segunda-feira, setembro 16, 2013

ÍNDICE DAS POSTAGENS DE HOJE NO BLOG - 16/09

Manifestantes de olhos vendados - GUILHERME FIUZA

REVISTA ÉPOCA

Agora o recado das ruas está claro. O 7 de Setembro trouxe uma nova onda de protestos às capitais brasileiras, e ninguém mais pode dizer que paira alguma dúvida sobre o que essas manifestações vieram dizer ao Brasil, olhos nos olhos. Se você, seu distraído, ainda não entendeu o que as ruas estão dizendo, aqui vai um resumo numa palavra: nada.

O destino épico do gigante adormecido não falha. Justamente na semana em que celebra sua Independência, o país viu estourar o novo escândalo do Ministério do Trabalho. Se bem que, quanto a isso, pairam dúvidas. Não sobre o escândalo (que é cristalino), mas sobre o fato de que o país o tenha visto. O Brasil anda muito ocupado com passeatas para ficar prestando atenção a escândalos.

Vamos insistir mais um pouco, por pura teimosia. Afinal, os revolucionários das ruas também devem ir de vez em quando ao dentista. Vai que algum deles abre a revista na sala de espera e, por puro tédio, começa a ler esta coluna? Sonhando com essa incrível coincidência (sonhar não custa nem 20 centavos), contemos aos heróis modernos, sem anestesia, o que acontece neste exato momento no Brasil.

Uma ONG acusada de desviar a merreca de R$ 400 milhões do Ministério do Trabalho - do dinheiro que o revolucionário, o dentista e o colunista entregam para o governo governar - foi milagrosamente anistiada. Numa manobra montada nos altos escalões do ministério (se é que usina parasitária tem alto escalão), a tal ONG, chamada Instituto Mundial de Desenvolvimento e Cidadania, foi reabilitada para voltar a receber verbas do governo, apesar dos indícios de malversação de recursos encontrados em suas operações.

A manobra foi descoberta e, com uma coleção de flagrantes da cópula entre o ministério e a ONG, provocou a exoneração do secretário-executivo do ministério (o segundo na hierarquia) e a decretação da prisão de um assessor direto, que trabalhava no gabinete do ministro Manoel Dias. O ministro, é claro, não sabia de nada. Várias outras prisões foram feitas pela Polícia Federal nessa quadrilha montada entre o governo e a ONG. Nada, até aí, é importante a ponto de cansar a beleza do manifestante que espera pacientemente sua vez na cadeira do dentista.

Nosso bravo revolucionário não poderia ter perdido de vista é que essa quadrilha é velha. As peripécias do Instituto Mundial foram reveladas em 2011, no escândalo que culminou com a queda do então ministro Carlos Lupi. Na ocasião, já era grave, muito grave, que Dilma Rousseff tivesse tentado segurar Lupi no cargo, mesmo depois de divulgadas as denúncias. E mesmo depois de ele próprio declarar que só sairia do cargo a bala.

Pois bem: a proteção presidencial ao ministro suspeito se tornou insustentável quando a própria Comissão de Ética da Presidência da República recomendou seu afastamento. Dilma demitiu Lupi cobrindo-o de elogios publicamente. Logo que o assunto esfriou, ela bombardeou a Comissão de Ética - mandando embora o membro que relatara o parecer contra o ministro. Para completar a sinfonia, manteve o Ministério do Trabalho nas mãos de Lupi - no início dissimulada, depois escancaradamente: O ministro Dias obedece ao líder irremovível do PDT, Lupi, que mora no coração de Dilma.

Prezado manifestante revoltado, peça a seu dentista exemplares antigos desta revista (eles às vezes demoram a jogar fora). Você lerá neste mesmo espaço a constatação óbvia: que Dilma Rousseff atuou em defesa da boquinha (suja) dos companheiros do PDT, que lhe dão sustentação política. Você lerá que Dilma, a faxineira, a dona da vassoura contra os malfeitos, era cúmplice - repetindo, caso você tenha cochilado: cúmplice - de um esquema parasitário que continuaria assaltando os cofres públicos, com seus convênios de capacitação do nada, e sua tecnologia de institutos mundiais da empulhação.

E aí está. O novo escândalo do Ministério do Trabalho é o velho escândalo do Ministério do Trabalho. Acalentado ao longo dos anos pelo governo popular, o mesmo que acaba de enterrar a CPI da Copa, do mesmo partido que omitiu repasses do esquema de Valério para o segurança pessoal de Lula.

Nada disso aparece no "recado das ruas". Esses dentistas devem estar exagerando na anestesia.


Pode e não pode - J. R. GUZZO

REVISTA VEJA


A política, como dizia Groucho Marx, é a atividade que se destina a procurar sem descanso algum problema, achar o problema, fazer o diagnóstico errado para ele e receitar remédios que deixam as coisas ainda piores do que estavam. O comediante americano era realmente um craque em explicar para o ser humano comum o ridículo em estágio terminal de tantas questões que lhe são apresentadas como complicadíssimas, e que só mentes superiores são autorizadas a tratar. Se estivesse vivo hoje, ele talvez dissesse "política internacional" em vez de apenas "política". Não iria perder a oportunidade da piada diante dessa prodigiosa guerra da Síria, uma rixa de terceira categoria que se tornou uma das guerras civis mais cruéis dos nossos dias — e pouco a pouco se viu transformada pelos estadistas que nos governam numa crise mundial, com tudo aquilo a que as crises mundiais têm direito. Um não problema se tornou um problemaço, as explicações a respeito de suas causas não explicam nada e todas as soluções propostas para resolvê-lo são ruins.

Como é possível, para começar pelo começo, que um lugar como a Síria possa se tornar o foco central de um conflito que ameaça o equilíbrio do mundo inteiro? Com todo o respeito à Síria e aos sírios, não faz sentido construir uma ameaça à paz mundial por causa de um país que tem um território menor que o do Estado do Paraná, população talvez inferior à da Grande São Paulo e um PIB estimado entre 60 e 70 bilhões de dólares — quase quarenta vezes menor que o do Brasil e menos do que os 110 bilhões que a Petrobras faturou em 2012. Não há nada ali, francamente, que valha grande coisa para o bem-estar da humanidade; se fosse posta à venda no mercado imobiliário, seria difícil encontrar comprador para suas áreas de deserto, pedra e areia. É duro levar a sério, além disso, a ideia de que esse modestíssimo pedaço do planeta possa ser uma ameaça à segurança dos Estados Unidos, como o governo americano sustenta no momento com grande paixão — o que exigiria uma intervenção militar direta destinada a liquidar o atual governo da Síria e, assim, devolver a tranquilidade ao mundo.

Não faz sentido. O governo da Síria, na vida real, só ameaça a segurança dos próprios sírios: como sempre acontece com ditaduras primitivas, é contra eles que utiliza o seu arsenal. A comprovação disso é a brutal guerra civil que começou junto com o caos criado em diversos países muçulmanos da região, e que nestes dois últimos anos já matou mais de 100.000 pessoas. Um ataque militar à Síria, por esse prisma, teria também a utilidade de interromper o massacre — um motivo de caráter humanitário, digamos. Mas, no caso, não há um lado mau e um lado bom; há apenas dois lados que querem se exterminar mutuamente. Derrubar o atual governo sírio teria como único efeito prático garantir que a matança continuará a toda, só que agora sob a iniciativa dos rebeldes. E as armas químicas — o mundo deveria assistir quieto ao governo exterminar seus inimigos com gases sarin, tabun, VX e outros horrores, como fez num ataque recente em que morreram mais de 1.400 pessoas? Nos últimos dias o foco central de tudo passou a ser uma insana discussão sobre a existência ou não de provas sobre o uso de armamento químico, e a abertura do arsenal da Síria para inspeção internacional. Algo assim: se não for comprovada a sua utilização, poderia haver uma "saída diplomática" para a crise. Ficaria combinado, para satisfação geral, que matar 100.000 pessoas a bala ou tiro de canhão é aceitável; o que não se pode aceitar é que o governo mate gente com compostos organofosforados capazes de fritar o sistema nervoso central do inimigo.

Argumenta-se, enfim, com a necessidade de golpear duro o terrorismo internacional, que a Síria protege, estimula e financia. Não está claro o que os Estados Unidos conseguiram até agora, com sua ofensiva mundial antiterrorista destinada a vingar a destruição do WTC de Nova York, doze anos atrás. Ao longo desse tempo todo, conseguiram matar dois inimigos mortais — Saddam Hussein e Osama bin Laden. Em troca desses dois, 7.000 soldados americanos já morreram nas ações contra o terrorismo, dois países, Iraque e Afeganistão, foram invadidos militarmente e 2 trilhões de dólares, soma que a longo prazo pode dobrar ou triplicar, saíram do Tesouro americano para pagar a conta. E no que deu isso tudo? Deu que é preciso começar uma guerra nova em folha, agora contra a Síria.

É a soma do falso problema com a falsa solução e o falso resultado.

Golpe na Energia Verde - ANA LUIZA DALTRO

REVISTA VEJA


Ao vender gasolina subsidiada, o governo quebrou a indústria do etanol, o combustível limpo e 100% nacional


Há cinco anos, nenhum empresário se arrisca a investir dinheiro para construir uma usina de etanol no Brasil. A venda do álcool nas bombas vem caindo, e 41 unidades de produção deixaram de funcionar desde 2008. A crise do combustível verde já levou à demissão de 45.000 trabalhadores. A quebradeira nas usinas faria supor que a Petrobras estaria acumulando lucros crescentes, vendendo mais gasolina e diesel. Nada mais errado. Forçada pelo governo a postergar reajustes, a estatal tem amargado prejuízo mensal de 1 bilhão de reais com a comercialização dos combustíveis. Desde 2011, a perda alcança 38 bilhões de reais, um montante equivalente a um terço dos 120 bilhões de reais obtidos com a venda de ações em 2010. Quanto mais a Petrobras vende, mais ela perde dinheiro. Incapaz de atender ao aumento do consumo, a empresa, aquela mesma que há poucos anos festejava a autossuficiência, precisa importar volumes crescentes de combustíveis e os distribui no mercado interno a um preço subsidiado.

O Brasil sonhou se tomar a Arábia Saudita da energia verde ao ser o primeiro país a utilizar em larga escala um combustível renovável. Depois, com a descoberta das reservas do pré-sal, imaginou ser um grande exportador de petróleo. A política de preços dos combustíveis, entretanto, obteve o mérito duplo (e duvidoso) de ter arruinado as perspectivas de investimentos no etanol ao mesmo tempo em que retardou a exploração do petróleo. Espera-se que o governo autorize, nos próximos dias, uma alta em torno de 5% para a gasolina e o diesel. A defasagem, contudo, está hoje em 30%. Tamanha alta teria impacto de 1 ponto porcentual na inflação, que subiria para além do teto da meta de 6.5% ao ano. O governo, em vez de controlar a inflação com medidas duras mas perenes, como o aumento mais rápido na taxa de juros e um corte profundo nas despesas públicas, optou pelo atalho canhestro da manipulação de preços. Resultado: quebradeira em série de usinas e queima de recursos que a Petrobras deveria usar na exploração do pré-sal.

"Não precisamos de subsídios. Tudo o que o setor do etanol pede é uma política racional de formação de preços para a gasolina, compatível com o mercado e com a real demanda", afirma Elizabeth Farina, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única). Estimativas do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) mostram que o potencial de consumo de etanol seria da ordem de 34 bilhões de litros. O volume é o triplo do que deverá ser vendido em 2013. Ao mesmo tempo, a importação de gasolina nos sete primeiros meses do ano foi de 2,5 bilhões de litros, um aumento de 400% em relação a 2010. Segundo Adriano Pires, diretor do CBIE e um dos maiores especialistas do país no setor de energia, desatar os nós da indústria do etanol e do petróleo exigiria elevação de pelo menos 20% no preço da gasolina e do diesel, um índice considerado inviável politicamente.

"Políticas de congelamento são sempre fáceis de adotar, porque dependem somente da vontade do governo", afirma Pires. "O difícil e" desembarcar de uma política populista como essa."

O Brasil, assim, fica exposto a uma fragilidade que já parecia ter superado. Nos anos 70, o país viu seu milagre econômico ser abreviado pela crise do petróleo. Houve racionamento de combustíveis, e os gastos com as importações arrasaram com a balança comercial. Da crise nasceu o Pro álcool, plano que contou com seus anos de glória. A maior parte dos carros feitos no país rodava movida a etanol. Em meados dos anos 80, entretanto, a queda nas cotações do petróleo derrubou o preço da gasolina, e ter carro a álcool se tornou um mico. A ressurreição do etanol veio com a tecnologia flex. Agora, mais uma vez, o combustível verde tem seu futuro posto à deriva. Apenas grandes produtores, que também operam na distribuição, como a Cosan, estão conseguindo lucrar com o etanol. "O prejuízo não é somente dos usineiros", diz Manoel Ortolan, presidente da Organização de Plantadores de Cana da Região Centro-Sul. "Perdem as empresas fornecedoras das usinas, os municípios onde elas estão instaladas, os trabalhadores e o meio ambiente." Para mitigar a crise, o governo concedeu benefícios tributários, incentivos incapazes de dar nova vida aos investimentos. "Sem foco a longo prazo, o governo quebra empresas e a própria continuidade da inovação tecnológica", diz Adriano Pires. "A política de controle de preços conseguiu, em um curtíssimo espaço de tempo, destruir dois ícones nacionais: a Petrobras e o etanol."

A ética das baratas - LUIZ FELIPE PONDÉ

FOLHA DE SP - 16/09

A natureza mata sem pena pobres e oprimidos, ela é a maior opressora da face da Terra


As pessoas têm crenças desde a pré-história. Nossa constituição frágil é uma das razões para tal. Hoje, cercados de luxo e levados a condição de mimados que somos, até esquecemos que há anos atrás mais da metade de nossas mulheres morriam de parto. Elas viviam por conta de ficarem grávidas e pronto. Hoje existe essa coisa de "escolha", profissão, filhos depois da pós, direitos iguais, ar-condicionado, reposição hormonal, bolsa Prada.

Esquecemos que direitos e escolhas são produtos mais caros do que bolsa Prada. Pensamos que brotam em árvores.

Mas existem crenças mais frágeis do que outras, algumas que beiram o ridículo. E algumas delas até recebem bênçãos de filósofos chiques.

Em 1975, o filósofo utilitarista australiano Peter Singer publicou um livro chamado "Animal Liberation", que deixou o mundo de boca aberta.

Para Singer, "bicho é gente" (porque também sente dor). A partir daí, ele encampou toda uma gama de militantes que gostaria de tornar a alimentação carnívora um crime como o canibalismo.

Achar que se pode comer animais se basearia no preconceito de que os animais seriam "seres inferiores", daí o conceito de "especismo" como análogo ao de "racismo", o conhecido preconceito contra certas raças que foram consideradas inferiores no passado.

Tudo bem a ideia de que devemos tratar os animais com respeito e carinho e sem maus-tratos (eu pessoalmente gosto mais dos meus cachorros do que de muitas pessoas que conheço, e um deles é mais inteligente do que muita gente por aí), mas esta discussão quando toca as praias dos fanáticos puristas (essa praga que antes era limitada a crente religioso, mas hoje também se caracteriza por ser um ingrediente do fanatismo sem Deus de nossa época) é de encher o saco. Se um dia eles forem maioria, o mundo acaba.

O mundo não sobreviveria a uma praga de pessoas que não usam sapatos de couro porque os considera fruto da opressão capitalista contra os bichinhos inocentes.

Ainda bem que esta "seita verde" tende a passar com a idade, e aqueles que ainda permanecem nessa depois de mais velhos ou são hippies velhos que fazem bijuteria vagabunda em praças vazias (tem coisa mais feia do que um hippie velho?) ou são pessoas com tantos problemas psicológicos que esta pequena mania adolescente até desaparece no meio do resto de seus sofrimentos com a vida real.

Recentemente ouvi uma história hilária: alguém contra matar baratas porque não se deve matar nenhuma forma de vida. Risadas? É bom da próxima vez que alguém te convidar para ir na casa dela você checar se ela defende os direitos das baratas.

Nem Kafka foi tão longe ao apontar o ridículo de um homem que, ao se ver transformado num enorme inseto marrom, se preocupou primeiro com o fato de que iria perder o bonde e por isso perder o emprego.

Eu tenho uma regra na vida: quando alguém é mais ridículo do que alguns personagens do Kafka, eu evito esta pessoa.

Às vezes me pergunto o que faz uma pessoa razoável cair num delírio como esse. Como assim "não se deve matar nenhuma forma de vida"?

A pergunta é: essa moçadinha seguidora de uma mistura de filosofia singeriana aguada e budismo light (com pitadas de delírio) já olhou para natureza a sua volta?

A natureza é a maior destruidora de vidas na face da Terra. Ela mata sem pena fracos, pobres e oprimidos. A natureza é a maior "opressora" da face da Terra. E mais: normalmente essa moçadinha é bem narcisista e muito pouco solidária com gente de carne e osso.

Se todo mundo defender o direito da baratas, um dia vamos acordar com baratas na boca, nos ouvidos, na xícara do café da manhã. A mesma coisa: se não comermos os bois e as vacas, eles vão fazer uma manifestação na Paulista pedindo direito a pastos de graça ("os sem-pastos") para garantir a sobrevivência de seus milhões de cidadãos bovinos.

Pergunto a esses adoradores de baratas: ele já pensou que as alfaces também sofrem? ela já pensou que quando come uma alface está interrompendo toda uma vida feliz de fotossíntese? Que as alfaces também choram? Malvados e insensíveis...

Novidades da terrinha - LÚCIA GUIMARÃES

O Estado de S.Paulo - 16/09

Você nota quando chega ao aeroporto. Pisa firme na cidade que considera sua, mas logo começa a tropeçar em detalhes que traem a distância. Sua expectativa de empurrar a bagagem para a saída sem ser bloqueada por parentes de passageiros e taxistas suspeitos, oferecendo um desconto no trajeto para a zona sul do Rio via Niterói é recebida com incredulidade. Quem ela pensa que é? Quer ir do ponto A ao ponto B sem passar por N obstáculos?

Quando me mudei para Nova York tentei aplicar minha malandragem carioca à temida malandragem dos motoristas de táxi locais. Naquela época, você não precisava ter conhecimentos de urdu, hindi ou bengali para se comunicar com eles. Ia cobrir um evento no Norte de Manhattan, bem acima da área que considerava território familiar e, para evitar ser enganada no trajeto, disse ao afro-americano: o senhor vai subindo a Broadway. Percebendo a ignorância da passageira, o motorista reagiu com um suingue digno da Ella Fitzgerald: "Madame, pela Broadway nós podemos ir até o Canadá". Afundei no assento lembrando o ditado que vale para as duas cidades: Malandro demais se atrapalha.

Você nota quando reencontra os parentes. Detecta um olhar divertido de quem está contabilizando mentalmente o que a distância operou na sua aparência, no seu ritmo e, ó indignidade, no sotaque. Às vezes, ouve explicações detalhadas sobre uma tendência ou comportamento e começa a desconfiar que lhe veem de roupa de safári, não da coleção do Michael Kors para 2014, mas da coleção usada pelo Dr. Livingstone na Tanzânia, no final do século 19.

Numa primeira visita que fiz a Lisboa, o romancista português Mario de Carvalho me encontrou para uma entrevista no café A Brasileira e me lembrou que colonizados como nós e os indianos falam uma versão arcaica da língua do colonizador. A independência faz com que a linguagem coloquial congele no tempo expressões herdadas. Os portugueses, ele me explicou pacientemente, nem se lembram mais de uma frase como "você vai ver com quantos paus se faz uma canoa".

Ele descreveu, em parte, o que faz o exílio voluntário. Minha independência para recomeçar em outra cultura congelou mais do que expressões idiomáticas. E não adianta viver online para ter a ilusão da presença. Quando o motorista de táxi assiste ao jogo do Botafogo na tela do GPS enquanto dobra a Curva do Calombo na Lagoa como se fosse o Massa tentando se qualificar numa prova, você pergunta, isso agora pode? Mas é a pergunta errada, claro.

Quando parti daqui, um presidente do tribunal máximo do País não sonharia em ser grosso com a presidente da República na frente do papa. E não seria aplaudido na mídia social pela quebra de decoro. Afinal, ao contrário dos bebês atirados pela janela no cortejo pelo centro do Rio, o magistrado só chegou perto do papa pelo cargo público que ocupa. E, não importa em quem ele votou, a instituição da presidência tem precedência sobre a picuinha pessoal. Ou não tem mais?

Faço o possível para não chamar atenção além da evidente falta de bronzeado. Mas cabeças se viraram para a minha mesa num café do Jardim Botânico, quando pedi ao garçom: Pode colocar duas doses de expresso no meu cappuccino? "Isto não existe", ele respondeu, com evidente paternalismo no tom. Insisti e ele levou o pedido ao balcão como se tivesse acabado de encontrar um homenzinho verde com antenas na cabeça.

Passei o fim de semana estudando embargos infringentes, uma noção obscura demais para uma anglófila simplória. Não é à toa que essa figura do Direito nasceu, dizem, da desordem judiciária da monarquia portuguesa. Procurei uma tradução para o inglês, mas o sistema legal norte-americano é igualitário demais para acomodar a noção. Quem sabe se, com a nossa crescente influência continental, vão importar a aberração judiciária e começar a blindar compadres do Obama.

A praça de Maneco - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 16/09

RIO DE JANEIRO - Em sua biografia de Manuel Antonio de Almeida, de 1943, Marques Rebelo observou que o Rio, pródigo em ruas Dona Maria, Dona Mariana e Dona Zulmira, ainda não concedera nem um beco para Maneco (1831-1861), autor de "Memórias de um Sargento de Milícias", de 1854. Normal, eu diria, numa cidade em que o repolhudo Graça Aranha ganhou uma avenida no centro; Machado de Assis, um simples quarteirão no Catete; e João do Rio, uma rua em Botafogo, mas com seu nome verdadeiro, Paulo Barreto, que poucos sabem quem foi.

Graças talvez a Marques, o Rio se reabilitou em relação a Manuel Antonio de Almeida em 1959, dando-lhe uma praça no bairro da Saúde, adjacente à praça Mauá e à rua Américo Rangel, bem no início da Sacadura Cabral. Por acaso ou não, a apenas oito quarteirões da rua do Propósito, na Gamboa, onde Maneco nasceu.

Outro dia, ao visitar o magnífico MAR (Museu de Arte do Rio), resolvi atravessar a rua e conhecer a praça Manuel Antonio de Almeida. Mas ela não estava mais lá. Em seu lugar, um canteiro de obras do Porto Maravilha, cercado por um tapume.

Pelos últimos 30 anos, entusiasmei-me com vários projetos de revitalização da zona portuária do Rio, apenas para constatar, decepcionado, que nada saía do papel. Mas a que está em curso é para valer. As obras estão à vista em toda a região, no que pode ser uma nova abertura dos portos para o Rio, como a de 1808.

Neste momento, Manuel Antonio de Almeida está soterrado por galpões, guindastes, contêineres, andaimes e entulho. Mas estou confiante de que, concluída a obra, os técnicos do Patrimônio e dos sítios históricos do Rio lhe devolverão a praça e, finalmente, farão justiça a quem, com a obra-prima "Memórias de um Sargento de Milícias", inaugurou o realismo na literatura brasileira e nos deu a nossa primeira arqueologia urbana.

Erros velhos de volta - MAILSON DE NOBREGA

REVISTA VEJA

Erros velhos retornaram. Seus maus efeitos também: inflação teimosamente alta, contas externas em deterioração e credibilidade da política econômica no chão. Tornou a ser mais vantajoso investir tempo em Brasília do que em eficiência nas empresas. A produtividade caiu e com ela o potencial de crescimento. O recente resultado do PIB foi bom, mas não há sinais de que se repetirá em futuro próximo.

O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci dizia que o governo Lula cometeria apenas erros novos. Era uma forma de ganhar confiança e realçar o aprendizado com erros velhos. Antes das eleições de 2002, Lula havia divulgado a Carta ao Povo Brasileiro para tranquilizar investidores. O PT se comprometia a manter a responsabilidade fiscal e o controle da inflação. Mesmo assim, temeu-se que a "carta" fosse mero estratagema eleitoral. Caso Lula se elegesse, haveria uma ruptura com padrões sensatos de gestão econômica.

Os temores tinham fundamento. O título do programa do PT aprovado em 2001 era claro: "A ruptura necessária". Sobravam sandices econômicas como um limite para o pagamento dos juros da dívida pública. Se ultrapassado, viria o calote. Era a natural interpretação. Prometia-se "definir claramente o papel e as tarefas das empresas multinacionais". Por essa maluquice, o PT prometia impor a estratégia produtiva de tais empresas. E por aí afora.

Além do esforço de Palocci para acalmar os mercados, escolheu-se Henrique Meirelles, um banqueiro, para presidir o Banco Central. Funcionou. A percepção de risco do país despencou. O dólar, que chegara perto de 4 reais em outubro de 2002, caiu para 3,5 reais no início do governo, e continuou a diminuir. Novas reformas estruturais e a preservação da autonomia operacional do BC reforçaram a credibilidade conquistada. O Brasil pôde beneficiar-se da boa fase da economia mundial, particularmente da China, e dos ganhos de produtividade decorrentes de reformas anteriores. O PIB cresceu mais, o que aumentou o emprego e a arrecadação tributária. Asseguraram-se, assim, a expansão dos programas sociais e a absorção, pela Previdência, dos reajustes do salário-mínimo.

O PT nunca se conformou com o abandono de suas ideias. As críticas à política econômica se intensificaram após a saída de Palocci (2006). Em 2008, o êxito da reação aos efeitos da crise financeira mundial - expansão fiscal, relaxamento monetário e aumento do crédito oficial - foi visto erradamente como prova da validade do dirigismo estatal. No governo Dilma, essa visão se acentuou. Velhas e malsucedidas ideias retornaram ao palco. A taxa de juros moveu-se por caprichos políticos. Ressuscitou-se a política de escolha de "campeões nacionais", via subsídios do BNDES. Ressurgiram o protecionismo e a política de substituição de importações, marcas do esgotado nacional-desenvolvimentismo. Uma excessiva e custosa intervenção estatal atingiu o setor elétrico. Reapareceu o controle de preços na gasolina e no diesel, o que prejudica a Petrobras e os produtores de etanol. O combate à inflação passou a se valer do controle dos índices, sabidamente ineficaz.

Na área fiscal - que havia contribuído para a estabilidade, a credibilidade da política econômica e o prestígio externo do país -, a velha "conta movimento" renasceu sob outra forma. Por ela, o BC supria o Banco do Brasil de recursos ilimitados, permitindo a concessão de subsídios sem autorização legislativa. Agora, os atores são o Tesouro e o BNDES. O primeiro fornece recursos a perder de vista ao segundo, o que aumenta a dívida pública e transforma o banco em fonte de subsídios, também sem a sanção do Congresso. A contabilidade criativa, que busca disfarçar a expansão excessiva dos gastos públicos, reproduz a baixa transparência do passado.

Felizmente, as instituições brasileiras, nelas incluída a imprensa livre, e as reações dos mercados impõem limites à continuidade de tais equívocos. Em algum ponto, eles serão revertidos, como já ocorreu com a devolução, ao BC, da capacidade de conduzir a política monetária, embora ainda se duvide da irreversibilidade da mudança. O custo virá na forma de menor potencial de crescimento, como já se vê. Menos mal.

Melhor é tornar possível - LIGIA BAHIA

O GLOBO - 16/09

Entre feridos e ofendidos pelas escaramuças sobre a importação de médicos salvaram-se a entrada da saúde, pela porta da frente, na agenda pública e o retorno do uso de verbos no futuro pelas autoridades governamentais. A saúde não é mais um teminha qualquer, veio para ficar. As demandas expostas nas ruas por atenção e cuidados foram respondidas com medidas que obviamente visam às eleições de 2014, mas só terão credibilidade se ultrapassarem os mandatos dos atuais governantes. Quando a polêmica sobre o sistema público de saúde fica tão intensa significa que todo mundo tem alguma dose de razão. Ter médicos é melhor do que não ter, e é possível e plausível atraí-los para trabalhar em cidades do interior bem como realizar testes, compatíveis com as necessidades do país, para revalidar diplomas de estrangeiros. O Brasil não deve e não precisa se desviar da rota que conduz à organização de um abrangente e sólido sistema público de saúde para todos.

Nesse momento, a pressa em encontrar marcas para as campanhas de candidatos a governador e presidente se conjuga com a necessidade de adicionar veracidade às propostas de expandir a oferta de médicos. Assim, a tradicional exibição e ocultamento de feitos, não feitos e defeitos pode ser substituída pelos compromissos de fazer. A convocação de médicos cubanos foi viabilizada mediante um acordo entre governo federal, congresso nacional e prefeitos que excluiu as entidades médicas. O bypass mudou o dono da carapuça. Anteriormente, as acusações de insensibilidade e desassistência vestiam como luva nos governos.

A maioria dos médicos rala muito e procura manter um atendimento digno. Mas quem não lembra das notícias divulgadas em 2011 sobre partos realizados por médicos em prisioneiras algemadas? E do slogan "o médico vale muito", lançado por um dos conselhos regionais de medicina, que sequer menciona a população? Essas atitudes, somadas a greves arrastadas que atrasam os já ultradilatados prazos para os agendamentos de assistência, supõem a existência de solidariedade de mão única. Não é assim que a banda toca. Os pacientes se impacientaram, exigem serviços públicos de qualidade, aceitam a vinda de médicos cubanos e rejeitam as tentativas de imposição da "cura gay" atestando para todos os fins que os brasileiros não são reacionários. Não é por culpa da "sociedade" que se deixa de debater aspectos essenciais à saúde como as relações entre a arrecadação de impostos e contribuições e o uso desses recursos, a descriminalização do aborto, o uso intensivo e abusivo de agrotóxicos e restrição à propaganda de alimentos, bebidas e medicamentos.

Desonerar e investir recursos públicos na fabricação de automóveis e motos que comprometem a mobilidade urbana provocam acidentes e mortes, e conceder fartos benefícios aos planos privados, setores que empregam menos do que saúde pública e educação, são opções políticas. E se alguém ainda acredita que melhor saúde, melhor assistência e menor custo são objetivos totalmente compatíveis entre si, basta dar uma olhada para ver o que se passa no resto do mundo. Experiências de focalização e de apartheid na saúde deram errado. A redução de riscos à saúde e a expansão da formação de profissionais de saúde, criação de carreiras do SUS e prestação continuada de atenção qualificada à população requerem suportes financeiros adicionais.

Neste momento, em que a saúde é considerada em diversas pesquisas de opinião o principal problema e ao mesmo tempo responde por alterações nas avaliações sobre o governo Dilma, não dá para dizer que haverá mais SUS e mais médicos, sejam estrangeiros ou brasileiros, sem aumentar efetivamente o orçamento. A recusa do governo federal de destinar 10% da receita bruta à saúde será uma escolha pelo racionamento da assistência médica. Os 25% dos royalties do pré-sal acrescidos a uma parcela dos projetos setoriais das emendas parlamentares representam valores inferiores aos previstos no projeto de emenda popular, apoiado pela assinatura de mais de dois milhões de eleitores.

Ninguém se arrisca a dizer que a importação dos cubanos é uma panaceia. Mesmo assim, as frases prediletas para anunciar mais médicos procuraram transmitir uma determinação radical. A mais popular é "farei o possível e o impossível para garantir médicos" O impossível, decodificado, significa encontrar médicos onde for, até na China. Daqui a pouco, algum incauto dirá que a solução é importar um lote de bilíngües que falem português e javanês. É a repetição de discursos de quem não sabe ou não acredita no que fala que conduz à despolitização da saúde e sua captura por interesses particulares. Se um leigo pode entender e opinar, ainda que seja superficialmente, sobre embargos infringentes, poderá também participar de decisões cruciais sobre saúde.

O que está sendo discutido é se o Brasil vai fazer o dever de casa na saúde ou apenas promover mais um programa que custa dinheiro e dá pouco resultado em termos de melhoria das condições de vida. As alternativas para tornar o SUS acessível, qualificado e dotado de recursos suficientes e estáveis requerem a reunião de quem aposta e precisa que suas ações sejam bem-sucedidas com usuários do SUS, médicos, professores de medicina, especialistas em planejamento de sistemas de saúde e educacionais que questionem o impacto e longevidade das atuais proposições do governo. : Sem controvérsias, far-se-á menos do que o possível.

Os apelos de Francisco - GILLES LAPOUGE

O Estado de S.Paulo - 16/09

PARIS - O Vaticano se mexe. Ele parece estar redesenhando algumas diretrizes da Igreja, mas o faz à sua maneira, em aparência desenvolta, mas, sem dúvida, muito refletida. Um dia ele faz uma confidência leve. Noutro, dirige-se ao mundo inteiro com veemência a favor da paz na Síria. Ou ainda, um de seus ministros solta uma ideia e essa ideia é uma "bomba" (o questionamento do celibato dos padres). Em outras ocasiões, ele permanece em silêncio enquanto se aguarda a sua palavra. Em suma, o papa Francisco é um comunicador excepcional.

O celibato dos padres. Nada de novo. Fala-se disso há dois mil anos. É assunto requentado. Há muito que os teólogos nos informam de que essa regra não é um dogma, mas uma decisão tardia (século 11) tomada para evitar complicações sobre a herança dos filhos de padres. E, com certeza, um teólogo é muito inteligente, mas não é um homem de governo.

CELIBATO
Alguns dias atrás, porém, a hipótese do fim do celibato foi evocada não por um filósofo, mas por um homem do aparelho, o novo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin. Em outros tempos, se um prelado se aventurasse a semelhante derrapada teria sido chamado às falas no mesmo dia, com uma advertência glacial. Nada disso, desta vez. Entretanto, como há alguns dias Francisco defendeu o celibato, as pessoas ficaram perplexas.

Outra surpresa: o encontro do papa com o peruano Gustavo Gutiérrez Merino, fundador da Teologia da Libertação em 1971, esta teologia com "cheiro de heresia" e odor de marxismo. É bem verdade que Gutiérrez não foi tão longe como outros padres, sobretudo brasileiros, e que foi até absolvido do pecado "marxificante" nos anos 80. Pouco importa: o papa parece disposto a abrir um capítulo doloroso, o da pobreza.

Em 4 de outubro, ele foi a Assis, a cidade do primeiro Francisco, na Idade Média, do qual se sabe a compaixão que sentia pelos despossuídos, os ofendidos e os abandonados. E o papa lançou, alguns dias atrás, um apelo estranho: gostaria que os conventos vazios fossem abertos aos "refugiados" em vez de serem convertidos em bens de hotelaria para ganhar dinheiro. O papa lembra um daqueles agitadores que, nas cidades grandes, pregam pelos sem-teto e contra as ricas residências vazias dos "grandes" deste mundo (uma ideia incendiária).

Francisco gritou, enfim, de sua sacada, seu horror à guerra, e rezou para que a Síria fosse poupada das bombas. Será o caso interpretar essa insistência à luz dos perigos que cercam os cristãos do Oriente? Seu calvário é conhecido: os cristãos assassinados no Iraque, os coptas do Egito que durante o reinado da Irmandade Muçulmana perderam tantas vidas.

É preciso acrescentar a essa terrível ladainha os cristãos sírios. Nos últimos tempos, circulam informações angustiantes. A cidade de Maalula, perto de Damasco, que possui sítios arqueológicos trogloditas que abrigaram cristãos nos primórdios do cristianismo e cujos habitantes ainda falam o aramaico, a língua de Jesus Cristo, teria sido atacada e seus habitantes massacrados por milicianos da Frente Al Nusra, a mais feroz das organizações radicais islamistas.

MASSACRES
Testemunhos estarrecedores nos chegam. Serão autênticos? O poder corrente de Bashar Assad confirmou os crimes, fez publicidade deles. Os insurgentes os contestam. Eles acusam Assad de ter inventado os horrores para intimidar os ocidentais e impedi-los de entregar armas a uma rebelião cada vez mais infiltrada pelos islamistas mais sanguinários.

Acaso será nomeada uma comissão da ONU para investigar esses crimes? E quando ela entregará suas conclusões? Em seis meses, um ano./TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

O papel do advogado - EDUARDO DE MORAES

O GLOBO - 16/09

As vésperas do desfecho da Ação Penal nº 470 - a do mensalão -, nos deparamos com artigos variados, cujos autores, tanto leigos quanto profissionais do Direito, abordam a lentidão do julgamento, com críticas a alguns ministros pelos extensos votos. Outros, em número menor, contaminados pela pressão popular por uma condenação, fulminam o papel do advogado criminal.

É preciso reconhecer como salutar para a democracia e para uma justa decisão judicial a apresentação de recursos - os embargos de declaração e os infringentes - e os profundos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal, com suas discussões e debates acalorados.

E não há como se indignar com o fato de alguns definirem o papel do advogado, e sua efetiva contribuição para a sociedade democrática, com expressões como "chicaneiro" e "manuseador de medidas protelatórias". Fazem um desfavor à Justiça.

A Constituição brasileira, em seu artigo 5º, LIV, garante que "aos acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes". É dever e direito do advogado utilizar-se do recurso, ferramenta legítima e jurídica, tantas vezes quantas nosso ordenamento jurídico permitir, buscando reverter o que se entende como injustiça.

Mais grave, ainda, são aqueles que questionam se seria ético o advogado criminal defender acusado de ato lesivo ao interesse público. É ética, legítima e legal, sim, nossa atuação profissional. O estado democrático tem princípios básicos: do devido processo legal; da ampla defesa; da legalidade; da razoabilidade; da presunção de inocência; da proporcionalidade.

Importante lembrar a secular resposta de Rui Barbosa a Evaristo de Moraes, encartada em "O dever do advogado". Naquela oportunidade, meu avô, ao consultar o nosso patrono, Rui Barbosa, sobre a conveniência de atuar na defesa de um adversário partidário de ambos, ouviu a resposta: "Tratando-se de um acusado em matéria criminal, não há causa em absoluto indigna de defesa. Eis por que, seja quem for o acusado, e por mais horrenda que seja a acusação, o patrocínio do advogado, assim entendido e exercido assim, terá foros de meritório, e se recomendará como útil à sociedade."

E sobre aqueles que criticam a cobrança de justos honorários, importante salientar que, seja quem for o cliente, incumbe ao advogado trabalhar, com afinco e sem constrangimento, sendo devidamente remunerado, como em toda e qualquer profissão. Nas palavras, novamente, de Rui Barbosa, o verdadeiro advogado é aquele que não nega "jamais ao atribulado o consolo do amparo judicial e nunca fez da banca balcão, nem da ciência, mercadoria".

Esse é o nosso papel. E nossa contribuição para a democracia. Sem adjetivos, sem excessos. Cumprimos a Constituição. Nos orgulhamos de nosso trabalho. E não criamos recursos jurídicos. Seguimos a Lei e as leis. São os nossos parâmetros.

MEIGA E ABUSADA - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 16/09

"Ele foi ousadinho", diz Bruna Marquezine sobre o modo como Neymar chegou nela, em entrevista à revista "Joyce Pascowitch" deste mês. Ele pegou o telefone dela com uma amiga. Indagada se ele é bonito, disse: "Acho lindo".

CÉU AZUL
O Índice de Confiança dos Pequenos Negócios (ICPN) deu um salto nos últimos meses no Brasil: 95% dos empresários desse setor acreditam que seu faturamento vai se manter ou até aumentar nos meses de setembro e outubro. No mês anterior, esse percentual era de 75%.

NO CARGO
Do total de entrevistados pelo Sebrae (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), 97% pensam em contratar ou manter seu quadro de pessoal.

VIDA NOVA
O publicitário Duda Mendonça vendeu suas cotas na DM/Blackninja aos sócios. Pretende agora se dedicar a consultorias institucionais, permanecendo no conselho de administração da agência de publicidade. Ele mantém também suas empresas de comunicação em Portugal e na Polônia.

ZERO A ZERO
Quase um ano depois de absolvido no mensalão e com os bens enfim desbloqueados, Duda Mendonça afirma que está vendendo parte do patrimônio também para "pagar dívidas" que acumulou no período e "zerar" suas pendências --inclusive com advogados.

THRILLER
E mais um filme sobre o mensalão está no forno: "AP 470 - Um Julgamento Medieval" será roteirizado pelo jornalista Raimundo Pereira e ancorado por Fernando Morais. O enredo já inspirava três longas: um deles produzido por Luiz Carlos Barreto, o outro, pelo ator José de Abreu, e um terceiro, de Tata Amaral, sobre José Dirceu.

MESTRE NO SET
Jerry Lewis vai aparecer em quatro cenas de "Até que a Sorte nos Separe 2", nova comédia do brasileiro Roberto Santucci. Aos 87 anos, o comediante americano participou de dois dias de filmagens em Las Vegas. "Ele é muito bem-humorado e se deu bem com o Leandro [Hassum, o protagonista]", diz o produtor Caio Gullane. Lewis faz o papel de um mensageiro do hotel-cassino que é cenário do longa.

PELO MUNDO
Depois de 90 festivais nacionais e internacionais e 25 prêmios, o longa "O Som ao Redor" estreia no México neste mês, quando será lançado o DVD com sete horas de extras e o making of "Filmando o Som". O filme do pernambucano Kleber Mendonça Filho chega à França em janeiro com o nome de "Les Bruits de Recife". Ele já foi lançado também nos EUA, Inglaterra e Canadá.

DEVAGAR
Após as manifestações de junho, o transporte público chegou à pior avaliação dos últimos 17 meses, com 16,8% de aprovação, segundo o Índice Nacional de Satisfação do Consumidor, da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). Em janeiro, era bem avaliado por 35,4%.

REMÉDIO
O ex-presidente Lula visitou Luiz Gushiken na quinta passada, no hospital Sírio-Libanês. Saiu do quarto com os olhos cheios de lágrimas. Contou que se lembrou de quando seu vice, José Alencar, estava internado em estado grave, e pediu aos médicos que suspendessem toda a medicação que tomava.

DELÍCIA
Guga Rocha, apresentador de "Homens Gourmet" (Fox), lança o livro "Receitas para Pegar Mulher", pela Matrix Editora. O chef lista menus para 32 perfis de mulheres: de esotéricas a "ratas de academia". Diz ele que algumas receitas conseguem até seduzir as ainda virgens. "Vamos começar acariciando o estômago", propõe. E sugere cardápio com ceviche, talharim ao molho de lagostim e musse de maracujá ("para relaxar antes do beijo na boca").

NOITES TROPICAIS
O primeiro fim de semana do Rock in Rio teve na plateia as atrizes Juliana Paes, Flávia Alessandra e Sophie Charlotte. Entre os casais que passaram pelos camarotes do festival estavam o empresário Bruno Setubal com Paula Drumond e o jogador de vôlei Giba com a fisioterapeuta Malu Daudt.

TRAÇO FINO
O ortopedista José Luiz Pistelli lançou o livro "O Lápis e o Bisturi", na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. O médico recebeu convidados como o restaurateur Rogério Fasano, o psicanalista Jorge Forbes e a diretora de marketing Patricia Cavalcanti.

CURTO-CIRCUITO
João Paulo Diniz, Alexandre Accioly, Bernardinho e Luiz Urquiza inauguram amanhã a primeira academia BodyTech Club da zona sul do Rio de Janeiro.

Viviane Mosé autografa hoje o livro "A Escola e os Desafios Contemporâneos", às 19h, na Livraria Cultura, na avenida Paulista.

A Fecomercio, o Sesc e o Senac lançam o Sampa CriAtiva, site que recebe sugestões de melhorias em SP.

Teses em debate - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 16/09

Vetos, embargos infringentes, MPs, as novelas de criação do Solidariedade e da Rede... A semana promete. O Brasil vive um momento de alta ansiedade e é preciso avaliar os caminhos num momento em que o Judiciário e o Legislativo estarão com a maioria dos holofotes. No caso do Judiciário, há quem considere que é hora de se repensar essa geração espontânea de partidos provocada pela garantia de acesso a tempo de tevê e ao fundo partidário. O mesmo vale para os tais embargos infringentes. Quanto ao Legislativo, a lição da semana passada é a de que o país precisa com urgência criar mecanismos mais eficazes em relação às MPs. E aqui vale também incluir o Poder Executivo.

Os juristas estão boquiabertos com o que veem nos Poderes. Quanto aos embargos, o assunto em discussão e, sem dúvida, será fartamente analisado depois do voto do ministro Celso de Mello na quarta-feira. Portanto, que se vença esse período de comoção em relação aos mensaleiros para, de cabeça fria, estudar a tese.

Enquanto o STF faz a sua parte, seria de bom-tom os demais Poderes fazerem a deles. A forma como os congressistas e o próprio governo abusam das medidas provisórias está constrangendo muitos parlamentares e servindo para colocar mais piche na combalida imagem do Legislativo. Se antes o problema era o fato de o relatório ser feito em plenário, às pressas, agora, com um pouco mais de tempo para avaliar os textos, os congressistas transformam essas MPs em verdadeiros monstrengos.

O caso mais emblemático foi o da MP 615, aprovada na semana passada pelo Senado. A medida chegou ao Congresso com 16 artigos, incluindo o “esta MP entra em vigor na data da sua publicação” e o “revogam-se todas as disposições em contrário”. Saiu de lá com 47, sem contar esses dois artigos de praxe. De três assuntos, pulou para 21, incluindo oito solicitações do próprio governo e 10 dos parlamentares, sendo quatro do relator, o senador Gim Argello (PTB-DF).

Não vamos entrar no mérito dos pedidos, porque há algumas causas que podem ser justas. Mas a forma incomoda a muitos congressistas. Não é possível o país conviver mais com esses “trens” ou “jumbões” que abrigam tudo. A 615 tratou de subvenção aos canaviais do Nordeste a porte de armas, hereditariedade da concessão de táxis e atendimento a mulheres vítimas de violência.

A própria Casa Civil da Presidência da Republica foi quem pediu que se incluísse nessa MP a digitalização de documentos e o financiamento do Banco do Brasil para as instituições que vão abrigar o atendimento integral a mulheres vítimas de violência. A tese é válida, mas isso numa MP sobre subvenção de cana de açúcar e arranjos de pagamentos a cargo do Banco Central? Depois, nós, brasileiros, reclamamos quando os estrangeiros nos dizem que o Brasil é o país do jeitinho. Hoje, a impressão que se tem é a de que os Poderes constituídos, encarregados de zelar pelo fim do jeitinho, entraram nessa foto. Para sair dela, é preciso atitude. E rápido. Esta semana, tem mais três MPs na pauta. Pode ser um começo.

Enquanto isso, na Câmara...

Os partidos se mobilizam para mandar um recado à presidente Dilma Rousseff e derrubar o veto à Lei Anticorrupção, aprovada pelo Congresso como uma resposta aos protestos de junho. Quando da votação no Parlamento, houve acordo para que as penalidades legais somente fossem aplicadas se houvesse comprovação de que a empresa teve a intenção de fraudar ou corromper. Dilma vetou esse dispositivo.

A intenção dos deputados, além de, obviamente, restabelecer o texto que eles acordaram com o setor empresarial e o próprio governo, é deixar claro ao Planalto que acordo, depois de fechado, é para ser mantido. Ou seja, os líderes do governo não podem fechar um acordo no Congresso e, depois, no Planalto, a presidente vetar o que foi defendido pela equipe dela no Parlamento.

Esse recado só será possível graças ao novo rito dos vetos. Até aqui, quando eles não entravam na pauta do Legislativo em 30 dias, rompiam-se acordos sem grandes consequências. O governo corria o risco de vetar um dispositivo acordado numa legislatura, porque sabia que o veto seria analisado muitos anos depois, quando o acordo estava esquecido. Agora, com a memória do Congresso fresquinha, o Poder Executivo terá que ser mais zeloso com o que aceita do Parlamento, sob pena de surpresas desagradáveis.

Por falar em surpresas...

Veremos o que a vida reserva a Paulinho da Força esta semana no TSE. É bem provável que ele consiga sair com a criação do Solidariedade e levar, pelo menos, uns 20 parlamentares. Falta a Rede de Marina, cada vez mais frágil por conta dos prazos. Faltam 20 dias e, enquanto isso, Lula observa e diz à presidente Dilma que se segure firme, mantenha o diálogo direto com o eleitor nas ruas e nas solenidades palacianas e não provoque ninguém, nem mesmo o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Mas essa, certamente, é outra história.

Fator China - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 16/09

O Planalto recebeu do governo chinês garantias de que as companhias do país vão entrar pesado no leilão de Libra, dia 21 de outubro.

Na Justiça...
Mas o professor Fabio Konder Comparato e o engenheiro Ildo Sauer, diretor da Petrobras no governo Lula, vão tentar na Justiça bloquear o leilão do campo do pré-sal.

Maos ao alto!
Nas duas primeiras noites do Rock in Rio, foram registrados 134 furtos na Delegacia Móvel do evento. Pelo menos dois ladrões foram presos em flagrante com ajuda das 46 câmeras de segurança. Houve cinco assaltos à mão armada nas cercanias do festival, duas agressões e um estelionato.
Números modestos para um público total de 170 mil pessoas.

Rock in Rio Las Vegas
Ontem, Roberto Medina aproveitou o Rock in Rio para avançar negociações com um empresário americano sobre a versão do festival em Las Vegas, em 2015.
Parece exagero. E é Os seguranças da Beyoncé impediram, por meia hora, que várias pessoas saíssem de seus lugares, só para a comitiva da cantora passar. Um dos detidos foi Dé Palmeira, baixista do Barão Vermelho, que abriu a noite na homenagem ao Cazuza.
Uma equipe da TV Globo também teve dificuldade e por pouco uma matéria ao vivo no “Jornal da Globo” não deixa de ir ao ar.

Aliás...
É como diz o escritor Ruy Castro:
— Beyoncé, Ivete Sangalo e outras atrações femininas do Rock in Rio justificam uma velha expressão: é música feita nas coxas. E que coxas!

No mais
Como se diz na minha terra, este ministro Celso de Mello, que dará o voto decisivo sobre um novo julgamento do mensalão, sofre nas redes sociais mais do que suvaco de aleijado.
A sua provável aceitação dos embargos infringentes é condenada por aqueles que acham que o caso vai acabar nas calendas gregas e em pizza. Já entre petistas, o voto do ministro é visto com desconfiança. Seria uma maneira de "legitimar o enforcamento no segundo julgamento".
Calma, gente.

Yom Kippur
Sábado, dia do Yom Kippur, feriado dos judeus, cerca de 10 lojas do BarraShopping, no Rio, estavam fechadas.

Morte por gás
Sobre o projeto na Assembleia do Rio que obriga a CEG a fazer vistoria gratuita dentro das residências, a empresa diz que “como ocorre com distribuidoras de outros estados (assim como serviços de luz e água) a responsabilidade da CEG vai até o medidor”.
A empresa lembra que realiza de "forma sistemática campanhas de segurança" e que no caso especifico da casa de Candido Portinari o gás era de botijão e não da CEG.

Barbie Hervé Legér 
Em outubro, a Mattel lança uma nova versão da Barbie, em parceria com a renomada Hervé Legér. A edição vem com dois vestidos desenhados e produzidos pela marca francesa (veja um deles na foto). Vai custar R$ 799.
É mais um grande estilista que cria peças para a Barbie, como já fizeram Oscar de la Renta e Christian Dior.|

Transplante de fígado
Foi feito com sucesso o 50º transplante de fígado no Centro Estadual de Transplante do Hospital São Francisco, no Rio.
Agora o secretário Sergio Cortes negocia a implantação do transplante de pulmão, um dos mais complicados, no mesmo centro.

Veja que chique
Luciano Huck e Eduardo Paes foram convidados para falar num evento mundial do Google, no Arizona, EUA, hoje e amanhã.
Quem também vai falar é o ex-secretário do Tesouro, Lawrence Summers, apontado como o próximo presidente do Federal Reserve (Fed).

Seringueiro no samba
Uma escultura de quatro metros e meio de Chico Mendes, o líder seringueiro assassinado no Acre, vai fechar o desfile da Vila Isabel em 2014.
A escola tentará o bi do carnaval com um enredo sobre a preservação dos recursos naturais e culturais do Brasil.

Intelectual no samba
Ao lado de Chico, haverá uma escultura do mesmo tamanho de Câmara Cascudo, o intelectual que dedicou a vida ao estudo da cultura brasileira.

Segura aí - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 16/09

Durante encontro com Dilma Rousseff na sexta-feira, Lula pediu à presidente que adie a destituição dos cargos do PSB no governo até que ele tenha uma nova conversa com Eduardo Campos. Segundo auxiliares da petista, Lula avalia que, se o governador do Pernambuco se mantiver no patamar atual de intenção de voto, entre 5% e 6%, ele não será candidato. Assim, se o Planalto romper prematuramente com o PSB, pode jogar o partido no colo de Aécio Neves, rival do PT.

Combinado O líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), diz que os cargos do partido estão "100% à disposição" de Dilma. "O senador Humberto Costa deveria tomar a mesma atitude em relação aos cargos que o PT ocupa em Pernambuco e na prefeitura do Recife."

Assim pode Aécio Neves incluiu emenda à minirreforma eleitoral, que deve ser votada amanhã, disciplinando o uso de rede nacional de rádio e TV por governos, para que só possa ser usada em casos de utilidade pública.

Como está Acordo selado entre a oposição e o relator da minirreforma, Valdir Raupp (PMDB-RO), deve retirar do texto o artigo que encurta as campanhas, contra o qual se insurgiram o senador tucano e Eduardo Campos.

Com... Governadores de 11 Estados, entre eles Cid Gomes (CE), Roseana Sarney (MA) e Sérgio Cabral (RJ), estão de olho na pauta de julgamentos do Tribunal Superior Eleitoral que ocorre amanhã.

...lupa É que os ministros devem decidir, no julgamento do deputado Assis Carvalho (PT-PI), acusado de compra de votos, se os recursos que pedem a cassação de mandatos dos 11 chefes de Executivos estaduais terão andamento ou serão arquivados de uma só vez.

Do contra 1 Às vésperas do julgamento do pedido de registro do Solidariedade, o TSE recebeu três solicitações de impugnação contra o novo partido articulado por Paulinho da Força (SP). Um deles foi protocolado pelo PDT.

Do contra 2 Marcílio Dias, advogado que acompanha a criação da legenda, diz que o protesto é "extemporâneo" e só serve para "tumultuar" o registro do partido.

Grifado O memorial em defesa dos embargos infringentes entregue por Castellar Guimarães, que defende Cristiano Paz no mensalão, chamou atenção de membros do Supremo Tribunal Federal.

Verão passado A defesa cita pronunciamento de Luiz Fux em julgamento de um habeas corpus. "No âmbito do Supremo, a matéria está disciplinada no regimento interno, admitindo-se os infringentes como via adequada para impugnar decisão condenatória, não unânime, proferida em ação penal''.

Cadê? Integrantes da corte estranharam a não entrega de memorial sobre o tema de Márcio Thomaz Bastos.

Magoei Dias Toffoli foi alvo de Reginaldo Rossi no fim de semana, após deixar casamento de Nicole, filha do prefeito Arthur Virgílio, no Rio de Janeiro. Rossi, que sempre brinca com autoridades no show, disse que, pela primeira vez, tinha sido "traído" por um ministro do STF.

Despedida Na última visita de José Genoino a Luiz Gushiken, na semana retrasada, o ex-ministro, que morreu na sexta-feira, apertou a mão do amigo e disse: "Foi dura e linda a nossa luta".

No papel A lista de solidariedade a Genoino, que, segundo os organizadores chega a 5 mil pessoas, ganhou nos últimos dias as adesões do ex-ministro Nelson Jobim e de Chico Buarque.

tiroteio
"Decepciona ouvir Marco Aurélio Mello, que já soltou pessoas impopulares, como Cacciola, dizer que o STF deve seguir a opinião pública."

DE ALBERTO TORON, advogado de João Paulo Cunha no mensalão, sobre o ministro e Roberto Barroso discutirem a influência da sociedade no processo.

contraponto


Ideia fixa
Em uma concorrida solenidade, Ciro Gomes (PSB) assumiu na quinta-feira a Secretaria de Saúde do Ceará, a convite do governador Cid Gomes, seu irmão. Ele discursou ao lado do ex-secretário da Fazenda, Mauro Filho, que é cotado para suceder Cid no governo e deixou o cargo na semana passada para se preparar para a eleição.

Quando Ciro prometeu aumentar gastos no setor, Filho gesticulou negativamente, mas o recém-empossado secretário reagiu, em tom de brincadeira:

-Você não é nem secretário, não está mais nem aí. A não ser que já esteja pensando naquilo...

Julgamento sem pedagogia - RENATO JANINE RIBEIRO

VALOR ECONÔMICO - 16/09

Esta semana saberemos se terminou o processo do mensalão ou se ele comportará uma espécie de
instância recursal. Ao contrário do que quase todos sustentam, creio que o melhor cenário para, pelo
menos um dos acusados, é não ter apreciado seu recurso. Exporei por que e direi qual acusado.
O julgamento, embora longo, não mudou a opinião das pessoas. Teria sido um sucesso pedagógico se
os favoráveis aos acusados ou em dúvida sobre sua culpa ficassem convencidos de que eles mereciam
ser condenados. Alguém pode ser petista e continuar sendo, mas se persuadir, por provas e argumentos,
de que líderes de seu partido agiram mal.

Só que isso não sucedeu. Fui atrás. Conversei, usei o Facebook, indaguei. Você mudou de opinião em
função do julgamento? Entender a pergunta já era difícil. A maior parte reclamava dos crimes dos
corruptos petistas ou do caráter tendencioso do julgamento. Quando eu refazia a pergunta, descendo à
terra, à banal questão: mudou de ideia graças ao que ouviu?, verificava que não tinham mudado. Disso
fica a constatação de que o julgamento falhou numa função básica da Justiça, e sobretudo da TV
Justiça, que é convencer, especialmente os neutros ou os reticentes, de que justiça foi feita. Por quê?

Um intervalo sobre a divergência na democracia. Sabemos que na democracia deve prevalecer a
vontade do povo e que a melhor forma de apurá-la é identificá-la à voz da maioria. Mas um elemento
sutil da democracia, nem óbvio nem trivial, é: quem legitima a vitória do candidato vitorioso são os
partidários dos derrotados. Não basta ganhar com a maior parte dos sufrágios. É preciso que o eleitor
derrotado concorde, ainda que de má ou péssima vontade, que perdeu. Não há democracia que funcione
sem esse acordo, que no fundo significa: primeiro, as regras do jogo foram respeitadas; segundo, essas
regras são justas; terceiro, um dia eu posso ganhar.

Por isso o Brasil vai melhor que a Venezuela. Desde a vitória de Hugo Chávez em 1998, a cada pleito a
oposição venezuelana denuncia fraude e nega legitimidade ao vencedor. Isso é um desastre
institucional. Daí à desobediência civil, daí mesmo à rebelião, é um passo. Não importa quem tenha
razão ou não: com isso o governo precisa das baionetas, para se manter, mais do que o desejável. Um
apagão, em vez de falha técnica ou falta de investimento, vira crime, ato de traição - como estamos
vendo.

No Brasil, não temos isso. Lula aceitou duas vitórias tucanas, o PSDB reconheceu três petistas. E isso
depois de Collor se eleger, em 1989, deslegitimado pela oposição. O fato de recorrer a um golpe sujo
no final da campanha, acusando Lula de tentativa de aborto, deu-lhe a vitória, mas lhe custou a
reputação. Os escândalos que derrubaram Collor da Presidência, três anos depois, só completaram essa
falha de legitimidade inicial.

Volto ao julgamento do mensalão, e retomo o ponto: na hora em que um julgamento tem forte impacto
político - porque entre os réus estão o ex-primeiro-ministro (de fato) e o ex-presidente do partido do
governo - é fundamental se ter a sensação de que foi feita justiça. Vencer no voto não basta. É
necessário mostrar que o réu teve todas as oportunidades de se defender. Não se pode dizer que é do
réu o ônus da prova, como afirmou um dos juízes. Nem ofender quem vota diferentemente do relator.

Recomendo um episódio da série "Law and Order", de nome "Jihad americana", em que é julgado um
muçulmano fanático. Ele ofende a juíza e difama os judeus - mas a própria magistrada lhe garante o
direito de falar, afirmando que a defesa deve ter liberdade de expressão maior que a acusação. Isso fará
uma condenação final ser mais convincente, mais reconhecida. Ou, aqui, o julgamento dos Nardoni,
acusados de matar a filha do réu. Foi horrível a defesa pedir que a mãe da menina assassinada fosse
retirada do plenário e mantida incomunicável. Mas o juiz deferiu o pedido, para cortar pela raiz
qualquer ulterior alegação de cerceamento da defesa. É isso o que convence os não convencidos.

Como os próprios defensores da punição presta e severa dizem que o julgamento é político, eu afirmo:
político é dar a máxima chance de defesa aos réus, não só porque individualmente têm esse direito, mas
porque apenas assim a sociedade se convence de sua culpa. Não sendo assim, a sociedade sai do
julgamento como entrou: uns os acham inocentes vítimas, outros detestáveis culpados, e outros, ainda,
discordam do que acham ter sido um teatro. Não ganha a Justiça.

Energia no Brasil e no mundo - JOSÉ GOLDEMBERG

O Estado de S.Paulo - 16/09

Poucos são os países no mundo autossuficientes na produção de energia. O Japão importa praticamente toda a energia que consome e até os Estados Unidos, com seu enorme território e seus recursos naturais, importam metade do petróleo que consome.

A dependência de importações implica envolvimento ativo em atividades comerciais, diplomáticas e até militares. Isso é verdade para importações de alimentos, mas não há nada mais essencial, nos dias de hoje, do que garantir um suprimento regular de combustíveis e eletricidade, sem os quais uma civilização moderna não sobrevive.

O Brasil tem, por isso, posição privilegiada por ser ao mesmo tempo um grande produtor de alimentos e de quase toda a energia que consome. Mais ainda, quase 50% dessa energia é renovável e praticamente não contribui para a produção de poluentes, seja em nível local ou em âmbito global. Isso se deve em parte ao fato de a eletricidade ser produzida em grande parte em usinas hidrelétricas.

Já países como a China, onde quase toda a eletricidade é produzida a partir do carvão, enfrentam sérios problemas de poluição urbana, uma vez que a queima de carvão é acompanhada de emissões de óxidos de enxofre e outros poluentes que estão tornando intolerável a vida nos grandes centros urbanos. O governo chinês está plenamente consciente da gravidade desses problemas para a saúde e tomou medidas sérias para reduzir o uso de carvão, melhorando a eficiência com que ele é utilizado. Um ganho adicional é a redução das emissões de gases como o dióxido de carbono, responsável pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. Não há dúvida de que a China, hoje o maior país emissor mundial de dióxido de carbono, vai reduzir suas emissões nos próximos anos.

Essa é uma nova realidade. Desde o início do governo de Mao Tsé-tung, em 1948, a política seguida na China era a da industrialização a qualquer custo, sem considerar os impactos ambientais.

Já os Estados Unidos, onde poluição urbana já vem sendo controlada há anos, têm revelado preocupações crescentes com o aquecimento global, uma das prioridades do presidente Barack Obama, apesar de o Senado americano não ter aprovado sua proposta de limitar as emissões de carbono.

Sucede que, com o apoio de decisões da Suprema Corte, a agência ambiental americana (equivalente à Cetesb, em São Paulo) tem poderes de limitar o uso de carvão ou exigir que seja usado com maior eficiência. Além disso, o uso crescente de gás de xisto, que substitui o carvão e o petróleo, contribui para a redução das emissões.

Portanto, no panorama mundial, os dois grandes países, que desde 1992 se opuseram a adotar medidas sérias para reduzir emissões, mudaram suas políticas nessa área. Com isso, os argumentos utilizados pelos diplomatas de vários países em desenvolvimento há mais de 20 anos - os do Brasil incluídos -, e que sempre apoiaram a posição da China, estão perdendo sua validade, se é que já a tiveram em alguma ocasião.

Esses argumentos eram basicamente os seguintes:

Os responsáveis pelo aquecimento global são os países ricos, que já estão emitindo há mais de cem anos. Os países em desenvolvimento precisam desenvolver-se e, portanto, têm o direito de emitir. Juridicamente, esse argumento é questionável, porque até a adoção da Convenção do Clima, em 1992, emissões de carbono não eram consideradas perigosas. Punição retroativa aos grandes emissores do passado é difícil de aceitar.

As emissões por habitante são muito maiores nos países ricos do que nos países em desenvolvimento. Na realidade, as emissões da China por habitante são hoje tão elevadas como as da Alemanha e as emissões acumuladas dos países em desenvolvimento já representam quase metade de todas as emissões. Além disso, para se desenvolver eles podem usar tecnologias modernas que não poluam como no passado, baseando seu crescimento econômico em tecnologias "limpas".

Na prática, com as novas políticas dos Estados Unidos e da China estamo-nos encaminhando para um acordo tácito com vista à redução das emissões. Uma consequência óbvia é que esses dois grandes países provavelmente começarão a tomar medidas para impedir que os poluidores nos países em desenvolvimento ponham por terra os seus esforços, aumentando as suas emissões.

Uma dessas medidas poderia ser a aplicação de uma taxa sobre carbono "embutido" nos produtos que importam. Por exemplo, uma boneca produzida na Índia exige para sua produção determinado consumo de energia elétrica que é produzida com carvão. Já a mesma boneca produzida no Brasil terá um conteúdo menor de carbono, porque a eletricidade é produzida em usinas hidrelétricas. Os países em desenvolvimento que exportam para os Estados Unidos terão uma vantagem competitiva se sua energia for produzida por fontes renováveis.

Com isso as negociações sobre mudanças climáticas passam a um novo nível, que não é o adotado até agora, em que estão envolvidos os 194 países-membros da Organização das Nações Unidas, os quais precisam adotar acordos por consenso. Quando isso foi feito no passado, na Conferência do Clima em 1992, no Rio de Janeiro, ou na Rio+20, em 2012, as decisões tomadas foram vagas e não comprometeram realmente os governos signatários a cumpri-las.

A Conferência do Rio de 1992 ainda teve resultados positivos, por causa da adoção da Agenda 21, que conscientizou toda uma geração de governantes e motivou muitos municípios e Estados a se reorientarem na direção de um desenvolvimento sustentável. A Rio+20 ficou apenas na retórica.

Agora, com as ações concretas da China e dos Estados Unidos, temos uma nova oportunidade, que o Brasil não deve perder.

Hegemonia hamletiana - RUBENS RICUPERO

FOLHA DE SP - 16/09

Se guerras e morticínios resolvessem alguma coisa, os EUA não estariam atolados no Afeganistão


Nunca se viu coisa igual: o presidente e todos os líderes do Congresso querem atacar a Síria, mas o povo americano se recusa. A culpa seria de Obama, que teria mostrado repugnância inicial à ação militar e, ao se decidir, não adotou a implacável determinação dos "guerreiros de poltrona". A explicação não convence. No Reino Unido e na França, onde os governantes desde o começo favoreceram a agressão, a população também é contra.

O ataque à Síria seria a nona agressão ocidental a um país islâmico ou árabe em poucos anos. Tudo indica que os povos ocidentais finalmente decidiram dar um basta! Se guerras e morticínios resolvessem alguma coisa, os EUA não estariam atolados no Afeganistão numa guerra que já dura mais que o dobro da Segunda Guerra Mundial!

As mentiras e manipulação da invasão do Iraque têm muito a ver com a reação. Da mesma forma que ela reflete a falência da autoridade moral dos EUA. Depois de anos de horrores em Guantánamo, de centros de tortura secretos, de assassinatos com "drones", de massacres perpetrados por soldados enlouquecidos, ninguém mais acredita que a ação americana se inspire na defesa dos direitos humanos.

Não convém extrair conclusões exageradas de uma situação-limite de fadiga de guerra. No final dos anos 1970, os desastres do Vietnã, do Camboja e do Laos geraram também atitude de desengajamento de aventuras bélicas. O Congresso chegou a proibir operações clandestinas conduzidas por Kissinger, com a cumplicidade ativa da África do Sul do apartheid, para derrubar o governo de Angola, então defendido por Cuba.

Vivi de perto aqueles dias como conselheiro da Embaixada do Brasil em Washington. Lembro como a atmosfera política se assemelhava estranhamente aos tempos atuais. Um presidente democrata, Jimmy Carter, pacifista e voltado para temas internos; denúncias contra as agências de espionagem seguidas de leis para tentar discipliná-las; abstenção de novos conflitos militares no exterior.

Bastou o incidente dos reféns na embaixada americana em Teerã e a eleição de Reagan para que os EUA recuperassem o apetite pelas intervenções: Granada, Panamá, ajuda aos contras na Nicarágua, ofensiva em El Salvador, Guatemala etc.

Carter ficou com a imagem de fraco e irresoluto. Penso, ao contrário, que é um dos presidentes mais injustamente subestimados da história americana recente. Nenhum dos sucessores deixou como ele o sólido legado diplomático do maior avanço jamais registrado no Oriente Médio: os acordos de Camp David entre Israel de Begin e o Egito de Sadat (1979). Sem esquecer realização sempre ignorada: os tratados com Torrijos transferindo ao Panamá o controle do canal (1977).

Hoje, todo mundo esqueceu. Na época, porém, os republicanos acenavam com perigos mortais à segurança dos EUA se o canal passasse às mãos panamenhas. Sabe lá o que se teria sucedido com Reagan!

Carter só governou quatro anos e tinha ainda de enfrentar a União Soviética de Brejnev. Legou obra diplomática sólida, que dura até hoje. Agora que os EUA não enfrentam mais o desafio da Guerra Fria, o que deixará após dois mandatos o Prêmio Nobel Obama?