ZERO HORA - 19/05
Há que se respeitar quem sofre de depressão, distimia, bipolaridade e demais transtornos psíquicos que afetam parte da população. Muitos desses pacientes recorrem à ajuda terapêutica e se medicam a fim de minimizar os efeitos desastrosos que respingam em suas relações profissionais e pessoais.
Conseguem tornar, assim, mais tranquila a convivência. Mas tem um grupo que está longe de ser doente: são os que simplesmente se autointitulam “difíceis” com o propósito de facilitar para o lado deles.
São os temperamentais que não estão seriamente comprometidos por uma disfunção psíquica — ao menos, não que se saiba, já que não possuem diagnóstico. São morrinhas,
apenas. Seja por alguma insegurança trazida da infância, ou por narcisismo crônico, ou ainda por terem herdado um gênio desgraçado, se decretam “difíceis” e quem estiver por perto que se adapte. Que vida mole, não?
Tem uma música bonita do Skank que começa dizendo: “Quando eu estiver triste, simplesmente me abrace/Quando eu estiver louco, subitamente se afaste/quando eu estiver fogo/suavemente se encaixe...”. A letra é poética, sem dúvida, mas é o melô do folgado.
Você é obrigada a reagir conforme o humor da criatura. Antigamente, quando uma amiga, um namorado ou um parente declarava-se uma pessoa difícil, eu relevava. Ora, estava previamente explicada a razão de o infeliz entornar o caldo, promover discussões, criar briga do nada, encasquetar com besteira. Era alguém difícil, coitado. E teve a gentileza de avisar antes. Como não perdoar?
Já fui muito boazinha, lembro bem. Hoje em dia, se alguém chegar perto de mim avisando “sou uma pessoa difícil”, desejo sorte e desapareço em três segundos.
Já gastei minha cota de paciência com esses difíceis que utilizam seu temperamento infantil e autocentrado como álibi para passar por cima dos sentimentos dos outros feito um trator, sem ligar a mínima se estão magoando — e claro que esses “outros” são seus afetos mais íntimos, pois com colegas e conhecidos eles são uns doces, a tal “dificuldade” que lhes caracteriza some como num passe de mágica. Onde foi parar o ogro que estava aqui?
Chega-se numa etapa da vida em que ser misericordioso cansa. Se a pessoa é difícil, é porque está se levando a sério demais. Será que já não tem idade para controlar seu egocentrismo?
Se não controla, é porque não está muito interessada em investir em suas relações. Já que ficam loucos a torto e direito, só nos resta se afastar, mesmo. E investir em pessoas alegres, educadas, divertidas e que não desperdiçam nosso tempo com draminhas repetitivos, dos quais já se conhece o final: sempre sobra pra nós os fáceis.
domingo, maio 19, 2013
Reinventando o real - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 19/05
Uma das qualidades de Newton Rezende é seu domínio da linguagem pictórica e do desenho
Saio fascinado da exposição de Newton Rezende, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. Organizada por Leonel Kaz, essa mostra, que reúne dezenas de obras do artista, é uma oportunidade oferecida aos amantes da pintura para conhecer uma das mais belas e criativas expressões da arte brasileira.
É impossível com palavras dizer o que essa pintura diz, mas a verdade é que, cada vez que me debruço sobre ela, descubro coisas novas e surpreendentes que não tinha visto antes.
Isso aconteceu de novo. Um dos quadros ali expostos --"Noiva em Campo Santo"-- me fez redescobrir o universo pictórico desse artista.
Ele nos mostra a figura de uma suposta noiva estendida no chão de um impossível cemitério. A figura é particularmente impactante porque, longe de uma cópia realista, mais lembra uma caricatura de noiva, mas impregnada de poesia e sarcasmo.
Isto é, porém, o que se percebe no primeiro momento, porque logo nos perguntamos que campo santo é esse, no qual a noiva está deitada. Aí então percebemos que o fundo do quadro --que seria o chão do campo santo-- é constituído de uma infinidade de elementos, ou desenhados ou colados, que vão desde retalhos de jornal ou revista, figura de gente ou de insetos, numa tessitura de realidade e delírio.
Esse quadro da noiva não é uma exceção. Há muitos outros em que a noiva aparece nas mais diversas circunstâncias e aparências, mas sempre tratada com a mesma entrega e minúcia obsessiva. Mas há quadros em que não, como "O Quarto Cor-de-Rosa", de composição clara e realização despojada. E é impressionante a capacidade que tem esse artista de lidar, magistralmente, com valores pictóricos tão diversos.
Fora isso, podemos observar em sua obra duas vertentes distintas: a temática das ruas e a temática do interior das casas, ambas plenas de rica diversidade e concepção inesperada. Observe-se a série das barcas, cheias de indivíduos cuja expressão patética torna-os inesquecíveis.
Um dos aspectos característicos da obra de Newton Rezende são precisamente as séries. Raros serão os motivos que nela surgem apenas excepcionalmente.
É que ele se apegava a cada tema --que era uma descoberta-- e se entregava a explorá-lo apaixonadamente: assim são os blocos carnavalescos, os morros cobertos de casebres, como também os quadros que nos mostram a intimidade das alcovas, com mulheres seminuas deitadas na cama, num misto de sensualidade e morbidez, como a nos advertir que sexo e morte são parte de uma mesma realidade.
Há, sem dúvida, certa morbidez em muitos dos quadros de Newton Rezende, mas misturada a um encantamento, que se traduz em detalhes inesperadamente vibrantes de cores, em figuras de miúdos bichinhos, de insetos, misturados à fotografia de gente colada junto. Ora são flores que desabrocham junto a crânios humanos ou moedas coladas na tela, como a noz dizer que o que vemos ali não é o mundo real e, sim, um universo inventado, composto arbitrariamente, numa outra lógica que a da vida comum.
Uma das qualidades de Newton Rezende é seu domínio da linguagem pictórica e do desenho. A sua é uma pintura de pintor e desenhista, como o demonstram os trabalhos que são apenas desenho branco sobre papel. Parece que tais trabalhos, de grande tamanho, têm o propósito de nos querer mostrar que não apenas das cores vive sua arte e que, sem elas, pode alcançar densidade e beleza.
É o que se constata na série de desenhos ali expostos. Acrescente-se ainda que o desenhista, sempre presente em cada um de seus quadros, é um dos fatores constitutivos da originalidade que os distingue. Se comparamos sua pintura com a de outros artistas figurativos, veremos que, na dele, o desenhista está permanentemente perturbando o pintor, disputando com ele.
Newton Rezende se tornou pintor e começou a pintar num período em que nomes como os de Guignard, Di Cavalcanti, Portinari e Pancetti dominavam o cenário artístico do país. Sobreviveu a eles e imprimiu à arte brasileira uma qualidade técnica e uma riqueza onírica raramente alcançada antes ou depois dele.
-------
Na crônica anterior, afirmei que Cristina Kirchner havia comprado a única empresa que produz papel de jornal na Argentina. Enganei-me: ela ainda não conseguiu comprá-la, mas não desiste.
Uma das qualidades de Newton Rezende é seu domínio da linguagem pictórica e do desenho
Saio fascinado da exposição de Newton Rezende, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. Organizada por Leonel Kaz, essa mostra, que reúne dezenas de obras do artista, é uma oportunidade oferecida aos amantes da pintura para conhecer uma das mais belas e criativas expressões da arte brasileira.
É impossível com palavras dizer o que essa pintura diz, mas a verdade é que, cada vez que me debruço sobre ela, descubro coisas novas e surpreendentes que não tinha visto antes.
Isso aconteceu de novo. Um dos quadros ali expostos --"Noiva em Campo Santo"-- me fez redescobrir o universo pictórico desse artista.
Ele nos mostra a figura de uma suposta noiva estendida no chão de um impossível cemitério. A figura é particularmente impactante porque, longe de uma cópia realista, mais lembra uma caricatura de noiva, mas impregnada de poesia e sarcasmo.
Isto é, porém, o que se percebe no primeiro momento, porque logo nos perguntamos que campo santo é esse, no qual a noiva está deitada. Aí então percebemos que o fundo do quadro --que seria o chão do campo santo-- é constituído de uma infinidade de elementos, ou desenhados ou colados, que vão desde retalhos de jornal ou revista, figura de gente ou de insetos, numa tessitura de realidade e delírio.
Esse quadro da noiva não é uma exceção. Há muitos outros em que a noiva aparece nas mais diversas circunstâncias e aparências, mas sempre tratada com a mesma entrega e minúcia obsessiva. Mas há quadros em que não, como "O Quarto Cor-de-Rosa", de composição clara e realização despojada. E é impressionante a capacidade que tem esse artista de lidar, magistralmente, com valores pictóricos tão diversos.
Fora isso, podemos observar em sua obra duas vertentes distintas: a temática das ruas e a temática do interior das casas, ambas plenas de rica diversidade e concepção inesperada. Observe-se a série das barcas, cheias de indivíduos cuja expressão patética torna-os inesquecíveis.
Um dos aspectos característicos da obra de Newton Rezende são precisamente as séries. Raros serão os motivos que nela surgem apenas excepcionalmente.
É que ele se apegava a cada tema --que era uma descoberta-- e se entregava a explorá-lo apaixonadamente: assim são os blocos carnavalescos, os morros cobertos de casebres, como também os quadros que nos mostram a intimidade das alcovas, com mulheres seminuas deitadas na cama, num misto de sensualidade e morbidez, como a nos advertir que sexo e morte são parte de uma mesma realidade.
Há, sem dúvida, certa morbidez em muitos dos quadros de Newton Rezende, mas misturada a um encantamento, que se traduz em detalhes inesperadamente vibrantes de cores, em figuras de miúdos bichinhos, de insetos, misturados à fotografia de gente colada junto. Ora são flores que desabrocham junto a crânios humanos ou moedas coladas na tela, como a noz dizer que o que vemos ali não é o mundo real e, sim, um universo inventado, composto arbitrariamente, numa outra lógica que a da vida comum.
Uma das qualidades de Newton Rezende é seu domínio da linguagem pictórica e do desenho. A sua é uma pintura de pintor e desenhista, como o demonstram os trabalhos que são apenas desenho branco sobre papel. Parece que tais trabalhos, de grande tamanho, têm o propósito de nos querer mostrar que não apenas das cores vive sua arte e que, sem elas, pode alcançar densidade e beleza.
É o que se constata na série de desenhos ali expostos. Acrescente-se ainda que o desenhista, sempre presente em cada um de seus quadros, é um dos fatores constitutivos da originalidade que os distingue. Se comparamos sua pintura com a de outros artistas figurativos, veremos que, na dele, o desenhista está permanentemente perturbando o pintor, disputando com ele.
Newton Rezende se tornou pintor e começou a pintar num período em que nomes como os de Guignard, Di Cavalcanti, Portinari e Pancetti dominavam o cenário artístico do país. Sobreviveu a eles e imprimiu à arte brasileira uma qualidade técnica e uma riqueza onírica raramente alcançada antes ou depois dele.
-------
Na crônica anterior, afirmei que Cristina Kirchner havia comprado a única empresa que produz papel de jornal na Argentina. Enganei-me: ela ainda não conseguiu comprá-la, mas não desiste.
Entreolhares - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
ESTADÃO - 19/05
Tudo correu bem, apesar da constante troca de olhares e o visível desconforto
Ana Maria levou seu namorado novo para os pais conhecerem. O rapaz era simpático e tudo correu bem, apesar da constante troca de olhares entre o pai e a mãe de Ana Maria, e o visível desconforto dos dois. Quando o namorado foi embora, Ana Maria perguntou:
– E aí? O que acharam dele?
O pai e a mãe se entreolharam outra vez.
– Ele parece ser muito simpático... – disse a mãe.
As reticências ficaram no ar.
– E você, papai. O que achou?
O pai hesitou. Depois disse:
– Gostei, gostei. Mas...
– Mas o quê, papai?
– Aquela tornozeleira, minha filha...
– Tornozeleira?
– Aquilo que ele tem preso no tornozelo.
– Qual é o problema?
– A tornozeleira é para saberem sempre onde ele está. Para a polícia saber. Para ele não fugir, ou não praticar mais nenhum crime.
– O quê?! – É, minha filha.
– Ele me disse que era um radinho de pilha!
A VOLTA
Gustavo anunciou aos pais que estava se divorciando. Infelizmente, seu casamento com a Sueli não dera certo. Os dois tinham levado 20 anos para descobrir que não podiam viver juntos, e concordado em se divorciar. Separação amigável, civilizada. A Sueli ficaria com o apartamento.
– E você, onde vai ficar?
– Pensei em ficar aqui, até arranjar outra coisa.
O pai e a mãe do Gustavo se entreolharam.
– Aqui? Onde?
– No meu quarto, ora.
Mas o quarto do Gustavo não era mais o seu quarto. Agora era a sala da televisão.
– Pô, mamãe.
– Como nós íamos saber que você voltaria?
– Mas podiam pelo menos ter mantido meu quarto. Para a eventualidade!
Gustavo insistiu. Queria o seu quarto de volta. Como era antes.
– E o que a gente faz com o home theatre?
– Ah, o home theatre é mais importante do que um filho?
– Não é isso, Ge...
Acabaram se acertando. O home theatre iria para a sala de visitas, e Gustavo teria seu quarto de volta. Mas sem os pôsteres dos Stones e da Luiza Brunet de biquíni, que tinham ido pro lixo.
E dias depois que se mudou para a casa dos pais, comendo um pudim igual aos da sua infância, que a mãe lhe fizera depois de muita insistência, Gustavo exigiu uma explicação:
– Que fim levou minha coleção de gibi?
Tudo correu bem, apesar da constante troca de olhares e o visível desconforto
Ana Maria levou seu namorado novo para os pais conhecerem. O rapaz era simpático e tudo correu bem, apesar da constante troca de olhares entre o pai e a mãe de Ana Maria, e o visível desconforto dos dois. Quando o namorado foi embora, Ana Maria perguntou:
– E aí? O que acharam dele?
O pai e a mãe se entreolharam outra vez.
– Ele parece ser muito simpático... – disse a mãe.
As reticências ficaram no ar.
– E você, papai. O que achou?
O pai hesitou. Depois disse:
– Gostei, gostei. Mas...
– Mas o quê, papai?
– Aquela tornozeleira, minha filha...
– Tornozeleira?
– Aquilo que ele tem preso no tornozelo.
– Qual é o problema?
– A tornozeleira é para saberem sempre onde ele está. Para a polícia saber. Para ele não fugir, ou não praticar mais nenhum crime.
– O quê?! – É, minha filha.
– Ele me disse que era um radinho de pilha!
A VOLTA
Gustavo anunciou aos pais que estava se divorciando. Infelizmente, seu casamento com a Sueli não dera certo. Os dois tinham levado 20 anos para descobrir que não podiam viver juntos, e concordado em se divorciar. Separação amigável, civilizada. A Sueli ficaria com o apartamento.
– E você, onde vai ficar?
– Pensei em ficar aqui, até arranjar outra coisa.
O pai e a mãe do Gustavo se entreolharam.
– Aqui? Onde?
– No meu quarto, ora.
Mas o quarto do Gustavo não era mais o seu quarto. Agora era a sala da televisão.
– Pô, mamãe.
– Como nós íamos saber que você voltaria?
– Mas podiam pelo menos ter mantido meu quarto. Para a eventualidade!
Gustavo insistiu. Queria o seu quarto de volta. Como era antes.
– E o que a gente faz com o home theatre?
– Ah, o home theatre é mais importante do que um filho?
– Não é isso, Ge...
Acabaram se acertando. O home theatre iria para a sala de visitas, e Gustavo teria seu quarto de volta. Mas sem os pôsteres dos Stones e da Luiza Brunet de biquíni, que tinham ido pro lixo.
E dias depois que se mudou para a casa dos pais, comendo um pudim igual aos da sua infância, que a mãe lhe fizera depois de muita insistência, Gustavo exigiu uma explicação:
– Que fim levou minha coleção de gibi?
Paes aperta o cerco - ANCELMO GOIS
O GLOBO - 19/05
Cláudio Ferraz, o delegado que coordena a área de transporte complementar do Rio, anuncia amanhã novas áreas da cidade onde vai ser proibida a circulação de vans.
A partir de sábado, vias como Linha Amarela, Estrada Grajaú-Jacarepaguá, Estrada de Furnas, no Alto da Boa Vista, e Túnel da Grota Funda serão interditadas às vans.
Tem mais...
Agora, Flamengo, Glória e Catete também estão entre os bairros onde vans não entrarão.
O poderoso PB
O economista Ricardo Paes de Barros, 58 anos, considerado o maior especialista brasileiro em políticas para erradicar a pobreza, foi escolhido pela prestigiosa revista “Foreign Policy” como uma das 500 pessoas mais poderosas do mundo.
PB, como é mais conhecido, ajudou no desenho de políticas sociais tanto nos governos tucanos como petistas. Atualmente, está na Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Por via das dúvidas
Sexta, ao ler na coluna que Ziraldo fez o cartaz da Jornada Mundial da Juventude, o coleguinha Milton Temer ligou para o amigo e brincou:
— Você virou congregado mariano?
Ziraldo devolveu na hora:
— Faço tudo que a Igreja me pede. Vai que tem céu!
É assim...
A pedido de Dom Helder Câmara, o artista fez em 1961 o primeiro cartaz da Feira da Providência. E não parou mais. Faz até hoje.
Ziraldo foi o autor de uma famosa entrevista com Dom Helder na TV Bandeirantes, a primeira em que o arcebispo falou sobre denúncias contra a ditadura militar.
E o aniversário do Rio?
Todo mundo fala nos grandes eventos do Rio em 2013 (Jornada Mundial e Copa das Confederações), 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Jogos Olímpicos).
Mas há um certo esquecimento de que, entre um evento esportivo e outro, em 2015, comemoram-se os 450 anos da fundação do Rio de Janeiro (1º de março de 1565).
São Paulo, por exemplo, fez uma vasta programação para celebrar a sua data.
Segue...
Como lembra o historiador José Murilo de Carvalho “para o bem ou para o mal, a derrota dos franceses (e tamoios) para Estácio de Sá definiu o futuro português da cidade e, de algum modo, de toda a colônia. Poderíamos estar hoje falando francês e praticando o calvinismo”.
Eldorado na tela
Milton Hatoum vai ter seu primeiro livro transformado em filme.
Será “Órfãos do Eldorado”, com direção de Guilherme Coelho. Dira Paes e Daniel Oliveira serão os protagonistas. As filmagens serão no Pará.
Carimbo no bumbum
Alguém, não se sabe se por gaiatice, pintou este hidrante, na Av. Ataulfo de Paiva, próximo à esquina com a Rua General Artigas, no Leblon, mas não colocou um aviso de tinta fresca.
Sem saber, a carioca Juliana Barcelos, que trabalha por ali, sentou no hidrante e... tadinha!
Delegata
Giovanna Antonelli, a maravilhosa atriz que arrasou em “Salve Jorge”, vai ousar.
No longa “SOS — Mulheres ao mar”, dirigido por Cris D’Amato, olha que legal, a atriz cantará nas cenas.
Gois na Jornada
O belo órgão da Igreja N. S. do Carmo da Antiga Sé, no Centro do Rio, que data do século XVII e está sendo reformado há mais de um ano, poderá, agora, ser tocado por portadores de deficiências físicas ou mentais.
É que, na reforma, ele ganhou um software, criado pelo francês Mickael Fourcade, que capta o movimento da pessoa e o transforma em notas musicais. A estreia será em julho, durante a visita do Papa Francisco.
Aliás...
Durante a Via Sacra na Praia de Copacabana, uma das ações mais esperadas da Jornada Mundial da Juventude, a imagem do Cristo Redentor será projetada no mar de Copacabana.
Se a moda pega
A marca Trave, do Polo de Friburgo, lançou, no Salão Bossa Nova, aquele com apoio da Firjan, uma cueca para ser usada durante a prática de esportes. Batizada de Jock, a peça é um... fio dental.
A matéria-prima usada é fibra de... bambu. Caraaaaaamba!
A partir de sábado, vias como Linha Amarela, Estrada Grajaú-Jacarepaguá, Estrada de Furnas, no Alto da Boa Vista, e Túnel da Grota Funda serão interditadas às vans.
Tem mais...
Agora, Flamengo, Glória e Catete também estão entre os bairros onde vans não entrarão.
O poderoso PB
O economista Ricardo Paes de Barros, 58 anos, considerado o maior especialista brasileiro em políticas para erradicar a pobreza, foi escolhido pela prestigiosa revista “Foreign Policy” como uma das 500 pessoas mais poderosas do mundo.
PB, como é mais conhecido, ajudou no desenho de políticas sociais tanto nos governos tucanos como petistas. Atualmente, está na Secretaria de Assuntos Estratégicos.
Por via das dúvidas
Sexta, ao ler na coluna que Ziraldo fez o cartaz da Jornada Mundial da Juventude, o coleguinha Milton Temer ligou para o amigo e brincou:
— Você virou congregado mariano?
Ziraldo devolveu na hora:
— Faço tudo que a Igreja me pede. Vai que tem céu!
É assim...
A pedido de Dom Helder Câmara, o artista fez em 1961 o primeiro cartaz da Feira da Providência. E não parou mais. Faz até hoje.
Ziraldo foi o autor de uma famosa entrevista com Dom Helder na TV Bandeirantes, a primeira em que o arcebispo falou sobre denúncias contra a ditadura militar.
E o aniversário do Rio?
Todo mundo fala nos grandes eventos do Rio em 2013 (Jornada Mundial e Copa das Confederações), 2014 (Copa do Mundo) e 2016 (Jogos Olímpicos).
Mas há um certo esquecimento de que, entre um evento esportivo e outro, em 2015, comemoram-se os 450 anos da fundação do Rio de Janeiro (1º de março de 1565).
São Paulo, por exemplo, fez uma vasta programação para celebrar a sua data.
Segue...
Como lembra o historiador José Murilo de Carvalho “para o bem ou para o mal, a derrota dos franceses (e tamoios) para Estácio de Sá definiu o futuro português da cidade e, de algum modo, de toda a colônia. Poderíamos estar hoje falando francês e praticando o calvinismo”.
Eldorado na tela
Milton Hatoum vai ter seu primeiro livro transformado em filme.
Será “Órfãos do Eldorado”, com direção de Guilherme Coelho. Dira Paes e Daniel Oliveira serão os protagonistas. As filmagens serão no Pará.
Carimbo no bumbum
Alguém, não se sabe se por gaiatice, pintou este hidrante, na Av. Ataulfo de Paiva, próximo à esquina com a Rua General Artigas, no Leblon, mas não colocou um aviso de tinta fresca.
Sem saber, a carioca Juliana Barcelos, que trabalha por ali, sentou no hidrante e... tadinha!
Delegata
Giovanna Antonelli, a maravilhosa atriz que arrasou em “Salve Jorge”, vai ousar.
No longa “SOS — Mulheres ao mar”, dirigido por Cris D’Amato, olha que legal, a atriz cantará nas cenas.
Gois na Jornada
O belo órgão da Igreja N. S. do Carmo da Antiga Sé, no Centro do Rio, que data do século XVII e está sendo reformado há mais de um ano, poderá, agora, ser tocado por portadores de deficiências físicas ou mentais.
É que, na reforma, ele ganhou um software, criado pelo francês Mickael Fourcade, que capta o movimento da pessoa e o transforma em notas musicais. A estreia será em julho, durante a visita do Papa Francisco.
Aliás...
Durante a Via Sacra na Praia de Copacabana, uma das ações mais esperadas da Jornada Mundial da Juventude, a imagem do Cristo Redentor será projetada no mar de Copacabana.
Se a moda pega
A marca Trave, do Polo de Friburgo, lançou, no Salão Bossa Nova, aquele com apoio da Firjan, uma cueca para ser usada durante a prática de esportes. Batizada de Jock, a peça é um... fio dental.
A matéria-prima usada é fibra de... bambu. Caraaaaaamba!
Tão perto e tão longe - JAIRO BOUER
O Estado de S.Paulo - 19/05
"Tá tudo muito fácil, mas ao mesmo tão difícil, viu? A frase que pode parecer vaga, mas que traz boa dose de precisão descritiva (já explico), saiu na semana passada da boca de uma jovem amiga. Ela se referia às sucessivas impossibilidades que vem enfrentando em sua vida amorosa. Tentativa após tentativa, ela anda com a sensação de que, ao mesmo tempo em que as pessoas estão a poucos toques de distância das teclas de um computador ou da tela de um smartphone, elas andam longe, muito longe de dar uma chance para o afeto ou para um mínimo de intimidade.
Como tantos outros jovens, ela tem conhecido cada vez mais vezes parceiros, "ficantes" e namorados em potencial nas redes sociais. É muito tentador receber mensagens, cutucadas, pedidos de "me adiciona?" e outras versões modernas das antigas cantadas. Mas, se é muito fácil mandar e receber esses sinais, até que ponto se pode acreditar no que eles têm de autêntico? Tudo fica parecendo sempre parte de um mesmo roteiro, em que a única mudança é o nome do personagem que será envolvido na história.
Outro dia, ela recebeu uma mensagem privada no seu Facebook. Um garoto que ela conheceu em uma festa, anos atrás, convidava para um café, porque estava com saudades. Como tinha gostado do garoto desde a primeira vez, mas na ocasião ele ainda namorava, ela se surpreendeu com a mensagem vinda do "além". Marcaram, saíram, ficaram, ela se envolveu e, em duas semanas, ele mandou mensagem para dizer que ainda não estava pronto para voltar a ter nada sério com ninguém. Até aí, nenhuma novidade! Isso poderia ter acontecido em qualquer relacionamento, iniciado online ou não. O que talvez seja diferente é a facilidade e a velocidade com que as pessoas hoje podem entrar em contato com quase desconhecidos ou completos estranhos.
As redes sociais agregaram rapidamente inúmeros "amigos" na vida das pessoas. Amigos têm amigos, que têm amigos e por aí vai. Não é preciso muito esforço ou habilidade para encontrar e seguir alguém que pode parecer interessante. Daí para "se adicionar", trocar mensagens e marcar é um processo que pode ser muito rápido. Muitas vezes, desconfio, nem dá tempo para se pensar o que, de fato, se pretende com aquele encontro.
Também parece existir uma sensação comum de impessoalidade: "do mesmo jeito que ele mandou mensagem para mim, poderia ou poderá mandar para qualquer outra". Parece tudo um pouco aleatório mesmo! Um acha o perfil, manda o recado e o outro aceita. Simples assim! Como garantir um pouco de exclusividade? Como saber que aquele encontro tem chance de se tornar mais pessoal, mais afetivo?
Mesmo nos relacionamentos que nascem na internet e "vingam", muitas vezes há esse temor, tensão e desconfiança permanentes no ar. E se ele receber uma mensagem de alguém? E se ele resolver "paquerar" pela rede?
É lógico que o jeito de se conhecer pessoas e de se manter contatos mudaria com a onipresença da vida online. O jovem de hoje passa cada vez mais tempo "plugado". Ele conversa, estuda, pesquisa, vê TV, lê notícias e acha parceiros na rede. Só que alguns códigos e padrões da vida na internet parecem ser um pouco complicados de traduzir e adaptar para a vida real, aquela do olho no olho, mão na mão e beijo na boca.
Do mesmo jeito que se pula de janela em janela e se pode ter uma atenção flutuante na rede, sem precisar focar em um único objeto por muito tempo, essa geração de jovens nativos digitais parece estar trocando de amor, de parceiro ou de interesse com uma facilidade tremenda. Mas essa banalização do outro, do "tanto faz quem eu vou adicionar hoje", está deixando muita gente bem aborrecida pelo meio do caminho. Sempre online, mas indisponível para tudo e para todos, pode ser um status, no fundo, muito solitário.
Longe de ser contra as relações que nascem na rede e, sabendo que a vida digital pode sim facilitar e agilizar encontros, fico só pensando que um pouco mais de especificidade, de afeto e de desejo real de conhecer um ao outro fazem uma diferença tremenda!
"Tá tudo muito fácil, mas ao mesmo tão difícil, viu? A frase que pode parecer vaga, mas que traz boa dose de precisão descritiva (já explico), saiu na semana passada da boca de uma jovem amiga. Ela se referia às sucessivas impossibilidades que vem enfrentando em sua vida amorosa. Tentativa após tentativa, ela anda com a sensação de que, ao mesmo tempo em que as pessoas estão a poucos toques de distância das teclas de um computador ou da tela de um smartphone, elas andam longe, muito longe de dar uma chance para o afeto ou para um mínimo de intimidade.
Como tantos outros jovens, ela tem conhecido cada vez mais vezes parceiros, "ficantes" e namorados em potencial nas redes sociais. É muito tentador receber mensagens, cutucadas, pedidos de "me adiciona?" e outras versões modernas das antigas cantadas. Mas, se é muito fácil mandar e receber esses sinais, até que ponto se pode acreditar no que eles têm de autêntico? Tudo fica parecendo sempre parte de um mesmo roteiro, em que a única mudança é o nome do personagem que será envolvido na história.
Outro dia, ela recebeu uma mensagem privada no seu Facebook. Um garoto que ela conheceu em uma festa, anos atrás, convidava para um café, porque estava com saudades. Como tinha gostado do garoto desde a primeira vez, mas na ocasião ele ainda namorava, ela se surpreendeu com a mensagem vinda do "além". Marcaram, saíram, ficaram, ela se envolveu e, em duas semanas, ele mandou mensagem para dizer que ainda não estava pronto para voltar a ter nada sério com ninguém. Até aí, nenhuma novidade! Isso poderia ter acontecido em qualquer relacionamento, iniciado online ou não. O que talvez seja diferente é a facilidade e a velocidade com que as pessoas hoje podem entrar em contato com quase desconhecidos ou completos estranhos.
As redes sociais agregaram rapidamente inúmeros "amigos" na vida das pessoas. Amigos têm amigos, que têm amigos e por aí vai. Não é preciso muito esforço ou habilidade para encontrar e seguir alguém que pode parecer interessante. Daí para "se adicionar", trocar mensagens e marcar é um processo que pode ser muito rápido. Muitas vezes, desconfio, nem dá tempo para se pensar o que, de fato, se pretende com aquele encontro.
Também parece existir uma sensação comum de impessoalidade: "do mesmo jeito que ele mandou mensagem para mim, poderia ou poderá mandar para qualquer outra". Parece tudo um pouco aleatório mesmo! Um acha o perfil, manda o recado e o outro aceita. Simples assim! Como garantir um pouco de exclusividade? Como saber que aquele encontro tem chance de se tornar mais pessoal, mais afetivo?
Mesmo nos relacionamentos que nascem na internet e "vingam", muitas vezes há esse temor, tensão e desconfiança permanentes no ar. E se ele receber uma mensagem de alguém? E se ele resolver "paquerar" pela rede?
É lógico que o jeito de se conhecer pessoas e de se manter contatos mudaria com a onipresença da vida online. O jovem de hoje passa cada vez mais tempo "plugado". Ele conversa, estuda, pesquisa, vê TV, lê notícias e acha parceiros na rede. Só que alguns códigos e padrões da vida na internet parecem ser um pouco complicados de traduzir e adaptar para a vida real, aquela do olho no olho, mão na mão e beijo na boca.
Do mesmo jeito que se pula de janela em janela e se pode ter uma atenção flutuante na rede, sem precisar focar em um único objeto por muito tempo, essa geração de jovens nativos digitais parece estar trocando de amor, de parceiro ou de interesse com uma facilidade tremenda. Mas essa banalização do outro, do "tanto faz quem eu vou adicionar hoje", está deixando muita gente bem aborrecida pelo meio do caminho. Sempre online, mas indisponível para tudo e para todos, pode ser um status, no fundo, muito solitário.
Longe de ser contra as relações que nascem na rede e, sabendo que a vida digital pode sim facilitar e agilizar encontros, fico só pensando que um pouco mais de especificidade, de afeto e de desejo real de conhecer um ao outro fazem uma diferença tremenda!
Pergunta inevitável? - MARCELO GLEISER
FOLHA DE SP - 19/05
A passagem do tempo e o fato de que temos consciência dela compõem, talvez, a condição que mais nos define
Nesta semana estive no Brasil dando uma palestra em um evento corporativo. Havia umas 200 pessoas, de várias regiões do Brasil, executivos e administradores.
Minha missão era iniciar uma reflexão macro, tirando as pessoas de sua área de conforto, colocando questões que, na correria da vida, tendemos a deixar de lado.
Como pediram para que eu falasse sobre o homem, o tempo e o espaço, embarquei numa discussão de como a ciência moderna vê a questão da existência humana: suas origens, seu significado, sua incumbência enquanto espécie, seu destino. Nada mais estimulante do que dividir minhas reflexões sobre esses temas tão fundamentais.
Comecei falando de como somos criaturas limitadas pelo tempo, com uma história que começa e acaba; mostrei que, tal como nós, assim são também as estrelas e o próprio Universo, cada qual com a sua história.
A passagem do tempo e o fato de que nós, como espécie, temos consciência dela são, talvez, a condição que mais nos define: a consciência que temos da nossa existência e da sua finitude.
Argumentei que muito do esforço criativo humano, nossos poemas e nossas sinfonias, a literatura, as ciências e a filosofia, enfim, a soma total da produção cultural da nossa história coletiva podem ser vistos como uma resposta a esses anseios, como uma tentativa de compreender a razão de nossas vidas.
Amor, reprodução, poder e relacionamentos, são manifestações de quem somos e de como escolhemos viver nossas vidas.
Passei para a questão das origens: do Cosmo, das estrelas, da vida, mostrando que todas as culturas de que temos registro oferecem uma narrativa da criação, um esforço de explicar de onde veio tudo.
Olhar para o céu e ver milhares de estrelas nos remete, inevitavelmente, à questão da existência de outros mundos, da possibilidade de que não estamos sós no Universo. Mais ainda quando aprendemos que apenas em nossa galáxia, a Via Láctea, existem em torno de 200 bilhões de estrelas, o Sol sendo apenas uma delas.
Mostrei imagens belíssimas tiradas por sondas espaciais, como o telescópio espacial Hubble, explicando como essas máquinas maravilhosas são um depoimento da criatividade humana: esses pequenos robôs atravessam milhões de quilômetros pelo espaço sideral, visitando outros mundos controlados aqui da Terra por pessoas como nós.
Sugeri que devemos celebrar esses feitos tecnológicos como celebramos outras grandes obras da humanidade, das pirâmides às catedrais medievais, da arquitetura de Brasília à Mona Lisa e às sinfonias de Beethoven.
Mostrei que, diferentemente do que a maioria pensa, e como explico no livro "Criação Imperfeita", quanto mais aprendemos sobre o Cosmo, mais relevantes ficamos: aglomerados moleculares de poeira estelar capazes de refletir sobre quem somos, de construir máquinas que nos permitem ver além da nossa percepção tão limitada do real.
Tentei, com palavras e imagens, celebrar a condição humana e a beleza austera do Cosmo.
E, ao fim de tudo isso, tão inexorável quanto a passagem do tempo, veio a pergunta inevitável: "O senhor acredita em Deus?"
A passagem do tempo e o fato de que temos consciência dela compõem, talvez, a condição que mais nos define
Nesta semana estive no Brasil dando uma palestra em um evento corporativo. Havia umas 200 pessoas, de várias regiões do Brasil, executivos e administradores.
Minha missão era iniciar uma reflexão macro, tirando as pessoas de sua área de conforto, colocando questões que, na correria da vida, tendemos a deixar de lado.
Como pediram para que eu falasse sobre o homem, o tempo e o espaço, embarquei numa discussão de como a ciência moderna vê a questão da existência humana: suas origens, seu significado, sua incumbência enquanto espécie, seu destino. Nada mais estimulante do que dividir minhas reflexões sobre esses temas tão fundamentais.
Comecei falando de como somos criaturas limitadas pelo tempo, com uma história que começa e acaba; mostrei que, tal como nós, assim são também as estrelas e o próprio Universo, cada qual com a sua história.
A passagem do tempo e o fato de que nós, como espécie, temos consciência dela são, talvez, a condição que mais nos define: a consciência que temos da nossa existência e da sua finitude.
Argumentei que muito do esforço criativo humano, nossos poemas e nossas sinfonias, a literatura, as ciências e a filosofia, enfim, a soma total da produção cultural da nossa história coletiva podem ser vistos como uma resposta a esses anseios, como uma tentativa de compreender a razão de nossas vidas.
Amor, reprodução, poder e relacionamentos, são manifestações de quem somos e de como escolhemos viver nossas vidas.
Passei para a questão das origens: do Cosmo, das estrelas, da vida, mostrando que todas as culturas de que temos registro oferecem uma narrativa da criação, um esforço de explicar de onde veio tudo.
Olhar para o céu e ver milhares de estrelas nos remete, inevitavelmente, à questão da existência de outros mundos, da possibilidade de que não estamos sós no Universo. Mais ainda quando aprendemos que apenas em nossa galáxia, a Via Láctea, existem em torno de 200 bilhões de estrelas, o Sol sendo apenas uma delas.
Mostrei imagens belíssimas tiradas por sondas espaciais, como o telescópio espacial Hubble, explicando como essas máquinas maravilhosas são um depoimento da criatividade humana: esses pequenos robôs atravessam milhões de quilômetros pelo espaço sideral, visitando outros mundos controlados aqui da Terra por pessoas como nós.
Sugeri que devemos celebrar esses feitos tecnológicos como celebramos outras grandes obras da humanidade, das pirâmides às catedrais medievais, da arquitetura de Brasília à Mona Lisa e às sinfonias de Beethoven.
Mostrei que, diferentemente do que a maioria pensa, e como explico no livro "Criação Imperfeita", quanto mais aprendemos sobre o Cosmo, mais relevantes ficamos: aglomerados moleculares de poeira estelar capazes de refletir sobre quem somos, de construir máquinas que nos permitem ver além da nossa percepção tão limitada do real.
Tentei, com palavras e imagens, celebrar a condição humana e a beleza austera do Cosmo.
E, ao fim de tudo isso, tão inexorável quanto a passagem do tempo, veio a pergunta inevitável: "O senhor acredita em Deus?"
Pobre Argentina - SUELY CALDAS
ESTADÃO - 19/05
A Argentina vai mal. Divide com a Venezuela a posição de pior economia da América Latina e sua situação deteriora com impressionante rapidez, comprova pesquisa da Fundação Getúlio Vargas em parceria com o instituto alemão Ifo - que juntos elaboram um índice de clima econômico na região. Em apenas quatro meses, entre janeiro e abril deste ano, esse índice na Argentina desabou de 5,2 para 3,4 pontos e a expectativa é de que haja piora diante de uma onda de desinvestimentos, com empresas desistindo de projetos ou abandonando o país.
Segundo a pesquisa, os problemas que empurram a Argentina para o abismo obedecem esta ordem: falta de confiança em políticas públicas, inflação em alta, competitividade em baixa, déficit público e escassez de capital. São efeitos de uma política - que se tem mostrado fracassada em países da América Latina - de miúdas e graúdas intervenções do governo na economia, mudando regras a todo instante e criando um ambiente instável e desfavorável para decisões de investimentos. Para tocar um negócio, é preciso haver um mínimo de estabilidade de regras.
Em março, a brasileira Vale desistiu de um bilionário projeto de exploração de potássio no Rio Colorado. Motivo: os desequilíbrios cambiais derivados de sucessivas intervenções do governo dobraram o custo do negócio, de US$ 5,9 bilhões, em 2009, para US$ 10,9 bilhões, no início deste ano. O governo brasileiro não gostou da decisão da Vale, mas como obrigar uma empresa privada a rasgar dinheiro?
Mesmo a estatal Petrobrás tem planos para desembarcar do atoleiro argentino. "A Petrobrás argentina está no nosso portfólio de desinvestimentos", respondeu há dias a presidente Graça Foster a parlamentares que indagavam se procedia notícia publicada na imprensa portenha segundo a qual a estatal teria vendido 51% dos ativos da subsidiária argentina para a Oil Combustibles. "Estamos negociando a venda desses ativos, mas não há nada fechado", respondeu ela.
Tem razão Graça Foster: a Petrobrás só conseguiu enviar ao Brasil 10% dos US$ 22 milhões que pretendia, no ano passado. Além disso, a empresa foi penalizada por longo congelamento de preços dos combustíveis aqui e seus recursos estão muito abaixo do necessário para cumprir seu programa de investimentos no Brasil. Para fazer caixa, ela partiu para um plano de desinvestimentos em que a venda de ativos na Argentina desponta na liderança.
Vale e Petrobrás, no entanto, não estão sozinhas. A mineradora Los Andes, controlada pela canadense McEwen Mining, anunciou a revisão de um projeto de extração de ouro, prata e cobre avaliado em US$ 2,7 bilhões. Paradas e também à espera estão a Cerro Vanguardia e duas outras empresas de mineração: Mansfield e Siles. Já a Minera Argentina, da canadense Pan American Silver, desistiu de suas operações e subtraiu US$ 800 milhões em investimentos. Só no setor de mineração os projetos suspensos causaram uma perda estimada em US$ 15 bilhões, que deixarão de entrar na Argentina nos próximos três anos.
Defasagem cambial, inflação elevada, barreiras às importações, restrições à remessa de lucros das empresas e carga tributária elevada são os problemas criados pelo governo e que têm afastado investimentos estrangeiros, imprescindíveis para um país que não tem poupança interna para tocar seu progresso. Incalculável, a perda de empregos vai à casa dos milhares e a Argentina deixa de produzir riqueza e renda para sua população.
Casal populista. Desde o governo Néstor Kirchner, o problema da Argentina é de um estilo de gestão populista, em que interesses políticos imediatos subjugam a economia e prejudicam o progresso econômico no longo prazo. E, como a repetição dessa prática acaba produzindo resultados desastrosos adiante, chegou a hora de pagar a conta da inconsequência. Coube a Cristina Kirchner fazê-lo agora.
Morto em outubro de 2010, Néstor Kirchner assumiu o poder em 2003, com o país no caos financeiro e uma moratória que dramatizou a pobreza. Três anos depois, ele reduziu o desemprego para 10%, saiu da moratória e acumulou reservas cambiais, mas a pobreza se manteve em 33,5% da população. Só que Kirchner enveredou pelos caminhos do populismo político de ganhar a eleição a qualquer preço. Como a inflação ameaçava a reeleição, ele decretou intervenção no Indec (o IBGE de lá), demitiu técnicos sérios que se negaram a manipular pesquisas e passou a divulgar índices de inflação desmoralizados e desacreditados dentro e fora da Argentina.
Calculada por instituições sérias, em 2012 a inflação real foi de 25,6%, mas a fantasiosa do governo ficou em 10,8%. A manipulação se estendeu ao cálculo da pobreza, que o Indec afirma ter sido reduzida para 5,4% da população em 2012 e a Universidade Católica Argentina (UCA), que há anos elabora um índice paralelo, dimensionou em 26,9%.
Como o índice oficial é o que prevalece nas negociações salariais, nos últimos anos as lideranças sindicais trabalhistas passaram a fazer oposição a Cristina. Mas como chegou a hora de pagar a conta e com uma eleição legislativa se aproximando, na quinta-feira ela fechou um acordo com seis sindicatos aliados para elevar em 24% os salários de 2 milhões de trabalhadores, reconhecendo, afinal, a inflação de 26,9%. Os sindicatos opositores, porém, já anunciaram que vão reivindicar 30%.
Além de lideranças sindicais, Cristina vem perdendo apoio de personalidades populares no país. O caso mais recente foi o do ator Ricardo Darin, respeitado mundialmente no mundo do cinema, que rompeu com a presidente depois de questionar o rápido enriquecimento do casal Kirchner. Denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito, aliás, não faltam na Argentina. Num programa de TV, a ex-secretária de Néstor Kirchner Mirian Quiroga denunciou que bolsas cheias de dinheiro chegavam à Casa Rosada durante o governo do ex-presidente e afirmou que sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner, sabia das operações do marido. A acusação foi parar na Justiça.
Em dez anos de governo do casal Kirchner, a política degradou e a economia desandou na Argentina. Inflação alta e crescimento baixo são o que se espera para 2013. Cristina e seus aliados terão dificuldades nas próximas eleições.
A Argentina vai mal. Divide com a Venezuela a posição de pior economia da América Latina e sua situação deteriora com impressionante rapidez, comprova pesquisa da Fundação Getúlio Vargas em parceria com o instituto alemão Ifo - que juntos elaboram um índice de clima econômico na região. Em apenas quatro meses, entre janeiro e abril deste ano, esse índice na Argentina desabou de 5,2 para 3,4 pontos e a expectativa é de que haja piora diante de uma onda de desinvestimentos, com empresas desistindo de projetos ou abandonando o país.
Segundo a pesquisa, os problemas que empurram a Argentina para o abismo obedecem esta ordem: falta de confiança em políticas públicas, inflação em alta, competitividade em baixa, déficit público e escassez de capital. São efeitos de uma política - que se tem mostrado fracassada em países da América Latina - de miúdas e graúdas intervenções do governo na economia, mudando regras a todo instante e criando um ambiente instável e desfavorável para decisões de investimentos. Para tocar um negócio, é preciso haver um mínimo de estabilidade de regras.
Em março, a brasileira Vale desistiu de um bilionário projeto de exploração de potássio no Rio Colorado. Motivo: os desequilíbrios cambiais derivados de sucessivas intervenções do governo dobraram o custo do negócio, de US$ 5,9 bilhões, em 2009, para US$ 10,9 bilhões, no início deste ano. O governo brasileiro não gostou da decisão da Vale, mas como obrigar uma empresa privada a rasgar dinheiro?
Mesmo a estatal Petrobrás tem planos para desembarcar do atoleiro argentino. "A Petrobrás argentina está no nosso portfólio de desinvestimentos", respondeu há dias a presidente Graça Foster a parlamentares que indagavam se procedia notícia publicada na imprensa portenha segundo a qual a estatal teria vendido 51% dos ativos da subsidiária argentina para a Oil Combustibles. "Estamos negociando a venda desses ativos, mas não há nada fechado", respondeu ela.
Tem razão Graça Foster: a Petrobrás só conseguiu enviar ao Brasil 10% dos US$ 22 milhões que pretendia, no ano passado. Além disso, a empresa foi penalizada por longo congelamento de preços dos combustíveis aqui e seus recursos estão muito abaixo do necessário para cumprir seu programa de investimentos no Brasil. Para fazer caixa, ela partiu para um plano de desinvestimentos em que a venda de ativos na Argentina desponta na liderança.
Vale e Petrobrás, no entanto, não estão sozinhas. A mineradora Los Andes, controlada pela canadense McEwen Mining, anunciou a revisão de um projeto de extração de ouro, prata e cobre avaliado em US$ 2,7 bilhões. Paradas e também à espera estão a Cerro Vanguardia e duas outras empresas de mineração: Mansfield e Siles. Já a Minera Argentina, da canadense Pan American Silver, desistiu de suas operações e subtraiu US$ 800 milhões em investimentos. Só no setor de mineração os projetos suspensos causaram uma perda estimada em US$ 15 bilhões, que deixarão de entrar na Argentina nos próximos três anos.
Defasagem cambial, inflação elevada, barreiras às importações, restrições à remessa de lucros das empresas e carga tributária elevada são os problemas criados pelo governo e que têm afastado investimentos estrangeiros, imprescindíveis para um país que não tem poupança interna para tocar seu progresso. Incalculável, a perda de empregos vai à casa dos milhares e a Argentina deixa de produzir riqueza e renda para sua população.
Casal populista. Desde o governo Néstor Kirchner, o problema da Argentina é de um estilo de gestão populista, em que interesses políticos imediatos subjugam a economia e prejudicam o progresso econômico no longo prazo. E, como a repetição dessa prática acaba produzindo resultados desastrosos adiante, chegou a hora de pagar a conta da inconsequência. Coube a Cristina Kirchner fazê-lo agora.
Morto em outubro de 2010, Néstor Kirchner assumiu o poder em 2003, com o país no caos financeiro e uma moratória que dramatizou a pobreza. Três anos depois, ele reduziu o desemprego para 10%, saiu da moratória e acumulou reservas cambiais, mas a pobreza se manteve em 33,5% da população. Só que Kirchner enveredou pelos caminhos do populismo político de ganhar a eleição a qualquer preço. Como a inflação ameaçava a reeleição, ele decretou intervenção no Indec (o IBGE de lá), demitiu técnicos sérios que se negaram a manipular pesquisas e passou a divulgar índices de inflação desmoralizados e desacreditados dentro e fora da Argentina.
Calculada por instituições sérias, em 2012 a inflação real foi de 25,6%, mas a fantasiosa do governo ficou em 10,8%. A manipulação se estendeu ao cálculo da pobreza, que o Indec afirma ter sido reduzida para 5,4% da população em 2012 e a Universidade Católica Argentina (UCA), que há anos elabora um índice paralelo, dimensionou em 26,9%.
Como o índice oficial é o que prevalece nas negociações salariais, nos últimos anos as lideranças sindicais trabalhistas passaram a fazer oposição a Cristina. Mas como chegou a hora de pagar a conta e com uma eleição legislativa se aproximando, na quinta-feira ela fechou um acordo com seis sindicatos aliados para elevar em 24% os salários de 2 milhões de trabalhadores, reconhecendo, afinal, a inflação de 26,9%. Os sindicatos opositores, porém, já anunciaram que vão reivindicar 30%.
Além de lideranças sindicais, Cristina vem perdendo apoio de personalidades populares no país. O caso mais recente foi o do ator Ricardo Darin, respeitado mundialmente no mundo do cinema, que rompeu com a presidente depois de questionar o rápido enriquecimento do casal Kirchner. Denúncias de corrupção e enriquecimento ilícito, aliás, não faltam na Argentina. Num programa de TV, a ex-secretária de Néstor Kirchner Mirian Quiroga denunciou que bolsas cheias de dinheiro chegavam à Casa Rosada durante o governo do ex-presidente e afirmou que sua mulher e sucessora, Cristina Kirchner, sabia das operações do marido. A acusação foi parar na Justiça.
Em dez anos de governo do casal Kirchner, a política degradou e a economia desandou na Argentina. Inflação alta e crescimento baixo são o que se espera para 2013. Cristina e seus aliados terão dificuldades nas próximas eleições.
Era uma vez - DANUZA LEÃO
FOLHA DE SP - 19/05
Com que idade se tem o direito de não saber quem foi Yuri Gagarin ou que o Festival de Woodstock aconteceu?
Outro dia eu estava num café, e sentado ao meu lado, havia um jovem de 28 anos, já casado. Havia também uma TV; e na tela, cantando e dançando, Ricky Martin. Como sou meio desligada, perguntei ao garoto se o cantor não tinha sido do grupo Menudos.
Tive a impressão de ter dito uma palavra em javanês. Ele fez um esforço de memória e perguntou: Menudos? Custei a entender que ele nunca tinha ouvido falar do grupo. Não que fosse alguém alienado do panorama musical. Era apenas uma questão de faixa etária.
Passei uns momentos o testando: ele sabia quem havia sido Doris Day? Tinha ouvido falar de Grace Kelly, Rita Hayworth, Ava Gardner? Não! Ele nunca havia ouvido falar de nenhuma dessas pessoas.
Desisti, claro. E após ficar chocada, imaginei: se ele citasse algum dos cantores de rock atuais, algum conjunto bem moderno, desses que vão tocar no Rock in Rio, sabe qual seria a minha resposta? Zero.
É muita informação. São muitos cantores, muitos conjuntos, muitos tipos de música. Não dá para esperar que esta geração tenha ao menos ouvido falar dos nossos ídolos.
Nos tempos em que a informação era mais discreta, era fácil ter ouvido falar em Napoleão. Fico pensando: o que pode ser desculpado, quando se fala em nova geração?
Com que idade se tem o direito de não saber quem foi Yuri Gagarin ou que o Festival de Woodstock aconteceu? Ou que um dia o mar de Copacabana era muito mais próximo dos edifícios, e que no Maracanã havia a geral, de onde os torcedores assistiam às partidas em pé?
Ou então que todos os apartamentos tinham área de serviço e quarto de empregada?
E quando o professor, ao entrar na sala de aula, era recepcionado pelos alunos, todos de pé, o saudando com um bom dia ou boa tarde? E nem faz tanto tempo!
No início do ano letivo, o colégio estava sempre cheio de novidades. As crianças ganhavam uma lancheira de metal nova, onde levavam um pãozinho doce e uma fruta que não precisasse de faca -geralmente tangerina ou banana.
Ganhavam também uma régua de madeira, um compasso, um lápis Faber nº 1 e outro nº 2 (o apontador era daqueles de manivela, preso na mesa da professora), borracha e uma caixa de lápis de cor.
Dependendo da condição econômica dos pais, essa caixa era de seis lápis, 12 ou 18, e essas últimas deslumbravam as mais pobrinhas. E os lápis franceses Caran D'Ache, que só uma das alunas tinha, eram o sonho impossível de todas as meninas.
Agora, acredite: havia aulas de delicadeza. Já ouviu falar? Nessas aulas se ensinava como se comportar, como cumprimentar uma pessoa e como se sentar.
Não havia lanchonete. À venda, apenas mariolas, que eram retângulos de bananada passados no açúcar cristal, e paçocas.
Quem tivesse sido apanhada conversando durante a aula tirava nota baixa no quesito comportamento, além de perder o recreio e ficar de castigo na capela. Se a infração fosse mais grave, o castigo seria ficar de joelhos no milho.
Aos sábados nos confessávamos, para então comungar no domingo, em jejum e com um véu branco na cabeça. Quem não fosse à missa, caía em pecado mortal; e se morresse antes de confessar e ser absolvida pelo padre, ia para o inferno.
Tudo isso aconteceu, e nem faz tanto tempo. E nunca ninguém pensou que o ano 2000 fosse chegar.
Com que idade se tem o direito de não saber quem foi Yuri Gagarin ou que o Festival de Woodstock aconteceu?
Outro dia eu estava num café, e sentado ao meu lado, havia um jovem de 28 anos, já casado. Havia também uma TV; e na tela, cantando e dançando, Ricky Martin. Como sou meio desligada, perguntei ao garoto se o cantor não tinha sido do grupo Menudos.
Tive a impressão de ter dito uma palavra em javanês. Ele fez um esforço de memória e perguntou: Menudos? Custei a entender que ele nunca tinha ouvido falar do grupo. Não que fosse alguém alienado do panorama musical. Era apenas uma questão de faixa etária.
Passei uns momentos o testando: ele sabia quem havia sido Doris Day? Tinha ouvido falar de Grace Kelly, Rita Hayworth, Ava Gardner? Não! Ele nunca havia ouvido falar de nenhuma dessas pessoas.
Desisti, claro. E após ficar chocada, imaginei: se ele citasse algum dos cantores de rock atuais, algum conjunto bem moderno, desses que vão tocar no Rock in Rio, sabe qual seria a minha resposta? Zero.
É muita informação. São muitos cantores, muitos conjuntos, muitos tipos de música. Não dá para esperar que esta geração tenha ao menos ouvido falar dos nossos ídolos.
Nos tempos em que a informação era mais discreta, era fácil ter ouvido falar em Napoleão. Fico pensando: o que pode ser desculpado, quando se fala em nova geração?
Com que idade se tem o direito de não saber quem foi Yuri Gagarin ou que o Festival de Woodstock aconteceu? Ou que um dia o mar de Copacabana era muito mais próximo dos edifícios, e que no Maracanã havia a geral, de onde os torcedores assistiam às partidas em pé?
Ou então que todos os apartamentos tinham área de serviço e quarto de empregada?
E quando o professor, ao entrar na sala de aula, era recepcionado pelos alunos, todos de pé, o saudando com um bom dia ou boa tarde? E nem faz tanto tempo!
No início do ano letivo, o colégio estava sempre cheio de novidades. As crianças ganhavam uma lancheira de metal nova, onde levavam um pãozinho doce e uma fruta que não precisasse de faca -geralmente tangerina ou banana.
Ganhavam também uma régua de madeira, um compasso, um lápis Faber nº 1 e outro nº 2 (o apontador era daqueles de manivela, preso na mesa da professora), borracha e uma caixa de lápis de cor.
Dependendo da condição econômica dos pais, essa caixa era de seis lápis, 12 ou 18, e essas últimas deslumbravam as mais pobrinhas. E os lápis franceses Caran D'Ache, que só uma das alunas tinha, eram o sonho impossível de todas as meninas.
Agora, acredite: havia aulas de delicadeza. Já ouviu falar? Nessas aulas se ensinava como se comportar, como cumprimentar uma pessoa e como se sentar.
Não havia lanchonete. À venda, apenas mariolas, que eram retângulos de bananada passados no açúcar cristal, e paçocas.
Quem tivesse sido apanhada conversando durante a aula tirava nota baixa no quesito comportamento, além de perder o recreio e ficar de castigo na capela. Se a infração fosse mais grave, o castigo seria ficar de joelhos no milho.
Aos sábados nos confessávamos, para então comungar no domingo, em jejum e com um véu branco na cabeça. Quem não fosse à missa, caía em pecado mortal; e se morresse antes de confessar e ser absolvida pelo padre, ia para o inferno.
Tudo isso aconteceu, e nem faz tanto tempo. E nunca ninguém pensou que o ano 2000 fosse chegar.
Ação criminosa - ALFREDO GUARISCHI
O GLOBO - 19/05
O sistema de saúde, que representa 8,8% do PIB brasileiro, competindo com o Petróleo (10%), é dissecado nas páginas de economia, policial e de ciência, infelizmente não obrigatoriamente nesta ordem. As curas são superadas pela corrupção e descaso. Sofremos pelas doenças e com a hipocrisia.
A questão não é salarial. Médicos não são atraídos por salários de R$ 39 mil reais para trabalhar no importante Programa de Saúde da Família. Por que será? Querer ir para o interior já foi um atrativo, mas não é mais. Por que? Ganha-se mais, gasta-se menos e quem sabe um dia vira-se prefeito?
Para resolver a falta de profissionais surgiu uma ideia mágica e incrível: se forme, vá para interior, ganhe um "bom" dinheiro, treine (bastante) no pobre. Após um ou dois anos você tem assegurado um "bônus" extra nos pontos das provas seletivas para vaga numa residência ou pós-graduação, concorrendo para quem não foi para o interior "treinar".
Criar mais vagas em cursos de medicina e facilitar a validação do diploma de quem se formou em outros países é outra ideia mágica. Isto é outro grande equívoco. O Brasil só perde para a Índia no número de faculdades de medicina. Vencemos até os EUA.
Das 185 faculdades de medicina autorizadas para funcionar no Brasil a sua maioria é particular.
O curso de medicina é o mais lucrativo de todos de ensino superior (R$ 3,5 mil a R$ 6 mil apenas pela mensalidade). Menos de 10% deixam de receber o diploma, um dos menores índices de abandono ou reprovação entre os cursos de nível superior. Estará havendo permissividade no ensino e na aprovação?
Após a diplomação a maioria não consegue, por falta de vagas, fazer uma residência médica ou uma pós-graduação complementar. Apenas com o diploma e três a quatro empregos, em sua maioria plantões de emergência, seguem na vida. Preferem ganhar menos que a metade que receberiam no interior em troca de ficar com suas famílias, auxílio de outros profissionais e uma infraestrutura mínima. Dinheiro não é tudo, acreditem.
A ideia de validar automaticamente os diplomados em escolas argentinas, bolivianas e principalmente cubanas é uma ação criminosa. A maioria destes cursos tem curriculum defasado e faculdades mal-equipadas.
Os alunos, em sua imensa maioria, não foram submetidos a um processo seletivo regular, mas por indicação de caráter político, ideológico e condições sociais.
O índice de reprovação de mais de 98% destes candidatos, pelo sistema atual de validação, confirma o alerta feito pelo Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos. Dos formados em Cuba menos de 9% conseguiram validar seu diploma no Brasil.
As entidades médicas e categorias profissionais têm estudos com boas sugestões. Importar ou formar pela metade vai duplicar o problema.
A questão não é salarial. Médicos não são atraídos por salários de R$ 39 mil reais para trabalhar no importante Programa de Saúde da Família. Por que será? Querer ir para o interior já foi um atrativo, mas não é mais. Por que? Ganha-se mais, gasta-se menos e quem sabe um dia vira-se prefeito?
Para resolver a falta de profissionais surgiu uma ideia mágica e incrível: se forme, vá para interior, ganhe um "bom" dinheiro, treine (bastante) no pobre. Após um ou dois anos você tem assegurado um "bônus" extra nos pontos das provas seletivas para vaga numa residência ou pós-graduação, concorrendo para quem não foi para o interior "treinar".
Criar mais vagas em cursos de medicina e facilitar a validação do diploma de quem se formou em outros países é outra ideia mágica. Isto é outro grande equívoco. O Brasil só perde para a Índia no número de faculdades de medicina. Vencemos até os EUA.
Das 185 faculdades de medicina autorizadas para funcionar no Brasil a sua maioria é particular.
O curso de medicina é o mais lucrativo de todos de ensino superior (R$ 3,5 mil a R$ 6 mil apenas pela mensalidade). Menos de 10% deixam de receber o diploma, um dos menores índices de abandono ou reprovação entre os cursos de nível superior. Estará havendo permissividade no ensino e na aprovação?
Após a diplomação a maioria não consegue, por falta de vagas, fazer uma residência médica ou uma pós-graduação complementar. Apenas com o diploma e três a quatro empregos, em sua maioria plantões de emergência, seguem na vida. Preferem ganhar menos que a metade que receberiam no interior em troca de ficar com suas famílias, auxílio de outros profissionais e uma infraestrutura mínima. Dinheiro não é tudo, acreditem.
A ideia de validar automaticamente os diplomados em escolas argentinas, bolivianas e principalmente cubanas é uma ação criminosa. A maioria destes cursos tem curriculum defasado e faculdades mal-equipadas.
Os alunos, em sua imensa maioria, não foram submetidos a um processo seletivo regular, mas por indicação de caráter político, ideológico e condições sociais.
O índice de reprovação de mais de 98% destes candidatos, pelo sistema atual de validação, confirma o alerta feito pelo Conselho Federal de Medicina, a Associação Médica Brasileira e a Federação Nacional dos Médicos. Dos formados em Cuba menos de 9% conseguiram validar seu diploma no Brasil.
As entidades médicas e categorias profissionais têm estudos com boas sugestões. Importar ou formar pela metade vai duplicar o problema.
Fronteiras do pensamento - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 19/05
SÃO PAULO - O livro é um catatau de quase 600 páginas e traz só uma ideia. Ainda assim, "Surfaces and Essences" (superfícies e essências), do físico convertido em cientista cognitivo Douglas Hofstadter e do psicólogo Emmanuel Sander, é uma obra importante. Os autores apresentam uma tese que é a um só tempo capital e contraintuitiva -a de que as analogias que fazemos constituem a matéria-prima do pensamento- e se põem a demonstrá-la.
Para fazê-lo, eles se valem de um pouco de tudo. A argumentação opera nas fronteiras entre a linguística, a filosofia, a matemática e a física, com incursões pela literatura, o estudo comparativo dos provérbios e a enologia, para enumerar algumas poucas das muitas áreas em que os autores se arriscam.
A ideia básica é que o cérebro pensa através de analogias. Elas podem ser infantis ("mamãe, eu desvesti a banana"), estupidamente banais (termos como "e" e "mas" sempre introduzem comparações mentais) ou brilhantes (Galileu revolucionou a astronomia "vendo" os satélites de Júpiter como luas), mas estão na origem de todas as nossas falas, raciocínios, cálculos e atos falhos -mesmo que não nos demos conta disso.
Hofstadter e Sander sustentam que o processo de categorização, que muitos especialistas consideram a base do pensamento, não envolve nada mais do que fazer analogias.
Para não falar apenas de flores (mais uma analogia), o livro ganharia bastante se tivesse passado por um bom editor disposto a cortar pelo menos uns 30% de gorduras. Algumas das digressões dos autores são francamente dispensáveis e eles poderiam ter sido mais contidos nos exemplos, que se contam às centenas, estendendo-se por páginas e mais páginas, quando meia dúzia teriam sido suficientes.
A prolixidade e o exagero, porém, não bastam para apagar o brilho da obra, que definitivamente muda nossa forma de pensar o pensamento.
SÃO PAULO - O livro é um catatau de quase 600 páginas e traz só uma ideia. Ainda assim, "Surfaces and Essences" (superfícies e essências), do físico convertido em cientista cognitivo Douglas Hofstadter e do psicólogo Emmanuel Sander, é uma obra importante. Os autores apresentam uma tese que é a um só tempo capital e contraintuitiva -a de que as analogias que fazemos constituem a matéria-prima do pensamento- e se põem a demonstrá-la.
Para fazê-lo, eles se valem de um pouco de tudo. A argumentação opera nas fronteiras entre a linguística, a filosofia, a matemática e a física, com incursões pela literatura, o estudo comparativo dos provérbios e a enologia, para enumerar algumas poucas das muitas áreas em que os autores se arriscam.
A ideia básica é que o cérebro pensa através de analogias. Elas podem ser infantis ("mamãe, eu desvesti a banana"), estupidamente banais (termos como "e" e "mas" sempre introduzem comparações mentais) ou brilhantes (Galileu revolucionou a astronomia "vendo" os satélites de Júpiter como luas), mas estão na origem de todas as nossas falas, raciocínios, cálculos e atos falhos -mesmo que não nos demos conta disso.
Hofstadter e Sander sustentam que o processo de categorização, que muitos especialistas consideram a base do pensamento, não envolve nada mais do que fazer analogias.
Para não falar apenas de flores (mais uma analogia), o livro ganharia bastante se tivesse passado por um bom editor disposto a cortar pelo menos uns 30% de gorduras. Algumas das digressões dos autores são francamente dispensáveis e eles poderiam ter sido mais contidos nos exemplos, que se contam às centenas, estendendo-se por páginas e mais páginas, quando meia dúzia teriam sido suficientes.
A prolixidade e o exagero, porém, não bastam para apagar o brilho da obra, que definitivamente muda nossa forma de pensar o pensamento.
Demonstração de força - JOÃO BOSCO RABELLO
O Estado de S.Paulo - 19/05
O PMDB levou o governo às cordas e o PMDB livrou o governo de uma derrota histórica. Essa pode ser, abstraídos os detalhes, uma síntese política das 41 horas que representaram a mais longa sessão da história do Congresso Nacional, que acabou por aprovar a Medida Provisória modernizadora do setor portuário brasileiro.
Os que testemunharam as movimentações de véspera nos bastidores percebiam desde então que não havia disposição do PMDB em impor uma derrota integral ao Planalto, mas, sim, em promover uma demonstração de força suficiente para exibir a insatisfação com o que já se tornou diagnóstico corrente - a incapacidade de articulação política do governo.
As críticas estão centradas nas ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, mas endereçadas à presidente Dilma Rousseff, de quem emanam as diretrizes, margens de negociação e limites para concessões. E Dilma o faz de forma a deixar claro que é dela a palavra final, o que tornaria muito mais grave para seu governo uma derrota nos moldes da que se desenhou na semana passada.
A desenvoltura do líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), em nenhum momento pareceu abalar a confiança do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), seu antecessor no cargo, que já havia sinalizado ao Planalto, na véspera, que a batalha seria longa, mas que a MP chegaria ao Senado a tempo de sua aprovação,
E fez a previsão completa ao acrescentar que não passaria na forma desejada pela presidente da República, mas passaria. E assim se deu, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), capitalizando a parte que lhe cabia na estratégia, registrando-se como aquele que evitou a derrota pessoal de Dilma, fechando uma bem sucedida rebelião administrada.
Para além do PMDB, o vice-presidente Michel Temer garantiu os votos dos 12 senadores do bloco PTB-PR-PSC, no Senado.
Como se vê, o desgaste ficou com as ministras responsáveis pelas negociações, sobre as quais aumentará a pressão da base - tanto de PMDB quanto do PT -, este último sonhando com a antecipação da saída de Gleisi Hofmann, prevista para 2014, para disputar o governo do Paraná. Quer ali o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP).
De resto, o episódio compromete o fôlego do governo para a aprovação do Código de Mineração, alvo do efeito negativo dos prováveis vetos presidenciais a pontos da MP dos Portos negociados para viabilizar sua aprovação. Já parece mais concessivo ao admitir agora a proposta na forma de projeto de lei, que reduz a pressão sobre os parlamentares.
Saia justa
O vice-presidente Michel Temer espera a presidente Dilma Rousseff, para jantar no Jaburu, terça-feira, com os governadores e vices do PMDB, incluindo Sérgio Cabral (RJ) e seu vice e candidato à sucessão, Luiz Fernando Pezão. No cardápio, o impasse no Rio com a candidatura do petista Lindbergh Farias.
Saúde em baixa
Aloizio Mercadante é mais um que defende a candidatura do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao governo paulista, em vez do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, Mercadante acha que o PT vence o PSDB no debate da segurança pública e perde no da Saúde. Lula, porém, prefere Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo.
O PMDB levou o governo às cordas e o PMDB livrou o governo de uma derrota histórica. Essa pode ser, abstraídos os detalhes, uma síntese política das 41 horas que representaram a mais longa sessão da história do Congresso Nacional, que acabou por aprovar a Medida Provisória modernizadora do setor portuário brasileiro.
Os que testemunharam as movimentações de véspera nos bastidores percebiam desde então que não havia disposição do PMDB em impor uma derrota integral ao Planalto, mas, sim, em promover uma demonstração de força suficiente para exibir a insatisfação com o que já se tornou diagnóstico corrente - a incapacidade de articulação política do governo.
As críticas estão centradas nas ministras Ideli Salvatti, das Relações Institucionais, e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil, mas endereçadas à presidente Dilma Rousseff, de quem emanam as diretrizes, margens de negociação e limites para concessões. E Dilma o faz de forma a deixar claro que é dela a palavra final, o que tornaria muito mais grave para seu governo uma derrota nos moldes da que se desenhou na semana passada.
A desenvoltura do líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), em nenhum momento pareceu abalar a confiança do presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (RN), seu antecessor no cargo, que já havia sinalizado ao Planalto, na véspera, que a batalha seria longa, mas que a MP chegaria ao Senado a tempo de sua aprovação,
E fez a previsão completa ao acrescentar que não passaria na forma desejada pela presidente da República, mas passaria. E assim se deu, com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), capitalizando a parte que lhe cabia na estratégia, registrando-se como aquele que evitou a derrota pessoal de Dilma, fechando uma bem sucedida rebelião administrada.
Para além do PMDB, o vice-presidente Michel Temer garantiu os votos dos 12 senadores do bloco PTB-PR-PSC, no Senado.
Como se vê, o desgaste ficou com as ministras responsáveis pelas negociações, sobre as quais aumentará a pressão da base - tanto de PMDB quanto do PT -, este último sonhando com a antecipação da saída de Gleisi Hofmann, prevista para 2014, para disputar o governo do Paraná. Quer ali o atual ministro da Educação, Aloizio Mercadante (PT-SP).
De resto, o episódio compromete o fôlego do governo para a aprovação do Código de Mineração, alvo do efeito negativo dos prováveis vetos presidenciais a pontos da MP dos Portos negociados para viabilizar sua aprovação. Já parece mais concessivo ao admitir agora a proposta na forma de projeto de lei, que reduz a pressão sobre os parlamentares.
Saia justa
O vice-presidente Michel Temer espera a presidente Dilma Rousseff, para jantar no Jaburu, terça-feira, com os governadores e vices do PMDB, incluindo Sérgio Cabral (RJ) e seu vice e candidato à sucessão, Luiz Fernando Pezão. No cardápio, o impasse no Rio com a candidatura do petista Lindbergh Farias.
Saúde em baixa
Aloizio Mercadante é mais um que defende a candidatura do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, ao governo paulista, em vez do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, Mercadante acha que o PT vence o PSDB no debate da segurança pública e perde no da Saúde. Lula, porém, prefere Luiz Marinho, prefeito de São Bernardo do Campo.
Despedida de Neymar - TOSTÃO
FOLHA DE SP - 19/05
Não foram surpresas as ausências de Ronaldinho e Kaká. Surpreendente foi Ramires ficar fora
Não fiquei surpreso com a ausência de Ronaldinho na lista para a Copa das Confederações. Foi mais por motivos técnicos que disciplinares. A convocação não foi também para a Copa do Mundo.
Ronaldinho atuou muito mal nos dois jogos com Felipão. Além disso, Neymar, Oscar e Lucas precisam jogar mais e juntos, para evoluírem. Eles são a grande esperança de o Brasil ter na Copa uma equipe muito melhor do que a atual.
Surpreendente foi a ausência de Ramires. Não foi também por indisciplina. Ele não é um volante excepcional, mas não pode ficar fora de um grupo que tem Fernando, Luiz Gustavo e Hernanes. Faltou também Tardelli, como opção de centroavante. Ele é artilheiro, habilidoso e facilita bastante para os companheiros. Sua chegada foi fundamental para o crescimento do Atlético-MG.
A convocação de 11 jogadores que atuam no Brasil é decorrente da manutenção e contratação de melhores atletas, do pouco número de brasileiros nas principais equipes da Europa e da tentativa de cativar e de criar um forte laço afetivo com a torcida. O slogan do governo para a Copa: "Pátria de chuteiras", aliás, nada original, possui o mesmo objetivo.
Das equipes brasileiras, só restaram, na Libertadores, Atlético-MG e Fluminense. O Corinthians, bastante prejudicado pela arbitragem, ficou fora. É muito mais difícil ser bi que ser campeão. As contratações de Pato e de Renato Augusto tinham o objetivo de dar mais qualidade ofensiva, de o time não depender tanto de vitórias por um gol de diferença, não deram certo até agora.
Renato Augusto está contundido, e Pato, mais uma vez, mostrou que é mais famoso do que joga.
O mesmo raciocínio, porém, em um nível muito mais alto, ocorre com Neymar. Antes de brilhar contra as melhores equipes do mundo, ele já é um dos mais famosos e bem pagos jogadores do planeta, personagem de revista em quadrinhos, além de ter todos os trejeitos e idiotices das grandes estrelas.
A melhor solução, para o craque e para o ser humano, será jogar ao lado de grandes craques, que tenham outro comportamento, como Messi, Xavi e Iniesta. Hoje, pode ser sua despedida.
O Atlético-MG não é um time moderno nem antigo. Não segue a moda nem é convencional. A equipe não possui um volante habilidoso, que marca e ataca, nem se preocupa demais com a troca de passes e a posse de bola, desejos dos grandes times do mundo. O Galo utiliza muito, com sucesso, os chutões para o grandalhão Jô e as jogadas aéreas, práticas pouco comuns nas principais equipes europeias.
O Atlético-MG é uma mistura de estilos. Mostra que é possível ganhar e jogar bem de outras maneiras.
Cuca não inventa nem copia. Faz do seu jeito, além de conhecer profundamente os detalhes e o que é essencial.
Não foram surpresas as ausências de Ronaldinho e Kaká. Surpreendente foi Ramires ficar fora
Não fiquei surpreso com a ausência de Ronaldinho na lista para a Copa das Confederações. Foi mais por motivos técnicos que disciplinares. A convocação não foi também para a Copa do Mundo.
Ronaldinho atuou muito mal nos dois jogos com Felipão. Além disso, Neymar, Oscar e Lucas precisam jogar mais e juntos, para evoluírem. Eles são a grande esperança de o Brasil ter na Copa uma equipe muito melhor do que a atual.
Surpreendente foi a ausência de Ramires. Não foi também por indisciplina. Ele não é um volante excepcional, mas não pode ficar fora de um grupo que tem Fernando, Luiz Gustavo e Hernanes. Faltou também Tardelli, como opção de centroavante. Ele é artilheiro, habilidoso e facilita bastante para os companheiros. Sua chegada foi fundamental para o crescimento do Atlético-MG.
A convocação de 11 jogadores que atuam no Brasil é decorrente da manutenção e contratação de melhores atletas, do pouco número de brasileiros nas principais equipes da Europa e da tentativa de cativar e de criar um forte laço afetivo com a torcida. O slogan do governo para a Copa: "Pátria de chuteiras", aliás, nada original, possui o mesmo objetivo.
Das equipes brasileiras, só restaram, na Libertadores, Atlético-MG e Fluminense. O Corinthians, bastante prejudicado pela arbitragem, ficou fora. É muito mais difícil ser bi que ser campeão. As contratações de Pato e de Renato Augusto tinham o objetivo de dar mais qualidade ofensiva, de o time não depender tanto de vitórias por um gol de diferença, não deram certo até agora.
Renato Augusto está contundido, e Pato, mais uma vez, mostrou que é mais famoso do que joga.
O mesmo raciocínio, porém, em um nível muito mais alto, ocorre com Neymar. Antes de brilhar contra as melhores equipes do mundo, ele já é um dos mais famosos e bem pagos jogadores do planeta, personagem de revista em quadrinhos, além de ter todos os trejeitos e idiotices das grandes estrelas.
A melhor solução, para o craque e para o ser humano, será jogar ao lado de grandes craques, que tenham outro comportamento, como Messi, Xavi e Iniesta. Hoje, pode ser sua despedida.
O Atlético-MG não é um time moderno nem antigo. Não segue a moda nem é convencional. A equipe não possui um volante habilidoso, que marca e ataca, nem se preocupa demais com a troca de passes e a posse de bola, desejos dos grandes times do mundo. O Galo utiliza muito, com sucesso, os chutões para o grandalhão Jô e as jogadas aéreas, práticas pouco comuns nas principais equipes europeias.
O Atlético-MG é uma mistura de estilos. Mostra que é possível ganhar e jogar bem de outras maneiras.
Cuca não inventa nem copia. Faz do seu jeito, além de conhecer profundamente os detalhes e o que é essencial.
Comida, essa desconhecida - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 19/05
Entre as doenças mais modernas que um catálogo cada vez maior põe à nossa disposição, está, como aprendi faz poucos anos e até a mencionei aqui, a ortorexia. A palavra ainda não foi dicionarizada, mas a experiência sopra que alguma multinacional farmacêutica já está desenvolvendo um medicamento poderoso para combater o novo mal e ser vendido com tarja preta, ao custo de uns quatrocentos contos a cartelinha. Em breve, teremos o anúncio dessa descoberta nos noticiários de tevê e nas páginas de saúde dos jornais e assistiremos a tocantes depoimentos de doentes, notadamente os que conseguiram recuperar-se a tempo de refazer suas vidas destroçadas.
A ortorexia é a preocupação mórbida e obsessiva com o que a vítima come. Isso se dá em relação ao tipo de comida, seu preparo, sua origem, sua quantidade e, enfim, tudo o que tenha a ver com a alimentação. Em casos extremos, o padecente não faz mais nada na vida, além de procurar informações sobre alimentos na internet, retirar-se do recinto caso alguém coma açúcar em sua presença, ir a quitandas remotas para comprar produtos naturais e conferir o relógio o tempo todo, para ver se não está na hora de cumprir algum dever alimentar, em cujo rol também se inclui beber água com o PH adequado de tantas em tantas horas, até se atingir o mínimo de oito copos diários.
Mas a vida é difícil, mesmo para quem observa tantas precauções quanto ao que ingere. Há muito não sabemos produzir nossos próprios alimentos e certamente há crianças urbanas que pensam que galinha é uma coisa de comer que se compra no supermercado e não sabem direito que se trata do cadáver de um animal que já cacarejou e se mexeu. E porque desconhecemos como cultivar plantas, pastorear, caçar ou até cozinhar, somos forçados a depender de uma cadeia intrincadíssima de produtores e fornecedores — e aí é que o bicho pega, razão pela qual toda hora tomamos um susto.
Comer carne de cavalo é bobagem. Como nutrição, a carne de cavalo é comparável à de outros animais. O problema é que os cavalos transformados em hambúrgueres não foram criados para corte e tomaram remédios e vacinas — perdão — cavalares e sua carne assim contaminada pode fazer mal a quem a ingere. Além disso, o indivíduo (ou indivídua; de vez em quando, como vocês sabem, procuro seguir as normas gramaticais da República, embora lembre que, mesmo no Império Romano, Cæsar non supra grammaticos, o césar não (estava) acima dos gramáticos, isto é só no Brasil) pode recusar-se a comer carne de cavalo, de cachorro, de gato, de rato, ou do que considere inaceitável. Enfim, todos deviam ter o direito de saber o que estão comendo.
Deviam, mas não têm. Se no momento estamos comendo carne de cavalo, não sei, nem há como ter plena certeza. Em feiras pelo Brasil afora, vende-se charque de carne de jegue, ainda mais agora, quando os jegues estão sendo ingratamente esquecidos e substituídos por motos. Quase todo dia, lemos nos jornais sobre fabricantes que roubam no peso, mentem ou iludem nos rótulos, fazem misturas indevidas na massa do pão e perpetram todo tipo de tramoia. Uma dessas, que não chega a ser tramoia, mas é suspeita, é o uso de transgênicos. Em toda parte do mundo, olham atravessado para eles, mas aqui eles são usados, sua presença denunciada apenas por um timbrezinho discretíssimo.
Os transgênicos, contudo, não são nada diante da grossura bestial do que se pratica aqui. Há umas duas ou três semanas, noticiou-se o caso do leite adulterado. Praticamente, misturava-se veneno a leite vendido em supermercados como fresco, sadio e fiscalizado. O negócio era tão conscientemente nocivo que um dos responsáveis pelo trambique criminoso mandava que, antes de envenenarem o leite, separassem o destinado ao consumo de sua família. Ou seja, quem comprou leite dessa origem e o vem consumindo sabe-se lá há quanto tempo se intoxicou e talvez adoeça e tudo vai ficar por isso mesmo.
Vai ficar por isso mesmo porque aqui tudo fica por isso mesmo e, neste instante, estou ouvindo um comentarista informar que cabe recurso da sentença que rejeitou recurso contra a sentença definitiva condenatória de um dos réus do mensalão. Salta aos olhos a premência da criação do Supremíssimo Tribunal de Recursos, cujo brasão ostentaria o singelo dístico — perdoem o latim outra vez, isto passa — Ad Infinitum e cuja missão seria julgar as doze novas instâncias de recursos a serem instituídas na nossa estrutura processual, bem como da Comissão Nacional de Recursos, encarregada de judiciar os recursos impetrados contra decisões definitivas do Supremíssimo.
Pode-se, portanto, botar veneno dolosamente no leite e vendê-lo, que nada acontecerá, até porque caberá recurso contra tudo o que ocorrer na trajetória judicial do problema. Problema, aliás, nenhum. Problema é o de quem bebeu o leite, pois, afinal, desde os romanos que se recomenda — juro que é a última vez, é um vírus passageiro — caveat emptor, que se precate o comprador. E ninguém é mais culpado de nada, isso está inteiramente fora de moda. A culpa é sempre exógena. O delinquente individual é vítima da sociedade, de uma situação econômica iníqua, de negligência familiar, falta de educação, bullying e de mais o que se insinue à imaginação. Portanto, os verdadeiros criminosos são as vítimas e os atos criminosos não passam de consequência de nossa ação ou inação. Coletivamente, também ninguém é responsável por nada. Quando a empresa pública comete um erro e é multada, quem paga a multa não são os responsáveis, somos nós. Quando é privada, quem paga são os acionistas. O envenenamento é livre, quem não confiar que mantenha um laboratório bioquímico em casa. Ou coma insetos, como sugere a FAO, nenhuma grande novidade. Mosca, por exemplo, nós já comemos há muito tempo.
Entre as doenças mais modernas que um catálogo cada vez maior põe à nossa disposição, está, como aprendi faz poucos anos e até a mencionei aqui, a ortorexia. A palavra ainda não foi dicionarizada, mas a experiência sopra que alguma multinacional farmacêutica já está desenvolvendo um medicamento poderoso para combater o novo mal e ser vendido com tarja preta, ao custo de uns quatrocentos contos a cartelinha. Em breve, teremos o anúncio dessa descoberta nos noticiários de tevê e nas páginas de saúde dos jornais e assistiremos a tocantes depoimentos de doentes, notadamente os que conseguiram recuperar-se a tempo de refazer suas vidas destroçadas.
A ortorexia é a preocupação mórbida e obsessiva com o que a vítima come. Isso se dá em relação ao tipo de comida, seu preparo, sua origem, sua quantidade e, enfim, tudo o que tenha a ver com a alimentação. Em casos extremos, o padecente não faz mais nada na vida, além de procurar informações sobre alimentos na internet, retirar-se do recinto caso alguém coma açúcar em sua presença, ir a quitandas remotas para comprar produtos naturais e conferir o relógio o tempo todo, para ver se não está na hora de cumprir algum dever alimentar, em cujo rol também se inclui beber água com o PH adequado de tantas em tantas horas, até se atingir o mínimo de oito copos diários.
Mas a vida é difícil, mesmo para quem observa tantas precauções quanto ao que ingere. Há muito não sabemos produzir nossos próprios alimentos e certamente há crianças urbanas que pensam que galinha é uma coisa de comer que se compra no supermercado e não sabem direito que se trata do cadáver de um animal que já cacarejou e se mexeu. E porque desconhecemos como cultivar plantas, pastorear, caçar ou até cozinhar, somos forçados a depender de uma cadeia intrincadíssima de produtores e fornecedores — e aí é que o bicho pega, razão pela qual toda hora tomamos um susto.
Comer carne de cavalo é bobagem. Como nutrição, a carne de cavalo é comparável à de outros animais. O problema é que os cavalos transformados em hambúrgueres não foram criados para corte e tomaram remédios e vacinas — perdão — cavalares e sua carne assim contaminada pode fazer mal a quem a ingere. Além disso, o indivíduo (ou indivídua; de vez em quando, como vocês sabem, procuro seguir as normas gramaticais da República, embora lembre que, mesmo no Império Romano, Cæsar non supra grammaticos, o césar não (estava) acima dos gramáticos, isto é só no Brasil) pode recusar-se a comer carne de cavalo, de cachorro, de gato, de rato, ou do que considere inaceitável. Enfim, todos deviam ter o direito de saber o que estão comendo.
Deviam, mas não têm. Se no momento estamos comendo carne de cavalo, não sei, nem há como ter plena certeza. Em feiras pelo Brasil afora, vende-se charque de carne de jegue, ainda mais agora, quando os jegues estão sendo ingratamente esquecidos e substituídos por motos. Quase todo dia, lemos nos jornais sobre fabricantes que roubam no peso, mentem ou iludem nos rótulos, fazem misturas indevidas na massa do pão e perpetram todo tipo de tramoia. Uma dessas, que não chega a ser tramoia, mas é suspeita, é o uso de transgênicos. Em toda parte do mundo, olham atravessado para eles, mas aqui eles são usados, sua presença denunciada apenas por um timbrezinho discretíssimo.
Os transgênicos, contudo, não são nada diante da grossura bestial do que se pratica aqui. Há umas duas ou três semanas, noticiou-se o caso do leite adulterado. Praticamente, misturava-se veneno a leite vendido em supermercados como fresco, sadio e fiscalizado. O negócio era tão conscientemente nocivo que um dos responsáveis pelo trambique criminoso mandava que, antes de envenenarem o leite, separassem o destinado ao consumo de sua família. Ou seja, quem comprou leite dessa origem e o vem consumindo sabe-se lá há quanto tempo se intoxicou e talvez adoeça e tudo vai ficar por isso mesmo.
Vai ficar por isso mesmo porque aqui tudo fica por isso mesmo e, neste instante, estou ouvindo um comentarista informar que cabe recurso da sentença que rejeitou recurso contra a sentença definitiva condenatória de um dos réus do mensalão. Salta aos olhos a premência da criação do Supremíssimo Tribunal de Recursos, cujo brasão ostentaria o singelo dístico — perdoem o latim outra vez, isto passa — Ad Infinitum e cuja missão seria julgar as doze novas instâncias de recursos a serem instituídas na nossa estrutura processual, bem como da Comissão Nacional de Recursos, encarregada de judiciar os recursos impetrados contra decisões definitivas do Supremíssimo.
Pode-se, portanto, botar veneno dolosamente no leite e vendê-lo, que nada acontecerá, até porque caberá recurso contra tudo o que ocorrer na trajetória judicial do problema. Problema, aliás, nenhum. Problema é o de quem bebeu o leite, pois, afinal, desde os romanos que se recomenda — juro que é a última vez, é um vírus passageiro — caveat emptor, que se precate o comprador. E ninguém é mais culpado de nada, isso está inteiramente fora de moda. A culpa é sempre exógena. O delinquente individual é vítima da sociedade, de uma situação econômica iníqua, de negligência familiar, falta de educação, bullying e de mais o que se insinue à imaginação. Portanto, os verdadeiros criminosos são as vítimas e os atos criminosos não passam de consequência de nossa ação ou inação. Coletivamente, também ninguém é responsável por nada. Quando a empresa pública comete um erro e é multada, quem paga a multa não são os responsáveis, somos nós. Quando é privada, quem paga são os acionistas. O envenenamento é livre, quem não confiar que mantenha um laboratório bioquímico em casa. Ou coma insetos, como sugere a FAO, nenhuma grande novidade. Mosca, por exemplo, nós já comemos há muito tempo.
Se Dilma fosse japonesa - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 19/05
Brasil e Japão adotam políticas parecidas, mas na mídia só brilha uma. Adivinhe qual delas
A economia brasileira cresceu 1,05% no primeiro trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior. A economia do Japão cresceu 0,9%, sempre na comparação entre esses dois períodos.
Quem você imagina, então, que aparece na capa da revista "The Economist", com direito à roupa de super-herói/heroína? Se respondeu Dilma Rousseff, errou feio. É Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês faz quase cinco meses.
Não é só na "Economist" que a pobre Dilma perde para Abe. Na própria Folha, o crescimento japonês ganhou manchete de página no caderno "Mundo", mas o do Brasil não mereceu idêntico privilégio no caderno "Mercado".
Até entenderia o tratamento mais rico para quem cresceu menos se, por acaso, Dilma e Abe praticassem políticas econômicas muito diferentes, ele pró-mercado, como gosta a grande maioria da mídia nacional e internacional, e ela fosse uma espécie de Hugo Chávez de saias.
Mas não é assim. Com as inevitáveis diferenças decorrentes das respectivas histórias e tamanho da economia, vale para Dilma o que a "Economist" diz da "Abenomics", como está sendo chamado o modelo do novo premiê japonês: é "um misto de reinflação, de gasto do governo e de uma estratégia de crescimento desenhada para chacoalhar a economia de um estado de animação suspensa que a sufocou por mais de duas décadas" e que pretende "tornar o governo vigoroso de novo".
(Usei o neologismo reinflação em lugar de "reflation", em inglês, para deixar claro que se trata de reverter a deflação que o Japão enfrenta há muito tempo e que, de resto, a "Abenomics" ainda não conseguiu desmanchar. O índice de preços ao consumidor mostrou queda de 0,9% em março, o décimo mês consecutivo de deflação.)
O texto da "Economist" soa a elogio, a ponto de dizer que Abe "eletrizou uma nação que havia perdido a fé na sua classe política".
Para Dilma, ao contrário, a revista britânica reservou há pouco um necrológio, ao definir como "moribunda" a economia brasileira.
Não só a "Economist", mas nove de cada dez analistas que habitualmente frequentam as páginas dos jornais não acham que Dilma eletrize alguma coisa; ao contrário, em vez de eletrizante, ela é retratada como insuportável intervencionista.
Não estou dizendo que as políticas de Dilma devam ser elogiadas ou que não tenham defeitos. O que não me parece lógico é tratar como tamanha diferença de enfoque políticas que têm um razoável parentesco -e resultados idem.
Até porque a opinião pública, no Japão como no Brasil, trata igualmente seus respectivos governantes. Abe, lembra a "Economist", tem 70% de aprovação. Dilma, lembra o Datafolha, está com 64%, o mais alto índice desde que tomou posse há dois anos e cinco meses.
Pode ser que, mais lá na frente, a diferença de tratamento se justifique, sabe-se lá. Mas, por enquanto, faz lembrar, com sinal trocado, antiga propaganda de um produto japonês fabricado no Brasil que dizia algo como "nossos japoneses são mais criativos que os outros".
Brasil e Japão adotam políticas parecidas, mas na mídia só brilha uma. Adivinhe qual delas
A economia brasileira cresceu 1,05% no primeiro trimestre do ano, na comparação com o trimestre anterior. A economia do Japão cresceu 0,9%, sempre na comparação entre esses dois períodos.
Quem você imagina, então, que aparece na capa da revista "The Economist", com direito à roupa de super-herói/heroína? Se respondeu Dilma Rousseff, errou feio. É Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês faz quase cinco meses.
Não é só na "Economist" que a pobre Dilma perde para Abe. Na própria Folha, o crescimento japonês ganhou manchete de página no caderno "Mundo", mas o do Brasil não mereceu idêntico privilégio no caderno "Mercado".
Até entenderia o tratamento mais rico para quem cresceu menos se, por acaso, Dilma e Abe praticassem políticas econômicas muito diferentes, ele pró-mercado, como gosta a grande maioria da mídia nacional e internacional, e ela fosse uma espécie de Hugo Chávez de saias.
Mas não é assim. Com as inevitáveis diferenças decorrentes das respectivas histórias e tamanho da economia, vale para Dilma o que a "Economist" diz da "Abenomics", como está sendo chamado o modelo do novo premiê japonês: é "um misto de reinflação, de gasto do governo e de uma estratégia de crescimento desenhada para chacoalhar a economia de um estado de animação suspensa que a sufocou por mais de duas décadas" e que pretende "tornar o governo vigoroso de novo".
(Usei o neologismo reinflação em lugar de "reflation", em inglês, para deixar claro que se trata de reverter a deflação que o Japão enfrenta há muito tempo e que, de resto, a "Abenomics" ainda não conseguiu desmanchar. O índice de preços ao consumidor mostrou queda de 0,9% em março, o décimo mês consecutivo de deflação.)
O texto da "Economist" soa a elogio, a ponto de dizer que Abe "eletrizou uma nação que havia perdido a fé na sua classe política".
Para Dilma, ao contrário, a revista britânica reservou há pouco um necrológio, ao definir como "moribunda" a economia brasileira.
Não só a "Economist", mas nove de cada dez analistas que habitualmente frequentam as páginas dos jornais não acham que Dilma eletrize alguma coisa; ao contrário, em vez de eletrizante, ela é retratada como insuportável intervencionista.
Não estou dizendo que as políticas de Dilma devam ser elogiadas ou que não tenham defeitos. O que não me parece lógico é tratar como tamanha diferença de enfoque políticas que têm um razoável parentesco -e resultados idem.
Até porque a opinião pública, no Japão como no Brasil, trata igualmente seus respectivos governantes. Abe, lembra a "Economist", tem 70% de aprovação. Dilma, lembra o Datafolha, está com 64%, o mais alto índice desde que tomou posse há dois anos e cinco meses.
Pode ser que, mais lá na frente, a diferença de tratamento se justifique, sabe-se lá. Mas, por enquanto, faz lembrar, com sinal trocado, antiga propaganda de um produto japonês fabricado no Brasil que dizia algo como "nossos japoneses são mais criativos que os outros".
O Brasil na América do Sul - CELSO LAFER
ESTADÃO - 19/05
A análise dos atuais desafios relacionados à presença do Brasil na América do Sul, e mais amplamente na América Latina, beneficia-se de considerações históricas que esclarecem o pano de fundo da singularidade brasileira na região. Nosso processo de independência fez do Brasil um Império em meio a Repúblicas, o diferente na região em matéria de regimes políticos.
O diferente era também o de um Estado com grande massa territorial e uma população de língua portuguesa que permaneceu unida num só Estado. Em contraste, o mundo hispânico, de fala castelhana, fragmentou-se em vários países nos processos da independência.
A manutenção da unidade nacional foi o grande e bem-sucedido objetivo do Brasil Império e o seu legado para o País. A construção desse legado fez, no século 19, da política interna e da política externa as duas faces de uma mesma moeda: a da consolidação do Estado brasileiro numa região instável e centrífuga.
A República preservou a herança do Império e, graças à obra de Rio Branco, foram dirimidos, pelo Direito e pela diplomacia, os temas pendentes de fronteiras. Equacionou-se assim o primeiro item da agenda da política externa de um Estado independente, o da clareza quanto ao que é "interno" ao País e o que a ele é "externo". O Brasil é raro caso de país com abrangente vizinhança sem contenciosos territoriais.
Desses elementos defluem desdobramentos que podem ser considerados "forças profundas" da visão brasileira sobre sua presença na região e no mundo. Primeiro, um nacionalismo voltado para dentro, não para fora, preocupado e dedicado ao desenvolvimento do grande espaço nacional. Segundo, um interesse específico em contribuir para a paz e o progresso na América Latina, com ênfase na América do Sul. Terceiro, a aspiração, com o lastro de um país consolidado e de escala continental, de ter presença na definição das regras de funcionamento do sistema internacional.
Essa leitura, com ajustes e mudanças em função das transformações internas e externas, explica a importância atribuída pelo Brasil ao entendimento com os vizinhos e à cooperação latino-americana, que teve novo impulso com os processos de redemocratização no Cone Sul no contexto do fim da guerra fria. Isso trouxe significativa aproximação entre Argentina e Brasil, levou ao Mercosul, induziu a uma tentativa de integração energética de gás com a Bolívia e chegou, por iniciativa do presidente Fernando Henrique Cardoso, à inédita reunião em 2000 de todos os países da América do Sul, que propiciou o IRSA, conjunto de projetos de integração logística, energética e de infraestrutura para fazer a melhor economia da nossa geografia comum.
Isso tudo mudou nestes últimos dez anos - os dez anos do governo do PT -, de maneira que os caminhos anteriores não dão resposta aos problemas do presente. De certo modo, creio que se configura, em novos moldes, a singularidade do Brasil na região e no mundo.
O Brasil é hoje, mais do que antes, um ator global, com um patamar no mundo distinto de outros países da nossa região. O eixo regional tornou-se mais assimétrico. São maiores as expectativas dos vizinhos quanto ao papel do País na sustentabilidade de cooperação. Também são maiores os desafios relacionados às ambições do Brasil num mundo multipolar fragmentado, com tendências centrífugas e muitas tensões de hegemonia.
A fragmentação alcança nossa região, que se tornou mais heterogênea nas suas visões da economia e da política. Nas instâncias de concertação política e nos processos de integração não ocorrem apenas os naturais conflitos de interesses, mas múltiplos conflitos de concepção, até sobre o valor da democracia e dos direitos humanos. Esses conflitos de concepção explicam a perda do impulso original do Mercosul, que se "aladifica", ou seja, torna-se um mecanismo de cooperação que deixou de ter o foco de uma dimensão transformadora, voltada para lidar com um mundo globalizado. A visão dos países com tendências economicamente liberalizantes que integram a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia, México) contrasta com a dos bolivarianos, de discutíveis credenciais democráticas e orientação estatizante nacionalista (Venezuela, Equador, Bolívia). Ora, o Brasil não se enquadra em nenhuma dessas concepções: não é liberalizante à moda da Aliança do Pacífico nem é bolivariano; e a Argentina, com seus problemas internos, imobiliza, no Mercosul, a nossa ação externa comercial.
Essa singularidade não nos está favorecendo. Os acordos comerciais inter e extrazona estão minando nossas preferências comerciais na região e comprometendo nossas exportações de manufaturados, que enfrentam a concorrência da China. O IRSA está em compasso de espera diante da dificuldade de elaboração de um marco regulatório comum. O papel do País na formulação das regras de funcionamento do comércio internacional reduz-se, seja pela longa paralisia das negociações da Rodada Doha, seja porque novas normas se elaboram em dois mega-acordos comerciais, a Parceria Trans-Pacífico e a Parceria de Comércio e Investimento Transatlântica, de que não participamos. Corremos o risco de ser, como notou Vera Thorstensen nesta página em 6/5, rule takers, seguidores da irradiação de normas impostas por outros, não rule makers, papel que, na nossa singularidade, buscamos tradicionalmente exercer.
Um grafite recente num país latino-americano dizia: "Cuando teníamos las respuestas nos cambiaran las preguntas". Mudaram as perguntas relacionadas ao como melhor conduzir de forma cooperativa nossa inserção na América do Sul. Falta ao governo brasileiro não só uma nova e necessária visão estratégica apta a lidar com a nossa singularidade, agravada por um processo decisório fragmentário que, à deriva, reitera respostas inadequadas e tópicas para uma realidade que mudou.
A análise dos atuais desafios relacionados à presença do Brasil na América do Sul, e mais amplamente na América Latina, beneficia-se de considerações históricas que esclarecem o pano de fundo da singularidade brasileira na região. Nosso processo de independência fez do Brasil um Império em meio a Repúblicas, o diferente na região em matéria de regimes políticos.
O diferente era também o de um Estado com grande massa territorial e uma população de língua portuguesa que permaneceu unida num só Estado. Em contraste, o mundo hispânico, de fala castelhana, fragmentou-se em vários países nos processos da independência.
A manutenção da unidade nacional foi o grande e bem-sucedido objetivo do Brasil Império e o seu legado para o País. A construção desse legado fez, no século 19, da política interna e da política externa as duas faces de uma mesma moeda: a da consolidação do Estado brasileiro numa região instável e centrífuga.
A República preservou a herança do Império e, graças à obra de Rio Branco, foram dirimidos, pelo Direito e pela diplomacia, os temas pendentes de fronteiras. Equacionou-se assim o primeiro item da agenda da política externa de um Estado independente, o da clareza quanto ao que é "interno" ao País e o que a ele é "externo". O Brasil é raro caso de país com abrangente vizinhança sem contenciosos territoriais.
Desses elementos defluem desdobramentos que podem ser considerados "forças profundas" da visão brasileira sobre sua presença na região e no mundo. Primeiro, um nacionalismo voltado para dentro, não para fora, preocupado e dedicado ao desenvolvimento do grande espaço nacional. Segundo, um interesse específico em contribuir para a paz e o progresso na América Latina, com ênfase na América do Sul. Terceiro, a aspiração, com o lastro de um país consolidado e de escala continental, de ter presença na definição das regras de funcionamento do sistema internacional.
Essa leitura, com ajustes e mudanças em função das transformações internas e externas, explica a importância atribuída pelo Brasil ao entendimento com os vizinhos e à cooperação latino-americana, que teve novo impulso com os processos de redemocratização no Cone Sul no contexto do fim da guerra fria. Isso trouxe significativa aproximação entre Argentina e Brasil, levou ao Mercosul, induziu a uma tentativa de integração energética de gás com a Bolívia e chegou, por iniciativa do presidente Fernando Henrique Cardoso, à inédita reunião em 2000 de todos os países da América do Sul, que propiciou o IRSA, conjunto de projetos de integração logística, energética e de infraestrutura para fazer a melhor economia da nossa geografia comum.
Isso tudo mudou nestes últimos dez anos - os dez anos do governo do PT -, de maneira que os caminhos anteriores não dão resposta aos problemas do presente. De certo modo, creio que se configura, em novos moldes, a singularidade do Brasil na região e no mundo.
O Brasil é hoje, mais do que antes, um ator global, com um patamar no mundo distinto de outros países da nossa região. O eixo regional tornou-se mais assimétrico. São maiores as expectativas dos vizinhos quanto ao papel do País na sustentabilidade de cooperação. Também são maiores os desafios relacionados às ambições do Brasil num mundo multipolar fragmentado, com tendências centrífugas e muitas tensões de hegemonia.
A fragmentação alcança nossa região, que se tornou mais heterogênea nas suas visões da economia e da política. Nas instâncias de concertação política e nos processos de integração não ocorrem apenas os naturais conflitos de interesses, mas múltiplos conflitos de concepção, até sobre o valor da democracia e dos direitos humanos. Esses conflitos de concepção explicam a perda do impulso original do Mercosul, que se "aladifica", ou seja, torna-se um mecanismo de cooperação que deixou de ter o foco de uma dimensão transformadora, voltada para lidar com um mundo globalizado. A visão dos países com tendências economicamente liberalizantes que integram a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia, México) contrasta com a dos bolivarianos, de discutíveis credenciais democráticas e orientação estatizante nacionalista (Venezuela, Equador, Bolívia). Ora, o Brasil não se enquadra em nenhuma dessas concepções: não é liberalizante à moda da Aliança do Pacífico nem é bolivariano; e a Argentina, com seus problemas internos, imobiliza, no Mercosul, a nossa ação externa comercial.
Essa singularidade não nos está favorecendo. Os acordos comerciais inter e extrazona estão minando nossas preferências comerciais na região e comprometendo nossas exportações de manufaturados, que enfrentam a concorrência da China. O IRSA está em compasso de espera diante da dificuldade de elaboração de um marco regulatório comum. O papel do País na formulação das regras de funcionamento do comércio internacional reduz-se, seja pela longa paralisia das negociações da Rodada Doha, seja porque novas normas se elaboram em dois mega-acordos comerciais, a Parceria Trans-Pacífico e a Parceria de Comércio e Investimento Transatlântica, de que não participamos. Corremos o risco de ser, como notou Vera Thorstensen nesta página em 6/5, rule takers, seguidores da irradiação de normas impostas por outros, não rule makers, papel que, na nossa singularidade, buscamos tradicionalmente exercer.
Um grafite recente num país latino-americano dizia: "Cuando teníamos las respuestas nos cambiaran las preguntas". Mudaram as perguntas relacionadas ao como melhor conduzir de forma cooperativa nossa inserção na América do Sul. Falta ao governo brasileiro não só uma nova e necessária visão estratégica apta a lidar com a nossa singularidade, agravada por um processo decisório fragmentário que, à deriva, reitera respostas inadequadas e tópicas para uma realidade que mudou.
O marco zero da política americana - DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 19/05
NOVA YORK. O eleitor liberal desta cidade, uma das mais liberais dos Estados Unidos, anda cabisbaixo. Se abrir seu exemplar do "New York Times" vai ficar ainda mais acabrunhado. O próprio jornalão centenário deve estar se perguntando quando vai acabar o esfarelamento público da presidência Barack Obama.
Há muito tempo não se viam tantas questões controversas em erupção numa mesma semana, todas envolvendo algum braço do governo federal. Não bastasse a denúncia do uso do Imposto de Renda como ferramenta política contra grupos direitistas, houve os mais de 100 grampos a jornalistas da agência de notícias Associated Press autorizados pelo Departamento de Justiça. E voltou à tona com força inesperada o caso da manipulação de informações, pela CIA e pelo Departamento de Estado, de um atentado terrorista ocorrido em 2012 contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia.
Os três episódios têm gravidade, motivação política e consequências institucionais bastante diversas. Mas conseguiram o que era impensável até duas semanas atrás: aproximar o cidadão democrata do republicano na indignação com os rumos do atual governo. Para o eleitor de Obama o momento é de desalento ao constatar que a credibilidade do presidente encolheu, que sua competência como líder está em dúvida e que seu capital político parece ter virado pó. Para os adversários de Obama o momento político é tão alvissareiro que o único cuidado está em não se mostrar sôfrego demais no regozijo. Quando a ultradireita iguala o despiste atual sobre o atentado em Benghazi ao caso Watergate que derrubou o presidente Richard Nixon em 1974, ou quando ela começa a desenterrar a palavra "impeachment", os republicanos mais veteranos sabem que é hora de frear.
É no ataque terrorista do 11 de Setembro de 2001 que se situa o marco zero de todo este solavanco político. Desde então, a segurança nacional tornou-se um instrumento de mil e uma utilidades políticas. Tome-se como exemplo o caso do atentado em Benghazi. Para os republicanos, o governo abriu uma brecha indesculpável na segurança nacional ao omitir que fora um ato de terroristas islâmicos. Já para a agência de inteligência americana (CIA), principal responsável pela omissão, foi o contrário - resguardou-se a segurança nacional ao preservar algumas linhas de investigação futuras. Também a justificativa para grampear telefones privados e profissionais de jornalistas ancorou-se em interpretações elásticas da segurança da população americana.
Já se passaram quase doze anos desde que o mundo viu as Torres Gêmeas serem tragadas no solo de Nova York. Desde então, parecer tímido em relação à defesa interna do país é anátema a ser americano. Qualquer cochilo adquire proporções de gravidade nacional, e o recente atentado em Boston praticado por dois irmãos originários do Cáucaso reforçou o sentimento. Só que a blindagem perfeita não existe, sobretudo num regime democrático. Em contrapartida, o excesso de zelo, com conflitos entre departamentos e agências, abunda. Segundo dados divulgados pela CNN, perto de 720 mil nomes constariam da lista de suspeitos direta ou indiretamente vinculados a terrorismo, elaborada pelos vários serviços de inteligência dos Estados Unidos.
Paralelamente, existe um programa federal de delação premiada, o Witness Security Program, ou Witsec, que fornece identidade e vida nova a detidos que cooperam com informa-ções sobre terrorismo. O Marshal's Service, agência policial subordinada ao Departamento de Justiça, tem sob sua responsabilidade monitorar essas pessoas após sua soltura. Soube-se esta semana que pelo menos dois beneficiários do programa simplesmente sumiram. Pior, podem ter saído do país em voos comerciais, sem qualquer problema, munidos dos novos documentos legais. Isso porque o Departamento de Justiça não autoriza o repasse das novas identidades desses eventuais ex-terroristas ao Centro de Triagem que atualiza a lista de quem deve ser barrado em aeroportos e portos. Isso para citar apenas uma questiúncula no cipoal cheio de excessos e furos do Homeland Security.
Dias atrás, foi instalada no topo da primeira torre erguida na área em que ficavam as Torres Gêmeas um mastro de aço galvanizado de 124 metros de altura. Somando-se os 18 gomos do mastro aos 104 andares do reluzente arranha-céu a ser inaugurado em menos de um ano, a nova torre medirá exatamente 1.776 pés (541 metros), em homenagem ao ano da independência dos Estados Unidos. Será, então, a edificação humana mais alta do Ocidente. Isto se o Council of Tall Buildings and Urban Habitats, entidade privada com sede em Chicago que atua como árbitro mundial na catalogação de arranha-céus, assim decidir.
No projeto original, o mastro vinha envolto numa redoma multifacetada de aço e fibra de vidro e integrava de forma clara o conjunto arquitetônico. Já na versão atual, o mastro é um espigão sem enfeites (porém US$ 20 milhões mais econômico) e por isso corre o risco de ser considerado mera antena. Se assim for, sua altura não será computada. O veredicto será anunciado em 2014.
Nova York e os Estados Unidos não precisam ter o arranha-céu mais alto do Ocidente para mostrarem sua grandeza. O superlativo indispensável para a viabilidade comercial do empreendimento o prédio já tem: "O mais sólido da história da engenharia civil." Construído para resistir ao impacto de um jato comercial, ele foi erguido sobre um pedestal de 20 andares como proteção a um eventual atentado com caminhões-bomba. Custou 4 bilhões de dólares. A torre que inicialmente se chamaria Torre da Liberdade foi rebatizada sem alarde de "One World Trade Center" (ou 1 WTC). Melhor assim, em se tratando de prédio comercial. Angústia, dor, vazio, reflexão verdadeira têm a acolhida que merecem no impactante Memorial às Vítimas. Ali, duas piscinas monumentais de mármore preto, escavadas nos exatos locais antes ocupados pelas Torres Gêmeas, desaguam em cascatas de nove metros para um vazio central. Só isso, ininterruptamente. Os nomes das quase três mil vítimas estão gravados em bronze em volta das duas piscinas. Fora isso não tem mais nada, só carvalhos brancos. Ali a palavra "liberdade" faz mais sentido.
Há muito tempo não se viam tantas questões controversas em erupção numa mesma semana, todas envolvendo algum braço do governo federal. Não bastasse a denúncia do uso do Imposto de Renda como ferramenta política contra grupos direitistas, houve os mais de 100 grampos a jornalistas da agência de notícias Associated Press autorizados pelo Departamento de Justiça. E voltou à tona com força inesperada o caso da manipulação de informações, pela CIA e pelo Departamento de Estado, de um atentado terrorista ocorrido em 2012 contra o consulado americano em Benghazi, na Líbia.
Os três episódios têm gravidade, motivação política e consequências institucionais bastante diversas. Mas conseguiram o que era impensável até duas semanas atrás: aproximar o cidadão democrata do republicano na indignação com os rumos do atual governo. Para o eleitor de Obama o momento é de desalento ao constatar que a credibilidade do presidente encolheu, que sua competência como líder está em dúvida e que seu capital político parece ter virado pó. Para os adversários de Obama o momento político é tão alvissareiro que o único cuidado está em não se mostrar sôfrego demais no regozijo. Quando a ultradireita iguala o despiste atual sobre o atentado em Benghazi ao caso Watergate que derrubou o presidente Richard Nixon em 1974, ou quando ela começa a desenterrar a palavra "impeachment", os republicanos mais veteranos sabem que é hora de frear.
É no ataque terrorista do 11 de Setembro de 2001 que se situa o marco zero de todo este solavanco político. Desde então, a segurança nacional tornou-se um instrumento de mil e uma utilidades políticas. Tome-se como exemplo o caso do atentado em Benghazi. Para os republicanos, o governo abriu uma brecha indesculpável na segurança nacional ao omitir que fora um ato de terroristas islâmicos. Já para a agência de inteligência americana (CIA), principal responsável pela omissão, foi o contrário - resguardou-se a segurança nacional ao preservar algumas linhas de investigação futuras. Também a justificativa para grampear telefones privados e profissionais de jornalistas ancorou-se em interpretações elásticas da segurança da população americana.
Já se passaram quase doze anos desde que o mundo viu as Torres Gêmeas serem tragadas no solo de Nova York. Desde então, parecer tímido em relação à defesa interna do país é anátema a ser americano. Qualquer cochilo adquire proporções de gravidade nacional, e o recente atentado em Boston praticado por dois irmãos originários do Cáucaso reforçou o sentimento. Só que a blindagem perfeita não existe, sobretudo num regime democrático. Em contrapartida, o excesso de zelo, com conflitos entre departamentos e agências, abunda. Segundo dados divulgados pela CNN, perto de 720 mil nomes constariam da lista de suspeitos direta ou indiretamente vinculados a terrorismo, elaborada pelos vários serviços de inteligência dos Estados Unidos.
Paralelamente, existe um programa federal de delação premiada, o Witness Security Program, ou Witsec, que fornece identidade e vida nova a detidos que cooperam com informa-ções sobre terrorismo. O Marshal's Service, agência policial subordinada ao Departamento de Justiça, tem sob sua responsabilidade monitorar essas pessoas após sua soltura. Soube-se esta semana que pelo menos dois beneficiários do programa simplesmente sumiram. Pior, podem ter saído do país em voos comerciais, sem qualquer problema, munidos dos novos documentos legais. Isso porque o Departamento de Justiça não autoriza o repasse das novas identidades desses eventuais ex-terroristas ao Centro de Triagem que atualiza a lista de quem deve ser barrado em aeroportos e portos. Isso para citar apenas uma questiúncula no cipoal cheio de excessos e furos do Homeland Security.
Dias atrás, foi instalada no topo da primeira torre erguida na área em que ficavam as Torres Gêmeas um mastro de aço galvanizado de 124 metros de altura. Somando-se os 18 gomos do mastro aos 104 andares do reluzente arranha-céu a ser inaugurado em menos de um ano, a nova torre medirá exatamente 1.776 pés (541 metros), em homenagem ao ano da independência dos Estados Unidos. Será, então, a edificação humana mais alta do Ocidente. Isto se o Council of Tall Buildings and Urban Habitats, entidade privada com sede em Chicago que atua como árbitro mundial na catalogação de arranha-céus, assim decidir.
No projeto original, o mastro vinha envolto numa redoma multifacetada de aço e fibra de vidro e integrava de forma clara o conjunto arquitetônico. Já na versão atual, o mastro é um espigão sem enfeites (porém US$ 20 milhões mais econômico) e por isso corre o risco de ser considerado mera antena. Se assim for, sua altura não será computada. O veredicto será anunciado em 2014.
Nova York e os Estados Unidos não precisam ter o arranha-céu mais alto do Ocidente para mostrarem sua grandeza. O superlativo indispensável para a viabilidade comercial do empreendimento o prédio já tem: "O mais sólido da história da engenharia civil." Construído para resistir ao impacto de um jato comercial, ele foi erguido sobre um pedestal de 20 andares como proteção a um eventual atentado com caminhões-bomba. Custou 4 bilhões de dólares. A torre que inicialmente se chamaria Torre da Liberdade foi rebatizada sem alarde de "One World Trade Center" (ou 1 WTC). Melhor assim, em se tratando de prédio comercial. Angústia, dor, vazio, reflexão verdadeira têm a acolhida que merecem no impactante Memorial às Vítimas. Ali, duas piscinas monumentais de mármore preto, escavadas nos exatos locais antes ocupados pelas Torres Gêmeas, desaguam em cascatas de nove metros para um vazio central. Só isso, ininterruptamente. Os nomes das quase três mil vítimas estão gravados em bronze em volta das duas piscinas. Fora isso não tem mais nada, só carvalhos brancos. Ali a palavra "liberdade" faz mais sentido.
Eventos teste da eleição - DENISE ROTHENBURG
CORREIO BRAZILIENSE - 19/05
Brasília serviu ontem de laboratório para as largadas eleitorais. Na inauguração do estádio Mané Garrincha, a presidente Dilma Rousseff. No Centro de Convenções Brasil XXI, o senador Aécio Neves, do PSDB, os dois nomes que já se apresentam em pré-campanha rumo a 2014.
As turmas de cada um também estão definidas. Ao lado de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que integra a cúpula do PMDB, o senador Gim Argello, do PTB; o governador Agnelo Queiroz, do PT, e seu vice, Tadeu Filippelli, do PMDB, a quem Agnelo chamou de “companheiro amigo”.
Ao lado de Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o líder do DEM, senador José Agripino, o presidente do PPS, Roberto Freire, e alguém especial, que ainda precisa ser conquistado, mas de antemão avisa que não mudará de lado: o ex-governador de São Paulo José Serra.
O discurso e os gestos de Serra merecem um lugar de destaque nesse laboratório eleitoral. Foi o último a chegar à convenção, como que para marcar sua importância. Mas só a presença dele já era suficiente para ser lida como um apreço ao partido. Para completar, Serra ainda foi direto no que se refere a ter lado na política e a vontade de buscar a convergência com todos aqueles que estejam dispostos a “marchar na linha da decência”. Talvez com alguns resquícios sobre os tempos de ministro Saúde, Serra jogou no ar ainda uma “vacina” contra intrigas, ao dizer que a melhor fonte para saber o que ele pensa é ele próprio.
Serra foi claro ao mencionar que não coloca as paixões à frente da razão e que as dificuldades não o assustam. Para bons entendedores, está claro que Serra deve ficar no PSDB, mas é preciso que lhe deixem tomar essa decisão sem pressões, deixando que ele fique em paz para se acostumar com a ideia de não ser o candidato a presidente desta vez, quando tudo parece voltado ao senador Aécio Neves, que, por enquanto, limita-se a dizer num discurso com fortes críticas ao governo — “pibinho vexatório, inflação saindo do controle e obras estagnadas” — que sua missão hoje é presidir o PSDB e construir um projeto. O primeiro passo parece que está dado: é o PSDB entender que o adversário é externo e não interno. Já não era sem tempo.
Enquanto isso, no campo adversário…
Embora o PSDB esteja com ares muito maiores de unidade do que no passado, as dificuldades para uma campanha oposicionista contra o PT de Lula e Dilma não são pequenas. A presidente desfila cheia de moral pelas arenas da Copa como o fez ontem na solenidade de inauguração do estádio. Usa e abusa das comparações da situação do país com o futebol, embora tenha bem menos lastro nessa seara do que o ex-presidente Lula. Ontem, por exemplo, ao se referir a Nelson Rodrigues, Dilma disse que o país precisa perder o complexo de vira-lata e passou então a discorrer maravilhas sobre o papel do governo no bem-estar da população.
Ninguém tem dúvidas de que, com as convenções partidárias em junho, mesmo mês de início da Copa de 2014, quem está no papel de presidente da República candidata à reeleição, no caso Dilma, terá muito mais destaque. Alguns dizem que o sucesso não será certo caso a seleção brasileira de futebol tenha um péssimo desempenho em campo. Mas essa relação não é direta. Se o governo brasileiro conseguir passar a ideia de missão cumprida por parte das autoridades, a tendência é Dilma percorrer estádios na maior felicidade, fazendo com que sua campanha presidencial termine contagiada pela paixão que o brasileiro sente por futebol.
Enquanto Dilma percorrerá estádios ao lado de Lula, o principal adversário, Aécio Neves, estará meio que trancado em salas de reuniões, uma vez que a campanha de rua só começa em julho e os programas de tevê, em agosto. Pelo menos é isso o que vem sendo calculado por atentos observadores. Daí, o paralelo entre os eventos de ontem e as perspectivas de junho do ano que vem, diante da conjuntura de hoje, obviamente. Ela estava inaugurando um estádio, foi ao campo, pisou no gramado. Aécio se manteve num ambiente fechado, à meia luz, bem produzido como uma grande convenção americana. Porém mais restrito.
Não por acaso, Fernando Henrique Cardoso repete diuturnamente que o PSDB precisa se aproximar das pessoas. Afinal, hoje elas estão mais para os estádios do que para as salas fechadas. Aliás, vale lembrar que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmava ontem com todas as letras que “essa nova Roma (Brasília) tem hoje seu novo Coliseu ( o novo Mané Garrincha)”. Fazemos votos no sentido de que o próximo passo por aqui não seja o Brasil voltar aos tempos do Império.
Brasília serviu ontem de laboratório para as largadas eleitorais. Na inauguração do estádio Mané Garrincha, a presidente Dilma Rousseff. No Centro de Convenções Brasil XXI, o senador Aécio Neves, do PSDB, os dois nomes que já se apresentam em pré-campanha rumo a 2014.
As turmas de cada um também estão definidas. Ao lado de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que integra a cúpula do PMDB, o senador Gim Argello, do PTB; o governador Agnelo Queiroz, do PT, e seu vice, Tadeu Filippelli, do PMDB, a quem Agnelo chamou de “companheiro amigo”.
Ao lado de Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o líder do DEM, senador José Agripino, o presidente do PPS, Roberto Freire, e alguém especial, que ainda precisa ser conquistado, mas de antemão avisa que não mudará de lado: o ex-governador de São Paulo José Serra.
O discurso e os gestos de Serra merecem um lugar de destaque nesse laboratório eleitoral. Foi o último a chegar à convenção, como que para marcar sua importância. Mas só a presença dele já era suficiente para ser lida como um apreço ao partido. Para completar, Serra ainda foi direto no que se refere a ter lado na política e a vontade de buscar a convergência com todos aqueles que estejam dispostos a “marchar na linha da decência”. Talvez com alguns resquícios sobre os tempos de ministro Saúde, Serra jogou no ar ainda uma “vacina” contra intrigas, ao dizer que a melhor fonte para saber o que ele pensa é ele próprio.
Serra foi claro ao mencionar que não coloca as paixões à frente da razão e que as dificuldades não o assustam. Para bons entendedores, está claro que Serra deve ficar no PSDB, mas é preciso que lhe deixem tomar essa decisão sem pressões, deixando que ele fique em paz para se acostumar com a ideia de não ser o candidato a presidente desta vez, quando tudo parece voltado ao senador Aécio Neves, que, por enquanto, limita-se a dizer num discurso com fortes críticas ao governo — “pibinho vexatório, inflação saindo do controle e obras estagnadas” — que sua missão hoje é presidir o PSDB e construir um projeto. O primeiro passo parece que está dado: é o PSDB entender que o adversário é externo e não interno. Já não era sem tempo.
Enquanto isso, no campo adversário…
Embora o PSDB esteja com ares muito maiores de unidade do que no passado, as dificuldades para uma campanha oposicionista contra o PT de Lula e Dilma não são pequenas. A presidente desfila cheia de moral pelas arenas da Copa como o fez ontem na solenidade de inauguração do estádio. Usa e abusa das comparações da situação do país com o futebol, embora tenha bem menos lastro nessa seara do que o ex-presidente Lula. Ontem, por exemplo, ao se referir a Nelson Rodrigues, Dilma disse que o país precisa perder o complexo de vira-lata e passou então a discorrer maravilhas sobre o papel do governo no bem-estar da população.
Ninguém tem dúvidas de que, com as convenções partidárias em junho, mesmo mês de início da Copa de 2014, quem está no papel de presidente da República candidata à reeleição, no caso Dilma, terá muito mais destaque. Alguns dizem que o sucesso não será certo caso a seleção brasileira de futebol tenha um péssimo desempenho em campo. Mas essa relação não é direta. Se o governo brasileiro conseguir passar a ideia de missão cumprida por parte das autoridades, a tendência é Dilma percorrer estádios na maior felicidade, fazendo com que sua campanha presidencial termine contagiada pela paixão que o brasileiro sente por futebol.
Enquanto Dilma percorrerá estádios ao lado de Lula, o principal adversário, Aécio Neves, estará meio que trancado em salas de reuniões, uma vez que a campanha de rua só começa em julho e os programas de tevê, em agosto. Pelo menos é isso o que vem sendo calculado por atentos observadores. Daí, o paralelo entre os eventos de ontem e as perspectivas de junho do ano que vem, diante da conjuntura de hoje, obviamente. Ela estava inaugurando um estádio, foi ao campo, pisou no gramado. Aécio se manteve num ambiente fechado, à meia luz, bem produzido como uma grande convenção americana. Porém mais restrito.
Não por acaso, Fernando Henrique Cardoso repete diuturnamente que o PSDB precisa se aproximar das pessoas. Afinal, hoje elas estão mais para os estádios do que para as salas fechadas. Aliás, vale lembrar que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmava ontem com todas as letras que “essa nova Roma (Brasília) tem hoje seu novo Coliseu ( o novo Mané Garrincha)”. Fazemos votos no sentido de que o próximo passo por aqui não seja o Brasil voltar aos tempos do Império.
Banho de povo - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 19/05
Eleito ontem presidente do PSDB, Aécio Neves estrela as inserções do partido na TV a partir de terça-feira. As peças são endereçadas ao eleitor das classes B e C, com renda familiar mensal de até R$ 3.000. O presidenciável tucano aparece conversando com "gente comum", como donas de casa e caminhoneiros, sobre problemas cotidianos do Brasil, do preço dos alimentos à má conservação das estradas. Será a estreia da parceria de Aécio com o publicitário Renato Pereira.
Café no bule
No esforço para aproximar o partido do eleitorado de baixa renda, Aécio fará uma participação na quinta-feira no "Programa do Ratinho", do SBT, palco usado em eleições passadas para lançar candidatos petistas, como Dilma Rousseff e Fernando Hadadd.
Ibope 1
Pesquisas qualitativas encomendadas pelos tucanos mostram que o programa do PSB de Eduardo Campos, em abril, foi bem recebido entre os ricos, mas temas como o pacto federativo não foram compreendidos pelos eleitores mais pobres.
Ibope 2
Já a propaganda do PT, a cargo de João Santana, atingiu picos de aceitação entre os mais pobres quando mostrou o ex-presidente Lula, mas eleitores se disseram confusos sobre quem será o candidato: ele ou Dilma.
Amistoso?
A inauguração da Arena Recife amanhã, com um jogo entre operários que trabalharam na obra do estádio, será o primeiro encontro entre a presidente e Campos desde que o governador de Pernambuco subiu o tom nas críticas ao governo, na propaganda do PSB na TV.
Petit comité
Mesmo depois de prometer ao vice-presidente Michel Temer (PMDB)que passaria a convidar parlamentares para viajar no avião presidencial quando Dilma fosse a suas bases, o Planalto só incluiu um na viagem de amanhã: o senador petista Humberto Costa.
Mãozinha Aloizio Mercadante (Educação) ajudou Fernando Pimentel a convencer Dilma a demitir Alessandro Teixeira da secretaria-executiva do Ministério do Desenvolvimento.
Sabático
O número dois da pasta entrará em férias a partir de amanhã e, na volta, será aproveitado em outra função no governo.
Agora vai?
Passada a MP dos Portos, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) vai colocar em pauta o projeto que torna o Orçamento impositivo antes do recesso de julho.
Para ontem
O presidente da Câmara pediu para o relator Edio Lopes (PMDB-RR) apressar a aprovação da proposta na comissão especial. O Planalto não vê com bons olhos o projeto que torna obrigatórias as emendas.
Quem te viu...
Irritado com a dobradinha entre Ideli Salvatti e Anthony Garotinho (PR-RJ) na MP dos Portos, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) lembra que o deputado fustigou a ministra quando ela foi convocada para explicar a compra de lanchas pelo Ministério da Pesca, em 2012.
... quem te vê
A ministra falava sobre a cota da pesca de atum quando o deputado fluminense atacou: ''É uma belíssima explanação sobre o atum, mas nossa preocupação aqui é com o robalo".
Lembra?
Cunha saiu em defesa da petista e emendou, sobre Garotinho: "Tem gente que fez piada aqui e está condenada a dois anos e meio por formação de quadrilha".
Diplomacia
Para evitar mais desgastes com vereadores paulistanos por vetar seus projetos, Fernando Haddad resolveu apontar mudanças desejadas nas propostas antes de elas serem votadas.
tiroteio
A base da presidente Dilma é paquidérmica e um serpentário de lutas intestinas. É uma mistura de torre de babel e nau sem rumo.
DO DEPUTADO FEDERAL MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre a dificuldade de negociação entre governo e partidos aliados para a votação da MP dos Portos.
contraponto
Que deselegante!
A sessão para votar a MP dos Portos se estendia madrugada adentro na Câmara quando o deputado Silvio Costa (PTB-PE) criticou o presidente Henrique Alves (PMDB-RN), que prorrogava a discussão para fazer a "vontade" de Dilma Rousseff após receber telefonema dela.
-Muito me honraria, deputado Silvio Costa, mas não recebi ligação alguma da presidente -respondeu Alves.
-Não recebeu? Isso é uma tremenda injustiça! A presidente deveria ao menos lhe dar um telefonema, tamanho o esforço que Vossa Excelência está fazendo! -disparou.
Mesmo com o cansaço o plenário irrompeu em risadas.
Eleito ontem presidente do PSDB, Aécio Neves estrela as inserções do partido na TV a partir de terça-feira. As peças são endereçadas ao eleitor das classes B e C, com renda familiar mensal de até R$ 3.000. O presidenciável tucano aparece conversando com "gente comum", como donas de casa e caminhoneiros, sobre problemas cotidianos do Brasil, do preço dos alimentos à má conservação das estradas. Será a estreia da parceria de Aécio com o publicitário Renato Pereira.
Café no bule
No esforço para aproximar o partido do eleitorado de baixa renda, Aécio fará uma participação na quinta-feira no "Programa do Ratinho", do SBT, palco usado em eleições passadas para lançar candidatos petistas, como Dilma Rousseff e Fernando Hadadd.
Ibope 1
Pesquisas qualitativas encomendadas pelos tucanos mostram que o programa do PSB de Eduardo Campos, em abril, foi bem recebido entre os ricos, mas temas como o pacto federativo não foram compreendidos pelos eleitores mais pobres.
Ibope 2
Já a propaganda do PT, a cargo de João Santana, atingiu picos de aceitação entre os mais pobres quando mostrou o ex-presidente Lula, mas eleitores se disseram confusos sobre quem será o candidato: ele ou Dilma.
Amistoso?
A inauguração da Arena Recife amanhã, com um jogo entre operários que trabalharam na obra do estádio, será o primeiro encontro entre a presidente e Campos desde que o governador de Pernambuco subiu o tom nas críticas ao governo, na propaganda do PSB na TV.
Petit comité
Mesmo depois de prometer ao vice-presidente Michel Temer (PMDB)que passaria a convidar parlamentares para viajar no avião presidencial quando Dilma fosse a suas bases, o Planalto só incluiu um na viagem de amanhã: o senador petista Humberto Costa.
Mãozinha Aloizio Mercadante (Educação) ajudou Fernando Pimentel a convencer Dilma a demitir Alessandro Teixeira da secretaria-executiva do Ministério do Desenvolvimento.
Sabático
O número dois da pasta entrará em férias a partir de amanhã e, na volta, será aproveitado em outra função no governo.
Agora vai?
Passada a MP dos Portos, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) vai colocar em pauta o projeto que torna o Orçamento impositivo antes do recesso de julho.
Para ontem
O presidente da Câmara pediu para o relator Edio Lopes (PMDB-RR) apressar a aprovação da proposta na comissão especial. O Planalto não vê com bons olhos o projeto que torna obrigatórias as emendas.
Quem te viu...
Irritado com a dobradinha entre Ideli Salvatti e Anthony Garotinho (PR-RJ) na MP dos Portos, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) lembra que o deputado fustigou a ministra quando ela foi convocada para explicar a compra de lanchas pelo Ministério da Pesca, em 2012.
... quem te vê
A ministra falava sobre a cota da pesca de atum quando o deputado fluminense atacou: ''É uma belíssima explanação sobre o atum, mas nossa preocupação aqui é com o robalo".
Lembra?
Cunha saiu em defesa da petista e emendou, sobre Garotinho: "Tem gente que fez piada aqui e está condenada a dois anos e meio por formação de quadrilha".
Diplomacia
Para evitar mais desgastes com vereadores paulistanos por vetar seus projetos, Fernando Haddad resolveu apontar mudanças desejadas nas propostas antes de elas serem votadas.
tiroteio
A base da presidente Dilma é paquidérmica e um serpentário de lutas intestinas. É uma mistura de torre de babel e nau sem rumo.
DO DEPUTADO FEDERAL MARCUS PESTANA (PSDB-MG), sobre a dificuldade de negociação entre governo e partidos aliados para a votação da MP dos Portos.
contraponto
Que deselegante!
A sessão para votar a MP dos Portos se estendia madrugada adentro na Câmara quando o deputado Silvio Costa (PTB-PE) criticou o presidente Henrique Alves (PMDB-RN), que prorrogava a discussão para fazer a "vontade" de Dilma Rousseff após receber telefonema dela.
-Muito me honraria, deputado Silvio Costa, mas não recebi ligação alguma da presidente -respondeu Alves.
-Não recebeu? Isso é uma tremenda injustiça! A presidente deveria ao menos lhe dar um telefonema, tamanho o esforço que Vossa Excelência está fazendo! -disparou.
Mesmo com o cansaço o plenário irrompeu em risadas.
A lição - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 19/05
Ministros de partidos aliados que tiveram de engolir a nomeação de secretários-executivos petistas, no início do governo, estão tentados a substituí-los. A deixa é a saída do governo de Nelson Barbosa, Beto Vasconcelos, Alessandro Teixeira e Cezar Alvarez. Alguns tinham agenda própria. O que se diz é que não deu certo cada pasta ter dois ministros.
Ação e reação
Tensão nos dias que antecedem o anúncio do corte no Orçamento de 2013. O tamanho da tesoura depende do comportamento da arrecadação em abril. O corte será menor do que em 2012, quando foram contingenciados R$ 55 bilhões. O Planalto ainda avalia se corta parte das emendas parlamentares, que costumam ser congeladas no início do ano e que somam R$ 18 bilhões. Há o temor de que um corte brusco incendeie o movimento do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para aprovar o chamado Orçamento Impositivo, que obrigaria o governo a pagar todas as emendas, em especial as individuais, que somam R$ 8,9 bilhões.
"Se não fosse o comando do PMDB nas duas Casas (Câmara e Senado)... O PMDB garantiu a aprovação da MP dos Portos"
Henrique Eduardo Alves Presidente da Câmara dos Deputados (RN)
A expectativa
A cúpula do PMDB está convencida, depois de tudo o que ocorreu na votação da MP dos Portos, de que "o Palácio do Planalto entendeu que é necessário ampliar o diálogo com o Congresso e a base aliada".
Fim de caso
O advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa deixou a defesa do ex-deputado Roberto Jefferson no STF. Barbosa não gostou de declaração de Roberto livrando o ex-presidente Lula do mensalão. O advogado ficou chocado com a declaração. Roberto explicou que o eventual indiciamento de Lula lhe traz mais embaraços.
Saia Justa
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, foi convidada a ir à Comissão Mista de Orçamento justamente na quarta-feira. Mas deputados avisaram que não seria simpático comparecer para anunciar cortes nas emendas parlamentares.
Procurando novos caminhos
Na direção do DEM, já há quem aposte que o prefeito de Salvador, ACM Neto, pode apoiar a reeleição da presidente Dilma. Antes, o partido avaliava que a boa relação com o governador da Bahia, Jaques Wagner, tinha natureza administrativa. Mas tudo mudou depois que três baianos do partido votaram com o governo na MP dos Portos.
Juntando os pedaços
A bancada do PT no Senado pediu um encontro com o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Os senadores reclamam que não é mais possível enfrentar a desarticulação política do Planalto nas votações mais importantes.
Com o fígado
A presidente Dilma Rousseff está sendo aconselhada por assessores mais técnicos a não "vetar com raiva", ou seja, a não embarcar nas reações mais iradas dos petistas ao definir os vetos da MP dos Portos.
MUDANÇA. O dirigente do PSDB Eduardo Jorge Caldas Pereira deve deixar a Executiva para assumir a presidência do partido em Brasília.
Ministros de partidos aliados que tiveram de engolir a nomeação de secretários-executivos petistas, no início do governo, estão tentados a substituí-los. A deixa é a saída do governo de Nelson Barbosa, Beto Vasconcelos, Alessandro Teixeira e Cezar Alvarez. Alguns tinham agenda própria. O que se diz é que não deu certo cada pasta ter dois ministros.
Ação e reação
Tensão nos dias que antecedem o anúncio do corte no Orçamento de 2013. O tamanho da tesoura depende do comportamento da arrecadação em abril. O corte será menor do que em 2012, quando foram contingenciados R$ 55 bilhões. O Planalto ainda avalia se corta parte das emendas parlamentares, que costumam ser congeladas no início do ano e que somam R$ 18 bilhões. Há o temor de que um corte brusco incendeie o movimento do presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN), para aprovar o chamado Orçamento Impositivo, que obrigaria o governo a pagar todas as emendas, em especial as individuais, que somam R$ 8,9 bilhões.
"Se não fosse o comando do PMDB nas duas Casas (Câmara e Senado)... O PMDB garantiu a aprovação da MP dos Portos"
Henrique Eduardo Alves Presidente da Câmara dos Deputados (RN)
A expectativa
A cúpula do PMDB está convencida, depois de tudo o que ocorreu na votação da MP dos Portos, de que "o Palácio do Planalto entendeu que é necessário ampliar o diálogo com o Congresso e a base aliada".
Fim de caso
O advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa deixou a defesa do ex-deputado Roberto Jefferson no STF. Barbosa não gostou de declaração de Roberto livrando o ex-presidente Lula do mensalão. O advogado ficou chocado com a declaração. Roberto explicou que o eventual indiciamento de Lula lhe traz mais embaraços.
Saia Justa
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, foi convidada a ir à Comissão Mista de Orçamento justamente na quarta-feira. Mas deputados avisaram que não seria simpático comparecer para anunciar cortes nas emendas parlamentares.
Procurando novos caminhos
Na direção do DEM, já há quem aposte que o prefeito de Salvador, ACM Neto, pode apoiar a reeleição da presidente Dilma. Antes, o partido avaliava que a boa relação com o governador da Bahia, Jaques Wagner, tinha natureza administrativa. Mas tudo mudou depois que três baianos do partido votaram com o governo na MP dos Portos.
Juntando os pedaços
A bancada do PT no Senado pediu um encontro com o presidente nacional do PT, Rui Falcão. Os senadores reclamam que não é mais possível enfrentar a desarticulação política do Planalto nas votações mais importantes.
Com o fígado
A presidente Dilma Rousseff está sendo aconselhada por assessores mais técnicos a não "vetar com raiva", ou seja, a não embarcar nas reações mais iradas dos petistas ao definir os vetos da MP dos Portos.
MUDANÇA. O dirigente do PSDB Eduardo Jorge Caldas Pereira deve deixar a Executiva para assumir a presidência do partido em Brasília.
Quem ganha com a inflação? - HENRIQUE MEIRELLES
FOLHA DE SP - 19/05
No longo prazo, todos perdem com a inflação. Somos catedráticos no assunto. Vivenciamos uma das mais longas hiperinflações da história recente e fenômenos inflacionários de toda espécie. Não deveria restar dúvida sobre as perdas e o custo da inflação para as famílias, as empresas e o país.
Mas há ainda uma questão pouco debatida: quem ganha com a inflação? No curto prazo, aqueles capazes de elevar preços, como empresas com poder de repassá-la aos
consumidores sem grande queda da demanda no curto prazo, profissionais liberais bem-sucedidos e organizações públicas com receitas atreladas à inflação.
Os governos federal, estaduais e municipais são bons exemplos: grande parte de suas receitas é vinculada a preços, salários e lucros correntes, o que faz com que aumentos de preços elevem sua arrecadação.
Essas organizações, públicas ou privadas, ganham com a alta de preços porque, ao contrário das suas receitas, a maior parte das despesas não acompanha imediatamente a inflação: salários geralmente são reajustados uma vez ao ano, assim como custos com contratos de fornecedores, aluguéis etc.
Além disso, poder público e empresas são tomadores líquidos de recursos. Como grande parte do endividamento é a juros prefixados, a inflação maior reduz a taxa real de juros a pagar.
Portanto, organizações e pessoas ganham no curto prazo com a inflação. Já os perdedores, no longo prazo, começam a exigir reajustes frequentes, como mostrou recente pedido de central sindical de reajustes automáticos de salários indexados à inflação.
Na medida em que os preços começam a ser atrelados à inflação, temos uma corrida inflacionária desenfreada que elimina os ganhos dos que saíram na frente e desorganiza toda a economia.
O primeiro efeito é a queda no poder de compra dos consumidores. E, com inflação alta, as empresas deixam de ter clareza de custos num mundo pautado por competitividade e produtividade, ou seja, a capacidade de produzir mais e melhor por menos.
Países e empresas com variações de preços disseminadas são incapazes de investir eficientemente em produção e produtividade. O bom funcionamento do sistema de preços é fundamental para a alocação de recursos e investimentos.
E quando se torna imperativo reduzir a inflação com alta de juros, a atividade econômica recua, derrubando vendas e arrecadação, o que gera perdas também aos que ganharam com a inflação no primeiro momento.
Em resumo, a inflação oferece ganhos de curto prazo para alguns, custos para muitos e prejuízos no médio e longo prazo para todos, como nossa história mostra com clareza.
No longo prazo, todos perdem com a inflação. Somos catedráticos no assunto. Vivenciamos uma das mais longas hiperinflações da história recente e fenômenos inflacionários de toda espécie. Não deveria restar dúvida sobre as perdas e o custo da inflação para as famílias, as empresas e o país.
Mas há ainda uma questão pouco debatida: quem ganha com a inflação? No curto prazo, aqueles capazes de elevar preços, como empresas com poder de repassá-la aos
consumidores sem grande queda da demanda no curto prazo, profissionais liberais bem-sucedidos e organizações públicas com receitas atreladas à inflação.
Os governos federal, estaduais e municipais são bons exemplos: grande parte de suas receitas é vinculada a preços, salários e lucros correntes, o que faz com que aumentos de preços elevem sua arrecadação.
Essas organizações, públicas ou privadas, ganham com a alta de preços porque, ao contrário das suas receitas, a maior parte das despesas não acompanha imediatamente a inflação: salários geralmente são reajustados uma vez ao ano, assim como custos com contratos de fornecedores, aluguéis etc.
Além disso, poder público e empresas são tomadores líquidos de recursos. Como grande parte do endividamento é a juros prefixados, a inflação maior reduz a taxa real de juros a pagar.
Portanto, organizações e pessoas ganham no curto prazo com a inflação. Já os perdedores, no longo prazo, começam a exigir reajustes frequentes, como mostrou recente pedido de central sindical de reajustes automáticos de salários indexados à inflação.
Na medida em que os preços começam a ser atrelados à inflação, temos uma corrida inflacionária desenfreada que elimina os ganhos dos que saíram na frente e desorganiza toda a economia.
O primeiro efeito é a queda no poder de compra dos consumidores. E, com inflação alta, as empresas deixam de ter clareza de custos num mundo pautado por competitividade e produtividade, ou seja, a capacidade de produzir mais e melhor por menos.
Países e empresas com variações de preços disseminadas são incapazes de investir eficientemente em produção e produtividade. O bom funcionamento do sistema de preços é fundamental para a alocação de recursos e investimentos.
E quando se torna imperativo reduzir a inflação com alta de juros, a atividade econômica recua, derrubando vendas e arrecadação, o que gera perdas também aos que ganharam com a inflação no primeiro momento.
Em resumo, a inflação oferece ganhos de curto prazo para alguns, custos para muitos e prejuízos no médio e longo prazo para todos, como nossa história mostra com clareza.
Distorções em série - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 19/05
O governo insiste em compensar a perda de competitividade da indústria com a distribuição seletiva de benefícios. Além de não concorrer para superar os graves problemas do setor, a prática cria novas distorções, como o desarranjo da estrutura de preços relativos da economia.
Entre os benefícios distribuídos pelo governo estão desonerações de tributos e de encargos previdenciários, concessão de créditos em condições favorecidas e reservas de mercado.
Fazem parte daquilo que esta Coluna vem chamando de políticas de puxadinhos, na medida em que são temporárias, de curto alcance e não cumprem a finalidade mais importante que seria a de combater as causas da perda crescente de competitividade do setor produtivo.
As lideranças da indústria aplaudem ou fingem que estão satisfeitas porque, argumentam entre cochichos, é melhor esse pouco do que nada. Com reações assim, o governo comemora, porque o cala-boca funciona.
Como ficou dito acima, uma das distorções que esse jogo seletivo produz é a desarrumação da estrutura de preços relativos. A concessão de favores especiais ao setor petroquímico e não ao de papel e celulose, por exemplo, barateia artificialmente os preços das embalagens plásticas e derruba o mercado das embalagens de cartão e de papel kraft. De quebra, pode prejudicar, também, o setor de embalagens de vidro. Quando o governo concede créditos subsidiados aos produtores de carne de vaca, por exemplo, tende a prejudicar os produtores de ovos ou a indústria de alimentos que operam com proteínas vegetais.
Essas políticas que elegem campeões do futuro comprovaram sua ineficácia. Durante anos a fio, os governos brasileiros mantiveram políticas de incentivos e de reserva de mercado à informática, cujo principal beneficiário foi a Itautec. Na semana passada, o Grupo Itaúsa, controlador da Itautec, anunciou finalmente sua retirada do mercado de computadores e seu repasse para um investidor de capital japonês por R$ 100 milhões. Um fim melancólico para uma empresa que recebeu bilhões em favores mensuráveis e sabe-se lá quantos mais em intangíveis, como a reserva de mercado.
A política de conteúdo nacional, que obriga produtores locais a dar preferência a fornecedores brasileiros não importando seu custo, tromba com três problemas. Premia a ineficiência, queima recursos excessivos que poderiam ser melhor alocados - como o que acontece na Petrobrás -, isola o setor produtivo brasileiro e o impede de inserir-se nas cadeias globais. Finalmente, em vez de favorecer a indústria nacional, acaba por prejudicá-la, na medida em que o mercado interno cada vez mais depende de importações. Não é à toa que a fatia dos importados no consumo, que era de 17% no primeiro trimestre de 2007, alcançou 22% no primeiro trimestre de 2013, conforme apontam os levantamentos da Confederação Nacional da Indústria.
O movimento do governo Dilma para investimentos em infraestrutura vai na direção correta, por beneficiar todo o setor produtivo e não apenas os enturmados. Infelizmente, é tudo muito lento, muito difícil e, sobretudo, pouco.
O governo insiste em compensar a perda de competitividade da indústria com a distribuição seletiva de benefícios. Além de não concorrer para superar os graves problemas do setor, a prática cria novas distorções, como o desarranjo da estrutura de preços relativos da economia.
Entre os benefícios distribuídos pelo governo estão desonerações de tributos e de encargos previdenciários, concessão de créditos em condições favorecidas e reservas de mercado.
Fazem parte daquilo que esta Coluna vem chamando de políticas de puxadinhos, na medida em que são temporárias, de curto alcance e não cumprem a finalidade mais importante que seria a de combater as causas da perda crescente de competitividade do setor produtivo.
As lideranças da indústria aplaudem ou fingem que estão satisfeitas porque, argumentam entre cochichos, é melhor esse pouco do que nada. Com reações assim, o governo comemora, porque o cala-boca funciona.
Como ficou dito acima, uma das distorções que esse jogo seletivo produz é a desarrumação da estrutura de preços relativos. A concessão de favores especiais ao setor petroquímico e não ao de papel e celulose, por exemplo, barateia artificialmente os preços das embalagens plásticas e derruba o mercado das embalagens de cartão e de papel kraft. De quebra, pode prejudicar, também, o setor de embalagens de vidro. Quando o governo concede créditos subsidiados aos produtores de carne de vaca, por exemplo, tende a prejudicar os produtores de ovos ou a indústria de alimentos que operam com proteínas vegetais.
Essas políticas que elegem campeões do futuro comprovaram sua ineficácia. Durante anos a fio, os governos brasileiros mantiveram políticas de incentivos e de reserva de mercado à informática, cujo principal beneficiário foi a Itautec. Na semana passada, o Grupo Itaúsa, controlador da Itautec, anunciou finalmente sua retirada do mercado de computadores e seu repasse para um investidor de capital japonês por R$ 100 milhões. Um fim melancólico para uma empresa que recebeu bilhões em favores mensuráveis e sabe-se lá quantos mais em intangíveis, como a reserva de mercado.
A política de conteúdo nacional, que obriga produtores locais a dar preferência a fornecedores brasileiros não importando seu custo, tromba com três problemas. Premia a ineficiência, queima recursos excessivos que poderiam ser melhor alocados - como o que acontece na Petrobrás -, isola o setor produtivo brasileiro e o impede de inserir-se nas cadeias globais. Finalmente, em vez de favorecer a indústria nacional, acaba por prejudicá-la, na medida em que o mercado interno cada vez mais depende de importações. Não é à toa que a fatia dos importados no consumo, que era de 17% no primeiro trimestre de 2007, alcançou 22% no primeiro trimestre de 2013, conforme apontam os levantamentos da Confederação Nacional da Indústria.
O movimento do governo Dilma para investimentos em infraestrutura vai na direção correta, por beneficiar todo o setor produtivo e não apenas os enturmados. Infelizmente, é tudo muito lento, muito difícil e, sobretudo, pouco.