domingo, maio 19, 2013

Eventos teste da eleição - DENISE ROTHENBURG

CORREIO BRAZILIENSE - 19/05

Brasília serviu ontem de laboratório para as largadas eleitorais. Na inauguração do estádio Mané Garrincha, a presidente Dilma Rousseff. No Centro de Convenções Brasil XXI, o senador Aécio Neves, do PSDB, os dois nomes que já se apresentam em pré-campanha rumo a 2014.
As turmas de cada um também estão definidas. Ao lado de Dilma, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que integra a cúpula do PMDB, o senador Gim Argello, do PTB; o governador Agnelo Queiroz, do PT, e seu vice, Tadeu Filippelli, do PMDB, a quem Agnelo chamou de “companheiro amigo”.

Ao lado de Aécio, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o líder do DEM, senador José Agripino, o presidente do PPS, Roberto Freire, e alguém especial, que ainda precisa ser conquistado, mas de antemão avisa que não mudará de lado: o ex-governador de São Paulo José Serra.

O discurso e os gestos de Serra merecem um lugar de destaque nesse laboratório eleitoral. Foi o último a chegar à convenção, como que para marcar sua importância. Mas só a presença dele já era suficiente para ser lida como um apreço ao partido. Para completar, Serra ainda foi direto no que se refere a ter lado na política e a vontade de buscar a convergência com todos aqueles que estejam dispostos a “marchar na linha da decência”. Talvez com alguns resquícios sobre os tempos de ministro Saúde, Serra jogou no ar ainda uma “vacina” contra intrigas, ao dizer que a melhor fonte para saber o que ele pensa é ele próprio.

Serra foi claro ao mencionar que não coloca as paixões à frente da razão e que as dificuldades não o assustam. Para bons entendedores, está claro que Serra deve ficar no PSDB, mas é preciso que lhe deixem tomar essa decisão sem pressões, deixando que ele fique em paz para se acostumar com a ideia de não ser o candidato a presidente desta vez, quando tudo parece voltado ao senador Aécio Neves, que, por enquanto, limita-se a dizer num discurso com fortes críticas ao governo — “pibinho vexatório, inflação saindo do controle e obras estagnadas” — que sua missão hoje é presidir o PSDB e construir um projeto. O primeiro passo parece que está dado: é o PSDB entender que o adversário é externo e não interno. Já não era sem tempo.

Enquanto isso, no campo adversário

Embora o PSDB esteja com ares muito maiores de unidade do que no passado, as dificuldades para uma campanha oposicionista contra o PT de Lula e Dilma não são pequenas. A presidente desfila cheia de moral pelas arenas da Copa como o fez ontem na solenidade de inauguração do estádio. Usa e abusa das comparações da situação do país com o futebol, embora tenha bem menos lastro nessa seara do que o ex-presidente Lula. Ontem, por exemplo, ao se referir a Nelson Rodrigues, Dilma disse que o país precisa perder o complexo de vira-lata e passou então a discorrer maravilhas sobre o papel do governo no bem-estar da população.

Ninguém tem dúvidas de que, com as convenções partidárias em junho, mesmo mês de início da Copa de 2014, quem está no papel de presidente da República candidata à reeleição, no caso Dilma, terá muito mais destaque. Alguns dizem que o sucesso não será certo caso a seleção brasileira de futebol tenha um péssimo desempenho em campo. Mas essa relação não é direta. Se o governo brasileiro conseguir passar a ideia de missão cumprida por parte das autoridades, a tendência é Dilma percorrer estádios na maior felicidade, fazendo com que sua campanha presidencial termine contagiada pela paixão que o brasileiro sente por futebol.

Enquanto Dilma percorrerá estádios ao lado de Lula, o principal adversário, Aécio Neves, estará meio que trancado em salas de reuniões, uma vez que a campanha de rua só começa em julho e os programas de tevê, em agosto. Pelo menos é isso o que vem sendo calculado por atentos observadores. Daí, o paralelo entre os eventos de ontem e as perspectivas de junho do ano que vem, diante da conjuntura de hoje, obviamente. Ela estava inaugurando um estádio, foi ao campo, pisou no gramado. Aécio se manteve num ambiente fechado, à meia luz, bem produzido como uma grande convenção americana. Porém mais restrito.

Não por acaso, Fernando Henrique Cardoso repete diuturnamente que o PSDB precisa se aproximar das pessoas. Afinal, hoje elas estão mais para os estádios do que para as salas fechadas. Aliás, vale lembrar que o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, afirmava ontem com todas as letras que “essa nova Roma (Brasília) tem hoje seu novo Coliseu ( o novo Mané Garrincha)”. Fazemos votos no sentido de que o próximo passo por aqui não seja o Brasil voltar aos tempos do Império.

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