sábado, julho 06, 2013

Aumenta o risco de populismo - GUSTAVO LOYOLA

O ESTADÃO - 06/07

As manifestações que tomaram conta das ruas nas últimas semanas não são por si sós um elemento de risco para a economia brasileira. Ao contrário, mostram a vitalidade da sociedade e podem ser elemento essencial ao aperfeiçoamento das instituições no País. Porém, o que deve ser temido é a qualidade da resposta dos políticos eleitos às legítimas demandas da sociedade vocalizadas nas diversas manifestações que tiveram lugar nas principais cidades brasileiras. O maior risco é o apelo ao populismo econômico como forma de calar, ainda que de forma precária e temporária, a voz do povo das ruas. Nesse sentido, o congelamento das tarifas de ônibus, metrô, trens e dos pedágios é um mau augúrio.

Não é necessária muita sabedoria e discernimento para antecipar o futuro sombrio do transporte urbano que resultaria da prática continuada de subsídios generalizados ou da manutenção das tarifas em patamares não realistas. A má qualidade do transporte nas principais cidades brasileiras é fruto direto da insuficiência de investimento público e privado ao longo das últimas décadas. De fato, há problemas de toda sorte no relacionamento dos governos estaduais e prefeituras com os concessionários de serviços públicos, mas não se pode correr o risco do sucateamento de um serviço já deficiente com a cobrança de tarifas irrealistas que inviabilizem investimentos adicionais no setor.

Vale ressaltar que é possível subsidiar de maneira racional, sustentável e transparente o transporte público. Mas há condições essenciais para tanto. Tais subsídios devem se adequar à capacidade fiscal do governo e se direcionar para grupos da sociedade que de fato necessitam dele. Hoje em dia, uma parte relevante dos usuários do transporte coletivo se beneficia do vale-transporte pago pelos empregadores ou já conta com isenções, como é o caso dos idosos. Desse modo, não parece indicado o congelamento do preço da passagem, mesmo que com eventual aumento dos repasses de recursos pelas prefeituras às empresas como forma de compensação.

No caso dos pedágios, foi equivocada a decisão do governo paulista de não aplicar os reajustes programados, ainda que sem prejuízo para as empresas concessionárias, pois os ônus da medida foram assumidos pelo setor público. As melhores estradas brasileiras são justamente aquelas que estão sob concessão e a manutenção das regras do jogo é fundamental para que investimentos privados continuem fluindo para o setor, notadamente quando há em jogo um amplo e oportuno programa de concessões patrocinado pelo governo federal. Por óbvio, é necessária a devida transparência nos contratos e a existência de mecanismos que evitem a cobrança de preços abusivos. Contudo, tais cuidados não podem desaguar em aumento de incertezas para os empreendedores privados. Nesse contexto, a sinalização representada pela medida foi negativa, pois trouxe à tona a possibilidade de que, no futuro, medidas assemelhadas possam impactar os concessionários e não apenas o erário.

Por outro lado, há também implicações sérias do populismo tarifário sobre as contas públicas, notadamente numa situação de graves dificuldades para o aumento do investimento público em infraestrutura. Por exemplo, na região metropolitana de São Paulo, está em marcha um gigantesco e louvável esforço do governo do Estado para ampliar a rede do metrô. Tal esforço somente poderá ser levado a cabo e ampliado para outras linhas caso haja um mínimo de equilíbrio na operação do sistema, sob pena de os prejuízos engolirem toda a capacidade de investimento do governo, sem contar os riscos de degradação da qualidade dos serviços.

Desse modo, a resposta das autoridades, das três esferas de governo, às demandas da sociedade não deve implicar o agravamento de uma situação que já é complicada no que tange à mobilidade urbana e à infraestrutura em geral. No caso específico dos transportes urbanos, parece-me que o estopim das manifestações teve muito mais a ver com a persistente má qualidade dos serviços do que com o preço da tarifa, muito embora a aceleração inflacionária recente - que deveria ter sido oportuna e adequadamente atacada pela política macroeconômica - tenha desempenhado um papel relevante na insatisfação popular.

Respostas de Mantega - MÍRIAM LEITÃO

O GLOBO - 06/07
O ministro Guido Mantega define como "excepcional" a política de empréstimos ao BNDES. "Como resultado, tivemos um aumento de pequena monta na dívida pública bruta, de 3 pontos percentuais. Sem isso, o país teria tido recessão de 6%, como outros países. É a política acertada." Mantega não detalhou os cortes nos gastos, mas disse que os anunciará em breve.

A inflação estourou o teto da meta pela décima vez em 30 meses de governo Dilma, chegando a 6,7%, em junho, mas o ministro disse que ela está sob controle, que a "trajetória é positiva" e deu destaque ao que o indicador trouxe de bom:

- A inflação de junho foi menor do que em maio, caiu a inflação de alimentos e bebidas.

O ministro nega que o PIB este ano esteja murchando, mas falou que o país deve crescer entre 2,5% e 3%. Antes, falava em 4% e até 5%. Na visão dele, o Brasil está sendo vítima da política monetária americana:

- O Fed criou uma turbulência internacional que afetou bolsas e o câmbio.

Lembrei que ele criticava a política expansionista americana, que teria criado um "tsunami" monetário, uma guerra cambial. E que, agora, os EUA estão dando os primeiros sinais de que podem diminuir esses estímulos. Ele, de novo, critica:

- De fato, fomos atingidos pelas duas coisas, uma forte liquidez internacional, que fez com que o Brasil fosse um dos alvos da entrada excessiva de dólares; e agora esse movimento que causa turbulência e derruba bolsa e eleva o dólar. O câmbio vai ajudar o exportador mais adiante, mas este momento de volatilidade não é bom e vai causar pressão inflacionária dependendo do tempo que fique.

Afirmou que sempre houve empréstimos do Tesouro ao BNDES e que o volume ficará menor daqui para frente. Em 2007, o total de empréstimo era R$ 6,6 bi. Agora, é R$ 378 bi. Os dividendos pagos ao Tesouro saíram de 900 milhões para R$ 13 bi. Isso é visto por nove em cada dez analistas como truque que tem inflado receitas. O ministro discorda.

- Aumentaram os dividendos pagos pelo BNDES porque aumentou o lucro, que no passado era de R$ 1 bilhão e agora é de R$ 10 bilhões. Todos os bancos públicos estão dando muito lucro - disse o ministro.

O lucro, na verdade, em 2012, foi de R$ 8,2 bi. Menor, portanto, que o dividendo pago. Todos têm tido empréstimos ou capitalizações pelo governo, o que contradiz, na prática, essa interpretação. Se os lucros são maiores, não deveriam precisar de mais capitalizações ou empréstimos.

Mantega discordou da coluna de ontem, que trouxe a visão da S&P, com criticas à política econômica, e afirmou que "essa agência elevou o nosso rating em 2011".

- A crítica na coluna é feita como se não estivéssemos vivendo a maior crise de todos os tempos, como se não houvesse problemas como este que o Fed criou este ano, não leva em consideração que a China desacelera. Bom, com tudo isso nós crescemos mais no primeiro trimestre do que EUA, México, Colômbia, Chile.

As comparações de crescimento têm outro lado. Enquanto o Brasil cresceu 1,2% nos 12 meses até março, o Chile cresceu 5,3%, a Colômbia, 3,3%, o México, 2,9%, os EUA, 2%. Apenas no primeiro tri, isoladamente, fomos melhores, mas não muito: 0,6%, contra 0,5% do Chile e do México, 0,4% dos EUA e 0,3% da Colômbia. Mantega acha injustas as críticas à deterioração fiscal.

- As três grandes despesas, Previdência, pessoal e juros, têm caído. O que sobe é gasto de custeio, com educação e saúde, mas isso precisa subir mesmo. E o déficit nominal tem caído. Em outros tempos chegou a 6%, agora é 2,5% do PIB. Temos agora fundamentos mais sólidos e reservas cambiais maiores.

Segundo Mantega, as despesas caíram durante o seu período no governo. Este ano, no entanto, as despesas estão subindo mais que as receitas e os investimentos públicos estão em retração.

Plebiscito! De FAB ou de TAM? - JOSÉ SIMÃO

FOLHA DE SP - 06/07

E o Joaquim Barbosa também foi ao Maracanã com dinheiro público. Não tem virgem na zona!


Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!

O Peru Acordou! "Estudantes enfrentam a polícia em protesto contra a Lei Universitária." Precisa ver se o Peru é Gigante!

E a Farra Aérea Brasileira! Folgados A Bordo!

E o site Eramos6 revela que o povo brasileiro mandou o Renan pra PQP! Mas ele só vai se for em jatinho da FAB!

E o tuiteiro Fernando Duartina: "Os políticos brasileiros sempre inventam moda: agora estão cagando e VOANDO pra população brasileira!". Rarará!

E um amigo quer um jatinho da FAB pro batizado do sobrinho em Fortaleza!

E adorei a agenda da Dilma: "Dilma recebe índios, MST, evangélicos e movimentos negros". Puxado!

Na próxima semana recebe as Panicats, ex-BBBs e anões de jardim. A Dilma virou mãe de santo: só recebe!

E adorei a Dilma com os cantores. A Dilma tá em baixa, mas conseguiu o que toda as coroas brasileiras queriam: ficar 20 minutos a sós com o Roberto Carlos. A pedido dele!

"Quem é que pensa em você toda hora/e no meio da noite te chama de presidenta?/ Esse cara sou eu."

E um leitor me disse que a Dilma tem andar de alicate. Rarará!

E esse plebiscito sai ou não sai? Fica só cantando pneu!

Em todo caso, encerra-se hoje a minha enquete: "Qual pergunta você acha que não pode faltar no plebiscito?". "Débito ou crédito?" "CPF na nota?" "Com ou sem borda recheada?" "No carro ou no motel?" "Joelma ou Daniela Mercury?"

E mais outras perguntas fundamentais: "Gelo e limão?", "Comum ou aditivada?", "Luz acesa ou apagada?", "Pode ser Pepsi?".

E mais esta bombástica: "Quem matou Odete Roitman?". Rarará!

Outra: "De FAB ou de TAM?". De camburão! Rarará!

É mole? É mole, mas sobe!

E um leitor me disse que o Michel Temer tá parecendo aquela máscara do "vem pra rua": em todo lugar tá sempre com a mesma expressão e esfregando as mãozinhas!

E o Joaquim Barbosa também foi ao Maracanã com dinheiro público. E o filho dele vai trabalhar no "Caldeirão do Huck". Não tem virgem na zona! Rarará!

Nóis sofre, mas nóis goza!

Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Dilma e a girafa - JOSÉ HORTA MANZANO

CORREIO BRAZILIENSE - 06/07

Faz vários anos, tive um funcionário, gente fina, pau pra toda obra. Às vezes eu tinha de confiar-lhe alguma tarefa mais ingrata, mais maçante. Com tato, eu pedia: "Então, Jorge, você não se importa de fazer isto?". E a resposta vinha, certeira: "Oh, imagine! Fazer isso ou pintar a girafa é a mesma coisa, tanto faz".

Até hoje estou sem saber que diabo era aquela história de pintar a girafa. Mas a mensagem era clara: ao velho Jorge, pago para trabalhar, pouco importava qual fosse a tarefa. Se era para fazer, arregaçava as mangas e fazia. Lembrei-me dele estes dias.

Dois anos e meio atrás, os brasileiros elegeram uma presidente para sua República. Iludidos ou conscientes, bem ou mal informados, ricos ou pobres, poderosos ou dominados, pouco importa a razão da escolha. Dilma foi ungida pelas urnas. Foi ela, mas, tivesse sido outra pessoa, no fundo, tanto faz.

Os tempos absolutistas em que um único medalhão mandava e desmandava sozinho já sumiram na névoa do passado, junto com a guilhotina e a caixinha de rapé. A presidente que temos é essa, e com essa ficaremos. Mesmo poderoso, um presidente não é dono do país nem governa sozinho. Felizmente.

Pensando bem, mais vale ter no topo da República uma personagem menos brilhante, pouco exuberante, nada carismática. Se não é a melhor figura política que o Brasil já conheceu, a presidente atual tampouco é a pior. Tem suas carências, mas quem não as tem? Falta-lhe jogo de cintura, é verdade. Ainda assim, mais vale a rigidez de uma Dilma - ainda que tisnada de rudeza e de rispidez - que a exagerada plasticidade de seu antecessor, dono de uma indulgência que frisava a leniência e que abria caminho para toda sorte de desvios e "malfeitos".

Já vai para quase um mês que a sociedade brasileira está em efervescência. O que querem os manifestantes? O que dizem as ruas? Como deve o governo lidar com essa cena não prevista no roteiro original? Dizem que ninguém sabe ao certo por que os manifestantes manifestam. Não sejamos hipócritas. Sabemos bem o que querem. Querem o que queremos todos. Exatamente aquilo que está escrito bem no meio da bandeira verde-amarela: ordem e progresso.

Queremos um país em que os representantes do povo exerçam seu papel com seriedade. Queremos que a bandalheira deixe de ser a regra e volte a ser exceção. Queremos que malfeitores sejam punidos. Queremos que condenados cumpram suas penas. Queremos que enfermos sejam atendidos com dignidade. Não queremos ser república de bananas nem fazer parte do sinistro clube de países autoritários, sanguinários, populistas, irrelevantes. Queremos ordem. Uma vez instalada, o progresso fluirá naturalmente.

Não precisamos de plebiscitos para nos distrairmos. Nosso país reclama um gesto forte e imediato, um sinal claro que indique uma guinada real na governança. Nosso regime não permite à presidente destituir parlamentares. Mas ela pode, sim, demitir ministros. A nomeação (e a exoneração) de auxiliares diretos é prerrogativa pessoal da mandatária.

Sabem todos que Dilma Rousseff não faz parte do clube dos corruptos. Aliás, sua popularidade foi às alturas quando, de uma vassourada, mandou meia dúzia de ministros plantar batata.

Para grandes males, grandes remédios. Se ela quiser resgatar sua imagem - que se esfarela dia após dia - só lhe resta um caminho: exigir que todos os titulares de seu inchado corpo ministerial apresentem sua demissão. Todos, sem exceção. Ninguém poderá dizer que foi demitido, as aparências serão salvas e estará feita a tábula rasa. O sinal enviado à nação será tremendo. Todos entenderão que, por fim, a presidente realmente ouviu a voz das ruas e está disposta a recomeçar com o pé direito.

Para seguir a lógica até o fim, Dilma deverá escolher os novos titulares não mais por afiliação partidária ou por apadrinhamento, mas pela competência. Pisará o pé de muita gente, mas, é certeza, mostrará sua coragem, vencerá a parada.

E o Congresso? E a base aliada? Vão todos desertar? Ora, que bobagem. A grande massa de nossos representantes funciona na base da cooptação e de seu corolário, o medo. O pavor de não serem reeleitos é maior que qualquer ideologia. Todos se bandearão para o lado vencedor. Qual dos representantes ousará contestar a audácia da presidente?

Em vez de pintar a girafa ou de planejar plebiscitos, dona Dilma deveria assumir com firmeza as rédeas do governo. Pulso, intrepidez e energia não lhe faltam. Que diga adeus a gurus, marqueteiros e messias. Seguindo essa via sem tergiversar, apaziguará as ruas e garantirá sua reeleição.

Aqui não tem tarifa zero - ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR

FOLHA DE SP - 06/07

Jovens da região de Hollywood, que levam vida vazia, só querem saber de consumir e de roubar


Eles não pedem redução de tarifa, nunca usaram transporte público, se bobear não sabem nem que existem ônibus e trens.

Também não querem saber quem está no governo, não se preocupam com a democracia ou com a falta dela, não apanham da polícia, nunca viram uma passeata.

Ignoram os estudos e nem para sexo ligam muito.

Querem, isso sim, cultuar celebridades, melhor ainda, querem ser celebridades. Vivem para consumir, e é o seguinte: não pretendem pagar.

Eles são o "Bling Ring" ("A Gangue de Hollywood", na pouco sutil tradução brasileira), retratados no novo filme de Sofia Coppola. Estreia no dia 2 de agosto no Brasil. Vi há algumas semanas nos EUA.

"Ring", aqui, não é "anel", significado mais comum. É "bando", ou, mais precisamente, "patota". E "Bling" é uma onomatopeia, o "plim-plim" metálico das joias quando resvalam umas nas outras.

O nome original do filme resume a principal atividade dessa patota adolescente: fazer furtos, preferencialmente de joias e acessórios de alto valor, nas casas de celebridades.

Aconteceu de verdade. Entre 2008 e 2009, quatro garotas e um menino, todos de famílias ricas da região de Los Angeles, descobriram um novo tipo de diversão. Pela internet, ficavam sabendo quando seus famosos preferidos estavam fora da cidade. E, pela mesma rede, encontravam facilmente os endereços das estrelas.

Para brasileiros, pode parecer estranho, mas essas celebridades, quando iam viajar, não se dignavam nem a trancar a casa. Também não tinham um staff de funcionários 24 horas, ou seguranças.

Assim, ficava fácil para o "Bling Ring" atacar. Entre as vítimas, Paris Hilton, Orlando Bloom e Lindsay Lohan. Foram mais de R$ 6 milhões em mercadorias furtadas.

Para as filmagens, Paris cedeu a própria mansão, uma espécie de masmorra kitsch cuja estética faz Hebe Camargo parecer uma campeã do minimalismo. Só por mostrar esse monumento à opulência sem noção, o filme já vale.

O que torna essa história tão interessante, a meu ver, é o perfil social dos ladrõezinhos. No padrão americano, são de classe média alta. Mas muito diferentes, por exemplo, da juventude do romance "Abaixo de Zero", de Bret Easton Ellis, também ambientado em Los Angeles, só que nos anos 80.

Os jovens de "Abaixo de Zero" já são a elite da elite de L.A. Não precisam cultuar celebridades, porque convivem com elas. Se, em uma festa, veem a atrizinha do momento jogada no chão com uma seringa de heroína espetada no braço, passam direto, ocupados de si próprios.

O pessoal de "Bling Ring", não. A turma mora em Los Angeles, verdade. Mas é uma outra L.A., aquela do lado de lá das montanhas, o chamado Vale de San Fernando. Onde também existe muita grana, mas faltam o glamour e a tradição de Beverly Hills. Mal comparando, se Beverly Hills é a zona sul do Rio, o Vale é a Barra da Tijuca.

É nessa pequena diferença entre o mundo do "Bling Ring" e o mundo das celebridades (tão próximo, mas ao mesmo tempo tão distante do Vale de San Fernando) que está a força do filme.

Os mais velhos talvez se lembrem de "Valley Girl" ("Garota do Vale"), canção de Frank Zappa que retrata exatamente esse universo. As jovens de Zappa, como as de Sofia Coppola, só pensam em joias, roupas e sapatos. E precisam explicar que moram no Vale, "mas na parte boa".

Coppola tomou algumas decisões radicais para construir o filme. A fim de retratar a ausência dos pais na criação da molecada, ela os fez literalmente ausentes. Com uma única exceção, pais e mães simplesmente não aparecem. Só mesmo no último ato do longa, quando cai a casa dos jovens ladrões, é que os coroas surgem. Como perfeitos patetas, sem a menor ideia do que está acontecendo.

Outra decisão importante da diretora tem a ver com o perfil psicológico dos adolescentes. Ela optou por não investir nisso. Os personagens são como são, ponto. Sem explicações. Especialmente no caso de Rebecca, a líder da gangue, tão jovem e já tão fria e manipuladora, senti falta de um aprofundamento maior.

Para os padrões de Sofia Coppola, discípula de Antonioni pouco chegada a diálogos, "Bling Ring" tem até muitas falas. E, como sempre nos filmes dela, a fotografia é deslumbrante.

Entre poucos erros e muitos acertos, uma estreia e tanto. Não perca.

Salvo pelo gongo - LUIZ CARLOS AZEDO


CORREIO BRAZILIENSE - 06/07

Nove entre 10 petistas, a começar pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acreditam que somente a substituição do ministro da Fazenda, Guido Mantega, será capaz de restabelecer a confiança dos investidores e evitar que a economia mergulhe numa recessão neste segundo semestre. A presidente Dilma Rousseff, porém, ainda resiste. Por quê?

Porque até o ascensorista do Ministério da Fazenda sabe que o chefe cumpre as ordens da presidente da República, que é a principal responsável pela rota em que a economia se encontra, combinando inflação alta, crescimento baixo e risco maior de desemprego. Foi ela que, aconselhada pelos ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior) e Aloizio Mercadante (Educação), insistiu no modelo de crescimento baseado no consumo das famílias e nos juros derrubados a fórceps. Um pouquinho mais de inflação até ajudaria a bombar o Produto Interno Bruto (PIB), mas o que se viu foi exatamente o contrário. O alto custo de vida derrubou a atividade econômica.

No mercado, cresce a opinião de que Dilma até poderia ter mantido os estímulos ao consumo e forçado o Banco Central a baixar os juros, desde que o Tesouro Nacional fechasse os cofres e evitasse os desequilíbrios oriundos da gastança. É possível que Mantega tenha ganhado uma sobrevida com a queda da inflação (IPCA) de junho, a menor em um ano: desacelerou de 0,37% em maio para 0,26%. Mas o horizonte é puro nevoeiro. Os preços ainda sentiram o baque da alta do dólar e o mercado de trabalho está perdendo o fôlego com muita velocidade.

Desarticulação

Ontem, na reunião com os coordenadores da bancada petista, Dilma ouviu críticas à condução da economia, mas fez a defesa do ministro Guido Mantega, reiterou o discurso de que a inflação está sob controle e de que não haverá recessão. Reconheceu, porém, a desarticulação do governo no Congresso, apontada por todos que se pronunciaram, inclusive o líder da bancada, José Guimarães (foto), do PT-CE. 

Corte
Pressionado pelo mercado e com a cabeça a prêmio entre os petistas, Guido Mantega anunciou ontem um corte no Orçamento da União de R$ 15 bilhões

Cariocando

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (foto), participou ontem de um debate promovido pelo Instituto Teotônio Vilela para o desenvolvimento de um projeto para o Rio de Janeiro. Organizado pelo centro de estudos do partido, o encontro reuniu o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os economistas Edmar Bacha e Armínio Fraga e representantes de vários setores da sociedade. 

Vai pagar
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), resolveu devolver o dinheiro equivalente ao custo pela utilização de um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) em 15 de junho, da ordem de R$ 32 mil. Segundo reportagem do jornal Folha de S. Paulo, o senador usou a aeronave para ir ao casamento da filha do líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), em Porto Seguro (BA). Renan alegou que havia usado avião como presidente do Senado.

Petrobras
O PSDB resolveu centrar fogo na gestão da Petrobras para desgastar o governo. A tese é de que a estatal foi aparelhada pelo PT e que é preciso investigar as operações da empresa no exterior. Ontem, o líder da bancada tucana na Câmara, Carlos Sampaio (SP), disparou: “É assustadora a notícia de que a companhia teve a menor cotação em oito anos, tanto que seus papéis são o destaque negativo da bolsa de valores hoje (ontem)”, criticou.

Guru
O marqueteiro João Santana é o principal defensor da estratégia adotada por Dilma Rousseff em relação às manifestações de protesto. Acredita que a presidente da República pode virar uma espécie de “titia” da garotada que vai para as ruas. 

A fonte
Para o presidente da Comissão Nacional de Direitos Humanos da OAB, Wadih Damous, a reforma política é imprescindível para qualificar a representação parlamentar e criar formas de financiamento de campanha que impeçam as doações por parte de pessoas jurídicas. Segundo ele, nesses itens reside a fonte de toda a corrupção.

Azebudsman
A OAB retifica a nota publicada na terça-feira passada sobre o Exame da Ordem: os únicos beneficiados com a pontuação de 2,5 foram os candidatos de civil tão somente, ou seja, os da área tributária não, ao contrário do que havíamos publicado.

Pediu a cabeça 
Embora negue, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva realmente sugeriu à presidente Dilma Rousseff que o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles substituísse o ministro Guido Mantega na Fazenda. Segundo Lula, seria um sinal de que o combate à inflação e à responsabilidade fiscal estariam acima de tudo.

Desaforo não aceita dinheiro - JORGE BASTOS MORENO - Nhenhenhém


O GLOBO - 06/07

Quarta-feira da semana passada, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, recebeu um seleto grupo de convidados, entre ministros, líderes partidários e, também, o vice-presidente Michel Temer, para assistir ao jogo Brasil X Uruguai, no telão da sua residência oficial.

Acredita-se que os convidados foram escolhidos a dedo, pois estava ali, sem tirar nem pôr, o chamado sacro colégio que faz a cabeça do Congresso. Sem o aval desses cardeais, nada passa pelo Legislativo.

Pois bem, ao final do jogo, Alves anunciou:

— Eu vou para a final! Temer gritou:

— Mas não no jatinho da FAB.

Alves argumentou que tinha direito a esse tipo de transporte. Mas o colegiado, por unanimidade, considerou a intenção uma provocação desnecessária ao atual sentimento político das ruas.

Alves resolveu pagar para ver. Pagou, literalmente, quase dez mil reais e acha que resolveu o problema.

Morcego negro
Já quanto a Renan Calheiros, há um pequeno detalhe que reforça o seu argumento de que fora ao casamento da filha do líder do governo, Eduardo Braga, em missão oficial.

É que não existe relação pessoal entre os dois.

Renan simplesmente odeia o senador Braga, por motivos que não cabem aqui. Vive pedindo sua cabeça.

Agora, com a repercussão da desastrada viagem, deve estar odiando muito mais.

Show
Ao ver o senador Humberto Costa na tribuna e os senadores, de costas, conversando entre si, Caetano Veloso não suportou:

— Calem a boca! Vamos prestar atenção no discurso!

E a atenta Paula Lavigne:

— Caetano, aqui não é casa de show, onde todos prestam atenção no artista. Aqui não tem plateia. Só artistas.

Dança dos famosos
A “dança dos tangarás” — um passo à frente, um passo atrás — da dupla Temer/Cardozão foi muito bem resolvida internamente, embora, externamente, tenha exposto as vísceras da desorganização do governo. Depois do imbróglio, Dilma ligou para acariciar Michel Temer.

Mecânicos
Por motivações diferentes, os principais líderes do PT, Vaccarezza e José Guimarães à frente, uniram-se ao líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, e criaram uma empresa de desmanche do governo Dilma no Congresso.

Volta por baixo
Dilma já sabe que seu antecessor fica docemente constrangido com o crescente movimento “Volta, Lula”. E sabe também que, em agosto, quando o STF mandar os mensaleiros para a cadeia, surgirá o “Fica, Dilma!”.

Alívio
Na reunião ministerial em que brilharam Paulo Bernardo, condenando a intempestividade petista sobre o controle da mídia, e Gilberto Carvalho, peitando publicamente o Guido Mantega, quem arrancou gargalhadas foi o ministro da Previdência, Garibaldi Alves:

— Olha, eu vou contar pra vocês. Toda vez que eu ligava a TV e via um velhinho, eu pensava: “Xi, agora vão reclamar da Previdência.” Vocês não sabem o alívio que foi ouvir que eles só estavam reclamando da Saúde, da Educação, do Transporte e da corrupção.

Febem
Entre os vândalos que incitaram a desproporcional reação da PM em frente à casa do Cabral, no Leblon, estava um bando de garotinhos.

Foi essa “garotinhada” que teria jogado pedras contra as janelas dos apartamentos dos moradores do bairro.

Nota triste
Na entrevista ao programa de Geneton Moraes Neto na Globo News, o senador gaúcho Pedro Simon surpreendeu o jornalista ao revelar que está deixando a vida pública ao final deste mandato.

Incansável
A bela colunista Sonia Racy revelou que Fernando Cavendish criou a Técnica Construção e está disputando duas licitações do Alckmin.

Plano de voo
O político brasileiro tem uma estranha mania sempre que é flagrado em malfeitorias. Em vez de se defender, procura saber primeiro quem o denunciou para poder desqualificar a denúncia. E sempre erra na mosca. Como Alves, que acusa o PT de tê-lo denunciado sobre o jatinho da FAB.


MÃOS AO ALTO - MÔNICA BERGAMO


FOLHA DE SP - 06/07

O secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, sofreu uma tentativa de assalto à mão armada anteontem em SP. Ele chegou a correr atrás do bandido, que acabou preso pela Guarda Municipal. "Eu ando na rua como o povo e estou sujeito a isso como o povo", diz Porto, que classifica a cidade como segura, embora longe do patamar ideal.

O GRITO
Ele caminhava com a namorada, a promotora Ana Beatriz de Oliveira, em direção à sede do Ministério Público, no centro, quando foram abordados. O assaltante pediu carteiras e relógios, mas fugiu quando ela começou a gritar.

PEDRA
"Corri atrás dele mantendo uma distância segura, para não perdê-lo de vista. Podia não ter acabado bem, mas deu certo." No caminho, Porto encontrou uma viatura da GCM (Guarda Civil Metropolitana), que alcançou o autor da ameaça.

BARRADOS NO BAILE
O cartunista Laerte não conseguiu entrar na festa promovida pela editora Companhia das Letras, em Paraty, na quinta. Seu nome não estava na lista. Produzido para a noite no estilo crossdressing (ver fotos ao lado), ao qual aderiu há alguns anos, foi tietado à porta. Esperou por 40 minutos na entrada do restaurante fechado para os convidados. E foi embora com o grupo de amigos que o acompanhava.

REALISMO FANTÁSTICO
No ar com "Saramandaia", Ricardo Linhares contou com um helicóptero, disponibilizado pela Globo, para se deslocar do Rio para Paraty e poder participar da Casa do Autor Roteirista, evento paralelo à Flip.

Ontem, ao lado dos atores José Wilker e Lima Duarte, ele prestou homenagem a Dias Gomes, autor da novela que reescreve agora para o horário das 23 horas.

DUAS VERSÕES
Adriana Calcanhotto aceitou o convite de Liz Calder para participar da FlipSide, a versão inglesa da feira literária de Paraty, em outubro. A cantora vai apresentar em Suffolk, na Inglaterra, um show de voz e violão e também seu lado curadora, exibido agora na Flipinha, com o lançamento da "Antologia Ilustrada da Poesia Brasileira" para crianças. Além da seleção dos poemas, Adriana fez as ilustrações da obra.

POSITIVO
Liz Calder, uma das fundadoras da Flip, tem exaltado publicamente a postura de Dilma Rousseff diante das manifestações por todo o país.

"Vocês têm uma presidente que recebe os movimentos sociais e dialoga com eles. Isso é raro", elogia a inglesa, radicada no Brasil há anos.

NAS PEDRAS DE PARATY
O segundo dia de Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) reuniu, na quinta, o cartunista da Folha Laerte Coutinho, o empresário e advogado Pierre Moreau, o economista Gustavo Franco, o poeta Mano Melo, o editor Leandro Sarmatz, a agente literária Lucia Riff, a escritora Simone Campos e a editora Sofia Mariutti.

CURTO-CIRCUITO
O musical "Avenida Q" reestreia hoje, às 16h, no teatro Sérgio Cardoso, na Bela Vista. 14 anos.

A Galeria de Arte da Hebraica, em Pinheiros, abre hoje a exposição coletiva "Personificação", às 12h.

A banda Pollo se apresenta hoje na Ballroom, na rua Augusta. 18 anos.

Tiê recebe em casa amanhã a dupla Peixoto & Maxado e transmite o show em vídeo, pelo Twitter, a partir das 17h.

O gigante fala dormindo - GUILHERME FIÚZA

O GLOBO - 06/07

O Brasil deu para dizer a si mesmo que mudou. Que nada mais será como antes das manifestações de rua, que agora vai. Que se os governantes e os políticos em geral não entenderem o recado das ruas, estão fritos. É um fanfarrão, esse Brasil.

Qual é mesmo o recado das ruas? Vamos falar a verdade: ninguém sabe. Nem as ruas sabem. Ou melhor: não há recado. O gigante continua adormecido em berço esplêndido — o que se ouviu foi um ronco barulhento, misturado com palavras desconexas. Esse gigante fala dormindo.

Há alguns anos, a imprensa vem contando aos gritos o que está acontecendo com o gigante, sem que ele mova um músculo. E o que está acontecendo é devastadoramente simples: em uma década, o ciclo virtuoso do país foi jogado fora pela indústria do populismo. A crise das tarifas de ônibus (estopim dos revoltosos) é só uma unha do monstro: o descontrole inflacionário causado pelo derrame de dinheiro público. País rico é país com 40 ministérios.

A economia estabilizada nos anos 90, e a posterior enxurrada de capital para os países emergentes, deram ao Brasil sua grande chance. E ela foi queimada por um governo que investiu tudo numa máquina eleitoral sem precedentes. Planejamento zero. Investimento quase zero. Infraestrutura abandonada em terra, mar e ar, com trem-bala, Belo Monte e outras assombrações bilionárias encobrindo a realidade: o PAC entregue à pirataria da Delta e quadrilheiros associados. A CPI do Cachoeira chegou a levantar esse véu, mas o gigante não acordou e a CPI foi assassinada (pelo PT e seus sócios).

Os governos Dilma e Lula bateram todos os recordes de arrecadação, com impostos escorchantes (entre os maiores do mundo) que empobrecem os brasileiros e enriquecem o império do oprimido. Nem um gemido das ruas sobre isso. Dilma anuncia um “pacto” sem nada dentro, e ainda diz que para bancar o recheio do pastel de vento terá que aumentar impostos. É o escárnio. E não aparece nenhum Robespierre da Candelária para mandar a presidente engolir o seu deboche.

Enquanto isso, a maquiagem das contas públicas vai bem, obrigado — com mais um truque contábil no incesto entre o BNDES e o Tesouro, para forjar superávit e legalizar a gastança. É pedra na vidraça do contribuinte, que nada ouve e nada vê. Deve estar na passeata, exigindo cidadania.

Pensando bem, foi o governo popular quem melhor entendeu o recado das ruas: os cães ladram e a caravana passa. Ou talvez: os revoltados passam e a quadrilha ladra.

Para checar se o gigante estava dormindo mesmo, o estado-maior petista chamou um dos seus para ir até o ouvido dele e chamá-lo de otário, bem alto. Assim foi feito. Como primeira reação oficial às passeatas, Dilma escalou Aloizio Mercadante para dizer ao povo que ele ia ganhar um plebiscito. E que com esse plebiscito, ele, o povo, ia fazer a “reforma política” (o Santo Graal dos demagogos). Claro que o governo sabia que isso era uma troça, uma piada estilo “Porta dos fundos”. Tanto que caprichou nos ingredientes.

Para começar, a escolha criteriosa do porta-voz. No governo da “presidenta”, cercada de ministras mulheres por todos os lados, a aparição do ministro da Educação — cuja pasta não tinha nada a ver com nada (nem reforma política, nem plebiscito, nem transportes, nem orçamento, nada) — já seria impactante. E não era qualquer ministro. Era o famoso Mercadante, figura tostada em casos como o dossiê dos aloprados e a “renúncia irrevogável” da liderança do PT no Senado, quando o partido decidiu acobertar o tráfico de influência de Sarney (Mercadante revogou sua própria renúncia em menos de 24 horas).

E o porta-voz foi logo anunciando um “plebiscito popular”, só faltando dizer que era uma decisão de “governo governamental”. Enfim, um quadro de “Zorra total”.

Com toda essa trágica palhaçada gritada em seu ouvido, o gigante permaneceu estático. Sono profundo. Nem um “basta”, nem um “#vem pra rua”, nem um “que m... é essa”. Depois daquele incrível ensaio de Primavera Árabe (ou seria Inverno Tropical?), com milhões nas ruas em todo o território nacional, o Brasil revolucionário mordeu a isca como um peixinho de aquário. E está até agora discutindo, compenetradamente, o plebiscito popular e irrevogável do Mercadante. Contando, ninguém acredita.

O país se zangou, foi para as ruas, tuitou, gritou, quebrou e voltou para casa sem nem arranhar quem lhe faz mal. O projeto de privatização política do Estado, que corrói a sociedade e seu poder de compra, está incólume. A prova disso? A popularidade de Dilma caiu, mas quem surgiu nas pesquisas para 2014 vencendo a eleição no primeiro turno, e escolhido “o mais preparado para cuidar da economia nacional”? Ele mesmo: Luiz Inácio, a nova esperança brasileira.

Ora, senhor gigante: durma bem! Mas, por favor, ronque baixo. E pare de bloquear as ruas com seus espasmos inconscientes.

A presidente se afunda enganando a si mesma - ROLF KUNTZ

O ESTADO DE S. PAULO - 06/07

Mentir para os outros pode ser pecado.

Pode também ser crime, em algumas circunstâncias.Mentir para si mesmo é insânia.Os brasileiros, têm, portanto, mais um sério motivo para se inquietar.

O governo, tudo parece indicar, mente para si mesmo e continuará mentindo para se isolar da realidade. É muito difícil explicar de outra forma a reação da presidente Dilma Rousseff e de sua equipe às manifestações de rua e ao tsunami de más notícias. O governo tentou, mas como deslocar os problemas para o Congresso, quando até fontes oficiais continuam despejando informações assustadoras sobre a economia? Até os aliados, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, têm resistido à manobra, Mesmo sem essa resistência, a situação desastrosa do País continuaria atraindo as atenções.

O Banco Central (BC), uma das fontes oficiais, diminuiu de 3,1% para 2,7% o crescimento econômico projetado para o ano, além de reduzir de US$ 15 bilhões para US$ 7 bilhões o saldo comercial estimado. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) reestimou de 3,2% para 2%a expansão do produto interno bruto (PIB). Na semana passada estava em 2,4% a mediana das projeções do mercado financeiro. Não só as bolas de cristal mostram cenários tenebrosos.Os dados já conhecidos alimentam no dia a dia as previsões negativas.

Um bom exemplo: a produção industrial caiu 2% de abril para maio, depois de modesta recuperação nos meses anteriores, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O saldo comercial do trimestre foi um déficit de US$ 3 bilhões, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento.

Mas o número seria bem pior sem as exportações fictícias de plataformas de petróleo no valor de US$ 2,4 bilhões.

A inflação continua elevada e especialistas apontam um resultado próximo de 6% até o fim do ano. A desinflação dos alimentos acabou e o custo das matérias-primas poderá em breve pressionar de novo os preços ao consumidor.

Em junho, o índice oficial de inflação, o IPCA, calculado pelo IBGE, perdeu impulso e subiu 0,26%, principalmente por causa da menor pressão dos preços dos alimentos. Mas no atacado os preços agrícolas aumentaram 1,46%, depois de recuarem 0,75% em maio, de acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Também no atacado a alta dos preços industriais chegou a 0,62%. Ainda em junho, o índice de commodities do BC, o IC-Br, subiu 5,34%, com variação de 5,72% para agropecuária, 4,3% para metais e 4,39% para energia.

O repasse desses aumentos ao varejo dependerá de fatores como o nível de emprego,a renda e a disposição dos consumidores,a possibilidade de substituição de bens, as condições do crédito e,naturalmente,a situação das contas públicas.Os consumidores andam mais ressabiados e cautelosos. Mas o emprego permanece elevado,os salários ainda acumulam ganhos reais, embora menores que os dos últimos anos, o crédito ainda aumenta e a política fiscal permanece,como afirma o pessoal do BC, "expansionista".

Nas ruas,manifestantes protestaram contra as tarifas e a qualidade do transporte urbano e cobraram melhores padrões de serviços essenciais,como educação e assistência à saúde. Diante dessas pressões a presidente propôs um plebiscito fora de hora, sobre temas políticos, e convocou os ministros para exigir maior empenho na execução de seus programas - os mesmos programas condenados nas ruas pela baixíssima qualidade de seus resultados.

Os ministros da área econômica estavam prontos, como sempre, para esse tipo de jogo.

Afinal, continuam prometendo mais do mesmo-uma péssima gestão das finanças públicas, mal disfarçada com novos lances de contabilidade criativa, já famosa até na imprensa estrangeira. A quem pensam enganar? Só podem enganar a si mesmos, é claro, porque até os muito trouxas acabam percebendo,embora com algum atraso, os sinais do desarranjo.

A presidente, dizem fontes de Brasília,está isolada.Decerta forma,sempre esteve.Desde o começo de seu mandato cercou-se de assessores incapazes -por incompetência ou por falta de coragem - de ajudá-la a examinar os fatos e a planejar as ações de governo com base em diagnósticos realistas.

A maior parte de sua política administrativa e econômica é mero desdobramento da herança deixada por Luiz Inácio Lula da Silva.Nenhuma alteração essencial ocorreu na diplomacia econômica. Na prática, as prioridades têm sido as mesmas. O País continua amarrado ao mundo estreito e medíocre do Mercosul. Enquanto isso, negociam-se novas alianças e novas perspectivas de comércio e integração econômica são abertas em quase todas as regiões, incluída a América Latina. A Aliança do Pacífico é um bom exemplo.

A administração continua tão ineficiente quanto na fase do antecessor, quando o Brasil foi arrastado pela prosperidade mundial e o País pareceu tornar-se uma potência de peso.A grande novidade, naquele período, foi a rápida incorporação de massas ao mercado consumidor.Como nada se fez para modernizar o País e fortalecer sua capacidade produtiva, a mágica da expansão do mercado se esgotou. A dramática perda de produtividade geral da economia deixou o País desarmado para enfrentar a concorrência estrangeira.

Os resultados são evidentes nas contas externas, mesmo com algum disfarce.Aparentemente sem perceber esses fatos, a presidente insistiu numa política baseada principalmente no estímulo ao consumo. O resultado foi uma combinação de pior a das contas fiscais,erosão do balanço de pagamentos, inflação sempre alta e indústria estagnada.Na administração federal, direta e indireta.aparelhamento e loteamento continuam predominando.

Vai-se consertar tudo isso com um plebiscito improvisado?

Negri e Chávez, tudo a ver - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 06/07
Uma das mais importantes contribuições à integridade da democracia brasileira foi dada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na nota em que mostrou a impossibilidade de realizar o plebiscito sobre reforma política em tempo de obedecer aos prazos legais estabelecidos pela Constituição para valer na eleição de 2014.

Ao colocar como barreira a Constituição, e salientar que não é possível perguntar ao povo questões que ele não pode resolver, como as que exigem emendas constitucionais no Congresso, o TSE deu balizamento para eventuais tentativas de alterar a Constituição através de plebiscitos, sonho de consumo permanente de um grupo influente do petismo.

Nesse contexto, o desespero da presidente Dilma para levar adiante a proposta de plebiscito sobre a reforma política pode gerar uma crise de graves consequências, com o Palácio do Planalto, acobertado pelo PT, tentando jogar a população contra o Congresso, como se a solução das reivindicações das ruas dependesse do plebiscito. O grau de periculosidade aumenta quando o PT decide não só levar para as ruas centrais sindicais e organizações populares ligadas a ele, como insistir na convocação de uma Constituinte. No dia 25 do mês passado, escrevi a coluna "Democracia direta", sobre o perigo de utilizar consultas populares para ultrapassar o Congresso, e disse que a tendência dominava países da América Latina ditos "bolivarianos", sob a liderança da Venezuela chavista, que se inspirara no livro "Poder Constituinte - ensaio sobre as alternativas da modernidade", do filósofo italiano Antonio Negri.

Pois bem, o professor de Direito Constitucional Adriano Pilatti, tradutor do livro para o português, postou no Facebook nota contra o que escrevi. Juntamente com Toni Negri e Giuseppe Cocco, publicou um artigo no jornal "Valor" supostamente para rebater "as sandices" que escrevi, segundo Pilatti. Nesse artigo, afirmam que nunca falaram especialmente sobre a Venezuela, mas sobre o surgimento de novos governos na América do Sul, e, analisando as manifestações dos últimos dias no país, escrevem que "a teoria do poder constituinte e sua realidade (aquela que está abertamente nas ruas do Brasil inteiro) é uma teoria da democracia radical. Não é contra a representação, mas contra a separação dessa de sua fonte: a soberania popular".

A íntima relação de Toni Negri com Hugo Chávez, o falecido protoditador venezuelano, no entanto, está registrada em um encontro que tiveram em Cumaná, Estado de Sucre, num domingo 5 de fevereiro de 2006, e gravado para o programa Alô Presidente número 246. Quem quiser ver a íntegra pode ir ao Google e, a partir da página 59, encontrará diálogos do que Negri e Chávez entendem por "democracia". Chávez conversa com Toni Negri e diz que o conheceu primeiro através de livros como "O Poder Constituinte", que o fez compreender "o que é o poder constituinte original". Negri agradece e diz que teve "muita sorte" de o seu livro cair "em excelentes mãos. Mãos que levaram a cabo não somente um processo democrático, mas também que puderam levar a cabo com esse livro uma revolução, que é a essência de uma verdadeira Constituição, esse amor que nasce e se transmite através da prática da Constituição".

Negri diz que " é interessantíssimo ver como se desenvolve este processo, esse é o essencial, o que você chama de dar o poder ao povo. Quer dizer, transformar este processo revolucionário em uma verdade, em um processo verdadeiro de dar poder ao povo, o que chamo de uma ação verídica até o povo". Outro aspecto importante, diz Negri, é que um grupo de companheiros, tanto na Itália quanto em toda a Europa e América Latina, está vendo "com muito interesse a experiência venezuelana, a proposta bolivariana, e como se está estendendo pela América Latina". Para Negri, "é importante ver que o inimigo somente pode ser vencido através da luta de classes, da luta de todos nós. A luta de classes nos continentes é minha esperança, poder continuar aprofundando este debate, esta proposta que se está formulando hoje que você chama de socialismo do século XXI e eu poderia também chamar de comunismo".

Chávez agradece a Negri e torna a dizer que a partir do livro "O Poder Constituinte", que o fez entender o poder constituinte originário, está se desencadeando um processo na Venezuela e na Bolívia. "Estamos aqui levando adiante um processo democrático, revolucionário, pacífico. Mas, como já disse antes, é uma revolução "alerta e armada", para destruir a traição à Pátria".

A falácia da falta de médicos - LINA APARECIDA ZARDO

ZERO HORA - 06/07

Contrariando o parecer de todas as entidades médicas brasileiras, o governo insiste na proposta de trazer médicos estrangeiros para o nosso país. Conforme a Organização Mundial de Saúde, a OMS, temos aqui profissionais suficientes e até algum excesso. O que temos é a concentração dos mesmos nas cidades grandes e carência nas regiões metropolitanas e em cidades pequenas ou distantes.
Os médicos preferem instalar-se onde há mais recursos tecnológicos, maior chance de trabalho, mais apoio logístico, mais conforto para viver.
Durante o curso de formação médica, os estudantes foram (são) treinados predominantemente com pacientes hospitalizados onde há todos os recursos para investigação e tratamento e pouco tempo é dedicado ao estudo e prática com pacientes de ambulatório que são a porta de entrada para o Sistema Público de Saúde. Uma pesquisa epidemiológica clássica mostrou que para 100 indivíduos que procuram atendimento de saúde, 87 apresentam queixas solucionáveis no próprio local (com retornos e acompanhamento), oito necessitam exames complementares e/ou especialistas e cinco devem ser encaminhados a um hospital. Assim que a maior necessidade em saúde da população é saber ouvir o paciente, estabelecer vínculos com ele, dialogar sobre suas alterações de saúde e seu estilo de vida. Há pouco treinamento para esta abordagem que não utiliza os modernos e sofisticados exames de investigação e, além disto, considera-se de menos valia este trabalho em que cada médico realiza sua ciência e arte num corpo a corpo com o paciente. As consultas médicas, tanto no SUS como nos convênios, são a tarefa mais mal remunerada da medicina. E também são vistas como de menor prestígio profissional e social.
Nunca foi planejado e organizado um programa de incentivo para alocar médicos em localidades pequenas e/ou distantes nas quais há poucos recursos complementares. Tem de haver lá um mínimo de apoio técnico complementar local, como laboratório básico, exames básicos de imagem, outros profissionais em equipe, transporte de pacientes para o hospital regional mais próximo e uma supervisão competente.
Outro obstáculo é a ausência de uma carreira de trabalho para o médico da saúde pública. Esta asseguraria rendimentos fixos, progressão e estabilidade profissionais, chance de evolução por critérios pré-estabelecidos e/ou por mérito de avaliação.
Não há vagas para todos os formandos de medicina nos estágios de residência e menos ainda para treinamento em Saúde da Família ou Saúde Pública. Por estes dias o governo aumentou a remuneração da bolsa de residência e promete abrir vagas para que todos os formandos tenham seu estágio de treinamento garantido.
Não há necessidade de mais escolas médicas no país. Temos 149, número similar ao da China e da Índia, países de população muito maior que a nossa. Precisamos sim avaliar e aprimorar o ensino das já existentes. Um exame realizado no Estado de São Paulo, em 2012, em médicos recém formados, encontrou reprovação em 53% deles. Assim que, antes de trazer médicos estrangeiros, é preciso "arrumar a casa".

Simpatia quase amor - ILIMAR FRANCO

O GLOBO - 06/07

Orientada por seus conselheiros, a presidente Dilma, nos discursos da Lei dos Portos e do Plano para o Semiárido, deixou de lado a sisudez habitual e distribuiu chamegos. Citando seus nomes, agradeceu a contribuição de 20 deputados federais, oito senadores, nove ministros, nove governadores e até do prefeito ACM Neto, eleito pela oposição. Nunca tantos fizeram tanto num governo.

O mundo de Dilma
Reunida com líderes petistas, ontem, a presidente Dilma sustentou que todo o discurso relativo ao descontrole das contas públicas e à volta da inflação é papo furado da oposição. Ela afirmou que a curva de preços está dentro da meta, e que os adversários usam a questão econômica para desgastar seu governo. Sobre os gastos elevados do governo, Dilma falou, em determinado momento: "Quando FH deixou o governo, a dívida pública chegava a 60% do PIB. No governo Lula, foi reduzida para 45% do PIB e, na minha gestão, já está em 36% do PIB." Sinalizou que não deve reduzir o número de ministérios e que não pretende fazer mudanças imediatas no governo.


"Qualquer ato contrário à moralidade tem a nossa reprovação. Compartilhamos com a defesa do zelo no uso dos recursos públicos"
Leonel Munhoz Presidente do Sindicato dos Auditores do TCU, sobre o auxílio-refeição dos ministros do Tribunal

Uns são mais petistas que outros
Alguns deputados do PT não ficaram sabendo da reunião da bancada com a presidente Dilma, no Planalto. Surpreendidos, ouviram que foi chamada a "coordenação": 17 parlamentares que são vice-líderes ou presidem comissões.

Medindo a pressão
A eventual candidatura do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) ao governo do Rio será testada em pesquisa patrocinada por uma das forças tradicionais do estado. Querem conhecer o potencial de um candidato da linha, digamos, "dane-se", e seu efeito sobre as demais candidaturas. Para a prefeitura do Rio, em 2010, ele fez 28% dos votos.

Na vanguarda
Antes que o PMDB defendesse publicamente a redução dos ministérios, a tese foi sustentada veementemente, em sucessivas reuniões com a presidente Dilma, pelo ministro Aloizio Mercadante, um dos conselheiros do Planalto.

Queda de braço
Os auditores do TCU estão em guerra contra o senador Fernando Collor (PTB-AL). Ele fez emendas à LDO que transferem do TCU para o Congresso a decisão sobre a concessão de medidas cautelares. E, também, responsabiliza-os por prejuízos com a eventual suspensão de contratos suspeitos de irregularidades. Os auditores acusam Collor de tentar amordaçá-los.

Plataforma de oposição
Candidato a presidente do PT, o deputado Paulo Teixeira (SP) defende uma direção coletiva, aproximação com os movimentos sociais e maior diálogo com o governo Dilma. E alerta que o "Volta Lula" não ajuda a enfrentar a crise.

O petismo faz escola
O governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, tem em seu governo 28 secretários e outros 27 órgãos com status de secretaria, chegando ao total de 55, ou seja, 16 a mais do que o número de ministros da presidente Dilma.

O ex-ministro
Franklin Martins está de volta. Sem cargo, ele é presença constante no Planalto nas reuniões para debater como debelar a crise.


Isolamento palaciano - VERA MAGALHÃES - PAINEL

FOLHA DE SP - 06/07

O Planalto admite que a maioria na Câmara está ameaçada e que partidos aliados, como o PMDB, agiram para derrotar o governo no projeto que destinaria ao Minha Casa, Minha Vida os recursos da multa sobre o FGTS. Após reunião com petistas ontem, Dilma Rousseff questionou Rui Falcão sobre o PT participar da paralisação geral marcada para quinta-feira. Segundo auxiliares da presidente, Falcão minimizou o ato e disse que o partido iria para defender a reforma política.

Faca nos dentes O entendimento de integrantes do governo é que os petistas aproveitarão a má fase de Dilma para pressioná-la a ceder cargos e trocas na equipe.

Quem se habilita? Apesar das especulações, não há definições a respeito das substituições ministeriais. Nas lideranças do Congresso, um dos nomes defendidos internamente era o de Paulo Teixeira para a Câmara, mas o deputado se lançou para a presidência da legenda.

Ação Os próprios petistas apresentaram a Dilma o diagnóstico de que a base aliada está em ruínas. A presidente reagiu e disse que fez seu papel ao reconquistar o apoio do faxinado PR e ao agregar o PTB e o PSD ao seu governo. Ela se comprometeu, no entanto, a ampliar o diálogo com o Congresso.

Ponta Dilma jogou para a bancada do PT a responsabilidade de assumir um papel de "liderança" na coalizão governista. Para o governo, o PMDB se tornou protagonista no Congresso e consegue guiar a base aliada segundo seus interesses.

Pauta única Mercadante tentou aproveitar a reunião com a bancada para sensibilizar os petistas sobre a retomada da proposta de destinar 100% dos royalties para a educação, mas foi cortado por Dilma. A presidente disse que não era hora de discutir questões específicas e que a pauta era apenas política.

Baixa Em reunião com a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) ontem, o ministro Fernando Pimentel lamentou ao anunciar a saída de Tatiana Prazeres do Ministério do Desenvolvimento e Indústria. A secretária de Comércio Exterior da pasta se mudará para o exterior.

Octógono 1 Em pleno esforço concentrado da Câmara e do Senado após os protestos de junho em todo o país, cinco deputados e um senador viajaram a Las Vegas para assistir à disputa entre Anderson Silva e Chris Weidman pelo título do UFC, hoje.

Octógono 2 O senador e presidente do PP Ciro Nogueira (PI) e os deputados Dudu da Fonte (PP-PE), Guilherme Mussi (PSD-SP), Luiz Fernando Faria (PP-MG) e Maurício Quintela (PR-AL) viajaram para os EUA no domingo. Sérgio Guerra (PSDB-PE) se juntou ao grupo na quinta.

Esquiva Dudu da Fonte disse ter custeado suas despesas e ter viajado em avião de carreira. Guerra também afirmou ter arcado com seus gastos. Os demais não retornaram as ligações da coluna.

Plim-plim 1 Renan Calheiros (PMDB-AL) só mudou de ideia e decidiu reembolsar a União pelo voo em aeronave da FAB para ir ao casamento da filha de Eduardo Braga (PMDB-AM) quando o "Jornal Nacional'', da Globo, abordou o assunto.

Plim-plim 2 Aliados do presidente do Senado o aconselhavam a não devolver o dinheiro, pois o recuo seria confissão de improbidade.

Visita à Folha Alexandre Padilha, ministro da Saúde, visitou ontem a Folha. Estava com André Segantin, assessor, e Gabriela Wolthers, assessora de imprensa.

com ANDRÉIA SADI e BRUNO BOGHOSSIAN

tiroteio
"O senador Aécio fala tanto sobre a possível volta do presidente Lula que parece estar torcendo por isso, mais do que os petistas."
DO DEPUTADO FEDERAL FERNANDO FERRO (PT-PE), sobre as declarações de Aécio Neves (PSDB-MG) sobre possível participação de Lula na reforma política.

contraponto


Arqueologia legislativa
Provocado por Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) a explicar na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, um aspecto técnico do programa social Renda Básica de Cidadania, de sua autoria, Eduardo Suplicy (PT-SP) passou a narrar com minúcias a tramitação do projeto, que é seu xodó, até sua sanção em 2002.

O petista voltou a relacionar o programa ao Bolsa Família. Aloysio Nunes, que credita a origem dos programas de transferência de renda aos governos do PSDB, retrucou:

--A sua lei é tão precursora do Bolsa Família quanto a Lei do Ventre Livre é precursora da CLT.

Espaços da democracia - LUIZ FERNANDO JANOT

O GLOBO - 06/07

Os recentes protestos de rua constituem, sem dúvida, uma resposta indignada da população à maneira como são tratadas as questões sociais, econômicas e culturais pela classe política e por certos segmentos da sociedade. Esses acontecimentos revelaram a importância dos espaços públicos para o pleno exercício da democracia.

Diante desses fatos indaga-se o que seria das nossas cidades se a população vivesse trancafiada em condomínios residenciais fechados, trabalhasse apenas em edifícios corporativos e praticasse suas atividades de compras e lazer exclusivamente em shopping centers. Não há dúvida de que o convívio social espontâneo e a tão decantada cordialidade do povo brasileiro tenderiam, inevitavelmente, ao desaparecimento.

No Rio, essa modalidade de organização espacial encontrou na Barra da Tijuca, no Recreio dos Bandeirantes e em parte de Jacarepaguá o território adequado para as mais variadas experimentações mercadológicas. Trata-se de modelos comercializados através de sofisticadas campanhas publicitárias que enaltecem a importância de usufruir de espaços seguros e repletos de atrativos. No entanto, para adquirir esse produto diferenciado é necessário, também, pagar um preço diferenciado.

Mas, no Brasil de hoje, tudo é possível graças ao crédito fácil, às prestações a perder de vista e, até mesmo, à inadimplência usada como moeda de troca nas negociações comerciais. Essa prática generalizada tende a gerar um círculo vicioso que coloca em risco o equilíbrio do próprio mercado imobiliário e das instituições que financiam os seus empreendimentos. Cabe ressaltar que, nos dias de hoje, mais da metade de todos os imóveis disponíveis para comercialização na cidade do Rio de Janeiro se encontra nessa região e segue fielmente essa tendência de organização espacial. Como agravante, verifica-se que essa oferta de imóveis tende a superar, em médio prazo, a demanda criada pela valorização imobiliária e pelos investimentos relacionados com as Olimpíadas.

Outra preocupação semelhante diz respeito ao projeto de requalificação urbana da região portuária. Ao confiar o planejamento e a gestão dessa gigantesca área a um consórcio de empreiteiras, a prefeitura abriu mão da sua responsabilidade de elaborar um projeto urbanístico consistente e de qualidade. O pressuposto de que a ocupação do local se daria pela absorção de uma suposta demanda reprimida de edifícios corporativos no Centro da cidade não tem correspondido à realidade dos fatos. O que se vê são megalançamentos imobiliários desconectados entre si e com muito pouca influência para estimular o desenvolvimento local e propiciar a criação de um ambiente urbano integrado nessa região. Como se isso não bastasse, recorreu-se, mais uma vez, ao financiamento público para viabilizar projetos mal planejados. Diante da inexistência de empresários interessados em adquirir os tais Certificados de Potencial Adicional Construído (Cepac), oferecidos em leilão público, coube à Caixa Econômica Federal a “tarefa” de adquiri-los integralmente para gerar recursos e repassá-los ao consórcio de empreiteiras para realizar as obras necessárias de infraestrutura. E assim caminha o admirável mundo novo dos negócios insustentáveis.

À luz dos protestos recentes não há como aceitar essa lógica de projetos urbanos desprovidos de fundamentação técnica e conceitual. Muito menos admitir que a iniciativa privada assuma a responsabilidade pelo planejamento urbano e gestão de importantes áreas públicas da cidade. É necessário controlar o ímpeto das decisões tomadas no afã de um pragmatismo ideológico que trata a cidade como se fosse mercadoria. É preciso concentrar esforços para exigir, em caráter de urgência, a criação de um sistema integrado de planejamento urbano que seja capaz de assegurar uma melhor qualidade dos projetos e a destinação adequada para os recursos a serem aplicados na cidade. No embalo das atuais passeatas é possível vislumbrar alguma possibilidade de recuperar uma parte do tempo perdido.

União nacional - ALBERTO DINES

GAZETA DO POVO - PR - 06/07

Cessou a onda de protestos, começou a enxurrada de motins. A alteração é mais grave que as vacilações políticas em torno do plebiscito.

O bloqueio de estradas por caminhoneiros, o assassinato de um autônomo que tentou furar o lockout, a arruaça que destruiu uma praça de pedágio em Cosmópolis, vizinhança de Campinas, o cerco à casa do governador Sérgio Cabral Filho no Leblon, Rio, exigindo que se mude do bairro, são desordens preocupantes, algumas já condenadas pela presidente Dilma.

O governo está agindo com prudência, sabe que a repressão pura e simples pode acionar um ciclo de reações incontroláveis. Mas governo precisa governar e a presidente Dilma precisa ser fortalecida, é a chefe do Estado brasileiro. Esse não é o momento para agravar fragilidades e inexperiências. Estamos longe da zona de perigo, mas o fervor político não é a terapia mais aconselhável para situações de estresse.

Se os aliados do governo recusam a ideia de um plebiscito em 2013, cabe à oposição e aos independentes manter a bandeira da reforma eleitoral e dos costumes políticos que a presidente teve a sensibilidade e a ousadia de desfraldar – para o desconforto do seu próprio partido, o PT.

A ideia de uma constituinte foi desastrosa e, nas entrelinhas do parecer do TSE, sugere-se sutil e respeitosamente não avançar em direção à consulta popular ainda neste ano. Os meios sugeridos pela presidente Dilma não eram apropriados, mas o objeto e o alvo dessa reforma permanecem prioritários. Perder tempo e concentrar-se na discussão sobre os meios e menosprezar os fins é, no mínimo, improdutivo. Traição às exigências das ruas.

O Estado precisa sair fortalecido para, em primeiro lugar, deter a bola de neve dos motins e badernas; em seguida, persuadir o Congresso a fazer as revisões no processo eleitoral e barrar as aberrações que tanto o desmoralizam e comprometem o próprio Estado nacional.

Entre uma viagem e outra nos jatinhos da FAB, o presidente da Câmara, Henrique Alves, teve a feliz ideia de prometer a criação de um grupo de trabalho com o prazo de 90 dias para preparar o que ele chamou de “Plano B”, reunindo as mudanças mais urgentes. Esse plano alternativo pode rapidamente transformar-se em preferencial, desde que implementado e ativado.

Desordens tendem a generalizar-se e, caso não seja atalhada com firmeza, a pré-violência transforma-se em violência aberta. Um garoto boliviano foi morto com um tiro na cabeça por assaltantes em São Paulo, um juiz de futebol no Maranhão foi morto a pedradas e esquartejado. O brasileiro pacífico, tolerante e até triste que, em passado recente, chamava a atenção de viajantes estrangeiros e pensadores patrícios está sendo substituído por outro – feroz, intolerante. Imprevisível.

Pavio curto e dedo no gatilho: em situações de emergência – e estamos nos aproximando de algo assemelhado – não é descabido o apelo à razão e à união nacional. Não confundir com coalizão nacional. O país daria um passo à frente em matéria de amadurecimento democrático e serviria como exemplo diante de uma humanidade descrente, desnorteada e fragmentada.

Um Mercosul renovado - KÁTIA ABREU

FOLHA DE SP - 06/07

O Mercosul não pode seguir como âncora a travar o Brasil, ainda mais com um novo acordo Europa/EUA


O mundo atravessa um período complexo. As consequências da crise ainda pesam sobre a economia internacional e novos desafios podem surgir. Mas paralisia e isolamento não são resposta adequada.

Em uma economia globalizada e interdependente, as respostas nacionais devem, forçosamente, incorporar a dimensão internacional. É assim que os grandes países estão agindo.

Ao lado das respostas macroeconômicas que, com maior ou menor êxito, são dadas para superar os efeitos financeiros da crise e restaurar o crescimento, assistimos a um repensar dos processos de integração, das negociações comerciais e da formação de grandes blocos.

A integração europeia passa por momentos difíceis que requerem um exercício de reflexão sobre o futuro do continente. Essa reflexão é necessária para que possamos aproveitar oportunidades que podem surgir nesse contexto de mudanças.

A União Europeia (UE) tem presente a nova realidade internacional em mutação. O novo quadro abrange a ascensão da China, o deslocamento do centro de gravidade da economia global para o Pacífico, o fortalecimento dos emergentes e o crescente peso do Sul e das relações Sul-Sul na economia mundial.

Temos ainda a possível recuperação da economia norte-americana e sua nova competitividade internacional. Hoje, a UE é o destino de 23% das exportações brasileiras e de 11% das exportações dos EUA. A realidade de um novo acordo UE/EUA pode inverter esse percentual. O Mercosul não pode seguir como âncora a travar o Brasil.

O desafio da segurança alimentar e do atendimento à crescente demanda por alimentos requer um esforço global e cooperativo no qual as dimensões da abertura de mercados, a integração de cadeias produtivas do agronegócio e o desenvolvimento tecnológico terão importante papel.

A crise e os desafios nacionais e comunitários estão estimulando uma negociação transatlântica de grande magnitude. Os países começam a refletir sobre novas formas de negociação.

A integração das cadeias produtivas, as vinculações entre os setores primário, secundário e terciário e a integração comércio, investimento e finanças poderão levar a uma globalização e a uma Organização Mundial do Comércio (OMC) renovadas.

O Brasil e o Mercosul não podem dar as costas a essa realidade. Temos que atuar com flexibilidade e espírito criativo, reconhecendo problemas e desafios e dando-lhes novas soluções.

Infelizmente, o Mercosul não avançou como deveria na consolidação de sua integração. Em meio às dificuldades, o processo de integração passou a ser visto como entrave, e não como instrumento de promoção do crescimento de seus membros e de sua inserção, em novas bases, na economia global.

À dificuldade em levar adiante negociações em conjunto, na ausência de regras claras e respeitadas no Mercosul, juntou-se a atual diferença de visão sobre como responder aos desafios atuais. Para preservar a integração, teremos de redefinir seus mecanismos.

Nas agenda de negociações internacionais, trata-se de buscar mecanismos que permitam avançar. Não podemos, por exemplo, atrelar nosso processo de integração a outros mercados, ao processo de países em fase anterior de preparação, como a Argentina. Esse atrelamento paralisa tudo.

Temos um teste pela frente, com a retomada das negociações com a UE com vistas a sua pronta conclusão. O agronegócio tem uma agenda proativa e propositiva consciente de sua competitividade e de sua capacidade de responder aos desafios da crescente demanda mundial por alimentos.

Conta com a força e a eficiência da agroindústria brasileira, que se moderniza e se renova a cada dia. Altamente tecnológica, nossa agroindústria precisa de capital e de mercado para seguir fazendo bem o seu dever de casa.

Como gerador da maior parte do saldo comercial brasileiro, o agronegócio tem, hoje, crescente importância macroeconômica.

Saibamos maximizar seu potencial e combiná-lo com uma maior abertura, associada a políticas de aceleração do crescimento e de modernização do setor industrial, que se fará com investimento maciço em tecnologia e inovação.

Idas e vindas - MIGUEL REALE JÚNIOR

O ESTADO DE S. PAULO - 06/07

Hoje, diferentemente do que sucedeu há 30 anos, na luta contra a ditadura, as razões de ir à rua protestar são as mais desconexas: preço da passagem, contra a Copa, contra a corrupção,pela saúde,em favor da educação ou pela reforma política.

Na verdade, houve longa hibernação da população brasileira, na qual a indiferença prevaleceu, mesmo diante das denúncias do mensalão, em 2005.

Lula, o Macunaíma, tergiversador,que oras e disse traído pelos mensaleiros, ora passou a mão na cabeça dos aloprados, é o responsável pelo clima deliquescente em que está imerso o Brasil.Fortalece-se,agora,a reação à esperteza como um valor: pede-se moralidade e as pesquisas eleitorais mostram dobrar o número de indecisos, começar a queda de Lula e surgir a figura de Joaquim Barbosa, homem probo, franco, alheio a malabarismos malandros.

Deve-se ao julgamento do mensalão e ao ressurgimento da inflação a disseminação da revolta diante da situação moral e econômica do País.Atos de protesto reúnem diversos descontentes, sem propósitos idênticos, próximos apenas no inconformismo. Há um estado de anomia,de negação de legitimidade dos Poderes instituí- dos que leva a atender à chamada ao protesto como forma de expressar a descrença nos canais formais de representação da vontade popular: partidos, Congresso e governo.

A anomia decorre da frustração em vista da impossibilidade de satisfação das expectativas criadas de realização pessoal.

Prometeu-se o acesso ao consumo, pela concessão de crédito e graças ao aumento salarial, alimentando desejos já exasperados pela propaganda, mas a inflação e o endividamento desfazem a promessa. Prometeu-se democracia como probidade e surge o mensalão.Prometeram se condições dignas de vida com eficiente atendimento no transporte, na saúde, na educação, mas a realidade revela só o descaso dos donos do poder.

Dá-se, então, o divórcio entre as aspirações prevalecentes no meio social e os caminhos "socialmente estruturados para se atingir estas aspirações", como diz Merton. O refrão "o povo unido não precisa de partido" e o repúdio às bandeiras dos partidos mostram uma sociedade que corre paralela às instituições e as desconsidera.Os caminhantes de hoje têm em comum o forte sentimento disseminado de inconformidade, mas sem foco determinado: há em atividade uma metralhadora giratória num vazio político.

Dilma tentou fazer-se intérprete dos anseios detectados por seus marqueteiros, buscando tomar a frente da ida às ruas, mas seu estudado discursos o ou perdidamente oportunista. Na fala do trono, em autoritária e constrangedor a reunião com governadores e prefeitos, impingiu decisões disparatadas como a arriscadíssima e inconstitucional convocação de Constituinte via plebiscito,da qual teve de desistir no dia seguinte.Propôs plebiscito para reforma política, mas voltou atrás na quinta-feira de manhã; à tarde retornou a insistir no plebiscito ainda este ano. É uma pantomima.

Quanto ao plebiscito,há questão prévia relevante. Se posta em causa matéria de natureza constitucional,a convocação deve se dar por decreto aprovado por maioria de três quintos de ambas as Casas do Congresso, pois apenas com maioria simples será uma fraude: mudar a forma de mudar a Constituição.

Com o plebiscito para a reforma política pretende-se jogar areia nos olhos do povo,criando falsamente a impressão de participação popular por meio tecnicamente inviável,pois esse tipo de consulta somente permite alternativa excludente, impossível para múltipla escolha.

Quanto ao sistema eleitoral, consta da Constituição que a eleição para a Câmara será proporcional, e vários dos sistemas enunciados pela "presidenta" o são: o atual, o proporcional em dois turnos e o distrital misto.

Excluem-se o distritão e o distrital puro,em que vencem os mais votados, independentemente da soma dos votos do partido.

Assim,a"presidenta"sugeriu pergunta sobre sistema eleitoral: 1) proporcional; 2) distrital misto;3)distrital puro;4)distritão;5)proporcional em dois turnos. Para facilitar, imaginemos apenas três alternativas: se 35% são a favor do distrital puro, 34% do distrital misto e 31% do proporcional atual,a opção vencedora pelo distrital puro será contrária à vontade de 65% dos votantes e se afastaria o sistema proporcional,que é de preferência da maioria. A proposta, portanto,não é factível.Com equilíbrio vê-se ser impossível elucidar o eleitor sobre a mecânica dos sistemas eleitorais, e suas consequências,para se ter escolha esclarecida.

Inexplicáveis as idas e vindas da Presidência, a mostrar ser o plebiscito mera manobra para forjar a sensação de ser ouvido quem se pensa deseje ser ouvido.Segue a"presidenta"uma biruta ao sabor do vento, sem se aperceber de que se clama por reforma na forma de fazer política,contra o modo de governar e de representar o povo.

A agenda imediata poderia ser: diminuição do número de ministérios, redução drástica dos cargos em comissão na administração direta e nas empresas estatais, nomeação de técnicos para diretores dessas empresas, desaparelhamento do Estado, registro dos cabos eleitorais remunerados,dotação de meios para a Justiça e o Ministério Público Eleitoral fiscalizarem e reprimirem o uso de caixa 2 nas campanhas, proibição de fornecedoras e prestadoras de serviço ao governo contribuírem para campanhas eleitorais,assegurar verbas fixas para emendas parlamentares sem troca de voto por liberação de meios. Quebram-se fontes da corrupção e pode vir a seriedade.

A sociedade civil (OAB, entidades de advogados, CNBB, lideranças patronais e sindicais, movimentos sociais como o contra corrupção)poderia unir se à classe política, mesmo desprestigiada, para forçar e gerar até meados do ano próximo ampla reforma política com referendo nas eleições de 2014.

Chega de labilidade!