REVISTA EXAME
As pessoas pagas para resolver os problemas no Brasil não sabem como resolver coisa alguma. A saída mais simples seria trocar gente com esse perfil por quem saiba e queira resolver - mas isso ninguém quer
Poucas coisas são detestadas com tanto vigor pelos administradores públicos do Brasil quanto ideias ou afirmações simples. Ficam fora de si cada vez que encontram uma delas pela frente. Podem ser os responsáveis pela execução de algum trabalho, ou os encarregados de achar soluções para problemas, ou os que têm como sua obrigação lidar com situações em que exista a possibilidade de surgirem dificuldades - todos eles, quase sem exceção, atiram antes de perguntar em qualquer proposta simples que lhes possa aparecer. Nos casos mais benignos, reagem com sarcasmo ("Santa ingenuidade!"), desprezo ou pura surdez diante do que ouviram. Nos casos mais malignos, respondem com impaciência agressiva, irritação neurastênica ou ódio em estado bruto. A coisa simples, nessas esferas onde cuidam da nossa vida, é o equivalente na sociedade civil ao rato, animal com notórios problemas de imagem. Desde sempre os ratos despertaram uma fúria incontrolável por parte dos homens; sempre que são vistos em algum lugar, mesmo no exercício de atividades perfeitamente lícitas, têm de fugir do grito milenar: "Mata o rato!" Na alta administração nacional, onde se estruturam projetos estruturantes e se aviam políticas públicas normatizantes, o grito é: "Mata o simples!"
Nada poderia ser mais simples para presidentes da República, por exemplo, do que descobrir o seguinte princípio - e, ato contínuo, tratar realmente a sério sua descoberta: "Os problemas que o Brasil não consegue resolver ficam sem solução porque as pessoas pagas para resolvê-los não sabem, pura e simplesmente não sabem, como resolver coisa alguma". E possível alguém achar que os trens que transportam produtos de exportação para o porto de Santos - o maior do país - trafeguem a 2 quilômetros por hora, no trecho final da viagem, porque não há meios de melhorar uma tecnologia que existe desde 1815? Claro que não. Isso é assim porque o ministro, os subministros e os subs dos subs da área de transportes não têm a menor ideia do que fazer a respeito; se sabem o que fazer, não sabem como, nem quando, nem onde, nem por quê. E concebível que os portos brasileiros sejam tão espetacularmente ruins porque sofrem limitações causadas pelo movimento de translação da Terra, pela tábua de marés ou por algum outro fator incontrolável? Ou, pelas mesmas causas, que navios esperem 40 dias para carregar? Que caminhões façam filas de dezenas de quilômetros para descarregar? Ou que contratos para a venda de soja sejam cancelados porque das 12 embarcações que teriam de entregar só duas chegaram no prazo contratado? O caso, aqui, é ainda pior, porque foi criado um "Ministério dos Portos" só para resolver esse problema, em obediência ao credo segundo o qual dificuldades não se resolvem com gente capaz, trabalho, talento ou disciplina, mas com a invenção de novos ministérios. Quem não sabia resolver o problema dos portos antes do Ministério do Portos continua não sabendo depois do Ministério dos Portos.
Os exemplos aparecem pelos quatro sentidos da rosa dos ventos - e todos deixam mais do que óbvio que os problemas ficam sem solução no Brasil por causa de algo que se chama gente. Como é possível que um personagem capaz de se chamar "dr. Juquinha" tenha conseguido permanecer por oito anos seguidos num cargo-chave para a construção de uma das maiores ferrovias brasileiras, durante os governos Lula e Dilma Rousseff? Depois a presidente se queixa - mas, sinceramente, ela esperava o quê, com esse dr. Juquinha mandando num vasto pedaço de seu governo? Progressos sensacionais no avanço da ferrovia Norte-Sul? Só podia esperar, mesmo, exatamente o que aconteceu: seu notável gestor foi parar na cadeia, embrulhado num desvio de verbas que pode chegar ao montante de 1 bilhão de reais. Trocar gente com esse perfil por gente que saiba e queira resolver problemas, em vez de enriquecer, é o máximo que pode haver em matéria de coisa simples. Mas quem quer a coisa simples?
domingo, maio 12, 2013
Filhos criados - MARTHA MEDEIROS
ZERO HORA - 12/05
Mãe é para sempre, presença necessária em qualquer etapa da vida, tanto que, nos nossos momentos mais difíceis, é nela que pensamos mesmo que ela já tenha falecido. Mãe é um consolo universal, pois sabemos que ninguém nos ama ou amou tanto quanto ela. Na hora do sufoco, entre rogar a Deus ou à nossa adorada progenitora, Deus fica de estepe e nem se atreve a reclamar.
Porém, abnegação tem limite. Mães são amorosas e dedicadas aos seus filhotes, mas, secretamente, contam os dias para vê-los bem criados, tocando suas próprias vidas profissionais e afetivas, dando a elas o descanso merecido e a certeza da missão cumprida.
Como filha, fiz minha parte: com 19 anos já trabalhava, com 24 morava sozinha, com 27 estava casada e aos 29 engravidei e comecei a formar minha própria família, enquanto minha mãe, no mesmo período, foi fazer faculdade (aos 40 anos), trabalhar, viajar, reposicionar-se na sociedade – claro que sempre por perto a fim de paparicar as netas, só que agora de um jeito desobrigado, só love, só love.
Pois as coisas mudaram bastante. Filhos saindo de casa na faixa dos 20 anos, abrindo mão de mordomia? Melhor não contar com isso.
Não faz muito tempo, na faixa dos 20, todos cumpriam os cinco marcos da vida adulta: finalizavam seus estudos, conquistavam independência financeira, casavam, tinham filhos e seu próprio endereço. Hoje, raros cumprem cedo essas metas. Entre os 20 e 30, ainda estão zonzos diante de tantas opções e preferem adiar o amadurecimento até... até que suas mães os expulsem de casa. Só que mãe não expulsa filho. E eles, óbvio, vão ficando.
Em defesa deles, há um estudo que diz que há uma área do córtex cerebral que leva realmente até 30 anos para se formar, justamente a área responsável por planejamentos e priorizações. Hum, chegou em boa hora essa desculpa científica. Porém, depois dos 30, como se explica que ainda haja adultos vivendo com os pais, sem darem um rumo certo à vida?
O fato é que os jovens andam comodistas, relutando em se jogar no mundo sem alguma garantia. Mas que garantia? Ninguém constrói a própria história sem arriscar, errar, se frustrar, tentar de novo, passar por dificuldades, erguer-se, cair, erguer-se outra vez. Como irão amadurecer sem viverem essas experiências? Enquanto eles analisam calmamente a questão, as mães veem o tempo passar e continuam servindo o almoço todos os dias para marmanjos que ainda não decidiram o que querem ser quando crescer.
Você não deve ser um desses filhos, claro. Meus leitores são autônomos, donos do próprio nariz, e visitam as mães por amor e saudade, não para pedir arrego. Mas, se por uma hipótese remota, você ainda for um kidult, como se diz lá fora (mistura de kid + adult), dê uma trégua para sua mãe ao menos nesse domingo. Leve flores, e não sua roupa para ela lavar.
Mãe é para sempre, presença necessária em qualquer etapa da vida, tanto que, nos nossos momentos mais difíceis, é nela que pensamos mesmo que ela já tenha falecido. Mãe é um consolo universal, pois sabemos que ninguém nos ama ou amou tanto quanto ela. Na hora do sufoco, entre rogar a Deus ou à nossa adorada progenitora, Deus fica de estepe e nem se atreve a reclamar.
Porém, abnegação tem limite. Mães são amorosas e dedicadas aos seus filhotes, mas, secretamente, contam os dias para vê-los bem criados, tocando suas próprias vidas profissionais e afetivas, dando a elas o descanso merecido e a certeza da missão cumprida.
Como filha, fiz minha parte: com 19 anos já trabalhava, com 24 morava sozinha, com 27 estava casada e aos 29 engravidei e comecei a formar minha própria família, enquanto minha mãe, no mesmo período, foi fazer faculdade (aos 40 anos), trabalhar, viajar, reposicionar-se na sociedade – claro que sempre por perto a fim de paparicar as netas, só que agora de um jeito desobrigado, só love, só love.
Pois as coisas mudaram bastante. Filhos saindo de casa na faixa dos 20 anos, abrindo mão de mordomia? Melhor não contar com isso.
Não faz muito tempo, na faixa dos 20, todos cumpriam os cinco marcos da vida adulta: finalizavam seus estudos, conquistavam independência financeira, casavam, tinham filhos e seu próprio endereço. Hoje, raros cumprem cedo essas metas. Entre os 20 e 30, ainda estão zonzos diante de tantas opções e preferem adiar o amadurecimento até... até que suas mães os expulsem de casa. Só que mãe não expulsa filho. E eles, óbvio, vão ficando.
Em defesa deles, há um estudo que diz que há uma área do córtex cerebral que leva realmente até 30 anos para se formar, justamente a área responsável por planejamentos e priorizações. Hum, chegou em boa hora essa desculpa científica. Porém, depois dos 30, como se explica que ainda haja adultos vivendo com os pais, sem darem um rumo certo à vida?
O fato é que os jovens andam comodistas, relutando em se jogar no mundo sem alguma garantia. Mas que garantia? Ninguém constrói a própria história sem arriscar, errar, se frustrar, tentar de novo, passar por dificuldades, erguer-se, cair, erguer-se outra vez. Como irão amadurecer sem viverem essas experiências? Enquanto eles analisam calmamente a questão, as mães veem o tempo passar e continuam servindo o almoço todos os dias para marmanjos que ainda não decidiram o que querem ser quando crescer.
Você não deve ser um desses filhos, claro. Meus leitores são autônomos, donos do próprio nariz, e visitam as mães por amor e saudade, não para pedir arrego. Mas, se por uma hipótese remota, você ainda for um kidult, como se diz lá fora (mistura de kid + adult), dê uma trégua para sua mãe ao menos nesse domingo. Leve flores, e não sua roupa para ela lavar.
Ditadura da maioria - FERREIRA GULLAR
FOLHA DE SP - 12/05
O populismo petista demonstra inconformismo com normas que o impedem de fazer o que queira
Não faz muito tempo, ouvi um deputado afirmar que o que define um governo democrático é a eleição. Se foi eleito, é democrático.
Todos sabemos que não é bem assim, pois, conforme a força que tenha sobre as instituições, pode um governo impor sua vontade e anular o direito dos adversários. A eleição é, sem dúvida, uma condição necessária para que se constitua um governo democrático, mas não é suficiente.
Se abordo esta questão aqui é porque vejo naquela simplificação uma ameaça à democracia, fenômeno crescente em vários países da América Latina e até mesmo no Brasil. Na verdade, essa é uma das manifestações antidemocráticas do neopopulismo, hoje hegemônico em alguns países latino-americanos.
Já defini esse novo populismo como o caminho que tomou certa esquerda radical, ao constatar a inviabilidade de seus propósitos ditos revolucionários. Não se trata mais de opor a classe operária à burguesia, mas de opor os pobres aos ricos.
O populismo age correta e legitimamente quando busca melhorar as condições de vida dos setores mais carentes da sociedade, o que lhe permite conquistar uma ampla base eleitoral. Mas se torna uma ameaça à democracia quando usa esse poder político para calar a voz dos opositores e, desse modo, eternizar-se no poder.
Exemplo disso foi o governo de Hugo Chávez na Venezuela. O domínio dos diferentes poderes do Estado permitiu ao chavismo manter-se no governo mesmo após a morte de seu líder, violando abertamente todas as normas constitucionais. Essa tese de que basta ter sido eleito para ser um governo democrático é conveniente ao populismo porque, contando com o apoio da maioria da população, usa-o como um aval para fazer o que quiser.
Está implícita nessa atitude uma espécie de sofisma, segundo o qual, se o povo é dono do poder, quem contraria sua vontade é que atenta contra a democracia. E quem sabe o que o povo quer é o caudilho.
Sucede que o governante eleito, como todos os demais cidadãos, está sujeito às leis, que estabelecem limites à ação de qualquer um, inclusive dos governantes. Não por acaso, todos eles, ao tomarem posse depois de eleitos, juram obedecer e seguir as normas constitucionais.
No Brasil agora mesmo, o populismo petista demonstra inconformismo com essas normas que o impedem de fazer o que queira. A condenação dos corruptos do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal levou-os a tentar desqualificar aquela corte de Justiça, acusando-a de ter realizado um julgamento político e não jurídico.
Como tais alegações não têm fundamento nem dificilmente mudariam a decisão tomada, resolveram alterar a Constituição para de algum modo anular a autonomia do STF.
Por iniciativa de um deputado petista, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara uma emenda constitucional que resultaria em submeter decisões do Supremo Tribunal à aprovação do Congresso, numa flagrante violação da autonomia dos poderes da República, base do regime democrático.
Essa iniciativa provocou revolta nos mais diversos setores da opinião pública e até mesmo a Presidência da República, por meio do vice-presidente Michel Temer, procurou desautorizá-la. Não obstante, os presidentes da Câmara e do Senado manifestaram seu descontentamento a supostas intervenções do STF nas decisões do Congresso.
Com o mesmo propósito, tenta-se excluir do Ministério Público a atribuição de investigar e processar os responsáveis por crimes na área pública.
É que o populismo não tolera nada que lhe imponha limites e o critique. Por isso mesmo, um de seus inimigos naturais é a imprensa livre, de que a opinião divergente dispõe para se fazer ouvir.
Na Argentina, o populismo de Cristina Kirchner estatizou a única empresa que fornece papel aos jornais do país, o que significa uma ameaça a todo e qualquer jornal que se atreva a criticar-lhe as decisões além do que ela permita.
Quando consuma seus objetivos, o populismo estabelece o que ficou conhecido como a ditadura da maioria. Denominação, aliás, pouco apropriada, já que, nestes casos, o poder é, de fato, exercido por um líder carismático, a quem a maioria do povo segue cegamente.
O populismo petista demonstra inconformismo com normas que o impedem de fazer o que queira
Não faz muito tempo, ouvi um deputado afirmar que o que define um governo democrático é a eleição. Se foi eleito, é democrático.
Todos sabemos que não é bem assim, pois, conforme a força que tenha sobre as instituições, pode um governo impor sua vontade e anular o direito dos adversários. A eleição é, sem dúvida, uma condição necessária para que se constitua um governo democrático, mas não é suficiente.
Se abordo esta questão aqui é porque vejo naquela simplificação uma ameaça à democracia, fenômeno crescente em vários países da América Latina e até mesmo no Brasil. Na verdade, essa é uma das manifestações antidemocráticas do neopopulismo, hoje hegemônico em alguns países latino-americanos.
Já defini esse novo populismo como o caminho que tomou certa esquerda radical, ao constatar a inviabilidade de seus propósitos ditos revolucionários. Não se trata mais de opor a classe operária à burguesia, mas de opor os pobres aos ricos.
O populismo age correta e legitimamente quando busca melhorar as condições de vida dos setores mais carentes da sociedade, o que lhe permite conquistar uma ampla base eleitoral. Mas se torna uma ameaça à democracia quando usa esse poder político para calar a voz dos opositores e, desse modo, eternizar-se no poder.
Exemplo disso foi o governo de Hugo Chávez na Venezuela. O domínio dos diferentes poderes do Estado permitiu ao chavismo manter-se no governo mesmo após a morte de seu líder, violando abertamente todas as normas constitucionais. Essa tese de que basta ter sido eleito para ser um governo democrático é conveniente ao populismo porque, contando com o apoio da maioria da população, usa-o como um aval para fazer o que quiser.
Está implícita nessa atitude uma espécie de sofisma, segundo o qual, se o povo é dono do poder, quem contraria sua vontade é que atenta contra a democracia. E quem sabe o que o povo quer é o caudilho.
Sucede que o governante eleito, como todos os demais cidadãos, está sujeito às leis, que estabelecem limites à ação de qualquer um, inclusive dos governantes. Não por acaso, todos eles, ao tomarem posse depois de eleitos, juram obedecer e seguir as normas constitucionais.
No Brasil agora mesmo, o populismo petista demonstra inconformismo com essas normas que o impedem de fazer o que queira. A condenação dos corruptos do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal levou-os a tentar desqualificar aquela corte de Justiça, acusando-a de ter realizado um julgamento político e não jurídico.
Como tais alegações não têm fundamento nem dificilmente mudariam a decisão tomada, resolveram alterar a Constituição para de algum modo anular a autonomia do STF.
Por iniciativa de um deputado petista, foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara uma emenda constitucional que resultaria em submeter decisões do Supremo Tribunal à aprovação do Congresso, numa flagrante violação da autonomia dos poderes da República, base do regime democrático.
Essa iniciativa provocou revolta nos mais diversos setores da opinião pública e até mesmo a Presidência da República, por meio do vice-presidente Michel Temer, procurou desautorizá-la. Não obstante, os presidentes da Câmara e do Senado manifestaram seu descontentamento a supostas intervenções do STF nas decisões do Congresso.
Com o mesmo propósito, tenta-se excluir do Ministério Público a atribuição de investigar e processar os responsáveis por crimes na área pública.
É que o populismo não tolera nada que lhe imponha limites e o critique. Por isso mesmo, um de seus inimigos naturais é a imprensa livre, de que a opinião divergente dispõe para se fazer ouvir.
Na Argentina, o populismo de Cristina Kirchner estatizou a única empresa que fornece papel aos jornais do país, o que significa uma ameaça a todo e qualquer jornal que se atreva a criticar-lhe as decisões além do que ela permita.
Quando consuma seus objetivos, o populismo estabelece o que ficou conhecido como a ditadura da maioria. Denominação, aliás, pouco apropriada, já que, nestes casos, o poder é, de fato, exercido por um líder carismático, a quem a maioria do povo segue cegamente.
A extremófila - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
ESTADÃO - 12/05
Há organismos que nascem e crescem em lugares que até pouco tempo eram considerados impossíveis para a vida, como em torno das ventas vulcânicas no fundo do mar. Esses organismos têm um nome: extremófilos.
Eles amam os extremos. Dependem dos extremos para viver. Ou o caso da Verinha só se sentem realmente vivos perto dos extremos. Na turma havia até uma certa desconfiança de que a Verinha nascera numa rachadura do fundo do mar. Só isso explicaria sua atração pelos extremos.
Não se tinha notícia de um namorado da Verinha que não tivesse no mínimo ou o dobro ou a metade da sua idade. Uma vez namorara um homem tão mais velho do que ela que o traíra com seu bisneto. Outra vez encontraram a Verinha com um novo namorado num restaurante, comemorando com champanhe o nascimento do primeiro pelo pubiano dele, o que significava que ele já podia tomar champanhe.
O romance acabou logo em seguida quando a Verinha fugiu para Paris com a avó do rapaz, que fizera análise e descobrira que era lésbica, e que também foi abandonada quando Verinha conheceu um estudante basco que planejava se atirar de paraquedas sobre a embaixada espanhola com dinamite amarrada no corpo e, claro, não pode resisti-lo.
Por tudo isso, todos estranharam quando a Verinha começou a sair com o Miro. O Miro era mais ou menos da sua idade. Nem muito mais velho nem muito mais moço. Funcionário público. Gostava de futebol mas não era fanático por nenhum clube. Lia pouco. “Seleções”, alguns livros de autoajuda. Também não era muito de cinema. Lamentava que não aparecessem mais filmes do Charles Bronson.
Bebia com moderação, gostava de dormir cedo e, em matéria de política, não tinha opinião formada. Votava em quem parecesse mais honesto. Sua filosofia era que, se todos no Brasil apenas fizessem o seu trabalho corretamente, como ele na repartição, este país tinha jeito sim.
Pediram explicações à Verinha. – Por que o Miro? – Cansei – disse, simplesmente, a Verinha.
Era difícil de acreditar. Uma extremófila cansada dos extremos? A Verinha acomodada? A Verinha dormindo cedo, depois de sexo protocolar? A Verinha concordando que a sabedoria está sempre no meio-termo. como gostava de dizer o Miro? A Verinha moderada?! Impossível. E começaram as especulações. O Miro seria um extremista disfarçado. Seu exterior de pão de ló esconderia um coração de Al Qaeda. Ou ele era alguma coisa extrema na cama, alguma coisa que a Verinha não encontrara em moços, velhos, lésbicas ou acessórios.
Mas não. Miro parecia ser exatamente o que parecia ser. Qual era a explicação? Não havia explicação racional. Até que um dia alguém notou a expressão no rosto da Verinha enquanto o Miro descrevia o novo método de arquivamento que inventara para o escritório. A adoração, o quase êxtase, no rosto da Verinha. Era isso! Era a explicação!
– Vocês já notaram como o Miro é chato? – É, coitado. – Não, o Miro é muito chato. O Miro é extremamente chato.
O Miro é, provavelmente, o homem mais chato do mundo! Claro. Uma extremófila não se contentaria com alguém apenas normal. Tinha que ser alguém radicalmente normal. Um chato até as últimas consequências.
E até hoje, quando o Miro diz coisas como “Eu, se não durmo minhas oito horas por noite, fico imprestável” a Verinha olha em volta, radiante, desafiando alguém da turma a produzir um chato mais chato do que o seu.
Há organismos que nascem e crescem em lugares que até pouco tempo eram considerados impossíveis para a vida, como em torno das ventas vulcânicas no fundo do mar. Esses organismos têm um nome: extremófilos.
Eles amam os extremos. Dependem dos extremos para viver. Ou o caso da Verinha só se sentem realmente vivos perto dos extremos. Na turma havia até uma certa desconfiança de que a Verinha nascera numa rachadura do fundo do mar. Só isso explicaria sua atração pelos extremos.
Não se tinha notícia de um namorado da Verinha que não tivesse no mínimo ou o dobro ou a metade da sua idade. Uma vez namorara um homem tão mais velho do que ela que o traíra com seu bisneto. Outra vez encontraram a Verinha com um novo namorado num restaurante, comemorando com champanhe o nascimento do primeiro pelo pubiano dele, o que significava que ele já podia tomar champanhe.
O romance acabou logo em seguida quando a Verinha fugiu para Paris com a avó do rapaz, que fizera análise e descobrira que era lésbica, e que também foi abandonada quando Verinha conheceu um estudante basco que planejava se atirar de paraquedas sobre a embaixada espanhola com dinamite amarrada no corpo e, claro, não pode resisti-lo.
Por tudo isso, todos estranharam quando a Verinha começou a sair com o Miro. O Miro era mais ou menos da sua idade. Nem muito mais velho nem muito mais moço. Funcionário público. Gostava de futebol mas não era fanático por nenhum clube. Lia pouco. “Seleções”, alguns livros de autoajuda. Também não era muito de cinema. Lamentava que não aparecessem mais filmes do Charles Bronson.
Bebia com moderação, gostava de dormir cedo e, em matéria de política, não tinha opinião formada. Votava em quem parecesse mais honesto. Sua filosofia era que, se todos no Brasil apenas fizessem o seu trabalho corretamente, como ele na repartição, este país tinha jeito sim.
Pediram explicações à Verinha. – Por que o Miro? – Cansei – disse, simplesmente, a Verinha.
Era difícil de acreditar. Uma extremófila cansada dos extremos? A Verinha acomodada? A Verinha dormindo cedo, depois de sexo protocolar? A Verinha concordando que a sabedoria está sempre no meio-termo. como gostava de dizer o Miro? A Verinha moderada?! Impossível. E começaram as especulações. O Miro seria um extremista disfarçado. Seu exterior de pão de ló esconderia um coração de Al Qaeda. Ou ele era alguma coisa extrema na cama, alguma coisa que a Verinha não encontrara em moços, velhos, lésbicas ou acessórios.
Mas não. Miro parecia ser exatamente o que parecia ser. Qual era a explicação? Não havia explicação racional. Até que um dia alguém notou a expressão no rosto da Verinha enquanto o Miro descrevia o novo método de arquivamento que inventara para o escritório. A adoração, o quase êxtase, no rosto da Verinha. Era isso! Era a explicação!
– Vocês já notaram como o Miro é chato? – É, coitado. – Não, o Miro é muito chato. O Miro é extremamente chato.
O Miro é, provavelmente, o homem mais chato do mundo! Claro. Uma extremófila não se contentaria com alguém apenas normal. Tinha que ser alguém radicalmente normal. Um chato até as últimas consequências.
E até hoje, quando o Miro diz coisas como “Eu, se não durmo minhas oito horas por noite, fico imprestável” a Verinha olha em volta, radiante, desafiando alguém da turma a produzir um chato mais chato do que o seu.
Reféns do algoritmo - SÉRGIO AUGUSTO
O Estado de S.Paulo - 12/05
Não confundam algoritmia com algorritmia. Algoritmia é a parte da matemática que tem por objeto os números, berço da palavra algoritmo, com a qual topamos a torto e a direito desde que a informática entrou em nossas vidas. Algorritmia é um neologismo de minha lavra, que está para o algoritmo como a arritmia para os batimentos cardíacos. Não é boa coisa, como boa coisa não é toda e qualquer anormalidade. Vivemos a era da algorritmia, com uma intrusão anormal de algoritmos em tudo que consumimos e fazemos - ou devemos fazer e consumir.
É por meio de algoritmos (conjuntos de regras e operações próprias para realizar certas tarefas) que os sites de busca na internet hierarquizam suas informações, as locadoras online estimam quais os gêneros de filme de nossa preferência com base em escolhas anteriores, as livrarias virtuais selecionam os lançamentos que mais se afinam com nosso gosto literário e as rádios digitais preparam programações musicais personalizadas. É uma mão na roda. Mas, às vezes, uma roda na mão.
Sem algoritmos, o Google, a Netflix, a Amazon e a Pandora Radio seriam inviáveis, as campanhas políticas e publicitárias perderiam um tempo precioso para atingir seus eleitores em potencial e somente o instinto, a imaginação e o livre-arbítrio guiariam nossas escolhas e decisões.
Já existe arte criada a partir de algoritmos (destaque para Scott Draves e a dupla de algoristas Jean-Pierre Hebert e Roman Verostko - ilustrem-se a respeito no Google) e até pesquisas em andamento para que, num futuro assustadoramente próximo, jornais e revistas sejam escritos por e não apenas em computadores, com o inevitável préstimo de algoritmos. Noticiários experimentais, montados eletronicamente a partir de um conjunto de dados recolhidos na internet, há muito deixaram de ser uma utopia. Ou uma distopia, para quem ganha a vida catando, cruzando e divulgando informações.
"Daqui a 15 anos, 90% dos textos da imprensa serão escritos por computadores", prevê Kristian Hammond, coveiro do jornalismo humanamente gerado e fundador da Narrative Science, a empresa que mais avançou na tecnologia que promete condenar todos nós, jornalistas, à obsolescência. Textos de fôlego curto e linguagem padronizada não seriam um bit de sete cabeças para o jornalismo automatizado, mas custa crer que algum programa de computador, ainda que com o mesmo grau de sofisticação do Cray Blitz, do Deep Blue e outras máquinas de jogar xadrez, seja capaz de gerar algo sequer remotamente comparável a um perfil da New Yorker ou a uma crônica do Verissimo.
A mais nova beneficiária (ou vítima) da algorritmia é a indústria de filmes. Por enquanto, só a de Hollywood. Mexeu com muita gente uma reportagem de Brook Barnes, publicada no New York Times de domingo passado, sobre a crescente utilização de dados estatísticos na confecção de roteiros bancados por algumas produtoras de primeira e segunda linha. Mark Twain, para quem havia três tipos de mentira: a mentirinha, a mentira grande e as estatísticas, teria ficado particularmente horrorizado com as revelações da reportagem.
Funciona assim: municiados de informações sobre sucessos comerciais recentes, padrões de gosto, tendências do mercado e variáveis que tais, processadas num computador, roteiristas se viram para equacionar scripts potencialmente tiro e queda na bilheteria. Que se danem as veleidades criativas, a integridade artística e os escrúpulos da originalidade; fazer dinheiro (leia-se: diminuir o prejuízo e maximizar o lucro), e não arte, sempre foi a prioridade da dispendiosa e esquizofrênica artindústria cinematográfica.
Até bem pouco tempo, os produtores limitavam-se a apelar para consultores (script doctors, no jargão local), cujas sugestões podiam ou não ser incorporadas ao problemático roteiro a ser filmado. Prevalecia então o know-how de profissionais tarimbados e de comprovado talento, não a fria palpitaria estatística. Incontáveis projetos foram salvos pela mãozinha, geralmente mantida no anonimato, de luminares como Ben Hecht, o iniciador da espécie, Robert Towne, Francis Ford Coppola, Aaron Sorkin, o dramaturgo Tom Stoppard.
Esses doutores ainda existem, mas parecem condenados à extinção por um avatar eletrônico, o superprocessador de dados desenvolvido por um professor de estatísticas de 39 anos chamado Vinny Bruzzese. Apelidado de "cientista louco de Hollywood", Bruzzese vasculha, com sua equipe, as preferências de grupos de mais 1.500 espectadores (o que mais lhes agrada? Que mudanças fariam na história?), algoritmizam tudo e vendem o peixe a quem contratar os serviços de sua empresa de consultoria, o Worldwide Motion Picture Group, a um preço (US$ 20 mil) demasiado irrisório para ser levado a sério.
Pelo menos um arrasa-quarteirão, Oz: Mágico e Poderoso, já teve seu primeiro tratamento submetido ao vodu estatístico de Bruzzese. A julgar por uma de suas recomendações (filmes com cenas de boliche não dão certo) e tendo em vista o sucesso alcançado por vários filmes com cenas de boliche (Scarface, O Professor Aloprado, O Franco-Atirador, Desde que Partiste, O Grande Lebowski e Sangue Negro), quanto menos o levarem a sério, melhor. Por seus parâmetros, Guerra nas Estrelas não teria sido produzido (a ficção científica estava em baixa na década de 1970) nem O Poderoso Chefão saído do papel (dramas sobre gângsteres perderam seu poder de sedução no pós-guerra).
Os grandes estúdios de Hollywood já se orientaram pelas observações colhidas em cartões distribuídos entre os espectadores reunidos ao acaso numa sessão privée, semanas antes do lançamento do filme, a tempo de impor-lhe ajustes e modificações que o tornassem mais palatável ao grande público. Fazer concessões a priori, submetendo sua célula mater, o roteiro, a uma formatação formulaica e esquemática não chega a ser uma novidade no cinema americano. O dado novo é seu upgrade científico. O engodo agora é computadorizado. Sem que outras modalidades de interferência, totalmente analógicas, tenham sido aposentadas. Conforme se soube essa semana, a CIA não gastou um byte para manipular o roteiro de A Hora Mais Escura.
Não confundam algoritmia com algorritmia. Algoritmia é a parte da matemática que tem por objeto os números, berço da palavra algoritmo, com a qual topamos a torto e a direito desde que a informática entrou em nossas vidas. Algorritmia é um neologismo de minha lavra, que está para o algoritmo como a arritmia para os batimentos cardíacos. Não é boa coisa, como boa coisa não é toda e qualquer anormalidade. Vivemos a era da algorritmia, com uma intrusão anormal de algoritmos em tudo que consumimos e fazemos - ou devemos fazer e consumir.
É por meio de algoritmos (conjuntos de regras e operações próprias para realizar certas tarefas) que os sites de busca na internet hierarquizam suas informações, as locadoras online estimam quais os gêneros de filme de nossa preferência com base em escolhas anteriores, as livrarias virtuais selecionam os lançamentos que mais se afinam com nosso gosto literário e as rádios digitais preparam programações musicais personalizadas. É uma mão na roda. Mas, às vezes, uma roda na mão.
Sem algoritmos, o Google, a Netflix, a Amazon e a Pandora Radio seriam inviáveis, as campanhas políticas e publicitárias perderiam um tempo precioso para atingir seus eleitores em potencial e somente o instinto, a imaginação e o livre-arbítrio guiariam nossas escolhas e decisões.
Já existe arte criada a partir de algoritmos (destaque para Scott Draves e a dupla de algoristas Jean-Pierre Hebert e Roman Verostko - ilustrem-se a respeito no Google) e até pesquisas em andamento para que, num futuro assustadoramente próximo, jornais e revistas sejam escritos por e não apenas em computadores, com o inevitável préstimo de algoritmos. Noticiários experimentais, montados eletronicamente a partir de um conjunto de dados recolhidos na internet, há muito deixaram de ser uma utopia. Ou uma distopia, para quem ganha a vida catando, cruzando e divulgando informações.
"Daqui a 15 anos, 90% dos textos da imprensa serão escritos por computadores", prevê Kristian Hammond, coveiro do jornalismo humanamente gerado e fundador da Narrative Science, a empresa que mais avançou na tecnologia que promete condenar todos nós, jornalistas, à obsolescência. Textos de fôlego curto e linguagem padronizada não seriam um bit de sete cabeças para o jornalismo automatizado, mas custa crer que algum programa de computador, ainda que com o mesmo grau de sofisticação do Cray Blitz, do Deep Blue e outras máquinas de jogar xadrez, seja capaz de gerar algo sequer remotamente comparável a um perfil da New Yorker ou a uma crônica do Verissimo.
A mais nova beneficiária (ou vítima) da algorritmia é a indústria de filmes. Por enquanto, só a de Hollywood. Mexeu com muita gente uma reportagem de Brook Barnes, publicada no New York Times de domingo passado, sobre a crescente utilização de dados estatísticos na confecção de roteiros bancados por algumas produtoras de primeira e segunda linha. Mark Twain, para quem havia três tipos de mentira: a mentirinha, a mentira grande e as estatísticas, teria ficado particularmente horrorizado com as revelações da reportagem.
Funciona assim: municiados de informações sobre sucessos comerciais recentes, padrões de gosto, tendências do mercado e variáveis que tais, processadas num computador, roteiristas se viram para equacionar scripts potencialmente tiro e queda na bilheteria. Que se danem as veleidades criativas, a integridade artística e os escrúpulos da originalidade; fazer dinheiro (leia-se: diminuir o prejuízo e maximizar o lucro), e não arte, sempre foi a prioridade da dispendiosa e esquizofrênica artindústria cinematográfica.
Até bem pouco tempo, os produtores limitavam-se a apelar para consultores (script doctors, no jargão local), cujas sugestões podiam ou não ser incorporadas ao problemático roteiro a ser filmado. Prevalecia então o know-how de profissionais tarimbados e de comprovado talento, não a fria palpitaria estatística. Incontáveis projetos foram salvos pela mãozinha, geralmente mantida no anonimato, de luminares como Ben Hecht, o iniciador da espécie, Robert Towne, Francis Ford Coppola, Aaron Sorkin, o dramaturgo Tom Stoppard.
Esses doutores ainda existem, mas parecem condenados à extinção por um avatar eletrônico, o superprocessador de dados desenvolvido por um professor de estatísticas de 39 anos chamado Vinny Bruzzese. Apelidado de "cientista louco de Hollywood", Bruzzese vasculha, com sua equipe, as preferências de grupos de mais 1.500 espectadores (o que mais lhes agrada? Que mudanças fariam na história?), algoritmizam tudo e vendem o peixe a quem contratar os serviços de sua empresa de consultoria, o Worldwide Motion Picture Group, a um preço (US$ 20 mil) demasiado irrisório para ser levado a sério.
Pelo menos um arrasa-quarteirão, Oz: Mágico e Poderoso, já teve seu primeiro tratamento submetido ao vodu estatístico de Bruzzese. A julgar por uma de suas recomendações (filmes com cenas de boliche não dão certo) e tendo em vista o sucesso alcançado por vários filmes com cenas de boliche (Scarface, O Professor Aloprado, O Franco-Atirador, Desde que Partiste, O Grande Lebowski e Sangue Negro), quanto menos o levarem a sério, melhor. Por seus parâmetros, Guerra nas Estrelas não teria sido produzido (a ficção científica estava em baixa na década de 1970) nem O Poderoso Chefão saído do papel (dramas sobre gângsteres perderam seu poder de sedução no pós-guerra).
Os grandes estúdios de Hollywood já se orientaram pelas observações colhidas em cartões distribuídos entre os espectadores reunidos ao acaso numa sessão privée, semanas antes do lançamento do filme, a tempo de impor-lhe ajustes e modificações que o tornassem mais palatável ao grande público. Fazer concessões a priori, submetendo sua célula mater, o roteiro, a uma formatação formulaica e esquemática não chega a ser uma novidade no cinema americano. O dado novo é seu upgrade científico. O engodo agora é computadorizado. Sem que outras modalidades de interferência, totalmente analógicas, tenham sido aposentadas. Conforme se soube essa semana, a CIA não gastou um byte para manipular o roteiro de A Hora Mais Escura.
Evitando os riscos - DANUZA LEÃO
FOLHA DE SP - 12/05
As mulheres gostam de provocar e de se exibir, mas a sexualidade masculina é mais violenta
É curioso: quando acontece uma tragédia, logo surge uma onda de tragédias iguais ou muito parecidas; agora é a vez desse crime bárbaro que é o estupro. Desde o horror que aconteceu com a turista americana, outros casos foram surgindo, e ultimamente são os adolescentes que têm aparecido no noticiário por abordar suas colegas de colégio de forma pouco respeitosa -para dizer o mínimo.
Em São Paulo, garotos se comportam de maneira condenável com meninas da mesma escola, sendo que são todos, eles e elas, muito jovens. As famílias das meninas se queixam à diretoria do colégio, que por sua vez procura os pais dos garotos, o assunto chega à imprensa e nada, ou quase nada, é resolvido.
Sobre o assunto, o caderno "Equilíbrio", da Folha, ouviu diversas opiniões. Rosely Sayão, colunista do jornal, se expressou dizendo que "a sexualidade desses jovens está muito exacerbada e eles não têm noção do respeito", e continuou: "a fase dos 13, 14 anos é a pior; é quando a efervescência hormonal se junta à hiperestimulação". Mais adiante, a psicóloga da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Renata Libório se dirige à família e à escola, pregando "por que não respeitar a menina, não importa a roupa que ela usa?" Estão certas as duas, e só me surpreendi ao saber que a sexualidade dos garotos está exacerbada tão cedo: 13, 14 anos? Pensava que nessa idade ainda fossem pouco mais que crianças.
Fiquei pensando: é claro que família e escola devem fazer de tudo para que esses adolescentes respeitem as meninas, mas, sinceramente, é difícil. Basta ligar a televisão, ler as revistas e ouvir contar que as jovens estão "ficando" com vários garotos nas festas, se gabam de ter beijado cinco, dez ou 15, nem sei. Outra leiloa sua virgindade, todas se vestem de maneira provocante -e vamos dar esse crédito a Xuxa: foi a partir de seus programas na televisão que a infância começou a ser sexualizada e que as crianças se vulgarizaram, passando a ter, como sonho de consumo, sapatos de saltinho, unhas pintadas, boca vermelha de batom, como verdadeiras chacretes em miniatura.
É claro que o ideal é que as meninas sejam respeitadas, mas, para isso, é preciso também que elas ajudem. As famílias devem orientar os filhos a serem seres civilizados, claro, e ao mesmo tempo ensinar às filhas a não usarem shortinhos, minissaias de um palmo, jeans que mal cobrem a virilha, tops mínimos, camisetas em cima da pele, e por aí vai. Se aos 13, 14 anos, a sexualidade dos meninos está exacerbada, não deve ser só a deles; a delas também. Desde que o mundo é mundo as mulheres gostam de provocar, de se exibir, de se sentir desejadas. Faz parte do jogo. Mas a sexualidade masculina é mais violenta e é aí que mora o perigo.
O mundo não é o que gostaríamos que ele fosse, e os riscos são permanentes, até para quem fica dentro de casa. Quem andar sozinha à noite numa rua deserta vai correr mais risco de ser assaltada; quem se vestir de maneira mais provocante vai correr mais risco de ser desrespeitada; quem abrir a porta de casa sem saber quem está batendo vai correr mais risco de ter sua casa invadida. Os meninos têm que fazer a parte deles, e as meninas, a delas.
E tem uma coisa que vejo nos jornais, mas que não consigo compreender. Estupro em ônibus, como assim? Como é possível haver estupro dentro de um ônibus?
Pois tem.
As mulheres gostam de provocar e de se exibir, mas a sexualidade masculina é mais violenta
É curioso: quando acontece uma tragédia, logo surge uma onda de tragédias iguais ou muito parecidas; agora é a vez desse crime bárbaro que é o estupro. Desde o horror que aconteceu com a turista americana, outros casos foram surgindo, e ultimamente são os adolescentes que têm aparecido no noticiário por abordar suas colegas de colégio de forma pouco respeitosa -para dizer o mínimo.
Em São Paulo, garotos se comportam de maneira condenável com meninas da mesma escola, sendo que são todos, eles e elas, muito jovens. As famílias das meninas se queixam à diretoria do colégio, que por sua vez procura os pais dos garotos, o assunto chega à imprensa e nada, ou quase nada, é resolvido.
Sobre o assunto, o caderno "Equilíbrio", da Folha, ouviu diversas opiniões. Rosely Sayão, colunista do jornal, se expressou dizendo que "a sexualidade desses jovens está muito exacerbada e eles não têm noção do respeito", e continuou: "a fase dos 13, 14 anos é a pior; é quando a efervescência hormonal se junta à hiperestimulação". Mais adiante, a psicóloga da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Renata Libório se dirige à família e à escola, pregando "por que não respeitar a menina, não importa a roupa que ela usa?" Estão certas as duas, e só me surpreendi ao saber que a sexualidade dos garotos está exacerbada tão cedo: 13, 14 anos? Pensava que nessa idade ainda fossem pouco mais que crianças.
Fiquei pensando: é claro que família e escola devem fazer de tudo para que esses adolescentes respeitem as meninas, mas, sinceramente, é difícil. Basta ligar a televisão, ler as revistas e ouvir contar que as jovens estão "ficando" com vários garotos nas festas, se gabam de ter beijado cinco, dez ou 15, nem sei. Outra leiloa sua virgindade, todas se vestem de maneira provocante -e vamos dar esse crédito a Xuxa: foi a partir de seus programas na televisão que a infância começou a ser sexualizada e que as crianças se vulgarizaram, passando a ter, como sonho de consumo, sapatos de saltinho, unhas pintadas, boca vermelha de batom, como verdadeiras chacretes em miniatura.
É claro que o ideal é que as meninas sejam respeitadas, mas, para isso, é preciso também que elas ajudem. As famílias devem orientar os filhos a serem seres civilizados, claro, e ao mesmo tempo ensinar às filhas a não usarem shortinhos, minissaias de um palmo, jeans que mal cobrem a virilha, tops mínimos, camisetas em cima da pele, e por aí vai. Se aos 13, 14 anos, a sexualidade dos meninos está exacerbada, não deve ser só a deles; a delas também. Desde que o mundo é mundo as mulheres gostam de provocar, de se exibir, de se sentir desejadas. Faz parte do jogo. Mas a sexualidade masculina é mais violenta e é aí que mora o perigo.
O mundo não é o que gostaríamos que ele fosse, e os riscos são permanentes, até para quem fica dentro de casa. Quem andar sozinha à noite numa rua deserta vai correr mais risco de ser assaltada; quem se vestir de maneira mais provocante vai correr mais risco de ser desrespeitada; quem abrir a porta de casa sem saber quem está batendo vai correr mais risco de ter sua casa invadida. Os meninos têm que fazer a parte deles, e as meninas, a delas.
E tem uma coisa que vejo nos jornais, mas que não consigo compreender. Estupro em ônibus, como assim? Como é possível haver estupro dentro de um ônibus?
Pois tem.
Desacertos na privatização - SUELY CALDAS
O Estado de S.Paulo - 12/05
Depois de mais de dez anos de Lula e Dilma, o governo do PT até hoje não conseguiu acertar o passo para ativar investimentos privados em infraestrutura. O fracasso na aprovação da MP dos Portos pela Câmara dos Deputados e o recuo nas regras de licitação de rodovias - só para citar dois casos recentes, há outros - denunciam o caminhar desengonçado de um governo que tenta impor suas regras e, ante reações adversas, fraqueja, perde-se, paralisa, adia resultados.
No caso da MP dos Portos, deputados de partidos da base aliada (alguns do PT) impuseram derrota ao projeto do governo, mostrando que no Congresso o interesse público coletivo se rende quando é confrontado com lobbies corporativos de empresas e trabalhadores há anos enraizados no setor portuário e que sabem muito bem o que fazer e quem procurar para não perder privilégios. Esses lobbies agiram nos corredores da Câmara, conseguiram apoio político de deputados governistas e desfiguraram tanto o formato final da MP que sua aprovação implicaria "recuar 50 anos" no tempo, na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários, Wilen Manteli. Agora o governo tem até quinta-feira para aprovar a MP na Câmara e no Senado. Vai distribuir cargos e verbas para conseguir?
Já no caso da privatização de rodovias as regras de licitação não dependem do Congresso, só do Executivo - e aí estão os erros e desacertos que se repetem desde a gestão Lula e tampouco servem de aprendizado. Uma espécie de culpa ideológica determina as ações do governo quando se trata de privatizar, e ele segue um rito: primeiro, tenta impor regras e condições desconectadas da realidade; e, diante do completo desinteresse dos investidores, ele recua, às vezes só um pouquinho, às vezes com uma guinada surpreendente, como agora, ao oferecer o BNDES como sócio do negócio. Com essas idas e vindas e em cada recuo, o governo passa a sensação de vacilo, insegurança e fraqueza, abrindo campo para o empresário exigir mais. E investimentos absolutamente necessários e urgentes para adequar o País ao progresso são seguidamente adiados.
Se as novas regras na concessão de rodovias atrairão ou não investidores o País saberá nos próximos dias. O governo cedeu em algumas condições e a principal foi elevar a taxa de retorno (lucro) do negócio de 5,5% para 7,2%, que o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada, Rodolpho Tourinho, considerou "minimamente aceitável". Dilma preferiu ela própria definir o lucro a acatar sugestão de seu conselheiro Delfim Netto, de "fixar a qualidade da concessão" e deixar para os competidores disputarem a taxa de retorno em leilão.
Surpreendente foi a entrada do BNDES em cena, oferecido como sócio aos consórcios que vencerem o leilão de rodovias e ferrovias. Faz lembrar os anos 80, quando o banco perdeu muito dinheiro ao socorrer empresas falidas, tornando-se delas sócio financeiro para impedir a falência. Na época, até de hotel o banco virou acionista. Quem não quer ter por sócio um banco de capital público, um leal parceiro a quem é possível recorrer nas horas difíceis? Depois de perder muito dinheiro tornando-se sócio dos chamados "campeões nacionais" e dar esse programa por encerrado, a direção do banco agora quer desviar seu dinheiro societário para as privatizações. Faz lembrar, também, as operações de crédito do BNDES para investidores comprarem estatais na gestão FHC. Condenadas e demonizadas pelo PT na época, o dinheiro dessas operações retornou nas respectivas datas de vencimento do crédito. Agora o PT quer fazer do banco não um financiador, mas sócio nas privatizações e das empresas concessionárias permanentes tomadoras de dinheiro público do sócio.
Foi esse espírito de paizão generoso que, em 2011, levou Abílio Diniz a acertar com a diretoria uma operação para o Pão de Açúcar comprar o Carrefour, no valor de R$ 4 bilhões, dos quais 18% eram ações do banco na nova empresa. Negócio da China, não concluído quando veio a público.
Depois de mais de dez anos de Lula e Dilma, o governo do PT até hoje não conseguiu acertar o passo para ativar investimentos privados em infraestrutura. O fracasso na aprovação da MP dos Portos pela Câmara dos Deputados e o recuo nas regras de licitação de rodovias - só para citar dois casos recentes, há outros - denunciam o caminhar desengonçado de um governo que tenta impor suas regras e, ante reações adversas, fraqueja, perde-se, paralisa, adia resultados.
No caso da MP dos Portos, deputados de partidos da base aliada (alguns do PT) impuseram derrota ao projeto do governo, mostrando que no Congresso o interesse público coletivo se rende quando é confrontado com lobbies corporativos de empresas e trabalhadores há anos enraizados no setor portuário e que sabem muito bem o que fazer e quem procurar para não perder privilégios. Esses lobbies agiram nos corredores da Câmara, conseguiram apoio político de deputados governistas e desfiguraram tanto o formato final da MP que sua aprovação implicaria "recuar 50 anos" no tempo, na avaliação do presidente da Associação Brasileira dos Terminais Portuários, Wilen Manteli. Agora o governo tem até quinta-feira para aprovar a MP na Câmara e no Senado. Vai distribuir cargos e verbas para conseguir?
Já no caso da privatização de rodovias as regras de licitação não dependem do Congresso, só do Executivo - e aí estão os erros e desacertos que se repetem desde a gestão Lula e tampouco servem de aprendizado. Uma espécie de culpa ideológica determina as ações do governo quando se trata de privatizar, e ele segue um rito: primeiro, tenta impor regras e condições desconectadas da realidade; e, diante do completo desinteresse dos investidores, ele recua, às vezes só um pouquinho, às vezes com uma guinada surpreendente, como agora, ao oferecer o BNDES como sócio do negócio. Com essas idas e vindas e em cada recuo, o governo passa a sensação de vacilo, insegurança e fraqueza, abrindo campo para o empresário exigir mais. E investimentos absolutamente necessários e urgentes para adequar o País ao progresso são seguidamente adiados.
Se as novas regras na concessão de rodovias atrairão ou não investidores o País saberá nos próximos dias. O governo cedeu em algumas condições e a principal foi elevar a taxa de retorno (lucro) do negócio de 5,5% para 7,2%, que o presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada, Rodolpho Tourinho, considerou "minimamente aceitável". Dilma preferiu ela própria definir o lucro a acatar sugestão de seu conselheiro Delfim Netto, de "fixar a qualidade da concessão" e deixar para os competidores disputarem a taxa de retorno em leilão.
Surpreendente foi a entrada do BNDES em cena, oferecido como sócio aos consórcios que vencerem o leilão de rodovias e ferrovias. Faz lembrar os anos 80, quando o banco perdeu muito dinheiro ao socorrer empresas falidas, tornando-se delas sócio financeiro para impedir a falência. Na época, até de hotel o banco virou acionista. Quem não quer ter por sócio um banco de capital público, um leal parceiro a quem é possível recorrer nas horas difíceis? Depois de perder muito dinheiro tornando-se sócio dos chamados "campeões nacionais" e dar esse programa por encerrado, a direção do banco agora quer desviar seu dinheiro societário para as privatizações. Faz lembrar, também, as operações de crédito do BNDES para investidores comprarem estatais na gestão FHC. Condenadas e demonizadas pelo PT na época, o dinheiro dessas operações retornou nas respectivas datas de vencimento do crédito. Agora o PT quer fazer do banco não um financiador, mas sócio nas privatizações e das empresas concessionárias permanentes tomadoras de dinheiro público do sócio.
Foi esse espírito de paizão generoso que, em 2011, levou Abílio Diniz a acertar com a diretoria uma operação para o Pão de Açúcar comprar o Carrefour, no valor de R$ 4 bilhões, dos quais 18% eram ações do banco na nova empresa. Negócio da China, não concluído quando veio a público.
Estagnação da indústria e queda dos investimentos - AFFONSO CELSO PASTORE
O Estado de S.Paulo - 12/05
O que explica a queda da taxa de investimentos e o baixo crescimento econômico brasileiro após a crise internacional? Os países industrializados ainda sofrem as consequências da crise internacional, com taxas de crescimento baixas (como é o caso dos Estados Unidos), ou permanecendo em recessão (como é o caso dos países da Europa), mas esse não é o caso da grande maioria dos países emergentes. O Brasil tem tido um desempenho pior do que a média dos países emergentes, mas não pode atribuir esse resultado à escassez de demanda, como ocorreu na recessão em 2008/09. O mercado de trabalho mostra evidências de pleno emprego e o consumo das famílias vem crescendo, negando a hipótese de escassez de demanda.
A solução para o nosso baixo desempenho não pode ser encontrada nas políticas contracíclicas recomendadas por um modelo keynesiano aplicável a uma economia com elevado desemprego e com escassez de demanda agregada. O baixo crescimento brasileiro atual vem das taxas baixas de investimento, desacelerando o crescimento do PIB potencial, e caracterizando um problema ligado à oferta agregada, e não à demanda agregada.
A partir da crise internacional, a economia brasileira tem mostrado duas características: estagnação da produção industrial; e baixas taxas de investimento. Estas duas características estão interligadas. A indústria não tem uma participação tão alta quanto o setor de serviços nem no PIB, nem no mercado de trabalho, mas é um setor intensivo em capital, e a queda na formação bruta de capital fixo tem um peso elevado na determinação do valor dos investimentos para a economia como um todo. Quer devido ao crescimento do custo unitário do trabalho, quer devido à valorização cambial, nos últimos anos caíram os lucros do setor industrial. Sem que as perspectivas de aumento de lucro melhorem, elevando as taxas de retorno esperadas sobre os investimentos em capital fixo, e sem que os lucros retidos contribuam para financiar uma parte importante dos investimentos, reduz-se a formação bruta de capital fixo, e não há como melhorar o desempenho da indústria.
Em parte, a queda de margens de lucro do setor industrial é uma consequência do comportamento do mercado de trabalho. Com a economia próxima (ou talvez acima) do pleno emprego ocorre a elevação dos salários reais. Um aumento de salários reais de 10% não elevaria os custos caso cada trabalhador produzisse em média mais 10%. No passado, os salários reais cresciam na mesma velocidade de aumento da produtividade média do trabalho. Os dados da Pimes (Pesquisa Mensal de Emprego e Salários) do IBGE mostram que entre 2002 e 2008 o custo unitário do trabalho flutuou preso a um patamar constante. Porém, a partir de 2010, os fortes estímulos à demanda agregada de bens e serviços geraram o crescimento acelerado da demanda derivada de mão de obra, elevando os salários reais muito acima do crescimento da produtividade. O contínuo crescimento do custo unitário do trabalho fez com que ele esteja, atualmente, em torno de 17% acima do seu nível nos primeiros meses de 2010.
Esse aumento de custos afeta tanto a indústria quanto o setor de serviços, mas este último não sofre a competição das importações, e tem uma maior liberdade de repassar os aumentos de custos para preços, o que explica o aparente paradoxo de termos uma inflação de serviços muito acima do crescimento dos demais preços ao consumidor. O fato de o setor de serviços ser naturalmente isolado do comércio internacional, enquanto que a indústria sofre uma maior competição das importações líquidas, acarreta uma segunda diferença: a valorização do real comprime as margens de lucro da indústria, reduzindo ainda mais a sua competitividade.
Se o governo quisesse recompor parcialmente a competitividade da indústria usando o câmbio, não poderia agir da maneira simplista como agiu a partir de maio de 2012, quando mudou o regime cambial. A depreciação do câmbio nominal sempre tem algum efeito sobre a inflação, mas ao depreciar o câmbio nominal mantendo a política fiscal expansionista e a taxa de juros baixa, o que se colhe é uma aceleração maior da inflação, como ocorreu a partir de maio de 2012.
Para ter sucesso, o governo teria de escolher outro caminho, no qual buscasse atingir o objetivo de depreciar o câmbio real com efeitos menores sobre a inflação. Para isso teria de depreciar o câmbio nominal, pondo em prática as necessárias austeridades - fiscal e monetária - para garantir a transmissão da depreciação do câmbio nominal predominantemente para o câmbio real. Não escaparia de elevar a taxa de juros, mas se optasse por uma política fiscal bastante austera, a elevação poderia ser um pouco menor, evitando o subproduto indesejável, diante do objetivo com relação ao câmbio, de atrair um maior ingresso de capitais. Por que isso seria necessário? A resposta está na natureza do câmbio real: ele é um preço relativo, entre bens tradables e non tradables, e para que o objetivo de recompor a competitividade da indústria fosse atingido, a relação câmbio salários teria de se elevar ou, em outras palavras, teria de ocorrer a queda dos salários reais em termos dos preços dos bens tradables.
Este não seria um ajuste passível de ser realizado em um prazo curto, e sim ao longo de extenso período. Ele não implicaria, apenas, em adotar a necessária austeridade fiscal e monetária, que transformasse a depreciação do câmbio nominal predominantemente em depreciação do câmbio real, mas também em realizar alterações estruturais importantes. Uma delas é a redução do grau de proteção na economia brasileira. Um nível elevado de proteção efetiva contribui para a redução do câmbio real de equilíbrio, e penaliza as exportações. Nos últimos tempos, temos nos esmerado em descobrir formas de proteger setores, criando uma estrutura caótica de proteção efetiva. Uma delas é a prática de provocar incidências de impostos de forma diferenciada sobre produtos nacionais e os substitutos importados.
Se essas alterações de política econômica fossem postas em prática, a indústria ganharia competitividade, elevando suas margens de lucro e voltando a investir, com claros benefícios para o crescimento econômico. Mas, a curto prazo, a necessária austeridade fiscal e monetária acarretaria o enfraquecimento do mercado de trabalho, com a queda dos salários reais.
Não é este, contudo, o caminho escolhido pelo governo. Sua opção tem sido por uma adesão quase religiosa ao modelo keynesiano de escassez de demanda, seguindo uma política fiscal expansionista, que eleva o consumo, mantendo as pressões sobre o mercado de mão de obra e sobre os salários. O governo reconhece que a competitividade da indústria está comprometida, mas em vez de atacar o problema de frente, porque teria custos políticos elevados vindos da queda de salários reais, prefere direcionar uma parte das desonerações de impostos para aliviar alguns setores da carga suportada pelo custo unitário do trabalho e pelo câmbio valorizado.
Com essa estratégia, o governo colhe a curto prazo os frutos do desemprego baixo e dos salários em crescimento. Isso ajuda a manter elevada a popularidade da presidente. Politicamente, chega ao resultado desejado, mas não progride na direção de acelerar a formação bruta de capital fixo e o crescimento do PIB, continuando a provocar o enfraquecimento do setor industrial.
O que explica a queda da taxa de investimentos e o baixo crescimento econômico brasileiro após a crise internacional? Os países industrializados ainda sofrem as consequências da crise internacional, com taxas de crescimento baixas (como é o caso dos Estados Unidos), ou permanecendo em recessão (como é o caso dos países da Europa), mas esse não é o caso da grande maioria dos países emergentes. O Brasil tem tido um desempenho pior do que a média dos países emergentes, mas não pode atribuir esse resultado à escassez de demanda, como ocorreu na recessão em 2008/09. O mercado de trabalho mostra evidências de pleno emprego e o consumo das famílias vem crescendo, negando a hipótese de escassez de demanda.
A solução para o nosso baixo desempenho não pode ser encontrada nas políticas contracíclicas recomendadas por um modelo keynesiano aplicável a uma economia com elevado desemprego e com escassez de demanda agregada. O baixo crescimento brasileiro atual vem das taxas baixas de investimento, desacelerando o crescimento do PIB potencial, e caracterizando um problema ligado à oferta agregada, e não à demanda agregada.
A partir da crise internacional, a economia brasileira tem mostrado duas características: estagnação da produção industrial; e baixas taxas de investimento. Estas duas características estão interligadas. A indústria não tem uma participação tão alta quanto o setor de serviços nem no PIB, nem no mercado de trabalho, mas é um setor intensivo em capital, e a queda na formação bruta de capital fixo tem um peso elevado na determinação do valor dos investimentos para a economia como um todo. Quer devido ao crescimento do custo unitário do trabalho, quer devido à valorização cambial, nos últimos anos caíram os lucros do setor industrial. Sem que as perspectivas de aumento de lucro melhorem, elevando as taxas de retorno esperadas sobre os investimentos em capital fixo, e sem que os lucros retidos contribuam para financiar uma parte importante dos investimentos, reduz-se a formação bruta de capital fixo, e não há como melhorar o desempenho da indústria.
Em parte, a queda de margens de lucro do setor industrial é uma consequência do comportamento do mercado de trabalho. Com a economia próxima (ou talvez acima) do pleno emprego ocorre a elevação dos salários reais. Um aumento de salários reais de 10% não elevaria os custos caso cada trabalhador produzisse em média mais 10%. No passado, os salários reais cresciam na mesma velocidade de aumento da produtividade média do trabalho. Os dados da Pimes (Pesquisa Mensal de Emprego e Salários) do IBGE mostram que entre 2002 e 2008 o custo unitário do trabalho flutuou preso a um patamar constante. Porém, a partir de 2010, os fortes estímulos à demanda agregada de bens e serviços geraram o crescimento acelerado da demanda derivada de mão de obra, elevando os salários reais muito acima do crescimento da produtividade. O contínuo crescimento do custo unitário do trabalho fez com que ele esteja, atualmente, em torno de 17% acima do seu nível nos primeiros meses de 2010.
Esse aumento de custos afeta tanto a indústria quanto o setor de serviços, mas este último não sofre a competição das importações, e tem uma maior liberdade de repassar os aumentos de custos para preços, o que explica o aparente paradoxo de termos uma inflação de serviços muito acima do crescimento dos demais preços ao consumidor. O fato de o setor de serviços ser naturalmente isolado do comércio internacional, enquanto que a indústria sofre uma maior competição das importações líquidas, acarreta uma segunda diferença: a valorização do real comprime as margens de lucro da indústria, reduzindo ainda mais a sua competitividade.
Se o governo quisesse recompor parcialmente a competitividade da indústria usando o câmbio, não poderia agir da maneira simplista como agiu a partir de maio de 2012, quando mudou o regime cambial. A depreciação do câmbio nominal sempre tem algum efeito sobre a inflação, mas ao depreciar o câmbio nominal mantendo a política fiscal expansionista e a taxa de juros baixa, o que se colhe é uma aceleração maior da inflação, como ocorreu a partir de maio de 2012.
Para ter sucesso, o governo teria de escolher outro caminho, no qual buscasse atingir o objetivo de depreciar o câmbio real com efeitos menores sobre a inflação. Para isso teria de depreciar o câmbio nominal, pondo em prática as necessárias austeridades - fiscal e monetária - para garantir a transmissão da depreciação do câmbio nominal predominantemente para o câmbio real. Não escaparia de elevar a taxa de juros, mas se optasse por uma política fiscal bastante austera, a elevação poderia ser um pouco menor, evitando o subproduto indesejável, diante do objetivo com relação ao câmbio, de atrair um maior ingresso de capitais. Por que isso seria necessário? A resposta está na natureza do câmbio real: ele é um preço relativo, entre bens tradables e non tradables, e para que o objetivo de recompor a competitividade da indústria fosse atingido, a relação câmbio salários teria de se elevar ou, em outras palavras, teria de ocorrer a queda dos salários reais em termos dos preços dos bens tradables.
Este não seria um ajuste passível de ser realizado em um prazo curto, e sim ao longo de extenso período. Ele não implicaria, apenas, em adotar a necessária austeridade fiscal e monetária, que transformasse a depreciação do câmbio nominal predominantemente em depreciação do câmbio real, mas também em realizar alterações estruturais importantes. Uma delas é a redução do grau de proteção na economia brasileira. Um nível elevado de proteção efetiva contribui para a redução do câmbio real de equilíbrio, e penaliza as exportações. Nos últimos tempos, temos nos esmerado em descobrir formas de proteger setores, criando uma estrutura caótica de proteção efetiva. Uma delas é a prática de provocar incidências de impostos de forma diferenciada sobre produtos nacionais e os substitutos importados.
Se essas alterações de política econômica fossem postas em prática, a indústria ganharia competitividade, elevando suas margens de lucro e voltando a investir, com claros benefícios para o crescimento econômico. Mas, a curto prazo, a necessária austeridade fiscal e monetária acarretaria o enfraquecimento do mercado de trabalho, com a queda dos salários reais.
Não é este, contudo, o caminho escolhido pelo governo. Sua opção tem sido por uma adesão quase religiosa ao modelo keynesiano de escassez de demanda, seguindo uma política fiscal expansionista, que eleva o consumo, mantendo as pressões sobre o mercado de mão de obra e sobre os salários. O governo reconhece que a competitividade da indústria está comprometida, mas em vez de atacar o problema de frente, porque teria custos políticos elevados vindos da queda de salários reais, prefere direcionar uma parte das desonerações de impostos para aliviar alguns setores da carga suportada pelo custo unitário do trabalho e pelo câmbio valorizado.
Com essa estratégia, o governo colhe a curto prazo os frutos do desemprego baixo e dos salários em crescimento. Isso ajuda a manter elevada a popularidade da presidente. Politicamente, chega ao resultado desejado, mas não progride na direção de acelerar a formação bruta de capital fixo e o crescimento do PIB, continuando a provocar o enfraquecimento do setor industrial.
Balão de oxigênio para Maduro - CLÓVIS ROSSI
FOLHA DE SP - 12/05
Governo brasileiro trata de ajudar o contestado presidente a superar os grandes gargalos
Pouco antes da recente eleição venezuelana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Nicolás Maduro, então candidato, hoje presidente, "deveria industrializar a Venezuela e torná-la autossuficiente na produção de alimentos", tarefas nas quais o Brasil deveria ajudar.
Vê-se agora que Lula ou é um profeta ou manda um bocado no governo de Dilma Rousseff: Maduro voltou a Caracas, depois de visitar Brasília na quinta, com promessas de ajuda, tanto na área de energia como de produção de alimentos, que lhe permitiram exagerar e declarar que, com apoio brasileiro, a Venezuela vai-se transformar em "potência exportadora de alimentos".
Para um país que só exporta petróleo e importa quase todos os alimentos que consome, seria de fato "uma revolução agroalimentar", outra expressão usada por Maduro.
O apoio brasileiro representa uma tremenda infusão de oxigênio para um presidente e um modelo de governo que passam pelos seus piores momentos desde que o mentor de Maduro, Hugo Chávez, foi brevemente deposto por um golpe de Estado em 2002.
Ao prometer suporte nas áreas de energia e de alimentos, o governo brasileiro tenta ajudar a enfrentar dois dos três mais graves problemas do cotidiano na Venezuela, o desabastecimento de gêneros e os "apagões" (o terceiro é a criminalidade).
Basta lembrar que, em abril, o índice de desabastecimento alcançou 21,3%, o mais alto desde que o governo começou a divulgar esse indicador, em 2009.
Em parte por causa desse fenômeno, a inflação acelerou-se em abril para 4,3%, com o que o índice chega a 29,4% nos 12 meses encerrados em abril.
É razoável deduzir que esses números influíram decisivamente para que a vitória de Maduro sobre Henrique Capriles na eleição de abril fosse muito magra (menos de dois pontos percentuais), o que deu margem a contestações ainda não resolvidas.
Pior, para Maduro, é o fato de que pesquisas mais recentes indicam que a maioria dos venezuelanos está, agora, tendendo mais para a oposição do que para o governo. Primeiro, 58% dos consultados pelo respeitado instituto Datanálisis reprovam o fato de o Conselho Nacional Eleitoral ter-se recusado a fazer a checagem dos votos que a urna eletrônica emite em papel, limitando-se a conferir apenas se o resultado eletrônico estava correto.
Segundo -e mais complicado ainda para Maduro- um outro instituto, o Ivad, informa que mais venezuelanos (44%) respaldam a oposição do que os 40,7% que apoiam o governo. E, se uma nova eleição fosse realizada agora, 45,8% votariam por Capriles, ante 40,8% que ficariam com Maduro.
Significa que a polarização evidente na eleição se mantém, mas a oposição avançou mais do que o governo desde então.
O governo brasileiro está, pois, estendendo uma rede de proteção para Maduro, que só pode se consolidar no poder se mostrar resultados na gestão, já que tocar o país com base apenas em retórica revolucionária, sem o carisma de Chávez, parece não ser mais suficiente.
Governo brasileiro trata de ajudar o contestado presidente a superar os grandes gargalos
Pouco antes da recente eleição venezuelana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que Nicolás Maduro, então candidato, hoje presidente, "deveria industrializar a Venezuela e torná-la autossuficiente na produção de alimentos", tarefas nas quais o Brasil deveria ajudar.
Vê-se agora que Lula ou é um profeta ou manda um bocado no governo de Dilma Rousseff: Maduro voltou a Caracas, depois de visitar Brasília na quinta, com promessas de ajuda, tanto na área de energia como de produção de alimentos, que lhe permitiram exagerar e declarar que, com apoio brasileiro, a Venezuela vai-se transformar em "potência exportadora de alimentos".
Para um país que só exporta petróleo e importa quase todos os alimentos que consome, seria de fato "uma revolução agroalimentar", outra expressão usada por Maduro.
O apoio brasileiro representa uma tremenda infusão de oxigênio para um presidente e um modelo de governo que passam pelos seus piores momentos desde que o mentor de Maduro, Hugo Chávez, foi brevemente deposto por um golpe de Estado em 2002.
Ao prometer suporte nas áreas de energia e de alimentos, o governo brasileiro tenta ajudar a enfrentar dois dos três mais graves problemas do cotidiano na Venezuela, o desabastecimento de gêneros e os "apagões" (o terceiro é a criminalidade).
Basta lembrar que, em abril, o índice de desabastecimento alcançou 21,3%, o mais alto desde que o governo começou a divulgar esse indicador, em 2009.
Em parte por causa desse fenômeno, a inflação acelerou-se em abril para 4,3%, com o que o índice chega a 29,4% nos 12 meses encerrados em abril.
É razoável deduzir que esses números influíram decisivamente para que a vitória de Maduro sobre Henrique Capriles na eleição de abril fosse muito magra (menos de dois pontos percentuais), o que deu margem a contestações ainda não resolvidas.
Pior, para Maduro, é o fato de que pesquisas mais recentes indicam que a maioria dos venezuelanos está, agora, tendendo mais para a oposição do que para o governo. Primeiro, 58% dos consultados pelo respeitado instituto Datanálisis reprovam o fato de o Conselho Nacional Eleitoral ter-se recusado a fazer a checagem dos votos que a urna eletrônica emite em papel, limitando-se a conferir apenas se o resultado eletrônico estava correto.
Segundo -e mais complicado ainda para Maduro- um outro instituto, o Ivad, informa que mais venezuelanos (44%) respaldam a oposição do que os 40,7% que apoiam o governo. E, se uma nova eleição fosse realizada agora, 45,8% votariam por Capriles, ante 40,8% que ficariam com Maduro.
Significa que a polarização evidente na eleição se mantém, mas a oposição avançou mais do que o governo desde então.
O governo brasileiro está, pois, estendendo uma rede de proteção para Maduro, que só pode se consolidar no poder se mostrar resultados na gestão, já que tocar o país com base apenas em retórica revolucionária, sem o carisma de Chávez, parece não ser mais suficiente.
As opções internacionais do Brasil - LUIZ FELIPE LAMPREIA
O Estado de S.Paulo - 12/05
"In Latin America, and elsewhere, it's no coincidence that the practitioners of free trade are also the ones who consistently enjoy the most robust economic growth and development."
Claudio Loser, revista 'Forbes', maio de 2013
É minha convicção que estamos crescentemente limitados e isolados em nossas opções de comércio internacional. Em termos de acordos, só temos a exibir uma lista particularmente magra, em especial pela obrigação de negociar conjuntamente com os demais sócios do Mercosul. Ora, na realidade o Mercosul desviou-se totalmente de sua concepção original de projeto de integração comercial e econômica e hoje é quase que somente uma frente política. Há fortes tendências protecionistas internas que frequentemente colidem com os propósitos originais do próprio Mercosul.
Há 20 anos era possível encher o peito para dizer que o Brasil era um global trader. Hoje somos apenas um grande exportador de um número restrito de commodities de pouco valor agregado e de uma pequena e decrescente porcentagem de manufaturados que só se destinam a um número muito limitado de mercados. Daí é legítimo concluir que algo deu errado.
Nossa pauta de exportações voltou a ser, como era antes dos anos 1970, marcada pela preponderância dos produtos de base, com todos os riscos gerados pela volatilidade de preços inerente a esse tipo de mercados. Nossos produtos manufaturados vêm perdendo espaço, seja por obra do protecionismo, em particular da Argentina, seja pela perda de vantagem competitiva criada por preferências comerciais dadas por nossos tradicionais compradores a nossos competidores em razão de acordos comerciais ou, enfim, por concorrência intensa de produtos chineses.
A persistir esse quadro, o Brasil terá déficits de balança comercial cada vez maiores, ficando mais vulnerável a flutuações de preços de commodities e mais dependente de grandes ingressos de capital estrangeiro para equilibrar a conta corrente. Além do mais, é preciso enfatizar que não pertencer a acordos comerciais importantes significa tornar o Brasil menos atrativo para a integração de cadeias produtivas que, sempre mais, constituem a essência dos acordos de comércio modernos.
Recorde-se, aqui, a existência dos diversos acordos de grande alcance: entre Estados Unidos e Coreia do Sul (Korus), o acordo entre China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), a Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile), a Parceria Trans-Pacífico (TPP)e o acordo Estados Unidos-União Europeia. Alguns deles em fase de negociação, outros já em plena vigência. O Brasil não pertence a nenhum deles.
Pertencemos à Organização Mundial do Comércio (OMC), entretanto, e ela continua a ser a tábua das leis. As 550 páginas de seus textos normativos são o fundamento do livre-comércio. Há grandes lacunas, sem dúvida, especialmente na agricultura, em que o protecionismo que falseia o comércio continua a vigorar em todo o mundo desenvolvido. Mas a OMC é a instituição em que impera o sistema de solução de controvérsias que permite a qualquer de seus membros questionar os atos de outros, qualquer que seja a disparidade de força entre eles. Por isso ganhamos importantes questões dos Estados Unidos e da União Europeia. Temos de defender a OMC, porque ela é o último reduto contra os abusos dos mais fortes.
A vitória de Roberto Azevêdo para diretor-geral da OMC é, antes de mais nada, um êxito pessoal de um diplomata de grande profissionalismo e competência. Sem isso não teria sido possível eleger um brasileiro que serve a um governo cada vez mais protecionista e, portanto, pouco afinado com o espírito de liberalização do comércio, que é a alma da OMC. Mas o que contou na eleição foi a mensagem central de Roberto de que não há tempo a perder, pois - uma vez institucionalizados os acordos extra-OMC, como os acima mencionados, em vigor ou em gestação, entre um limitado número de países - será dificílimo retomar a dinâmica multilateral e evitar que a OMC se torne um organismo apenas subsidiário.
Independentemente dessa vitória e da luta permanente pelo fortalecimento da OMC, é urgente reavaliar as opções internacionais do Brasil. Será necessário rever a regra da posição solidária de todos os membros do Mercosul ou deveremos continuar a nos apresentar, sem muitas chances, em companhia da Argentina e da Venezuela nas mesas de negociação que virão? Devemos estudar a possibilidade de buscar acordos bilaterais com a União Europeia, os Estados Unidos e outras grandes potências do comércio internacional? Podemos explorar um entendimento com os quatro países da Iniciativa do Pacífico? São questões de grande atualidade que precisam ser estudadas a fundo pelo governo, pelo Congresso Nacional, pelos atores econômicos brasileiros e por todos os que nelas têm interesse. O que não é possível é praticar a política da cabeça enterrada na areia, que o avestruz aperfeiçoou.
O preço do imobilismo seria o aprofundamento do protecionismo nacional e, portanto, o afastamento dos principais centros de inovação. Seria também a exclusão crescente do Brasil do movimento de integração de cadeias industriais produtivas que está em marcha em escala global.
Esses grandes temas precisam ser objeto de uma reflexão profunda entre nós. Não levá-la a cabo significará uma crescente marginalização do Brasil em termos de investimentos, balanço de pagamentos, comércio internacional e, portanto, de desenvolvimento econômico.
"In Latin America, and elsewhere, it's no coincidence that the practitioners of free trade are also the ones who consistently enjoy the most robust economic growth and development."
Claudio Loser, revista 'Forbes', maio de 2013
É minha convicção que estamos crescentemente limitados e isolados em nossas opções de comércio internacional. Em termos de acordos, só temos a exibir uma lista particularmente magra, em especial pela obrigação de negociar conjuntamente com os demais sócios do Mercosul. Ora, na realidade o Mercosul desviou-se totalmente de sua concepção original de projeto de integração comercial e econômica e hoje é quase que somente uma frente política. Há fortes tendências protecionistas internas que frequentemente colidem com os propósitos originais do próprio Mercosul.
Há 20 anos era possível encher o peito para dizer que o Brasil era um global trader. Hoje somos apenas um grande exportador de um número restrito de commodities de pouco valor agregado e de uma pequena e decrescente porcentagem de manufaturados que só se destinam a um número muito limitado de mercados. Daí é legítimo concluir que algo deu errado.
Nossa pauta de exportações voltou a ser, como era antes dos anos 1970, marcada pela preponderância dos produtos de base, com todos os riscos gerados pela volatilidade de preços inerente a esse tipo de mercados. Nossos produtos manufaturados vêm perdendo espaço, seja por obra do protecionismo, em particular da Argentina, seja pela perda de vantagem competitiva criada por preferências comerciais dadas por nossos tradicionais compradores a nossos competidores em razão de acordos comerciais ou, enfim, por concorrência intensa de produtos chineses.
A persistir esse quadro, o Brasil terá déficits de balança comercial cada vez maiores, ficando mais vulnerável a flutuações de preços de commodities e mais dependente de grandes ingressos de capital estrangeiro para equilibrar a conta corrente. Além do mais, é preciso enfatizar que não pertencer a acordos comerciais importantes significa tornar o Brasil menos atrativo para a integração de cadeias produtivas que, sempre mais, constituem a essência dos acordos de comércio modernos.
Recorde-se, aqui, a existência dos diversos acordos de grande alcance: entre Estados Unidos e Coreia do Sul (Korus), o acordo entre China e a Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), a Aliança do Pacífico (México, Colômbia, Peru e Chile), a Parceria Trans-Pacífico (TPP)e o acordo Estados Unidos-União Europeia. Alguns deles em fase de negociação, outros já em plena vigência. O Brasil não pertence a nenhum deles.
Pertencemos à Organização Mundial do Comércio (OMC), entretanto, e ela continua a ser a tábua das leis. As 550 páginas de seus textos normativos são o fundamento do livre-comércio. Há grandes lacunas, sem dúvida, especialmente na agricultura, em que o protecionismo que falseia o comércio continua a vigorar em todo o mundo desenvolvido. Mas a OMC é a instituição em que impera o sistema de solução de controvérsias que permite a qualquer de seus membros questionar os atos de outros, qualquer que seja a disparidade de força entre eles. Por isso ganhamos importantes questões dos Estados Unidos e da União Europeia. Temos de defender a OMC, porque ela é o último reduto contra os abusos dos mais fortes.
A vitória de Roberto Azevêdo para diretor-geral da OMC é, antes de mais nada, um êxito pessoal de um diplomata de grande profissionalismo e competência. Sem isso não teria sido possível eleger um brasileiro que serve a um governo cada vez mais protecionista e, portanto, pouco afinado com o espírito de liberalização do comércio, que é a alma da OMC. Mas o que contou na eleição foi a mensagem central de Roberto de que não há tempo a perder, pois - uma vez institucionalizados os acordos extra-OMC, como os acima mencionados, em vigor ou em gestação, entre um limitado número de países - será dificílimo retomar a dinâmica multilateral e evitar que a OMC se torne um organismo apenas subsidiário.
Independentemente dessa vitória e da luta permanente pelo fortalecimento da OMC, é urgente reavaliar as opções internacionais do Brasil. Será necessário rever a regra da posição solidária de todos os membros do Mercosul ou deveremos continuar a nos apresentar, sem muitas chances, em companhia da Argentina e da Venezuela nas mesas de negociação que virão? Devemos estudar a possibilidade de buscar acordos bilaterais com a União Europeia, os Estados Unidos e outras grandes potências do comércio internacional? Podemos explorar um entendimento com os quatro países da Iniciativa do Pacífico? São questões de grande atualidade que precisam ser estudadas a fundo pelo governo, pelo Congresso Nacional, pelos atores econômicos brasileiros e por todos os que nelas têm interesse. O que não é possível é praticar a política da cabeça enterrada na areia, que o avestruz aperfeiçoou.
O preço do imobilismo seria o aprofundamento do protecionismo nacional e, portanto, o afastamento dos principais centros de inovação. Seria também a exclusão crescente do Brasil do movimento de integração de cadeias industriais produtivas que está em marcha em escala global.
Esses grandes temas precisam ser objeto de uma reflexão profunda entre nós. Não levá-la a cabo significará uma crescente marginalização do Brasil em termos de investimentos, balanço de pagamentos, comércio internacional e, portanto, de desenvolvimento econômico.
A narrativa pertence às reféns - DORRIT HARAZIM
O GLOBO - 12/05
Elas faziam parte da geração que já nasce com fotos no Instagram, cresce com um perfil no Facebook, se alimenta de posts múltiplos no Twitter e vive de olho grudado num smartphone.
Eram americanas, país dos mais plugados na vida digital, moravam em Cleveland, Ohio, 28ª maior região metropolitana dos Estados Unidos, e tinham 14, 16 e 20 anos quando foram raptadas da vida.
Hoje, Gina DeJesus, Amanda Berry e Michelle Knight são jovens mulheres de 23, 27 e 32 anos de idade. Como foi fartamente noticiado ao longo da semana, os dez anos de horror, sevícias e bestialidade que viveram em mãos do sequestrador Ariel Castro tiveram desfecho milagroso e cinematográfico na segunda-feira passada.
Não cabe, aqui, revolver a natureza por demais sombria e desumanizadora do caso. Tampouco interessa reprisar cada novo fragmento de informação que a mídia consegue capturar dos depoimentos prestados pelas vítimas à polícia.
É sobre o choque do presente que vai se falar aqui. Gina, Amanda e Michelle não tiveram qualquer experiência ou existência digital durante essa eternidade de dez anos. A década em que viveram trancafiadas num calabouço, sem contato humano além do predador, foi justamente o período em que para a geração das vítimas estar vivo é ter presença digital constante, em tempo real.
Inexoravelmente, seus perfis virtuais agora serão construídos. Estarão abarrotados de amigos e de desconhecidos que já se consideram seus amigos. O próprio maníaco que as sequestrou, ao abrir um perfil no Facebook dois meses atrás, logo conquistou 41 "amigos". Nenhum dos seus posts jamais indicou qualquer perturbação mental. "Esta manhã acordei com o assobio de um canário. A primavera deve chegar em breve", dizia um dos primeiros textos, escrito na mesma casa em que mantinha as três mulheres aprisionadas e seviciadas há dez anos. Seu último post, "Milagres acontecem. Deus é bom", foi redigido três dias antes do estouro do cárcere privado.
Amanda Berry, no agoniado telefonema de alforria e pedido de socorro à polícia, demonstrou ter uma noção de tempo de cativeiro e clareza de propósito extraordinárias. Seu depoimento à polícia também parece ter sido preciso o suficiente para que as autoridades pudessem enquadrar Ariel Castro como único suspeito. Com os testemunhos prestados por Gina DeJesus e Michelle Knight ainda no hospital, foi possível completar o quadro necessário para o seu indiciamento.
Foi em meio a um extático ritual de boas-vindas às jovens resgatadas, com as casas de Amanda e Gina quase levitando em meio a balões, flores, fitas e faixas, que o noticiário e a opinião pública começaram a dar sinais de insaciabilidade, de curiosidade.
Com a esfera privada cada vez mais esquecida do comportamento humano, ansiava-se pela aparição relâmpago de talvez uma das jovens resgatadas.
Ou quem sabe um breve relato do reencontro, feito por algum parente próximo.
Afinal, a espetaculosa libertação repleta de lances dramáticos já fora descrita pela mídia de todos os ângulos possíveis, dezenas de vezes; e as entrevistas com parentes, amigos, excolegas das vítimas ou da família do acusado começavam a se repetir; os debates com especialistas em Síndrome de Estocolmo, autoridades policiais, juristas e sobreviventes de sequestros anteriores, também.
Até mesmo o irresistível lavador de pratos Charles Ramsey, celebridade instantânea na internet por sua colorida narrativa de como teria libertado Amanda Berry do cativeiro, encerrara a semana algo diminuído. Ele dera pelo menos vinte entrevistas, cada uma mais autêntica e folclórica que a anterior, fora saudado como legítimo herói nacional por não hesitar em socorrer um estranho, e estava prestes a receber uma recompensa pelo feito quando alguém descobriu o tímido imigrante hispânico Angel Cordero como sendo o verdadeiro autor do arrombamento da porta que salvou Amanda.
Mas como Cordero não fala uma palavra de inglês, a história continuará registrando a oratória de Ramsey, transformada em música com 400 mil hits no YouTube: "Quando ouvi os gritos eu estava aqui comendo meu McDonald's... fui ajudá-la a abrir a porta... Tá na cara que tinha algo de errado quando uma garota branquinha corre para os braços de um negão, tá na cara..." Nesta primeira semana após o encerramento do caso, repórteres americanos com boas fontes junto à polícia de Cleveland conseguiram alguns detalhes importantes dos depoimentos prestados pelas jovens sobre seus anos de cárcere e brutalidade. Fica a dúvida se o conteúdo desses depoimentos não deveria ser totalmente blindado pela polícia. Afinal, não se trata de um material crucial para a liberdade de imprensa nem indispensável para o direito à informação. Só Amanda Berry, Gina DeJesus e Michelle Knight deveriam ter o direito de decidir se querem ver divulgada - como e quando - a narrativa de uma aberração humana pela qual passaram, mas que não as define. Talvez elas queiram, antes, tentar se reencontrar com o que eram. Ou, ao contrário, revelar tudo para conseguir se reconectar ao mundo.
Depois de tudo o que lhes foi roubado e destruído, este direito ninguém deveria querer ou poder atropelar.
Elas faziam parte da geração que já nasce com fotos no Instagram, cresce com um perfil no Facebook, se alimenta de posts múltiplos no Twitter e vive de olho grudado num smartphone.
Eram americanas, país dos mais plugados na vida digital, moravam em Cleveland, Ohio, 28ª maior região metropolitana dos Estados Unidos, e tinham 14, 16 e 20 anos quando foram raptadas da vida.
Hoje, Gina DeJesus, Amanda Berry e Michelle Knight são jovens mulheres de 23, 27 e 32 anos de idade. Como foi fartamente noticiado ao longo da semana, os dez anos de horror, sevícias e bestialidade que viveram em mãos do sequestrador Ariel Castro tiveram desfecho milagroso e cinematográfico na segunda-feira passada.
Não cabe, aqui, revolver a natureza por demais sombria e desumanizadora do caso. Tampouco interessa reprisar cada novo fragmento de informação que a mídia consegue capturar dos depoimentos prestados pelas vítimas à polícia.
É sobre o choque do presente que vai se falar aqui. Gina, Amanda e Michelle não tiveram qualquer experiência ou existência digital durante essa eternidade de dez anos. A década em que viveram trancafiadas num calabouço, sem contato humano além do predador, foi justamente o período em que para a geração das vítimas estar vivo é ter presença digital constante, em tempo real.
Inexoravelmente, seus perfis virtuais agora serão construídos. Estarão abarrotados de amigos e de desconhecidos que já se consideram seus amigos. O próprio maníaco que as sequestrou, ao abrir um perfil no Facebook dois meses atrás, logo conquistou 41 "amigos". Nenhum dos seus posts jamais indicou qualquer perturbação mental. "Esta manhã acordei com o assobio de um canário. A primavera deve chegar em breve", dizia um dos primeiros textos, escrito na mesma casa em que mantinha as três mulheres aprisionadas e seviciadas há dez anos. Seu último post, "Milagres acontecem. Deus é bom", foi redigido três dias antes do estouro do cárcere privado.
Amanda Berry, no agoniado telefonema de alforria e pedido de socorro à polícia, demonstrou ter uma noção de tempo de cativeiro e clareza de propósito extraordinárias. Seu depoimento à polícia também parece ter sido preciso o suficiente para que as autoridades pudessem enquadrar Ariel Castro como único suspeito. Com os testemunhos prestados por Gina DeJesus e Michelle Knight ainda no hospital, foi possível completar o quadro necessário para o seu indiciamento.
Foi em meio a um extático ritual de boas-vindas às jovens resgatadas, com as casas de Amanda e Gina quase levitando em meio a balões, flores, fitas e faixas, que o noticiário e a opinião pública começaram a dar sinais de insaciabilidade, de curiosidade.
Com a esfera privada cada vez mais esquecida do comportamento humano, ansiava-se pela aparição relâmpago de talvez uma das jovens resgatadas.
Ou quem sabe um breve relato do reencontro, feito por algum parente próximo.
Afinal, a espetaculosa libertação repleta de lances dramáticos já fora descrita pela mídia de todos os ângulos possíveis, dezenas de vezes; e as entrevistas com parentes, amigos, excolegas das vítimas ou da família do acusado começavam a se repetir; os debates com especialistas em Síndrome de Estocolmo, autoridades policiais, juristas e sobreviventes de sequestros anteriores, também.
Até mesmo o irresistível lavador de pratos Charles Ramsey, celebridade instantânea na internet por sua colorida narrativa de como teria libertado Amanda Berry do cativeiro, encerrara a semana algo diminuído. Ele dera pelo menos vinte entrevistas, cada uma mais autêntica e folclórica que a anterior, fora saudado como legítimo herói nacional por não hesitar em socorrer um estranho, e estava prestes a receber uma recompensa pelo feito quando alguém descobriu o tímido imigrante hispânico Angel Cordero como sendo o verdadeiro autor do arrombamento da porta que salvou Amanda.
Mas como Cordero não fala uma palavra de inglês, a história continuará registrando a oratória de Ramsey, transformada em música com 400 mil hits no YouTube: "Quando ouvi os gritos eu estava aqui comendo meu McDonald's... fui ajudá-la a abrir a porta... Tá na cara que tinha algo de errado quando uma garota branquinha corre para os braços de um negão, tá na cara..." Nesta primeira semana após o encerramento do caso, repórteres americanos com boas fontes junto à polícia de Cleveland conseguiram alguns detalhes importantes dos depoimentos prestados pelas jovens sobre seus anos de cárcere e brutalidade. Fica a dúvida se o conteúdo desses depoimentos não deveria ser totalmente blindado pela polícia. Afinal, não se trata de um material crucial para a liberdade de imprensa nem indispensável para o direito à informação. Só Amanda Berry, Gina DeJesus e Michelle Knight deveriam ter o direito de decidir se querem ver divulgada - como e quando - a narrativa de uma aberração humana pela qual passaram, mas que não as define. Talvez elas queiram, antes, tentar se reencontrar com o que eram. Ou, ao contrário, revelar tudo para conseguir se reconectar ao mundo.
Depois de tudo o que lhes foi roubado e destruído, este direito ninguém deveria querer ou poder atropelar.
Formação de líderes - JOÃO UBALDO RIBEIRO
O GLOBO - 12/05
—Esse menino só me dá preocupação. Quando eu penso que o pior já passou, que ele já aprendeu alguma coisa, lá vem ele com besteira de novo.
— Eu não acho tanta besteira assim. Você mesmo se candidatou pela primeira vez com a idade dele e se elegeu.
— Me admira você, parece que não acompanhou minha carreira a vida toda. As coisas mudaram! Em política, não se pode deixar de prestar atenção nunca, tem que dar o pulo certo na hora certa. Aquilo era no tempo do coronel Afonsino, do senador Bernardo, dos bons cabos eleitorais e do caminhão de eleitor, a eleição era uma formalidade. Ele não tem nada que se candidatar agora, tem que cumprir esse tempo na prefeitura. Tem gente que daria o bem-bom na hora, pela colocação que eu consegui para ele, e ele despreza tudo.
— Mas, como deputado, ele ia ganhar mais e ia trabalhar muito menos.
— Tanto tempo de casada comigo e até hoje não aprendeu a ter visão política, eu canso de dizer e mostrar, tem que ter visão política! Você sabe quanto ele vai ganhar na Prefeitura?
— Ele não é equiparado a procurador?
— Ah, e você pensa que eu quero ele na prefeitura para receber esses vencimentos de pobre? Pense certo, Creuza, pense como eu! Pense aí!
— Estou pensando e não sei aonde você quer chegar.
— É porque você pensa pequeno, nunca perdeu o vício de ser pobre. Não pode pensar como pobre, isso só dá atraso! Claro que o que o Nélsior Luiz está ganhando na prefeitura não é só essa merreca, eu não posso dispensar um filho meu, uma pessoa de minha inteira confiança, na posição em que ele está, trabalhando nas licitações. Tem que falar baixo, as paredes têm ouvidos, sente aqui. Escute bem, que eu vou falar baixo e nunca mais vou repetir. Então, minha filha, você não compreendeu que, com Dudu como prefeito, seu primo Hélio na Secretaria de Obras e Natanael Barrica secretário de Finanças, esta é uma oportunidade de ouro? Entendeu, ou quer que eu faça um desenho?
— Vocês… Ah!
— Claro! É por isso que o Nélsior tem que ficar onde está, eu não faço as coisas à toa. Se Dudu abrir todas as concorrências que ele diz que vai abrir… E vai, e vai, aquilo é um verdadeiro gadanho de oito dentes, tem de ficar de olho nele, senão ele pega tudo pra ele, é um inescrupuloso e, quando se trata de dinheiro, chega a ser desonesto, o que ele diz não se escreve.
— Compreendi tudo. É que, no começo… Eu não tenho seu tirocínio político, você pensa que todo mundo é inteligente como você, mas não é.
— Isso não deixa de ser verdade, sou forçado a reconhecer. Qualquer um vê que eu sou dos políticos mais bem-sucedidos de minha geração. Nunca perdi eleição, sempre estive em posições invejáveis e, graças a Deus, consegui amealhar um patrimônio decente, para dar uma bela condição aos meus, eu soube me fazer. Com muito trabalho e noite perdida, mas eu soube me fazer.
— E fez muito por este povo daqui. E continua fazendo.
— Isso também é verdade. Ninguém pode me acusar de virar as costas para o povo. Pelo contrário, acho que não tem um que tenha vindo me procurar pedindo um auxílio, uma internação, um caixão, umas telhas e por aí vai, que eu tenha negado, inclusive tirando dinheiro de meu bolso várias vezes.
— E você ainda se esquece da festa de Natal.
— A festa de Natal! Aquele safado do jornal escreveu lá que eu chamava as crianças pobres para distribuir quinquilharias baratas. É por isso que jornalista me dá nojo, pessoal recalcado que não tem o que dizer e difama um homem público de ficha limpa por todos conhecido, tinha que fechar essas merdas desses jornais destrutivos, ninguém precisa deles, só servem para causar distúrbios sociais e incitar a desordem, é para isso que eles servem.
— E o Bolsa Família?
— O Bolsa Família! Quantos e quantas eu já botei no Bolsa Família? Somente aqui na cidade, nós tivemos o maior aumento na concessão de bolsas família em todo o estado! Em todo o estado! Isso o sacana do jornal não escreve! Quantos não se enquadram no programa, mas eu mando fazer vista grossa, porque sei que não custa nada uma ajudinha a mais para esse povo sofrido? O político tem que ter sensibilidade, não pode se ater à letra fria da lei, isso é desumano. Minha contribuição para o aprimoramento do Bolsa Família vai se revelar muito importante, ainda vão ter muito que me agradecer.
— Mas você mesmo sempre diz que, na política, uma das coisas mais comuns é a ingratidão.
— E é mesmo, mas a gente tem de estar preparado, tem muito canalha sem princípios neste mundo, é a lei da vida. Se um dia eu abrisse a boca para contar as barbaridades que eu já vi, ia ser um escândalo. Mas eu não sou palmatória do mundo e outro mandamento da política, ainda mais importante que o cuidado com a ingratidão, é o realismo, é o pé firme na realidade. A realidade é a realidade, não adianta querer dar murro em ponta de faca, a realidade não muda. É por isso que o Nélsior às vezes me preocupa.
— Mas acho que você não tem razão, ele tem futuro, não fique preocupado. Só a admiração que ele tem por você já é a garantia de que ele vai se dar bem. E é sangue de seu sangue.
— Agora quem está com a razão é você. Tem a genética e a formação rigorosa que eu dou a ele desde menino.
— Não é por ser nosso filho, mas ele vai ter uma grande carreira política. Filho de peixe peixinho é, quem sai aos seus não degenera.
—Esse menino só me dá preocupação. Quando eu penso que o pior já passou, que ele já aprendeu alguma coisa, lá vem ele com besteira de novo.
— Eu não acho tanta besteira assim. Você mesmo se candidatou pela primeira vez com a idade dele e se elegeu.
— Me admira você, parece que não acompanhou minha carreira a vida toda. As coisas mudaram! Em política, não se pode deixar de prestar atenção nunca, tem que dar o pulo certo na hora certa. Aquilo era no tempo do coronel Afonsino, do senador Bernardo, dos bons cabos eleitorais e do caminhão de eleitor, a eleição era uma formalidade. Ele não tem nada que se candidatar agora, tem que cumprir esse tempo na prefeitura. Tem gente que daria o bem-bom na hora, pela colocação que eu consegui para ele, e ele despreza tudo.
— Mas, como deputado, ele ia ganhar mais e ia trabalhar muito menos.
— Tanto tempo de casada comigo e até hoje não aprendeu a ter visão política, eu canso de dizer e mostrar, tem que ter visão política! Você sabe quanto ele vai ganhar na Prefeitura?
— Ele não é equiparado a procurador?
— Ah, e você pensa que eu quero ele na prefeitura para receber esses vencimentos de pobre? Pense certo, Creuza, pense como eu! Pense aí!
— Estou pensando e não sei aonde você quer chegar.
— É porque você pensa pequeno, nunca perdeu o vício de ser pobre. Não pode pensar como pobre, isso só dá atraso! Claro que o que o Nélsior Luiz está ganhando na prefeitura não é só essa merreca, eu não posso dispensar um filho meu, uma pessoa de minha inteira confiança, na posição em que ele está, trabalhando nas licitações. Tem que falar baixo, as paredes têm ouvidos, sente aqui. Escute bem, que eu vou falar baixo e nunca mais vou repetir. Então, minha filha, você não compreendeu que, com Dudu como prefeito, seu primo Hélio na Secretaria de Obras e Natanael Barrica secretário de Finanças, esta é uma oportunidade de ouro? Entendeu, ou quer que eu faça um desenho?
— Vocês… Ah!
— Claro! É por isso que o Nélsior tem que ficar onde está, eu não faço as coisas à toa. Se Dudu abrir todas as concorrências que ele diz que vai abrir… E vai, e vai, aquilo é um verdadeiro gadanho de oito dentes, tem de ficar de olho nele, senão ele pega tudo pra ele, é um inescrupuloso e, quando se trata de dinheiro, chega a ser desonesto, o que ele diz não se escreve.
— Compreendi tudo. É que, no começo… Eu não tenho seu tirocínio político, você pensa que todo mundo é inteligente como você, mas não é.
— Isso não deixa de ser verdade, sou forçado a reconhecer. Qualquer um vê que eu sou dos políticos mais bem-sucedidos de minha geração. Nunca perdi eleição, sempre estive em posições invejáveis e, graças a Deus, consegui amealhar um patrimônio decente, para dar uma bela condição aos meus, eu soube me fazer. Com muito trabalho e noite perdida, mas eu soube me fazer.
— E fez muito por este povo daqui. E continua fazendo.
— Isso também é verdade. Ninguém pode me acusar de virar as costas para o povo. Pelo contrário, acho que não tem um que tenha vindo me procurar pedindo um auxílio, uma internação, um caixão, umas telhas e por aí vai, que eu tenha negado, inclusive tirando dinheiro de meu bolso várias vezes.
— E você ainda se esquece da festa de Natal.
— A festa de Natal! Aquele safado do jornal escreveu lá que eu chamava as crianças pobres para distribuir quinquilharias baratas. É por isso que jornalista me dá nojo, pessoal recalcado que não tem o que dizer e difama um homem público de ficha limpa por todos conhecido, tinha que fechar essas merdas desses jornais destrutivos, ninguém precisa deles, só servem para causar distúrbios sociais e incitar a desordem, é para isso que eles servem.
— E o Bolsa Família?
— O Bolsa Família! Quantos e quantas eu já botei no Bolsa Família? Somente aqui na cidade, nós tivemos o maior aumento na concessão de bolsas família em todo o estado! Em todo o estado! Isso o sacana do jornal não escreve! Quantos não se enquadram no programa, mas eu mando fazer vista grossa, porque sei que não custa nada uma ajudinha a mais para esse povo sofrido? O político tem que ter sensibilidade, não pode se ater à letra fria da lei, isso é desumano. Minha contribuição para o aprimoramento do Bolsa Família vai se revelar muito importante, ainda vão ter muito que me agradecer.
— Mas você mesmo sempre diz que, na política, uma das coisas mais comuns é a ingratidão.
— E é mesmo, mas a gente tem de estar preparado, tem muito canalha sem princípios neste mundo, é a lei da vida. Se um dia eu abrisse a boca para contar as barbaridades que eu já vi, ia ser um escândalo. Mas eu não sou palmatória do mundo e outro mandamento da política, ainda mais importante que o cuidado com a ingratidão, é o realismo, é o pé firme na realidade. A realidade é a realidade, não adianta querer dar murro em ponta de faca, a realidade não muda. É por isso que o Nélsior às vezes me preocupa.
— Mas acho que você não tem razão, ele tem futuro, não fique preocupado. Só a admiração que ele tem por você já é a garantia de que ele vai se dar bem. E é sangue de seu sangue.
— Agora quem está com a razão é você. Tem a genética e a formação rigorosa que eu dou a ele desde menino.
— Não é por ser nosso filho, mas ele vai ter uma grande carreira política. Filho de peixe peixinho é, quem sai aos seus não degenera.
Assembleia brasileira - DOMINGOS PELLEGRINI
GAZETA DO POVO - PR - 12/05
A assembleia devia começar às 20h30 mas, como sempre, só aparecem o síndico e três gatos pingados. Também como sempre, a maioria (da minoria que vai às assembleias) chega só depois do telejornal, para a segunda convocação “com qualquer número de condôminos”. Então, às 21 horas o síndico começa a ler a ata anterior, enquanto vai chegando gente, até que, como sempre novamente, a viúva do 113 reclama:
– Devia começar antes do telejornal, pra eu não perder a novela depois!
O síndico mais uma vez explica que mais cedo muita gente ainda nem chegou em casa, e ainda teriam de jantar e...
– Eu não janto mais! – fala o velho magrelo do 111 – Só como um lanchinho. A gente deve tomar café da manhã que nem rei, almoçar feito príncipe e...
– Jantar como mendigo! – bradam em coro.
– Vocês já sabiam disso?! – ele como sempre se espanta, o gozador do 707 fala como sempre:
– O Al nos contou! – e sussurra para os outros: – O Al Zaimer!
O síndico diz que o primeiro assunto é a reforma elétrica do prédio, tão velha que...
– Eu quero é saber – fala alto a gordona do 990 – porque a molecada grita tanto no parquinho!
A mãe dos trigêmeos do 333 levanta num pulo:
– Quer saber porque as crianças gritam e correm e riem e pulam? Porque são crianças! Mas a senhora nunca foi, né, já nasceu ranzinza!
Vários idosos reagem, falta de respeito! O solteirão do 224 fala alto que falta de respeito é o 808 estacionar carro na sua garagem, e o 808 fala de costas para ele:
– Eu quero alugar a garagem dele, ele não quer!
– Eu não quero carro velho na minha garagem! – o 224 esbraveja – É questão de imagem!
Uns acham certo, cada um pode fazer o que quiser com a própria garagem, até ser idiota a ponto de não querer ganhar dinheiro com ela, outros acham que é frescura pura, e a assembleia vira um alvoroço, até o síndico bater o sapato na mesa e, no silêncio onde só se ouve a asma da velhota do 514, ameaça pedir demissão.
– Pode pedir – diz o vice-síndico – Assumo imediatamente.
Silêncio. Todos sabem que o vice toma pílulas tarja-preta e vive feito sonâmbulo repetindo “pronto pra assumir, pronto pra assumir”. Então a professora do 456 aproveita para perguntar se todos receberam seu e-mail de apoio ao movimento pelos direitos humanos.
– Questão de ordem! – brada o major da reserva do 255 – É assembleia de condomínio ou de comunista?
– Não tem mais comunista, general – ri o 707 – Hoje só tem comunesperto e comunotário...
O síndico bate o sapato, apagam-se as luzes. No silêncio escuro, a velhinha do 101 sussurra:
– Anoiteceu de novo?
Não, diz o síndico:
– É o assunto em pauta. Ou reformamos a rede elétrica ou viveremos com curto-circuitos!
O 707 não perde a deixa: – Melhor que longo-circuitos, né?
O síndico ergue os olhos para o céu, e vê um nova mancha de umidade no teto. O 111 diz que não janta mais porque...
A assembleia devia começar às 20h30 mas, como sempre, só aparecem o síndico e três gatos pingados. Também como sempre, a maioria (da minoria que vai às assembleias) chega só depois do telejornal, para a segunda convocação “com qualquer número de condôminos”. Então, às 21 horas o síndico começa a ler a ata anterior, enquanto vai chegando gente, até que, como sempre novamente, a viúva do 113 reclama:
– Devia começar antes do telejornal, pra eu não perder a novela depois!
O síndico mais uma vez explica que mais cedo muita gente ainda nem chegou em casa, e ainda teriam de jantar e...
– Eu não janto mais! – fala o velho magrelo do 111 – Só como um lanchinho. A gente deve tomar café da manhã que nem rei, almoçar feito príncipe e...
– Jantar como mendigo! – bradam em coro.
– Vocês já sabiam disso?! – ele como sempre se espanta, o gozador do 707 fala como sempre:
– O Al nos contou! – e sussurra para os outros: – O Al Zaimer!
O síndico diz que o primeiro assunto é a reforma elétrica do prédio, tão velha que...
– Eu quero é saber – fala alto a gordona do 990 – porque a molecada grita tanto no parquinho!
A mãe dos trigêmeos do 333 levanta num pulo:
– Quer saber porque as crianças gritam e correm e riem e pulam? Porque são crianças! Mas a senhora nunca foi, né, já nasceu ranzinza!
Vários idosos reagem, falta de respeito! O solteirão do 224 fala alto que falta de respeito é o 808 estacionar carro na sua garagem, e o 808 fala de costas para ele:
– Eu quero alugar a garagem dele, ele não quer!
– Eu não quero carro velho na minha garagem! – o 224 esbraveja – É questão de imagem!
Uns acham certo, cada um pode fazer o que quiser com a própria garagem, até ser idiota a ponto de não querer ganhar dinheiro com ela, outros acham que é frescura pura, e a assembleia vira um alvoroço, até o síndico bater o sapato na mesa e, no silêncio onde só se ouve a asma da velhota do 514, ameaça pedir demissão.
– Pode pedir – diz o vice-síndico – Assumo imediatamente.
Silêncio. Todos sabem que o vice toma pílulas tarja-preta e vive feito sonâmbulo repetindo “pronto pra assumir, pronto pra assumir”. Então a professora do 456 aproveita para perguntar se todos receberam seu e-mail de apoio ao movimento pelos direitos humanos.
– Questão de ordem! – brada o major da reserva do 255 – É assembleia de condomínio ou de comunista?
– Não tem mais comunista, general – ri o 707 – Hoje só tem comunesperto e comunotário...
O síndico bate o sapato, apagam-se as luzes. No silêncio escuro, a velhinha do 101 sussurra:
– Anoiteceu de novo?
Não, diz o síndico:
– É o assunto em pauta. Ou reformamos a rede elétrica ou viveremos com curto-circuitos!
O 707 não perde a deixa: – Melhor que longo-circuitos, né?
O síndico ergue os olhos para o céu, e vê um nova mancha de umidade no teto. O 111 diz que não janta mais porque...
Centroavantes - LUIS FERNANDO VERÍSSIMO
O GLOBO - 12/05
Os centroavantes são diferentes. Nenhuma outra posição num time de futebol se presta tanto a controvérsia como a do centroavante. Sua função específica é fazer gols. Ou seja, nenhum outro jogador vive tão perto do cerne, da razão depurada e da glória final do futebol, que é a bola dentro do gol, como ele. É o centroavante quem mais faz gols, e assim cumpre seu propósito sobre a Terra, mas também é quem mais perde gols, e assim trai o seu destino. Nenhum outro jogador – bem, talvez o goleiro, que também vive ali onde o futebol se define – transita como o centroavante entre a santificação e o abismo, às vezes de um instante para o outro.
De um goleiro não se discute onde deve ficar (é o único dos onze que tem seu lugar bem demarcado, com casinha e quintal), mas existe uma longa discussão sobre onde e como um centroavante joga melhor. Ele deve ser uma “referência”, termo impreciso para quem fica lá na frente, de costas para o gol, levando botinadas no calcanhar, servindo de pivô como no basquete e garantindo uma certa simetria nos ataques, ou deve escapar da solidão da grande área, buscar o jogo e vir de trás e de frente para o gol?
Estou escrevendo tudo isto porque nesta semana vi jogar dois exemplos parecidos da espécie, o togolês Emmanuel Adebayor, do Tottenham Hotspurs, de Londres, e o Jo, do Atlético Mineiro. São dois negros altos com habilidade incomum para jogadores com seus biótipos, e os dois são da estirpe dos que vêm de trás, apesar da altura ideal para serem “referência”. Adebayor atuou no empate do Tottenham com o Chelsea, Jo no chocolate mineiro que o Atlético deu no São Paulo, e foram os principais jogadores em campo. São dois que eu gostaria de ter no meu time.
Aliás, outra razão para estar escrevendo isto é que o Jo esteve no meu time, o Internacional. Ficou na reserva, entrou umas três ou quatro vezes – e não fez muita coisa. Espera-se tanto dos centroavantes que é difícil dizer quando eles simplesmente não estão correspondendo à exigência imediata de fazer gols, numa fase ruim passageira, ou não têm o futebol desejado e nunca terão. Vendo o Jo marcar seus gols contra o São Paulo, ficou a mágoa: ele precisava ter a sua temporada no abismo logo no Internacional?
Os centroavantes são diferentes. Nenhuma outra posição num time de futebol se presta tanto a controvérsia como a do centroavante. Sua função específica é fazer gols. Ou seja, nenhum outro jogador vive tão perto do cerne, da razão depurada e da glória final do futebol, que é a bola dentro do gol, como ele. É o centroavante quem mais faz gols, e assim cumpre seu propósito sobre a Terra, mas também é quem mais perde gols, e assim trai o seu destino. Nenhum outro jogador – bem, talvez o goleiro, que também vive ali onde o futebol se define – transita como o centroavante entre a santificação e o abismo, às vezes de um instante para o outro.
De um goleiro não se discute onde deve ficar (é o único dos onze que tem seu lugar bem demarcado, com casinha e quintal), mas existe uma longa discussão sobre onde e como um centroavante joga melhor. Ele deve ser uma “referência”, termo impreciso para quem fica lá na frente, de costas para o gol, levando botinadas no calcanhar, servindo de pivô como no basquete e garantindo uma certa simetria nos ataques, ou deve escapar da solidão da grande área, buscar o jogo e vir de trás e de frente para o gol?
Estou escrevendo tudo isto porque nesta semana vi jogar dois exemplos parecidos da espécie, o togolês Emmanuel Adebayor, do Tottenham Hotspurs, de Londres, e o Jo, do Atlético Mineiro. São dois negros altos com habilidade incomum para jogadores com seus biótipos, e os dois são da estirpe dos que vêm de trás, apesar da altura ideal para serem “referência”. Adebayor atuou no empate do Tottenham com o Chelsea, Jo no chocolate mineiro que o Atlético deu no São Paulo, e foram os principais jogadores em campo. São dois que eu gostaria de ter no meu time.
Aliás, outra razão para estar escrevendo isto é que o Jo esteve no meu time, o Internacional. Ficou na reserva, entrou umas três ou quatro vezes – e não fez muita coisa. Espera-se tanto dos centroavantes que é difícil dizer quando eles simplesmente não estão correspondendo à exigência imediata de fazer gols, numa fase ruim passageira, ou não têm o futebol desejado e nunca terão. Vendo o Jo marcar seus gols contra o São Paulo, ficou a mágoa: ele precisava ter a sua temporada no abismo logo no Internacional?
Dia das Mães! Não xingue o juiz! - JOSÉ SIMÃO
FOLHA DE SP - 12/06
E a revista "Caras" devia fazer uma edição especial sobre mães judias: revista ÇARAS! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Que ano é hoje? O Túnel do Tempo: "Após 17 anos, policiais acusados de matar PC Farias vão a julgamento". JÁ? Como a justiça brasileira é rápida! Com essa correria o inquérito pode não ficar bem-feito! Rarará!
E esta: "Embrapa clona vaca chamada Brasília". Já não basta uma? Vaca de divinas tetas! Só falta cruzar com o Touro Bandido! Rarará!
E hoje temos Santos X Corinthians no Dia das Mães! Atenção, torcida, não xingue o juiz. Respeite o Dia das Mães!
E o filho do século é o Maluf, que batizou um complexo viário com o nome da mãe: Complexo Viário Maria Maluf. Então é complexo de Édipo. Complexo de Édipo Maria Maluf.
E a mãe do século é a Xuxa, porque nunca deu pra filha usar aquele monte de porcaria que ela anuncia!
E como diz um amigo meu: "A Dilma parece a minha mãe, não consegue passar um dia feliz sem dar um pitaco em alguém". Rarará!
E a revista "Caras" devia fazer uma edição especial sobre mães judias: revista ÇARAS! E qual a diferença entre a mãe judia e a mãe italiana? A mãe italiana diz: "Se você não comer tudo, eu te mato". E a mãe judia diz: "Se você não comer tudo, eu ME mato". Rarará!
Aliás, diz que a mãe judia estava na calçada com dois filhos quando uma vizinha perguntou a idade deles. E a mãe judia: "O cardiologista tem quatro anos e o físico nuclear, seis anos". Rarará!
E a mãe portuguesa achou uma camisinha na bolsa da filha e gritou: "Ai, Jesus, tô achando que a minha filha tem pau". Rarará!
E supermãe é aquela que, quando liga pro celular do filho e ele não atende, fica ligando pro celular dos amigos. E a frase típica da supermãe: "Não vai esquecer a jaqueta".
E tem a mãe tuiteira também! A enfermeira com o recém-nascido no colo: "Você não vai querer ver o seu filho?". "Pera aí, tenho que avisar os meus amigos pelo Twitter!" Rarará!
E aí perguntei para um amigo: "O que você vai dar de presente pra sua mãe?". "Presente, presente, presente estarei pra filar boia na casa dela".
E o melhor presente pra mãe é um Viagra pro pai. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
E a revista "Caras" devia fazer uma edição especial sobre mães judias: revista ÇARAS! Rarará!
Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Que ano é hoje? O Túnel do Tempo: "Após 17 anos, policiais acusados de matar PC Farias vão a julgamento". JÁ? Como a justiça brasileira é rápida! Com essa correria o inquérito pode não ficar bem-feito! Rarará!
E esta: "Embrapa clona vaca chamada Brasília". Já não basta uma? Vaca de divinas tetas! Só falta cruzar com o Touro Bandido! Rarará!
E hoje temos Santos X Corinthians no Dia das Mães! Atenção, torcida, não xingue o juiz. Respeite o Dia das Mães!
E o filho do século é o Maluf, que batizou um complexo viário com o nome da mãe: Complexo Viário Maria Maluf. Então é complexo de Édipo. Complexo de Édipo Maria Maluf.
E a mãe do século é a Xuxa, porque nunca deu pra filha usar aquele monte de porcaria que ela anuncia!
E como diz um amigo meu: "A Dilma parece a minha mãe, não consegue passar um dia feliz sem dar um pitaco em alguém". Rarará!
E a revista "Caras" devia fazer uma edição especial sobre mães judias: revista ÇARAS! E qual a diferença entre a mãe judia e a mãe italiana? A mãe italiana diz: "Se você não comer tudo, eu te mato". E a mãe judia diz: "Se você não comer tudo, eu ME mato". Rarará!
Aliás, diz que a mãe judia estava na calçada com dois filhos quando uma vizinha perguntou a idade deles. E a mãe judia: "O cardiologista tem quatro anos e o físico nuclear, seis anos". Rarará!
E a mãe portuguesa achou uma camisinha na bolsa da filha e gritou: "Ai, Jesus, tô achando que a minha filha tem pau". Rarará!
E supermãe é aquela que, quando liga pro celular do filho e ele não atende, fica ligando pro celular dos amigos. E a frase típica da supermãe: "Não vai esquecer a jaqueta".
E tem a mãe tuiteira também! A enfermeira com o recém-nascido no colo: "Você não vai querer ver o seu filho?". "Pera aí, tenho que avisar os meus amigos pelo Twitter!" Rarará!
E aí perguntei para um amigo: "O que você vai dar de presente pra sua mãe?". "Presente, presente, presente estarei pra filar boia na casa dela".
E o melhor presente pra mãe é um Viagra pro pai. Rarará!
Nóis sofre, mas nóis goza!
Que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!
Nova ordem econômica - HENRIQUE MEIRELLES
FOLHA DE SP - 12/05
A eleição do embaixador Roberto Azevêdo para o posto de diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) reflete o peso cada vez maior dos países emergentes na economia mundial.
Este não é um conceito subjetivo ou político, mas meramente o resultado da medida da produção de riqueza das diversas economias emergentes em comparação com a dos países ricos.
A ascensão do Deng Xiaoping ao poder na China após a morte de Mao e a inflexão rigorosa da economia chinesa em direção à economia de mercado provocaram uma mudança histórica nas relações de poder econômico mundial.
A China era, ao redor do século 15, a maior potência
econômica da Terra. Isolada do Ocidente, desinteressada do comércio internacional, mas ainda assim a maior potência econômica.
No momento em que a China voltou a ocupar o papel de potência econômica, desta vez globalizada e integrada aos mercados internacionais, ela abriu caminho para uma mudança fundamental na estrutura de poder econômico da qual o Brasil não apenas faz parte, mas tem papel relevante como uma das maiores economias emergentes.
Isso tem consequências práticas como, por exemplo, a discussão sobre a redistribuição de cotas do Fundo Monetário Internacional e agora a eleição do brasileiro pra dirigir a OMC, sintomaticamente os dois principais órgãos multilaterais da economia global. A eleição na Organização Mundial do Comércio revelou uma transformação notável da nova estrutura de poder: o alinhamento da Europa e dos EUA com a candidatura do México não foi suficiente diante do apoio da maior parte dos outros paí-
ses a Azevêdo.
Sua vitória reflete ainda a crescente capacidade profissional e técnica dos brasileiros.
Não foi sempre assim. Alguns anos atrás, organizações internacionais determinavam em estatuto que o diretor da sua operação no Brasil deveria vir do país-sede. Mas isso mudou dramaticamente.
O Brasil hoje tem profissionais em organizações públicas e privadas no mundo todo. Encontro sempre brasileiros nos Estados Unidos, na Europa, na África e na Ásia exercendo posições de relevância em empresas e organizações internacionais, o que mostra o potencial de nossa força de trabalho.
A eleição de Azevêdo não foi resultado apenas da evolução econômica global das últimas décadas, mas também da capacidade do profissional brasileiro de se afirmar por trabalho, por competência, por qualificação técnica e por equilíbrio emocional.
Sua vitória em Genebra prova que o investimento em educação e a meritocracia podem nos levar muito mais longe.
A eleição do embaixador Roberto Azevêdo para o posto de diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio) reflete o peso cada vez maior dos países emergentes na economia mundial.
Este não é um conceito subjetivo ou político, mas meramente o resultado da medida da produção de riqueza das diversas economias emergentes em comparação com a dos países ricos.
A ascensão do Deng Xiaoping ao poder na China após a morte de Mao e a inflexão rigorosa da economia chinesa em direção à economia de mercado provocaram uma mudança histórica nas relações de poder econômico mundial.
A China era, ao redor do século 15, a maior potência
econômica da Terra. Isolada do Ocidente, desinteressada do comércio internacional, mas ainda assim a maior potência econômica.
No momento em que a China voltou a ocupar o papel de potência econômica, desta vez globalizada e integrada aos mercados internacionais, ela abriu caminho para uma mudança fundamental na estrutura de poder econômico da qual o Brasil não apenas faz parte, mas tem papel relevante como uma das maiores economias emergentes.
Isso tem consequências práticas como, por exemplo, a discussão sobre a redistribuição de cotas do Fundo Monetário Internacional e agora a eleição do brasileiro pra dirigir a OMC, sintomaticamente os dois principais órgãos multilaterais da economia global. A eleição na Organização Mundial do Comércio revelou uma transformação notável da nova estrutura de poder: o alinhamento da Europa e dos EUA com a candidatura do México não foi suficiente diante do apoio da maior parte dos outros paí-
ses a Azevêdo.
Sua vitória reflete ainda a crescente capacidade profissional e técnica dos brasileiros.
Não foi sempre assim. Alguns anos atrás, organizações internacionais determinavam em estatuto que o diretor da sua operação no Brasil deveria vir do país-sede. Mas isso mudou dramaticamente.
O Brasil hoje tem profissionais em organizações públicas e privadas no mundo todo. Encontro sempre brasileiros nos Estados Unidos, na Europa, na África e na Ásia exercendo posições de relevância em empresas e organizações internacionais, o que mostra o potencial de nossa força de trabalho.
A eleição de Azevêdo não foi resultado apenas da evolução econômica global das últimas décadas, mas também da capacidade do profissional brasileiro de se afirmar por trabalho, por competência, por qualificação técnica e por equilíbrio emocional.
Sua vitória em Genebra prova que o investimento em educação e a meritocracia podem nos levar muito mais longe.
Ameaça à indústria - CELSO MING
ESTADÃO - 12/05
Ainda não caiu a ficha do empresário brasileiro de que a revolução do gás nos Estados Unidos pode ser mortal para grande número de setores da indústria brasileira, especialmente para a petroquímica, química básica e segmentos altamente dependentes de suprimento de energia elétrica (eletrointensivos).
A mobilização parece tímida e, quando se trata de modernizar o sistema produtivo, o governo brasileiro parece atrelado a conceitos conservadores de política industrial.
É inevitável agora que setores industriais inteiros sejam transferidos para os Estados Unidos, de maneira a aproveitar os preços substancialmente mais baixos do gás natural produzido a partir do microfraturamento do xisto (rochas impregnadas de hidrocarbonetos). Isso significa que, se não houver pronta resposta, nova rodada de perda de competitividade ameaça a indústria brasileira.
O desinteresse pelo assunto parece, em parte, resultado da alta segmentação das questões energéticas no Brasil. Energia elétrica e petróleo, por exemplo, são coordenados e regulados por instâncias diferentes. Na falta de visão integrada, as questões que envolvem o gás natural ficam para segundo plano.
O diretor-superintendente da Comgás, Luiz Henrique Guimarães (foto), chama a atenção para a grande transformação do sistema produtivo global, que vai transferindo o eixo da competitividade centrada na mão de obra barata para o da energia barata. E a energia barata está estreitamente dependente da obtenção de gás de xisto, a preços que, hoje, são cerca de 80% mais baixos do que os obtidos pelo gás natural na Europa e aqui no Brasil.
A única objeção séria à utilização dessa tecnologia são as ameaças à contaminação dos lençóis freáticos pelos produtos químicos que vão na mistura de gás e areia injetados a alta pressão nos reservatórios de xisto.
Mas Guimarães não vê problema ambiental relevante. A ação desses produtos químicos, entre os quais o benzeno, avisa ele, pode ser inteiramente controlada. Além disso, a utilização de gás natural em substituição ao carvão e ao óleo combustível nas termoelétricas concorre para despoluição atmosférica. Nessas condições, o gás de xisto pode ser um aliado na luta para o controle do aquecimento global.
O Brasil conta com enormes reservatórios de xisto que, no entanto, permaneceram intactos até este momento, por falta de tecnologia de exploração, que só agora ficou disponível.
Os Estados Unidos saltaram à frente nesse mercado por uma conjunção de fatores favoráveis. Não dependem de concessões do Estado porque a exploração do subsolo cabe ao proprietário do solo (e não ao Estado, como é aqui e na Europa), contam com enorme rede de infraestrutura (oleodutos, gasodutos, portos, ferrovias, estradas, etc.) e têm à sua disposição a enorme rede de serviços, imprescindíveis para o desenvolvimento do negócio.
O Brasil corre o risco de chegar atrasado. A falta de urgência para assegurar a competitividade do setor produtivo ante a revolução em curso nos Estados Unidos não se circunscreve apenas ao governo. Também as lideranças empresariais parecem desatentas.
Ainda não caiu a ficha do empresário brasileiro de que a revolução do gás nos Estados Unidos pode ser mortal para grande número de setores da indústria brasileira, especialmente para a petroquímica, química básica e segmentos altamente dependentes de suprimento de energia elétrica (eletrointensivos).
A mobilização parece tímida e, quando se trata de modernizar o sistema produtivo, o governo brasileiro parece atrelado a conceitos conservadores de política industrial.
É inevitável agora que setores industriais inteiros sejam transferidos para os Estados Unidos, de maneira a aproveitar os preços substancialmente mais baixos do gás natural produzido a partir do microfraturamento do xisto (rochas impregnadas de hidrocarbonetos). Isso significa que, se não houver pronta resposta, nova rodada de perda de competitividade ameaça a indústria brasileira.
O desinteresse pelo assunto parece, em parte, resultado da alta segmentação das questões energéticas no Brasil. Energia elétrica e petróleo, por exemplo, são coordenados e regulados por instâncias diferentes. Na falta de visão integrada, as questões que envolvem o gás natural ficam para segundo plano.
O diretor-superintendente da Comgás, Luiz Henrique Guimarães (foto), chama a atenção para a grande transformação do sistema produtivo global, que vai transferindo o eixo da competitividade centrada na mão de obra barata para o da energia barata. E a energia barata está estreitamente dependente da obtenção de gás de xisto, a preços que, hoje, são cerca de 80% mais baixos do que os obtidos pelo gás natural na Europa e aqui no Brasil.
A única objeção séria à utilização dessa tecnologia são as ameaças à contaminação dos lençóis freáticos pelos produtos químicos que vão na mistura de gás e areia injetados a alta pressão nos reservatórios de xisto.
Mas Guimarães não vê problema ambiental relevante. A ação desses produtos químicos, entre os quais o benzeno, avisa ele, pode ser inteiramente controlada. Além disso, a utilização de gás natural em substituição ao carvão e ao óleo combustível nas termoelétricas concorre para despoluição atmosférica. Nessas condições, o gás de xisto pode ser um aliado na luta para o controle do aquecimento global.
O Brasil conta com enormes reservatórios de xisto que, no entanto, permaneceram intactos até este momento, por falta de tecnologia de exploração, que só agora ficou disponível.
Os Estados Unidos saltaram à frente nesse mercado por uma conjunção de fatores favoráveis. Não dependem de concessões do Estado porque a exploração do subsolo cabe ao proprietário do solo (e não ao Estado, como é aqui e na Europa), contam com enorme rede de infraestrutura (oleodutos, gasodutos, portos, ferrovias, estradas, etc.) e têm à sua disposição a enorme rede de serviços, imprescindíveis para o desenvolvimento do negócio.
O Brasil corre o risco de chegar atrasado. A falta de urgência para assegurar a competitividade do setor produtivo ante a revolução em curso nos Estados Unidos não se circunscreve apenas ao governo. Também as lideranças empresariais parecem desatentas.
A lei da demanda - SAMUEL PESSÔA
FOLHA DE SP - 12/05
O debate em torno de escolhas morais aparentemente está povoado de bens de Giffen
Em geral, a elevação do preço de um bem reduz a quantidade consumida desse bem. Esse princípio geral é conhecido por lei da demanda.
É possível que haja exceções. A mais famosa é a demanda de alimentos baratos de elevado valor calórico e baixo conteúdo proteico.
Pode ser o caso de arroz na China de hoje; batatas na Irlanda ou pão na Inglaterra, ambos no século 19; farinha de mandioca no sertão nordestino na segunda metade do século passado etc.
Nesses casos, a maior parcela do orçamento familiar é comprometida com o consumo do alimento barato com elevado conteúdo energético e baixo conteúdo proteico.
Devido às necessidades calóricas mínimas diárias, a elevação do preço do alimento rico em calorias reduz muito a renda disponível para aquisição de alimentos de maior qualidade. A demanda pelo alimento mais barato (apesar de este ter ficado mais caro) sobe, dado que a família não tem renda suficiente para adquirir proteína.
Os bens que não obedecem à lei de demanda são chamados de bens de Giffen. O debate brasileiro em torno de escolhas morais sobre diversos assuntos aparentemente está povoado de bens de Giffen.
É comum lermos que a redução da maioridade penal elevará a criminalidade entre jovens, que a descriminalização do aborto reduzirá o número de abortos, que a liberalização das drogas reduzirá o consumo de drogas e que a criminalização da prostituição elevará a prática do comércio sexual.
Em todos esses casos, o preço de um bem subiu (ou desceu) e o consumo, segundo alguns analistas, elevou-se (ou reduziu-se).
Tenho dificuldade de imaginar que a elevação do custo ao menor que cometer crimes eleve a quantidade de crimes praticados pelo menor infrator ou que a elevação do custo do comércio sexual aumente seu consumo.
É igualmente difícil racionalizar que a redução do custo de cometer aborto ou de consumir droga reduza o número de abortos ou o uso de drogas.
Nada impede que as alterações legais elencadas tenham outras consequências e que estas possam ser empregadas como argumentos contrários ou favoráveis à alteração legal.
É possível que a descriminalização do aborto reduza o número de mulheres mortas em função de procedimentos médicos inadequados.
Também é possível que a legalização do consumo e do comércio de drogas reduza a violência e o número de homicídios ou que a criminalização da prostituição aumente a criminalidade.
Finalmente, é perfeitamente possível e justo defender posições favoráveis ou contrárias a esta ou aquela instituição, independentemente de suas consequências.
É possível ser favorável à legalização do comércio e consumo de drogas em função do princípio de liberdade de escolha individual.
Analogamente, é possível ser favorável à redução da maioridade penal em função do princípio da responsabilização individual.
Novamente independentemente do impacto da redução da maioridade penal sobre a criminalidade.
O mesmo princípio de liberdade de escolha individual aplica-se à manutenção da prostituição como atividade lícita.
O que não parece muito útil nem produtivo é enxergarmos bem de Giffen em toda parte. Confunde e dificulta o avanço do debate.
Os bens de Giffen são mais raros do que imaginamos. Até hoje os economistas têm dúvidas se a batata na grande fome na Irlanda no século 19 poderia ser de fato considerada bem de Giffen!
O debate em torno de escolhas morais aparentemente está povoado de bens de Giffen
Em geral, a elevação do preço de um bem reduz a quantidade consumida desse bem. Esse princípio geral é conhecido por lei da demanda.
É possível que haja exceções. A mais famosa é a demanda de alimentos baratos de elevado valor calórico e baixo conteúdo proteico.
Pode ser o caso de arroz na China de hoje; batatas na Irlanda ou pão na Inglaterra, ambos no século 19; farinha de mandioca no sertão nordestino na segunda metade do século passado etc.
Nesses casos, a maior parcela do orçamento familiar é comprometida com o consumo do alimento barato com elevado conteúdo energético e baixo conteúdo proteico.
Devido às necessidades calóricas mínimas diárias, a elevação do preço do alimento rico em calorias reduz muito a renda disponível para aquisição de alimentos de maior qualidade. A demanda pelo alimento mais barato (apesar de este ter ficado mais caro) sobe, dado que a família não tem renda suficiente para adquirir proteína.
Os bens que não obedecem à lei de demanda são chamados de bens de Giffen. O debate brasileiro em torno de escolhas morais sobre diversos assuntos aparentemente está povoado de bens de Giffen.
É comum lermos que a redução da maioridade penal elevará a criminalidade entre jovens, que a descriminalização do aborto reduzirá o número de abortos, que a liberalização das drogas reduzirá o consumo de drogas e que a criminalização da prostituição elevará a prática do comércio sexual.
Em todos esses casos, o preço de um bem subiu (ou desceu) e o consumo, segundo alguns analistas, elevou-se (ou reduziu-se).
Tenho dificuldade de imaginar que a elevação do custo ao menor que cometer crimes eleve a quantidade de crimes praticados pelo menor infrator ou que a elevação do custo do comércio sexual aumente seu consumo.
É igualmente difícil racionalizar que a redução do custo de cometer aborto ou de consumir droga reduza o número de abortos ou o uso de drogas.
Nada impede que as alterações legais elencadas tenham outras consequências e que estas possam ser empregadas como argumentos contrários ou favoráveis à alteração legal.
É possível que a descriminalização do aborto reduza o número de mulheres mortas em função de procedimentos médicos inadequados.
Também é possível que a legalização do consumo e do comércio de drogas reduza a violência e o número de homicídios ou que a criminalização da prostituição aumente a criminalidade.
Finalmente, é perfeitamente possível e justo defender posições favoráveis ou contrárias a esta ou aquela instituição, independentemente de suas consequências.
É possível ser favorável à legalização do comércio e consumo de drogas em função do princípio de liberdade de escolha individual.
Analogamente, é possível ser favorável à redução da maioridade penal em função do princípio da responsabilização individual.
Novamente independentemente do impacto da redução da maioridade penal sobre a criminalidade.
O mesmo princípio de liberdade de escolha individual aplica-se à manutenção da prostituição como atividade lícita.
O que não parece muito útil nem produtivo é enxergarmos bem de Giffen em toda parte. Confunde e dificulta o avanço do debate.
Os bens de Giffen são mais raros do que imaginamos. Até hoje os economistas têm dúvidas se a batata na grande fome na Irlanda no século 19 poderia ser de fato considerada bem de Giffen!
Escravos na Justiça - MIRIAM LEITÃO
O GLOBO - 12/05
Entre as várias preciosidades do Arquivo Nacional do Rio estão as Ações de Liberdade. Fui passar uma tarde, na última terça-feira, com esses processos que escravos moveram contra seus proprietários. Na comunidade do Desterro, hoje Florianópolis, em 1813, uma mulher de nome Liberata iniciou uma ação contra José Rebello, seu dono, que a violentava sistematicamente desde os 10 anos.
Depois de muitos anos, idas e vindas, brigas e ameaças, ela conseguiu a liberdade. Em 1835 seus filhos José e Joaquina entraram também na Justiça, alegando que tinham nascido depois que Liberata foi libertada, portanto, eram livres, e que tinham sido escravizados ilegalmente. Eles também venceram.
No Arquivo, eu manuseei com luvas e respeito alguns desses documentos. Hoje estão todos digitalizados, e os pesquisadores estudam nos arquivos digitais. Mas foram mostrados na reportagem que fiz para o programa da Globonews.
Quando a historiadora Keila Grinberg, ainda uma estudante de graduação da Universidade Federal Fluminense, nos final dos anos 1990, os estudou, eles estavam em caixas. Ela encontrou 400 destas ações que ocorreram no Brasil todo e que vieram para o Rio para a Corte de Apelação. Essa história sempre me fascinou desde que li o livro de Keila, em 2001.
Hoje ela é doutora em História Social pela UFF e tem pós-doutorado em Michigan. Nos Estados Unidos, descobriu que essas ações de liberdade não foram exclusividade do Direito brasileiro, ocorreram lá e na América espanhola, mas em muito menor número do que no Brasil.
A coragem de cada um desses que entraram na Justiça é impressionante, e a lição que eles deixaram é de que mesmo no mais injusto do sistema, eles, desprovidos de todos os direitos, decidiram buscar a Justiça:
- A principal lição que a história da Liberata demonstra é que os escravos não aceitavam passivamente a escravidão. Isso tem que estar em todas as escolas: a escravidão nunca foi aceita. Os descendentes dos escravos precisam saber dessa história, que é de sofrimento, mas de conquista. Outra lição é que existe uma dimensão da Justiça brasileira pouco conhecida. Numa sociedade escravocrata e violenta, na Justiça, esse indivíduo conseguiu ser ouvido.
Liberata afirmou que foi submetida à violência sexual sistemática e que José Rebello, seu dono, prometeu que a libertaria quando ela crescesse, mas não cumpriu a promessa. Em algumas ações, escravos alegaram que juntaram dinheiro necessário para comprar alforria e os donos elevaram o preço ou ficaram com o dinheiro e não os libertaram. José e Joaquina disseram que tinham nascido do ventre livre de Liberata e pediram para o processo da mãe ser anexado aos autos como prova:
- Em geral, na primeira instância, quando o juiz estava mais submetido ao poder local, os escravos perdiam, mas nos 400 casos que estudei em que se recorreu à Corte no Rio de Janeiro houve mais vitória dos escravos do que dos senhores.
Amanhã, no 13 de maio, completam-se 125 anos do fim da escravidão. O que os estudos da Keila e de outros historiadores contemporâneos mostram é que a luta por liberdade perpassou toda a história da escravidão no Brasil. Isso não torna o 13 de maio menos significativo, mas ajuda a refazer a narrativa da aceitação passiva. Os escravizados, africanos ou brasileiros, lutaram de todas as formas.
Só a partir de 1871, com a Lei do Ventre Livre, é que oficialmente se pôde comprar a própria liberdade. Mas o hábito de juntar dinheiro e comprar a alforria - ou seja, a luta no campo da poupança e das finanças - era usual no Brasil no século XIX.
O livro da Keila "Liberata, a Lei da Ambiguidade" está, infelizmente, esgotado. Tenho um precioso exemplar que me foi dado de presente pelo advogado Hédio Silva. Mas a autora disponibilizou seu conteúdo na internet. Ela mantém também este e outros textos no Blog da Keila: www.keilagrinberg.blogspot.com.br.
As ações de liberdade são uma das facetas desta incrível história de luta e superação do mais violento dos sistemas. Folheei com temor reverencial as velhas páginas de alguns processos, ainda assombrada com a pergunta para a qual não tenho resposta: qual é o tamanho da coragem que uma pessoa precisa ter para, em sendo escravo, denunciar na Justiça os excessos do seu dono e exigir a liberdade?
Depois de muitos anos, idas e vindas, brigas e ameaças, ela conseguiu a liberdade. Em 1835 seus filhos José e Joaquina entraram também na Justiça, alegando que tinham nascido depois que Liberata foi libertada, portanto, eram livres, e que tinham sido escravizados ilegalmente. Eles também venceram.
No Arquivo, eu manuseei com luvas e respeito alguns desses documentos. Hoje estão todos digitalizados, e os pesquisadores estudam nos arquivos digitais. Mas foram mostrados na reportagem que fiz para o programa da Globonews.
Quando a historiadora Keila Grinberg, ainda uma estudante de graduação da Universidade Federal Fluminense, nos final dos anos 1990, os estudou, eles estavam em caixas. Ela encontrou 400 destas ações que ocorreram no Brasil todo e que vieram para o Rio para a Corte de Apelação. Essa história sempre me fascinou desde que li o livro de Keila, em 2001.
Hoje ela é doutora em História Social pela UFF e tem pós-doutorado em Michigan. Nos Estados Unidos, descobriu que essas ações de liberdade não foram exclusividade do Direito brasileiro, ocorreram lá e na América espanhola, mas em muito menor número do que no Brasil.
A coragem de cada um desses que entraram na Justiça é impressionante, e a lição que eles deixaram é de que mesmo no mais injusto do sistema, eles, desprovidos de todos os direitos, decidiram buscar a Justiça:
- A principal lição que a história da Liberata demonstra é que os escravos não aceitavam passivamente a escravidão. Isso tem que estar em todas as escolas: a escravidão nunca foi aceita. Os descendentes dos escravos precisam saber dessa história, que é de sofrimento, mas de conquista. Outra lição é que existe uma dimensão da Justiça brasileira pouco conhecida. Numa sociedade escravocrata e violenta, na Justiça, esse indivíduo conseguiu ser ouvido.
Liberata afirmou que foi submetida à violência sexual sistemática e que José Rebello, seu dono, prometeu que a libertaria quando ela crescesse, mas não cumpriu a promessa. Em algumas ações, escravos alegaram que juntaram dinheiro necessário para comprar alforria e os donos elevaram o preço ou ficaram com o dinheiro e não os libertaram. José e Joaquina disseram que tinham nascido do ventre livre de Liberata e pediram para o processo da mãe ser anexado aos autos como prova:
- Em geral, na primeira instância, quando o juiz estava mais submetido ao poder local, os escravos perdiam, mas nos 400 casos que estudei em que se recorreu à Corte no Rio de Janeiro houve mais vitória dos escravos do que dos senhores.
Amanhã, no 13 de maio, completam-se 125 anos do fim da escravidão. O que os estudos da Keila e de outros historiadores contemporâneos mostram é que a luta por liberdade perpassou toda a história da escravidão no Brasil. Isso não torna o 13 de maio menos significativo, mas ajuda a refazer a narrativa da aceitação passiva. Os escravizados, africanos ou brasileiros, lutaram de todas as formas.
Só a partir de 1871, com a Lei do Ventre Livre, é que oficialmente se pôde comprar a própria liberdade. Mas o hábito de juntar dinheiro e comprar a alforria - ou seja, a luta no campo da poupança e das finanças - era usual no Brasil no século XIX.
O livro da Keila "Liberata, a Lei da Ambiguidade" está, infelizmente, esgotado. Tenho um precioso exemplar que me foi dado de presente pelo advogado Hédio Silva. Mas a autora disponibilizou seu conteúdo na internet. Ela mantém também este e outros textos no Blog da Keila: www.keilagrinberg.blogspot.com.br.
As ações de liberdade são uma das facetas desta incrível história de luta e superação do mais violento dos sistemas. Folheei com temor reverencial as velhas páginas de alguns processos, ainda assombrada com a pergunta para a qual não tenho resposta: qual é o tamanho da coragem que uma pessoa precisa ter para, em sendo escravo, denunciar na Justiça os excessos do seu dono e exigir a liberdade?
O novo racismo - HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP - 12/05
SÃO PAULO - Acaba de sair nos EUA um livro que muda nossas concepções sobre o racismo. É "Blindspot" (ponto cego), de Mahzarin Banaji (Harvard) e Anthony Greenwald (Universidade de Washington).
A tese central dos autores é a de que o racismo mudou. O sujeito que maltrata negros e os agride verbalmente é uma espécie em extinção. O contingente cada vez menor de gente que acredita em conceitos como o de raça inferior aprendeu a ficar calado. Não obstante, os efeitos do racismo continuam firmes e operantes, como se pode constatar nas diferentes posições ocupadas por brancos e negros numa série de estatísticas, como renda, desemprego, evasão escolar, performance acadêmica, taxa de encarceramento etc.
Para a dupla de autores, a explicação está em nosso racismo implícito ou inconsciente, do qual nós mesmos não nos damos conta, mas que pode ser medido objetivamente através de um teste específico chamado IAT, que avalia a facilidade com que associamos negros e brancos a conceitos positivos e negativos. Cerca de 75% das dezenas de milhares de pessoas que fizeram o teste nos EUA revelaram preferência automática por brancos. Outros estudos apontam uma correlação moderada entre preconceito implícito e atos discriminatórios contra negros.
Esses dados todos, porém, já eram mais ou menos conhecidos. O grande "insight" do livro é a constatação de que o novo racismo, em vez de envolver atos que prejudicam membros de outro grupo, assume cada vez mais a forma de atos de favorecimento a membros do próprio grupo. Num mundo que utiliza intensamente cartas de recomendação, "networking" e amigos no lugar certo, isso pode fazer toda a diferença.
Se o novo racismo traz o benefício de não ser violento como o tradicional, apresenta a desvantagem de ser algo muito mais difícil de combater. Afinal, não dá para recriminar alguém por tentar ajudar seus amigos.
SÃO PAULO - Acaba de sair nos EUA um livro que muda nossas concepções sobre o racismo. É "Blindspot" (ponto cego), de Mahzarin Banaji (Harvard) e Anthony Greenwald (Universidade de Washington).
A tese central dos autores é a de que o racismo mudou. O sujeito que maltrata negros e os agride verbalmente é uma espécie em extinção. O contingente cada vez menor de gente que acredita em conceitos como o de raça inferior aprendeu a ficar calado. Não obstante, os efeitos do racismo continuam firmes e operantes, como se pode constatar nas diferentes posições ocupadas por brancos e negros numa série de estatísticas, como renda, desemprego, evasão escolar, performance acadêmica, taxa de encarceramento etc.
Para a dupla de autores, a explicação está em nosso racismo implícito ou inconsciente, do qual nós mesmos não nos damos conta, mas que pode ser medido objetivamente através de um teste específico chamado IAT, que avalia a facilidade com que associamos negros e brancos a conceitos positivos e negativos. Cerca de 75% das dezenas de milhares de pessoas que fizeram o teste nos EUA revelaram preferência automática por brancos. Outros estudos apontam uma correlação moderada entre preconceito implícito e atos discriminatórios contra negros.
Esses dados todos, porém, já eram mais ou menos conhecidos. O grande "insight" do livro é a constatação de que o novo racismo, em vez de envolver atos que prejudicam membros de outro grupo, assume cada vez mais a forma de atos de favorecimento a membros do próprio grupo. Num mundo que utiliza intensamente cartas de recomendação, "networking" e amigos no lugar certo, isso pode fazer toda a diferença.
Se o novo racismo traz o benefício de não ser violento como o tradicional, apresenta a desvantagem de ser algo muito mais difícil de combater. Afinal, não dá para recriminar alguém por tentar ajudar seus amigos.
Goleada contra - BELMIRO VALVERDE JOBIM CASTOR
GAZETA DO POVO - PR - 12/05
Recém-inaugurado depois de uma reforma de mais de R$ 1 bilhão, o Estádio do Maracanã – sabe-se agora – tem uma cobertura que protegerá 95% dos espectadores da chuva e do sol e deixará 4 mil torcedores expostos às forças da natureza. A não ser que se trate de assentos destinados a radicais ambientalistas que exigem amplo contacto com a natureza (nesse caso uma inovação revolucionária), deve ser erro de projeto, não é mesmo? O da Fonte Nova – demolido inteiramente e reconstruído –, tem milhares de pontos cegos e não tem tomadas na sala de imprensa e três dos estádios recém-inaugurados vão ter de refazer os locais destinados aos reservas dos times que estão jogando porque não cumpriram o tal Caderno de Encargos da Fifa.
Já é incompetência para encher um prato de sopa, mas tem mais. O time do Coritiba teve de enfrentar uma viagem aérea de quatro horas e mais sete de ônibus para jogar contra o poderoso time do Sousa, no interior do Ceará pela Copa do Brasil. Não houve o jogo, suspenso pela Justiça; fez o mesmo percurso de volta e na semana seguinte repetiu o roteiro (avião + ônibus ida e volta) para derrotar o temível rival na presença de mil e poucos torcedores locais. O torneio, aliás, é apontado como altamente democrático, pois congrega 86 clubes Brasil afora para onde seguem “vagando cegos como retirantes” (Chico Buarque) milhares de jogadores, equipes técnicas e médicas, cartolas etc., acumulando um prejuízo colossal. Prato de sopa é pouco. Tragam uma terrina para tanta incompetência.
E daí temos o campeonato da terrinha. A primeira partida das finais do Paranaense foi disputada em um estádio de várzea com pouco mais de 7 mil torcedores porque – deve ser isso – estádios próprios são considerados templos sagrados que não devem ser pisados por infiéis. Atlético e Coritiba juntos têm mais de 50 mil sócios, mas foi impossível chegar a um acordo para usar o – por enquanto – único estádio em condições de abrigar uma final, o Couto Pereira. Neste domingo, o Couto Pereira será utilizado, pois o mando de campo é dos coxas, mas – outra invenção inacreditável do futebol brasileiro – só haverá torcida para um dos times, como no jogo da várzea (oops... na primeira partida das finais) só havia atleticanos.
Depois ficamos lamentando que o futebol brasileiro tenha se transformado em mero berçário de craques para o futebol mundial, que os clubes estão quebrados com o Flamengo devendo quase R$ 800 milhões, meu querido Fluminense mais de R$ 450 milhões e vai por aí até atingir vários bilhões. Isso no país em que o futebol é – supostamente – a paixão nacional.
Tem remédio? Não, não tem, pois a racionalidade não tem um espaço minimamente razoável de sobrevivência nesse caos em que se transformou o futebol brasileiro. Antes ele sempre foi uma bagunça, mas havia, pelo menos, paixão, há muito desaparecida dos campos em que impera uma mistura de amadorismo com esperteza, de improvisação com interesses de marketing e de merchandising, em que a seleção brasileira é uma legião estrangeira, escalada pelos grandes patrocinadores que gastam e arrecadam bilhões de dólares com o esporte.
Dois toques de surrealismo explícito que talvez ajude na explicação: o dirigente máximo do futebol brasileiro foi flagrado surrupiando uma medalha que deveria ser entregue a um atleta campeão. E isso é pouco quando se sabe que Havelange e Ricardo Teixeira, os dois donos do futebol brasileiros durante 50 anos, foram pegos pela Fifa recebendo polpudíssimas comissões de empresas ligadas ao esporte. Levem de volta a terrina, tragam um caldeirão.
Recém-inaugurado depois de uma reforma de mais de R$ 1 bilhão, o Estádio do Maracanã – sabe-se agora – tem uma cobertura que protegerá 95% dos espectadores da chuva e do sol e deixará 4 mil torcedores expostos às forças da natureza. A não ser que se trate de assentos destinados a radicais ambientalistas que exigem amplo contacto com a natureza (nesse caso uma inovação revolucionária), deve ser erro de projeto, não é mesmo? O da Fonte Nova – demolido inteiramente e reconstruído –, tem milhares de pontos cegos e não tem tomadas na sala de imprensa e três dos estádios recém-inaugurados vão ter de refazer os locais destinados aos reservas dos times que estão jogando porque não cumpriram o tal Caderno de Encargos da Fifa.
Já é incompetência para encher um prato de sopa, mas tem mais. O time do Coritiba teve de enfrentar uma viagem aérea de quatro horas e mais sete de ônibus para jogar contra o poderoso time do Sousa, no interior do Ceará pela Copa do Brasil. Não houve o jogo, suspenso pela Justiça; fez o mesmo percurso de volta e na semana seguinte repetiu o roteiro (avião + ônibus ida e volta) para derrotar o temível rival na presença de mil e poucos torcedores locais. O torneio, aliás, é apontado como altamente democrático, pois congrega 86 clubes Brasil afora para onde seguem “vagando cegos como retirantes” (Chico Buarque) milhares de jogadores, equipes técnicas e médicas, cartolas etc., acumulando um prejuízo colossal. Prato de sopa é pouco. Tragam uma terrina para tanta incompetência.
E daí temos o campeonato da terrinha. A primeira partida das finais do Paranaense foi disputada em um estádio de várzea com pouco mais de 7 mil torcedores porque – deve ser isso – estádios próprios são considerados templos sagrados que não devem ser pisados por infiéis. Atlético e Coritiba juntos têm mais de 50 mil sócios, mas foi impossível chegar a um acordo para usar o – por enquanto – único estádio em condições de abrigar uma final, o Couto Pereira. Neste domingo, o Couto Pereira será utilizado, pois o mando de campo é dos coxas, mas – outra invenção inacreditável do futebol brasileiro – só haverá torcida para um dos times, como no jogo da várzea (oops... na primeira partida das finais) só havia atleticanos.
Depois ficamos lamentando que o futebol brasileiro tenha se transformado em mero berçário de craques para o futebol mundial, que os clubes estão quebrados com o Flamengo devendo quase R$ 800 milhões, meu querido Fluminense mais de R$ 450 milhões e vai por aí até atingir vários bilhões. Isso no país em que o futebol é – supostamente – a paixão nacional.
Tem remédio? Não, não tem, pois a racionalidade não tem um espaço minimamente razoável de sobrevivência nesse caos em que se transformou o futebol brasileiro. Antes ele sempre foi uma bagunça, mas havia, pelo menos, paixão, há muito desaparecida dos campos em que impera uma mistura de amadorismo com esperteza, de improvisação com interesses de marketing e de merchandising, em que a seleção brasileira é uma legião estrangeira, escalada pelos grandes patrocinadores que gastam e arrecadam bilhões de dólares com o esporte.
Dois toques de surrealismo explícito que talvez ajude na explicação: o dirigente máximo do futebol brasileiro foi flagrado surrupiando uma medalha que deveria ser entregue a um atleta campeão. E isso é pouco quando se sabe que Havelange e Ricardo Teixeira, os dois donos do futebol brasileiros durante 50 anos, foram pegos pela Fifa recebendo polpudíssimas comissões de empresas ligadas ao esporte. Levem de volta a terrina, tragam um caldeirão.
Choque de gestão - ILIMAR FRANCO
O GLOBO - 12/05
O futuro presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), pretende inovar e modernizar a administração do partido. Isso implica em ampliar vagas na Executiva e descentralizar poderes e tarefas. Ele contratou o consultor Caio Marini (Instituto Publix) para esculpir esta reengenharia. Candidato ao Planalto, Aécio quer excluir da direção quem procura cargos honoríficos. Só quer quem trabalha.
Os rifados
Não há lugar na chapa do PT na Bahia para o vice da CEF, Geddel Vieira Lima. Nem há para o líder no Senado, Eunício Oliveira, na chapa do PT do Ceará e na do governador Cid Gomes (PSB). No Rio, o PT rejeita a liderança do governador Sérgio Cabral. Por isso, eles se sentem excluídos do projeto de poder do PT. E advertem que não é fácil aprovar numa convenção do PMDB, sem seus votos, a manutenção da aliança. Lembram que em 1998, a despeito do poder do PSDB, não foi aprovado o apoio à reeleição do ex-presidente FH. E querem que o PMDB fale duro, como em 2010, diante de um presidente Lula que queria o senador Hélio Costa na vice da presidente Dilma.
"Amigos meus estão fazendo muita intriga"
Michel Temer Vice-presidente da República e presidente do PMDB, sobre a tensão e a ansiedade no partido com a indefinição dos palanques regionais
Ciumeira
Os deputados aliados estão inquietos com a série de reuniões da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) com os prefeitos nos estados. Reclamam que isso reduz sua interlocução com as bases e seu papel de porta-voz das boas novas.
O motivo
Interlocutor da presidente Dilma confirma que ela só avalizou a candidatura do embaixador Roberto Azevêdo, para a OMC, na última hora (28/12/2012). A explicação: "Dilma queria saber quem seriam os candidatos e avaliar se Azevêdo tinha chance. Não queria repetir a candidatura de Luiz Felipe Seixas Corrêa (foto), derrotada por Pascal Lamy" (2005).
Protecionismo para todos os gostos
Os europeus retomaram crítica ao protecionismo do Brasil após a derrota na OMC. Mas para o governo brasileiro, o resultado revelou que a maioria dos países estão alinhadas com a tese do Brasil sobre comércio internacional. Antes dos emergentes abrirem suas economias no setor de serviços, os europeus terão de abrir seus mercados agrícolas, fortemente subsidiado.
Fora do tom e do ritmo
Os petistas não param de criticar os partidos aliados, sobretudo o PMDB, no processo de votação da MP dos Portos. Diante do que ocorreu no Senado e na Câmara, o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), sentencia: "Há alguns equipamentos desafinados nesta orquestra".
O carimbo
Por conta das conversas para avaliar palanques estaduais para a sucessão presidencial do ano que vem, a presidente Dilma, o ex-presidente Lula, o ministro Aloizio Mercadante,e Rui Falcão, presidente do PT, estão sendo chamados no PMDB de "o quadrado mágico do PT".
Identidade própria
O ex-presidente Lula aconselhou o presidente Nicolás Maduro (Venezuela) a conter seu ímpeto guerreiro. Sugeriu o diálogo "com quem ganhou e com quem perdeu as eleições". E afirmou que ele não se firmaria só na sombra de Hugo Chàvez.
O GOVERNADOR EDUARDO CAMPOS (PSB-PE) retoma sua caminhada. Na quarta-feira, fará palestra na maior cidade de Santa Catarina, Joinville.
Os rifados
Não há lugar na chapa do PT na Bahia para o vice da CEF, Geddel Vieira Lima. Nem há para o líder no Senado, Eunício Oliveira, na chapa do PT do Ceará e na do governador Cid Gomes (PSB). No Rio, o PT rejeita a liderança do governador Sérgio Cabral. Por isso, eles se sentem excluídos do projeto de poder do PT. E advertem que não é fácil aprovar numa convenção do PMDB, sem seus votos, a manutenção da aliança. Lembram que em 1998, a despeito do poder do PSDB, não foi aprovado o apoio à reeleição do ex-presidente FH. E querem que o PMDB fale duro, como em 2010, diante de um presidente Lula que queria o senador Hélio Costa na vice da presidente Dilma.
"Amigos meus estão fazendo muita intriga"
Michel Temer Vice-presidente da República e presidente do PMDB, sobre a tensão e a ansiedade no partido com a indefinição dos palanques regionais
Ciumeira
Os deputados aliados estão inquietos com a série de reuniões da ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) com os prefeitos nos estados. Reclamam que isso reduz sua interlocução com as bases e seu papel de porta-voz das boas novas.
O motivo
Interlocutor da presidente Dilma confirma que ela só avalizou a candidatura do embaixador Roberto Azevêdo, para a OMC, na última hora (28/12/2012). A explicação: "Dilma queria saber quem seriam os candidatos e avaliar se Azevêdo tinha chance. Não queria repetir a candidatura de Luiz Felipe Seixas Corrêa (foto), derrotada por Pascal Lamy" (2005).
Protecionismo para todos os gostos
Os europeus retomaram crítica ao protecionismo do Brasil após a derrota na OMC. Mas para o governo brasileiro, o resultado revelou que a maioria dos países estão alinhadas com a tese do Brasil sobre comércio internacional. Antes dos emergentes abrirem suas economias no setor de serviços, os europeus terão de abrir seus mercados agrícolas, fortemente subsidiado.
Fora do tom e do ritmo
Os petistas não param de criticar os partidos aliados, sobretudo o PMDB, no processo de votação da MP dos Portos. Diante do que ocorreu no Senado e na Câmara, o líder do PT no Senado, Wellington Dias (PI), sentencia: "Há alguns equipamentos desafinados nesta orquestra".
O carimbo
Por conta das conversas para avaliar palanques estaduais para a sucessão presidencial do ano que vem, a presidente Dilma, o ex-presidente Lula, o ministro Aloizio Mercadante,e Rui Falcão, presidente do PT, estão sendo chamados no PMDB de "o quadrado mágico do PT".
Identidade própria
O ex-presidente Lula aconselhou o presidente Nicolás Maduro (Venezuela) a conter seu ímpeto guerreiro. Sugeriu o diálogo "com quem ganhou e com quem perdeu as eleições". E afirmou que ele não se firmaria só na sombra de Hugo Chàvez.
O GOVERNADOR EDUARDO CAMPOS (PSB-PE) retoma sua caminhada. Na quarta-feira, fará palestra na maior cidade de Santa Catarina, Joinville.
O substituto - VERA MAGALHÃES - PAINEL
FOLHA DE SP - 12/05
Guido Mantega recebeu aval de Dilma Rousseff para escolher o sucessor de seu número dois, Nelson Barbosa. O secretário-executivo da Fazenda, que deixará o cargo até julho, havia sido uma opção pessoal da presidente no início do governo. Agora, Mantega convenceu a petista de que precisa de um funcionário de sua estrita confiança, uma vez que entre as funções do auxiliar está a de ser o homem forte do governo em instituições como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Menos um Para auxiliares do Palácio do Planalto, a carta branca de Dilma ao ministro da Fazenda encerra a chance do secretário do Tesouro, Arno Augustin, substituir Barbosa. Ele é hoje um dos principais interlocutores da presidente no governo.
Vem por aí Mantega deverá aproveitar a troca na secretaria-executiva para promover outras mudanças no Ministério da Fazenda.
Conselheiro Durante encontro com Nicolás Maduro em Brasília, na semana passada, o ex-presidente Lula disse ao venezuelano que ele tem que dialogar com outros setores da sociedade não-chavistas e ser um presidente "para todos".
Tudo... Em meio à polêmica da medida provisória dos portos, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz que a intervenção de Anthony Garotinho (PR-RJ) durante a votação na última quarta-feira, que suspendeu a sessão, foi negociada com Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
... dominado Segundo ele, a ministra procurou líderes da Comissão de Orçamento e disse que havia concordado em dar ao PR a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias. "Estavam todos combinados", diz Cunha.
Pauliceia 1 O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebe na terça-feira comitiva de deputados estaduais paulistas contrária ao texto da reforma do ICMS aprovado na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).
Pauliceia 2 Apesar de não haver consenso sobre o texto, os deputados levarão ao senador carta redigida na sexta-feira com críticas ao projeto aprovado, que beneficia Estados das regiões Norte e Centro-Oeste.
Rede... A Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, procura um administrador para cuidar da gestão financeira do partido. A sigla criará um comitê para centralizar o recebimento e a distribuição da arrecadação.
...S.A. O partido também quer lançar nesta semana um sistema de financiamento coletivo pela internet, que arrecadará fundos para atividades de divulgação e viagens. Também haverá mais dois cafés e um jantar com a pré-candidata até agosto, com adesões de até R$ 700.
Improviso Até agora, as finanças ficaram a cargo de uma associação criada enquanto a Receita não fornecia o CNPJ da Rede. A verba para despesas era depositada nas contas dos militantes.
Global Marina já rodou mais de 20 cidades para coletar assinaturas e esteve em países como Chile, Argentina, Inglaterra e França para divulgar sua nova legenda.
A pé 1 A adesão do PSD ao governo desanimou aliados de Eduardo Campos, que ainda contavam com palanques do partido, principalmente na região Sul.
A pé 2 Campos planejava dobradinha com o empresário Joel Malucelli, possível candidato do PSD no Paraná. Também articulou com a família Bornhausen para ter o apoio do governador Raimundo Colombo (SC).
tiroteio
"Só falta ele voltar a ocupar uma sala no Palácio do Planalto. Resta saber qual dos dois ficaria no gabinete titular."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (RN), presidente do DEM, sobre a agenda de Lula em Brasília na semana passada, com longa reunião com Dilma Rousseff.
contraponto
Fim de papo
O novo presidente do PSDB da capital, Milton Flávio, visitou a Câmara paulistana na última semana, para se reunir com os vereadores tucanos. Ele se aproximou de Andrea Matarazzo, a quem derrotou na disputa partidária, e tentou quebrar o gelo:
-Andrea, gostaria de passar depois no seu gabinete para conversarmos.
-Para falar de política, não -respondeu Matarazzo.
-A gente fala de outra coisa -insistiu o dirigente.
-Também não -encerrou o vereador, que continuou conversando com o colega Ricardo Young (PPS).
Guido Mantega recebeu aval de Dilma Rousseff para escolher o sucessor de seu número dois, Nelson Barbosa. O secretário-executivo da Fazenda, que deixará o cargo até julho, havia sido uma opção pessoal da presidente no início do governo. Agora, Mantega convenceu a petista de que precisa de um funcionário de sua estrita confiança, uma vez que entre as funções do auxiliar está a de ser o homem forte do governo em instituições como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.
Menos um Para auxiliares do Palácio do Planalto, a carta branca de Dilma ao ministro da Fazenda encerra a chance do secretário do Tesouro, Arno Augustin, substituir Barbosa. Ele é hoje um dos principais interlocutores da presidente no governo.
Vem por aí Mantega deverá aproveitar a troca na secretaria-executiva para promover outras mudanças no Ministério da Fazenda.
Conselheiro Durante encontro com Nicolás Maduro em Brasília, na semana passada, o ex-presidente Lula disse ao venezuelano que ele tem que dialogar com outros setores da sociedade não-chavistas e ser um presidente "para todos".
Tudo... Em meio à polêmica da medida provisória dos portos, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diz que a intervenção de Anthony Garotinho (PR-RJ) durante a votação na última quarta-feira, que suspendeu a sessão, foi negociada com Ideli Salvatti (Relações Institucionais).
... dominado Segundo ele, a ministra procurou líderes da Comissão de Orçamento e disse que havia concordado em dar ao PR a relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias. "Estavam todos combinados", diz Cunha.
Pauliceia 1 O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), recebe na terça-feira comitiva de deputados estaduais paulistas contrária ao texto da reforma do ICMS aprovado na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos).
Pauliceia 2 Apesar de não haver consenso sobre o texto, os deputados levarão ao senador carta redigida na sexta-feira com críticas ao projeto aprovado, que beneficia Estados das regiões Norte e Centro-Oeste.
Rede... A Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, procura um administrador para cuidar da gestão financeira do partido. A sigla criará um comitê para centralizar o recebimento e a distribuição da arrecadação.
...S.A. O partido também quer lançar nesta semana um sistema de financiamento coletivo pela internet, que arrecadará fundos para atividades de divulgação e viagens. Também haverá mais dois cafés e um jantar com a pré-candidata até agosto, com adesões de até R$ 700.
Improviso Até agora, as finanças ficaram a cargo de uma associação criada enquanto a Receita não fornecia o CNPJ da Rede. A verba para despesas era depositada nas contas dos militantes.
Global Marina já rodou mais de 20 cidades para coletar assinaturas e esteve em países como Chile, Argentina, Inglaterra e França para divulgar sua nova legenda.
A pé 1 A adesão do PSD ao governo desanimou aliados de Eduardo Campos, que ainda contavam com palanques do partido, principalmente na região Sul.
A pé 2 Campos planejava dobradinha com o empresário Joel Malucelli, possível candidato do PSD no Paraná. Também articulou com a família Bornhausen para ter o apoio do governador Raimundo Colombo (SC).
tiroteio
"Só falta ele voltar a ocupar uma sala no Palácio do Planalto. Resta saber qual dos dois ficaria no gabinete titular."
DO SENADOR JOSÉ AGRIPINO (RN), presidente do DEM, sobre a agenda de Lula em Brasília na semana passada, com longa reunião com Dilma Rousseff.
contraponto
Fim de papo
O novo presidente do PSDB da capital, Milton Flávio, visitou a Câmara paulistana na última semana, para se reunir com os vereadores tucanos. Ele se aproximou de Andrea Matarazzo, a quem derrotou na disputa partidária, e tentou quebrar o gelo:
-Andrea, gostaria de passar depois no seu gabinete para conversarmos.
-Para falar de política, não -respondeu Matarazzo.
-A gente fala de outra coisa -insistiu o dirigente.
-Também não -encerrou o vereador, que continuou conversando com o colega Ricardo Young (PPS).