Cabe, portanto, ampla revisão das normas e dos modelos de apuração do programa de monitoramento da ANS, com o objetivo de garantir a previsibilidade de seus resultados e o indispensável direito à ampla defesa e ao contraditório.
Como salvar a Constituição dos “constitucionalistas”? - GISELA MARIA BESTER
GAZETA DO POVO - PR - 05/10
Há 18 anos, quando comecei a lecionar Direito Constitucional, observava que uma das rainhas entre as disciplinas jurídicas ainda era Introdução ao Estudo do Direito. Via também que todos os professores, por óbvio, queriam lecioná-la, inclusive os iniciantes. E ouvia críticas de que IED não era para docentes recém-graduados, pois era matéria para professores experimentados, que tivessem maior vivência e olhar mais sistemático sobre o vasto orbe da ciência jurídica. Mais ou menos na linha waratiana de que só quem domina o todo, na sua completude e na sua mais alta sofisticação, pode explicar o início desse todo de forma adequada e simples.
Alguns poucos anos depois, comecei a ver que a disciplina visada na docência jurídica passou a ser o Direito Constitucional, e muitos docentes, incluindo os recém-formados, cobiçavam-na. As próprias direções das faculdades diziam que “Constitucional qualquer um dava”, e isso presenciei não só na vida institucional diária, como também nos anos em que avaliei projetos de novos cursos jurídicos de graduação no país, pelo Ministério da Educação, quando essa realidade era espelhada nas listas de docentes apresentadas pelas faculdades aos avaliadores.
Apesar disso, em paralelo foi-se assistindo a uma extraordinária qualificação e sofisticação do conhecimento produzido por uma leva de autores brasileiros, constitucionalistas até hoje muito respeitados, professores altamente dignos de tal disciplina jurídica. Nisso, o Brasil, apesar de ter copiado muita coisa, deu lição ao mundo jurídico ocidental de matriz civil law em muitos temas. O desenvolvimento de uma teoria/doutrina constitucional própria em muitos aspectos segue admirado por muitos autores portugueses, cujo nível é reconhecidamente elevadíssimo.
No entanto, quanto mais se sofisticou um discurso e mais se requintou uma doutrina, ao mesmo tempo delicada e poderosa em seu grau de irradiação hermenêutica, um mundo rasteiro de interpretações realmente rasas popularizou-se na seara do Direito Constitucional brasileiro, de modo a fazer perder a força de importantes institutos, conceitos, bens e valores, direitos e princípios. Já se fez isso com os danos morais, com a própria dignidade humana, e agora parece que a categoria da vez é a sustentabilidade, obedecendo a ondas de modismos que, de tanto querer fortalecer – ou dele tudo tirar, à exaustão – um conceito, um direito, um princípio, acabam por enfraquecê-lo, pela via da banalização leviana e irresponsável desacreditando o potencial de concretização intrínseco que possui.
É difícil dizer se isso é um paradoxo, ou se é precisamente o resultado avesso e perverso da mais alta sofisticação, muitas vezes lida, mas não “compreendida” e “apreendida” por uma leva imensa de “constitucionalistas” – entre aspas, mesmo. É que todo pretenso jurista passou a achar-se, também, pretenso constitucionalista. E é justamente desses constitucionalistas aspeados que a Constituição precisa ser salva!
Há muito tempo que se pede, não só agora que ela completa 25 anos: tomemos nossa Constituição a sério, para que tenha vida longa, admirada que é, apesar dos seus defeitos, não só por juristas, mas também por sociólogos e outros cientistas de vários países, e por muitos constitucionalistas locais dignos do nome. Levemos a Constituição a sério, para que siga ela mesma nos levando longe, já que estão longe de se ver esgotadas suas potencialidades de nos emancipar, nos igualizar, nos promover na vida plena, nos dignificar.
Há 18 anos, quando comecei a lecionar Direito Constitucional, observava que uma das rainhas entre as disciplinas jurídicas ainda era Introdução ao Estudo do Direito. Via também que todos os professores, por óbvio, queriam lecioná-la, inclusive os iniciantes. E ouvia críticas de que IED não era para docentes recém-graduados, pois era matéria para professores experimentados, que tivessem maior vivência e olhar mais sistemático sobre o vasto orbe da ciência jurídica. Mais ou menos na linha waratiana de que só quem domina o todo, na sua completude e na sua mais alta sofisticação, pode explicar o início desse todo de forma adequada e simples.
Alguns poucos anos depois, comecei a ver que a disciplina visada na docência jurídica passou a ser o Direito Constitucional, e muitos docentes, incluindo os recém-formados, cobiçavam-na. As próprias direções das faculdades diziam que “Constitucional qualquer um dava”, e isso presenciei não só na vida institucional diária, como também nos anos em que avaliei projetos de novos cursos jurídicos de graduação no país, pelo Ministério da Educação, quando essa realidade era espelhada nas listas de docentes apresentadas pelas faculdades aos avaliadores.
Apesar disso, em paralelo foi-se assistindo a uma extraordinária qualificação e sofisticação do conhecimento produzido por uma leva de autores brasileiros, constitucionalistas até hoje muito respeitados, professores altamente dignos de tal disciplina jurídica. Nisso, o Brasil, apesar de ter copiado muita coisa, deu lição ao mundo jurídico ocidental de matriz civil law em muitos temas. O desenvolvimento de uma teoria/doutrina constitucional própria em muitos aspectos segue admirado por muitos autores portugueses, cujo nível é reconhecidamente elevadíssimo.
No entanto, quanto mais se sofisticou um discurso e mais se requintou uma doutrina, ao mesmo tempo delicada e poderosa em seu grau de irradiação hermenêutica, um mundo rasteiro de interpretações realmente rasas popularizou-se na seara do Direito Constitucional brasileiro, de modo a fazer perder a força de importantes institutos, conceitos, bens e valores, direitos e princípios. Já se fez isso com os danos morais, com a própria dignidade humana, e agora parece que a categoria da vez é a sustentabilidade, obedecendo a ondas de modismos que, de tanto querer fortalecer – ou dele tudo tirar, à exaustão – um conceito, um direito, um princípio, acabam por enfraquecê-lo, pela via da banalização leviana e irresponsável desacreditando o potencial de concretização intrínseco que possui.
É difícil dizer se isso é um paradoxo, ou se é precisamente o resultado avesso e perverso da mais alta sofisticação, muitas vezes lida, mas não “compreendida” e “apreendida” por uma leva imensa de “constitucionalistas” – entre aspas, mesmo. É que todo pretenso jurista passou a achar-se, também, pretenso constitucionalista. E é justamente desses constitucionalistas aspeados que a Constituição precisa ser salva!
Há muito tempo que se pede, não só agora que ela completa 25 anos: tomemos nossa Constituição a sério, para que tenha vida longa, admirada que é, apesar dos seus defeitos, não só por juristas, mas também por sociólogos e outros cientistas de vários países, e por muitos constitucionalistas locais dignos do nome. Levemos a Constituição a sério, para que siga ela mesma nos levando longe, já que estão longe de se ver esgotadas suas potencialidades de nos emancipar, nos igualizar, nos promover na vida plena, nos dignificar.
Marina no jogo? - MERVAL PEREIRA
O GLOBO - 05/10
Ninguém sabe o que a ex-senadora Marina Silva anunciará hoje, mas há alguns indícios que levam a crer que ela está querendo se filiar a um partido para poder continuar na disputa pela Presidência da República em 2014. Isso só não acontecerá se as exigências que já deve ter feito a essa tal legenda não forem aceitas.
O que preocupa Marina na verdade é entrar para um partido que hoje se mostra disposto a até mudar o nome para Rede para recebê-la, e mais adiante, devido a pressões do governo ou uma negociação mais vantajosa, negue legenda a ela.
Nesse ponto, o PPS do deputado Roberto Freire é mais seguro, tem uma história política que garante os acordos. Mas as exigências para o PPS também têm que ser menores. No final da noite de ontem, Marina chamou a Brasília os deputados que a apoiam para fazer um balanço das forças políticas que podem ajudar na sua campanha para a formação do partido Rede Sustentabilidade, projeto político de que não abre mão.
O mais provável é que durante o próximo ano ela se dedique simultaneamente à campanha eleitoral e à criação da Rede, mas será preciso compatibilizar as duas tarefas, para que uma não se confunda com a outra e não atrapalhe a clareza de sua mensagem de candidata a presidente, que muitos críticos já consideram gongórica demais.
Como a Rede não poderá aparecer na urna eletrônica em 2014, mesmo que tenha o registro concedido pelo TSE antes das eleições, a primeira impressão de seus apoiadores é que ela não deveria ser formada no ano da eleição, para não confundir o eleitor.
Há também um detalhe técnico: os políticos que foram liberados por Marina para seguirem caminhos próprios, já que ela não se definiu ainda a qual vai se filiar, estão mudando de partido, pois ficaram sem ambiente nas legendas anteriores por fazerem explicitamente a campanha de Marina. É o caso do deputado Miro Teixeira, que trocou o PDT pelo PROS para se candidatar ao governo do Rio, e Alfredo Sirkis, que ontem mesmo se desligou do
Partido Verde e ainda decide para onde te O fato é que a ex-senadora Marina Silva, depois do choque de realidade que recebeu com a rejeição do registro de seu partido, parece estar disposta a não sair do campo de batalha. Ela me disse, em conversa por telefone, naquela linguagem própria dela que une metáforas e messianismo, que é muito resistente para escalar as montanhas que aparecem na sua frente, e persistente o bastante para contorná-las quando não puder escalá-las.
Quando disse, na entrevista coletiva de ontem, que o que pesa mais para a tomada de decisão tem a ver com "a escolha do que mais contribui para o país que queremos" está dando a entender que procura a maneira mais adequada para abrir uma nova senda no caminho que havia previamente traçado, mas mantendo o objetivo final: criar condições para "um Brasil que possa atualizar o processo da política".
Ao salientar que esse processo está, infelizmente, em "erosão política" ela deu a dica para onde se inclina, pois quem faz esse diagnóstico não pode abrir mão de uma ação imediata. Deixar de participar da eleição presidencial para supostamente manter a coerência do seu projeto seria postergá-lo, o que talvez servisse mais à sua imagem pessoal do que à causa que defende.
Sintomático é que tenha respondido a uma pergunta sobre se não seria incoerência ir para uma sigla qualquer, com o raciocínio de que o que vai pesar mais na decisão "é o que pode construir melhor, independentemente da vaidade" Ela não abre mão dos 20 milhões de votos que recebeu em 2010, que simbolicamente lhe foram dados num dia 3 de outubro, coincidentemente o mesmo em que o TSE decidiu cassá-la, segundo sua interpretação da decisão de não conceder registro ao seu partido.
Como ela mesma disse ontem, sua percepção é que "corremos o risco de perder os avanços que tivemos na política social e econômica devido ao atraso na política" e certamente a "resposta compatível, e potencializadora para que o país possa avançar" não é a desistência.
O que preocupa Marina na verdade é entrar para um partido que hoje se mostra disposto a até mudar o nome para Rede para recebê-la, e mais adiante, devido a pressões do governo ou uma negociação mais vantajosa, negue legenda a ela.
Nesse ponto, o PPS do deputado Roberto Freire é mais seguro, tem uma história política que garante os acordos. Mas as exigências para o PPS também têm que ser menores. No final da noite de ontem, Marina chamou a Brasília os deputados que a apoiam para fazer um balanço das forças políticas que podem ajudar na sua campanha para a formação do partido Rede Sustentabilidade, projeto político de que não abre mão.
O mais provável é que durante o próximo ano ela se dedique simultaneamente à campanha eleitoral e à criação da Rede, mas será preciso compatibilizar as duas tarefas, para que uma não se confunda com a outra e não atrapalhe a clareza de sua mensagem de candidata a presidente, que muitos críticos já consideram gongórica demais.
Como a Rede não poderá aparecer na urna eletrônica em 2014, mesmo que tenha o registro concedido pelo TSE antes das eleições, a primeira impressão de seus apoiadores é que ela não deveria ser formada no ano da eleição, para não confundir o eleitor.
Há também um detalhe técnico: os políticos que foram liberados por Marina para seguirem caminhos próprios, já que ela não se definiu ainda a qual vai se filiar, estão mudando de partido, pois ficaram sem ambiente nas legendas anteriores por fazerem explicitamente a campanha de Marina. É o caso do deputado Miro Teixeira, que trocou o PDT pelo PROS para se candidatar ao governo do Rio, e Alfredo Sirkis, que ontem mesmo se desligou do
Partido Verde e ainda decide para onde te O fato é que a ex-senadora Marina Silva, depois do choque de realidade que recebeu com a rejeição do registro de seu partido, parece estar disposta a não sair do campo de batalha. Ela me disse, em conversa por telefone, naquela linguagem própria dela que une metáforas e messianismo, que é muito resistente para escalar as montanhas que aparecem na sua frente, e persistente o bastante para contorná-las quando não puder escalá-las.
Quando disse, na entrevista coletiva de ontem, que o que pesa mais para a tomada de decisão tem a ver com "a escolha do que mais contribui para o país que queremos" está dando a entender que procura a maneira mais adequada para abrir uma nova senda no caminho que havia previamente traçado, mas mantendo o objetivo final: criar condições para "um Brasil que possa atualizar o processo da política".
Ao salientar que esse processo está, infelizmente, em "erosão política" ela deu a dica para onde se inclina, pois quem faz esse diagnóstico não pode abrir mão de uma ação imediata. Deixar de participar da eleição presidencial para supostamente manter a coerência do seu projeto seria postergá-lo, o que talvez servisse mais à sua imagem pessoal do que à causa que defende.
Sintomático é que tenha respondido a uma pergunta sobre se não seria incoerência ir para uma sigla qualquer, com o raciocínio de que o que vai pesar mais na decisão "é o que pode construir melhor, independentemente da vaidade" Ela não abre mão dos 20 milhões de votos que recebeu em 2010, que simbolicamente lhe foram dados num dia 3 de outubro, coincidentemente o mesmo em que o TSE decidiu cassá-la, segundo sua interpretação da decisão de não conceder registro ao seu partido.
Como ela mesma disse ontem, sua percepção é que "corremos o risco de perder os avanços que tivemos na política social e econômica devido ao atraso na política" e certamente a "resposta compatível, e potencializadora para que o país possa avançar" não é a desistência.
A democracia e suas brechas - ALBERTO DINES
GAZETA DO POVO - PR - 05/10
“É a pior forma de governo, salvo todas as demais.” Quem ofereceu esse diagnóstico sobre o sistema democrático foi um campeão no combate contra o nazifascismo, a mais infame tirania: Winston Churchill, em 11 de novembro de 1947, há quase 66 anos.
Os seis ministros do Tribunal Superior Eleitoral que vetaram a criação de mais um partido, a Rede Sustentabilidade, cumpriram estritamente o ritual da legalidade: a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva não conseguiu o número mínimo de assinaturas exigido pelos estatutos eleitorais. Faltaram 50 mil. A letra da lei não pode ser desrespeitada, esta é uma cláusula pétrea do Estado de Direito.
Os radicais do Partido Republicano que controlam a Câmara dos Deputados dos EUA têm o direito de impedir o aumento do teto da dívida pública, de exigir a revogação do plano de saúde do presidente Obama, de levar o país ao calote e a uma recessão ainda maior que a de 2008. Foram eleitos num pleito livre, controlam uma das câmaras legislativas e o equilíbrio entre os poderes é um dos pilares do sistema representativo.
E, no entanto, estes dramáticos episódios exibem de forma clara e perturbadora as penosas contradições da democracia quando a obediência às leis nas instâncias máximas passa ao largo das ilegalidades e aberrações instaladas em sua base.
O símbolo da justiça deveria mudar: mais apropriado substituí-lo pela jarra de água para lavar as mãos. Os meritíssimos do TSE alegam que não cabe a eles verificar a validade das assinaturas; o questionamento dos cartórios eleitorais deve ser feito de baixo para cima – pelos líderes da agremiação que pretendem fundar ou pelos eleitores cujas assinaturas foram embargadas. Correto: porém, o mesmo sistema cartorial e a máquina burocrática onde se aninha acabam de aprovar, sem restrições, em uma incrível coincidência, a criação de dois partidos, o Pros e o Solidariedade, um deles ostensivamente pró-governo, o outro intransigentemente solidário com o poder.
Uma minoria fanática, irresponsável, pode levar uma poderosa democracia como a americana à beira do abismo. Os radicais do Tea Party abominam o Estado, endeusam o mercado, acreditam que só ele é capaz de reparar injustiças. A maioria dos despossuídos e remediados sabe que não é verdade, sujeitam-se. A chantagem que a direita está fazendo com o presidente Obama ao exigir que abra mão da implantação do seu plano de saúde em troca da ampliação do teto da dívida é uma das maiores imoralidades que a democracia já ofereceu.
André Malraux, brilhante intelectual, combatente antifascista em diversas frentes e ministro da Cultura da França, na mesma época também debruçou-se sobre os sistemas políticos: “Vi as democracias intervirem contra quase tudo. Menos contra os fascismos”. Ele sabia o que dizia: viu o fascismo triunfar na Espanha e entregar a França ao facínora Hitler.
A derrota de Marina Silva e de seus “sonháticos” diante dos pragmáticos não é propriamente ideológica. Candidata à Presidência pela Rede, a ambientalista evangélica – tão intransigente em matéria de ética e coerência que não consegue adaptar-se ao jogo político – teria condições de enfrentar a herdeira do imbatível Lula da Silva.
A democracia dará a última palavra. Se não agora, para 2014, certamente em 2018. Churchill e Malraux, nos seus respectivos ceticismos, não levaram em conta a inexorabilidade do calendário eleitoral.
“É a pior forma de governo, salvo todas as demais.” Quem ofereceu esse diagnóstico sobre o sistema democrático foi um campeão no combate contra o nazifascismo, a mais infame tirania: Winston Churchill, em 11 de novembro de 1947, há quase 66 anos.
Os seis ministros do Tribunal Superior Eleitoral que vetaram a criação de mais um partido, a Rede Sustentabilidade, cumpriram estritamente o ritual da legalidade: a ex-ministra e ex-senadora Marina Silva não conseguiu o número mínimo de assinaturas exigido pelos estatutos eleitorais. Faltaram 50 mil. A letra da lei não pode ser desrespeitada, esta é uma cláusula pétrea do Estado de Direito.
Os radicais do Partido Republicano que controlam a Câmara dos Deputados dos EUA têm o direito de impedir o aumento do teto da dívida pública, de exigir a revogação do plano de saúde do presidente Obama, de levar o país ao calote e a uma recessão ainda maior que a de 2008. Foram eleitos num pleito livre, controlam uma das câmaras legislativas e o equilíbrio entre os poderes é um dos pilares do sistema representativo.
E, no entanto, estes dramáticos episódios exibem de forma clara e perturbadora as penosas contradições da democracia quando a obediência às leis nas instâncias máximas passa ao largo das ilegalidades e aberrações instaladas em sua base.
O símbolo da justiça deveria mudar: mais apropriado substituí-lo pela jarra de água para lavar as mãos. Os meritíssimos do TSE alegam que não cabe a eles verificar a validade das assinaturas; o questionamento dos cartórios eleitorais deve ser feito de baixo para cima – pelos líderes da agremiação que pretendem fundar ou pelos eleitores cujas assinaturas foram embargadas. Correto: porém, o mesmo sistema cartorial e a máquina burocrática onde se aninha acabam de aprovar, sem restrições, em uma incrível coincidência, a criação de dois partidos, o Pros e o Solidariedade, um deles ostensivamente pró-governo, o outro intransigentemente solidário com o poder.
Uma minoria fanática, irresponsável, pode levar uma poderosa democracia como a americana à beira do abismo. Os radicais do Tea Party abominam o Estado, endeusam o mercado, acreditam que só ele é capaz de reparar injustiças. A maioria dos despossuídos e remediados sabe que não é verdade, sujeitam-se. A chantagem que a direita está fazendo com o presidente Obama ao exigir que abra mão da implantação do seu plano de saúde em troca da ampliação do teto da dívida é uma das maiores imoralidades que a democracia já ofereceu.
André Malraux, brilhante intelectual, combatente antifascista em diversas frentes e ministro da Cultura da França, na mesma época também debruçou-se sobre os sistemas políticos: “Vi as democracias intervirem contra quase tudo. Menos contra os fascismos”. Ele sabia o que dizia: viu o fascismo triunfar na Espanha e entregar a França ao facínora Hitler.
A derrota de Marina Silva e de seus “sonháticos” diante dos pragmáticos não é propriamente ideológica. Candidata à Presidência pela Rede, a ambientalista evangélica – tão intransigente em matéria de ética e coerência que não consegue adaptar-se ao jogo político – teria condições de enfrentar a herdeira do imbatível Lula da Silva.
A democracia dará a última palavra. Se não agora, para 2014, certamente em 2018. Churchill e Malraux, nos seus respectivos ceticismos, não levaram em conta a inexorabilidade do calendário eleitoral.