sexta-feira, agosto 09, 2013

A morte de Mário Alves - ANCELMO GOIS

O GLOBO - 09/08

Intimados pela PF, a pedido da Comissão Nacional da Verdade e da Comissão da Verdade do Rio, quatro militares acusados da morte de Mário Alves, secretário do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário, serão
ouvidos quarta, dia 14, na Alerj.

Os acusados são os ex-tenentes do Exército Luiz Mário Correia Lima, Roberto Duque Estrada e Dulene Garcez, além do ex- major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá. Mário morreu no
DOI-Codi do Rio em janeiro de 1970.

Segue...
Do ato participarão Lucia, filha de Mário Alves, e ex-presos políticos Álvaro Caldas, José Luís Sabóia, José Carlos Tórtima, Maria Dalva Leite de Castro, Newton Leão Duarte e Paulo Sérgio Paranhos, que na época estiveram detidos no DOI-Codi.

Dança das cadeiras
Cláudia Leitão vai deixar o cargo de secretária de Economia Criativa do Ministério da Cultura.
Em seu lugar, fica Marcos André, da Secretaria de estado de Cultura do Rio.

Abuso de autoridade
A 15ª Promotoria de Investigação Penal pede hoje à Justiça que envie à auditoria militar cópia do inquérito policial instaurado para apurar tráfico de drogas na Rocinha.

O MP do Rio quer saber se na operação Ação Controlada houve por parte do comandante da UPP, major Edson Santos, e outros PMs, crimes como abuso de autoridade.

Dilma de Olinda
Dilma, D. Pedro I e a Princesa Isabel vão virar gigantes nas mãos dos artesãos que criam os bonecos de Olinda, segundo a nova edição da “Revista de História da Biblioteca Nacional”.

A ideia é recontar a história do Brasil através dos bonecos.

Tela grande
O Festival de Gramado, que começa hoje, vai receber pela primeira vez um grupo de críticos de cinema de Portugal, Itália, França e Inglaterra.

O jornalão inglês “The Independent” vai enviar a crítica Arifa Akbar para fazer reportagem sobre o crescimento da indústria de cinema no Brasil.

O amor é quente
Frejat, do Barão Vermelho, vai lançar duas músicas no iTunes: “Me perdoa” e “O amor é quente”, nome do show que ele fará no Rock in Rio em homenagem ao amigo Cazuza.

Gatão no palco
Depois do cinema, “O Gatão de meia-idade”, tirinha do querido Miguel Paiva, vai chegar ao teatro.
Paiva vai fazer a adaptação para o palco. A direção é de Eduardo Figueiredo, e a estreia deve ser no início de 2014.

Viva Luiz Paulo!
O prefeito Eduardo Paes vai batizar uma rua do Rio com o nome do querido Luiz Paulo Horta, que morreu sábado.
Merece. Brinde ao Rio.

Começa a circular no Rio uma versão inédita, de 550ml, das latinhas da Antarctica. Nelas, há desenhos dos
embaixadores da marca e dos bairros com que cada um deles tem identificação: Marcelo D2 (Lapa), Arlindo Cruz (Madureira), Mart’nália (Vila Isabel), veja acima, e Mumuzinho (Realengo).

FH fala de drogas
FH, em mais uma temporada carioca, toma café da manhã com uma plateia de médicos, hoje, no Copacabana Palace.

O assunto será: “Rumo a uma política de drogas mais eficiente e humana.”

O sujeito violento
O filósofo Adauto Novaes, do Centro de Estudos Artepensamento, organiza um ciclo para discutir violência. Será na Academia Militar de Polícia do Rio.

Dia 13, a palestra será de Francis Wolff, da Universidade de Paris.

No total...
Serão 12 professores de universidades brasileiras e estrangeiras que vão discutir, diz Adauto, como se constrói o sujeito violento.

— Quis fugir do lugar-comum da violência social e trabalhar os costumes militares que tendem a formar o corpo para a violência e o espírito para a ideia da violência.

Fechado para obras
O Jobi, bar do Leblon, fecha as portas domingo agora para uma reforma. Só reabrirá em 40 dias.
Manuel Rocha, o dono do bar, está pensando em contratar até uma chef para incrementar os petiscos.
Não precisa, Manuel.

Desconfio que Bruno Barreto seja lésbico - BARBARA GANCIA

FOLHA DE SP - 09/08

Imoral é roubar 30% em obra pública, não a quebra de patente ou de propriedade intelectual


Nesta semana foi como se uma bigorna tivesse caído sobre o pedal do acelerador da máquina do tempo. Tudo tomou a velocidade da ação de uma comédia antiga de Harold Lloyd.

Primeiro vieram as demissões em massa na imprensa tapuia. Em seguida foi a vez do anúncio de que "The Washington Post" fora vendido por troco de pinga. O "Post", meu Deus, uma das publicações mais importantes desde que Gutenberg inventou a prensa tipográfica, passado nos cobres por três Neymares ou, vá lá, seis Bernards do Atlético Mineiro. Minha matemática não é nenhuma Bruna Marquezine, mas, comparado ao que vale o Facebook ou o seguro dos grandes lábios da Ângela Bismarchi (refiro-me ao seu mais recente preenchimento facial), o valor foi modestíssimo.

O jornalismo tradicional anda mais perdido do que pum em bombacha (a elegante frase de minha lavra, aliás, foi colocada por Bruno Barreto na boca da Lota de Macedo Soares logo no início de "Flores Raras", filme que o redime de todas as trivialidades cometidas nos últimos séculos e que você não pode perder. Nele, o cineasta consegue captar a verdadeira mecânica da neurose de um relacionamento amoroso entre duas mulheres de inteligência privilegiada --Glória Pires arrasa!).

Mas, enfim, eu tergiverso. Estamos aqui para falar sobre um mundo novo e mal compreendido pelos ditos conservadores, que opera sob uma lógica que pretende fragmentar a produção e que não quer mais ver a informação ser tratada como commodity.

Babado são crowdfunding e mix de sustentabilidade que desafiam a lógica de quem usa o desenho quadradinho dos modelos de negócio de escolas de administração.

O que valia antes servia para a Revolução Industrial. Hoje não há mais ambiente para revolução. O que temos são hordas de tradicionalistas que não se renderam ao fato de já faz 30 anos da transição para a Era da Informação. Pois a beleza do capitalismo é que ele consegue se perpetuar por estar constantemente se reinventando a partir de seus colapsos, certo biscoito?

E deixa ver se aprendi algo assistindo ao "Roda Viva" desta semana com os entrevistados Bruno Torturra e Pablo Capilé, o jornalista e o produtor cultural que dirigem o Mídia Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação).

Olha só: eles encaram o jornalismo como modelo de negócio ou "indústria". E, assim sendo, como instituição desacreditada. Para a geração Z (1995-2007), a lógica de mercado não pode mais reger todas as relações. Ela gera desconfiança e corrói valores. O que eles querem ver acontecer com a informação (seja utopia ou não) é o caminho percorrido pela indústria fonográfica, que ruiu com a pirataria Napster da vida e conseguiu achar um novo rumo a duras penas.

Há um certo frescor na lógica do mundo compartilhado de quem nasceu na frente da tela do micro. Imoral é roubar 30% em obra pública e não a quebra de patente ou de propriedade intelectual.

Quem continua a invocar o Código Penal para argumentar que o Black Bloc pratica vandalismo não capta o ponto: a exasperação de que não existe defesa possível contra um agente tão insidioso quanto o mercado --capaz de nos fazer continuar a sorrir enquanto nos estupra.

Veja a explicação dada por Torturra no "Roda Viva". "Prefiro o pacifismo, claro. Mas o Black Bloc, usa uma estética, uma tática que tenta quebrar símbolos do capitalismo", diz. "Não ficamos tão escandalizados vendo um jovem sofrer uma injustiça quanto ao vê-lo quebrar a vidraça de um banco, temos de entender que são jovens que deixaram de confiar no Estado."

Notícias da semana - RUY CASTRO

FOLHA DE SP - 09/08

RIO DE JANEIRO - A ciência, na sua eterna busca do homem artificial, anunciou a criação de uma orelha de laboratório. A fórmula consiste em semear células de cartilagem de vacas e carneiros sobre tecidos vivos, ricos em colágeno, dos ditos carneiros e vacas, para que elas cresçam ao redor de um fio de titânio em forma de orelha humana. Com o que, quem sabe, teremos o fim das orelhas de abano. Só falta testar o grau de arrepio da orelha por algo soprado ao seu pé pelo namorado de sua portadora.

Isso foi em Massachusetts, nos EUA. Em Maastricht, na Holanda, um "pool" de cientistas comemorou a invenção do "frankenburger" --um hambúrguer também artificial, de 140 gramas, feito de 20 mil células-tronco extraídas de uma vaca indefesa, convertidas em fibras e cultivadas por três meses. Levado ao fogo, o hambúrguer androide revelou-se tão incomível quanto um hambúrguer comum, com o que os cientistas se sentiram vitoriosos.

Parabéns. Só discordo da denominação de "frankenburger". Se se refere ao Frankenstein, para que criar um hambúrguer sintético? Todos os hambúrgueres da praça são como ele, compostos de um coletivo de cadáveres. No caso, de vacas.

E, em San Francisco (EUA), pesquisadores decretaram a morte do mouse e do teclado. Em breve, quando nos sentarmos a um computador, seus sensores de visão, audição, tato, paladar e olfato nos radiografarão, ouvirão e cheirarão de alto a baixo, e entenderão o que queremos. O que liberará nossas mãos para fins mais nobres, como descascar uma banana, roer as unhas ou coçar as axilas.

Diante disso, o que me empolgou mesmo foi outra notícia --sobre os primeiros voluntários a se inscrever para uma viagem sem volta a Marte, em 2022. Grande ideia. Talvez em Marte a turma seja mais devagar, sem essa obsessão por mudar o mundo de 15 em 15 minutos.

Descendo a rua comendo rabanada - IGNÁCIO DE LOYOLA BRANDÃO

O Estado de S.Paulo - 09/08

Pequenos grandes gestos acontecem nesta cidade. Uma ínfima delicadeza muda o nosso dia. Descia a pé pela rua Artur Azevedo para fazer uma entrevista, eram quase três da tarde, estava adiantado. Passei pela padaria AJ M&M, decidi entrar. Tenho fascínio por padarias. Essa é relativamente nova (nova para São Paulo) no bairro, sempre achei que tinha bom astral. Padarias me acompanham desde a infância, quando, de madrugada, ia com meu pai ao Palamone, em Araraquara, entrávamos numa fila, porque era guerra e tudo estava racionado. Não entendia aquela guerra tão distante. Meu pai tinha na mão o que ele chamava de cupons. Demorei a saber o significado. Era o racionamento. O pão era esquisito, mistura de farinha com fubá, se não me engano.

Eu via gente chegando depois de nós e entrando na frente, meu pai dizia: é o delegado, é o prefeito, o juiz, o sargento, o primo do dono. Por que furavam a fila? Aprendi cedo o que é a mordomia, hoje traduzida em carros oficiais, helicópteros, verbas de representação e etc. Havia uma mulher sorridente que passava por nós, entrava direto na padaria, sem que ninguém reclamasse. Todas as vezes eu ouvia: "É a mulher do padre". Também isso ficou mistério, padre não se casava.

As padarias podiam ser "ambulantes". No meio da tarde, uma carrocinha circulava pelas ruas. Não era uma carroça comum, era uma espécie de grande baú e o carroceiro tocava uma corneta, outros gritavam alto: Paaadeeeirooo!! As mulheres saíam ao portão.

Hora do café das duas, duas e meia. O almoço tinha sido entre 11 e 11 e meia. Aquele baú trazia preciosidades como o pão doce de coco, um primor. Era uma fita enrolada, tendo coco no meio, respingado de açúcar. Havia bengalas quentinhas, pão francês cheirando forno, pão de banha, pão sovado (mais caro), bolachas. Cada padaria tinha seus produtos, concorriam em sabor, qualidade. Minha avó comprava pães e a cada semana, certo dia, fazia rabanadas douradas que desapareciam num minuto da mesa. Quanto à carrocinha, foi o primeiro delivery que conheci na vida.

Pensava nessas coisas, deliciado, enquanto subia os degraus da AJ M&M. Nome curioso. Ao entrar, o cheiro emanado dos balcões abertos me trouxe igualmente o final de noite da juventude. Eu saía do cinema, ia todas as noites, tinha uma "permanente", como se dizia, espécie de passe livre, que me permitia entrar de graça, afinal eu era o crítico. Um dia, o velho Graciano, dono dos cinemas, e pai do Roberto que controlava as duas salas, me perguntou: "Você entra de graça e ainda mete o pau nos filmes?". Roberto entrou na conversa: "Pai, ele é crítico, precisa criticar. Crítico não gosta. Ele tem o direito, gosto do que ele escreve, me divirto. Vejo coisas que não vi no filme. Além do mais, pai, ele vem, assiste, escreve no dia seguinte, a crítica é publicada dois dias depois. O filme já saiu de cartaz. Não faz mal nenhum. Nem coloca nem tira ninguém da sala". Foi das primeiras lições de democracia que assisti e de lucidez quanto ao poder da crítica. Os filmes eram mudados a cada dois dias. Belos tempos.

Saía do cinema, pegava a bicicleta Monark, de freio no pé (pedalando para trás, brecava), que tinha ficado junto à sorveteria do Uesato, e partia para a padaria do Lima, no Carmo, oposto da cidade. Belos tempos, nunca me roubaram a bicicleta.

Chegava no momento em que saía uma fornada de pães, a derradeira. Sentia o cheiro a mais de três quadras. Eu gostava de pão quente antes de dormir, lambuzado de manteiga (Aviação, claro), enquanto ligava o rádio baixinho para ouvir O Sombra. A voz soturna dizia o slogan: "Ninguém sabe o mal que se esconde nos corações alheios, o Sombra sabe". Tremia de pavor no escuro, mas adorava. Comia o pão lentamente.

Quando morei na Alemanha, meu deslumbramento era total com as vitrines das padarias. Certa vez em Hamburgo, acompanhado da escritora portuguesa Lidia Jorge, ficamos meia hora diante de uma vitrine, sem conseguir decidir por um pão de centeio, um frankenbrot, ou um kummelbrot, ou o kiele brot, ou o korn brot. Tudo o que sabíamos é que brot é pão. Desistimos e comemos uma curry wurst em um Imbiss.

Entrei na AJ M&M, percorri as vitrines, encantado, doces tortas, empadões. Dei com uma travessa de rabanadas crocantes, chamativas, olhei deliciado. Um senhor se aproximou:

- Posso ajudar?

- Queria uma rabanada.

- Quantas?

- Uma só.

- Uma?

Ele me olhou, sorriu, me entregou um pratinho com uma, perguntei:

- Quanto é, onde pago?

- Presente meu, coma sua rabanada, tomara goste.

Aquele senhor, dono, ou gerente, seja quem for, não teve ideia, naquele momento do tamanho do seu pequeno gesto, das lembranças que acionou. Mostrou acima de tudo que há momentos de generosidade nesta cidade que todos acusam de violenta, caótica, confusa, difícil, egoísta. Desci a rua comendo lentamente a rabanada dourada, polvilhada de açúcar e de generosidade.

Pecado mortal - FERNANDA TORRES

FOLHA DE SP - 09/08

O revelador encontro que Sérgio Cabral travou com o papa daria uma pantomima medieval


Voltei de viagem. Como é bom voltar de viagem.

Trocaram as maçanetas da casa na minha ausência. As antigas rangiam, saíam na mão, pulavam longe, ejetadas num simples abrir de porta. Com essas, passeio pelos cômodos, entro e saio só para testar o engenho. A humanidade caminhou muito, basta comparar as maçanetas de hoje com as de outrora.

Três milhões de peregrinos lotavam a praia da Copacabana para ver o Santo Padre e eu agradecida às maçanetas. Deus perdoa. É a carne.

No estrangeiro, ouvi relatos sobre as barricadas do Leblon. Terminei de ler "Os Miseráveis" pouco antes de embarcar, a palavra barricada me remeteu ao pivete Gavroche, a Marius e Javert; mas eu desconhecia o rosto dos incendiários do Leblon.

Cabral abusou do direito de ir e vir de helicóptero, da intimidade com o setor privado, houve descontrole da polícia nos enfrentamentos com os manifestantes, além de acasos e tragédias que levaram à vigília eterna de sua residência. Como se não bastasse, o desaparecimento do pedreiro Amarildo veio agravar o quadro de rejeição.

Mas foi sob o comando de Cabral que José Mariano Beltrame implantou uma estratégia de reocupação de vastas áreas dominadas pelo tráfico no Rio de Janeiro. Algo impensável, desde os tempos de Brizola. A atitude lhe valeu uma reeleição folgada.

A assumida arrogância pela esmagadora vitória, somada aos desvios já citados, contribuiu para o caos armado do Leblon. Mas surpreende que "Fora Cabral" vire jargão nas reivindicações da capital paulista.

Há décadas, a riqueza exponencial tornou São Paulo indiferente às mazelas políticas da Guanabara. E elas não foram poucas. Jamais presenciei um "Fora Garotinho", "Rosinha" ou "Brizola" no planalto paulista. O que acontece na Bahia, em Pernambuco, Minas e Goiás tem mais relevância para São Paulo do que as agruras da faixa de Gaza do vizinho.

De repente, "Fora Cabral" vira slogan na garoa. Quem carrega o andor? É impressão minha ou houve uma mudança radical no perfil das manifestações?

As novas mídias viabilizaram a insurreição súbita das massas. Agora, a política ajusta os métodos, criando partidos de Anonymous a serviço, precisa saber de quem. Está difícil distinguir o que é espontâneo do que é orquestrado.

Na primeira vez que vi na televisão o nome de Sérgio Cabral surgir ao lado do de Geraldo Alckmin, esperei pelo esquadrão anti-Haddad, mas ele não apareceu. Estranhei. Ninguém vai pedir o pescoço do prefeito?

Ainda presa ao apartidarismo das passeatas de julho, achei que o repúdio amplo, geral e irrestrito continuaria vigorando. No lugar de Renan Calheiros, um senador da República nacionalmente chamuscado, reluzia, agora, o nome de Sérgio Cabral. E Haddad, que, se não me engano, figurou nas primeiras revoltas, estava com a cabeça a salvo.

Quem afia a guilhotina?

Sérgio Cabral foi o melhor governador que o Rio elegeu em décadas --o que não é muito, quando se pensa nos anteriores, mas foi um avanço. Hoje, um ano antes de encerrar o segundo mandato, enfrenta a danação bíblica pela soberba e a usura.

O revelador encontro que travou com o papa daria uma pantomima medieval. A Virtude e o Poder, algo assim.

O voto de simplicidade de Francisco se opõe à idolatria do dinheiro, pregada nos quatro cantos do planeta, inclusive no Vaticano. Há santos na Cúria, afirma o papa, e prova que há, sendo.

Francisco foi eleito em meio a tormentas internas e externas da igreja, em uma Europa em recessão desde 2008. Como poucos, soube, através de ações práticas, traçar uma conduta moral para os que detêm o poder em tempos de crise.

Aqui, e especialmente na Guanabara, vivia-se a euforia da promessa do capital. Trocávamos as maçanetas, os carros, as geladeiras, construíamos estádios. A percepção do retrocesso econômico aconteceu antes do previsto na população e flagrou os governantes ajoelhados aos pés do bezerro de ouro.

Cabral é a Cúria que Francisco pretende reformar. Mesmo ungido, o governador deverá arder nesse inferno por, pelo menos, mais um ano, ou até que outro venha assumir o papel de Judas. Enquanto isso, Garotinho sobe nas pesquisas de intenção de voto.

A política é um pecado mortal.

TAM! Temos Aeroviários a Menos! - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 09/08

Dilma numa entrevista: "Tenho respeito pelo ET de Varginha". Ueba! Tá puxando saco até de ET?


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República! O Sarney com dengue? É O FIM DA PICADA! O Sarney ter dengue é o fim da picada!

E o povo no twitter: "Força, Dengue! Tenha fé que você vai se recuperar". "O mosquito vai ser expulso de casa." "Se ele fosse pro SUS, nem precisaria de mosquito."

Mas não eram os marimbondos que estavam de fogo? Aedes de fogo! Rarará!

E essa piada pronta: "Flu barra Show das Poderosas no Maracanã para evitar as piadas de rivais". Rarará!

E o predestinado do dia: funcionário da TAM em Guarulhos, "Natam"! Já imaginou os colegas chamando: "Natam! Natam!". "Não! Na rua, acabei de ser demitido". Rarará.

TAM quer dizer Temos Aeromoças a Menos. Temos Aeroviários a Menos. A TAM tá de TPM: Temos Pilotos a Menos!

Já imaginou se eles demitem um piloto em pleno voo?

"Senhores passageiros, apertem os cintos, acabo de ser demitido e vou pular de paraquedas pra passar no RH!"

E eu já disse que não tenho medo de andar de avião. Eu tenho medo do preço da passagem! E viajar de avião virou aventura radical.

Uma amiga estava em Nova York, o voo foi cancelado e ela foi transferida para a Lanchile: destino São Paulo, via Santiago com escala em Lima.

E a funcionária ainda perguntou: "Qual o seu destino?". "MEU DESTINO É SOFRER!". Rarará!

E o escândalo do Metrô? O tremsalão ou trilhoduto! Já apareceu até o Serra com aquela cara de piloto de metrô fantasma!

E sabe como os tucanos estão chamando o escândalo do Metrô? "Vazamento sobre atuação anticoncorrencial da Siemens".

Tucanaram o roubo! Rarará!

É mole? É mole mas sobe!

E adorei a Dilma numa entrevista pra rádio de Varginha: "Tenho respeito pelo ET de Varginha". Ueba! Tá puxando saco até de ET?

ET não vota, mas ufólogo vota! Rarará!

Ela não acredita em inflação, mas acredita em ET!

Ou então ela confundiu com a Ideli Salvatti. Que é filha do ET de Varginha com a Mãe do Sarampo! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Internação compulsória, higienismo e eutanásia - ANALICE GIGLIOTTI

CORREIO BRAZILIENSE - 09/08

O último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) mostrou um número preocupante: 2,6 milhões de brasileiros são usuários de crack ou cocaína e metade deles é dependente dessas substâncias. A mesma pesquisa, divulgada em setembro do ano passado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), apontou que 46% dos que consomem a droga são provenientes da Região Sudeste. Apesar da falta de dados oficiais da quantidade em cada estado, sabe-se que Rio de Janeiro e São Paulo têm a maior concentração de casos da região, especialmente em suas capitais. Não por acaso, foram nesses locais as primeiras manifestações do poder público em prol da , ou seja, sem o consentimento do paciente, como forma de solucionar um antigo problema.

Apenas nos oito primeiros meses do ano passado, o governo municipal da capital paulista apreendeu mais de 15 mil pedras de crack no centro da cidade. No Rio de Janeiro, a prefeitura acolheu, nos dois últimos anos, 6,5 mil dependentes em abrigos temporários. Entretanto, os abrigados voluntariamente retornam às ruas e voltam a consumir, dias após a internação, e geralmente nos mesmos lugares, bem embaixo do nariz do poder público. Cabe aqui um esclarecimento: a dependência química é uma doença cerebral. Ela leva a uma redução do funcionamento de circuitos neuronais, responsáveis pela nossa capacidade decisória. Assim, quem sofre dela, na maior parte das vezes não tem condições de decidir se precisa ou não de tratamento.

O que fazer então? Deixar essas pessoas morando na rua, expostas a todas as consequências do consumo das drogas? A questão se agrava quando se fala de usuários que estão colocando em risco a própria vida. Se por um lado eles incomodam a paz pública, por outro eles estão morrendo a olhos vistos. A passou então a ser uma opção. Desde janeiro, o governo estadual de São Paulo oficializou a medida. Assim, qualquer pessoa que presencie um usuário de drogas atentando contra a própria vida ou contra a vida do outro pode entrar em contato com as autoridades, que permitirão o acolhimento do paciente, mesmo contra a vontade dele.

Em fevereiro, a Prefeitura do Rio de Janeiro realizou as primeiras operações nas cracolândias. Entre os cerca de 3 mil abrigados, já nas primeiras operações, era grande a quantidade de pessoas que apresentava doenças relacionadas ao uso da droga, incluindo desnutrição. A polêmica de tal medida deve-se justamente ao fato de que muitos daqueles que são internados forçosamente são apenas levados a um hospital municipal, que não é especializado no tratamento de dependentes de drogas. Lá eles permanecem por pouco tempo e não recebem o atendimento adequado. Feita dessa forma, tal medida acaba por se tornar antiética e desumana, com propósitos visivelmente higienistas.

Por seu lado, o que fazer com um indivíduo que, se deixado à própria sorte, claramente terminará por morrer devido a uma doença? O que você faria se encontrasse uma pessoa atropelada no meio da rua, desacordada? Esperaria ela voltar à lucidez para verificar se deseja socorro? Dependentes de droga podem escolher morrer? Não internar compulsoriamente esses indivíduos seria uma espécie de eutanásia pública. É acreditar que o dependente tem a mesma clareza de raciocínio que alguns pacientes terminais, quando desejam optar por encurtar sua jornada até a morte. E mesmo isso é polêmico. Como dito anteriormente, dependentes graves não têm capacidade de escolha, e por vezes cabe à família ou ao Estado zelar pelo direito deles à saúde e à vida. Sob esse ponto de vista, a é plenamente defensável.

Mas, para que a política que vem sendo adotada realmente apresente resultados, é preciso que todas as cidades que enfrentam a ameaça do crack estejam equipadas para atender os dependentes de forma adequada. É preciso que disponham de espaço físico, medicamentos e profissionais habilitados para o tratamento. Caso contrário, corre-se o risco de "amontoar" as pessoas em abrigos, transformando-os em "depósitos humanos", incapazes de recuperar qualquer pessoa. O objetivo não é esconder o problema dos olhos da população, mas sim resolvê-lo de forma responsável e humana.

CLUBE E TELEVISÃO - MÔNICA BERGAMO

FOLHA DE SP - 09/08

Mais uma música de Renato Russo será transformada em roteiro. O filho do cantor, Giuliano Manfredini, negocia com emissoras de televisão a produção de uma minissérie inspirada em "Eduardo e Mônica", uma das canções mais populares do ex-líder da banda Legião Urbana.

CONHAQUE
A história terá que contar com atores que possam interpretar o célebre "casal" em várias idades: desde que se conheceram, ele no colegial, ela na faculdade de medicina, até o momento em que, já casados, o "filhinho do Eduardo" fica de recuperação. Uma das ideias é convidar a atriz Débora Nascimento para o papel de Mônica.

VIOLÃO
E a história do grupo Mamonas Assassinas vai virar musical. A produtora Miniatura9, que participou do espetáculo "Tim Maia - Vale Tudo, o Musical", conseguiu aprovação para captar R$ 4,2 milhões pela Lei Rouanet para realizar, em 2014, 72 apresentações em SP e Rio.

ESCOLA
A presidente Dilma Rousseff desembarcará em SP no dia 22 para anunciar, ao lado do prefeito Fernando Haddad, mais um pacote de "bondades": um Pronatec, programa de qualificação profissional, para moradores de rua.

PROCURA-SE O POVO
E Dilma, que disse a um interlocutor há alguns dias que "agora é povo, é rua", num sinal de que intensificará esse tipo de agenda, vai concentrar esforços em Minas.

Lá, ela aparece atrás do ex-governador Aécio Neves nas pesquisas --o que não ocorria tempos atrás.

NINHO
A notícia de que José Serra (PSDB-SP) comunicou ao Ibope que é pré-candidato a presidente, pedindo a inclusão de seu nome nas pesquisas, foi interpretada no PSDB como de alto potencial constrangedor para Aécio Neves --o senador tenta se consolidar como o nome de consenso para a disputa no partido.

NA LARGADA
A expectativa é que Serra apareça em vantagem em relação a Aécio nas sondagens. A lembrança de seu nome é mais forte, já que ele disputou duas eleições presidenciais, em 2002 e 2010. E tem também penetração maior em São Paulo, maior colégio eleitoral do país.

DEFESA DE CLASSE
O massacre do Carandiru entra em pauta na próxima assembleia da Associação dos Cabos e Soldados da Polícia Militar do Estado de SP, na quarta. Os membros vão decidir se autorizam a entidade a doar R$ 300 mil para pagar parte dos gastos com advogados de defesa dos policiais que estão sendo julgados. O valor equivale a 30% dos honorários.

O PAPA É POP
O livro "Segredos do Conclave", de Gerson Camarotti, com bastidores da escolha do papa Francisco, terá uma segunda edição, atualizada. A Geração Editorial decidiu incluir nela a íntegra da entrevista exclusiva que o autor fez com o santo padre, exibida no "Fantástico", da TV Globo. A primeira edição, de 5.000 exemplares, está esgotada. A obra já entrou na lista dos cinco livros mais vendidos da Livraria da Folha.

ILHA DO MEDO
Um ex-detento da prisão de Guantánamo, em Cuba, narra torturas sofridas no local, na nova edição da revista da Apadep (Associação Paulista de Defensores Públicos). "Não é possível compensar [dois] anos de abusos na prisão e separação da esposa e filhos", diz o britânico Moazzam Begg, que cobra o fechamento da base americana. Ele afirma nunca ter sido acusado de crime ou julgado. A entrevista foi negociada por dois meses.

MUDEI A atriz Sthefany Brito, ex-mulher de Pato, não largaria de novo a profissão por um amor: "Não me sentiria completa sem meu trabalho", diz à revista "Status"

RINDO À TOA
O lançamento do livro "Porta dos Fundos", do coletivo homônimo, reuniu anteontem na Livraria Cultura do Conjunto Nacional os atores Leticia Lima, Gregorio Duvivier e João Vicente de Castro, que foi com a namorada, a apresentadora Sabrina Sato.

CURTO-CIRCUITO
A festa de três anos da Ultralions, do Lions NightClub, é hoje, à 0h. 18 anos.

Negra Li se apresenta no Tom Jazz, hoje e amanhã, às 22h. 14 anos.

Leonardo Tristão, diretor do Facebook no Brasil, faz palestra hoje no WTC Business Club.

Daniela Arbex autografa "Holocausto Brasileiro", hoje, às 19h, na Livraria Cultura, na av. Paulista.

A festa Black Party, de André Almada, estreia hoje, às 23h, no Grand Metropole, na República. 18 anos.

O PT e sua capacidade de revogar o irrevogável - ROBERTO FREIRE

BRASIL ECONÔMICO - 09/08

Nunca antes neste país, para usar expressão ao feitio do ex-presidente Lula, um governo se esmerou tanto na arte de anunciar medidas atabalhoadas e desistir delas pouco depois. A pressa de Dilma Rousseff para dar uma resposta às manifestações populares nas ruas brasileiras e minimizar a derrocada de sua popularidade resultou em decisões equivocadas, tomadas sem o mínimo planejamento, das quais se viu obrigada a abrir mão diante da reação negativa da opinião pública.

O clamoroso despreparo e a falta de humildade da presidente da República a fizeram propor, sem realizar uma consulta prévia com juristas e advogados, uma Constituinte exclusiva para a reforma política. Até mesmo auxiliares próximos de Dilma, como o vice-presidente Michel Temer, especialista em Direito Constitucional, não esconderam a surpresa diante de tamanho despautério, já que é consenso nos meios jurídicos que uma nova Constituinte só se justificaria em casos de ruptura institucional no país. Tratou-se, na prática, de uma iniciativa golpista que, se levada adiante, colocaria em risco todo o ordenamento institucional vigente.

Após o retumbante fracasso da proposta, o governo do PT insistiu na convocação de um plebiscito por meio do qual os brasileiros decidiriam os principais pontos da reforma. Mais uma vez, houve forte rejeição à descabida iniciativa, rapidamente sepultada pelos próprios partidos da base aliada no Congresso.

A sucessão de trapalhadas também atingiu a área da saúde. Com muita propaganda e pouco conteúdo, a presidente anunciou a criação do programa Mais Médicos e, com ele, a exigência de que os estudantes de medicina fizessem um estágio de dois anos adicionais no SUS, o que aumentaria a duração do curso de seis para oito anos. Novamente tomada sem que se levasse em consideração a opinião dos próprios médicos ou das universidades, a decisão foi duramente criticada por diversas entidades do setor, o que fez com que o governo suspendesse o equivalente a um serviço civil obrigatório.

As idas e vindas não pararam por aí. O Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial uma portaria com novas regras para a cirurgia de pessoas interessadas em mudar de sexo, determinando que o tratamento com hormônios poderia ser iniciado aos 16 anos, e a cirurgia, permitida a partir dos 18. Mas Dilma sucumbiu diante das pressões dos setores mais conservadores de sua base de apoio e recuou de novo.

Completamente desorientado na área econômica, o governo do PT também patinou quando se tratou da ajuda do FMI à endividada Grécia. No fim de julho, o representante brasileiro no órgão, Paulo Nogueira Batista, se absteve na votação que aprovou o suporte financeiro aos gregos, no que foi publicamente desautorizado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, entusiasta do novo pacote.

Sobretudo desde que passou a ser aconselhada pelo atual ministro da Educação, que em 2009, quando senador, subiu à tribuna para revogar sua decisão "irrevogável" de deixar a função de líder do PT na Casa, Dilma colecionou fracassos e viu todas as suas iniciativas ruírem. Nada do que o governo propôs nos últimos meses teve consequência, e os recuos indicam falta de rumo, de firmeza, de capacidade, de diálogo e de habilidade política. A arte petista de revogar o irrevogável leva o país à desmoralização e escancara o desgoverno a que estamos submetidos.


E quem não gosta de futebol? - EDWARD LANGE

O GLOBO - 09/08

Lembro como se fosse ontem a reação dos funcionários da Allianz, quando fomos informados que a empresa iria batizar, com seu nome, um estádio de futebol. Adoramos a ideia, afinal, quem não gosta de futebol? Mas a pergunta por que pairava nos corredores. Não conseguíamos imaginar o motivo de uma seguradora investir milhões em um objeto aparentemente tão distante do seu produto. A dúvida era pertinente, pois em 2003, ano do anúncio, o conceito de naming rights ainda era desconhecido. Mas o tempo mostraria que estávamos desinformados. Um ano depois do anúncio do projeto, e antes mesmo do início da construção em São Paulo, uma pesquisa mostrou que o reconhecimento da marca da empresa pelo público havia dobrado.

Esse é só um exemplo do poder dos naming rights , particularmente, e da indústria do futebol, em geral. O potencial do mercado da bola é gigantesco, e ainda pouco explorado, principalmente no Brasil, que se notabilizou por transformar o esporte em arte. A nação que gera ídolos como Pelé e Ronaldo Fenômeno ainda está se desenvolvendo em relação ao modelo de gestão e de negócios neste segmento, quando comparada a outros países, especialmente os europeus.

Mas esse panorama está mudando. A receita dos doze maiores clubes do Brasil teve uma evolução de 128% em cinco anos, segundo dados da consultoria Crowe Horwarth RCS. Segundo estudo divulgado recentemente e realizado pela FGV, em parceria com a consultoria Ernst&Young, as despesas com o Mundial de 2014 vão chegar a R$ 22,46 bilhões. Já o lucro será de R$ 142 bilhões para o Brasil. Mesmo sem eventos pontuais, o futebol é negócio estável: todos os clubes da série A do campeonato brasileiro estão próximos dos cem anos de atividade regular, desde suas fundações, enquanto que das empresas que compunham o Ibovespa, em 1970, 20% faliram.

Um estádio bem planejado e corretamente explorado é uma fonte de receita inesgotável, mas, para ele ser bom, precisa ser mais que um estádio. Se o espaço for usado somente em dias de jogos, provavelmente será deficitário. Uma arena pode receber entretenimento, eventos religiosos, gastronomia e compras. É só uma questão de tempo para que os envolvidos nos negócios do futebol, incluindo-se aí patrocinadores e detentores de direitos de transmissão, percebam que as vantagens dos naming rights são compartilhadas.

O Allianz Arena, a casa do Bayern de Munique, é considerado o estádio de maior sucesso no mundo. Com capacidade total para 69,9 mil espectadores, já tem lotação esgotada garantida para 16 dos 17 jogos que o Bayern disputará em casa na próxima edição da Bundesliga. No ano passado, o clube conseguiu vender todos os seus bilhetes para o campeonato alemão antes do início do mesmo, e este ano espera-se um total de 1,2 milhão de espectadores a assistir aos jogos dos alemães. A Allianz aposta que sucesso semelhante pode ser repetido no Brasil e o Allianz Parque é prova desta confiança.

FLÁVIA OLIVEIRA - NEGÓCIOS & CIA

O GLOBO - 09/08

ESTALEIRO BAIANO TREINA PROFISSIONAIS NO JAPÃO
Investimento total do Enseada do Paraguaçu em qualificação profissional será de US$ 5,5 milhões até o fim de 2014

Cerca de 180 funcionários do Estaleiro Enseada do Paraguaçu (EEP) receberão treinamento prático e teórico no Japão, até o ano que vem. Os profissionais de engenharia, planejamento e produção viajam em grupos de 30 a 40, para passar quatro meses no país asiático, em média. O programa de capacitação é focado na unidade baiana em construção no município de Maragojipe. Integra acordo com a empresa Kawasaki Heavy Industries (KHI), sócia do EPP, junto com Odebrecht, OAS e UTC. O investimento total do estaleiro em transferência de tecnologia baterá U$S 80 milhões. Além de qualificação profissional, na qual serão empregados US$ 5,5 milhões do total, inclui aporte em instalações, máquinas, softwares técnicos e de gestão. “Entre os que serão treinados no Japão, há pessoas de nível técnico, como soldadores e monta-dores, e de nível superior, engenheiros, por exemplo”, enumera Fernando Barbosa, presidente do EEP. “O Japão é líder em tecnologia de ponta. Serviu de exemplo para Coreia e China”, acrescenta. A unidade baiana recebeu investimento de R$ 2 bilhões e deve ficar pronta em 2014. Em operação, vai empregar quatro mil profissionais.

Cinco PROFISSIONAIS JAPONESES
É a equipe de peritos em indústria naval que virá ao Brasil em outubro. Vão detalhar atividades de projeto de Senai e Jica (agência japonesa de cooperação) para formar trabalhadores no país.

SAFÁRI
A Bostwa na, de moda feminina, lança hoje a coleção “Safári tropical” na loja do shopping RioSul, em Botafogo. A modelo Carolina Thaler posou para as lentes de Renata Dillon. A campanha estará em mídias sociais, impressa e nos pontos de venda da marca. Espera vender 20% mais em relação à coleção deverão 2013. Agrife tem 16 lojas próprias e é comercializada em mais 600 multimarcas em todo o país.

ARTÍSTICO
A Soulier, de bolsas, calçados e acessórios, buscou inspiração na arte para a coleção verão 2014. E o Museu de Arte Moderna (MAM), no Rio, serviu de cenário para a campanha. Estreia hoje em mídia impressa e redes sociais. A modelo Larissa Duarte foi fotografada por Lúcio Luna. Os produtos chegam às lojas dia 16. A expectativa da marca é vender 15%a mais do que no verão passado.

Nigéria 1
Rodada de negócios da Cúpula Empresarial Nigéria-Brasil deve movimentar US$ 800 milhões entre os dias 13 e 15, no Rio. Nigerian Export-Import Bank, Manjadda Foods & Drinks e RTC Advisory Services estão entre as empresas africanas confirmadas no evento.

Nigéria 2
Os negócios dos dois países somaram US$ 9 bilhões, de 2009 a junho deste ano, afirma Olúségun Akinruli, presidente do Nigeria-Brazil Centre For Business, Culture and Cooperation. Estima que, até dezembro, serão mais US$ 2 bi. Ele diz que as exportações da Nigéria para cá representam 97% do total.

Captação
Magda Chambriard, da ANP, falou, ontem, em Houston, sobre a 1ª licitação do pré-sal. No auditório lotado, 120 representantes de empresas do setor de óleo e gás dos EUA. Destacou o vínculo da cláusula de conteúdo local e aporte em P&D como garantia de que o Brasil se prepara para a mega onda de investimentos.

Nuclear
Altino Ventura, secretário de planejamento do MME, reafirmou a urgência em acelerar o programa de energia nuclear no país, ontem, em evento do setor, em Recife. Disse que é preciso não só concluir estudos sobre onde erguer usinas, mas também sobre como viabilizar os projetos.

Igualdade racial
O programa de qualificação da Petrobras Distribuidora terá módulo sobre igualdade racial. O presidente José Lima Neto e a ministra Luiza Barros, da Seppir, participam da aula inaugural, 3ª, no Rio. Foi criado com foco na rede de 26 mil frentistas, de quatro mil postos de serviços no país.

Rede social
A Matrix, marca da L’Oréal, tem 60 microdistribuidores em comunidades de 12 municípios do Grande Rio e Baixada Fluminense. Num par de anos, representam 5% do faturamento da marca no Rio. Mês que vem, o projeto chega a São Paulo. Terá início por Grajaú, Jardim Ângela, Capão Redondo e região do ABC.

Presente caro
Esposas e filhos planejam gastar mais no Dia dos Pais que no das Mães, diz pesquisa de Officina Sophia Retail e eCGlobal Solutions. Na data deles, 16% dos entrevistados pretendem gastar mais de R$ 200 com o presente, contra 10% em maio. É que os itens mais procurados, eletrônicos e celulares, custam mais caro.

MARIA CRISTINA FRIAS - MERCADO ABERTO

FOLHA DE SP - 09/08

Uso de genéricos contra hipertensão cresce 190%
O consumo de medicamentos genéricos para o controle da hipertensão arterial cresceu 190% entre janeiro de 2010 e abril deste ano, segundo uma pesquisa da PróGenéricos (associação do setor).

No início de 2010, remédios para o controle da doença começaram a ser distribuídos gratuitamente pelo programa do governo federal Aqui tem Farmácia Popular.

A pesquisa, baseada em dados do IMS Health (empresa internacional especializada em saúde), mostra que no período o consumo anual de anti-hipertensivos subiu de 41,1 milhões para 119 milhões de unidades.

Entre os produtos para pressão alta distribuídos gratuitamente pelo Farmácia Popular estão o Atenolol, Captopril, Propranolol, Hidroclorotiazida, Losartan Potássico e Maleato de Enalapril que, juntos, respondem por 16,57% das vendas do setor.

O Losartan Potássico responde sozinho por 5,58% da comercialização dos remédios genéricos no Brasil.

"É o maior crescimento isolado registrado por uma classe de remédios na história dos genéricos no país", afirma Telma Salles, presidente da entidade.

Os genéricos chegaram às farmácias no ano 2000. Os estabelecimentos compram os produtos e o governo os reembolsam. "Os genéricos representam cerca de 80% do que é dispensado pelo programa", diz Salles.

"Crescem o acesso e o uso no país, o que mostra a eficácia dos genéricos." O programa também oferece produtos para tratamento de outras doenças, como o diabetes.

ESTRUTURA PESQUEIRA
O governo do Espírito Santo vai lançar hoje as obras para a recuperação da praia de Itaipava, em Itapemirim, no litoral sul do Estado.

O plano prevê a urbanização da orla e a construção de um píer que será usado pela indústria pesqueira. O investimento será de R$ 20,5 milhões, com prazo de execução de um ano e meio.

"Itaipava é um importante polo pesqueiro. Vamos fazer um aporte para proteger a praia, com o objetivo principal de facilitar a vida dos pescadores", diz o governador Renato Casagrande.

A nova estrutura permitirá o descarregamento das embarcações. Hoje, o acesso é feito diretamente pela areia.

As obras incluem a recuperação de trechos da orla que foram assoreados ou sofreram erosão causada pelo mar.

"Vai dar uma estrutura melhor para o turismo em uma região que, no verão, tem um balneário muito procurado."

Em uma próxima etapa, o local deverá receber outras construções, como um centro de formação de pescadores, afirma o governador.

TV PAGA EM AÇÃO
O Brasil é o sexto maior mercado em número de assinantes de TV paga do mundo, com 54,4 milhões de pessoas, informa a ABTA (associação brasileira do setor).

A entidade faz uma compilação de dados próprios, da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), do Ibope, do Pay-TV (companhia que monitora as operadoras e programas) e de outros.

A classe C representava 33% dos 17 milhões de domicílios assinantes até maio, segundo a pesquisa.

Para 2018, a expectativa é que o número de residências com o serviço alcance 40 milhões de residências.

"O aumento da renda e a melhora no preço da assinatura motivaram a alta do setor, sobretudo, nos últimos cinco anos", diz Oscar Vicente Simões de Oliveira, presidente da associação.

"A introdução do HD [alta definição] também foi fundamental porque elevou a qualidade do produto oferecido."

CERÂMICA CATARINENSE
A Oxford Porcelanas amplia a sua fábrica em São Bento do Sul (SC) e planeja a construção de uma unidade no Nordeste.

Por meio de expansão física e compra de novos equipamentos, a companhia pretende aumentar a produção da sua matriz, em Santa Catarina, em 50% até julho de 2014. O investimento é de R$ 13 milhões.

"Queremos que o número de peças fabricadas por ano passe dos atuais 30 milhões para 45 milhões", diz o diretor-superintendente, Irineu Weihermann.

Espaços ociosos da fábrica, que tem 55 mil m², vão ser utilizados na linha de produção, o que dispensará a aquisição de outros terrenos, segundo Weihermann.

Novos turnos de trabalho também serão implantados, gerando 400 vagas.

No Nordeste, a empresa pretende construir uma fábrica de 20 mil m², com produção de 20 milhões de peças por ano.

"Estamos analisando qual será a melhor localização. Queremos ficar próximos do mercado consumidor nordestino, que tem uma demanda alta por cerâmicas."

O empreendimento deve gerar 400 empregos. Como o local ainda não foi definido, não há estimativa de custos.

A Oxford Porcelanas é controlada pela Weg Participações, indústria metalúrgica de Jaraguá do Sul, também em Santa Catarina.

R$ 152 MILHÕES
foi o faturamento da Oxford Porcelanas em 2012

R$ 187 MILHÕES
é a previsão de receita para 2013

R$ 84 MILHÕES
é a estimativa de faturamento bruto da fábrica a ser construída no Nordeste

1.500
é o total de funcionários da empresa

CONEXÃO SEM FIO
A TIM ampliou a rede wi-fi para três aeroportos --Uberlândia (MG), Campo Grande (MS) e Aracaju (SE). Agora são 22 terminais cobertos.

Também incluiu o serviço em oito bairros de São Paulo: Liberdade, Moema, Vila Madalena, Jardim Paulista, Santa Cruz, Cerqueira César, Vila Nova Conceição e Jardim Paulistano.

A Claro diz trabalhar para a implantação futura do serviço em aeroportos.

Vivo e Oi têm planos de expansão até o fim deste ano, mas não divulgam detalhes.

Investimento... A Metso Paper South America, que atua no setor de celulose, investirá R$ 10 milhões em projetos educacionais no Maranhão.

...social O aporte irá para os institutos Ayrton Senna e Ecofuturo, mantido pela Suzano Papel e Celulose. A iniciativa será anunciada hoje.

Atuação... A CNI assume neste mês a presidência do BIC, escritório que defende o interesse das empresas brasileiras em Washington (EUA).

...no exterior "Temos que aproveitar a recuperação da economia americana para nos mostrar atuantes", diz Carlos Abijaodi, da entidade.

MERCADO DE AÇÕES
O Santander, que anunciou a ampliação de sua participação na empresa de cartões GetNet, registrou R$ 18,1 milhões em transações durante o primeiro semestre de 2013.

O aumento é de 84% na comparação com o mesmo período do ano passado, cujo valor foi de R$ 9,8 milhões.

O Itaú Unibanco, que efetua o serviço pela Redecard, teve crescimento de 18% e atingiu R$ 150 milhões no primeiro semestre deste ano. A Cielo cresceu 13%, com R$ 204 bilhões movimentados no mesmo período.

Os sauditas vão às compras - RASHEED ABOU-ALSAMH

O GLOBO - 09/08

Com o Irã tentando desenvolver uma bomba atômica, os sauditas vão com certeza se sentir obrigados a adquirir mísseis nucleares dos paquistaneses



Com o impasse no Egito entre manifestantes da Irmandade Muçulmana e os militares que derrubaram o presidente Mohamed Mursi, surpreendeu a notícia de que o príncipe saudita Bandar bin Sultan foi a Moscou se encontrar com o presidente russo Valdimir Putin (31/7) para propor um acordo e terminar com o conflito na Síria, onde a matança continua.

De acordo com a agência de notícias Reuters, citando fontes anônimas, Bandar, chefe da inteligência saudita, teria proposto a Putin que a Arábia Saudita poderia comprar até US$ 15 bilhões em armamentos russos, e, em troca, a Rússia abrandaria seu apoio ao regime de Bashar al-Assad, prometendo não bloquear futuras resoluções tomadas contra a Síria pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Os sauditas supostamente também prometeram não ameaçar as vendas de gás natural russo para a Europa com vendas de gás dos países do Golfo.

De acordo com um líder da oposição síria, Bandar tentou acalmar os temores russos de que extremistas islamitas iam substituir Bashar, e que a Síria não ia se tornar um conduto para a exportação de gás do Catar pelo Mediterrâneo para a Europa. E mais, Bandar teria prometido intensificar cooperação com a Rússia nas áreas de energia, economia e assuntos militares. Mas um diplomata ocidental em Moscou disse à Reuters que duvidava que a Rússia fosse trocar seu alto perfil na região por um contrato de armas. Talvez, mas ainda acho que a proposta saudita deve ter sido tentadora para os russos. A reunião durou quatro horas.

De acordo com Theodore Karasik, diretor de pesquisa do Instituto do Oriente Próximo e Análise Militar do Golfo, em Dubai, Putin e Bandar são velhos amigos. Desde 2005 Bandar viajava regularmente para Moscou para reuniões com Putin. Segundo Karasik, os sauditas usaram os russos como uma porta dos fundos para dialogar com o Irã. “Nós vemos que Moscou foi capaz de dar a Riad a oportunidade de falar com Teerã ou ajudar a influenciar o Kremlin a falar com o Irã sobre seu programa nuclear”, ele disse em entrevista ao Serviço de Informação Sobre as Relações Americano-Sauditas.

Historicamente, apesar de a União Soviética ser o primeiro país no mundo a reconhecer o novo reino da Arábia Saudita, em 1932, a Arábia Saudita fechou seu escritório diplomático em Moscou em 1938 e se negou a ter relações diplomáticas com a União Soviética por causa da Guerra Fria e o total desprezo dos dirigentes sauditas pelo comunismo. Relações diplomáticas somente foram retomadas em 1990, depois do colapso da União Soviética e o estabelecimento da Federação Russa. Mas os anos 1990 foram difíceis para ambos os lados, com os sauditas infelizes com as ações militares russas contra separatistas islamitas na Chechênia, e os russos acusando cidadãos sauditas de mandar dinheiro e armamentos para os rebeldes. Depois que Moscou ganhou a vantagem na Chechênia e as coisas se acalmaram, as relações russo-sauditas melhoraram muito. A visita do então príncipe herdeiro Abdullah a Moscou, em 2003, ajudou a aquecer as relações, e Putin retribuiu com uma visita oficial a Riad em 2007.

Karasik diz que os dois países viram uma convergência de interesses no Oriente Médio depois dos ataques sofridos pelos sauditas em 2003-2007 por terroristas ligados à Al-Qaeda. Também houve interesse dos dois lados de formar uma Opep para o gás, mas os dois lados não puderam concordar nos termos. E ele vê esse ultimo encontro de Bandar com Putin como o jeito de os sauditas deixarem bem clara sua posição sobre a Síria, e também para encher o vácuo deixado no Oriente Médio pelos EUA e União Europeia com sua inação na Síria.

É interessante que Karasik ache que os sauditas também estão ansiosos com o percebido giro nas atenções americanas do Oriente Médio para a Ásia. A retirada das tropas americanas do Iraque e, até o ano que vem, do Afeganistão, é vista como um abandono americano dos estados do Golfo e suas tentativas de conter o poderio xiita do Irã na região. “Os países do Golfo pensam que estão sendo abandonados por Washington em favor da área do Pacífico”, ele explicou. “Isso é a percepção deles, independentemente da quantidade de equipamentos militares que estão posicionados na região ou de quantos programas de treinamento militar ou vendas de armas estão acontecendo”.

Ainda por cima disso tudo, os países do Golfo sempre ficam com medo que os EUA um dia entrem em um acordo com o Irã, especialmente agora que o novo presidente iraniano, Hassan Rouhani, já tomou posse. “A Arábia Saudita e o Conselho de Cooperação do Golfo sentem que estão sendo lentamente puxados para o lado no que diz respeito a eles na região por causa dos interesses dos EUA”, disse o analista.

No fim das contas, o que sabemos com certeza é que a Arábia Saudita e a Rússia têm um interesse estratégico de não deixar a guerra civil na Síria se alastrar pelo Oriente Médio. Os sauditas querem ver Bashar fora do poder, e, como os russos, não quer ver um estado islamita e radical se formar na Síria. Acho muito difícil a Rússia retirar seu apoio a Bashar, já que o país já investiu tanto do seu prestigio em alavancar o ditador sírio.

Também acho insensato a Arábia Saudita oferecer comprar tantas armas dos russos. A última coisa que os sauditas precisam é de mais armas. A corrida de armas na região já atingiu níveis estratosféricos, e, com o Irã tentando desenvolver uma bomba atômica, os sauditas vão com certeza se sentir obrigados a adquirir mísseis com ogivas nucleares dos paquistaneses. Nessa região tão instável, a última coisa que precisamos seria uma guerra nuclear, o que seria apocalíptico.

Um conselho fiscal para o Brasil - MONICA BAUMGARTEN DE BOLLE

ESTADÃO - 09/08

A opacidade das contas públicas brasileiras, a dificuldade de interpretar o superávit primário e a dívida líquida desde que o governo adotou como praxe a contabilidade criativa para alcançar as suas metas anuais têm provocado danos consideráveis à credibilidade do País com os investidores, para não falar da mídia internacional. A recente iniciativa aventada pela presidente Dilma de retirar os custos dos programas de mobilidade urbana das metas fiscais é mais uma modalidade do esporte preferido dos nossos governantes, dizimando, por tabela, a Lei de Responsabilidade Fiscal. Mas esse não é mais um artigo sobre o mar de lamentações fiscais que afogou o País.

Recentemente, o FMI divulgou uma análise muito interessante sobre a experiência de diversos países com a adoção de conselhos fiscais independentes e apartidários. O que é isso?

Os conselhos fiscais são agências públicas independentes e apartidárias, com um mandato sacramentado pela legislação. Eles não executam a política fiscal. O que fazem é avalizar o arcabouço e as implicações para o futuro das políticas implantadas pelo governo. Preparam projeções fiscais e analisam a sustentabilidade da dívida. Seu objetivo é multifacetado: visam a aumentar a transparência das contas públicas desencorajar mudanças oportunistas, como elevados gastos pré-eleitorais, e a contribuir para o entendimento da sociedade sobre o modo como os recursos públicos são alocados, eliminando a "ilusão fiscal" funesta que a contabilidade criativa pretende incentivar, isto é, buscam evitar que os governos se valham de artimanhas para contornar metas preestabelecidas. O conselho não é um auditor, a natureza do trabalho é macroeconômica.

Os EUA têm o seu desde 1974, o Congressional Budget Office (CBO), que teve um protagonismo extremamente importante na resolução do impasse entre Republicanos e Democratas na altura da desastrosa discussão sobre a elevação do teto da dívida em meados de 2011. Foi em parte por causadas projeções alarmantes sobre a evolução da dívida pública americana apresentada para a sociedade e as pressões que elas ensejaram que o embate se transformou no atual ajuste fiscal dos EUA. Os cortes automáticos de gastos iniciados em março, o sequestration, estão longe de ser a solução ideal para os problemas das contas públicas do país. Mas, não fosse a presença desse watchdog poderoso, talvez a ladainha tivesse continuado, adensando a incerteza e prejudicando a recuperação da atividade.

Os conselhos fiscais podem operar de várias formas. O CBO, nos EUA, é uma parte da comissão orçamentária do Congresso. O conselho da Alemanha, criado em 1963, é uma agência separada das demais instituições públicas. O conselho do Japão, o mais antigo, de 1950, é parte do Poder Executivo. Já o do México, criado em 1999, o do Chile, montado este ano, e o da Coreia do Sul, estabelecido em 2003, fazem parte do Congresso, como o CBO. O da África do Sul, que passará a existir em 2014, também funcionará assim.

A análise do FMI mostra que países que têm conselhos fiscais independentes, que monitoram o cumprimento das metas, produzem projeções e têm uma forte participação no debate econômico por intermédio da mídia, tendem a gerar um melhor desempenho fiscal do que aqueles que não têm conselhos, ou que os têm, mas não com essas características. A situação é ainda melhor quando o país não só tem um conselho bem estruturado, mas também tem regras fiscais claras, articuladas por meio do estabelecimento de metas para o superávit primário e de tetos para a dívida pública.

A corrosão da credibilidade fiscal provocada pelas iniciativas mal concebidas do governo brasileiro nos últimos anos transformou as contas públicas na Maldita Geni, aquela que é feita para apanhar e boa de cuspir. Como transformá-la na Bendita Geni, como recuperar a imagem do País? Um conselho bem formado e comandado talvez possa nos salvar, quiçá nos redimir. Vai com ele, vai Geni!

A educação de Dilma Rousseff - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 09/08

O que a presidente terá aprendido com o fracasso de suas previsões e análises sobre a economia?


NA PRIMEIRA VEZ em que reuniu seus ministros, 13 dias depois de tomar posse, Dilma Rousseff acreditava que o Brasil cresceria em média 5,9% ao ano, um ritmo 50% mais rápido que o dos anos Lula. Os economistas do governo diziam, com a anuência da presidente, que o crescimento seria de 5% em 2011, 5,5% em 2012 e 6,5% em cada ano do biênio final do mandato.

A inflação cairia até chegar a 4,5% em 2012. Não haveria mais "ajuste fiscal" (redução do deficit das contas do governo), mas "consolidação fiscal", pois o "ajuste clássico" provocaria desemprego e baixa dos investimentos. Haveria "racionalização das despesas e aumento da eficiência do gasto público".

Em setembro, com o caldo daquele ano de 2011 entornado, a presidente e seus economistas não mais previam, mas se davam a meta de fazer o país crescer 4% ao ano. O governo pouparia o equivalente a 3,1% do PIB das suas receitas.

O país cresceu 2,7% em 2011, 0,9% em 2012 e deve crescer algo entre 1,8% e 2,7% neste 2013. O deficit aumentou, a inflação foi maior.

Não importa o "erro de previsão" nem o fracasso em acertar o alvo. Interessam as ideias que embasavam prognósticos e diagnósticos, além das subsequentes decisões tomadas a princípio para "corrigir rumos" e, a seguir, para salvar a todo custo e desesperadamente a face política.

O governo assumiu com a ideia de que o Brasil estava pronto para crescer no ritmo mais rápido de sua história. Eram desnecessárias mudanças institucionais (leis, rearranjos do Estado, da intervenção na economia etc.), entre outras.

Quando se frustrou o crescimento previsto, aumentou-se cada vez mais o gasto público direto e indireto (com a estatização parcial do crédito bancário, via endividamento para a capitalização de bancos públicos).

Ansioso, depois desesperado, o governo atacou com estímulos desordenados ao consumo, como um time de futebol fraco e pueril que parte em massa para o ataque a fim de virar o jogo, levando goleada infame.

Nova frustração do "estímulo ao crescimento" suscitou a desconversa derrotada de que o importante mesmo é o desemprego em recorde de baixa e o povo satisfeito.

De mãos quase atadas, pois não tem como manejar o gasto público e os juros sobem, dada a inflação persistente, o governo agora limita o diálogo público a queixas sobre o pessimismo de seus críticos ou inimigos.

O que terá aprendido Dilma Rousseff?

Não revê o seu curso apenas porque está emparedada pela eleição próxima, a qual poderia perder se mexesse a fundo na economia? Sua mudez e isolamento são apenas uma estratégia de evitar conversas perigosas para sua reeleição? Ou teimosa e iludida acredita que foi vítima dos azares de um mundo conturbando e do pessimismo de adversários?

Candidata, vai ainda tentar manter as aparências e evitar qualquer conversa racional sobre mudanças para o país?

Se eleita, enfim vai apresentar um programa de mudanças, uma conversa adulta e informada sobre as insuficiências da economia, dos problemas da administração pública e dos conflitos políticos que precisam ser resolvidos (com perdas e danos para alguns)?

O que dirá Dilma Rousseff sobre um segundo mandato? O primeiro acabou.

A bitola paulista - MARIA CRISTINA FERNANDES

VALOR ECONÔMICO - 09/08

O metrô de São Paulo foi inaugurado no mesmo ano em que o MDB deu um susto na ditadura. Naquele 1974 o partido quadruplicou a bancada no Senado, dobrou a da Câmara e dominou seis Assembleias Legislativas, aumentando seu poder de fogo na eleição indireta dos respectivos governadores, entre os quais o de São Paulo.
Para não entregar os maiores Estados à oposição veio o Pacote de Abril que acresceu senadores biônicos ao colégio eleitoral formado por Assembleia, Câmara e Senado. Com isso garantiu que a escolha de governadores fosse controlada pela Arena.
Na queda de braço travada com a ditadura militar pelo retorno das eleições diretas para os governos estaduais em 1982, o MDB se aproximaria de lideranças empresariais insatisfeitas com a canoa furada do milagre econômico.
Entre esses empresários estavam os comandantes dos principais grupos envolvidos no primeiro metrô do país, como a Villares, de família homônima, e a Cobrasma, dos Vidigal.
Uma das demandas desses empresários, que viria a ser encampadas pelo MDB, era uma maior proteção à indústria tupiniquim frente ao capital externo, convocado quando a ditadura começou a fazer água.
Quando a primeira linha do metrô de São Paulo foi inaugurada a empresa ainda era comandada pela prefeitura da capital, passando ao controle do Estado apenas em 1979, três anos antes de o PMDB chegar ao Palácio dos Bandeirantes.
Ao longo das últimas três décadas, os pemedebistas e seu primogênito, o PSDB, se revezaram no comando do Estado com fissuras e dissidências que se proliferaram com mais rapidez que os ramais do metrô.
Como o quilômetro de metrô pode custar até 100 vezes o de uma rodovia federal, investimento que, por décadas, foi o único que a subsistir na rubrica de transportes da União, os orçamentos da secretaria paulista rivalizavam com os ministeriais.
Nas três décadas desde que o PMDB se instalou no Morumbi o investimento no transporte metropolitano em São Paulo passou de um condomínio monopolista de indústrias nacionais, capitaneado por Mafersa e Cobrasma e subcontratadas como a Hidrobrasileira, para uma estrutura igualmente cartelizada de multinacionais que envolve as gigantes do setor, como Siemens, Alstom, CAF, Bombardier e Mitsui.
Foi na transição desses dois modelos de desenvolvimento, cujo laboratório mais rico foi São Paulo, que o PSDB, nos anos 1990, gestou seus planos de permanecer vinte anos no Planalto.
Foi mais ou menos isso que tentou explicar Claudio Senna Frederico, o ex-secretário de Transportes de Mário Covas quando disse não se lembrar de licitações competitivas no setor.
Engenheiro de produção, que frequenta hospitais do SUS e, aos 70 anos, ainda trabalha pagar suas contas, Frederico foi o único, de uma sucessão de secretários de transportes de governos tucanos, a dar a cara a bater desde que vieram à tona as denúncias de conluio no cartel do metrô.
Quando Covas assumiu, São Paulo, comprometido pelo acordo da dívida, optou pelas concessões, como o resto do Brasil de Fernando Henrique Cardoso. Turbinadas pelos cofres do BNDES, a política de concessões, aos trancos, recuos e barrancos, seria continuada pelos governos petistas.
Por último inventaram as PPPs, parcerias de preço fechado que as teorias da moderna administração pública vendem como o melhor detergente para a perniciosa coleção de aditivos produzida pela gestão estatal de investimentos.
A linha amarela do metrô paulista, que liga o centro ao extremo da zona oeste, foi pioneira no gênero. Em janeiro de 2007, na estreia de José Serra como governador de Estado, contabilizou entre seus maiores feitos o desabamento que matou sete pessoas ao lado da sede da editora Abril. Treze pessoas do metrô e do consórcio que toca a PPP foram denunciadas, mas continuam impunes.
Os transportes sempre foram um bom balcão de negócios para governos de todas as colorações. Basta ver quem os petistas instalaram no ministério. Primeiro o PL e, depois do mensalão, seu sucedâneo, o PR, ambos com notória especialização nos contratos da política.
Os legislativos costumam ser lenientes na fiscalização do setor. Não se faz CPI na Assembleia Legislativa de São Paulo que não seja controlada pelo Palácio dos Bandeirantes, mas na Câmara dos Deputados, transportes tampouco são um tema de predileção da inquirição parlamentar.
Quarenta CPIs foram instaladas na Câmara nos últimos 15 anos. Nenhuma delas para investigar os transportes, pasta que congrega os maiores investimentos do país.
Restam a Controladoria-Geral e o Tribunal de Contas da União, este, sim, muito mais independente do que seu congênere paulista. Relatórios das duas instâncias fiscalizadoras mostraram que o aumento dos investimentos em rodovias e ferrovias no Brasil do PAC reproduz irregularidades ancestrais.
Já em São Paulo o tribunal de contas é casa de pelo menos três conselheiros que, indicados pelo consórcio PMDB/PSDB, tornaram-se alvos de investigação por enriquecimento ilícito em processos de suborno de empresas contratadas pelo governo do Estado, da bitola ao pedágio.
Dois deles já tiveram parte de suas contas bloqueadas, recorreram e continuam conselheiros. O terceiro chegou a ser afastado do cargo mas reconquistou-o semanas antes de ser aposentado com proventos integrais e patrimônio para sustentar dez gerações de desocupados.
Um ex-presidente de metrô arrolado em processo foi absolvido pela justiça paulista por falta de provas. Hoje é dono de fazenda leiteira e se orgulha de proveitosa ordenha, que o deixa na condição de único produtor milionário do Vale do Paraíba.
Esses intermediários ficaram mais ricos do que (quase) todos os governadores a que serviram. Só não ganharam mais do que a outra ponta. As denúncias que agora vêm à tona no Brasil são apenas a franja mais meridional de uma disputa globalizada. Acossados pelas cortes mundo afora por práticas corruptoras os grandes grupos do setor se arvoram em garantir seu naco de mercado no Brasil, um dos poucos cantos, em meio à crise econômica, onde têm conseguido arrancar contratos vantajosos.

Marcha mais lenta - CELSO MING

O Estado de S.Paulo - 09/08

O consumo vem crescendo bem mais devagar há dois anos (veja o gráfico) e, daqui para a frente, deverá enfrentar mais obstáculos.

Nos últimos meses, o avanço do consumo no Brasil vem sendo questionado enquanto estratégia de política econômica. Desde antes do final do período Lula, o conjunto de políticas entendia que o avanço econômico devia centralizar-se na rápida expansão do consumo das famílias. A ideia era fortalecer o mercado interno para que, com aumento de escala, a atividade produtiva ganhasse eficiência.

Para atingir esses objetivos, o governo tratou de expandir as despesas públicas, acionou o crédito (que cresceu 66% nos últimos três anos), lançou programas de construção habitacional (como o "Minha Casa, Minha Vida"), reduziu impostos de bens de consumo duráveis (como de veículos e de aparelhos domésticos) e há dois meses reforçou a demanda de móveis e, outra vez, de aparelhos domésticos (com o "Minha Casa Melhor").

Essa política que privilegiou o consumo provocou distorções. Estrangulou a infraestrutura, que já era precária e ficou mais ainda; atiçou a inflação, porque puxou para cima os preços dos serviços; e alargou o rombo das contas externas (Transações Correntes). A indústria não conseguiu aproveitar a oportunidade porque, prostrada por seus custos, não conseguiu competir com o produto importado.

Essas foram as principais razões pelas quais o governo acabou entendendo que não pode mais centrar sua política econômica na expansão do consumo. Tem de dar mais atenção ao investimento tanto público como privado.

Mas essas não são as únicas razões pelas quais não se pode contar mais com o ritmo forte de expansão do consumo das famílias.

Há dois dias, a presidente Dilma celebrou em Varginha, Minas Gerais, a retirada de 22 milhões de brasileiros da miséria em dois anos e meio. Independentemente da exatidão do número, não há outros 22 milhões a incluir no mercado. E, por mais que queira expandir a política de rendas, também não há outros 13 milhões de brasileiros a contemplar com Bolsa Família.

O crédito vem se expandindo entre 16% e 20% ao ano. Não há muitos candidatos mais a financiamentos bancários. Acumulam-se indícios de que as famílias já estão excessivamente endividadas. A grande expansão do crédito habitacional (de 210% nos últimos três anos) é por si só fator que reduz o poder aquisitivo do mutuário porque boa parte do seu orçamento se destina agora a honrar sua dívida. Além disso, os programas de incentivo à compra de veículos e de aparelhos domésticos funcionaram em grande parte como antecipação de vendas (ou de compras). Daqui para a frente, enfrentarão novos limites.

Ademais, a erosão do poder aquisitivo pela inflação e os menores reajustes salariais em termos reais não deverão recompor o poder aquisitivo do consumidor na mesma proporção em que aconteceu nos anos anteriores.

São novos fatores a advertir que não se deve esperar por forte crescimento econômico também nos próximos anos.